Memórias Futuras
Olhar o futuro pelo espelho retrovisor da história. Qual história? Que futuro?
sábado, julho 19, 2014
Que música escutas tão atentamente
Que não dás por mim?
Que bosque, ou rio, ou mar?
Ou é dentro de ti
Que tudo canta ainda?
Queria falar contigo,
Dizer-te apenas que estou aqui,
Mas tenho medo,
Medo que toda a música cesse
E tu não possas mais olhar as rosas.
Deixa-te estar assim,
Ó cheia de doçura,
Sentada, olhando as rosas,
E tão alheia
Que nem dás por mim…
Medo de quebrar o fio
Com que teces os dias sem memória.
Com que palavras, beijos
Ou lágrimas
Se acordam os mortos sem os ferir,
Sem os trazer a esta espuma negra
Onde corpos e corpos se repetem,
Parcimoniosamente
No meio de sombras
Eugénio de Andrade
O Monoteísmo
(Richard Dawkins)
Um deus tirano, feroz e ciumento de quaisquer outros deuses, impôs-se a um povo que há 3.500 anos vivia no deserto e iniciou o Monoteísmo.
Esse deus chamava-se Jeová e o povo era o Judeu.
Gore Vidal, romancista e ensaísta norte-americano que viveu muitos anos em Itália, com vários livros traduzidos em português, escreveu a propósito do Monoteísmo:
«O grande mal indizível no centro da nossa cultura é o monoteísmo. A partir de um texto bárbaro da Idade do Bronze conhecido como Antigo Testamento, evoluíram três religiões anti-humanas – O Judaísmo, o Cristianismo e o Islamismo.
Trata-se de religiões de um deus do céu. São literalmente patriarcais – Deus é o Pai Todo-Poderoso – daí o desprezo pelas mulheres desde há 2.000 anos nos países atormentados por esse deus do céu e pelos seus representantes masculinos na terra.»
A mais velha das três religiões abraâmicas, e nítido antepassado das outras duas, é o Judaísmo: originariamente era o culto tribal de um único Deus ferozmente antipático, doentiamente obcecado por restrições sexuais, pelo cheiro de carne queimada, pela sua própria superioridade em relação aos deuses rivais e pela exclusividade da tribo do deserto que elegeu como sua.
Durante a ocupação romana da Palestina, o Cristianismo foi fundado por Paulo de Tarso enquanto facção do Judaísmo menos implacavelmente monoteísta e também menos fechada que, levantando os olhos do meio dos Judeus os erguia para o resto do mundo.
Vários séculos mais tarde, Maomé e os seus seguidores regressaram ao monoteísmo intransigente da versão originária judaica, embora sem a sua vertente exclusivista.
Fundaram assim o Islamismo com base num novo livro sagrado, o Corão ou Quran ao qual acrescentaram uma poderosa ideologia de conquista militar para a propagação da fé.
Também o Cristianismo se propagou por meio da espada, brandida primeiro pelas mãos dos romanos – depois do Imperador Constantino o ter promovido de culto excêntrico a religião oficial – e posteriormente pelos cruzados e mais tarde os conquistadores espanhóis e outros invasores e colonos europeus com o respectivo acompanhamento missionário.
Não é clara a razão pela qual o Monoteísmo deve ser visto como um progresso óbvio relativamente ao Politeísmo no sentido do seu aperfeiçoamento.
Ibn Warraq, ateu muçulmano, autor de “Why I am Not a Muslim” e “The Origin of the Koran” conjecturava com certa graça que o Monoteísmo está, por sua vez, condenado a subtrair mais um deus e a tornar-se ateísmo.
Especialmente no ramo católico romano do Cristianismo o namoro com o politeísmo é evidente.
À Santíssima Trindade junta-se Maria, «Rainha dos Céus» deusa em tudo menos no nome e seguramente logo atrás de Deus enquanto destinatária de orações.
A seguir vem um autêntico exército de santos cujo poder intercessor os torna, senão semideuses, pelo menos dignos de serem abordados dentro da área da especialização de cada um.
O Fórum da Comunidade Católica oferece solicitamente uma lista de 5.120 santos mais as respectivas áreas de competência, que incluem dores de barriga, vítimas de maus tratos, anorexia, traficantes de armas, ferreiros, ossos partidos, técnicos de bombas e desarranjos intestinais, etc, etc.
Todos estes santos, por sua vez, estão distribuídos por nove ordens: Serafins; Querubins; Tronos; Dominações; Virtudes;
Potestades; Principados; Anjos (o mais conhecido dos quais é o nosso “anjo da guarda”) e, finalmente, os Arcanjos que são os comandantes de todos os outros.
O que impressiona em toda esta mitologia católica, para além de outros aspectos, é a ligeireza inconsequente com que estas pessoas vão congeminando pormenores, tudo fruto da mais descarada invenção.
O Papa João Paulo II criou mais santos do que os seus antecessores todos juntos no decorrer dos últimos séculos, tendo uma afinidade especial com a Virgem Maria.
Os seus devaneios politeístas ficaram perfeitamente vincados quando, em 1981, vítima de uma tentativa de assassínio em Roma, atribuiu à intervenção de Nossa Senhora de Fátima a circunstância de ter sobrevivido: «Uma mão materna guiou a bala».
Não podemos deixar de sentir uma certa curiosidade em saber porque não terá ela guiado a bala de forma a nem sequer o atingir.
