sábado, março 01, 2014

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É assim nos tempos que correm...



O PIKAIA - 500 milhões de anos atrás
A MÃE DE TODAS

AS HISTÓRIAS




O  PIKAIA













O Processo Evolucionário da Vida no Planeta Terra que bem pode ser considerado uma história, ou melhor, a Mãe de Todas as Histórias, bem poderia começar assim:

… Era uma vez, um pequeno animal, que há mais de 500 milhões de anos atrás vivia nos mares do Câmbrico. Teria cerca de 5 cm e muito poucas probabilidades de sobreviver num meio em que a guerra entre presas e predadores já tinha sido declarada.

Este pequeno animal, de seu nome Pikaia, tinha a particularidade de possuir uma espécie de cérebro e de espinha dorsal e embora tenha desaparecido há já muitos milhões de anos foi ele que estabeleceu o modelo anatómico que iria servir de base evolutiva a peixes, anfíbios, répteis, aves e mamíferos e, consequentemente, a mim próprio que estou a contar esta história e para quem gosta de pesquisar sobre os seus antepassados, pois bem, aqui têm o mais remoto, O PIKAIA.

Ele apareceu no período Câmbrico aquando de uma explosão de vida nos mares então existentes que de há muito eram habitados apenas por esponjas, organismos semelhantes a flores que não têm tecidos nem capacidade para se moverem nem fazerem coisas que associamos aos animais.

Mas terá sido a partir delas que se deu uma revolução genética pois inventaram tipos de células com a capacidade de interagirem, cooperarem e comunicarem entre si constituindo-se em organismos pluricelulares que tinham a capacidade revolucionária do movimento e assim apareceram os Cnidários que eram também semelhantes a flores como as esponjas mas já possuíam tecidos, boca, nervos, músculos e a capacidade de se moverem e fazerem todas as coisas que identificamos com os animais.

Os Cnidários que evoluíram, portanto, a partir da estrutura celular das esponjas deram, posteriormente, lugar a um conjunto impressionante de formas de vida entre as quais os primeiros caçadores com um crânio e um cérebro primitivo junto dos órgãos sensoriais
Mas o facto de se ter chegado ao limiar crítico da complexidade genética não foi apenas o único factor que fez despoletar a explosão do Câmbrico.

A guerra que então se abriu entre presas e predadores, procurando uns a vantagem de não serem comidos e os outros a vantagem de os comerem, deu lugar à procura desesperada de armamentos, uns de defesa e outros de ataque, numa competição que nunca mais, até hoje, deixou de acontecer e constitui a base de toda a evolução.

Tinha-se acabado a paz das Esponjas e dos Cnidários e há mesmo quem afirme que o início desta guerra foi outro factor que explicou a explosão de vida nesse período, o que não deixa de ser interessante e desconcertante porque, se assim for, permite-nos concluir que a vida está mais ligada à guerra do que à paz.   

Outra razão poderá ainda ter sido uma alteração ecológica com a subida dos níveis de oxigénio que permitiu o aparecimento de animais cada vez maiores com outros níveis e graus de interacção.

Certo é que, num único Salto Revolucionário ocorrido neste período da Terra ficaram definidas as várias concepções de vida que haveriam de evoluir de então para cá, trinta e cinco ao todo.

Variações destes 35 modelos anatómicos foi apenas tudo quanto posteriormente aconteceu embora existam e tenham existido milhões de espécies… e isto, já lá vai meio bilião de anos durante os quais se escreveu uma longa história…a Mãe de Todas as Histórias, escrita nas pedras e começada a ler por Geólogos, Paleontólogos e Arqueólogos e explicada, na sua essência, por Charles Darwin no seu livro A Origem das Espécies.

UM BOI COM FALTA DE VISTA...

FADO LOPES - MARTA PEREIRA DA COSTA

Esta jovem trocou a sua vida de médica por este instrumento maravilhoso que é a guitarra portuguesa.


A glória recente e retumbante do capitão enchia Periperi...
OS VELHOS

MARINHEIROS

Episódio Nº 18










Aquela lua-de-mel do comandante com Periperi, sem nuvens no céu de infinito azul, durou mais ou menos um mês. Talvez pudesse prolongar-se bem mais tempo se não houvesse regressado da cidade, onde passava uns meses com o filho advogado, o velho Chico Pacheco, ex-fiscal de consumo, morador ali há mais de dez anos, uma espécie de dono da terra.

Já falei acerca de seu carácter: quizilento e arreliento, má-língua, homem da dúvida e da malícia, cheio de arestas. Fora aposentado antes de tempo, devido a perseguições administradas, andara se envolvendo em política, na oposição. Dizia-se vítima de inimigos poderosos, vinha movendo há anos uma acção contra o Estado.

