sexta-feira, fevereiro 10, 2017

            Mixórdia de Temáticas - O Demónio



Número de Circo


                

Resultado de imagem para trogloditaO Troglodita louro


























Pintem de louro um troglodita, coloquem-no à frente de uma gruta e temos o Trump em grandes e vagarosos gestos tentando impressionar a assistência nos seus modos secos e bruscos, braço esticado, dedo apontado, olhando fixamente nunca se sabe quem.

Há sempre os que se deixam seduzir por estas poses demonstrativas de poder por parte de Trump que, depois de chegar a Presidente, se deve já sentir próximo do céu...

Um homem perigoso, esperando-se agora que a Constituição dos EU, uma das mais antigas do mundo, da autoria de homens brilhantes e avisados, a tenham dotado de mecanismos capazes de travar pessoas como Trump, que mesmo agora acaba de proibir a entrada de pessoas oriundas de sete países africanos, muitos deles regressados de visitas a familiares seus nos países de origem.

A este personagem, que tem algo de anedótico pela vaidade excessiva que ostenta e que acumulou fortuna, parece que não tanta como ele afirma, pelo hábito de práticas fraudulentas e do não pagamento de impostos, faltam-lhe princípios humanistas e valores morais, revelando-se um logro no desempenho de tão alto cargo.

Daquelas pessoas que pela sua natureza e poder das suas funções, com o desprezo que nutre pelos outros, nos rouba a tranquilidade na hora de adormecer.

Foi travado, agora, por uma Juíza do Tribunal Federal mas até que ponto ele não conseguirá ir neste desafio com quem legitima e legalmente se opõe às suas decisões arbitrárias e caprichosas?

São sete os países cujos cidadãos foram riscados pela administração Trump, durante os próximos 90 dias: Iémen, Iraque, Irão, Líbia, Síria, Somália e Sudão - curiosamente todos albergam uma população maioritariamente muçulmana, mas o presidente recusa descrever este plano de controlo da imigração como “anti-Islão”, na mesma linha que o levou a alterar a promessa eleitoral de “banir a entrada a todos os muçulmanos” nos EUA, para defender ‘apenas’ o “veto extremo”.
Na apresentação do documento, o chefe de Estado fez questão de lembrar os ataques do dia 11 de Setembro de 2001, como um momento histórico que sustenta a necessidade de os EUA se protegerem contra a ameaça terrorista.
Algo que não deixa de causar estranheza, tendo em conta que os responsáveis pelo sequestro dos aviões comerciais que semearam o terror naquele dia eram de nacionalidade saudita, egípcia e libanesa, três Estados que não estão englobados no grupo dos escorraçados, sendo que, no caso do primeiro, os norte-americanos até têm uma aliança económica e militar vigorosa...
Aeroportos a ferro e fogo com centenas de pessoas afectadas nos últimos dias, e o protesto de muitas outras que a elas se associaram, enquanto Trump afirmava que tudo corria pelo melhor...

É esta personagem, desagradável à vista e asqueroso ao espírito, que passeia pela mão, a seu lado, a beleza da jovem esposa como se fosse um “canish” de luxo, e nos ameaça já com novo mandato, que vamos ter de suportar nas suas constantes aparições televisivas, como homem de reality show que verdadeiramente é.

Ser eleito democraticamente, ainda que com uma minoria de votos, que o seu ego dificilmente aceita, não torna os seus actos como Presidente eleito legitimamente democráticos.

Uma eleição não é um banho purificador de um candidato e muito menos lhe permite, uma vez eleito de fazer o que lhe apetece.

Não foi o Hitler que subiu ao poder através de uma eleição democrática?

A Trump faltam-lhe valores morais e humanistas, repito, embora, algumas pessoas, o admirem pela coragem e coerência mas, não foi também assim com Hitler?...





Mar me quer
(Mia Couto)



Episódio Nº 13










Por maior medo que dele todos tivéssemos, não lhe podíamos prescindir. Porquê? Porque meu velhote abençoava os anzóis.

Os pescadores faziam fila e ele atendia cada um à sua vez. Fazia-se silêncio enquanto ele fechava os olhos. Agualberto Salvo-Erro aguardava vozes que lhe haviam de desembocar.

Em algum lugar, lá no longe, a maré está-se a virar. O oceano se encabalhota na mudança das marés. Enquanto não recebia sinal desse reviramento ele se mantinha sem nenhuns modos nem pestanejo.

Quem sabe não fala, quem é sábio cala. Como dizia meu avô:

 - Diferença entre o sábio preto e o branco sabe qual é? O branco responde logo-logo às perguntas. Para nós, pretos, o homem mais sábio é o que leva mais tempo a dar resposta.

E assim, nessa imobilidade, esperava meu pai e esperavam os pescadores que queriam ser abençoados. Até que Agualberto fazia subir a mão e agitava os dedos como se chamasse invisibilidades.

