Memórias Futuras
Olhar o futuro pelo espelho retrovisor da história. Qual história? Que futuro?
sábado, outubro 01, 2016
No Porto, um bêbado
estava a passar pelo rio Douro, quando viu um grupo de evangélicos a orar e a
cantar. Resolveu perguntar:
- O que se está a
passar... aqui ?
- Estamos a fazer um
batismo nas Águas. Você também deseja encontrar o Senhor?
- Eu quero, sim....
Os evangélicos
vestiram o bêbado com uma roupa branca e levaram-no para a fila. Numa margem do
rio estava um pastor que pegava nos fieis, mergulhava a cabeça deles na água,
depois tirava e perguntava:
- Irmão... viste
Jesus?
- Ah, eu vi, sim...
E todos os evangélicos
diziam:
- Aleluia! Aleluia!
Quando chegou a vez do bêbado, o pastor meteu-lhe a
cabeça na água, depois tirou e perguntou-lhe:
- Irmão... viste
Jesus?
- Num bi! - Disse o
bêbado.
O pastor colocou
novamente a cabeça do bêbado na água e deixou-a lá um certo tempo. Depois
tirou-a e perguntou:
- E agora, irmão...
viu Jesus?
O bêbado já bastante
ofegante, lá disse:
- Num bi, carago!
O pastor, já
nervoso, colocou de novo a cabeça do bêbado debaixo de água e deixou-a lá por
uns cinco minutos. Depois puxou o bêbado e perguntou-lhe:
- E agora, irmão...
já conseguiste ver Jesus?
O bêbado, já mole e trôpego de tanta água engolir,
disse:
- Fod...-se , já disse
que num bi caraaago! Bocês têm a certeza de que ele caiu aqui ????... Num estará em Alvalade a treinar o
Sporting? ....
de Lisboa
(Alexandre O´Neil)
Os
domingos de Lisboa são domingos
Terríveis de passar - e eu que o diga!
De manhã vais à missa a S. Domingos
E à tarde apanhamos alguns pingos
De chuva ou coçamos a barriga.
Terríveis de passar - e eu que o diga!
De manhã vais à missa a S. Domingos
E à tarde apanhamos alguns pingos
De chuva ou coçamos a barriga.
As
palavras cruzadas, o cinema ou a apa,
E o dia fecha-se com um último arroto.
Mais uma hora ou duas e a noite está
Passada, e agarrada a mim como uma lapa,
Tu levas-me p'ra a cama, onde chego já morto.
E o dia fecha-se com um último arroto.
Mais uma hora ou duas e a noite está
Passada, e agarrada a mim como uma lapa,
Tu levas-me p'ra a cama, onde chego já morto.
E então começam as
tuas exigências, as piores!
Quer's por força que eu siga os teus caprichos!
Que diabo! Nem de nós mesmos seremos já senhores?
Estaremos como o ouro nas casas de penhores
Ou no Jardim Zoológico, irracionais, os bichos?
Quer's por força que eu siga os teus caprichos!
Que diabo! Nem de nós mesmos seremos já senhores?
Estaremos como o ouro nas casas de penhores
Ou no Jardim Zoológico, irracionais, os bichos?
... ... ... ... ...
... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
Mas serás tu a minha
«querida esposa»,
Aquela que se me ofereceu menina?
Oh! Guarda os teus beijos de aranha venenosa!
Fecha-me esse olho branco que me goza
E deixa-me sonhar como um prédio em ruína!...
Aquela que se me ofereceu menina?
Oh! Guarda os teus beijos de aranha venenosa!
Fecha-me esse olho branco que me goza
E deixa-me sonhar como um prédio em ruína!...
O crente, Padre João A. Teixeira |
Os Ateus Segundo o
Paternalismo
de um Crente
“O padre João
António Teixeira vem explicar aqui
que os ateus são crentes ao contrário. Que, explica, é claro que o ateu
"acha que a sua posição é racional, científica. Ele acha que tem provas
evidentes de que Deus não existe".
A
partir desta definição errada do ateu, o padre João António Teixeira avança por
trechos poéticos convenientes e divaga por afirmações sobre a experiência que
leva a deus ou à inexistência dele para concluir bondosamente que há quem não
negue deus, mas a "nós", isto é, aos homens de deus, aos crentes, aos
exemplos que se comportam como ateus, quando há ateus que se comportam como
crentes (como se fosse deus a inspirá-los).
Conclui
que ninguém está longe de deus.
Isto
cansa.
