sábado, agosto 13, 2011

JORGE AMADO




Na última 4ªFeira passou-se o centenário de Jorge Amado. Nasceu a 10 de Agosto de 1912, em Itabuna, no Estado da Bahia e, como dizia sua mãe, "nasceu com a estrela": um homem afortunado. Seu pai queria que ele fosse doutor, e ser doutor naqueles dias era formar-se em Medicina, Engenharia ou Direito.


Jorge Amado, que desde os catorze anos participava em movimentos culturais e políticos, optou por Direito. Fez a vontade ao pai mas nunca foi buscar o diploma ou exerceu advogacia. No entanto, no ano da sua licenciatura, em 1935, já era um escritor conhecido, autor de quatro livros que fizeram sucesso entre o público e a crítica.


Em 1945 uniu-se a Zélia Gattai, companheira de toda a vida se não contarmos com as outras três a saber: "Tieta", "Tereza Batista" e a "Gabriela", todas elas importantes na vida de Jorge Amado. Felizmente para Zélia, passageiras.


Em homenagem a Jorge Amado, o escritor da língua portuguesa de que mais gosto, e também em honra dessas três notáveis mulheres - contei já aqui a história da vida de Tieta - estamos a contar a da Tereza Batista e iremos contar a da Gabriela.


Não tenho dúvidas de que Jorge Amado se apaixonou por cada uma delas tal como eu também me apaixonei. Eu, na qualidade de leitor, ele na de autor... bem mais sofrida . É uma trilogia notável de mulheres que têm em comum qualidades humanas excepcionais que lhes permitiram brilhar e encantar nas suas vidas humildes.


Afirmar que elas não são reais e apenas pura ficção é ofender Jorge Amado e todas as mulheres feitas Teresas, Tietas e Gabrielas que existem por esse mundo afora.


Obrigado Jorge Amado por tê-las trazido até ao nosso connhecimento. Tudo terá começado com "estrelinha tua", no dizer da tua mãe... acabou com sorte nossa!


Fica aqui registado o meu agradecimento e os Parabéns por altura do centenário do teu nascimento, ainda que com três dias de atraso.



VÍDEO


E, finalmente, para defender a honra das meninas...



MIDDLE OF THE ROAD - "SACRAMENTO"

Juntamente com "Soley, Soley"; "Chirpy Chirpy" e "Yelloow Boomerang", "Sacramento" fecha o ciclo das canções dos Middle of the Road que mais se ouviam quando cheguei a Moçambique em 1972 e, pela sua audição, estes escoceses não ficavam a trás dos suecos dos ABBA. Mas não só por estarem ligadas à minha vida: adoro estas canções! (e aquele combóio, como me é familiar! Será só a mim?)


TEREZA



BATISTA


CANSADA


DE


GUERRA






Episódio nº 178





Na lembrança da cachaça, tocou apenas os lábios na bebida límpida, cor de ouro. Constatou, surpresa, o saboroso paladar, provou de novo.

- Vinho do Porto, disse o doutor – uma das maiores invenções do homem, a maior dos portugueses. Tome sem medo, bebida boa não faz mal. Não é a hora mais própria para um licoroso, mas no caso importa menos a hora do que o gosto da bebida.

Tereza não entendeu a frase toda, mas de repente sentiu-se tranquila como nunca se sentira antes, em paz. O doutor lhe falou do vinho do Porto e como se devia bebê-lo ao fim da refeição, após o café ou pela tarde, não antes de comer, porém.

Porque então lho dera na hora errada? Por ser o rei de todas as bebidas. Se ele lhe desse de começo um bitter ou um gim, ela possivelmente estranharia o paladar; começando pelo vinho do Porto, o perigo da recusa não existia.

Continuou Emiliano a lhe falar de vinhos, dos diversos licorosos, com o tempo ela havia de distingui-los uns dos outros, moscatel, jerez, madeira, Málaga, tokai, sua vida apenas estava começando. Esqueça tudo quanto se passou, borre da memória, aqui inicia vida nova.

Afastou a cadeira para Tereza se sentar á mesa e não se sabendo ela se servir, ele serviu, começando por preparar o prato para a incrédula rapariga: onde já se viu um absurdo desses?

Beberam refresco de mangaba e o doutor repetiu o cerimonial, passando-lhe o primeiro copo. Encabulada, Tereza apenas beliscava a comida enquanto ouvia falar de estranhos costumes culinários, cada qual mais cabeloso, mãe de Deus!

Aos poucos o doutor foi deixando Tereza à vontade, fazendo-a soltar exclamações de espanto ao descrever certas iguarias estrangeiras, barbatanas de peixe, ovos de cem anos, gafanhotos, Tereza já ouvira falar que se comia rã e o doutor confirmou: carne excelente. Uma vez ela comera teiú, morto e moqueado por Chico Meia-Sola, gostara.

Toda a caça é saborosa, disse Emiliano, tem gosto agreste e raro. Quer saber, Tereza, dos bichos da terra o mais gostoso?

- Qual?

- O escargô, ou seja, o caracol.

- Ai que nojo…

Riu o doutor a soar a alegre nos ouvidos de Tereza.

- Pois um dia, Tereza, eu vou preparar um prato de escargôs e você vai lamber os beiços. Sabe que sou cozinheiro de mão-cheia?

Assim começara ela a se descontrair e na sobremesa já ria sem rebuços ao ouvi-lo descrever como os franceses deixam os escargôs durante uma semana presos num caixote forrado com farinha de trigo, único alimento, mudando a farinha a cada dia até ficarem completamente limpos.

- E gafanhotos? Comem mesmo? Onde?

