Memórias Futuras
Olhar o futuro pelo espelho retrovisor da história. Qual história? Que futuro?
sábado, março 08, 2014
MARISA MONTE & CESÁRIA ÉVORA - É DOCE MORRER NO MAR
Cesária Évora faleceu mas a sua voz grave e as suas mornas ficarão para sempre connosco.
Hoje salvei 1.600 pessoas. Três vezes. |
DIÁRIO DE UMA MULHER
FIEL NUM CRUZEIRO
Querido Diário... 1º Dia:
Já estou preparada para fazer este maravilhoso Cruzeiro, presente do meu marido... Vim sozinha e trouxe na mala as minhas melhores roupas! Estou excitada!
Querido Diário... 2º Dia:
Foi lindo, vi alguns golfinhos e baleias! Que viagem maravilhosa estou a começar a gostar...! Hoje encontrei-me com o Capitão, que por sinal é um belo homem!
Querido diário... 3º Dia:
Hoje estive na piscina. Fiz também um pouco de jogging e joguei mini-golfe. O Capitão convidou-me para jantar na sua mesa. Foi uma honra e a noite foi maravilhosa. Ele é um homem muito atraente e culto.
Querido diário... 4º Dia:
Fui ao Casino do navio! Tive muita sorte, pois ganhei. O capitão convidou-me para jantar com ele no seu camarote. A ceia foi luxuosa com caviar e champanhe. Depois de comermos ele perguntou se eu ficaria no seu camarote, mas recusei o convite. Disse-lhe que não queria ser infiel ao meu marido.
Querido diário... 5º Dia:
Hoje voltei à piscina para me bronzear um pouco. Depois, decidi ir ao Piano Bar e passar ali a tarde. O Capitão viu-me e convidou-me para tomar um aperitivo. Realmente ele é um homem encantador.
Perguntou-me de novo se eu queria visitá-lo no seu camarote naquela noite. E eu lhe disse que não, que era casada! Então ele disse que se eu continuasse a responder não, que iria afundar o navio!
Fiquei aterrorizada!
Querido diário... 6º Dia:
Hoje salvei 1600 pessoas... Três vezes!!!
O valor das
mães...
(leitura obrigatória para os filhos.)
Um
jovem de nível académico excelente, candidatou-se à posição de gerente de uma
grande empresa.
Passou a primeira entrevista e o director fez-lhe a
última, tomando a última decisão.
O director descobriu, através do
currículo, que as suas realizações académicas eram excelentes em todo o
percurso, desde o secundário até à pesquisa da pós-graduação e não havia um só
ano em que não tivesse sido classificado com a nota máxima.
O director
perguntou: "Teve alguma bolsa na escola?"
O jovem respondeu:
"Nenhuma".
— Foi o seu pai quem pagou as suas
propinas?
—
O meu pai faleceu quando eu tinha apenas um ano, foi a minha mãe quem pagou as
mensalidades.
— Onde trabalha a sua mãe?
—
A minha mãe lava roupa.
O director pediu que o jovem lhe mostrasse as
mãos. O jovem mostrou as suas mãos macias e perfeitas.
— Alguma vez
ajudou a sua mãe a lavar roupa?
—
Nunca, a minha mãe sempre quis que eu estudasse e lesse mais livros.
Além
disso, a minha mãe lava a roupa mais depressa do que eu.
— Eu tenho um
pedido. Hoje, quando voltar para casa, lave as mãos da sua mãe e depois venha
ver-me amanhã de manhã.
O jovem sentiu que a hipótese de obter o emprego
era alta. Quando chegou a casa pediu, feliz, à mãe que o deixasse limpar as suas
mãos.
A mãe achou estranho, estava feliz, mas com um misto de sentimentos e
mostrou as mãos ao filho.
O jovem limpou lentamente as mãos da mãe. Uma
lágrima escorreu-lhe enquanto o fazia.
Era a primeira vez que reparava que as
mãos da mãe estavam muito enrugadas e que tinham demasiadas
contusões.
Algumas eram tão dolorosas que a mãe se queixava quando lhas
limpava com a água.
Esta era a primeira vez que o jovem percebia que
estas mãos que lavavam roupa todos os dias lhe tinham pago as propinas.
As
contusões nas mãos da mãe eram o preço a pagar pela sua graduação, aexcelência
académica e o seu futuro.