Em parte conseguira sucesso, obtendo substancial aumento em sua aposentadoria, mas continuava, teimoso, querendo receber, por via judicial, um dinheirão do governo.

Esse processo era dos assuntos mais comentados de Periperi, assentava-se nele, em suas peripécias, grande parte do prestígio de Chico Pacheco. Sua volta de constantes viagens à Baía, onde se demorava em casa do filho para acompanhar a marcha do processo, era uma festa para os aposentados e retirados dos negócios.

Chico Pacheco amava narrar os pormenores da questão, agora no Superior Tribunal de Justiça, e sabia fazê-lo. Desabafava contra desembargadores, arrasava burocratas e políticos, conhecia minudências da vida de magistrados, procuradores, advogados, de todos aqueles que, por um ou outro motivo, tinham qualquer interferência no caso. Era um repositório de anedotas, de malignidades, de divertidas misérias.

 O seu interminável processo pertencia, em realidade, a toda a população de Periperi. Solidários com Chico Pacheco, os aposentados e retirados dos negócios revoltavam-se quando uma petição qualquer do inimigo entravava a marcha dos autos, quando um pedido de vistas adiava uma decisão.

A senhora de Augusto Ramos, aquela apreciadora de histórias, fizera mesmo uma promessa ao Senhor do Bonfim: mandaria rezar missa em sua igreja se Chico Pacheco triunfasse.

Pena não habitar ali, naquele tempo, o Meritíssimo Dr. Siqueira. Que grande ajuda não poderia ele prestar, não só a Chico, como a toda a população, com seus conhecimentos, suas luzes...

Uma festa monumental, planejada nas tardes longas, comemoraria a vitória, Chico Pacheco prometia abrir champanhe quando recebesse a bolada.

Daquela vez ele voltava amargurado. Tudo parecia em vésperas de uma solução, o processo em pauta, quando o Estado entrara com novas petições, e o julgamento ficara adiado, “para as calendas gregas”, como disse ele, ao saltar, ao chefe da estação.

Desembarcou repleto de histórias, de anedotas, de revelações contra juízes e advogados, um mundo de novidades. Necessitando, ao mesmo tempo, da atenção solidária e animadora dos vizinhos e amigos. E encontrou-se atirado a um segundo plano inaceitável: a glória recente e retumbante do capitão-de-longo-curso enchia Periperi de ponta a ponta, seu nome em todas as bocas, seus feitos glosados a cada instante.

De que valiam as tricas de um processo a eternizar-se no fórum, ao lado das histórias de naufrágios, tempestades, amores? Como comparar-se “sub judice” com Hong-Kong ou Honolulu? Sem falar no telescópio, na roda do leme, no cronógrafo.

- Sabe o que é um cronógrafo, seu Chico Pacheco?

- Nem quero saber ... Vou-lhe contar a sujeira do Desembargador Pitanga, aquele que a mulher pariu sete filhos, de sete pais diferentes. Esse rei dos cornudos...

- Você precisa ver a colecção de cachimbos. Vai até esquecer a sua questão ...

E assim por diante. Investia Chico Pacheco com seu processo, respondiam-lhe com cartas geográficas, dançarinas árabes, marinheiros bêbados. Falava de um recurso interposto, contestavam-lhe com uma aventura do comandante.

sexta-feira, fevereiro 28, 2014

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Espero que fiquem amigos para o resto da vida.


Champagne - Pepino Di Capri

Peppino venceu os Festivais de San Remo em 1973 e 76 e o de Napoli em 1970. No Brasil teve muito êxito com a canção Roberta.

Fernando Pessoa
Fernando Pessoa




Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes,
mas não esqueço de que minha vida é a maior empresa do mundo.
E que posso evitar que ela vá a falência.
Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise.
Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e
se tornar um autor da própria história.
É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar
um oásis no recôndito da sua alma .
É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida.
Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos.
É saber falar de si mesmo.
É ter coragem para ouvir um 'não'.
É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta.

Pedras no caminho?
Guardo todas, um dia vou construir um castelo...

(Fernando Pessoa)
P.S. - Devíamos ler e meditar sobre este pequeno texto de Fernando Pessoa como encorajamento quando se descrê da vida e procura ser feliz.

Aí vêm eles... armados com lanternas!
Os

Pirilampos












Uma loira da cidade vai passar um fim-de-semana ao campo. Hospeda-se numa residencial e à noite, depois de estar deitada, telefona ao gerente reclamando que o seu quarto foi invadido pelos mosquitos.