Outros poderão pensar que a equipa de cirurgiões que o operou durante seis horas mereceria, pelo menos, uma parte dos louros mas talvez as suas mãos também tenham sido maternalmente guiadas.
O ponto relevante é que não foi só Nossa Senhora que, na opinião do Papa, guiou a bala mas, concretamente, Nossa Senhora de Fátima.
E então Nossa Senhora de Lurdes, Nossa Senhora de Guadalupe, Nossa Senhora de Medjugorge, Nossa Senhora de Akita, Nossa Senhora de Zeitun, Nossa Senhora de Garabandal e a Nossa Senhora de Knock, estariam todas elas, no momento do disparo, indisponíveis com outras incumbências?
E que dizer da Santíssima Trindade, uma espécie de um Deus em três partes, ou três em um.
E reparem no primor do raciocínio teológico com que A Enciclopédia Católica nos esclarece esta questão:
“Na unidade do Divino existem três Pessoas, o Pai, o Filho e o Espírito Santo, sendo todas verdadeiramente distintas umas das outras. Assim sendo, e nas palavras do credo atanasiano: o Pai é Deus, o Filho é Deus e o Espírito Santo é Deus, e no entanto, não existem três Deuses, mas sim um Deus.”
Mas, como se isto não fosse suficientemente “claro” a mesma Enciclopédia cita ainda São Gregório, O Traumaturgo, teólogo do século III:
“Nada existe, portanto, na Trindade que seja criado, nada que seja sujeito a outrem; nem existe nada que tenha sido acrescentado como se não tivesse existido anteriormente, mas antes tivesse sido introduzido mais tarde; por isso, o Pai nunca foi sem o Filho, nem o Filho sem o Espírito Santo; e esta mesma Santíssima Trindade é imutável e para sempre inalterável.
Não sabemos que milagres valeram a São Gregório o cognome mas, entre eles, não estava com certeza, a pura lucidez.
As palavras de São Gregório carregam aquele travo caracteristicamente obscurantista da teologia.
Thomas Jefferson, a propósito da Santíssima Trindade, estava certo quando afirmou: «o ridículo é a única arma que pode ser utilizada contra proposições ininteligíveis».
E mais adiante:
«Falar de existências imateriais é o mesmo que falar de nadas. Dizer que alma humana, os anjos e deus são imateriais é o mesmo que dizer que eles são nadas ou então que não existe deus, nem anjos, nem alma. Não consigo pensar de outra maneira…sem mergulhar no imenso abismo dos sonhos e espectros. Bastam-me e já me ocupam o suficiente, as coisas que são, para me atormentar ou preocupar com as que podem de facto ser, mas das quais não tenho provas.»
James Madison, 4º Presidente dos EUA, de 1809 a 1817, desabafava com veemência:
«Durante quase 15 séculos, a autoridade oficial do Cristianismo foi posta à prova. Quais foram os resultados? Por toda a parte, e em maior ou menor grau, orgulho e indolência no clero, ignorância e servilismo nos leigos; e nuns e noutros, superstição, preconceito e perseguição.»
Para Benjamin Franklin «os faróis são mais úteis que as Igrejas».
No trecho de uma carta para Jefferson, John Adams, (1º Vice-Presidente dos E.U.A e o seu 2º Presidente) escreveu:
«Quase estremeço quando penso em aludir ao mais fatal exemplo de causas de padecimento que a história da humanidade preservou – a Cruz. Veja-se as calamidades que essa máquina de padecimento causou».
Esse deus chamava-se Jeová e o povo era o Judeu.
Gore Vidal, romancista e ensaísta norte-americano que viveu muitos anos em Itália, com vários livros traduzidos em português, escreveu a propósito do Monoteísmo:
«O grande mal indizível no centro da nossa cultura é o monoteísmo. A partir de um texto bárbaro da Idade do Bronze conhecido como Antigo Testamento, evoluíram três religiões anti-humanas – O Judaísmo, o Cristianismo e o Islamismo.
Trata-se de religiões de um deus do céu. São literalmente patriarcais – Deus é o Pai Todo-Poderoso – daí o desprezo pelas mulheres desde há 2.000 anos nos países atormentados por esse deus do céu e pelos seus representantes masculinos na terra.»
A mais velha das três religiões abraâmicas, e nítido antepassado das outras duas, é o Judaísmo: originariamente era o culto tribal de um único Deus ferozmente antipático, doentiamente obcecado por restrições sexuais, pelo cheiro de carne queimada, pela sua própria superioridade em relação aos deuses rivais e pela exclusividade da tribo do deserto que elegeu como sua.
Durante a ocupação romana da Palestina, o Cristianismo foi fundado por Paulo de Tarso enquanto facção do Judaísmo menos implacavelmente monoteísta e também menos fechada que, levantando os olhos do meio dos Judeus os erguia para o resto do mundo.
Vários séculos mais tarde, Maomé e os seus seguidores regressaram ao monoteísmo intransigente da versão originária judaica, embora sem a sua vertente exclusivista.
Fundaram assim o Islamismo com base num novo livro sagrado, o Corão ou Quran ao qual acrescentaram uma poderosa ideologia de conquista militar para a propagação da fé.
Também o Cristianismo se propagou por meio da espada, brandida primeiro pelas mãos dos romanos – depois do Imperador Constantino o ter promovido de culto excêntrico a religião oficial – e posteriormente pelos cruzados e mais tarde os conquistadores espanhóis e outros invasores e colonos europeus com o respectivo acompanhamento missionário.