Após acabar de limpar as mãos da mãe, o jovem
silenciosamente lavou as restantes roupas por ela.
Nessa noite mãe e
filho falaram por bastante tempo.
Na manhã seguinte o jovem foi ao
gabinete do director.
O director percebeu as lágrimas nos olhos do jovem
e perguntou: "Diga-me, o que fez e que aprendeu ontem em sua casa?"
— Eu
lavei as mãos da minha mãe e ainda acabei de lavar a roupa que faltava.
—
Por favor, diga-me o que sentiu.
— Primeiro, agora sei o que é dar valor.
Sem a minha mãe não haveria um eu com êxito hoje.
Segundo, ao trabalhar e
ajudar a minha mãe, só agora percebi a dificuldade e a dureza que é ter algo
pronto.
Em terceiro, agora aprecio a importância e o valor de uma relação
familiar.
— Isso é o que eu procuro num gerente. Quero recrutar alguém
que saiba apreciar a ajuda dos outros,
uma pessoa que conheça o sofrimento
dos outros para terem as coisas feitas e
uma pessoa que não coloque o
dinheiro como o seu único objectivo na vida. Está contratado.
Desde aí, o
jovem trabalhou arduamente e recebeu o respeito dos seus subordinados.
Todos
os empregados trabalhavam diligentemente e em equipa. O desempenho da empresa
melhorou tremendamente.
Uma
criança que seja protegida e que habitualmente tenha tudo o que quiser se
desenvolverá mentalmente e sempre se colocará em primeiro. Ignorarará os
esforços dos seus pais e quando começar a trabalhar assumirá que todas as
pessoas devem ouvi-la, e se se tornar gerente nunca saberá o sofrimento dos seus
empregados e sempre culpará os outros.
Para este tipo de pessoas, que podem
ser boas academicamente, podem ser bem sucedidas por um tempo, mas que
eventualmente não sintam a sensação de objetivo atingido, sempre irão resmungar,
estar cheios de ódio e lutar por mais.
Se formos esse tipo de pais,
estaremos realmente a mostrar amor ou a destruir o nosso filho?
Pode
deixar o seu filho viver numa grande casa, comer boas refeições, aprender piano
e ver televisão numa grande TV-plasma.
Mas quando for cortar a relva, por
favor, deixe-o experimentar isso. Depois da refeição, deixe-o lavar o seu prato
juntamente consigo ou com os irmãos. Deixe-o guardar os brinquedos e fazer a
cama.
Isto não é por não ter dinheiro para contratar uma empregada, mas por querer amá-lo e ensiná-lo como deve de ser.
Quer que ele entenda que não
interessa se os pais são ricos ou não, pois um dia ele irá envelhecer, tal como
a mãe daquele jovem.
A coisa mais importante que os seus filhos devem entender é a apreciar o esforço e experiência da dificuldade e aprendizagem da habilidade de trabalhar com os outros para fazer as coisas. |
(Escritora portuguesa)
Lídia Jorge, autora da Costa dos
Murmúrios, romance que retrata uma fase da vida de muitos portugueses que
estiveram em África e combateram na guerra colonial como oficiais do exército
acompanhados das esposas, jovens senhoras expostas a uma realidade distorcida
como era distorcido tudo o que então se passava nas colónias portuguesas.
A propósito do lançamento de um novo
livro, Os Memoráveis, em que ela procura recuperar o 25 de Abril, agora que
sobre ele vão passar 40 anos, afastados que estamos das suas esperanças e dos
seus ideais, Lídia Jorge deu uma entrevista à Revista Visão.
Nessa entrevista, ela recorda que no dia
25 de Abril de 1974 estava na cidade da Beira, em Moçambique, vivendo no meio
militar.
Alguns anos mais velho que ela, nessa
data, eu já trabalhava como funcionário público, também na cidade da Beira para
onde tinha ido a meu pedido, por motivos familiares.
Acredito que tenhamos sabido, nessa
manhã, da notícia do 25 de Abril com minutos de diferença e nada me diz que ela
não se tivesse deslocado à Praça do Município para comemorar com outros
democratas contrários à política do governo Salazar/Marcelo Caetano dando vivas
à liberdade e à revolução.
A minha alegria, nesse dia, nessa manhã,
era uma alegria interior que tinha a ver com anseios, com sentido de justiça,
com a liberdade e a dignidade a que todas as pessoas e todos os povos tinham
legítimo direito e que eu sempre senti dentro de mim.