Na Ásia, preparados com mel. Em Cantão adoram cachorros e cobras. Aliás não se come no sertão jibóia e tanajura? A mesma coisa. Quando se levantaram da mesa e o doutor tomou a mão de Tereza, ela sorriu já diferente, nas primícias da ternura. (clik na imagem e aumente)

INFORMAÇÕES ADICIONAIS



À 9ª ENTREVISTA COM JESUS SOB O TEMA:


“OS IRMÂOS DE JESUS” (2)





Origens Pobres e Populares



Existem algumas tendências actuais, influenciadas por valores da cultura neo-liberal (rentabilidade, concorrência) e de religiosidade que se propõe funcional (prosperidade, sucesso), que tenta apresentar Jesus de Nazaré como um professor espiritual de uma indefinida "classe média" chegando a afirmar ideias tão inverosímeis como a de que os seus primeiros discípulos eram empresários do “negócio da pesca”.

Uma acumulação de dados históricos e culturais levam-nos a entender que Jesus era um camponês da Galileia, proveniente de um extracto social muito pobre, mas de enorme carisma, pregador itinerante, cujas palavras apaixonadas chamavam pobres, doentes, mulheres, as pessoas mais marginalizados do seu tempo.

Entre esses marginalizados estavam os discípulos e as discípulas de Jesus. Ser pescador, por exemplo, era então um trabalho de gente muito pobre para além de que os pescadores eram discriminadas porque, de acordo com a cultura daquela época, eram considerados impuros por manterem contacto com as forças do mal que se acreditava, habitavam o fundo do águas dos mares e lagos.

sexta-feira, agosto 12, 2011



VÍDEO


O último argumento...



MIDDLE OF THE ROAD - CHIRPY CHIRPY CHEEP

E desta, com certeza, também se lembram. Um rol de canções que traduzem bem a alegria de viver nos princípio dos Anos 70 com a Europa a crescer em desenvolvimento económico mas com sinais preocupantes. O 1º choque petrolífero viria em finais de 1973 com os árabes a aumentarem o preço do petróleo 4 vezes em três meses... e a europa a entrar em estagnação económica. Mas para desanuviar, a seguir aos escoceses dos Midles, viereram os suecos dos ABBA em Finais de 1972 que os igualariam em inspiração. A vocalista, Sara (Sally Car), escocesa, como todos os restantes elementos da Banda, nasceu em 1945 e um deles já faleceu. No início de 1972 só o Grupo já tinha vendido mais de 5 milhões de cópias.

TEREZA


BATISTA


CANSADA


DE


GUERRA






Episódio Nº 177




Ao levantar-se às oito da manhã – em geral às sete já estava de pé, mas naquela noite demorara-se acordado até ao raiar da aurora no ledo ofício, na deleitosa brincadeira – já não enxergou Tereza sob os lençóis. Foi encontrá-la de vassoura em punho, enquanto a criada na sala só se moveu para sorrir e lhe desejar bom-dia. Emiliano não fez nenhum comentário, apenas convidou Tereza para o café:

- Já tomei, faz tempo. A moça vai servir o senhor. Desculpe, estou atrasada… – e prosseguiu a faina da limpeza.

Pensativo, o doutor tomou o café com leite, cuscuz de milho, banana frita, beijus, a acompanhar com a vista o movimento de Tereza pela casa. Ela varreu o quarto de dormir, recolheu o lixo, saiu com o urinol na mão para despejá-lo na latrina.

Parada na porta da cozinha, travesso olho de frete posto no patrão, a criada espera ele terminar para recolher os pratos.

Após o café, carregado de livros, o doutor ocupou a rede no jardim, dali se levantando pouco antes do meio-dia para tomar banho. Quando o viu de roupa trocada, Tereza lhe perguntou:

- Posso botar a mesa?

Emiliano sorriu:

- Depois que você tomar banho e se aprontar, depois de se vestir para o almoço.

Tereza não pensara tomar banho àquela hora, com tanto trabalho a enfrentar de tarde:

- Prefiro deixar o banho para depois da arrumação. Ainda tenho um bocado de coisas para fazer.

- Não, Tereza. Vai tomar banho agora mesmo.

Obedeceu, tinha o costume de obedecer. Ao atravessar o pátio, de volta do banheiro para o interior da casa, enxergou Alfredão conduzindo garrafas para o jardim, onde, diante de um banco de alvenaria, fora colocada pequena mesa desarmável, um dos últimos objectos chegados no caminhão. Ali, o doutor a esperava. De vestido limpo veio até ele e quis saber:

- Posso botar?

- Daqui a pouco. Sente-se aqui, comigo – Vamos beber à nossa casa.

Tereza não era de beber. Uma vez o capitão lhe dera um trago de cachaça, ela apenas provara, numa careta de repulsa.

De malvadez Justiniano a obrigou a esvaziar o copo e repetiu a dose. Nunca mais voltara a lhe oferecer bebida – eta moleca mais frouxa, só faltando chorar na rinha de galos, se engasgando com cachaça de primeira. Na pensão de Gabi, quando um cliente, sentando-se no bar, convidava uma mulher para beber na sua companhia, a obrigação da rapariga era pedir vermute ou conhaque. A beberagem servida por Arruda às mulheres em copos grossos e escuros não passava de chá de folhas, tendo de vermute e conhaque a cor e o preço, um bom sistema, sadio e lucrativo.

Por vezes o cliente preferia uma garrafa de cerveja, Tereza tomava uns goles sem entusiasmo. Nunca chegou a gostar realmente de cerveja nem mesmo quando aprendeu a apreciar os amargos, os bitters, tão da preferência do doutor.

Segurou o cálice e ouviu o brinde:

- Que a nossa casa seja alegre.

HISTÓRIAS



DE HODJA





Um pobre homem vai a casa de Hodja e para lhe pedir hospitalidade apresenta-se como “convidado enviado por Deus”.

