sábado, março 26, 2011

Ele só ia comprar uma Caixa Tampax para a mulher...


Um rapaz vai trabalhar para um daqueles grandes Hipers na América e ao fim do primeiro dia o chefe pergunta-lhe:

- Quantas vendas já fizeste?

- Uma.

- Uma venda? Isso é muito mau!!! Os meus vendedores normalmente fazem entre 25 a 30 vendas por dia!!!

- Ora diz lá de quanto foi a venda...

- 757.326,45 DOLLARS

- O quê?????? Mas afinal o que é que vendeste?????

- Ora, primeiro vendi ao freguês um anzol pequeno, depois um anzol médio, e a seguir um anzol grande!...

- Com tanto anzol vendi-lhe uma cana de pesca!... Perguntei onde é que ele ia pescar e ele disse para a costa.

- Claro que lhe expliquei que para a costa era melhor ter um barco!!!

- Então levei-o à secção de barcos de recreio e vendi aquele 'Silver Esprit'com os dois "outboard'"que o gajo até se passou!...

- Conversa puxa conversa e ele disse que o carro dele era um Fiat Uno... e eu disse-lhe que para puxar o barco ele precisava dum *4x4*!!!
Então fomos direitinhos ao stand e vendi -lhe aquele Range Rover que lá estava.

- Muito bem! Deves ser mesmo bom para venderes isso tudo a um gajo que só queria um anzol pequeno!!!

- Qual anzol qual quê!!!

- Ele só cá vinha comprar uma caixa de *TAMPAX *para a mulher... e eu disse-lhe:

- Já que tem o fim-de-semana lixado, mais vale ir à pesca...

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Os homens nunca aprendem...

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Os homens nunca aprendem...

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Os homens nunca aprendem...

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E continuam sem aprender...

UM CLÁSSICO DA MÚSICA POPULAR BRASILEIRA

TEREZA
BATISTA
CANSADA

DE

GUERRA

Episódio Nº 65



Era uma vez eu ia encurtando caminho pela mata, na encruzilhada da noite escutei o tropel da Mula-Sem-Cabeça. Não vou mentir nem contar prosa, só de vislumbrar o bicho sem cabeça, um fugaréu no lugar, perdi acção e brio, me pus a fita: valei-me meu padrinho padre Cícero, livrai-me do mal, amem.

A ele devo a vida e a esse breve invencível que carrego no pescoço. A maligna passou a trezentos metros, não sobrou nada em redor, tudo esturricado, mato e capim, pé de pau e cascavel, plantação de mandioca, lavoura de cana. Atente vossa senhoria: basta falar em assombração, muito macho se borra.

Com ânimo de enfrentar mal-assombrado somente a mencionada Tereza Batista e com isso respondo à indagação do distinto desejoso de saber se a moça merece toda essa fama de valentia. Enfrentou e combateu – e se o amigo duvida da minha palavra, é só inquirir dos presentes.

Não correu nem pediu perdão, e se clamou por socorro, na hora fatal ninguém lhe acudiu, sozinha se achou, não houve jamais menina tão sozinha, abandonada de Deus e do povo da terra. Foi assim que fechou o corpo: Tereza Corpo Fechado, fechado para a bala, punhal e veneno de cobra.

Mais não digo nem acrescento, pois tenho ouvido contar esse caso verdadeiro com muita variação de ideia; cada um desvenda o enredo à sua feição, pondo e dispondo, mudando pedaços, ajuntando regras e enfeites. Um trovador alagoano, decerto no espanto de tão grande façanha e querendo lhe dar regra e razão, disse que Tereza ainda novinha vendeu a alma ao diabo e muita gente acredita. Outro trovador brasileiro, Luís da Câmara Cascudo de novo e fama, à vista de tanta atrocidade e solidão, pôs uma flor na mão de Tereza, flor que é rima de dor, flor para rimar com amor.

Cada qual conta conforme sua competência de contador, mas no principal todos ficam de acordo: por ali nunca mais apareceu alma penada, com as penas da vida basta e sobra.

Tudo pode ser, não afianço, não contesto, nada me espanta, de nada duvido, não tomo partido, não dou daqui, vim de fora. Mas veja vossa senhoria, meu distinto, como o mundo é duvidoso – a Tereza que eu conheci e dela posso testemunhar, de alcunha Tereza da Lua Nova, era da cor e da natureza do mel, cantava modinhas, mais pacata e mansa, mais terna e dengosa.


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De volta do ribeirão, sobe dona Brígida falando sozinha, cercada de sombras. No meio da ladeira os gritos a alcançam, interrompem-lhe o monótono discurso; mais uns passos e enxerga a menina presa pelos braços e pelas pernas, a debater-se nas unhas do capitão e de Terto Cachorro.

Esconde-se atrás da mangueira, aperta a criança contra o peito, volta-se para o céu, murmura pragas, um dia Deus há-de olhar para tanta maldade e mandará o castigo. Quando chegar o fim de sua pena.

Os gritos explodem em seu peito, disparam-lhe o coração: dilatam-se os olhos, tranca-se a boca, altera-se a face, transforma-se dona Brígida e se transforma o mundo a cercá-la. Quem sujeita a vítima pelos braços não é mais Justiniano Duarte da Rosa, seu genro, dito capitão Justo; é o Porco descomunal, monstruoso demónio. Alimenta-se de meninas, chupa-lhes o sangue, mastiga-lhes a carne fresca, tritura-lhes os ossos. O Lobisomem o ajuda, vassalo abjecto fareja e levanta a caça para o amo, cachorro principal da matilha de malditos. Falso e velhaco, à menor distracção do Porco devorará as meninas; covarde, contenta-se com carniça.
Dona Brígida nessas horas advinha o pensamento, vê por dentro, há muito esse dom lhe foi concedido. (clik na imagem)

INFORMAÇÔES ADICIONAIS
À ENTREVISTA nª 87 SOB O TEMA:

“O JUIZO FINAL (1)

Na Primeira Fila


A tradição em Israel colocou no Vale de Josafat, o local onde se celebraria o Juízo Final (Joel 4,2 e 12). Era um lugar simbólico e não geográfico. Cerca de 400 anos DC começou a identificar-se este vale simbólico com o Vale de Cedron, que separa o Monte das Oliveiras, da zona leste de Jerusalém.

Com base nessa tradição, gerações de israelitas foram enterrados no Vale do Cedron. Actualmente, esta área ao redor das muralhas de Jerusalém, é um grande cemitério. Inúmeras sepulturas estão orientadas para os portões da cidade Santa. Ali, os judeus fiéis esperam estar na primeira fila para o dia do Juízo Final.