O
ateu, aquele que nega a crença na existência de deuses, seja um, seja mais de
um, não parte do princípio que tem de provar cientificamente e racionalmente
que não existe um deus ou que não existem vários deuses.
Pelo
contrário, o ateu constata que não há nada de racional e de científico na
crença que afirma, precisamente, a existência de tais divindades. Como
facilmente se compreende, o ónus da prova não é do ateu, mas de quem afirma a
existência de seres transcendentais.
O verdadeiro ateu -
e não o poeta que está angustiado com a dúvida da fé -, sabe que a verdade das
coisas se atesta pela demonstração e não aceita o salto (i)lógico do teísta que
consiste em resolver uma dúvida para a qual a ciência ainda não tem resposta
com a palavra deus.
Concretizando,
já conhecemos explicações para muita coisa que se atribuía a deus, explicações
essas que foram negadas como blasfémias e punidas com a morte, hoje
pacificamente aceites. Afinal não era deus. O ateu acredita nessa aventura
interminável que é a busca de respostas para os mistérios do universo e da
humanidade. Simplesmente, quando não obtém respostas não apela aos céus.
Por
tudo o que aqui se explica,
naturalmente não pode o ateu estar "desiludido" com deus ou com os
crentes.
Essa
afirmação resulta de um paternalismo recorrente que considera que para se ser
ateu tem de se ter padecido de alguma maleita, no caso espiritual. Alguém fez
mal ao coitadinho do ateu. O ateu está ferido com deus ou com o comportamento
de alguns crentes que mais parecem ateus, esses malvados. Isto - pasme-se -
quando até há ateus que se comportam "como se fosse Deus a
inspirá-los".
Imagino
que isto deva querer dizer que há ateus decentes.
Agradecida.
Isabel Moreira
Nota
Tem toda a razão a Drª Isabel
Moreira neste texto, chamemo-lo de "desabafo", às afirmações do padre
João António Teixeira sobre os não crentes.
Este "pastor"
de um dos grandes "rebanhos" de crentes da humanidade arroga-se a
sobranceria própria de quem pertence ao grupo dos "iluminados da fé"
dotados de uma "bondade" e "complacência" para os que eles
julgam de tresmalhados.
Eu compreendo o fenómeno
da fé, respeito-o, embora não o leve em consideração quando avalio o meu
semelhante. Há de uns e outros fora e dentro do mundo das crenças, embora tema
o que o homem é capaz de fazer por causa delas.
Esses
"dotes"- razão e inteligência - que permitiram aos meus antepassados
vencerem a luta pela sobrevivência e afirmarem-se como a espécie dominadora,
perigosamente dominadora, ajudaram-me a tomar consciência profunda da minha
condição de integrante do conjunto da natureza à face da Terra com especiais
responsabilidades e não mais do que isso.
Por
esta razão, não tenho nenhum motivo, para abandonar uma atitude de humildade
sem pretender "protecções", "prémios" ou recear
"castigos" provenientes de deuses ou entidades que a minha capacidade
de entendimento se recusa a aceitar.
Sei
que existe no nosso cérebro um "espaço da fé" , tal como nele existem
outros "espaços". "Acreditar", foi muito importante, talvez
decisivo em fases recuadas da nossa luta pela sobrevivência. Mais tarde foi
naturalmente aproveitado por alguns homens que mobilizaram e arregimentaram
outros para as religiões que encontraram um eco sincero dentro de nós... por isso
é mais fácil ser crente do que não crente.
Vamos
respeitar-nos todos, uns aos outros, sem preconceitos ou complexos de superioridade
ou inferioridade... está bem, senhor padre?
Sempre tive uma atracção irresistível pela vizinha do apartamento ao lado. Vivia obcecado com a ideia fixa de possui-la, ... de comê-la, .... de traçá-la, todinha!
Um dia, ao conversar com o marido
dela ouvi este comentário:
- Preciso mandar pintar
o meu apartamento, mas trabalho o dia inteiro e chego cansado. Tentei contratar
um pintor profissional mas o tipo pediu-me os "olhos da cara!..."
Nesse momento o meu
rosto iluminou-se pois a ideia que eu tive foi simplesmente brilhante!
- Não seja por isso
vizinho! Estou de férias e pintar paredes é o meu hobby favorito! Posso fazer
esse serviço prá você, com o maior prazer.
O maridão aceitou a
oferta e ficou feliz da vida.