Hodja aponta-lhe a mesquita na rua e diz:

- “Veio ao lugar errado. Aquela é que é a casa de Deus”


INFORMAÇÔES ADICIONAIS



À 9ª ENTREVISTA COM JESUS SOB O TEMA:



“OS IRMÃOS DE JESUS” (1)



Nazaré


Ontem e Hoje


Nazaré era um recanto desconhecido da terra de Israel, nunca mencionado no Antigo Testamento ou por qualquer outro escritor ou historiador da antiguidade. No tempo de Jesus era uma pequena aldeia em que viviam duas dezenas de famílias. Por estar situada numa colina, os habitantes usavam como casas as cavernas escavadas nas encostas.

Hoje, por influência do cristianismo, Nazaré é a capital da Galileia, a cidade com mais população árabe de Israel, com 60 000 habitantes, dois terços muçulmanos e os restantes cristãos.

O edifício mais visível da actual e moderna Nazaré é a Basílica da Anunciação, construída sobre muros de pedra do século IV que são venerados como os restos da caverna onde viveu Maria e sua família.

Conserva-se também na Nazaré a fonte que desde sempre abasteceu a aldeia onde Maria ia buscar água. A fonte está dentro de uma igreja ortodoxa grega, pequena, dedicada ao Arcanjo Gabriel.

quinta-feira, agosto 11, 2011

VÍDEO


Nova medida de segurança... o truque do chimpazé. Temos ainda mais dois para mostrar. Como as coisas estão...


MIDLE OF THE ROAD - YELLOW BOOMERANG

Continuamos a recordar mais algumas das lindas canções que os Midle nos deixaram. Este vídeo é de 1973, embora a versão inicial (que ganhava a esta) seja de 1966 e tenha sido Nº 1 da Bélgica. A Banda é escocesa e fez um enorme sucesso na Europa, América Latina e concretamente no Brasil tendo sido, também aqui, das canções mais ouvidas nos Anos 72/73. Por isso, eu sei, que muitos vão recordá-las com saudade.


SAPATOS NOVOS





João comprou um par de sapatos novos e chega a casa:

- Maria o que achas?

- Acho de quê?

- Não notas nada de diferente?

- Não...

João vai à casa de banho, tira a roupa toda e volta apenas com os sapatos novos calçados.

- E agora? Já notas alguma coisa diferente?

- Não, o "coiso" continua pendurado para baixo, assim como estava ontem e como estará amanhã!

- E SABES PORQUE É QUE ELE ESTÁ PENDURADO PARA BAIXO?

- Porquê?

- Porque ele está a olhar para os meus sapatos novos!

- Hum... podias ter comprado um chapéu ...

TEREZA

BATISTA

CANSADA

DE

GUERRA

Episódio Nº 176

Para quê tanta casa, perguntava-se Tereza a limpá-la a fundo, para quê tantos móveis e tão descomunais? Custava tempo e suor, uma trabalheira manter apresentável aquele mobiliário antigo, pesado, de jacarandá, mal tratado pelo tempo e pelo desmazelo.

Chalé e árvores, um resto de louça inglesa e talheres de prata – últimos vestígios da grandeza dos Montenegros, reduzidos a um casal de velhos. Conforme Tereza veio a saber depois, o doutor comprara casa e trastes, travessas e garfos sem discutir o preço, aliás baratíssimo. Infelizmente, alguns objectos, um relógio de pé, um oratório, imagens de santos, já tinham sido levados para o Sul pelos fuçadores de antiguidades, em troca de vinténs.

Encantara-se o doutor com as árvores e os móveis e também com a localização da casa na saída da cidade, afastada do centro, calmo recanto habitualmente sem movimento. Habitualmente porque a chegada de novos moradores trouxe em seu rastro renques de curiosos dos dois sexos, sabedores da venda do chalé e de quem o comprara, à cata de novidades para as horas de ócio, tantas.

Alguns caras-de-pau chegaram a bater palmas à porta na esperança de puxar conversa e colher notícias, mas parcimónia de palavras e caras de poucos amigos de Alfredão levaram o desânimo às hostes das beatas e dos desocupados. Puderam apenas constatar duas empregadas entregues à monumental faxina, uma delas dali mesmo, de notória preguiça provada por várias famílias, a outra, trazida de fora, de tão suja nem lhe podiam ver a cara, parecendo moleca jovem, caprichosa no trabalho. A amásia a quem se destinava aquele conforto todo só viria quando tudo estivesse pronto e acabado.

Nenhum dos xeretas, varão ou dama, mantinha dúvidas sobre o destino do chalé, ninho rico e cálido, próprio para esconder amores clandestinos, como o definiu Amintas Russo, jovem poeta reduzido a medir pano na loja do pai, burguês sem entranhas.

O doutor, sem qualquer interesse financeiro em Estância, onde aparecia de raro em raro para almoçar com João Nascimento Filho, compadre e amigo, comprara a propriedade de Montenegros para nela instalar rapariga, afirmavam beatas e ociosos, baseando-se em três razões, cada qual mais ponderável.

Na fama de mulherengo do ricaço, comentada da Bahia a Aracaju, nas duas margens do rio Real, na conveniência do lugar, estrategicamente situado entre a usina cajazeiras e a cidade de Aracaju, locais onde o doutor permanecia tempo longo a cuidar de seus negócios, e, por fim, na própria condição de Estância, formosa e doce terra, couto ideal de amigações, cidade única para nela se viver um grande amor, ainda na opinião do injustiçado Amintas.

Certa tarde, um caminhão parou em frente á casa, o chofer e dois ajudantes começaram a descarregar caixões e caixas, volumes em quantidade.: em alguns lia-se a palavra “Frágil”, impressa ou escrita a tinta. Logo encheu-se a rua, beatas e desocupados acorreram em procissão. Postados no passeio fronteiriço, identificavam os volumes: geladeira, rádio, aspirador, máquina de costura, interminável ror de coisas, o doutor não era de medir despesas. Não tardaria com certeza a chegar com a fulana. Puseram-se de atalaia, as beatas organizaram turnos, mas o doutor, quem sabe de propósito, desembarcou de um automóvel pela madrugada; o último turno das mexeriqueiras terminava às nove da noite ao som do sino da Matriz
. (clik na imagem e aumente)

HISTÓRIAS



DE HODJA


Hodja cai ao tentar montar um cavalo que é muito alto para ele. Para o caso de alguém o ter visto exclama:

- “Deviam ter-me visto quando eu era jovem!”