A Mensagem Central


O "interrogatório" de Deus, a que Jesus se refere na entrevista a propósito do Juízo Final no Evangelho de Mateus (25,31-46), é fundamental para compreender o conteúdo do projecto de Jesus, a proposta do movimento que ele liderou:
- Jesus nunca propôs outra religião com outros rituais, orações, sacrifícios e promessas administradas por uma hierarquia. Ele proclamou, simplesmente, que Deus só queria uma ética nas relações humanas, baseada na justiça, compaixão e sensibilidade às necessidades dos nossos vizinhos.
Santiago, que liderou a comunidade de Jerusalém, após o assassinato de Jesus, foi muito claro quanto a esta solidariedade que foi central no movimento conduzido por seu irmão Jesus. E ele escreveu:


- De que serve a alguém, meus irmãos, dizer que tem fé sem apresentar obras? Será que essa fé pode salvá-lo? De que serve se um de vocês, ao ver um irmão ou irmã despida ou sem o alimento necessário, lhe diz: "Ide em paz aqueçam-se e comei” e não lhes der o que eles precisam para o seu corpo? O mesmo acontece com a fé: se não for acompanhada de obra, ela está morta. (Tiago 2:14-17).

No entardecer da vida seremos avaliados sobre o amor, assim o expressou séculos depois de Jesus e de Tiago, o poeta espanhol e místico João da Cruz e assim o formulou no século XX, o pensador russo Nicolas Berdyaev:
- “A minha própria fome poderia ser um problema material mas a fome dos demais é um problema espiritual porque é um problema de solidariedade."

sexta-feira, março 25, 2011

VÍDEO

É o marisco por excelência. Saboreá-lo é saborear o mar... pena que, na maior parte das vezes, não o deixem crescer antes de o apanhar. Umas vezes apanha-se facilmente na maré baixa, outras, é o que vai ver. Na Galiza, os apanhadores de percêbes conseguem fazer 800 euros em 2 horas mas nunca sabem se saem vivos da empreitada. Em média, 5 morrem em cada ano e outros tantos ficam seriamente magoados. Quem cai, não sobrevive.

PEPINO DI CAPRI - ROBERTA
Também ele fazia parte da "Escola Romana" para quem a música era uma forma de convívio e fruição... a vida é curta e a boa disposição fundamental. Os brasileiros adoraram a Roberta.

TEREZA

BATISTA
CANSADA
DE
GUERRA


Episódio Nº 64


Atenta, Rainha-Mãe preside à festa, dirige a comilança, manda amas e moleques em ordens precisas. Vê quando Dóris abandona a sala para mudar de vestido na alcova. O capitão a segue, emboca quarto adentro, ele também, meu Deus, será possível? Porque tanta pressa, não podem esperar mais um dia, algumas horas, a viagem de trem, o quarto do hotel? Porque ali, quase na frente dos convidados?

Na vista dos convidados, de todos os convidados, sim, Mãe.

Da cidade inteira, se possível. Das moças e meninas, todas elas sem excepção, das freguesas do outeiro atrás do colégio atrás do colégio, as que ali se lambuzaram de beijos e esperma com os colegas, as que o fizeram nos jardins do chalé dos Guedes com os ricos, atrás dos balcões das lojas com os caixeiros nas tardes vazias. Sim, na vista e na frente de todas elas, das que lhe vinham contar de beijos e abraços, de suspiros e gemidos, de seios tocados e coxas abertas, das que lhe faziam inveja e a humilhavam e diziam-na freira, soror e madre.

Que venham e vejam e tragam todas as demais mulheres da cidade, as casadas também, as sérias e as adúlteras, as donzelas loucas mansas nos quintais e jardins, as comadres nas janelas e nas igrejas, as freiras do convento, as mulheres da vida da pensão de Gabi e as escuteiras, tragam todas para ver, todas, sem faltar nenhuma.

Os braços em cruz sobre os peitos de tísica, olhos esbugalhados, um estremeção no corpo frágil, vontade de gritar, gritar bem alto!

Justo, deixa-me gritar, porque me impões silêncio, meu amor? Gritar bem alto para que todos acorressem e a vissem nua em pêlo, a pobre Dóris, e a seu lado, na cama, pronto para possui-la, tirar-lhe o cabaço, gozá-la, arfante de desejo, um homem. Não um meninote de colégio, não um rapazola de tesoura e metro, em apressada masturbação, mão no peito, mão nas coxas – tira depressa que vem gente aí. Um homem, e que homem! Justiniano Duarte da Rosa, o capitão Justo, macho reconhecido e celebrado, maior e universal, todo inteiro de Dóris, seu marido. Ouviram? Seu marido, seu esposo, de aliança na igreja, de papel assinado no juiz. Esposo, amante, macho, seu homem, inteiramente seu, na cama, ali na alcova, pertinho da sala, venham todos e vejam.


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Brigar com moral, me perdoe vossa senhoria, permita lhe dizer, isso até não é difícil, tenho presenciado cada briga retada, de dar gosto. Vi o negro Pascoal do Sossego fazer frente a um pelotão de soldados; mestre de capoeira angola, pintou o sete, foi um pagode.

Com porte de armas, aí então torna-se ainda mais maneiro. De revólver na mão todo o cristão é valente, acabou-se a nação dos cobardes: meto o pau-de-fogo nos peitos do próximo, sou logo promovido a chefe de cangaço ou a tenente de polícia. Não é mesmo, meu branco?

O que eu queria ver para crer era colhudo capaz de enfrentar assombração. Assombração, sim, senhor, alma de outro mundo vagando no escuro da mata, de noite, botando fogo pelas ventas, pelo buraco dos olhos, as garras pingando sangue, aparição mais medonha. Sabe vossa senhoria a medida dos dentes do Lobisomem? E as unhas? São navalhas afiadas, cortam de longe
. (clik na imagem e aumente-a).

ENTREVISTA FICCIONADA
COM JESUS Nº 87 SOB O TEMA:

“O JUIZO FINAL”


Emissoras Latinas - Raquel mudou os seus microfones para o vale de Cedron, perto das muralhas da antiga Jerusalém Oriental. Jesus disse-nos que os seus contemporâneos acreditavam que seria aí o local do Juízo Final.

JESUS - E parece que muitos ainda acreditam que foi Raquel. Vê como muitas sepulturas estão aqui… a certeza de ser o primeiro da fila quando chegar a hora…

RAQUEL - Dia do Juízo! ... Foi realizado um inquérito de rua com esta pergunta: O que você faria se hoje soassem as trombetas do Juízo Final?

BEATA - Eu pago o dízimo e jejuo três vezes por mês. Estou pronta quando Deus quiser.