Era uma alegria, estou certo, em tudo
igual àquela que sentia Lídia Jorge nesses momentos já velhos de tantos anos
mas eu estaria mais apreensivo, calculo.
Trabalhando directamente com a
comunidade portuguesa, alguma dela ali radicada há muito tempo, temi por ela e
mesmo sendo um homem de esperança, subestimei o risco porque iriam passar.
O 25 de Abril, em Moçambique, não
obstante a afirmada linha política da Frelimo distinguir entre portugueses e
colonialistas, na prática a confusão ia-se estabelecer.
No fundo, naquela manhã de 25 de Abril
do ano de 1974, Portugal e Moçambique preparavam-se, por força de um passado
criminoso que deixou os portugueses laborarem em erros terríveis como o de
pensarem que ali era a terra deles, uma Província de Portugal, seguir caminhos
diferentes, não de uma separação amigável mas de um divórcio litigioso em que
amigos meus pegaram em armas para combaterem o exército da Frelimo, já governo
de Moçambique, ao lado dos soldados da vizinha Rodésia do Norte.
Lídia Jorge pensava, com o seu sentido
de justiça, no desejo das populações moçambicanas serem autónomas mas, como ela
reconhece nessa entrevista, o futuro tinha sido morto por muitos anos porque o
futuro prepara-se e o regime de Salazar/Caetano, na tentativa de sobreviver,
matou o futuro das gerações que lhes seguiram aqui ,
em Moçambique e em Angola.
Chico Pacheco negou-se a fazer parte do grupo. |
OS VELHOS
MARINHEIROS
Episódio Nº 24
Matava mesmo. Chico Pacheco sentia dores no fígado, comprava mais um cacife de cinco mil-réis.
Aquela memorável mesa de poker iniciou um novo hábito em Periperi: às qui ntas-feiras, à noite, reuniam-se, em casa de
Vasco, para uma disputada partida, o velho José Paulo, Augusto Ramos e
Leminhos, além dos inevitáveis “perus”.
Zequi nha
Curvelo começou a penetrar os segredos do jogo, um marinheiro tem a obrigação
de conhecer e amar o poker.
Chico Pacheco negou-se a fazer parte do grupo. Não punha os pés na casa
do comandante (comandante na puta-que-o-pariu!).
Das festas de São João, com licor,
canjica e tubarões ou o invejoso derrotado.
Junho chegara com seu cortejo de chuvas a encharcar as ruas arenosas e
com as espigas de milho amontoadas nas cozinhas para os manuês, as canjicas, as
pamonhas. Mês da gula, quando os aposentados e retirados dos negócios
abandonavam as dietas, emborcavam cálices de licor de jenipapo, enterravam-se
nos pratos saborosos.
Pagariam esses excessos, obrigados vários deles a cortar o sal ou o
açúcar, com o agravamento das mazelas diversas, dos diabetes ao reumatismo. Em
muitas casas rezavam-se as trezenas de Santo Antônio, primeiro as orações
cantadas ante o altar improvisado do santo casamenteiro, depois as dancinhas ao
som de harmónica.
Na praça elevava-se o alto poste com a bandeira de São João,
preparavam-se as fogueiras para a noite santa. No fim do mês, viúvas e viúvos
festejariam São Pedro, seu padroeiro. Um mês inteiro de festas, as crianças a
soltarem traques e busca-pés, namoros nas trezenas, moças curvadas sobre
mágicas bacias de água para nelas enxergar o rosto do futuro noivo.
E a escolha do padrinho da festa
de São Pedro, honra cobiçada por todos os habitantes masculinos.
Festa de São João, em verdade, havia em cada casa, pois mesmo nas mais
pobres abria-se uma garrafa de licor de jenipapo e oferecia-se um pedaço de
canjica, de bolinho de milho ou de puba, de cuscuz de tapioca, delicada pamonha
envolta em palha.
Mas tratava-se da festa na praça, com diversões para os meninos pobres,
filhos de pescadores e operários da Lesfe, alunos do Grupo Escolar. Vinha o
Padre Justo, de Plataforma, rezava missa pela manhã na pequena igreja, almoçava
na casa de um dos importantes, assistia aos folguedos à tarde.