O funcionário, atencioso, explica-lhe que os mosquitos são atraídos pela luz pelo que lhe basta desligar esta para resolver o problema.

Passado um bocado novo telefonema. Nada feito, diz a senhora, eles regressaram em força e agora armados de lanternas.

Nas ruas de Lisboa já temos sem-abrigo com Cursos Superiores...


A Crise...













Há uma crise em Portugal que é filha de uma crise na Europa, filha de outra na América... de resto, desde que o mundo é mundo, sempre houve crises. A diferença é que agora elas pegam umas nas outras, tendem a ser globais porque está tudo em ligação, todos compram e vendem uns aos outros à velocidade de um click.

 O poder financeiro cresce, domina a economia, a que produz riqueza... mas nada que se pareça com o dinheiro que se ganha especulando nos mercados.

A globalização, colocando em mercado aberto economias diferentes, umas que cumprem regras e outras que proliferam na ausência delas, alterou um equilíbrio, de uma sapatada destruiu milhares de postos de trabalho para criar outros, em outros lugares e sem quaisquer condições.

As grandes empresas correram à procura desses locais de mão-de-obra e da energia barata, de governos cúmplices, de empresários assassinos, sem escrúpulos, cujos trabalhadores morrem soterrados ou queimados em edifícios que se abatem e ardem.

Massas de trabalhadores que antes viviam nos campos engrossam as cidades, tornando-as irrespiráveis e sujeitam-se a todos os abusos para sobreviver.

Uma elite de pessoas utilizando em seu favor o poder político aliam-se ao mundo do dinheiro e de braço dado controlam o mundo.

A Europa, reserva de liberdade, cultura, arte, direitos e de cidadania é atingida. O desemprego e a baixa de salários a favor de uma competitividade que serve de desculpa para tudo, vão fazendo empobrecer uma classe média que nasceu e se fortaleceu depois da 2ª G.G. e que era o motor da sociedade.

Mais de 20 milhões de desempregados na União Europeia, mais de 4 milhões de sem-abrigo, casos dramáticos de famílias que se vêm obrigadas a abandonar as suas casas por não poderem pagá-las e, no entanto, cerca de 11 milhões de casas vazias no Velho Continente, segundo o diário britânico The Guardian.

As reservas do subsolo de riquezas energéticas e minerais são embolsadas por grupos de pessoas de governos corruptos que na impunidade impõem a uma Europa enfraquecida os seus argumentos financeiros.

Quem não tem dinheiro não se pode dar ao luxo de ter valores ou princípios...

Políticos fracos, sem carisma, liderando democracias que em si mesmas são uma riqueza, em vez de se unirem acomodam-se, lutando cada um pelos seus pequeninos interesses em grupos de pretensos ricos contra pretensos pobres.

Os discursos dos governantes provocam enjoo. Apanhados por forças que não controlam disputam uns com os outros o leme da governação para satisfazer egoísmos, vaidades e ambições em enredos teatrais em que, num momento saem de cena, para noutro, logo de seguida, reentrarem.

Aproxima-se o Carnaval e o governo, mais uma vez, não concede dispensa de ponto, talvez para não desagradar à Troyka mas as Câmaras Municipais, pelo menos as que organizam festejos, desrespeitam o poder central e mandam todos brincar ao Carnaval porque não fazia sentido envolverem-se em despesas para promoverem as suas cidades, algumas com créditos firmados em desfiles carnavalescos, e depois prenderem as pessoas nos Serviços.

No entanto, esta descoordenação, não escandaliza ninguém. Sobre a mesma coisa, por razões diferentes decidem-se coisas diferentes e assim é que está bem...

Era a personalidade mais importante do subúrbio...
OS VELHOS

MARINHEIROS

Episódio Nº 17










Dizem ter sido assim construída a fortuna do Meritíssimo e não herdada de pais ricos. Herança mesmo, fora a esposa quem recebera e não teria ele casado com dona Ernestina por outro motivo, pois ainda adolescente já era ela um saco de banhas, conhecida pelo apelido de “Zepelim”.

Não se reduzem a escavar o passado, futucam no presente e trazem à baila a terna Dondoca. Como se fosse crime um homem ilustre procurar um terno refúgio para as suas lucubrações intelectuais nas tardes paradas de Periperi.

 Dona Ernestina ronca a sesta, aproveita-se o Meritíssimo para entregar-se à fantasia e ao doce enlevo do amor. Confidenciou-me ele, cumulando-me de honra com sua confiança, nutrir pela rapariga um sentimento protector, quase paternal. Uma pobre enganada e abandonada, cheia de boas qualidades, cujo destino seria a repugnante profissão do meretrício se um braço amigo não a sustivesse e amparasse.

