sábado, junho 17, 2006

CARTA ABERTA AOS SENHORES DA UNESCO QUE INDEFERIRAM O PROCESSO DE CANDIDATURA...


Carta reproduzida no Macroscópio

CARTA ABERTA AOS SENHORES DA UNESCO QUE INDEFERIRAM O PROCESSO DE CANDIDATURA DE MARVÃO A PATRIMÓNIO MUNDIAL



EXCELENTÍSSIMOS Srs.:

Dirijo-me a V/Exas na qualidade do único português que ficou agradado com a decisão de recusarem integrar Marvão, nosso Património Nacional, no vosso Património Mundial.

É verdade que a maioria dos meus compatriotas, preocupada que anda com as prestações da nossa Selecção Nacional de Futebol no Mundial da Alemanha, nem se apercebeu dessa vossa decisão, mas os restantes ficaram muito desagradados, ofendidos, diria mesmo furiosos e fala-se até em levar por diante um Movimento de Protesto.

Não é, felizmente, o meu caso. Pelo contrário, estou-vos agradecido e explico-vos porquê:

Eu sou muito cioso de certas coisas que são minhas ou do meu país o que, neste caso, é a mesma coisa e a vila de Marvão está entre essas coisas, que até já não são em grande número, infelizmente.

Marvão é a mais pequena e bela jóia da arquitectura urbanística do passado do meu país. Ela não é só muralhas alcandoradas no cimo de um monte a quase mil metros de altura, ruas estreitinhas, espaços que trazem até nós o passado, paisagens que mudam à medida que vamos caminhando à volta das muralhas. Ela é tudo isso num todo único que nos faz reflectir e pensar e sonhar que houve outros tempos, outras formas de viver os romances de amor, de combater, de lutar, de morrer e alí, à nossa volta, está o cenário real onde tudo isso acontecia, basta sentar, deixar o olhar partir à deriva e… sonhar.

Como V/s Exas já perceberam, a minha relação com Marvão é de grande intimidade espiritual e, nestes casos, a partilha não é fácil, mesmo com a UNESCO ou com o Património Mundial que putativamente representam.

Claro que eu estou certo de que, caso Marvão tivesse sido integrada no Património Mundial, V/s Exas não a iriam deslocalizar para um país asiático, mas nós já estamos tão traumatizados com as deslocalizações das empresas multinacionais nesta globalização negativa (porque não é de rosto humano) que as receamos a propósito de tudo e de nada.

Vejam-me bem, V/s Exas., que ao princípio era por causa dos chineses, depois os países de leste e agora até os nossos vizinhos espanhóis, de Saragoça, já trabalham mais, melhor e mais barato que nós à razão de 500 euros por cada Opel e, por isso lá vai também a nossa fábrica da Azambuja e 0,6 do valor das nossas exportações.

Perdoem-me o desabafo, V/s Exas. não têm nada a ver com este assunto.

Mas há ainda uma outra razão que me leva a congratular com a vossa decisão:

-É a devassa a que inevitavelmente iria estar sujeita a nossa vila de Marvão porque, certamente, V/s Exas iriam inclui-la nos Circuitos Internacionais Turísticos e eu percebi bem o que isso significa quando visitei Veneza.

Eram turistas aos magotes, de todas as nacionalidades mas principalmente japoneses, em grupos, pequenos bandos, guiados por uma sombrinha colorida, deslocando-se apressadamente em passadas miudinhas e rápidas fotografando tudo, à esquerda, à direita e em frente como se de uma empreitada se tratasse que era preciso acabar depressa…

Um décimo que fosse dessa "multidão de formigas" hiper-activas na nossa vila de Marvão, até os nossos antepassados se levantariam escandalizados dos seus túmulos.

Mas se, no essencial, e pelas razões expostas, Vos estou grato pela decisão que tomaram, o mesmo não poderei dizer quanto às razões porque o fizeram.

Eu não duvido que V/s Exas, para tomarem a decisão que tomaram, não deixaram de visitar Marvão, mas fizeram-no com certeza numa 6ª feira, e eu sei o que são essas coisas, também fui funcionário público durante quase 40 anos e reconheço que as 6ªfeiras são maus dias, para trás ficou uma semana de trabalho e no outro dia é o tão ambicionado fim-de-semana.