À noite
acendiam-se as fogueiras, nelas assavam-se milho e batata-doce, as faíscas
crepitavam no ar, balões subiam ao céu, crescia o número infinito das estrelas.
Essa história do padrinho da festa obrigava o Padre Justo a extremos de
diplomacia. Aliás, sua batina escondia a casaca de um diplomata, sabia
convencer os mais recalcitrantes, aparava susceptibilidades, tomava café com
um, almoçava com outro, merendava com um terceiro, servia-se de licor e canjica
em dezenas de casas, voltava para Plataforma em paz com seus fiéis de Periperi
e com uma mortal indigestão.
Os candidatos a padrinho eram muitos, cada ano. Todos sentiam-se com
direito a presidir a festa da tarde, quando os meninos disputavam as corridas
do saco e do ovo e escalavam o escorregadio pau-de-sebo com uma nota de cinco
mil-réis na ponta.
Havia alguma despesa a fazer, mas era desprezível se comparada à
distinção de sentar-se ao lado do reverendo, na praça, e escutar o discurso
elogioso de um aluno do Grupo Escolar, discurso escrito pela professora e
decorado pelo orador à custa de ameaças, esforço e palmatória.
Ainda em Abril começava o Padre Justo, em seu presbitério em
Plataforma, a receber insinuações, recados e visitas dos candidatos e de seus
familiares. Velas eram oferecidas à igreja, havia até quem mandasse rezar
missa.
Os mais antigos moradores, quase todos, já tinham sido distinguidos com
a suprema dignidade anual de Periperi. O velho José Paulo a merecera três
vezes, actualmente nem se candidatava, evitando despesas supérfluas.
Adriano Meira, Augusto Ramos,
Rui Pessoa haviam sido escolhidos anteriormente. Até Leminhos, habitante
relativamente novo do lugar, aposentado aos quarenta e cinco anos por motivo de
saúde, já fora padrinho da festa.
sexta-feira, março 07, 2014
Alexandre O' Neill |
Os Domingos de Lisboa
(Alexandre O' Neill)
Os domingos de Lisboa são domingos
Terríveis de passar - e eu que o diga!
De manhã vais à missa a S. Domingos
E à tarde apanhamos alguns pingos
De chuva ou coçamos a barriga.
Terríveis de passar - e eu que o diga!
De manhã vais à missa a S. Domingos
E à tarde apanhamos alguns pingos
De chuva ou coçamos a barriga.
As palavras cruzadas, o cinema ou a apa,
E o dia fecha-se com um último arroto.
Mais uma hora ou duas e a noite está
Passada, e agarrada a mim como uma lapa,
Tu levas-me p'ra a cama, onde chego já morto.
E o dia fecha-se com um último arroto.
Mais uma hora ou duas e a noite está
Passada, e agarrada a mim como uma lapa,
Tu levas-me p'ra a cama, onde chego já morto.
E então começam as tuas exigências, as piores!
Quer's por força que eu siga os teus caprichos!
Que diabo! Nem de nós mesmos seremos já senhores?
Estaremos como o ouro nas casas de penhores
Ou no Jardim Zoológico, irracionais, os bichos?
Quer's por força que eu siga os teus caprichos!
Que diabo! Nem de nós mesmos seremos já senhores?
Estaremos como o ouro nas casas de penhores
Ou no Jardim Zoológico, irracionais, os bichos?
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Mas serás tu a minha «querida esposa»,
Aquela que se me ofereceu menina?
Oh! Guarda os teus beijos de aranha venenosa!
Fecha-me esse olho branco que me goza
E deixa-me sonhar como um prédio em ruína!...
Aquela que se me ofereceu menina?
Oh! Guarda os teus beijos de aranha venenosa!
Fecha-me esse olho branco que me goza
E deixa-me sonhar como um prédio em ruína!...
Um Quociente apaixonou-se
Doidamente
Por uma Incógnita.
Olhou-a com seu olhar inumerável
E viu-a, do Ápice à Base...
Uma Figura Ímpar;
Olhos rombóides, boca trapezóide,
Corpo ortogonal, seios esferóides.
Fez da sua
Uma vida
Paralela à dela.
Até que se encontraram
No Infinito.
"Quem és tu?" indagou ele
Com ânsia radical.
"Sou a soma do quadrado dos catetos.
Mas pode chamar-me Hipotenusa."