 Ao demais, ele bem merecia o direito àquelas pequenas contrafacções da rígida moral, a compensarem as suas obrigações matrimoniais, “penosas e pesadas”.

Penosas e pesadas, dona Ernestina com seus cento e vinte quilos, imagino bem. Não pude deixar de representar-me a cena evocada nos adjectivos lastimosos do juiz: aquelas banhas nuas, libertadas de cintas e corpetes, a rolarem no leito... Devia custar realmente pena e esforço ao Meritíssimo.

Contive o sorriso, não é justo brincar com essas coisas quando nelas estão envolvidas personalidades dignas de respeito, como o Dr. Siqueira e sua esposa, gorda porém honrada. E, no que se refere a Dondoca, que outro sentimento pode despertar-me o magistrado, além da gratidão?

Não fora seu generoso pecadilho e não poderia eu desfrutar gratuitamente, usando uns óptimos chinelos ali deixados pelo juiz, comendo chocolate por ele trazido, das graças da mulata mais linda e mais fogosa da Baia.

 Mas a natureza do homem é mesmo salafrária: não é que, estendido com Dondoca em cama paga pelo juiz, comendo confeitos e frutas comprados por ele, ouvindo a safadinha contar certas particularidades gozadas do seu protector, não consigo impedir-me de imaginar o Meritíssimo a praticá-las no Zepelim, suando e arfando, em sua penosa obrigação . . .

Não posso, em sã consciência, criticar os tipos que vivem a assacar futricas contra o saber e a honra do Meritíssimo. Se eu próprio, seu devedor de tantas obrigações e gentilezas, rio e debocho de suas pequenas fraquezas, se o faz Dondoca, sua protegida, como esperar dos demais atitude respeitosa e justa?

De qualquer maneira, esse tal de Telémaco Dórea não me atravessa na garganta, sujeitinho pernóstico e suficiente. Andei a lhe mostrar trechos da história do comandante, resultado de paciente pesquisa, de difícil labor. Fez-me o poetastro uma série de críticas: estilo frouxo e impreciso, acção lenta e débil, lugares-comuns em quantidade, personagens sem vida interior.

Uma frase da qual, confesso, me orgulho, uma que ficou aí para trás, “contra ele se levantam, em vagalhões de infâmia, os oceanos da calúnia”, mereceu a sardónica reprovação e um riso de mofa do tal Dórea, incapaz de sentir a força e a beleza da imagem.

Enquanto isso, a mesma frase obteve os maiores louvores do ilustre e culto mestre do Direito, homem acostumado aos bons autores, leitor de Rui Barbosa e de Alexandre Dumas.

 Também Dondoca, quando li o trecho em voz alta, mais para mim mesmo que para ela, bateu palmas e exclamou: “bonito!”. Não lhe falta sensibilidade como, aliás, eu já o comprovara na cama. Assim, apoiado pela elite intelectual, representada pelo magistrado, e aplaudido pelo povo, através da voz doce de Dondoca, dou o desprezo mais absoluto ao riso alvar de Telémaco Dórea, poeta lá para as negras dele, e evitarei, de agora em diante sua desinteressante companhia.

 Além de tudo trata-se de um facadista, ainda está me devendo cento e oitenta cruzeiros que me pediu no verão passado para comprar peixe. “De tarde lhe devolvo”, e até hoje.

E volto à história do comandante, pois quando teci os comentários iniciais sobre a inveja não estava pensando no juiz, em sua honrada esposa, em Dondoca, no cabotino do Dórea.

Entrou o juiz apenas para servir de exemplo e foi ficando, como certas visitas massadoras, sem noção do tempo. Creio ter-me perdido também um pouco, a discutir com o pulha do Dórea, a espreguiçar-me no leito de Dondoca, nos seus braços dengosos.

Esquecendo-me do compromisso assumido: esclarecer a embrulhada história do comandante, fazer brilhar a verdade, nua e completa, sobre suas aventuras.

Ninguém, como se vê, escapa aos invejosos: como iria escapar o Comandante Vasco Moscoso de Aragão que, com um mês apenas de residência em Periperi, já era a personalidade mais importante do subúrbio, o nome mais falado, glória do lugar, opinando sobre os mais diversos assuntos?