Não é clara a razão pela qual o Monoteísmo deve ser visto como um progresso óbvio relativamente ao Politeísmo no sentido do seu aperfeiçoamento.
Ibn Warraq, ateu muçulmano, autor de “Why I am Not a Muslim” e “The Origin of the Koran” conjecturava com certa graça que o Monoteísmo está, por sua vez, condenado a subtrair mais um deus e a tornar-se ateísmo.
Especialmente no ramo católico romano do Cristianismo o namoro com o politeísmo é evidente.
À Santíssima Trindade junta-se Maria, «Rainha dos Céus» deusa em tudo menos no nome e seguramente logo atrás de Deus enquanto destinatária de orações.
A seguir vem um autêntico exército de santos cujo poder intercessor os torna, senão semideuses, pelo menos dignos de serem abordados dentro da área da especialização de cada um.
O Fórum da Comunidade Católica oferece solicitamente uma lista de 5.120 santos mais as respectivas áreas de competência, que incluem dores de barriga, vítimas de maus tratos, anorexia, traficantes de armas, ferreiros, ossos partidos, técnicos de bombas e desarranjos intestinais, etc, etc.
Todos estes santos, por sua vez, estão distribuídos por nove ordens: Serafins; Querubins; Tronos; Dominações; Virtudes;
Potestades; Principados; Anjos (o mais conhecido dos quais é o nosso “anjo da guarda”) e, finalmente, os Arcanjos que são os comandantes de todos os outros.
O que impressiona em toda esta mitologia católica, para além de outros aspectos, é a ligeireza inconsequente com que estas pessoas vão congeminando pormenores, tudo fruto da mais descarada invenção.
O Papa João Paulo II criou mais santos do que os seus antecessores todos juntos no decorrer dos últimos séculos, tendo uma afinidade especial com a Virgem Maria.
Os seus devaneios politeístas ficaram perfeitamente vincados quando, em 1981, vítima de uma tentativa de assassínio em Roma, atribuiu à intervenção de Nossa Senhora de Fátima a circunstância de ter sobrevivido: «Uma mão materna guiou a bala».
Não podemos deixar de sentir uma certa curiosidade em saber porque não terá ela guiado a bala de forma a nem sequer o atingir.
Outros poderão pensar que a equipa de cirurgiões que o operou durante seis horas mereceria, pelo menos, uma parte dos louros mas talvez as suas mãos também tenham sido maternalmente guiadas.
O ponto relevante é que não foi só Nossa Senhora que, na opinião do Papa, guiou a bala mas, concretamente, Nossa Senhora de Fátima.
E então Nossa Senhora de Lurdes, Nossa Senhora de Guadalupe, Nossa Senhora de Medjugorge, Nossa Senhora de Akita, Nossa Senhora de Zeitun, Nossa Senhora de Garabandal e a Nossa Senhora de Knock, estariam todas elas, no momento do disparo, indisponíveis com outras incumbências?
E que dizer da Santíssima Trindade, uma espécie de um Deus em três partes, ou três em um.
E reparem no primor do raciocínio teológico com que A Enciclopédia Católica nos esclarece esta questão:
“Na unidade do Divino existem três Pessoas, o Pai, o Filho e o Espírito Santo, sendo todas verdadeiramente distintas umas das outras. Assim sendo, e nas palavras do credo atanasiano: o Pai é Deus, o Filho é Deus e o Espírito Santo é Deus, e no entanto, não existem três Deuses, mas sim um Deus.”
Mas, como se isto não fosse suficientemente “claro” a mesma Enciclopédia cita ainda São Gregório, O Traumaturgo, teólogo do século III:
“Nada existe, portanto, na Trindade que seja criado, nada que seja sujeito a outrem; nem existe nada que tenha sido acrescentado como se não tivesse existido anteriormente, mas antes tivesse sido introduzido mais tarde; por isso, o Pai nunca foi sem o Filho, nem o Filho sem o Espírito Santo; e esta mesma Santíssima Trindade é imutável e para sempre inalterável.
Não sabemos que milagres valeram a São Gregório o cognome mas, entre eles, não estava com certeza, a pura lucidez.
As palavras de São Gregório carregam aquele travo caracteristicamente obscurantista da teologia.
Thomas Jefferson, a propósito da Santíssima Trindade, estava certo quando afirmou: «o ridículo é a única arma que pode ser utilizada contra proposições ininteligíveis».
E mais adiante:
«Falar de existências imateriais é o mesmo que falar de nadas. Dizer que alma humana, os anjos e deus são imateriais é o mesmo que dizer que eles são nadas ou então que não existe deus, nem anjos, nem alma. Não consigo pensar de outra maneira…sem mergulhar no imenso abismo dos sonhos e espectros. Bastam-me e já me ocupam o suficiente, as coisas que são, para me atormentar ou preocupar com as que podem de facto ser, mas das quais não tenho provas.»
James Madison, 4º Presidente dos EUA, de 1809 a 1817, desabafava com veemência:
«Durante quase 15 séculos, a autoridade oficial do Cristianismo foi posta à prova. Quais foram os resultados? Por toda a parte, e em maior ou menor grau, orgulho e indolência no clero, ignorância e servilismo nos leigos; e nuns e noutros, superstição, preconceito e perseguição.»
Para Benjamin Franklin «os faróis são mais úteis que as Igrejas».