E de falarem descobriram que eram
O que, em aritmética, corresponde
A alma irmãs
Primos-entre-si.
E assim se amaram
Ao quadrado da velocidade da luz.
Numa sexta potenciação
Traçando
Ao sabor do momento
E da paixão
Rectas, curvas, círculos e linhas sinusoidais.
Escandalizaram os ortodoxos
das fórmulas euclidianas
E os exegetas do Universo Finito.
Romperam convenções newtonianas
e pitagóricas.
E, enfim, resolveram casar-se.
Constituir um lar.
Mais que um lar.
Uma Perpendicular.
Convidaram para padrinhos
O Poliedro e a Bissetriz.
E fizeram planos, equações e
diagramas para o futuro
Sonhando com uma felicidade
Integral
E diferencial.
E casaram-se e tiveram
uma secante e três cones
Muito engraçadinhos.
E foram felizes
Até àquele dia
Em que tudo, afinal,
se torna monotonia.
Foi então que surgiu
O Máximo Divisor Comum...
Frequentador de Círculos Concêntricos.
Viciosos.
Ofereceu-lhe, a ela,
Uma Grandeza Absoluta,
E reduziu-a a um Denominador Comum.
Ele, Quociente, percebeu
Que com ela não formava mais Um Todo.
Uma Unidade.
Era o Triângulo,
chamado amoroso.
E desse problema ela era a fracção
Mais ordinária.
Mas foi então que Einstein descobriu a
Relatividade.
E tudo que era espúrio passou a ser
Moralidade
Como aliás,em
qualquer
Sociedade.
Doidamente
Por uma Incógnita.
Olhou-a com seu olhar inumerável
E viu-a, do Ápice à Base...
Uma Figura Ímpar;
Olhos rombóides, boca trapezóide,
Corpo ortogonal, seios esferóides.
Fez da sua
Uma vida
Paralela à dela.
Até que se encontraram
No Infinito.
"Quem és tu?" indagou ele
Com ânsia radical.
"Sou a soma do quadrado dos catetos.
Mas pode chamar-me Hipotenusa."
E de falarem descobriram que eram
O que, em aritmética, corresponde
A alma irmãs
Primos-entre-si.
E assim se amaram
Ao quadrado da velocidade da luz.
Numa sexta potenciação
Traçando
Ao sabor do momento
E da paixão
Rectas, curvas, círculos e linhas sinusoidais.
Escandalizaram os ortodoxos
das fórmulas euclidianas
E os exegetas do Universo Finito.
Romperam convenções newtonianas
e pitagóricas.
E, enfim, resolveram casar-se.
Constituir um lar.
Mais que um lar.
Uma Perpendicular.
Convidaram para padrinhos
O Poliedro e a Bissetriz.
E fizeram planos, equações e
diagramas para o futuro
Sonhando com uma felicidade
Integral
E diferencial.
E casaram-se e tiveram
uma secante e três cones
Muito engraçadinhos.
E foram felizes
Até àquele dia
Em que tudo, afinal,
se torna monotonia.
Foi então que surgiu
O Máximo Divisor Comum...
Frequentador de Círculos Concêntricos.
Viciosos.
Ofereceu-lhe, a ela,
Uma Grandeza Absoluta,
E reduziu-a a um Denominador Comum.
Ele, Quociente, percebeu
Que com ela não formava mais Um Todo.
Uma Unidade.
Era o Triângulo,
chamado amoroso.
E desse problema ela era a fracção
Mais ordinária.
Mas foi então que Einstein descobriu a
Relatividade.
E tudo que era espúrio passou a ser
Moralidade
Como aliás,
Sociedade.
A cadlinha do 5º andar era assim como esta... |
A Cadelinha
do 5º Dto
Na vida, as recordações somam-se aos
anos e na manhã daquele mês de Outubro, à mesa do meu Café, lembrei-me da vizinha
do 5º Andar Dto.
Num
dia, igual a tantos outros, quando saía para tomar o meu café matinal com a
meia torradinha barrada com azeite de um lagar próximo da aldeia dos meus avós, lá
estava, colado ao vidro da porta do prédio, aquele papel das Agências Funerárias
com a cruz negra, bem visível, a anunciar a morte de um dos moradores.