Quando olha em redor e vê que não estava ninguém a vê-lo murmura para si próprio:

- “Não importa, eu vi-te quando tu eras jovem!”

9ª ENTREVISTA FICCIONADA


COM JESUS SOBRE O TEMA:




“OS IRMÃOS DE JESUS”




RAQUEL - Os nossos microfones mudaram-se para Nazaré, na Galileia, uma cidade que agora tem 60.000 habitantes e muitas lojas… Encontramo-nos na monumental Basílica da Anunciação, e novamente com o protagonista desta história, Jesus Cristo, na sua segunda vinda à Terra. Suas primeiras impressões, Mestre...

JESUS - Peço-te que não me chames Mestre, lembra-te que somos todos…

RAQUEL - Sim, já mo disseste várias vezes ... Desculpe-me, é o costume. Bem, esta basílica foi construída sobre a casa de sua sagrada família… lá em baixo podemos ver as antigas paredes... reconhece-las?

JESUS - Bem, com tantas velas e mármores... vou fixar-me... Sim, eu acho que nós brincávamos por aqui quando em criança... Esta era uma terra morta… Por aqui se saía para o vale, eu me lembro…

RAQUEL – A que jogavam?

JESUS – A agarrar o rabo do cão…, com uma bola de trapos..., a escondermo-nos de soldados romanos…, ao moinho que era um jogo muito divertido com pequenas bolas… eu ganhava sempre ao meu irmão Santiago…

RAQUEL - Seu irmão Santiago?

JESUS - Sim, Santiago. José também jogava. Simãozinho e Judas, não, ainda eram muito pequenos.

RAQUEL - Quer dizer os seus primos?

JESUS - Como meus primos? Meus irmãos. Eu tinha quatro irmãos e duas irmãs.

RAQUEL - Está a referir-se aos irmãos mencionados nos Evangelhos?... porque explicaram-me que a palavra grega "oleander" significa tanto irmãos como primos…

JESUS - Dessas palavras eu não sei mas eram meus irmãos.

RAQUEL - Talvez meios-irmãos, filhos de um casamento anterior de José…

JESUS - Como poderiam ser de um casamento anterior se o meu pai se casou com minha mãe muito jovem? Naqueles tempos, as pessoas se casavam muito cedo…

RAQUEL - Bem, então eu não entendo. Todo mundo sabe que o senhor era o único filho de Maria.

JESUS - Não, primogénito. Eu era o mais velho, isso sim, mas então, nasceu Santiago e depois José, Esther, Simãozinho, que era um demónio, travesso, Judas e a benjamim…

RAQUEL - Todos eram filhos de José e Maria? ...

JESUS - Claro, de quem mais poderiam ser?

RAQUEL – O senhor deixa-nos completamente surpreendidos com estas declarações…

JESUS - Como surpreendidos? Nós é que ficamos muito surpreendidos e a minha mãe especialmente… carregar seis crianças, sete comigo… e o meu pai que se “matou” a trabalhar para arranjar o suficiente para tantas bocas. E logo de seguida estava a minha avó e o meu tio Miguelito…

RAQUEL - Deixemos o tio e voltemos para os seus irmãos. Será que Santiago, José e todos os outros que mencionou eram seus irmãos carnais?

JESUS - Sim.

RAQUEL – O senhor percebe a gravidade do que diz?

JESUS - Não.

RAQUEL - É que, se esses irmãos eram irmãos a virgem não era tão virgem… e eu estou muito confusa.

JESUS - Mas por quê, Raquel? O que há de errado em ter uma família? Deus criou a vida. Somos a imagem e semelhança de Deus quando geramos a vida e não quando somos estéreis.

RAQUEL - Mas… é que ... temos que continuar a falar consigo sobre essas coisas porque, francamente… No entanto, pensando bem, o que muda, se Jesus tinha irmãos ? Isso muda alguma coisa na sua mensagem? O que acha, caro ouvinte das Emissoras Latina?

De Nazaré, Raquel Perez, jornalista.

quarta-feira, agosto 10, 2011

VÍDEO



Vemos muitas imagens deste género mas, neste caso, temos de admitir que Hirvonen exagerou, tanto que ele próprio nem queria acreditar. Devia ter ganho o raly da Grécia por esta manobra... do outro mundo.


MIDDLE OF THE ROAD - SOLEY, SOLEY


Desculpem-me, mas esta foi a canção que mais se pegou à minha vida. Acontece com quase todos, ouve-se uma música num momento especial e pronto... lá ficou ela para recordar esse momento para o resto da vida. Em 1972, eu tinha saído Portugal para Moçambique onde não havia televisão mas muita rádio e "aparelhagens" com muitas colunas para ouvir em estereofonia e quadrifonia as lindas canções da nova música Pop que então estavam na "berra", também por influência dos vizinhos ingleses da África do Sul e da Rodésia. Os Midlle Of The Road com o Soley, Soley, Chirpy Chirpy, Yellow Boomerang... era o que se ouvia em Lourenço Marques e na cidade da Beira para onde fui trabalhar em 1972. Neste caso não se tratou de nenhum momento romântico mas de um "salto" na minha vida. Ouço o Soley, Soley e aí estou eu a chegar à cidade da Beira em Moçambique...


TEREZA

BATISTA

CANSADA


DE


GUERRA


Episódio Nº 175




Na cadeira, as mãos pousadas nos encostos, o doutor parecia indeciso na escolha do livro a ler naquela noite, a ler para Tereza ouvir.

Ah, nunca mais, sentada a seus pés, a cabeça encostada em seus joelhos, nunca mais escutará a voz cálida a conduzi-la por caminhos obscuros, mostrando-lhe como enxergar nas trevas, a lhe propor mágicas e adivinhas e a lhe oferecer soluções e entendimento.