 Opinião respeitada, jurava-se por ele. “O comandante disse . . .”  “pergunte ao comandante . ..”, “o comandante me garantiu. . .”, ouvia-se nas discussões e quando ele, retirando da boca o cachimbo de espuma-do-mar, ditava seu aviso, era a última palavra indiscutível.

quinta-feira, fevereiro 27, 2014

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Não parece mas é a Torre Eiffel



Roberto Carlos - Outra Vez

Quase todos tivemos na vida um amor assim, mais complicado...

Ao Calor de
Uma Fogueira



O controle do fogo, oriundo dos céus, foi a primeira grande inovação técnica do homem há cerca de 550.000 anos, tão importante que a evolução da nossa espécie não teria sido possível sem esse enorme avanço que lhe abriu as portas do futuro e lhe permitiu acreditar nas suas capacidades.

Sem o fogo, as noites dos nossos antepassados teriam continuado a ser de pesadelo, à mercê das feras, primeiro empoleirados nas árvores, mais tarde protegidos por arbustos espinhosos, saliências rochosas e muito dificilmente em grutas escuras e frias.

Por esta altura éramos muito poucos, algumas centenas de milhar de indivíduos em todo o mundo, extraordinariamente dispersos e com uma duração média de vida que não ultrapassaria os 20 ou 25 anos.

À volta de uma fogueira a vida social estruturou-se, os laços familiares estreitaram-se e o que seria o dia de amanhã ganhou mais consistência.

Domesticar o fogo terá sido, com certeza, um objectivo perseguido com grande determinação, muitas frustrações, dissabores e acidentes diversos à mistura.

Qualquer um de nós que tenha um fogão de sala ou uma lareira deveria ter um pensamento para esses nossos antepassados quando, nas noites de Inverno, acende a lareira recorrendo, com toda a facilidade, às acendalhas que comprou no supermercado e mesmo hoje no conforto das nossas casas é sentido como o crepitar das chamas da fogueira nos transmite bem-estar, tranquilidade, paz e intimidade.

Os restos mais antigos do que poderia ser uma lareira foram descobertos na gruta da Escale, em França, datados de há 750.000 anos, mas vestígios de lareiras realmente estruturados que sem qualquer espécie de restrições podem ser atribuídos ao homem, só a partir de há 500.000 anos na Europa ou ainda na Ásia e mais tarde nas regiões tropicais de África onde o frio causava menos problemas.

O homem que primeiro utilizou o fogo nós o denominamos de Herectus e essa utilização foi certamente muito anterior à descoberta da técnica para o produzir.

Primeiramente, seria simplesmente apanhado durante um acidente natural, um raio ou um vulcão e depois transportado, mantido e vigiado e não admira nada que se tivessem registado confrontos violentos entre quem o tinha, para o defender, e de quem o procurava, para o roubar.

Estas lareiras são caracterizadas pela presença de uma camada de cinzas, muitas vezes circunscrita por um muro baixo de pedras onde se encontraram fragmentos de ossos queimados que revelam que os nossos antepassados aprenderam a utilizar o fogo não só para se iluminarem, aquecer e defender das feras, como também para confeccionar os alimentos.

O domínio da técnica do fogo com consequências decisivas no processo evolutivo da nossa espécie é contemporâneo do aumento evidente do volume do cérebro que, por sua vez, acompanhou a evolução constante das técnicas utilizadas na confecção dos utensílios de pedra cada vez mais numerosos, eficazes e também mais elegantes, facto que pode traduzir um desejo novo de procura estética com uma nova cultura que se sobrepõe à simples técnica.

Aprender a fazer fogo resultou da observação ao perceberem que ele aumentava pelo aquecimento de galhos ou folhas secas o que lhes permitiu concluir que a chama poderia ser iniciada com temperaturas elevadas.

Desta forma, descobriram que o atrito entre dois paus de madeira aumentava a temperatura e produzia a chama que depois poderia ser activada com a ajuda de pequeninas palhas secas e um ligeiro sopro.


Mas eles observaram também que o choque entre duas pedras produzia faíscas e que se colocassem galhos ou folhas secas junto dessas faíscas conseguiam obter fogo.

Esta técnica veio até aos nossos dias com os isqueiros de pederneira de que ainda me lembro muito bem nas mãos dos velhos fumadores na aldeia dos meus avós.

Os nossos antepassados tinham tendência para adorarem tudo de que dependiam as suas vidas e o fogo, pela sua importância, era considerado sagrado e tributavam-lhe danças em sua homenagem.

Mais tarde, ao longo da história, os homens viriam a dançar por muitas outras coisas… mas a primeira dança, a que abriu caminho a todas as outras foi, sem dúvida, a do fogo considerado símbolo divino da vida.