Era a minha vizinha do 5º Dto com quem
me cruzava frequentemente quando ela levava pela trela, para o passeio
higiénico, a cadelinha que mais parecia uma bolinha de carne em cima de quatro
patinhas. Diga-se, por ser verdade, que ela a levava-a para todo o lado, eram
inseparáveis, nunca vi uma sem a outra.
- «Os meus sentimentos…» disse eu ao
viúvo na primeira oportunidade. «É a vida…» acrescentei sem jeito nem
imaginação.
- «Obrigado, meu vizinho, felizmente foi
tão rápido que nem chegámos a saber do que morreu… fechou os olhos
simplesmente….» – disse ele.
Era assim a minha vizinha, despachada a
viver, despachada a morrer, num dia cheia de vida no outro sem ela. Às vezes,
encontrava-a no Café que ficava junto da mercearia da nossa rua, e que em
tempos fora dela.
Meia sentada na cadeira como se estivesse sempre preste a
levantar-se de partida para qualquer lado, pouco habituada às pausas para descanso, lá estava ela com a
cadelinha deitada aos seus pés como se fosse um acrescento seu.
Não era pessoa para grandes conversas,
quando falava era em monólogos, bem sonantes, sem cuidar de quem a escutava. Eram desabafos que não aceitavam contraditório, mais pareciam sentenças porque quem sabia da vida era
ela, mulher de trabalho que tinha criado e educado uma filha e servido não sei
quantos senhores e senhoras por esse mundo fora: País de Gales, Londres, EUA, ... trabalhando a sério, no duro, cumprindo ordens, satisfazendo e aturando
caprichos de gente rica, em suma, dobrando a espinha, e a alma.
- «…Não, não era
como agora em que os jovens só querem é gozar».
Talvez por isso, aos oitenta anos, o
orgulho de uma vida de trabalho não chegou para lhe adoçar a velhice tantas são
as palavras de crítica azeda com que se refere ao presente.
A minha vizinha do 5º Dtº morreu em paz,
tudo o que em consciência devia ter feito na vida ela fez e por isso, quando
chegou a hora, nem um ai ou um simples adeus, simplesmente fechou os olhos, a
missão estava cumprida, tinha chegado ao fim.
Vi o meu vizinho uns dias mais tarde com
a cadelinha pela trela e os meus olhos abriram-se de espanto. O animal estava
pela metade.
- «Então, vizinho, que aconteceu à cadelinha
que nem parece a mesma?»
- «Ia morrendo de desgosto, meu vizinho, durante
uma semana recusou-se a ingerir fosse o que fosse para além de água. Tive que a
levar ao veterinário… agora já está melhorzinha.»
Não fora o apoio do viúvo em carinho e a
intervenção do médico veterinário e a “Princesa”, não teria sobrevivido à sua
dona, tal a dedicação que lhe devotava.
Com toda a sinceridade, não nutro pelos
animais domésticos o mesmo “respeito” e “admiração” que sinto pelos animais
selvagens, por questões de origem, proveniência… compreendem?
Uns, são o resultado do processo
evolutivo: estão cá porque mereceram cá estar. São vencedores, campeões,
enfrentaram os desafios da natureza e resistiram, adaptaram-se, as suas
estratégias de sobrevivência mostraram-se ganhadoras, muitos deles não sabemos
até quando… por nossa causa.
Os outros… bem, os outros, são o
resultado de negócios vantajosos de interesses recíprocos, digamos assim. O homem precisou deles,
serviram as nossas estratégias de sobrevivência, mais tarde os nossos caprichos,
por isso, são da nossa responsabilidade, não da responsabilidade da natureza.
Mas aqui abro duas excepções:
-
A primeira, para o cavalo. Há 5.500 anos entrou na nossa vida e revolucionou-a
por completo tornando o mundo mais pequeno. Para o bem e para o mal
aproximou-nos uns dos outros, a história ganhou outra dinâmica, ele foi o avião
desses tempos no que respeita a encurtar distâncias.
Há
30.000 anos as suas imagens preencheram as paredes das grutas no tempo do Homem
do Paleolítico, no Sul da Europa, fazendo parte do seu imaginário. As suas
formas esbeltas, harmoniosas, as crinas ondulando ao vento em galopes
libertadores seduziram os nossos antepassados.