HOMEM - Eu confessei-me a Cristo. E São Paulo disse: "Quem confessa o Senhor será salvo. Estou salvo, graças a Deus, aleluia!

MULHER - A verdade é que eu não estou pronta para esse julgamento. Desde há quarenta anos que não piso uma igreja ...

HOMEM - Alabao, senhor, se eu ouço essa trombeta, eu me cago!

ANCIÃ - Não tenho problemas porque guardo dez indulgências plenárias.

HOMEM – Nem um dia deixei de ler a Bíblia! Como há lugar para 144 mil, eu espero ser um deles…

RAQUEL - Nesta ocasião, Emissoras Latinas fizeram um esforço especial e os nossos correspondentes obtiveram também respostas em países não cristãos.

JESUS – E o que disseram eles nesses países?

RAQUEL - Os muçulmanos falaram da sua peregrinação a Meca; os judeus, do sábado e da comida kosher. Os hindu cantando a Vishnu. Os budistas não se pronunciaram. Os mais tranquilos foram os chineses. Dizem que o século 21 vai ser deles e que o mundo não vai acabar tão cedo ... os chineses têm razão? O que o senhor acha Jesus Cristo? Quando chegará o juízo final?

JESUS - Realmente, eu não sei ...

RACHEL - O senhor não sabe quando?

JESUS - Não, nós não sabemos o dia nem a hora.

RAQUEL - É top “secret”, informações confidenciais e não querem compartilhar com o nosso público?

JESUS - Os meus compatriotas não foram confrontados com essas perguntas tal como elas foram feitas mas as pessoas também se perguntavam quando seria o fim ...

RACHEL - O que lhes dizia o senhor?

JESUS – O mesmo que te digo agora: nós não sabemos o dia, mas há que estar preparados… eu não disse quando iríamos a juízo… mas sim o que nos perguntará o juiz nesse tribunal.

RACHEL - Poderia passar algum do conteúdo do interrogatório?

JESUS – Nesse dia, nesse juízo, Deus vai nos perguntar se alimentamos os que estavam com fome, se demos de beber aos que estavam com sede, de vestir aos nus, se demos apoio aos tristes. Deus vai querer saber o que fizemos do nosso dinheiro, se ele foi mais importante que as pessoas, se nos curvámos diante dele como a um deus. Nesse dia seremos examinados sobre o amor.

RAQUEL – Nem uma pergunta sobre sacrifícios, oração, adoração, peregrinações, votos, dízimos, dogmas?

JESUS - Não, nada disso será levado em conta nesse dia.

RAQUEL - E tudo o que foi feito em nome de Yahvéh, Cristo, Jeová, Alá, Vishnu, Shiva ...?

JESUS - Nada disso vai contar.. Nesse dia, o nome de Deus será Justiça.

RAQUEL - E depois do julgamento? Será, então, quando o mundo acaba? Vai soar, em seguida, a sétima trombeta, a última, a do Apocalipse?

JESUS - A cada dia cada coisa, Rachel. Melhor esperar para amanhã o toque da trombeta.

RACHEL - Bem ... esperemos, aguardemos o fim do mundo!...
Do vale de Kidron, junto às muralhas de Jerusalém, Raquel Pérez.

quinta-feira, março 24, 2011

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Automobilista azarado...

ELIS REGINA - FASCINAÇÃO
Recordando os 29 anos passados, em 19 de Janeiro último, sobre a morte da maior cantora brasileira, não resisto a colocar "Fascinação" , para mim, a mais bela canção que conheço em língua portuguesa. No seu conjunto, música, letra, voz e interpretação é a canção perfeita e o piano o protagonista ideal para acompanhar a Elis Regina.


TEREZA

BATISTA

CANSADA

DE

GUERRA

Episódio Nº 63


A víbora peçonhenta tivera o merecido, bom exemplo para as demais. Agora, caríssimas amigas, zelosas comadres, fiquem todas sabendo e atrevam-se, se têm coragem, agora é assim: bulir com Dóris ou com dona Brígida corre perigo de vida. Faça-se de besta quem quiser, receberá o troco de imediato. Passou uma tarde eufórica, ouviu ao menos dez versões do acontecido, à noite porém retornaram as sombras obscuras, o medo.

Aquele noivado era delicado cristal, de inestimável valor, de matéria fragilíssima. Preocupada com o genro, com a sua natureza encoberta e esquiva, preocupada sobretudo com Dóris a consumir-se na espera. Fúria, destempero, ânsia, pressa, desinteresse por tudo mais, onde a tímida menina do colégio de freiras?

Sempre fora de pouco apetite, agora nem beliscava a comida, olheiras negras, costas curvadas, ainda mais magra, ossos e pele. Faltando menos de um mês para o casamento, apareceu com febre, tosse renitente. Dona Brígida chamou o doutor David. Após demorado exame, o ouvido nas costas do doente, batidas nas costelas com os nós dos dedos, “diga trinta e três”, o médico aconselhou a ida à capital para exames de laboratório, talvez radiografias. O ideal seria transferir o casamento até Dóris se fortalecer. “Está muito fraca, fraca demais, e os exames são indispensáveis” concluiu.

Dona Brígida sentiu o mundo vacilar.

- Ela está doente do peito doutor?

- Creio que não. Mas ficará se continuar assim. Alimentação, repouso, os exames, e adiem o casamento por uns meses.

Refez-se dona Brígida, Rainha – Mãe, mulher forte. Velhas mezinhas debelaram a febre, a tosse reduziu-se a pigarro, o adiamento nem chegou a ser assunto de discussão, os exames ficaram para a ida obrigatória à capital na viagem de núpcias. Não se falou mais nisso. Fragilíssimo cristal, delicada matéria, inestimável noivado, dona Brígida o protegeu e preservou engolindo sapos e cobras, tanto medo, tanto.


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Majestosa no porte altivo, majestosa nas sedas farfalhantes, de vestido longo e no chapéu com flores artificiais, no leque a abanar-se, majestosa no dever cumprido, dona Brígida resplandecia no dia do casamento, afinal o porto de abrigo, o definitivo ancoradouro.

Terminadas para sempre as ameaças de misérias, já não eram mascaradas mendigas. Cumprira o seu dever de mãe e recebia os parabéns com um sorriso condescendente.

Dóris, no vestido de noiva, de arrebiques mil, modelo tirado de uma revista do Rio, o capitão de terno azul de casimira novinho em folha, os convivas nas roupas domingueiras, celebrou-se o mais falado casamento de Cajazeiras do Norte.