Lendo e relendo quando necessário, para ela se apossar da chave do mistério e penetrá-lo no todo e nos detalhes; erguendo-a pouco a pouco à sua altura.

12

Apenas haviam chegado a Estância, e assuntos urgentes obrigaram o doutor a partir para a Bahia, deixando Tereza sob a guarda de Alfredão e a companhia de uma criada, moça do lugar.

Trancada na desconfiança, no corpo a marca dos maus-tratos e no coração a lembrança de cada minuto de um tempo recente e aviltante de pancada e ignomínia de Justiniano Duarte da Rosa e de Dan, da cadeia e da pensão, vivendo por viver sem qualquer horizonte, Tereza ainda não assentara a cabeça.

Viera com o doutor um pouco à mercê dos acontecimentos e pelo respeito que ele impunha. Teria bastado o respeito? Atracção também, poderosa a ponto de fazê-la abrir-se em gozo quando ele a beijara na porta da pensão antes de pô-la na garupa do cavalo. Assim viera, sem saber qual o fim daquilo tudo.

Ao avisá-la da presença do doutor, Gabi a avisara sobre a presumível brevidade do xodó do usineiro, capricho de graúdo, antevendo-lhe rápida volta ao prostíbulo, as portas da pensão para ela sempre abertas – aqui é sua casa, minha filha.

Assumira a posição de fêmea do doutor, não a de amásia. Na cama se abrasava à simples contemplação da máscula figura de Emiliano Guedes e ao menor toque dos dedos sábios; no constante e crescente amor que lhe devotou, a volúpia precedera a ternura e só com o tempo se mesclaram e se fundiram os sentimentos. No resto, porém, continuava agindo como se estivesse em companhia do capitão, como se vivesse situação idêntica à anterior.

Desde manhãzinha cedo a trabalhar para pôr aquela imensa casa asseada e em ordem, enquanto a empregada se deixava ficar na maciota, olhando as panelas da cozinha, vagando pela sala de espanador na mão, colorido e inútil. Silencioso e activo, a carapinha embranquecendo, trazido da usina em carácter provisório, Alfredão cuidava do pomar e do jardim abandonados, fazia as compras e guardava a casa e a virtude de Tereza.

Por mais a adivinhasse, o doutor bem pouco a conhecia e assim a precaução se impunha. Mas até nos serviços de Alfredão se envolveu Tereza; quando ele ia recolher o lixo, já ela o fizera. Junto com o trabalhador e a criada, comeu na cozinha, usando os dedos – as gavetas atulhadas de talheres de prata.

A casa ficou um brinco: confortável chalé no centro de amplo terreno plantado de árvores frutíferas, com duas grandes salas, a da frente e a de jantar, quatro quartos abertos sobre a brisa do rio Piauitinga, cozinha e copa enormes, além da puxada onde ficavam os banheiros, e mais os quartos dos empregados, a despensa e o depósito de abregueces. (clik na imagem e aumente)

HISTÓRIAS

DE HODJA



Hodja pára no meio da rua e tem uma longa conversa com um homem. Quando estão prestes a retomar os respectivos caminhos, diz ao homem:

- “Desculpe-me, mas eu nem sei quem o senhor é!”

- “Nesse caso, por que tem estado a falar comigo, como se nos conhecêssemos a vida toda?”

- “Olhei para si, a sua roupa e o seu turbante eram iguais aos meus, pensei que você fosse eu.”

INFORMAÇÕES ADICIONAIS



À 7ª ENTRVISTA SOB O TEMA:



“FUGA PARA O EGIPTO” (3º e último)




Como "Nasceu" o Êxodo



Finkelstein descreve assim a preparação do texto do Êxodo e dos outros livros do Pentateuco:



- “No final do século VII AC, houve em Judá um fermento espiritual sem precedentes e tumultos políticos intensos. Um conjunto de funcionários da corte foi responsável pela elaboração de uma saga épica que consistiu numa colecção de relatos históricos, memórias, lendas, contos populares, anedotas, previsões e poemas antigos.

Esta obra-prima da literatura - metade original, a outra metade adaptação de versões anteriores, passou por ajustes e melhorias antes de servir de alicerce espiritual aos descendentes do povo de Judá e de inúmeras comunidades ao redor do mundo. A finalidade era religiosa. Os líderes de Jerusalém lançaram um anátema contra a mínima expressão de adoração de divindades estrangeiras, acusadas de serem a fonte das desgraças que afligiam o povo judeu. Lançaram, por isso, uma campanha de purificação religiosa, ordenando a destruição de santuários locais. A partir desse momento, o templo que dominava Jerusalém deveria ser reconhecido como o único lugar legítimo de culto por todo o povo de Israel. O monoteísmo moderno nasceu dessa inovação.”




Entrevista com Israel Finkelstein em "Jornalista Digital" de 31 de Janeiro de 2007

terça-feira, agosto 09, 2011

SE EU QUISER FALAR COM DEUS - ELIS REGINA

Desculpem a aparente descordenação entre a imagem e a dicção mas neste vídeo a imagem de Elis está em plano de fundo. Em contrapartida, a sua voz tem uma força e uma pureza que me levou a ecolhe-lo. Elis, é uma força da natureza e o seu reportório vai ao encontro dessa força, tira partido dele. Ela reforça o dramatismo, pôe uma carga adicional, vai mais longe... passa à categoria de personalidade. Por isso, muitos críticos, comentadores e músicos a consideraram a melhor cantora brasileira de todos os tempos e o saxofonista Phill Woods vai para além do Brasil e chama-lhe mesmo a maior cantora do mundo. Quando canta provoca arrepios...


Uma garotinha perguntou à mãe:


- "Mamã, posso levar a cachorrinha para andar em volta do quarteirão? " A mãe respondeu:

- "Não, porque ela está no cio."