Foram muitas as alterações que o domínio do fogo, e principalmente a sua utilização na confecção dos alimentos, trouxe para a evolução da nossa espécie:

- Ao deixar de comer carne crua sofremos mudanças ao nível dos maxilares e dos dentes, da forma do rosto e do aparelho digestivo que, por sua vez, provocaram alterações no aparelho vocal e o homem que era Herectus passou a ser Sapiens Sapiens:

- As cavernas passaram a ser iluminadas e podiam aquecer-se nas noites frias tornando a vida mais fácil e agradável;

- O fogo facilitou a vida em grupo e melhorou as relações de convivência das primeiras comunidades;

- Como conviviam mais passaram da fase dos gestos à fase da comunicação através de sons articulados e de palavras desenvolvendo a própria linguagem;

- Os instrumentos utilizados na caça e na pesca foram aperfeiçoados, começou a trabalhar a pontas das setas, endireitou as armas de arremesso, fabricou instrumentos para a guerra e começou a caçar mais e variados animais;

-Defendeu-se melhor das feras que os cercava diminuindo a mortalidade precoce e aumentando, por conseguinte, os níveis populacionais;

- Melhor alimentado, o organismo tornou-se mais forte no combate às doenças e por isso viveu mais anos.

Não mais qualquer outra técnica foi tão decisiva para o destino da humanidade como aquela que nos permitiu produzir e controlar o fogo porque, sem ela, pelo menos esta humanidade não existiria.

A sensação de bem-estar, conforto e intimidade eu a recolhi junto de um fogo, nas noites de inverno, sentado à chaminé, sentado naquelas pequenas cadeiras de palhinha, presença indispensável em todas as casas nas aldeias do interior do nosso país.  

Anedota

matemática




Um professor de Matemática quis pregar uma partida aos seus alunos e disse-lhes:


- Meninos, aqui vai um problema:

Um avião saiu de Amsterdão com uma velocidade de 800 km/h , à pressão de 1.004,5 milibares; a humidade relativa era de 66% e a temperatura 20,4 graus C.  A tripulação era composta por 5 pessoas, a capacidade era de 45 assentos para passageiros, a casa de banho estava ocupada e havia 5 hospedeiras (mas uma estava de folga).

A pergunta é... Quantos anos tenho eu?

Os alunos ficam assombrados. O silêncio é total.

Então o Joãozinho, lá no fundo da sala e sem levantar a mão, diz de pronto:


- 44 anos, professor!
O professor, muito surpreso, o olha e diz:

- Caramba, é certo. Eu tenho 44 anos. Mas como adivinhaste?

E o Joãozinho:


- Bem, eu deduzi, porque tenho um primo que é meio parvo, e ele tem 22 anos... 


Uma garota perguntou à mãe:

-Mãe, posso levar nossa cachorrinha para andar em volta do quarteirão? 

A mãe respondeu:

-Não, porque ela está no cio.

-O que é isso? - perguntou a menina.

-Vai perguntar ao pai,... ele está na garagem. 
A garota foi até à garagem e disse:

-Paizinho, posso levar a LulaBelle para dar uma volta ao quarteirão?

Eu pedi à mãe, mas ela disse que a cachorrinha está no cio,
então eu vim falar com você. 

Diz o pai:

-Traga a LulaBelle aqui.

Ele pegou num pano, embebeu-o em gasolina e esfregou debaixo do rabo da cachorrinha com o pano a fim de disfarçar o cheiro do cio, e disse:
-Tudo bem, pode ir, mas mantenha LulaBelle na coleira e só dê uma volta em torno do quarteirão.

A garota saiu e voltou poucos minutos depois sem a cachorrinha na coleira.

Surpreso, Pai perguntou:

- 'Onde está a LulaBelle?'

 Diz a garota:

-"Acabou a gasolina dela a metade do quarteirão, por isso tem um cachorro rebocando ela até nossa casa."

A mulata Balbina, resmungando, ajeitou-se no leito...
OS VELHOS

 MARINHEIROS


Episódio Nº 16









Não subiria mais uma ponte de comando, para ele tudo terminara, fizera uma promessa solene sobre o túmulo de Dorothy. Pela primeira e última vez mandara gravar no braço um nome de mulher. Suspendia a manga da camisa, mostrava a tatuagem: o nome de Dorothy e um coração.

Baixou a manga, voltou-se para a janela, de costas para os amigos. Tiveram a sensação de ouvir, um soluço estrangulado. Saíram juntos, em sussurrados boas-noites comovidos, Zequinha tomou a mão do comandante e apertou-a com calor e solidariedade. Cada um deles levava Dorothy consigo, sua busca de amor, sua imitação, a imagem inesquecível.