Para agravar as coisas V/s Exas tiveram que subir aqueles 1ooo metros, sempre às curvas e quando chegaram à vila já iam um pouco zonzos da cabeça, em fase de pré-vómito, os sentidos embotados e um estado de espírito que, por tudo isso, não era o melhor para avaliar o que quer que fosse, muito menos um colosso geo-arquitectónico como Marvão.
Por essas razões até já estou a perspectivar a cena, ou melhor, as V/s cenas ancoradas nos V/s ricos e fugosos diálogos de fazer chorar a rir as pedras da calçada:

- “ O colega já viu estas muralhas, francamente, não têm nada de original.”

- ” Tem toda a razão colega, estas ameias são do mais vulgar que tenho visto”…

- “Vou dar uma informação negativa. De acordo colega, eu subscrevo…”

Mas então V/s Exas queriam ver coisas nunca vistas, únicas e não nos avisaram? Imperdoável!

É que nós teríamos levado V/s Exas ao Entroncamento para alí verem e apreciarem os chamados e muito conhecidos Fenómenos do Entroncamento.

Teriam tido oportunidade de desfrutar uma Couve Galega, absolutamente única, com 3,5 metros de altura, uma Melancia com 50 kg e um Par de Tomates cada um deles com 5kg.

Seria depois, da vossa incitativa, deslumbrados que são por coisas únicas, propô-las ou não a Património Mundial.

Mas nada disto anula o meu sentimento de gratidão para com V/s Exas pela decisão tomada, mesmo que esteja isolado nesse sentimento.

Bem Hajam
Joaquim Luís de Vasconcelos Paula de Matos
  • PS: dedicamos este blog aos marvanenses

sexta-feira, junho 16, 2006

Marvão e a candidatura a Património da Humanidade

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Como leitor habitual do Macroscópio tomei conhecimento que o processo de candidatura de Marvão a Património Mundial da Humanidade foi chumbado e, por isso compreendo, dada a ligação especial que Rui Matos tem àquela terra, a sua indignação e protesto.

Mas para além da compreensão para com estados de espírito totalmente justificados, quero também juntar a minha solidariedade para com todos os filhos, amigos e admiradores, entre os quais me incluo, daquela localidade única, diga lá o que disser a UNESCO, que é Marvão e que, naturalmente, neste momento, se sentem ofendidos com a decisão tomada e a respectiva fundamentação.

Claro que há muita coisa que desconheço relativamente a esta decisão, a começar por saber se ela é ou não irreversível, se o Processo de Candidatura foi ou não bem apresentado e defendido por quantos nele intervieram, desde a Autarquia Local às Entidades do Governo Central, se há, neste aspecto, responsabilidades a atribuir e, finalmente, se há alguma coisa que possa vir a ser feita para reverter a decisão num futuro próximo.

Sinceramente, se a justificação do indeferimento se mantiver,” MARVÃO NÃO É ÚNICA, EXISTEM OUTROS LOCAIS COM AS MESMAS CARACTERÍSTICAS DAQUELE SÍTIO” não me parece que haja muito a fazer.

Na verdade, não se diz que haja outra localidade igual a Marvão mas apenas e só com as mesmas características pelo que, se Marvão viesse a ser considerada Património Mundial, igual título deveria ser atribuído a uma qualquer aldeola colocada em cima de um cabeço e com um muro a fazer de muralha, "têm toda a razão" os senhores da Unesco.

Esperamos, agora, que seja retirado o título de Património Mundial às Pirâmides do Egipto porque, comprovadamente, existem outros monumentos com as mesmas características em outras culturas e civilizações na América do Sul, na Europa, na Ásia etc. Dada a atracção que o homem sempre revelou por aquela forma geométrica de construção, num fenómeno idêntico, ainda que por outras razões, que levou os europeus da Idade Média a construir povoados dentro de muralhas no cimo dos montes.

Julgo, não tenho mesmo a certeza que o critério de atribuição que tem presidido à atribuição do título de Património Mundial, vai ter que ser revisto face a esta fundamentação.

Entretanto, cuidem os Marvanenses com todo o desvelo da sua linda terra, das casas, das ruas, dos espaços, das muralhas, daquele todo que é Único em Portugal e no Mundo, porque uma pedra que fosse que caísse das suas muralhas e não pudesse ser reposta, constituiria uma perda no seu património mais grave do que a decisão da Unesco.

Um abraço a Marvão onde me sinto tão bem quando a visito só possível por ser um Sítio Único.

Xau Rui
Um abraço também para ti que já és de Marvão

quinta-feira, junho 15, 2006

"Pieguices" e outras homenagens...