É
certo que também o caçavam para a alimentação mas o grau de participação na dieta
dos nossos antepassados não justificava tantas reproduções de que foi alvo
pelos artistas de então o que significa que já por essa época gostávamos mais
de os ver do que de os comer…
-
A segunda excepção é recente, conheci-a agora: é a “Princesa”, actual herdeira
de um lobo que há mais de 40.000 anos escolheu um acampamento humano para
futuro da sua alcateia de tal forma que o percurso de uma linhagem de lobos e
humanos se fundiram numa relação de amor em que a cadelinha do 5º andar, que
tive a sorte de conhecer, se dispôs a morrer incapaz de suportar a dor da
saudade da sua amiga humana inseparável.
Inveja mata, seu Chico Pacheco... |
OS VELHOS
MARINHEIROS
Episódio Nº 23
Voltou-lhe as costas Vasco, saiu apressado, Chico concluiu:
- Esse cara nunca viu poker na vida
dele. Jogando num barco de salvamento, onde já se viu? Esse sujeitinho pensa
que a gente é mesmo idiota... É cada mentira e uma em cima da outra...
- Mentira?!
- Ora, seu Leminhos, então vosmicê não
vê logo? Basta apertar um pouco e ele arreia as calças... Não viu agora, com
essa história de poker? Jogando os biscoitos, os goles dágua... Arranjo os
baralhos, os parceiros, e o tipo escapa-se... Só porque o baralho está um pouco
usado, desculpa esfarrapada.
Qual o marinheiro, o mais vagabundo, que
não traça seu pokerzinho?
Zequi nha
desembarcava do iceberg, ainda tiritante, vinha em defesa de seu ídolo:
- Quem lhe disse que ele não sabe? Ele
lhe disse isso?
- Lá vem vosmicê com sua adulação pelo
homenzinho . . .
- Adulação, vírgula. Mas não tenho
inveja...
- E quem tem? Inveja de quê?
- Calma, senhores ... - interrompeu o Marreco.
- Que é isso? Dois amigos velhos a discutir sem motivo.
- Não admito que se duvide da palavra de
um homem honrado . . .
- Duvido é do poker dele.. .
- A verdade é que ele sumiu... -
constatou Rui Pessoa. Mas já regressava Vasco trazendo dois baralhos e uma
caixa de fichas. Novos e formosos, cartas enceradas, brilhantes, com a
fotografia de um transatlântico estampada nas costas, a fumaça azul a evolar-se
do bueiro, aqueles, sim, eram baralhos. Passavam as cartas de mão em mão.
Não se reduziu a esse detalhe a derrota
de Chico Pacheco naquela tarde. Bom jogador de poker, mas nervoso e irritadiço,
com propensões ao blefe a cada momento, não era parceiro à altura de Vasco
Moscoso de Aragão, de contagiante bom humor, jogando com conhecimento, segurança
e termos náuticos.
Sabendo quando ir e quando fugir do jogo,
sabendo blefar na hora exacta, apreendendo com rapidez os cacoetes de cada
parceiro. Chico Pacheco podia negar-lhe tudo, menos a perícia no poker.
Era um mestre.
Zequi nha
Curvelo seguia a partida, numa cadeira ao lado. Longe desaparecia o iceberg
derretendo-se ao calor do sul, agora o pulso forte e o olho preciso de Vasco
comprovavam-se na mesa de jogo.
De quando em vez Zequi nha
lançava um olhar superior ao injustiçado ex-fiscal do consumo. E, quando Vasco,
com um simples par de damas, foi ver uma alta aposta de Chico Pacheco, dinheiro
posto fora num mísero par de setes, Zequi nha
não resistiu:
- Inveja mata, seu Chico Pacheco.
quinta-feira, março 06, 2014
NEIL DIAMOND - I Am I Said
Estas vozes aparecem poucas vezes em cada geração... o ritmo e a melodia com o seu romantismo próprio, encantaram-me definitivamente. Acredito que um jovem de hoje, possa não gostar tanto como aqueles que, como eu, foram da geração do Neil Diamont e agora são carecas e barrigudos... Enquanto formos vivos vamos-nos deliciando com o I Am I Said...
"Lara", a Eva Negra, mãe de toda a humanidade. |
A EVA NEGRA
Todos nós nos apercebemos que aquela história do Adão e Eva que nos foi impingida ao longo dos séculos não passou de um truque muito baixo por parte dos homens para subjugarem e humilharem as mulheres.
Eles eram os mais fortes, tinham a força, as armas, os exércitos e não precisavam de mais nada para exercerem esse domínio... mas sempre foram precisas justificações, as mais estapafúrdias, para justificar as injustiças.