Sozinho, o comandante apagou as luzes da sala. Preferira ter matado Dorothy, não havê-la enterrado naquele porto sujo, e de febre. Bem podia tê-la desembarcado em terra mais civilizada, mas como pode terminar um amor assim ávido e total, senão com a morte?

 Andando pelo corredor, que uma réstia de lua iluminava, revia a inquieta e angustiada Dorothy, com seus pés descalços no tombadilho - aquele fora o grande momento! - os seios em oferenda a romper o decote da camisa, a boca sequiosa, o ventre de febre e uma brasa ardente.

Empurrou a porta do quarto da empregada, tomou Dorothy pela mão, e a mulata Balbina, resmungando, ajeitou-se no leito, fez para o comandante.


Onde o nosso narrador revela-se um tanto quanto salafrário.



Quem pode, neste mundo, escapar aos invejosos? Quanto mais se destaca um homem no conceito de seus concidadãos, quanto mais alta e respeitável sua posição, mais fácil alvo para a peçonha da inveja, contra ele se levantam, em vagalhões de infâmia, os oceanos da calúnia.

Nenhuma reputação, por mais ilibada, é inatingível, nenhuma glória, por mais pura, é intocável. Tenho a prova diante de mim: o Meritíssimo Dr. Alberto Siqueira honra e eleva Periperi ao habitar entre nós, com seus títulos, seu saber, seu peito engomado de camisa, sua fortuna.

Poderia, se quisesse, comprar casa na Pituba ou Itapoã, praias da moda, lá os grão - finos vivem e veraneiam. No entanto prefere nosso subúrbio, onde poucos são capazes de entender seus conceitos, sua prosa elevada, seus discursos com tantas palavras de dicionário...

Preferência da qual devíamos todos nos orgulhar, mantendo ante o Meritíssimo atitude de permanente agradecimento.
Em vez disso, o que ocorre? Falam o diabo dele. Não importam os pareceres publicados nas revistas especializadas, sentenças luminosas ditadas pelo Dr. Siqueira.

 Já tive ocasião de percorrer com os olhos vários números (encadernados em couro) da Revista dos Tribunais, onde peças jurídicas, devidas ao saber do Meritíssimo, ocupam páginas. Julgar esses pareceres e essas sentenças, não posso nem me atrevo, até aí não vai minha pretensão, metade das linhas são escritas em latim, a outra metade em caixa-alta.

Mas não afirmou outro jurista, ao comentar, no citado opúsculo, um parecer do nosso juiz, ser o Dr. Siqueira “um luminar da ciência do Direito”?

Pois bem: nem mesmo tais provas impressas, revistas de São Paulo e elogios federais, nada disso impede que gente como Telêmaco Dórea, um reles aposentado da Prefeitura Municipal, cheio de si porque publica uns - versos de pé-quebrado nos suplementos dos jornais da Bahia, diga não passar o Meritíssimo de “uma cavalgadura total, indómita burrice” (as expressões são do cretino do Dórea), a “maior nulidade do foro da Bahia em todas as épocas”.

Eis aí até onde pode ir a falta de respeito, a inveja a roer um homem... E o pior é que gente como Telêmaco Dórea encontra quem o ouça e aprove, quem carregue lenha para sua fogueira de misérias.
Todo um grupo de más-línguas corta na vida do juiz, no passado e no presente. Não se contentam com negar-lhe o valor evidente e aplaudido no sul do país, atacam sua honra de magistrado: venal, venalíssimo, segundo eles.

Contam uma história, não muito clara, de duas sentenças diferentes e opostas num mesmo caso, uma primeira contra as pretensões de grande firma exportadora do nosso comércio, outra posterior atendendo aos reclamos dos poderosos magnatas.

 Não vejo nada a criticar no fato se novos elementos, juntados aos autos, como explica o Meritíssimo, vieram modificar profundamente a questão, invertendo os termos do problema. 

Mas, segundo certa gentinha de Periperi, esses “novos elementos” resumiram-se numa bolada de 500 contos de réis, meio milhão de cruzeiros, adicionados à conta bancária do Dr. Siqueira e não aos autos do processo. 

quarta-feira, fevereiro 26, 2014

A minha Lisboa velhinha através do "amarelo" da Carris e ao som dolente da guitarra. A mim, move-me a saudade que começa a confundir-se com ternura, a outros a curiosidade de uma cidade antiga e típica com as suas sete colinas.

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E a rua se abre ao fundo do túnel...


LEONARDO FlAVIO _ FUISTE MIA UN VERANO

Como esquecer os cantores e as canções da minha geração, como?...