Não
é para me gabar mas, como sou "bom de papo", mal comecei a pintar o
apartamento consegui levar aquele mulherão,... aquele aviãozão,... aquele
monumento prá cama! Só que, azar dos azares,...estavamos nos preliminares e eu
não esperava que o marido se tivesse esquecido dos documentos em casa e que por
isso mesmo, tivesse que voltar justamente naquele momento!A mulher, ouvindo o
marido abrir a porta da sala, correu para a casa de banho e o gajo entra no
quarto e encontra-me "peladão", no cimo do escadote dando umas
pinceladas na paredeAos berros, ele
perguntou:
- Que merda é esta
pá?...
-Começaste pelo quarto
e... todo nú?
- Ora... estou pintando
de graça, começo por onde qui ser!
- Mas todo nú?...
- Queria que eu
manchasse a minha roupinha nova com tinta?...
- E de pau feito,
cabrão?...
- E onde é que eu ia
pendurar a "porra" do balde?...
Vejamos, sobre esta questão, como se dividem as pessoas:
Teístas - Agrupa todos aqueles
que acreditam numa inteligência sobrenatural que, além de ter criado o
universo, se encontra por perto para vigiar e influenciar o destino subsequente
da sua criação inicial.
Em certos casos, a divindade está
intimamente envolvida nos assuntos humanos, responde às preces, perdoa ou
castiga pelos pecados, opera milagres e agita-se tanto com as boas como com as
más acções que praticamos ou mesmo quando nos limitamos a pensar em
praticá-las;
Deístas – Todos aqueles que
acreditam numa inteligência sobrenatural que criou o universo e as leis que o
regem e por aqui se terá ficado num
aparente desinteresse pelos destinos humanos;
Panteístas - Aqueles que não
acreditam num Deus sobrenatural mas usam a palavra Deus como sinónimo da
natureza ou do universo ou da legitimidade que rege o seu funcionamento.
Este Deus metafórico ou panteísta dos
físicos está a anos-luz do Deus bíblico interventivo, milagreiro, leitor dos
pensamentos, punidor de pecados, atendedor de preces e que é o Deus dos padres,
mulás e rabinos.
Como exemplo de panteístas
referiremos Carl Sagan e Einstein:
Escreve Carl Sagan: “… se
com “Deus” nos referimos ao conjunto de leis físicas que regem o universo,
então há claramente um “Deus”, um “Deus” que é emocionalmente
insatisfatório…não faz muito sentido rezar à lei da gravidade.”
Einstein, por sua vez, escrevia; “Sentir que por
detrás de qualquer coisa que possa ser experimentada há algo que a nossa mente
não consegue compreender e cuja beleza e sublimidade nos atinge apenas
indirectamente como um débil reflexo, isso é religiosidade. Neste sentido sou
religioso”.
Ateus - Agrupa os que
recusam a existência de uma entidade sobrenatural e não utilizam a palavra Deus
para designar o que quer que seja para que não se preste a confusões.
Agnósticos - Aparecem no fim do
século XIX e representam uma corrente de pensamento que, em síntese, afirma o
seguinte:
- Se o que determina a crença em Deus
é a fé e esta não é baseada na razão logo, do ponto de vista racional, não se
pode demonstrar a existência ou inexistência de Deus.
Há, no entanto, ainda, uma outra
categoria de pessoas que se afirmam como crentes e seguidores desta ou daquela
religião mas que, no fundo, não fazem mais do que “mentir” à sociedade por uma
questão de conveniência pessoal. São os falsos religiosos.
O actual presidente da Royal Society confessou
a Richard Dawkins que vai à Igreja como “anglicano
descrente…por lealdade com a tribo.”
Mas não será só por uma questão de “lealdade com a tribo” mas também por medo das represálias da sociedade como se pode deduzir pelos resultados de uma
sondagem efectuada em 1999 pela Gallup e na qual se perguntava aos americanos
se eles votariam numa pessoa bem habilitada e que fosse mulher:
-
95% responderam afirmativamente; se fosse católica 94%; se fosse judia, 92%; se
fosse negra, 92%; se fosse homossexual, 79%; se fosse ateu, 49%.
A mentira está, portanto, explicada e
justificada como igualmente se percebe melhor os cuidados e a atenção, por
vezes demasiada, com que os candidatos à Casa Branca se referem e tratam o tema
religião nas suas campanhas eleitorais.
Consequentemente, os não crentes têm
muita dificuldade em assumirem-se, sobretudo entre a elite mais instruída e não
é só de hoje.