No trecho de uma carta para Jefferson, John Adams, (1º Vice-Presidente dos E.U.A e o seu 2º Presidente) escreveu:
«Quase estremeço quando penso em aludir ao mais fatal exemplo de causas de padecimento que a história da humanidade preservou – a Cruz. Veja-se as calamidades que essa máquina de padecimento causou».
Ou tá com medo? |
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)
Episódio Nº 5
3
Antes de deixar a fazenda, Natário examinara rifles e bacamartes, clavinotes e revólveres: armas de primeira, escolhidas a dedo, compradas a peso de ouro; bem azeitadas, em ponto de bala.
Fizera e refizera cálculos, disposto a
evitar qualquer imprevisto.
Não podia permitir descuidos, tampouco
depender de ajustes
duvidosos; afirmara ao coronel
Boaventura que nem um único jagunço saído da Fazenda Cascavel prosseguiria na
viagem para Itabuna, estavam em jogo sua palavra e a patente de capitão. O
fazendeiro fora aguardar a notícia em ilhéus.
A chuva se prolongava há mais de uma
semana. Nos caminhos
transformados em lamaçal, a marcha se
tomava difícil, extenuante, cada légua valia por três. Na intenção de reduzir
ao mínimo a demora na tocaia, Natário aguardara o anúncio da partida do bando
armado pelo coronel Elias Daltro, para movimentar seus homens.
A notícia demorou a chegar pois os
condenados abandonaram
o couto na Fazenda Cascavel com atraso
de dois dias, esperando em vão que o temporal amainasse. Tendo as chuvas
redobrado, não lhes sobrou outro jeito senão enfrentar a jornada naquelas péssimas
condições: levavam pressa, tinham data marcada para chegar.
Impaciente — a manhã ia alta—, o coronel Elias
assistiu à partida, deu as últimas instruções a Berilo: em Itabuna deveria se apresentar ao doutor Castro,
colocar-se às ordens.
Quanto ao percurso, Coroinha os guiaria:
andarilho e caçador, vaqueiro experimentado, conhecia aqueles cafundós palmo a palmo,
passaria longe das divisas da Fazenda da Atalaia.
A
expedição fora preparada debaixo do maior sigilo para que dela não chegasse
anúncio ou consta aos ouvidos do coronel Boaventura ou de sua gente.
Exceptuando-se Berilo e Coroinha, os
demais não sabiam para onde viajavam. Jagunços pagos para combater, não eram
confidentes nem comandantes, quanto menos soubessem, melhor.
-
O que é que tu tem, homem de Deus? —
Indagou Berilo
a Coroinha quando, ao escurecer, se
desviaram do caminho para enveredar pela trilha: — Tu tá vendo passarinho
verde? Ou tá com medo? De quê?
-
Tou pondo sentido para não perder o
rumo.
Até podia ser. A lama desfazia o
carreiro aberto pelo rastro
dos animais em direcção ao rio. Coroinha
se abaixava, cheirava o chão, partia em frente. Cada passo custava esforço; no lombo, fardos
de cansaço. Caititus e cutias atravessavam em disparada, cobras silvavam,
jararacuçus e cascavéis.
Salgado, que era o DDT e o seu fiel escudeiro, H. Granadeiro |
A falência
“Não foi a Rio Forte, o GES e a sagrada família que faliram, também faliu uma democracia alicerçada em corrupção e apoiada em políticos inúteis e vendidos. Não é apenas o montante do buraco do GES que tem sido escondido dos mercados, mais do que isso é a imensa lista de políticos corruptos deste país que recebeu dinheiro do BES, aliás, muitos deles receberam do BES e de outras entidades financeiras.
Não é apenas a sagrada família que está falida,
é também toda uma classe política que a troco de benefícios e gorjetas foi
enriquecendo ao mesmo tempo que condenava o país ao subdesenvolvimento. Com
políticos corruptos, um sistema financeiro oportunista e uns quantos grupos
económicos-proxenetas não há país que se desenvolva.”
O Jumento
NOTA - Para
que os meus amigos percebam melhor eu explico com o caso em concreto:
- O Sr. Henrique
Granadeiro era Presidente do Conselho Executivo da PT, (Portugal Telecom), uma
das maiores e mais prestigiadas empresas portuguesas.
- O Grupo Espírito
Santo, não o Banco, o maior accionista desta empresa possuindo 10% das suas
acções.
- A PT, por sua vez, é
detentora de 2% da Banco Espírito Santo.
O
Sr. Henrique Granadeiro é amigo do Sr. Ricardo Espírito Santo, Presidente do
BES que mandava também no Grupo Espírito Santo e em mais 400 empresas, uma delas a Rioforte, possuída a 100% pela Espírito Santo Internacional sediada no Luxemburgo e que é dona da Herdade da Comporta, da
Herdade no Paraguai, de Herdades no Brasil, da Espírito Santo Property Brasil,
da Espírito Santo Property Portugal, de mais de metade da Espírito Santo Saúde
e dos Hotéis Tivoli.
Esta empresa Rioforte tinha dívidas de 900 milhões de euros
que tinham de ser pagas no imediato e o Sr. Ricardo Salgado viu fechar-se-lhe todas
as portas para chegar ao dinheiro.
Em
desespero de causa, foi ter com o seu amigo Granadeiro que, dizem, despachava
com ele todas às 4ª fª pelas às 19h00, e pediu-lhe (ordenou-lhe) que ele, na
qualidade de Presidente Executivo da Portugal Telecon, lhe emprestasse quase
900 milhões de euros, metade do valor da PT, para a Rioforte que estava
falida... e o Sr. Henrique Granadeiro satisfez o seu pedido/ordem, emprestando-lhe dinheiro que era da PT, dos seus accionistas, que o puseram agora em Tribunal
porque a Rioforte, falida, não devolveu o dinheiro, como era de esperar...