- "O que é isso?" perguntou a menina.

- "Vá perguntar ao seu pai. Acho que ele está na garagem."

A garotinha foi até à garagem e disse:

- "Pai, posso levar a LulaBelle para uma volta no quarteirão? Eu pedi à mãe, mas ela disse que a cachorrinha está no cio, então eu vim falar com o pai..."

Diz o pai:


- "Traga a LulaBelle aqui."

Então pegou num pano, embebeu-o com gasolina e esfregou as costas da cachorrinha para disfarçar o cheiro, e disse:

- "Tudo bem, pode ir, mas mantenha LulaBelle na coleira e só dê uma volta ao quarteirão."

A garotinha saiu e voltou poucos minutos depois sem a cachorrinha na coleira. Surpreso, o pai perguntou:

- "Onde está a LulaBelle?"

Diz a menina:

- "Acabou a gasolina dela a meio do quarteirão e por isso, outro cachorro está a empurrá-la até nossa casa."

TEREZA

BATISTA

CANSADA

DE

GUERRA






Episódio Nº 174



Se não acredita, por que então contribui com dinheiro para a igreja, abate novilhos e porcos e contrata padre para celebrar missa na usina? Tereza dava-se conta não passar o palavreado e o ateísmo de Lulu de Santos de pura exibição, da boca para fora, não existindo ninguém mais supersticioso, a benzer-se antes de entrar no recinto do júri ou na sala de audiência.

Mas, tratando-se do doutor, ela estranhava a contradição em homem de ordinário tão coerente na maneira de agir.

Não lhe disse nada mas ele concerteza percebeu ou adivinhou – no começo Tereza pensara que o doutor possuía o dom de adivinhar os pensamentos. Quando o padre se retirou em companhia do excelente Nascimento Filho de novo a declamar Guerra Junqueiro, e Lulu Santos a acender o último charuto, deu boa-noite e recolheu-se, deixando-os a sós no jardim, o doutor, tomando-a nos braços, falou:

- Sempre que não entender uma coisa me pergunte, não tenha medo de me ofender, Tereza. Você só me ofende se não for franca comigo. Você está admirada e não entende como é que eu, não sendo crente, contrato um padre para dizer missa na usina e ainda por cima faço uma festança, não é verdade?

Sorrindo, ela se encostou contra o peito do doutor, para ele levantando os olhos.

- Não faço por mim, faço pelos outros e pelo que sou para eles. Entende? Faço pelos outros que acreditam e pensam que eu acredito. O povo precisa de religião e de festa, leva vida triste e onde já se viu usina sem missa e padre-mestre, sem festa de baptizado e casamento uma vez por ano? Cumpro meu dever.

Beijou-lhe a boca e completou:

- Aqui em Estância, nesta casa, junto de você, eu sou eu, somente. Lá fora sou dono da usina, banqueiro, director de empresa, chefe de família, sou quatro ou cinco, sou católico, sou protestante, sou judeu.

Só na última noite, após a conversa no jardim, Tereza deu-se inteira conta do que então ele quisera lhe dizer.


11


Nina trouxe a bacia e o balde, lulu a lata de água quente. Prontos para ajudá-la, mas Tereza os despachou: se precisar eu chamo.

Sozinha, lavou o corpo do doutor com algodão e água morna, e, tendo-o enxugado, da cabeça aos pés o perfumou com água-de-colónia, a inglesa, a dele. Ao tomar do vidro no armário do banheiro, recordou-se do episódio da água-de-colónia, logo no início da amigação; agora só lhe cabe recordar. Cada vez em que, no decorrer dos anos, se lembrou do sucedido sentira-se excitada, acesa: ai, a hora é imprópria. Tais memórias, aromas e deleites se acabaram para sempre, mortos com o doutor. Apagada fagulha, extinta labareda, Tereza não imagina sequer possível nela renovar-se um dia a sombra do desejo.

Peça por peça ela o vestiu e calçou, escolhendo camisa, meias, gravata, a roupa azul-marinho, combinando as cores sóbrias ao gosto do doutor, como ele lhe ensinara. Só chamou Lula e Nina para a arrumação do quarto. Queria tudo limpo e em ordem. Começaram pela cama e, enquanto mudavam fronhas e lençóis, sentaram-no na cadeira de braços ao lado da mesinha repleta de livros misturados. (clik na imagem e aumente).

HISTÓRIAS



DE HODJA







Um dia, um vizinho pede o burro emprestado ao Hodja para ir à sua quinta.

- “Espera um pouco” diz o Hodja. “Tenho que ir perguntar ao burro”

Entra em casa e regressa passado um tempo:

- Não leves a mal, meu vizinho, falei com o burro e ele disse-me:

- “Nem pensar. Sempre que me emprestas a alguém, por um lado, batem-me e por outro chamam nomes a ti.”

INFORMAÇÕES ADICIONAIS



À 8ª ENTREVISTA SOB O TEMA:


“A FUGA PARA O EGIPTO” (2)




Êxodo: Uma Metáfora



O relato central do Antigo Testamento que está no centro da fé e da identidade do povo judeu - a libertação do povo hebreu das mãos do faraó, o seu êxodo, a sua marcha através do deserto e a chegada à Terra Prometida, sob a condução e liderança de Moisés, é também uma metáfora com uma base histórica cada vez mais duvidosa.


O arqueólogo judeu, Israel Finkelstein, Director do Instituto de Arqueologia da Universidade de Tel Aviv, é quem o demonstrou de forma mais sólida no seu livro "A Bíblia Desenterrada”; “A Bíblia Não Tinha Razão” na tradução brasileira(Edições Bayard, 2002). Ele, e o seu colega Silberman, propõem-se reconstruir uma história bem diferente do antigo Israel separando a história da lenda.