Na Matriz, a cerimónia religiosa, com lágrimas maternas e sermão do padre Cirilo; o acto civil em casa da noiva, com primoroso discurso do juiz Eustáquio Gomes Fialho Neto, poeta Fialho Neto em pompas de imagens sobre o amor, “sentimento sublime que transfigura a tempestade em bonança, remove montanhas e ilumina as trevas” e por aí fora, inspiradíssimo.

Toda a cidade compareceu à Praça da Matriz, inclusivé dona Ponciana de Azevedo, refeita do susto, disposta a novas lides, respeitados, é claro, o capitão e sua família – “noiva linda igual à Dóris nunca se viu, acredite, Brígida, querida amiga”.

Eufórica, porém digna, dona Brígida aceita a louvação das comadres.

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

À ENTREVISTA Nº 86 SOB O TEMA:

“EUTANÁSIA
”(última parte)


Fim de Vida como uma Festa


No seu livro "Deus Imediato" (Editorial Trotta, 1997), o teólogo alemão Eugen Drewermann reflecte e faz uma proposta ousada:

Creio que quanto mais meios a medicina descobrir para prolongar a vida, tanto mais está obrigada a descobrir meios mais adequados para lhe pôr fim.
Estou convencido de que em breve vamos ter sucesso e a medicina saberá desenvolver métodos para descobrir drogas que possam ser administradas sem causar a menor dor.
Por que não experimentar mesmo uma droga que produza um efeito eufórico?
Completar a vida com uma festa, uma celebração, acho que seria algo digno e bonito, enquanto que a morte, suportada como uma destino imposto de fora, acompanhada por dores e orquestrada por um médico de cuidados intensivos, parece-me indigna do ser humano.

quarta-feira, março 23, 2011

A CARTA...




Com a resistência que só os angolanos têm, Mano Mingo foi tentar mais mais uma vez emprego em mais uma entrevista.

Ao chegar ao escritório, o entrevistador observou que o candidato. Tinha o perfil desejado, as virtudes ideais e lhe perguntou:

- Qual foi seu último salário?

- 30 mil Kwanzas, respondeu Mano Mingo.

- Pois se o senhor for contratado, ganhará 10 mil dólares por mês!

- Aká.... Jura?

- Que carro o senhor tem?

- Eu tinha um carro de mão aonde punha legumes pra vender na zunga, mas tambem era alugado!

- Pois se o senhor trabalhar connosco terá um VX para si e um Vera Cruz para sua esposa, novos a estalar!

- Aiwéééé minha vida....Jura?

- O senhor viaja muito para o exterior?

- Quer dizer já fui até M'bula Tumba, visitar uns parentes...

- Pois se o senhor trabalhar aqui viajará pelo menos 10 vezes por ano, para Londres, Paris, Dubai, China, Nova Iorque, etc.

- Adjiiiiiiiii num fala mais....Jura só?

- E lhe digo mais.... O emprego é quase seu. Só não lhe confirmo agora porque tenho que falar com meu Sócio. Mas já esta praticamente garantido. Se até amanhã (6ª feira) a meia-noite o senhor NÃO receber uma carta nossa a cancelar, pode vir trabalhar na segunda-feira com todas essas regalias que eu lhe disse.

Então já sabe: se NÃO receber carta até a meia-noite de amanhã, o emprego é seu!

Mano Mingo saiu do escritório fraco das pernas mas feliz, apanhou um taxi com os ultimos 100 Kz e foi pra casa.

Agora era só esperar até a meia-noite da 6ª feira e rezar, mas tambem previniu-se e amarrou capim e colocou na esquina da rua que dava pra casa dele para que não aparecesse nenhuma maldita carta.

Sexta-feira dia do homem mais feliz não poderia haver.

E Mano Mingo ganhou coragem e reuniu a família e contou a nova.

Convocou o bairro todo para uma sentada comemorativa à base de muito cabrité, fino e música de kilape.

Sexta a tarde já tinha 2 barris de fino aberto dos 7 de kilape.

Às 21 horas a festa fervia.

O Dj (de kilape) estava a pôr todas ketas fixe, o povo dançava (era do cambua, era tudo...), a bebida era bar aberto....

22 horas, a mulher do Mano Mingo (tia Fatita) aflita, já achava que tudo era um exagero, e perguntava se a carta chegar...

A vizinha Matilde gostosa lá do bairo (mais conhecida por Beyoncé), interesseira dum raio bixa, já dançava do cambua só pro Mano Mingo.

E o Dj tocava (grandas cassetes sim senhora pá...)!

E as pipas abriam, uma atrás da outra!

O povo cantava "deixa a vida me levar... vida leva eu... (tava lhes kuiááááá malé)!

23 horas, Mano Mingo já era o papoite do bairro, pois tudo seria pago com os 10 mil Doláres....

E também porque o ultimo evento grande no bairro foi o óbito do Man Dadão que segundo o povo "bateu de milhões, muita bebida"...

E a mulher (tia Fatita) já não se aguentava, tava aflita, uns coxe alegre e já descabelada (quer dizer já com a peruca de lado)...

Às 23h50 minutos... Vira na esquina quase a chocar (por causa do capim amarrado lembram, ya quase deu certo) e fazendo jogo de luzes, um Corolla amarelo da DHL...

Ewéééééé, era a carta!

O amistoso (boda) parou!

O Dj parou a música!

O homem do cabrité apagou o carvão!

A vizinha Matilde (bixa dum raio) afastou-se!

Tia Fatita peidou!

Todos se perguntavam, e agora? Os kilapes?
" Coitado do Mano Mingo!" Era a frase mais ouvida.

- O sr. das pipas já bêbado exclamou: "eu então quero o meu kumbú, também fiz kilape na Cuca..."!

O fino parou!

O Corolla amarelo parou!

Sai um kta kilombo e se dirigiu ao Mano Mingo:

- Senhor Domingos Makubikua? (nome do Mano Mingo)

- Si, si....simmm, só, só eu simmm...

-Tia Fatita lhe empurrou para frente e disse: " agora fala bixo de merda, não finge que es gago eu te avisei..."

A multidão não resistiu....

Ewééééééééé, bandeiraaaaa!!!!!!!!!!!

E o kilombo do Corolla diz:

- Tenho uma carta muito importante para o senhor...

Mano Mingo não acreditava...

Pegou na carta, com os olhos cheios d'água, levantou a cabeça e olhou para todos....

Silêncio total.

Não se ouvia sequer um mosquito, até o transito de repente aquela hora engarrafou à espera da noticia...!

Mano Mingo respirou fundo e abriu a carta a tremer, enquanto uma lágrima escorregava no canto do olho....

Olhou de novo para o povo e tirou a carta do envelope, abriu e começou a ler em silêncio....