A propósito de Pieguices…



O Sr. Sidney Brenner que nasceu em 1927, na África do Sul, filho de judeus, entrou para a escola, como quase todos nós, aos 6 anos de idade, simplesmente, ele foi directamente para a 4ªclasse…

Foi ele que lançou as bases da biologia molecular e finalmente, aos 79 anos, lá recebeu o Prémio Nobel. É hoje um professor emérito e continua a investigar porque, com estes homens, “o bichinho” de aprender só morre quando eles morrerem.

Pois bem, de passagem pelo nosso país, afirmou que a questão mais importante da biologia é a forma como os genes se relacionam com aquilo que nós somos e eu achei esta afirmação muito interessante porque eu gostava de acabar os meus dias numa conversa descontraída, amena mas interessada com os meus genes mas não sei como o fazer, que raio de linguagem usar, mas como tu percebeste, o Sr. Prof. disse: a forma como os genes se relacionam connosco e não o contrário. Nós não temos acesso a eles. Eu, sou eles, nós, somos eles, mas não só e o que fica de fora é o segredo, o mistério da vida humana porque nos outros, os restantes seres vivos, não há mistério, neles, está tudo e só nos genes.

A minha mãe, a tua avó Mimi, que não conheceste, só ia ao cinema ver dramas e carregava na sua mala de senhora uma provisão de lencinhos para aparar as lágrimas durante o espectáculo e tu, com certeza, lembras-te bem da componente piegas da personalidade do teu pai?

Era o gene da pieguice a impor a sua lei ou a estabelecer a confusão? Serei eu piegas ou, em vez disso, um sentimental ou um romântico?

Quando Fernando Pessoa dizia que as cartas de amor eram ridículas porque se o não fossem não eram de amor estaria ele, por outras palavras, a chamar de piegas aos autores dessas cartas?

Quando, aos 14 anos, me enternecia a ler os romances “mentirosos” de Júlio Diniz, de leitura obrigatória pelo regime de Salazar, estava a ser piegas e, sendo assim, a pieguice terá sido uma arma utilizada pela ditadura para melhor controlar o povo?

Por que me enterneço? Porque sou piegas ou apenas um incorrigível sentimental?

A Pieguice será um gene indefinido, frágil, perigoso, armadilhado porque nos tolda o raciocínio e nos torna fracos, que nos retira a força porque nos faz comover, ou qualquer “coisa” que nos dá um toque de humanidade e desperta em nós comportamentos altruístas?

E hoje, fico-me por aqui, porque me apetece chorar de pieguice porque o Alexandre, meu colega e amigo da juventude, morreu roído pelo cancro depois de um lindo romance de amor que começou com a sua Maria Bela, ainda não tinha 14 anos, sua namorada de toda uma vida até ao momento em que exausto de sofrer, reduzido na sua expressão física que não na capacidade de a amar, lhe disse:

-“Agora, meu amor, vou ter que te deixar, vais ter que continuar sem mim
”…

segunda-feira, junho 12, 2006

Pela 1ª vez ...O Poema possível: "18 anos de idade"



... Na minha vida escrevi qualquer coisa que não sei bem o que é, embora pretenda ser um poema com o título “Dezoito anos de Idade”.

A Grã, minha mulher, detestou porque não se lembra de se ter encontrado comigo à porta de nenhum elevador embora lhe tenha explicado que precisava de um encontro para construir o “poema”, e que me pareceu mais provável ser à entrada de um elevador mas que poderia ter sido na paragem do autocarro, na gare do Metropolitano ou em S.ª Apolónia…, ou até no Aeroporto de Lisboa… (em terra ou no ar!!! Bom, fica a suspeita não menos interessante)..

Começamos a ganhar no Campeonato do Mundo, a exibição não foi brilhante mas o que fizemos em campo e os outros não fizeram - justificava uma vitória por 3 a 0 que teria sido o resultado mais justo.

Tal como previ o Roger Federer perdeu com o Olé, nada a dizer: o ténis não é como no futebol, ali ganha sempre o melhor ou o mais forte e então numa partida à melhor de 5 não há escapatória.

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O POEMA POSSÍVEL


DEZOITO ANOS DE IDADE


Com o passar dos dias sempre iguais

Perdi a noção do tempo,

Não sei que idade tenho,

Esqueci o ano, o mês e o dia em que nasci

Até ao dia em que te vi…

Estavas imóvel, serena e absorta à espera do elevador,

Olhei para ti, primeiro, normalmente, depois com atenção e finalmente encantado.