Castigar as mulheres por terem desobedecido a Deus e comido a maçã, fonte da sabedoria, quando eles estavam tão bem vivendo no paraíso constituiu o pecado original a merecer punição eterna...
Expulsos, o homem teve que suportar também o castigo que, em boa verdade, só pertencia à mulher pecadora...
E, no entanto, ao longo de todo o paleolítico ela tinha sido a companheira respeitada, responsável, com a ajuda dos filhos, por mais de 60% dos alimentos trazidos para os acampamentos.
Então, não havia religiões. O xamã, que tanto podia ser homem como mulher, intercedia junto dos vários poderes da natureza, com as suas magias e rituais.
Mas há, contudo, algo de verdadeiro na história da Eva como mãe de toda a humanidade.
A genética ensinou-nos que os seres humanos modernos não
nasceram em nenhum paraíso bíblico com árvores proibidas e serpentes
tentadoras. Em vez disso, nascemos em África há cerca de 150.000 anos depois de
uma evolução de outras centenas de milhares de anos a partir de humanos mais
primitivos que, por sua vez, evoluíram durante milhões de anos de hominídeos
primitivos que, por sua vez, evoluíram de primatas…
Num determinado momento, há cerca de
100.000 anos, aqueles primeiros humanos modernos, que não foram expulsos de
nenhum paraíso, encetaram, em busca de alimento e também pela aventura, a
primeira migração fora de África (antepassados seus, não humanos modernos, já o
teriam feito em épocas mais remotas).
Foram para a Europa e para a Ásia e
milhares de anos depois cruzaram as estepes geladas do norte do planeta para
povoar a América.
As investigações genéticas baseadas
no ADN mitocondrial – presente em todas as células do nosso corpo e apenas
herdadas das nossas mães – indicam que naquela primeira migração da humanidade
só participou um dos 13 clãs humanos que povoaram originariamente o continente
africano. Aquele único clã de aventureiros e aventureiras era constituído por
um número muito pequeno de homens e de mulheres e alguns cientistas chamam-lhe
o “Clã de Lara” e consideram que descendemos todos de uma
única mulher que, poeticamente, baptizaram de “Lara”. Esta mulher negra é a
verdadeira Eva da Humanidade.
Esta teoria, denominada de Eva Negra
ou Eva Mitocondrial está explicada de uma maneira ampla e bela pelo geneticista
britânico Bryan Sykes (Prof. de Genética da Universidade de Oxford e que
publicou a sua 1ª pesqui sa sobre ADN
de restos arqueológicos no Jornal Nature em 1989) num livro que estuda as
origens da humanidade intitulado: “As Sete Filhas de Eva” (Editorial Debate,
2001).
Temos África no Nosso Sangue
Como Bryan Sykes, outro geneticista de Oxford, Richard Dawkins fala assim do nosso
berço africano:
Temos
a África no nosso sangue, África tem os nossos ossos, todos somos africanos.
Isto faz com que o
ecossistema de África seja objecto de um singular fascínio. Trata-se da
comunidade que nos moldou, a comunidade de animais e plantas na qual realizamos
a nossa aprendizagem ecológica. Mas, mesmo que não fosse ele o nosso continente
de origem, África cativar-nos-ia por ser o último grande refúgio de ecologias
pleistocénicas (compreendidas ente 1.806.000 e 11.500 anos atrás,
aproximadamente.)
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os Dez
Mandamentos...
Deus perguntou aos Gregos:
- Vocês querem um mandamento?
- Qual seria o mandamento,
Senhor?
- Não matarás!
- Não obrigado. Isso interromperia as nossas
conquistas.
Então, Deus perguntou aos Egípcios:
- Vocês querem um
mandamento?
- Qual seria o mandamento, Senhor?
- Não cometerás
adultério!
- Não obrigado. Isso arruinaria os nossos
fins-de-semana.
Chateado, mas não derrotado, Deus perguntou aos
Assírios:
- Vocês querem um mandamento?
- Qual seria o mandamento,
Senhor?
- Não roubarás!
- Não obrigado. Isso arruinaria a nossa
economia.
Deus, enfim , perguntou aos Judeus:
- Vocês querem um
mandamento?
- Quanto custa?
- É de graça.
- Então manda
DEZ!