O povo todo em silêncio aguardava a notícia e se perguntava:

- E agora? Quem vai pagar os kilapes?

Mano Mingo recomeçou a ler, levantou os olhos e olhou mais uma vez para o povo que olhava pra ele tipo novela da Globo...

Foi então que Mano Mingo abriu um largo sorriso, deu um berro triunfal e começou a gritar eufórico.

- É Mamã que morreeeeuuu!

-Mamã morreeeeuuu!!!!!!!

Pode continuar a festaaaaaaaaa...

E o povo gritou, ehhhhhhhh vivaaaa....

Hihihihihihi.... sempre a rir....hihihihihi.....

VÍDEO

Em vez de chorar... dance!

ELIS REGINA - POEMA
29 anos de saudade. Elis faleceu a 19/1/82 depois de ter tomado a derradeira dose de cocaína levou consigo a melhor cantora do Brasil. Cantava, interpretava, vivia o palco e a voz da forma mais intensa. Estará sempre viva em todos os tempos pois a voz e aq paixão não têm idade... a vontade de a ouvir permanecerá para sempre.

TEREZA

BATISTA
CANSADA
DE
GUERRA
Episódio Nº 62

Durante o curto noivado, em várias ocasiões esteve na iminência de “dar uma lição a algum tabacudo” e a duras penas se conteve. Quando saía a passeio em companhia de Dóris e dona Brígida, a caminho do cinema ou da igreja, e alguém os fitava com manifesta curiosidade, o primeiro ímpeto do capitão era explodir. Só perdeu a cabeça uma vez quando um casal, não contente com o olhar trocou comentários em voz baixa. “Nunca me viu, filho da puta?”, gritou e partiu para a agressão. Não houvesse marido e mulher dado nas pernas e o fuzuê seria feito. Dona Brígida suplicava: “Calma capitão”. Dóris calada, imperturbável ao braço do noivo.

Toda a curiosidade, o debate, as opiniões, os olhares de espanto, as visitas intempestivas das comadres nas horas e na sala de noivado, as piadas e as frases de espírito, tudo isso cessou de vez e de supetão. Numa das suas escapadas nocturnas, com o objectivo de enfiar debaixo da porta do juiz carta anónima referente à conduta da meritíssima esposa na capital e à da amásia ali mesmo, a vitoriosa Ponciana de Azevedo foi abordada por Chico Meia-Sola, malfeitor às ordens do capitão, cobrador de dívidas atrasadas que lhe exibiu um punhal e. de leve, com a ponta aguda a pinicou.

Dona Ponciana mal pôde chegar a casa de nervos, de nervos sem exemplo, manteve-se trancada uma semana, sem botar o pé na rua. A história se espalhou, crescendo em facadas, a partir de então a paz desceu sobre a cidade.

Assim transcorreram os três meses de noivado. Dona Brígida tentava estabelecer laços de confiança e amizade com o futuro genro sem encontrar a necessária receptividade. Cidadão de pouca prosa, Justiniano Duarte da Rosa, durante a visita quotidiana, após o jantar, reduzia o diálogo ao essencial: assuntos do casamento, acertos indispensáveis. Fora disso permaneciam os noivos na sala, sentados no sofá, em silêncio. Dona Brígida puxava conversa, perdia o tempo e o latim. Uns grunhidos do capitão, Dóris nem isso.

Em silêncio, à espera. À espera que dona Brígida fosse até à cozinha ou à sala de jantar a pretexto de um cafezinho passado na hora, em busca de doce de banana ou de jaca, de manga ou de caju. Apenas viam-lhe as costas, atracavam-se os noivos aos beijos, boca na boca, mãos atarefadas. Três meses longos de passar, dona Brígida não sabia para onde voltar-se, o que fazer. Dóris não viera, insolente, criticá-la por demorar-se na sala a vigiá-los, por não lhes permitir liberdade de maior, não eram noivos, afinal?

A pessoa emprenha, pare, amamenta, cria, educa uma filha com o maior desvelo, na moral e na santa religião, pensa conhecê-la, saber tudo sobre ela, e não sabe nada, absolutamente nada, constata dona Brígida, melancólica, expulsa para a janela, de frente para a curiosidade da rua, de costas para os noivos.

Tempo repartido entre as alegrias das rendas, dos bordados, das camisolas, das compras e arrumações, do fabrico de doces e licores, do preparo das festas e as preocupações resultantes de um noivado sôfrego, do receio de uma explosão do futuro genro, useiro e vezeiro na violência – dona Brígida tinha horror à violência e durante aquele tempo tumultuado não se sentiu inteiramente à vontade um só minuto.

Não obstante, ao saber do susto quase mortal de dona Ponciana de Azevedo, a ponta da peixeira entre as costelas, não conseguiu impedir um sentimento de orgulho, exaltante sensação de poder
. (clik na imagem).

INFORMAÇÕES ADICIONAIS
À ENTREVISTA Nº 86 SOB O TEMA:

“EUTANÀSIA” (7)


Eutanásia em Outras Religiões


No texto "Os Desafios da Bioética", de Marie-Gaëlle Perff e de Guetny Jean-Paul lê-se:

- Todas as religiões consideram a vida sagrada e na rejeição da eutanásia expressam esse princípio. É frente à morte e à decadência física que cada religião dá respostas diferentes com variados matizes. Dado o conceito cada vez mais frequentemente usado para "morrer com dignidade" e ante um número crescente de doenças graves que reclamam, incluindo junto dos tribunais, o direito de acabar com suas vidas, as religiões afirmam a sua oposição à eutanásia e ao “tratamento agressivo" que, a todo o custo e com recurso a todos os tipos de equipamento médico, procuram manter vivos os doentes terminais.
Todas as religiões concordam com a implementação de "cuidados paliativos" para evitar a dor. A fonte desses princípios é a tradição religiosa. Assim, na liturgia ortodoxa, os fiéis regularmente pedem a Deus na oração "o fim da vida cristã, sem dor, humilhação e em paz."

Em todos os textos sagrados do judaísmo, no início da luta contra a dor está muito presente. É um princípio que o crente deve equilibrar com o mandamento que ordena "não matarás". O catolicismo é a religião que rejeita mais severamente a eutanásia, mas isso não significa que o doente tenha de aceitar qualquer procedimento médico para prolongar a vida.
Propõe apenas um tratamento razoável, onde as desvantagens superam os benefícios. Protestantes e budistas opõem-se à eutanásia, mas deixando sempre uma margem para cada caso, para cada situação individual.