John Stuart Mill, já no sec. XIX afirmava: ”O mundo ficaria espantado se soubesse
quantos dos seus melhores ornatos, dos que mais se distinguem pelo apreço
popular, sabedoria e virtude são completamente cépt icos”.
Aqui ,
neste ponto, levanta-se a questão de saber se para sermos bons precisamos de
Deus ou se uma crença religiosa é necessária para que tenhamos preceitos morais.
Vale a pena transcrever, a propósito
da razão de sermos bons,este notável
pensamento de Albert Einstein:
- “Estranha é a nossa situação aqui na Terra. Cada um de nós vem para uma curta
visita, sem saber porquê, por vezes parecemos adivinhar um objectivo. No
entanto, do ponto de vista do quotidiano, há uma coisa que sabemos: que o homem
está aqui pelos outros homens –
acima de tudo por aqueles de cujos sorrisos e bem-estar depende a nossa própria
felicidade”.
Há pessoas religiosas que têm dificuldade em imaginar como é que
alguém sem religião pode ser bom e para que há-de querer ser bom.
E depois, há outras ainda, que
desenvolvem ódio contra aqueles que não partilham a sua fé, um ódio violento,
de morte sem contemplações e isto na defesa da religião que professam!
Por que é que se acredita que para se
defender Deus é preciso ser-se tão feroz?
Há estudos e experiências efectuadas
com ateus e crentes religiosos que permitem concluir não existirem diferenças
estatísticas significativas entre uns e outros quanto a juízos morais pelo que
não precisamos da religião para sermos bons ou maus.
Mas então se Deus não existe para quê
ser bom?
A este propósito dizia Einstein: “Se as pessoas são só boas porque temem o
castigo e esperam a recompensa, então somos mesmo uma triste cambada.”
O grande filósofo Emanuel Kant,
embora religioso, como era quase inevitável à época, baseou toda a moralidade
no dever pelo dever e não em função de Deus.
É verdade que a filiação num partido
político nos EUA não é um indicador perfeito do factor religiosidade mas não é
segredo nenhum que os estados republicanos são fortemente influenciados pelos
cristãos conservadores pelo que seria de esperar uma sociedade mais saudável
relativamente aos estados democratas onde a influencia do conservadorismo
cristão não se faz tanto sentir.
Essa não é, no entanto, a realidade.
Das 25 cidades com mais baixos índices de crimes violentos 62% acontecem nos
estados democratas e 38% nos republicanos. Das 25 cidades mais perigosas 76%
estão em estados republicanos e 24% nos democratas.
Na verdade, 3 das 5 cidades mais
perigosas do EUA situam-se no devoto estado do Texas e dos 22 estados com
índices de homicídio mais elevado, 17 são republicanos.
No jornal of Religion and Society
(2005), Gregory S. Paul levou a cabo um estudo comparativo sistemático de 17
nações economicamente desenvolvidas, chegando à devastadora conclusão que:
“Nas democracias prósperas, índices mais elevados de crença e
adoração de um criador correlacionam-se com índices mais elevados de homicídio,
mortalidade juvenil e precoce, índices de contágio de doenças sexualmente
transmissíveis, gravidez na adolescência e aborto”.
Estes resultados atingiram tão
profundamente as propaladas pretensões de superior virtude moral por parte das
pessoas religiosas que se assistiu de imediato a um acréscimo da investigação
desencadeada por organizações religiosas que os tentaram refutar…mas até à data
ainda nada apareceu que desmentisse os dados do estudo referido e as conclusões
a que eles conduzem.
Mas, regressemos de novo à pergunta
inicial acerca da existência de Deus:
- Acreditar ou não acreditar em Deus
tem a ver com uma questão de fé que não é possível existir em pequenas, médias
ou grandes doses, ou se tem fé ou não se tem.
Se sim, acredita-se em Deus a 100%,
na modalidade teísta ou deísta.
Se não se tem fé, coerentemente, só
se pode ser ateu.
As hipóteses intermédias têm a ver
com a delicadeza do tema:
Todos nascemos em sociedades mais ou
menos religiosas e há um grau de religiosidade que, diria, nos é insuflado logo
após o primeiro choro e que cada um de nós desenvolve em maior ou menor grau em
função das características da nossa própria personalidade e do contexto social
em que a nossa vida decorre.