O
Sr. Ricardo Salgado, que era dono de um império, conhecido no seu círculo, como DDT
(dono disto tudo), agora, falido, parece ser DND (dono de nada disto), urdiu com
o seu amigo e cúmplice um assalto à PT, o maior de quantos se conhece, de um só
golpe, num só click.
Os
portugueses, mais uma vez, vão ser vítimas porque dada a dimensão deste império
de empresas não podem escapar às consequências. A um país falido junta-se agora
a falência do seu homem mais poderoso, dono de empresas em cascata por quase toda a parte do mundo: Europa, África, América do Sul, Estados Unidos.
Depois
do BPN, do BPP, do BCP, junta-se agora o BES e nós gostávamos de saber quando é
que acaba a limpeza deste país e nos vemos livres de todos estes trafulhas
vigaristas que se passeavam, entre nós, sobranceiros.
Infelizmente,
o nosso sistema judicial que já foi pensado para encaixar todos estes “gabirus”,
mais uma vez não vai molestar ninguém e eles vão poder continuar a viver, sem
poder, é certo, mas com dinheiro suficiente para que nada lhes falte como nunca lhes
faltou... agora apenas com o orgulho ferido.
sexta-feira, julho 18, 2014
Nelson Ned - Se as Flores Pudessem Falar
Em especial para os meus amigos brasileiros... já mais velhotes. (Nelson Ned nasceu em 1947 e faleceu este ano, a 5 de Janeiro, em S. Paulo.)
FICHA PARA
EMPREGO
Ficha de Emprego
NOME:
- Júlio da Silva Moura
SEXO:
- Duas vezes por semana.
CARGO DESEJADO:
- Presidente ou vice-presidente da empresa. Falando sério, qualquer um que esteja disponível. Se eu estivesse em posição de escolher, eu não estaria me inscrevendo aqui.
SALÁRIO DESEJADO:
- R$ 15.000,00 por mês e todos os privilégios existentes. Se não for possível, façam uma oferta e poderemos chegar a um acordo.
EDUCAÇÃO:
- Tenho.
ÚLTIMO CARGO OCUPADO:
- Alvo de hostilidade da gerência.
ÚLTIMO SALÁRIO:
- Menos do que mereço.
MAIS IMPORTANTE META ALCANÇADA NO ÚLTIMO EMPREGO:
- Uma incrível colecção de canetas roubadas e de mensagens post-it.
RAZÃO DA SAÍDA DO ÚLTIMO EMPREGO:
- Era um lixo.
HORÁRIO DISPONÍVEL PARA O TRABALHO:
- Qualquer um.
HORÁRIO PREFERIDO:
- Das 13:30h às 15:30h, segundas, terças e quintas.
VC TEM ALGUMA QUALIDADE ESPECIAL?
- Sim, mas é melhor se ela for colocada em prática em ambientes mais íntimos.
PODEMOS ENTRAR EM CONTACTO COM SEU ACTUAL EMPREGADOR?
- Se eu tivesse algum, eu estaria aqui ?
- Você TEM ALGUMA CONDIÇÃO FÍSICA QUE O PROÍBA DE LEVANTAR PESOS DE ATÉ 25kg?
- 25 kg de quê?
- Você POSSUI CARRO?
- Eu acho que a pergunta mais apropriada seria: Você tem um carro que funciona?
- Você JÁ RECEBEU ALGUM PRÉMIO OU MEDALHA DE RECONHECIMENTO?
- Talvez. Eu já ganhei a Porta da Esperança.
- Você FUMA ?
- No trabalho não, nos intervalos sim.
O QUE Você GOSTARIA DE ESTAR FAZENDO DAQUI A CINCO ANOS?
- Vivendo nas Bahamas, com uma super modelo loura, incrivelmente rica, burra, sexy e que pensa que eu sou a melhor coisa que surgiu desde a invenção do pão de forma. Na verdade, eu gostaria de estar fazendo isso agora.
NOTA - Esta ficha de emprego foi preenchida por um jovem para o McDonalds no Rio de Janeiro. A empresa contratou-o por ter considerado a ficha honesta e engraçada. Serve também para se observar a quantidade de perguntas estúpidas que são feitas ao candidato.
Ramadão
Um muçulmano durante o período do Ramadão senta-se junto a um alentejano no voo Lisboa - Funchal.
Quando o avião descola começam a servir as bebidas aos passageiros.
O alentejano pede um tinto de Borba.
A hospedeira pergunta ao muçulmano se quer beber alguma coisa.
- Prefiro ser raptado e violado selvaticamente por uma dezena de putas da Babilónia antes que uma gota de álcool toque os meus lábios.
O alentejano engasgando-se, devolve o copo de tinto à hospedeira e diz:
- Eu também, eu também. Não sabia que se podia escolher!!!
Quando o avião descola começam a servir as bebidas aos passageiros.
O alentejano pede um tinto de Borba.
A hospedeira pergunta ao muçulmano se quer beber alguma coisa.
Responde o muçulmano com ar ofendido:
- Prefiro ser raptado e violado selvaticamente por uma dezena de putas da Babilónia antes que uma gota de álcool toque os meus lábios.