Os budistas são aqueles que encontraram a chave na compaixão, um valor essencial para o budismo. Se o amor se expressa pela partilha da felicidade dos outros, a compaixão é expressa no desejo de ver outras pessoas livres do sofrimento. Será a compaixão que levará em conta os aspectos pessoais de cada situação e promoverá uma resposta adequada a cada caso.

terça-feira, março 22, 2011

IMAGEM
As ordens são: "seguir até que a exposição à radioactividade vos mate". Grupos, entre 50 e 300 homens procuram deseperadamente reparar a central. Têm na maioria mais de sessenta anos poupando-se, assim, pessoas mais novas a situações de alto risco de vida e provável morte próxima devido ao elevado nível de radioactividade. É o que no Japão se chama "yamato-damasshi" estado de espírito semelhante ao dos pilotos suicidas que atacaram Pearl Harbour na Segunda Grande Guerra Mundial (1939/45). Hoje aparece retocado como dedicação ao bem comum cima dos interesses pessoais.

Este Vídeo é realmente fantástico. A música do aniversário de casamento é um tango maravilhoso tocado pelo alemão Carel Kraayenhof e quando a orquestra entra e o coral então, é de arrepiar. O casamento é do príncipe Alexandre da Holanda com a pricesa Máxima, da Argentina, como é perceptível pela sua comoção à música do seu país, "Adios Nonino", do mestre Artur Piazolla e Bob Zimmerman.

IMAGEM

Pois é... falam da crise, crise para aqui...crise para ali... mas destas dificuldades não falam eles... (click na imagem para ter uma ideia mais aproximada das dificuldades)


A Freira e o taxista benfiquista


Uma freira faz sinal para um táxi parar.
Ela entra e o taxista não pára de olhar para ela.
- Por que você me olha assim?
Ele explica:
- Tenho uma coisa para lhe pedir, mas não quero que fique ofendida...
Ela responde:
- Meu filho,sou freira há muito tempo e já vi e ouvi de tudo.
Com certeza, não há nada que você possa me dizer ou pedir que eu ache ofensivo.
- Sabe, é que eu sempre tive na cabeça uma fantasia de ser beijado na boca por uma freira...
A freira:
- Bem, vamos ver o que é que eu posso fazer por você:
primeiro, você tem que ser solteiro, belenenses e também católico.
O taxista fica entusiasmado:
- Sim, sou solteiro, do Belém desde criança e até sou católico também!
A freira olha pela janela do táxi e diz:
- Então, páre o carro ali na próxima travessa.
O carro pára na travessa e a freira satisfaz a velha fantasia do taxista com um belo beijo na boca.
Mas, quando continuam para o destino, o taxista começa a chorar.
- Meu filho, diz a freira, porque estás a chorar?
- Perdoe-me, Irmã, mas confesso que menti. Sou casado, do Benfica e sou protestante.
A freira conforta-o:
- Não faz mal. Eu também estou a caminho de um baile de máscaras. Chamo-me Alfredo... e sou Portista

EARTH SONG - MICHAEL JACKSON
O Single foi lançado em 1995 e deu continuidade a outros dois com mensagens sociais. Foi lançado na europa e ficou no Top 5 em vários países: Austria, Suiça, Suécia, Espanha, Bélgica. Só no Reino Unido vendeu 1,5 milhões de cópias. A canção defende abertamente o ambiente e os animais e avisa que estamos indo longe demais na exploração do planeta. Tem um tipo de música clássica que lhe reforça a solenidade, impacto e a respeitabilidade que o tema merece... além de que é linda.
O víseo foi filmado em África, Amazónia, Crácia e Nova York e nunca foi lançado nos E.U.A. históricamente o maior poluidor do palaneta.

TEREZA
BATISTA

CANSADA

DE

GUERRA

Episódio Nº 61


Só amor ardente e cego explicava noivado, casamento, gastos, gentilezas, na opinião do meritíssimo doutor Estáquio, opinião jurídica e poética, digna de atenção, embora pouco compartida na cidade.

Foi um tempo rico de debates, de pareceres contraditórios e de algumas grosseiras piadas sussurradas. Dona Ponciana de Azevedo, a incansável, obteve sucesso com uma das suas precisas definições: “É o casamento de uma tábua de lavar com um suíno bom de talho”. Comparação cruel mas bem achada, quem pode negar?

Fosse por amor, fosse por outro motivo qualquer desconhecido, como queriam as comadres, o capitão Justo perdera a cabeça e nem parecia o mesmo homem. Um dos seus galos apanhou feio, na rinha, Justiniano nem discutiu, não falou em roubo, não agrediu o barbeiro Renato, dono do galo vencedor.

Dona Brígida, no entanto, não conseguia libertar-se por completo das sombras a persegui-la noite adentro. Adquirira o hábito de pesar factos e gestos, larguezas e limitações. O capitão resgatara a hipoteca do banco, mas não dera baixa no cartório nem quitação à viúva, passara a ser o credor. Quando dona Brígida tocou no assunto, Justiniano a fitara com seus olhos miúdos, quase ofendido: não iam casar-se, ele e Dóris, não ficava tudo em família, onde a necessidade de gastar dinheiro em cartório com quitação e besteiras iguais?

Também nas lojas acontecia o comerciante desculpar-se:

- Desculpe, dona Brígida, mas para uma compra tão grande só consultando o capitão…

Mesquinharias em meio às grandezas, dona Brígida pisava chão inseguro, frágeis capas de generosidade e gentileza a encobrir terra de violência a encobrir terra de violência, rocha abrupta sem sombra nem água.

De indispensável, nada faltara de boa qualidade ao enxoval; nem de longe, no entanto, o grande, o rico, o maior, o inesquecível enxoval dos sonhos de dona Brígida.

Assim, dúvidas e sombras perturbavam-lhe o sono e a satisfação, não a ponto, porém de levá-la a duvidar do real interesse de Justiniano Duarte da Rosa, paixão publicamente demonstrada.

O noivado durou três meses, o mínimo necessário para preparo do enxoval. Dona Brígida, por ocasião do pedido, propusera seis meses, prazo razoável. Seis meses? Para costurar uns vestidos, cortar uns lençóis? Absurdo, o capitão nem quis discutir. Por seu gosto ter-se-iam casado no dia seguinte ao do noivado. Pelo de Dóris, na véspera.

Para a solenidade do pedido, Justiniano Duarte da Rosa fizera-se acompanhar do doutor Estáquio e do prefeito na visita à casa da matriz. Dona Brígida convidara o padre Cirilo e algumas amigas íntimas, fizera pasteis, empadinhas, doces sortidos.

Na praça acumulavam-se curiosos, todo o comadrio e o resto do povo. Quando o pretendente apareceu, vestindo terno branco e chapéu panamá, ladeado pelo juiz e pelo prefeito, elevou-se um murmúrio.