Desembrulhava um velho pacote de cigarro e dele retirava uns pós com parentesco de tabaco. Semelhavam cigarros mastigados pelo tempo e cuspidos pelo esquecimento.

Os pós eram lançados sobre o anzol e a sorte se enroscava no anzol. Outras vezes ele anexava ao isco as variadíssimas coisas: pedaços de espelho, cartas, búzios.

Tudo aquilo seguia mar a baixo, a convocar as mais boas sortes.

Mas este homem, meu pai, como sobrevivia? De longe eu me curiositava. O velho saía de casa todas as manhãs, raspava os olhos pelos muros das vizinhanças como se estudasse modos de os desolhar. Seguia em direcção ao cais. Ali se sentava na amurada, recebendo as infalíveis mensagens.

Certeiramente, eu me destinava em seus arredores quando me dirigia para minhas pescadorias. Às vezes, ele me parecia tristonho, peito sobrando das costelas. Chorava no ombro da paisagem? Estaria sendo pisado pelo passado? Ou seria saudades da tal extinta moça?

Sentava-se na berma do cais, recebia as aragens do Índico. O homem nem causava palavra: apenas sons avulseados, cascas de fala. Quando falava parecia era lamber a própria língua. Balanceava o corpo como árvore ante a ventania.

O corpo ponderava o contrário da cabeça? Para mim, ele rezava, acendia pavio de palavra, num eterno nem-esquce-nem-lembra, com saudades de outra vida.

Mas onde ele fazia seus dinheiros era na bênção dos anzóis, garantindo êxito das pescarias.

quinta-feira, fevereiro 09, 2017

             Chalupa Spotti - Ricardo Araújo



                 

Rio de Janeiro

A mais linda cidade de quantas existem no mundo, numa não menos linda fotografia


 

A MÃE DE TODAS

AS HISTÓRIAS






O  PIKAIA













O Processo Evolucionário da Vida no Planeta Terra que bem pode ser considerado uma história, ou melhor, a Mãe de Todas as Histórias, bem poderia começar assim:

… Era uma vez, um pequeno animal, que há mais de 500 milhões de anos atrás vivia nos mares do Câmbrico. Teria cerca de 5 cm e muito poucas probabilidades de sobreviver num meio em que a guerra entre presas e predadores já tinha sido declarada.

Este pequeno animal, de seu nome Pikaia, tinha a particularidade de possuir uma espécie de cérebro e de espinha dorsal e embora tenha desaparecido há já muitos milhões de anos foi ele que estabeleceu o modelo anatómico que iria servir de base evolutiva a peixes, anfíbios, répteis, aves e mamíferos e, consequentemente, a mim próprio que estou a contar esta história e para quem gosta de pesquisar sobre os seus antepassados, pois bem, aqui têm o mais remoto, O PIKAIA.

Ele apareceu no período Câmbrico aquando de uma explosão de vida nos mares então existentes que de há muito eram habitados apenas por esponjas, organismos semelhantes a flores que não têm tecidos nem capacidade para se moverem nem fazerem coisas que associamos aos animais.

Mas terá sido a partir delas que se deu uma revolução genética pois inventaram tipos de células com a capacidade de interagirem, cooperarem e comunicarem entre si constituindo-se em organismos pluricelulares que tinham a capacidade revolucionária do movimento e assim apareceram os Cnidários que eram também semelhantes a flores como as esponjas mas já possuíam tecidos, boca, nervos, músculos e a capacidade de se moverem e fazerem todas as coisas que identificamos com os animais.

Os Cnidários que evoluíram, portanto, a partir da estrutura celular das esponjas deram, posteriormente, lugar a um conjunto impressionante de formas de vida entre as quais os primeiros caçadores com um crânio e um cérebro primitivo junto dos órgãos sensoriais
Mas o facto de se ter chegado ao limiar crítico da complexidade genética não foi apenas o único factor que fez despoletar a explosão do Câmbrico.

A guerra que então se abriu entre presas e predadores, procurando uns a vantagem de não serem comidos e os outros a vantagem de os comerem, deu lugar à procura desesperada de armamentos, uns de defesa e outros de ataque, numa competição que nunca mais, até hoje, deixou de acontecer e constitui a base de toda a evolução.

Tinha-se acabado a paz das Esponjas e dos Cnidários e há mesmo quem afirme que o início desta guerra foi outro factor que explicou a explosão de vida nesse período, o que não deixa de ser interessante e desconcertante porque, se assim for, permite-nos concluir que a vida está mais ligada à guerra do que à paz.   

Outra razão poderá ainda ter sido uma alteração ecológica com a subida dos níveis de oxigénio que permitiu o aparecimento de animais cada vez maiores com outros níveis e graus de interacção.

Certo é que, num único Salto Revolucionário ocorrido neste período da Terra ficaram definidas as várias concepções de vida que haveriam de evoluir de então para cá, trinta e cinco ao todo.