As investigações de Finkelstein demonstram que nem Abraão nem Moisés são personagens históricos, que o povo hebreu não saiu do Egipto nem cruzou o Mar Vermelho, nem peregrinou por nenhum deserto, nem conquistou a terra de Canaan, pela simples razão que desde há milhares de anos já ali vivia do pastoreio e da agricultura.

Os cinco primeiros textos da Antigo Testamento (Genesis, Êxodo, Desteronomio, Números e Levítico) são uma genial reconstrução literária e política realizada 1.500 anos mais tarde do que pensávamos, durante a monarquia de Josias, rei de Judá, 7 séculos antes de Jesus e o seu principal objectivo foi fundar uma nação unificada, cimentada numa nova religião; um só Deus (Yahveh); um só rei, uma só capital (Jerusalém) e um só Templo, o de Salomão.

O Imperador Constantino de Roma, séculos mais tarde, pretendeu atingir exactamente os mesmos objectivos com a religião cristã: dar coesão política e social ao seu império, unindo-o pela fé em um só Deus sob a autoridade do todo poderoso Imperador e dos bispos de Roma.

segunda-feira, agosto 08, 2011

CHICO BUARQUE - SINHÁ


2o11, Chico está a caminho dos 70 anos, nasceu em 1944, e este belo tema é o último do seu recente disco "Chico". Há que saber viver, fazer escolhas certas, estar atento à vida que nos rodeia... e o resto é talento, puro talento, do melhor que o Grasil teve para oferecer ao mundo. Ouçam este "Sinhá"... delícia!


A Melhor Desculpa que já Ouvi...




O executivo saiu do escritório as 18h, quando viu sua secretária no ponto de ônibus. Estava caindo a maior chuva.
Ele parou e perguntou:
- Você quer uma carona?
- Claro... Respondeu ela, entrando no carro.
Chegando no edifício onde ela morava, ele parou o carro para que ela saísse e ela o convidou para entrar.
- Não quer tomar um cafezinho, um whisky, ou alguma coisa?
- Não, obrigado, tenho que ir para casa...
- Imagine, o Sr. foi tão gentil comigo, suba um pouquinho. Ele subiu, atendendo ao pedido da moça.
Ao chegarem lá, enquanto ele tomava seu drink, ela foi para o quarto enxugar-se e voltou, toda gostosa e perfumada. Deixou antever um belíssimo par de coxas debaixo do baby-doll, escondendo uma escultural bunda, das mais desejadas. A lingerie fio dental que usava, inspirava que a noite poderia ser inimaginável!
Depois de alguns drinks, quem pode agüentar?
Ele caiu literalmente... transou com a secretaria de todas as formas possíveis. Estava bom DEMAIS!
Após intensa atividade sexual, acabaram adormecendo. Por volta das 6h da manhã, ele acordou e olhou no relógio. O maior susto!
Pegou o telefone, discou o número de sua casa e aos berros, disse a quem atendeu:

- NÃO PAGUEM O RESGATE...

...EU CONSEGUI FUGIR!

TEREZA

BATISTA

CANSADA

DE

GUERRA


Episódio Nº 173



O doutor lhe trazia livros e revistas, passavam horas e horas em amena cavaqueira no jardim. Na cidade os curiosos perguntavam-se a troco de que o doutor, cidadão de tanta responsabilidade e tantos afazeres, perdia tempo em Estância a falar bobagens com mestre Nascimento Filho, a encher de mimos amásia tabaroa.

Quando, porém, a conversa girava sobre a política nacional, só faltando atracarem-se o rábula e o médico na apreciação de valores partidários, em fuxicos eleitorais, o doutor contentava-se em ouvir, indiferente. Para ele, política era ofício torpe, próprio para gente de baixa qualidade, de mesquinhos apetites e espinhaço mole, sempre às ordens e ao serviço dos homens realmente poderosos, dos legítimos senhores do país. Esses, sim, mandavam e desmandavam, cada um em seu pedaço, em sua capitania hereditária; ele, por exemplo, em Cajazeiras do Norte, onde ninguém movia palha sem antes lhe pedir consentimento. Tinha asco da política e desconfiança dos políticos: olho neles, são profissionais da falsidade.

Pegavam fogo as discussões sobre religião, assunto apaixonante, matéria inesgotável. Tendo bebido um pouco Lulu Santos afirmava-se anarquista, discípulo sergipano de Kropotkine, não passando de anticlerical ao velho estilo, responsabilizando a sotaina do padre Vinícius pelo atraso do mundo, inimigo quase pessoal do Padre Eterno.

A polémica, permanente entre ele e o padre, ainda jovem e exaltado, dono de certa erudição e argumentador de fôlego, acabava envolvendo João Nascimento Filho a dizer versos de Guerra Junqueiro, sob os aplausos do rábula. O doutor, sorvendo devagar o bom vinho, se divertia com a troca de razões, objecções e desaforos.

Atenta, Tereza acompanhava o debate buscando elucidar-se, sendo levada ora por um ora por outro, ao sabor das frases, redondas e graves as do reverendo, cínicas e divertidas as do rábula, boca de pragas e blasfémias. O padre terminava elevando as mãos ao céus e rogando a Deus perdão para aqueles impenitentes pecadores que, em vez de lhe darem graças por jantar tão divino e pelos vinhos da vinha do Senhor, pronunciavam impropérios e blasfémias pondo em dúvida a própria existência de Deus! Neste poço de pecado, dizia, só se salvam a comida, a bebida e a dona da casa, uma santa – os demais uns ímpios.

Ímpios, no plural pelos versos recordados por mestre nascimento Filho e por certas frases do doutor, a afirmar que tudo começa e termina na matéria, sendo os deuses e as religiões fruto do medo dos homens e mais nada.

Na noite em que pronunciou aquela frase, após o jantar e discussão feroz, o doutor, na vista de Tereza, dirigiu-se ao padre:

- Padre, o senhor vai-me quebrar um galho. O padre Cirilo, de Cajazeiras, anda ruim das juntas, entrevado de reumatismo, mal pode atender à cidade nas festas de Sant’Ana, não aguenta ir celebrar missa na usina, como de hábito todos os anos. Não quer vir o senhor?