O alentejano engasgando-se, devolve o copo de tinto à hospedeira e diz:
- Eu também, eu também. Não sabia que se podia escolher!!!
Passos. Coelho foi à festa de um empresário importante mas, ao chegar à enorme mansão, foi barrado pelo segurança.
- Desculpe, senhor, mas sem convite não posso deixá-lo entrar.- Mas, eu sou o Passos, o Primeiro Ministro!- Então, mostre-me os seus documentos.- É que também não tenho os documentos, esqueci-me da carteira.- Desculpe-me, mas não vou poder deixá-lo entrar!- O quê? O senhor nunca me viu na TV? Olhe bem para a minha cara!- De facto, o senhor é muito parecido com o Primeiro Ministro, mas sabe como é... existem muitos sósias do Passos por aí... O senhor vai ter de provar que é realmente o Passos Coelho.- Mas o que quer que eu faça?- O Senhor é que sabe! O Cristiano Ronaldo também se esqueceu dos documentos, eu dei-lhe uma bola de futebol e ele fez uma demonstração que logo me convenceu.A Mariza também se esqueceu dos documentos e fez uma demonstração a cantar fado que provou ser quem dizia ser.- Porra, mas eu não sei fazer nada!- Desculpe-me pelo inconveniente causado, Sr. Primeiro Ministro. Faça o favor de entrar.
Lugar mais conveniente não podia haver... |
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)
Episódio Nº 4
O
coronel Boaventura não desejava indispor-se com o Governador, mas a Intendência
de Itabuna era assunto privativo, a ser decidido pelos coronéis, por bem ou por
mal, por um acordo ou pelas armas, quem fosse mais forte ou mais sabido designaria
o candidato.
Necessária apenas para legalizar o fato consumado, a farsa da
eleição devia suceder à de
O vizinho, julgando-se sabido, antecipara a data, proclamara o
advogadozinho vencedor e pretendia empossá-lo.
Tricas de bacharel, o coronel Boaventura
as odiava. O remédio legal era a anulação do pleito — pleito, uma bosta!
Nomeação a bico de pena, os capangas
substituindo os eleitores - mas para
obtê-la não bastava a petição ao juiz: igual à eleição a anulação devia suceder
aos fatos consumados.
Nos dias passados em Ilhéus, de onde
estava voltando, o coronel Boaventura activara alianças, fizera promessas,
proferira ameaças, azeitara molas emperradas nos cartórios, e, como de hábito,
se locupletara no macio leito, no cálido colo de Adriana, rapariga que mantinha
com aparente exclusividade na pensão de Loreta.
Concebido o plano em todos os detalhes,
tomadas as medidas indispensáveis para seu completo sucesso, faltava apenas
descobrir um lugar a contento e certificar-se do dia em que os homens do
vizinho tomariam o rumo de Itabuna. Para sabido, sabido e meio.
Passada a curva do rio, Natário sustou o
passo da mula:
-
Não dá para subir montado, Coronel, não
tem passagem. Deixaram as montarias com os dois
capangas, Natário puxou do facão; ia cortando galhos, abrindo uma picada, O
corpulento fazendeiro segurava-se nos arbustos, escorregava nas pedras soltas:
-
Valeria a pena tanto esforço? Mas, quando chegaram ao alto da colina, não pôde
conter uma exclamação ao descortinar o imenso descampado, o vale se estendendo
nas duas margens do rio, vista soberba, um deslumbramento.
-
Lugar mais bonito!
Natário balançou a cabeça, concordando:
-
É onde vou fazer minha casa, Coronel, quando a peleja acabar e vosmicê cumprir
o trato. Isso aqui ainda há de ser
uma cidade. Tão certo, nem que eu estivesse vendo.
-
Fitava ao longe, parecia enxergar além do horizonte, além do tempo. Mais uma
vez o Coronel sentiu aguçar-se a dúvida: o mameluco seria vidente? Talvez o
fosse, sem saber: havia casos, dona Ernestina conhecera mais de um. Também
Adriana acreditava em telepatia e em vidência, nisso as duas se pareciam, a
esposa e a amásia, no mais que diferença!
Natário prosseguiu:
-
Tive sabendo que os paus-mandados do
coronel Elias vão
vir por aqui
para alcançar o rio sem cruzar pela Atalaia. Está
vendo aquela trilha, Coronel? Não tem
outra. Se vosmicê qui ser, dê as
ordens me posto aqui em cima com um
punhado de homens, lhe garanto que não vai chegar nem um cabra deles em
Itabuna.
Lugar mais conveniente que esse para uma
tocaia grande
não pode haver, Coronel. Daqui de cima é só fazer a mira e despachar os
clavinoteiros para os qui ntos dos
infernos.
Sorriu: - Parece que Deus fez este lugar
de propósito, Coronel.
O coronel Boaventura sentiu que se
aceleravam as batidas do coração. Além das forças sobrenaturais, igualmente
Natário por vezes o assustava: com que tranqui lidade
fazia de Deus seu cúmplice, aliado do Coronel! Ainda bem que o tinha a seu
serviço; valia por dez, no desassombro e no devaneio.
-
Você nasceu para militar, Natário. Se tivesse se engajado
na tropa e houvesse guerra, ia terminar
com galões de oficial.
- Se assim lhe parece, Coronel, e se
acha que mereço, então
me compre uma patente de capitão.
-
De Capitão da Guarda Nacional?
-
Vosmicê não vai se arrepender.
- Pois a promessa está feita e vai ser
para logo. Pode se considerar capitão desde hoje.