O capitão deteve-se, olhou em redor. Outro homem, pacífico, não elevou o braço nem a voz, não chamou Terto nem Chico, não puxou do revólver, apenas olhou e foi o bastante. “Parece que nunca viram um homem ficar noivo”, rosnou para o prefeito. “Se não fosse em atenção à família dava uma lição a esses tabacudos”.

INFORMAÇÕES ADICIONAIS
À ENTREVISTA Nº 86 SOB O TEMA:

“EUTANÁSIA” (6)


Cada Caso é Um Caso Diferente


Sobre a eutanásia não pode ser emitida uma opinião genérica a favor ou contra e muito menos sentenças severas ou acórdãos. É essencial conhecer cada caso, compreender, saber todas as circunstâncias que o envolvem para poder pensar e agir com amor e compaixão. Casos emblemáticos têm permitido um melhor entendimento do que é quando falamos de eutanásia. Entre eles, três casos ocorreram na Europa no início do século XXI quando a eutanásia já era um dilema quase diário nas sociedades desenvolvidas.

O caso de Ramón Sampedro, um trabalhador espanhol, tetraplégico durante 30 anos após um acidente, que pediu para morrer porque não podia lidar com a contradição entre a paralisia de seu corpo e da lucidez de sua mente. Teve um amigo que o ajudou a morrer em 1998. Seu caso foi posto num filme de Alejandro Amenábar "Mar Adentro", vencedor de um Oscar em Fevereiro de 2005.

Depois, o caso do jovem francês Vincent Humbert, tetraplégico desde os 19 anos após um acidente de carro. Após três anos de permanência na cama cego, mudo, sem paladar ou cheiro, pediu aos médicos do hospital, graças à comunicação que conseguia com a pressão de um dedo, para o ajudarem a morrer. Como se o recusassem, a sua mãe fê-lo e foi detida. Em 2003, o seu caso contribuiu para um debate em França por uma lei garantindo o direito de morrer com dignidade.

Finalmente, o caso do italiano de Piergiorgio Welby, 60 anos, vítima de uma distrofia muscular progressiva que o tinha deixado imóvel, excepto o movimento dos olhos. Welby pediu aos médicos que terminassem com o tratamento que o mantinha vivo num ventilador há já dez anos, e o sedassem para morrer sem dor. Um médico do hospital de Cremona, onde estava internado satisfez o seu pedido e Welby morreu em 20 de Dezembro de 2006.

Ao anunciar a sua partida deste mundo o dirigente do Partido Radical, Marco Penella disse: “Seu exemplo será uma fonte de força, amor e esperança para todos os homens e mulheres que amam a vida, a liberdade e responsabilidade.”

Em 2007, apenas dois países da União Europeia tinham legalizado a eutanásia para pacientes com doenças incuráveis que o solicitassem. Em outros países, o debate jurídico e ético foi aberto. Na América Latina, o México está à frente da humanização da morte. Em Dezembro de 2007, foi aprovado no Distrito Federal do México a chamada Lei da Vontade Antecipada, que pode beneficiar os doentes terminais que optem por interromper os seus cuidados para prolongarem a vida.
A nova lei estabelece uma distinção entre "eutanásia" e "ortotanásia", um conceito que assume que significa "morte correcta" e que faz a diferença entre "curar” e "cuidar".
Quando os doentes não podem ser curados, os médicos não devem agir fora da decisão dos doentes, maiores de 16 anos, firmada num documento assinado perante o Notário e duas testemunhas.

segunda-feira, março 21, 2011

VÍDEO

A Tia Amparo


A Tia Amparo era uma mulher de 93 anos que estava particularmente afectada pela morte recente do seu marido.

Ela decidiu suicidar-se e juntar-se a ele no além.

Pensando que o melhor para ela seria acabar rápido com o assunto, foi buscar a velha pistola do exército que pertencera ao seu marido e tomou a decisão de disparar um tiro no coração, já que estava destroçada pela dor da sua perda.

Não querendo falhar o tiro num órgão vital e tornar-se num vegetal e num fardo para os seus familiares, telefonou ao seu médico de família para lhe perguntar onde ficava exactamente o seu coração.

O médico respondeu-lhe:

- "Dona Amparo, que pergunta?!... O seu coração está exactamente debaixo do seu seio esquerdo"


...e foi assim que a querida tia Amparo... deu cabo do joelho!!!


(Com a idade tudo tem tendencia para baixar...)

PASSION VEGA - LEJOS DE LISBOA
Oportunidade de fazer um rápido "Tour" por Lisboa levados pela voz encantadora de Passion Vega que resolveu homenagear a nossa capital com esta linda canção depois de uma visita que nos fez. (utilize todo o ecrã do computador)

TEREZA
BATISTA
CANSADA

DE
GUERRA


Episódio Nº 60


O meritíssimo doutor Eustáquio Fialho Gomes Neto, juiz de direito, nas horas vagas poeta Fialho Neto, com sonetos publicados em jornais e revistas da Bahia – ainda estudante obtivera, com “Vergel de Sonhos” menção honrosa em concurso da revista Fon-Fon, do Rio de Janeiro – figura, como se vê, exponencial da intelectualidade citadina, defendia surpreendente tese, a sério e com argumentos: em sua opinião Justino Duarte da Rosa se inflamara de amor verdadeiro e profundo pela menor Dóris Curvelo, não apenas verdadeiro e profundo como também duradouro. Amor na mais lata acepção do termo, amor com as alegrias do Paraíso e as penas do Inferno.

- O senhor tem uma concepção das mais extraordinárias sobre o amor, não há dúvida… - para Marcos Lemos, guarda livros de usina e igualmente dado às musas, o juiz apenas se divertia às custas dos amigos, um galhofeiro.

- Doutor Eustáquio gosta dos paradoxos… - contemporizava o promotor público, doutor Epaminondas Trigo, balofo, descuidado de roupa, a barba por fazer, cinco filhos a criar, o sexto na barriga da mãe, trinta anos incompletos. Pertencia ao restrito círculo da fina-flor da cultura local, menos por bacharel em Direito do que por charadista emérito. Uma nulidade na promotoria; na decifração de um lologrifo aquela competência. Não se atrevia a refutar a opinião do juiz seu superior hierárquico.

- Você é um cínico… - ria o quarto membro do grupo, Aírton Amorim, colector, míope, cabelo à escovinha, leitor de Eça de Queiroz e Ramalho Ortigão, íntimo do juiz – Amor é um sentimento nobre… o mais nobre.

- E daí?