Senti dentro de mim uma enorme ebulição, estava apaixonado.

Apercebi-me, então, que acabara de fazer dezoito anos de idade.

Lamento, meu amor, não o poder comprovar com a apresentação do Bilhete de Identidade

Mas se olhares para dentro dos meus olhos, com atenção, verás dezoito estrelinhas

Cada uma delas brilhando para ti

E se visitares o meu jardim, encontrarás à tua espera dezoito lindos botões de rosa que aguardam o conforto do teu olhar, as carícias dos teus dedos e o roçar dos teus lábios.

É falso dizer que o amor não tem idade

Aquele de nós que um dia se apaixonou, em qualquer momento da sua vida, fez anos nesse dia…

Precisamente, sempre e só…Dezoito Anos de Idade.

domingo, junho 11, 2006

Citação do Jumento...e Portugal Olé, Olé..



Fiquei muito honrado pela citação de que o Memórias Futuras foi alvo por parte do Jumento mas é injusto não referir a contribuição do Macroscópio para essa citação…

Mas para além de honrado fiquei muito agradado pela passagem que foi transcrita. Aquele parágrafo constitui o verdadeiro "grito de alma" do autor, é como o médico que carrega na parte dolorosa do corpo e exclama: é aqui que dói não é?

Quando o escrevi não deixei de recordar os discursos que o Samora Machel proferia nos seus comícios em Moçambique e em que eu ao ouvi-lo, naquele seu estilo inconfundível de grande líder de massas, pensava para comigo que na minha terra, no meu país, na Europa, os "meus políticos" nunca me iriam falar daquela maneira porque aqui, em Portugal, as pessoas, na sua generalidade, eram portadoras de uma cultura, de uma instrução e de uma compreensão das coisas que, naturalmente, não se coadunavam com aquele palavreado arrebatado, desligado das realidades, mas que era tudo aquilo que aquela gente queria ouvir.

Bem, isso era o que eu pensava antes de ouvir os "meus políticos" depois, ao sair das instalações do CNEMA, percebi, com a tal tristeza que foi objecto de transcrição, que afinal, pelo menos, o Samora Machel empolgava-me, aqueles que tinha acabado de ouvir apenas me mentiram.

Talvez a política seja mesmo isto e a democracia um simples e doce engano, apenas um outro caminho para o Poder, finalidade última, muito mais facilmente alcançada pela "história" do voto…uma grande "história".

Resta-nos, apesar de tudo, a coisa mais importante que é a liberdade…a liberdade de escrever nos blogs tudo aquilo que pensamos e sentimos para quem quiser ler e sentir ou não, como nós, a liberdade de protestar em voz alta, de denunciar, de fazer abaixo-assinados e apresentar Requerimentos à Assembleia da República com 35000 assinaturas, a liberdade de afirmar que aquele senhor político é um Presumível Corrupto, a liberdade de não dar àquele senhor, candidato a continuar como Presidente da Câmara, o "meu" voto mesmo que ele venha a ser reeleito a troco de umas não sei quantas "benesses", etc… etc…etc…

O meu receio é que os "meus políticos" acabem por se habituar a todas estas minhas liberdades e decidam, pura e simplesmente, conviver com elas ligando-lhes tanta importância como à camisa que despiram na noite anterior porque, ao fim e ao cabo, eles continuam no Poder e quando o deixarem passam a Candidatos ao Poder numa alternância que, pensando bem, até serve para quebrar a "monotonia" e o "desgaste" do poder…

Na 2ª feira vou à Caminho tratar dos livros e saber do livro do Cãocompulgas.

Ah!, também repararam no 4º golo! É daqueles que salta ao olho. Amanhã é que vai ser: o Roger Federer vai perder com o OLÉ! e à noite vamo-nos ver à "rasca" como dizia a saudosa Hermínia, com Angola.

"Penduraram" toda uma Nação nos resultados de uns jogos de futebol que, coitados, não têm culpa nenhuma mas o aproveitamento tem sido perfeitamente escandaloso.

Creio que, à custa deles, não há nada que não tenha sido já vendido, até pacotes hermeticamente fechados que só têm ar lá dentro, "o ar do mundial da Alemanha de 2006," diz quem os compra que uma vez abertos, como se abrem os pacotinhos de açúcar, cheiram a relva.

Tá tudo doido!...

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