FODA-SE

por Milor Fernandes

(Há anos, passei aqui no Memórias Futuras este texto. Hoje apareceu-me outra vez e eu não lhe resisti...)




O nível de stress de uma pessoa é inversamente proporcional à quantidade de "foda-se!" que ela diz.
Existe algo mais libertário do que o conceito do "foda-se!"?

O "foda-se!" aumenta a minha auto-estima, torna-me uma pessoa melhor.

Reorganiza as coisas. Liberta-me.
 -  "Não quer sair comigo?! - então, foda-se!"
 - "Vai querer mesmo decidir essa merda sozinho(a)?! - então, foda-se!"

O direito ao "foda-se!" deveria estar assegurado na Constituição.
Os palavrões não nasceram por acaso. São recursos extremamente válidos e criativos para dotar o nosso vocabulário de expressões que traduzem com a maior fidelidade os nossos mais fortes e genuínos sentimentos. É o povo a fazer a sua língua. 

Como o Latim Vulgar, será esse Português Vulgar que vingará plenamente um dia: "Comó caralho", por exemplo. Que expressão traduz melhor a ideia de muita quantidade que "comó caralho"?

"Comó caralho" tende para o infinito, é quase uma expressão matemática.

 - A Via Láctea tem estrelas comó caralho!
 - O Sol está quente comó caralho!
 - O universo é antigo comó caralho!
 - Eu gosto do meu clube comó caralho!
 - O gajo é parvo comó caralho!

Entendes?

No género do "comó caralho", mas, no caso, expressando a mais absoluta negação, está o famoso "nem que te fodas!".

Nem o "Não, não e não!" e tão pouco o nada eficaz e já sem nenhuma credibilidade "Não, nem pensar!" o substituem.

O "nem que te fodas!" é irretorquível e liquida o assunto. Liberta-te, com a consciência tranquila, para outras actividades de maior interesse na tua vida.

Aquele filho pintelho de 17 anos atormenta-te pedindo o carro para ir surfar na praia? Não percas tempo nem paciência.

Solta logo um definitivo:

- "Huguinho, presta atenção, filho querido, nem que te fodas!".

O impertinente aprende logo a lição e vai para o Centro Comercial encontrar-se com os amigos, sem qualquer problema, e tu fechas os olhos e voltas a curtir o CD (...)

Há outros palavrões igualmente clássicos.

Pense na sonoridade de um "Puta que pariu!", ou o seu correlativo "Pu-ta-que-o-pa-riu!", falado assim, cadenciadamente, sílaba por sílaba.

Diante de uma notícia irritante, qualquer "puta-que-o-pariu!", dito
assim, põe-te outra vez nos eixos. Os teus neurónios têm o devido tempo e clima para se reorganizarem e encontrarem a atitude que te permitirá dar um merecido troco ou livrares-te de maiores dores de cabeça.

E o que dizer do nosso famoso "vai levar no cu!"? E a sua
maravilhosa e reforçadora derivação "vai levar no olho do cu!"?

Já imaginaste o bem que alguém faz a si próprio e aos seus quando, passado o limite do suportável, se dirige ao canalha de seu interlocutor e solta:

- "Chega! Vai levar no olho do cu!"?

Pronto, tu retomaste as rédeas da tua vida, a tua auto-estima. Desabotoas a camisa e sais à rua, vento batendo na face, olhar firme, cabeça erguida, um delicioso sorriso de vitória e renovado amor-íntimo nos lábios.

E seria tremendamente injusto não registar aqui a expressão de maior poder de definição do Português Vulgar: "Fodeu-se!". E a sua derivação, mais avassaladora ainda: -  "Já se fodeu!".

Conheces definição mais exacta, pungente e arrasadora para uma situação que atingiu o grau máximo imaginável de ameaçadora complicação?

Expressão, inclusivé, que uma vez proferida insere o seu autor num providencial contexto interior de alerta e auto-defesa. Algo assim como quando estás sem documentos do carro, sem carta de condução e ouves uma sirene de polícia atrás de ti a mandar-te parar. O que dizes? -  "Já me fodi!"

Ou quando te apercebes que és de um país em que quase nada funciona, o desemprego não baixa, os impostos são altos, a saúde, a educação e … a justiça são de baixa qualidade, os empresários são de pouca qualidade e procuram o lucro fácil e em pouco tempo, as reformas têm que baixar, o tempo para a desejada reforma tem que aumentar … tu pensas -  “Já me fodi!”

Então:

Liberdade,
Igualdade,
Fraternidade
e
foda-se!!!

Mas não desespere:
Este país … ainda vai ser “um país do caralho!”

Atente no que lhe digo!

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