- O capitão Justo e os sentimentos nobres são incompatíveis…

- Além de injusto com o nosso caro capitão, você é um pífio psicólogo. Amor, amor de verdade, com factos vou-lhe provar com factos…

Não apenas a elite intelectual, a cidade inteira preocupara-se em explicar noivado, casamento e outras acções do capitão, realmente insólitas. Dias antes de vencer-se a hipoteca da casa, ele a resgatara, aliviando a viúva e a filha de ameaça maior: perder o imóvel comprado pelo doutor com tanto sacrifício.

- Tamanha largueza, tal munificência, não é suficiente prova de amor? – O meritíssimo argumentava com factos concretos.

E o enxoval de Dóris? Quem financiara sedas, linhos, cambraias, rendas e babados? Quem pagara as costureiras? Por acaso dona Brígida com a pensão do Estado? Tudo saíra do bolso do capitão. Esse mesmo capitão habitualmente mão fechada, somítico, de súbito, gastador, mão-aberta, pagando sem discutir.

Dona Brígida voltou a ter crédito nas lojas, triunfante sobre os comerciantes curvados em salamaleques, os mesmos calhordas que pouco antes a perseguiam na cobrança das contas.

Senão era amor, o que seria? Como explicar gastos, liberalidades, gentilezas – sim, gentilezas – do capitão, a não ser por amor? Por que cargas de água, perguntava o juiz estendendo o dedo, haveria ele de casar senão estivesse apaixonado? Que lhe trazia Dóris, além da carcaça magra? Bens? Não tinha onde cair morta. O nome honrado do pai, sem dúvida, mas que utilidade teria para Justiniano Duarte da Rosa o nome, a honra, a memória do doutor Ubaldo Curvelo? Só amor ardente e cego…

- Principalmente cego… – interrompia Aírton Amorim, gozador.

INFORMAÇÕES ADICIONAIS
À ENTREVISTA Nº 86 SOBRE O TEMA:
“EUTANÁSIA” (5)



- A vida é um Direito, não um Dever

O jornalista espanhol Pepe Rodriguez, no seu livro "Morrer é nada" faz esta reflexão: É óbvio que a vida é um direito, mas nunca pode, nem deve ser considerada como um dever. Ninguém pode ser forçado a viver contra a sua vontade ou a ter que agonizar ou vegetar, vítima de uma doença terminal, violando a sua consciência e contra a vontade expressa de não continuar a viver assim...

Quando a qualidade de vida se degrada a ponto de ultrapassar aquilo que consideramos a "nossa dignidade", deve, automaticamente, colocar-se o direito de romper, por decisão própria, a obrigação de permanecer vivo.

domingo, março 20, 2011

HOJE È DOMINGO
(Da minha cidade de Santarém)


De novo sentado à mesa do meu Café nesta manhã de Domingo, em Santarém, confesso que tenho alguma dificuldade em embrenhar-me na leitura do jornal. As notícias são deprimentes:

- O desastre nas centrais nucleares no Japão – que raio! Não lhes bastava um terramoto de grau 9 e um tsunami?

- Na Líbia, o doido do Kadhafi bombardeia a população e o resto do mundo congela-lhe as contas bancárias… parece, agora, que por decisão da ONU, já estão a intervir com a força aérea mas o ditador ameaça retaliar, criar no Mediterrâneo uma espécie de apocalipse…

É assim quando a ética desaparece das relações internacionais e se dá apoio e cobertura a tiranos, loucos perigosos só porque têm petróleo, gás, muito dinheiro e isso nos convém.

- Por cá, é a dívida soberana, a permanente subida das taxas de juro sobre os empréstimos que temos de contrair para irmos vivendo… e agora a ameaça da crise política muito provavelmente com eleições antecipadas.

Um país que devia unir-se em torno dos grandes desafios para os poder enfrentar e vencer num momento em que o futuro se coloca em termos do dia de amanhã, em vez disso, embrenha-se em discussões e acusações recíprocas para desespero dos cidadãos para quem é evidente a inépcia e irresponsabilidade de quem tem gerido os nossos destinos.

Eu sei que os males do mundo nunca acabarão mas, naquilo que a nós nos diz respeito, e tirando os tempos das Senhas de Racionamento, por alturas da última Grande Guerra, nunca os portugueses, realmente, se sentiram tão à rasca e a expressão é mesmo esta.

Mas há duas grandes diferenças entre este momento que estamos a viver e o das Senhas de Racionamento do tempo da última Grande Guerra de que eu tenho ainda uma vaga lembrança:

- Hoje, o Belmiro de Azevedo, do Continente e o Jerónimo Martins do Pingo Doce têm os seus Supermercados abastecidos de tudo e disputam os “fregueses” (palavreado do antigamente) com o frenesim próprio das claques do Sporting e do Benfica em jogo de derby.

Nos outros tempos, simplesmente não havia produtos e o pouco que havia tinha de ser racionado pelos cidadãos para que, pelo menos, chegasse um bocadinho a cada um.

- A outra grande diferença tem a ver com as expectativas da população, nomeadamente dos jovens, que então eram muito baixas e hoje muito altas. Éramos um país de gente muito pobre, analfabeta, sobrevivendo da terra, espalhados por todas essas aldeias do país, na base da entreajuda familiar. Poucos estudavam, apenas os filhos dos doutores e dos poucos ricos, latifundiários, que escolhiam entre si serem engenheiros, médicos ou advogados.

Hoje, uma fábrica faz uma oferta de emprego para operários (quero dizer técnicos de qualquer coisa…) e não há inscritos para preencher as vagas…. Há muito que é assim e eu, que trabalhei no Instituto de Emprego, posso comprová-lo. É aquilo que se chama um "desajustamento entre a oferta e a procura" não obstante os milhões que vieram da Europa para Formação Profissional e que, em muitos casos, ou foi um desastre ou uma vergonha.

Depois do 25 de Abril registou-se um desprezo pela aprendizagem de “ofícios” e quase todo o investimento foi efectuado em Cursos Superiores com baixos níveis de exigência mas que correspondiam às aspirações dos jovens em serem “doutores”.

Pais, alunos, professores, o país no seu geral, andou a enganar-se. Se não aprendermos a fazer as coisas certas, aquelas que o país precisa, o saber pode ser de grande conforto pessoal mas não reverte a favor do progresso da nossa sociedade que tem carências especiais. Uma referência especial para todos os pais e jovens que foram excepções.

Do meu Café de Santarém e de moral em baixo, desejo a todos um bom Domingo. Para descontrair, ouçamos um bocadinho Billy Vaughn.
(clik na imagem duas vezes e depois aumente)

BILLY VAUGHN - BLUEBERRY HILL

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