E, em certos contextos sociais, não é
fácil, muitas vezes é impossível, que alguém se consiga libertar totalmente de
um elemento que insuflado à nascença é como se fosse constitutivo de si próprio
e por isso aquele limbo de incerteza, de cept icismo,
de dúvida tão difícil de quebrar e que não é mais do que um refúgio onde
escondemos todos os “diabinhos” que nos assaltam.
Eu penso que a fragilidade do ser
humano, este nosso intelecto que nos superioriza tão claramente aos restantes
animais mas que não chega para fazer de nós deuses, este ficar a meio caminho,
nem animal nem deus, se traduz, de facto, numa fragilidade.
- Ser ateu, é um acto de coragem, é regressar definitivamente à
terra e aos animais a que pertencemos e cuja evolução encabeçamos.
- Ser ateu, é um acto de humildade para com a vida, é deixar de
ser pretensioso e “convencido” sobre aqui lo
que, de facto, não somos por muito que gostássemos de o ser.
- Ser ateu, é perceber que a vida desenrola-se à nossa volta e é
nela que temos de concentrar todas as nossas energias e capacidades.
- Ser ateu é respeitar a natureza como um legado dos nossos
antepassados a transmitir aos nossos descendentes com o máximo respeito por
todas as formas de vida.
- Ser ateu é respeitar todas as pessoas independentemente de
elas o serem ou não.
- Ser ateu, é amar a vida e os outros muito em especial “aqueles
de cujos sorrisos e bem-estar a nossa felicidade depende” (Einstein).
Nesta perspectiva, eu sou ateu.
(Este texto cujas
posições partilho e defendo foi extraídod do livro "A Desilusão de Deus"
de Richard Dawkins, doutorado, professor de Zoologia, Prémio Nobel em 1973
pelos seus estudos em Etologia)
Cultura e sociedade... |
A IMPORTANTE
INFLUÊNCIA
DO MEIO SOCIAL
Dois
homens discutem por causa de um jogo de bilhar ou porque um insulta a namorada
de outro e a animosidade vai subindo até chegar ao assassínio, muitas vezes à
vista de quem está perto.
A este tipo de homicídio os
criminologistas costumam chamar de “altercação trivial” mas, será?
Para mim foi fácil casar e ter
filhos. Tudo o que tive de fazer foi ir para a Universidade e depois garantir
um bom emprego.
Eu gostaria de atribuir o meu
comportamento de pessoa civilizada ao meu excelente carácter mas, acima de
tudo, tenho de estar grato ao extracto social a que pertenço.
No meu caso não me envolveria em luta
que me pudesse levar a um homicídio que erradamente seria chamado de
“altercação trivial” porque teria muito a perder e pouco a ganhar.
Naquela luta o que estava
verdadeiramente em causa era a competição entre indivíduos de sexo masculino
pelo “estatuto” que pode ser tudo menos trivial.
Tenho cinquenta e seis anos,
ultrapassei a idade média em que morre o homem das zonas deprimidas da cidade
de Chicago e ainda estou de boa saúde.
Eu sou como os homens dos bairros
sociais de Chicago mais favorecidos com muito menor probabilidade de cometerem
homicídios em lutas de “altercação trivial” porque a sua frequência está
relacionada com o meio social a que se pertence.
A cidade de Chicago está dividida em
setenta e sete bairros para os quais as taxas de homicídio e outros dados
estatísticos vitais estão compilados separadamente.
Estes bairros variam imenso quanto a
qualidade de vida, incluindo a própria duração média de vida de tal forma que a
esperança de vida dos bebés nascidos nos melhores bairros é vinte anos superior
à dos nascidos nos piores (cinquenta e tal anos para setenta e tal anos).
Estas mesmas diferenças verificam-se
em geral entre países desenvolvidos e em vias de desenvolvimento.
Nos bairros com menor esperança de
vida, as mulheres têm tendência a começar a ter filhos mais cedo e esta
gravidez na adolescência é amplamente reconhecida como um problema social mas,
quando se perguntava às mulheres de um geto porque tinham filhos tão cedo as
respostas suscitavam simpatia. Diziam elas que queriam que as suas mães
conhecessem os netos.
Usavam o termo de “desgaste” para
descrever a deterioração de saúde que observavam à sua volta.
E a pergunta aqui
fica:
- Se o meu amigo e aqueles que lhe
são chegados estivessem a desgastar-se a um rito rápido não gostaria de começar
a ter filhos suficientemente cedo para os conhecer e ajudá-los a criar os seus
próprios filhos?