- Capitão Natário da Fonseca, para lhe
servir, Coronel. Lugar mais conveniente não podia haver.
quinta-feira, julho 17, 2014
o Padre e a Pecadora
- Padre, perdoa-me porque pequei (voz
feminina)
- Diga-me filha - quais são os teus pecados? - Padre, o demonio da tentação se apoderou de mim, pobre pecadora. - Como é isso filha? - É que quando falo com um homem, tenho sensações no corpo que não saberia descrever... - Filha, apesar de padre, eu também sou um homem... - Sim, padre, por isso vim confessar-me contigo. - Bem filha, como são essas sensações? - Não sei bem como explicá-las - neste momento meu corpo se recusa a ficar de joelhos e necessito ficar mais a vontade. - Sério?? - Sim, desejo relaxar - o melhor seria deitar-me... - Filha, deitada como? - De costas para o piso, até que passe a tensão... - E que mais? - É como um sofrimento que não encontro palavras. - Continue minha filha. - Talvez um pouco de calor me alivie... - Calor? - Calor padre, calor humano, que leve alívio ao meu padecer... - E com que frequência é essa tentação? - Permanente padre. Por exemplo, neste momento imagino que suas mãos massageando a minha pele me dariam muito alívio... - Filha?! - Sim padre, me perdoa, mas sinto necessidade de que alguém forte me estreite em seus braços e me dê o alívio de que necessito... - Por exemplo, eu? - Sim padre, você é a categoria de homem que imagino poder me aliviar. - Perdoa-me minha filha, mas preciso saber tua idade... - Setenta e quatro, padre. - Minha Filha, vai em paz ......... o teu problema é reumatismo... |
QUIM BARREIROS - Pôe dinheiro e capital na Conta da Banca Lusa enquanto subo os impostos ao contribuinte tuga...
Eles vão ser os autores e personagens de uma história de amor. |
Por Que Nos
Apaixonamos?
Continuemos com o tema anterior sobre o por quê do amor romântico fazendo perguntas que foram já respondidas por Helen Fisher mas numa abordagem, digamos, mais romântica, menos científica.
- Por que nos
apaixonamos?
- Por que concentramos numa pessoa toda
a nossa atenção como se ela fosse a única no mundo?
- Por que suspiramos longa e
repetidamente quando estamos apaixonados?
- Por que ficamos possuídos de uma
enorme energia que nos permite andar a noite toda e conversar até ao amanhecer?
- Por que bate o nosso coração mais
depressa e nos suam as mãos quando estamos juntos da pessoa amada?
- Por que chegamos ao ponto de pôr
termo à vida por não sermos capazes de a enfrentar sem essa pessoa?
A primeira reposta para todas estas
perguntas que são apenas uma síntese de muitas outras que se poderiam colocar é
muito simples:
- Porque o amor faz parte da nossa
própria natureza, tanto quanto o medo ou a fome, e terá começado nos primórdios
da humanidade tendo evoluído da simples atracção sexual até ao amor romântico
que cativa e nos prende ao nosso parceiro sexual.
Se hoje é mais difícil criar um filho
sem a intervenção, a presença ou o apoio de um pai, como não teria sido no princípio
desta longa caminhada que a humanidade já trás percorrida, quando as mulheres
transportavam, em regiões perigosas, um filho nos braços e não nas costas como
os restantes primatas, com um corpo despido de cabelos onde ele não se podia
agarrar, e que tinha ainda, entre outras coisas, que procurar comida?
O amor romântico constituiu um factor
decisivo no triunfo da nossa espécie porque assegurou e deu consistência à
relação entre o pai e a mãe sem a qual os filhos dificilmente sobreviveriam e
explica porque o amor não dura para sempre… porque deixa de ser indispensável.
Nós gostaríamos de pensar que nos
apaixonámos para nosso deleite, que tudo teve a ver apenas com uns olhos negros
ou o requebre daquele corpo com o qual, um dia, nos cruzámos, que foi tudo apenas uma experiência feliz da nossa vida... obra do acaso.
Afinal, tudo se
inscreveu em teorias científicas que quebram o encantamento da relação e da
história do nosso amor.
Gostaríamos muito mais que o mistério
prevalecesse, que fôssemos não só os únicos como igualmente a razão de ser de
tão linda história de sentimentos que nada teve a ver com mais ninguém ou com o que
quer que fosse.
E, no entanto, tudo foi uma questão
de altos níveis de dopamina que são neurotransmissores que estimulam a
actividade do sistema nervoso central e à qual se juntou a feniletilamina e a
ocitocina, químicos que são normais no nosso corpo mas que se juntam num
determinado momento, para desencadearem a paixão.
Com o tempo, o
organismo torna-se resistente aos seus efeitos e a “loucura” passa... sem que
nunca tivéssemos chegado a saber os nomes dos verdadeiros responsáveis, de
resto, feios e difíceis de dizer.
Mas, sejam quais forem os processos
químicos, a relação amorosa continua a ter qualquer coisa de sublime, de
poético, que não se presta a comparações com uma simples atracção sexual porque
ninguém pensa obsessivamente numa mulher apenas por um desejo sexual momentâneo
que, satisfeito, rapidamente leva ao esquecimento da relação, nem se
circunscreve às inexoráveis explicações do ponto de vista científico por mais
correctas e exactas que elas sejam.