Variações destes 35 modelos anatómicos foi apenas tudo quanto posteriormente aconteceu embora existam e tenham existido milhões de espécies… e isto, já lá vai meio bilião de anos durante os quais se escreveu uma longa história…a Mãe de Todas as Histórias, escrita nas pedras e começada a ler por Geólogos, Paleontólogos e Arqueólogos e explicada, na sua essência, por Charles Darwin no seu livro A Origem das Espécies.

                  A Noite e a Despedida - Ângela Maria


As canções românticas do meu tempo na voz poderosa de Angela Maria. Nasceu em 29 dez anos antes mim e foi uma das grandes intérpretes do samba.canção ao lado de Maysa, Nora Ney e Dolores Duran.



       

Mar me quer
(Mia Couto)




Episódio Nº 12










Luarmina não queria distracção. O braço da angústia puxava-a para o fundo. Melhor seria se fosse ela a falar:

- E você, Luarmina, lembra da sua família?

Mas ela não respondeu. Seu passado era como o futuro em nossas línguas: começava apenas quando acabava, como lagarto que fosse comido pela própria cauda.

O resto se dissolvia em cacimbos de tristeza.

- Enquanto tive dedo dedilhei panos, vesti gente.

Mas esse serviço de confeitar vestes não lhe enchia a vida. Ela queria ser outra coisa, queria crescer de si mais gente, ter filhos, nascer-se em outras vidas. Mas sem essa dádiva, entrar em sua casa, tão sem outros, não lhe dava vontade. Essa a razão porque vivia mais em varanda do que dentro das paredes.

- É por causa disso que gosto de ouvir histórias de família. Vá me conte mais coisas sobre sua casa, sua família.

- Não peça isso Luarmina.
- Sabe uma coisa, Zeca:

- Quem sabe, Zeca?

- E a senhora me deixa espreitar?

- Se contar, eu deixo.





                      Quinto Capítulo


“O mar tem um defeito: nunca seca. Quase prefiro o pequenino lago da minha aldeia que é muito secável e a gente sente por ele o mesmo que por criatura vivente, sempre em risco de terminar.”

 (Dito do avô Celestino)

Meu velho, depois do incidente, ficou com juízo de mamba (cobra venenosa). Ideia que se anichasse em sua cabeça, vivendo em lugar onde nem púnhamos vistas, para além dos pântanos onde o chão já não consente nem caminho nem construção.

Eu o avistava só de quando em enquanto. Nesses encontros meu coração sempre minguava. Miúdo que era lhe prestava receios, todo eu salamaleques. Porque o velho sarabandeava tudo e todos: - sai, vai-te embora, vai-te daqui.

Agualberto passava com andamento vagaroso. No início, nos perguntávamos: estaria ele cego?

Impossível, o homem andava que tresandava. Aqueles olhos vazos dele nos fitavam não no rosto, mas a alma. O bairro se unanimava:

- Esse gajo tem mais enxofre que o diabo.

quarta-feira, fevereiro 08, 2017

         Camada de Nervos - Entrevista de Emprego


            

                                         Rio Bravo - My Rifle. My Pony and Me 

Como já vão longe os meus velhos filmes de cowboys....


          

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"As janelas do


meu quarto"















Tenho quarenta janelas,
nas paredes do meu quarto,
sem vidros nem bambinelas,
posso ver através delas,
o mundo em que me reparto.

Por uma entra a luz do sol,
por outra a luz do luar,
por outra a luz das estrelas,
que andam no céu a rolar.

Por esta entra a Via Láctea,
como um vapor de algodão,
por aquela a luz dos homens,
pela outra a escuridão.

Pela maior entra o espanto,
pela menor a certeza,
pela da frente a beleza,
que inunda de canto a canto.

Pela quadrada entra a esperança,
de quatro lados iguais,
quatro arestas, quatro vértices,
quatro pontos cardeais.

Pela redonda entra o sonho,
que as vigias são redondas,
e o sonho afaga e embala,
à semelhança das ondas.

Por além entra a tristeza,
por aquela entra a saudade,
e o desejo, e a humildade,
e o silêncio, e a surpresa.

E o amor dos homens, e o tédio,
e o medo, e a melancolia,
e essa fome sem remédio,
a que se chama poesia.

E a inocência, e a bondade,
e a dor própria, e a dor alheia,
e a paixão que se incendeia,
e a viuvez, e a piedade.

E o grande pássaro branco,
e o grande pássaro negro,
que se olham obliquamente,
arrepiados de medo.

Todos os risos e choros,
todas as fomes e sedes,
tudo alonga a sua sombra,
nas minhas quatro paredes.

Oh janelas do meu quarto,
que vos pudesse rasgar,
com tanta janela aberta,
falta-me a luz e o ar.

ANTÓNIO GEDEÃO

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