- Com muito gosto, doutor.

- Mando-lhe buscar no sábado, o reverendo celebra Domingo pela manhã na casa-grande, baptiza a meninada, casa os noivos e os ajuntados, almoça com a gente, se quiser fica para o baile em casa de Raimundo Alicate, fandango de dar gosto, se não quiser eu mando-lhe trazer aqui. (clik na imagem e aumente)

HISTÓRIAS




DE HODJA


Um senhor feudal que tinha sofrido muito nas mãos das mulheres pergunta às pessoas o que elas pensam das mulheres e ordena a decapitação dos que falam a favor delas.

Um dia Hodja enfrenta-o.

- “Você é casado?”

Hodja responde: “Como poderia um homem permanecer solteiro, na minha idade?”

O senhor feudal fica tão irritado que lhe sai espuma da boca e grita: “Decapitar!”

Hodja percebe que ele está a falar a sério e faz um último esforço: “Não seja tão rápido no seu julgamento, meu senhor. Por que não me pergunta se eu me divorciei da primeira mulher? Ou se, além da minha primeira mulher, eu levei para casa uma segunda esposa? Ou se a minha primeira esposa morreu e logo a seguir se casou com outro. Ou seja, meu Senhor, por que não me pergunta se eu me recuperei logo após a minha primeira loucura estúpida ou se fui mais além e fiz a mesma loucura estúpida de novo e novamente? Não. Eu fiz essa estúpida loucura apenas uma vez. Sabe melhor do que eu, meu senhor, que não se corta a cabeça de um cavalo por tropeçar uma única vez.”

O senhor feudal decide então perdoar Hodja, tendo em conta o que disse.

INFORMAÇÕES ADICIONAIS


À 8ª ENTREVISTA SOB O TEMA:


“FUGA PARA O EGIPTO”. (1)


Três Relatos Que Não São História




Quando Jesus nasceu, ainda que a influência romana já fosse sentida com força crescente na Palestina, o país ainda era governado pelo rei Herodes, o Grande, que governou por 40 anos com uma reputação de criminoso.

No Evangelho de Mateus, Herodes foi responsável por um massacre de crianças em Belém, após a chegada do Oriente de uns Magos a Jerusalém e da fuga para o Egipto de José, Maria e Jesus. Estas três histórias não correspondem aos factos históricos. São esquemas de catequese orientados para apresentar Jesus como o novo Moisés às comunidades cristãs.

Os textos procuram estabelecer paralelismos entre Moisés e Jesus: quando Moisés nasceu no Egipto, o faraó decretou a morte de todas as crianças do sexo masculino israelita (Êxodo 1,15-22). Já homem, Moisés teve de fugir para o sul do Egipto e de lá regressar para libertar seus irmãos (Êxodo 2,11-15).

A Bíblia deve ser lida tendo em conta que contém muitos símbolos, mitos, lendas e tradições do povo judeu que foram transferindos para o Novo Testamento, ignorando o tempo e os contextos culturais em que foram
escritos.

domingo, agosto 07, 2011

HOJE É



DOMINGO


(Da Minha Cidade De Santarém)

Mais uma vez, da mesa do meu Café nesta manhã de Agosto de um Verão que de tão arrependido nos tem poupado aos incêndios, lembrei-me de Manoel de Oliveira, o nosso já centenário realizador cinematográfico que apesar da idade que tem ainda alimenta projectos de trabalho para o futuro e daí ter desabafado:

- “Em casa sobra-me espaço e na vida falta-me tempo” e eu acrescentaria… se calhar Deus é o Tempo. É verdade, se eu tivesse que indicar uma qualquer entidade que correspondesse ao conceito de Deus, no sentido de gerador da vida, essa entidade, para mim, só poderia ser o Tempo porque de facto foi ele que a gerou com a sua infinita paciência a partir dos elementos que existem no universo.

O grande cientista e Prémio Nobel, Richard Dawkins, no seu livro “O Gene Egoísta", apresenta uma explicação idêntica à de muitos cientistas nesta área. Uma molécula, há biliões de anos atrás, adquiriu a extraordinária capacidade de fazer cópias de si própria, proeza tão improvável como a de sair a qualquer um de nós o Jackpot do Euromilhões mas que aconteceu pela mesma razão que também a nós nos sairia o desejado prémio, até mais que uma vez, se preenchessemos o respectivo Boletim todas as semanas durante 100 milhões de anos.



Denominou-se a molécula de Replicador e constitui-se, por essa “habilidade”, no clik para o despertar da vida que o Tempo permitiu que de formas muito simples e primárias chegasse àquilo que nós hoje somos… a lutar contra a falta do Tempo, o tempo que falta ao Manoel de Oliveira e que eu percebo que me vai faltando a mim.

Ironia da vida, o mesmo Tempo que paciente e teimosamente levou biliões de anos para nos trazer ao local onde estamos, concede-nos agora um breve “piscar de olhos” para provarmos da sua receita.

Sábio, persistente e inflexível como só ele é, não se detém. Há muito que o clik ficou lá para trás e ele não pode parar, esse é o seu segredo.
Incrédulo e perplexo, Charles Darwin, percebeu-o quando viu conchinhas do mar no cimo das montanhas na América do Sul a mais de três mil metros de altitude sem que ninguém as tivesse levado para lá.

Mas, de que tempo estamos a falar? Do Tempo que levaram as conchas a chegar ao cimo dos montes ou do tempo que falta ao Manoel de Oliveira, me vai faltando a mim e um pouco a todos nós?

O Tempo… o tempo… chave da vida! - vergo-me perante ti, agradeço-te a oportunidade mas não te perdoou não me teres avisado que ela era tão breve.

Bom Domingo para todos.

(Imagem da Estátua do Capitão Salgueiro Maia em Santarém)

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