As taxas de homicídio variam imenso
oscilando de 1,3 e 156 por 100.000, entre bairros de pessoas ricas e de pessoas
pobres porque nestes o panorama é uns quantos bem sucedidos e muitos falhados
e, nestas circunstâncias, um “zé-ninguém” assume comportamentos de riscos
extremos na perspectiva de ser “alguém”. Como diz o Rapper 50 Cent no álbum e
no filme: “Get rich or die tryn”.
A desvalorização acentuada do futuro
pode ser uma resposta “racional” à informação que indica uma probabilidade
incerta ou baixa de sobreviver para mais tarde colher benefícios, por exemplo,
e correr “riscos impensados” pode ser a solução ópt ima
quando os benefícios de uma escolha de acções mais segura são insignificantes.
A evolução tem intrinsecamente a ver
com organismos que reagem a modificações ambientais sendo impossível negar a
capacidade de mudança.
O Criacionismo religioso e secular
sempre se baseou no medo das consequências de aceitar a evolução, mas se
encararmos a teoria da evolução como um instrumento capaz de proporcionar uma
modificação positiva, ela será fácil de aceitar.
No que toca à evolução o futuro pode
ser diferente do passado, para melhor.
David Sloan Wilson “A Evolução Para Todos
sexta-feira, setembro 30, 2016
SÉRGIO
BITENCOURT E ELISETH CARDOSO - NAQUELA MESA
Sérgio
Bitencourt, também ele músico e compositor, era filho de Jacob "do
Bandolin" (1918/1969) que foi a maior referência do Brasil no instrumento
que virou parte de seu nome e elevou aquele instrumento a um lugar de honra na
música brasileira. Neste samba, o filho Sérgio homenageia o pai: "Naquela
Mesa" está faltando ele/e a saudade
dele/está doendo em mim.
José António Saraiva
escreveu um livro intitulado “Eu e os Políticos”. Na qualidade de
jornalista, manteve ao longo dos anos, como seria normal, contactos com pessoas
mediáticas que agora aproveitou para escrever sobre elas um livro contando “coisas”
que sempre ficam das conversas e contactos que teve, tornando público o que era privado.
Digamos que é um
tremendo “golpe baixo” porque até algumas dessas pessoas já faleceram e não se
podem confrontar com aqui lo que ele
agora diz delas.
A
privacidade é, antes de mais, um sinal de civilização. Nas cavernas ou em
simples e rudimentares acampamentos, a privacidade era difícil e a sua
necessidade pouco sentida. Desenvolveu-se com a civilização e em simultâneo foi uma consequência dela, à medida que as relações pessoais se intensificaram.
José
António Saraiva procurou ganhar dinheiro vendendo confidências, ou simplesmente coisas do privado, mesmo pondo em causa a sua reputação.
O
líder da oposição safou-se a tempo, no último momento, quando se dispunha a
apresentar um livro que, segundo diz, nem sequer tinha lido.
A
privacidade é imposta pelo bom senso, educação e princípios. Temos que perceber
que os políticos, independentemente de serem pessoas mediáticas, tal como os artistas, são gente normal, que fazem, como nós, coisas normais, com a diferença que por se terem tornado conhecidas chamam a atenção, despertam a curiosidade, numa palavra, vendem...
As
bisbilhotices à volta delas dão dinheiro e, por isso, transformam-se, num enorme negócio tendo dado origem à indústria das revistas chamadas de cor-de-rosa que todos conhecemos.
As
pessoas visadas, elas próprias, vivem dessas inconfidências pelo que, nestes
casos, nem há que falar de privacidade mas, não foi esse o caso de José António
Saraiva.
Quarenta
e duas personalidades da nossa vida política e cultural, que ele conheceu ao longo da sua vida, algumas delas já falecidas, outras completamente retiradas das “lides”
que as tornaram conhecidas, são agora surpreendidas por revelações a seu
respeito que estavam longe de ver aparecer em público e, que, se dependesse
delas, não viriam à luz, com certeza.
Vou
contar-vos um pequeno episódio da minha juventude: - numa festa do meu Colégio,
em Tomar, nos anos 50, uma colega minha do Feminino, subiu ao palco para exibir
as suas habilidades como dançarina. Como a saia não era apropriada, ao rodar,
ela subiu e mostrou as cuecas, com a agravante de que a plateia, onde estavam
todos os colegas, era ainda num plano mais baixo.
Não
era, de certeza, sua intenção mostrar a roupa interior e eu, instintivamente,
fechei os olhos.
Fosse
eu, o José António Saraiva, e tê-los-ia esbugalhado.