No primeiro momento,
mágico, a excitação é tão grande que o desejo da posse cede lugar ao da
contemplação e do enlevo... morrêssemos nós nesses instantes e iríamos felizes
para o outro mundo.
Amanhã mesmo, mais homens e mulheres
vão iniciar o deslumbrante e arriscado processo de amor e ao fazê-lo vão ter a
mais importante experiência das suas vidas.
É certo que essas
experiências se inscrevem numa longa lista de experiências, de tal forma longa
que o cérebro as interiorizou e tornaram-se, por essa razão, imperativas, mas
eles não sabem isso, tão pouco lhes interessa.
Eles vão ser autores e personagens de
uma história de amor que poderá muito bem ser a história da vida deles, aquela
que valerá a pena recordar quando a vida se for esfumando por entre o
emaranhado dos anos.
Talvez algum deles seja escritor e
não lhe baste apenas a sua história de amor… ou prefira criá-la na sua
imaginação em vez de a viver…ou a recrie para esquecer uma má história de amor.
Com o amor romântico, como lhe chamam
os estudiosos, tudo é possível de acontecer.
É verdade que a fé religiosa tem
aspectos em comum com o enamoramento e ambos têm muitas das características da
euforia induzida por uma droga viciante.
Uma faceta, das muitas faces da
religião, é o amor intenso centrado numa pessoa sobrenatural, isto é, em Deus,
acompanhado da veneração de ícones dessa pessoa e é grande o reforço positivo
que a religião presta através de sentimentos reconfortantes e calorosos por
sermos amados e protegidos num mundo perigoso, pela perda do medo da morte, do
auxílio vindo não se sabe de onde em resposta a preces em tempos difíceis, etc.
De igual modo, o amor romântico por
uma pessoa real apresenta a mesma concentração intensa no outro e também
reforços positivos pelos sentimentos que desencadeia com a ajuda igualmente de
ícones que, neste caso, poderão ser cartas, fotografias e até mesmo madeixas de
cabelo como era hábito no século XIX.
Podemos controlar o nosso
comportamento, não podemos controlar o sentimento do amor da mesma forma que
também não se consegue controlar a fome, a sede, ou o instinto maternal.
Se o meu amor me deixar eu posso
controlar o meu comportamento e não ir atrás dele, mas é impossível controlar
os meus sentimentos pela simples razão que sobre eles não tenho controle, só o
tempo poderá ajudar ou então, como diz o povo, sábio, procurando novo amor
porque, por vezes, “o mal do cão cura-se com o pelo do mesmo cão”.
Mas, vivendo muitos de nós rodeados
por tantas pessoas por que nos apaixonamos por uma e não por qualquer outra?
Mais uma vez a química parece ser a
chave das atracções entre as pessoas que, em princípio, se sentirão atraídas
para aquelas que têm um perfil químico complementar do seu de forma a equi librarem-se.
Por exemplo, pessoas com altos níveis
de serotonia tendem a ser mais calmas enquanto as de altos níveis de dopamina
são mais agitadas e esta circunstância poderá constituir um factor de atracção
entre ambas para, de certa forma, se equi librarem
ou complementarem.
Certo, certo, é que os homens se
apaixonam mais fácil e rapidamente que as mulheres e de 4 pessoas que se matam
por não suportarem o fim da relação, 3 são homens.
Julga-se que as mulheres são mais
apaixonadas mas os estudos revelam que os mecanismos são muito parecidos,
embora o estímulo visual seja mais activo no homem do que nas mulheres talvez
porque, nas eras do antigamente, os homens tinham que olhar para as mulheres
para tentarem perceber as que tinham condições de lhes dar filhos saudáveis.
Em contrapartida, as mulheres, vá lá
saber-se porquê, revelam uma melhor memória recordando mais facilmente um
relacionamento.
De qualquer maneira, o amor é
imparável e se lhe é colocado qualquer tipo de barreira o resultado será
intensificá-lo ainda mais.
Num estudo efectuado com 32 pessoas
loucamente apaixonadas o que os cientistas observaram é que quando uma delas
olha a fotografia da pessoa amada a parte do cérebro que se torna activa fica
bem no interior do órgão pelo que se pode concluir que se trata de um sistema
antigo e primitivo.
Os cientistas envolvidos neste estudo
acreditam que, ligados ao tema do amor, temos três sistemas cerebrais
diferentes:
- O primeiro trata do impulso sexual;
- O segundo do amor romântico, um
estágio intenso de sentimentos obsessivos associados ao parceiro;
- Um terceiro que tem a ver com a
sensação de segurança que se sente quando vivemos com alguém por muito tempo.
Posto isto, parece que o amor
romântico não é uma emoção mas várias emoções e acontece para que a pessoa
apaixonada concentre a sua energia numa única para um compromisso que dure,
pelo menos, o tempo suficiente para criar um filho.
Pesqui sas
efectuadas junto de 5000 pessoas de 37 culturas diferentes permitiram concluir
que o amor tem um «tempo de vida» entre 18 a 30 meses, o suficiente para que o casal se
conheça, copule e produza uma criança.
Apesar de todas as pesqui sas e descobertas, anda no ar uma sensação de que
a evolução, há cerca de 10.000 anos a esta parte, por algum motivo, modificou
nossos genes permitindo que surgisse o amor não ligado à procriação.
Finalmente, de então para cá, o amor
entre homens e mulheres pôde acontecer e algumas delas puderam passar a olhar
os homens como algo mais do que máqui nas
de protecção o que é notório nestes últimos tempos, entre nós.