Memórias Futuras
Olhar o futuro pelo espelho retrovisor da história. Qual história? Que futuro?
sexta-feira, maio 09, 2008
O Velho Testamento
O VELHO TESTAMENTO
(Ritchar Dawkins)
Se algum realizador cinematográfico quisesse contar a história do homem como espécie animal poderia, com toda a propriedade, intitulá-lo “Nascidos para Acreditar”.
Se as crianças, filhas dos nossos antepassados, tivessem tido a necessidade de aprenderem a sobreviver à custa da sua própria experiência, muito naturalmente, a percentagem dos que passariam à idade adulta não seria suficiente para assegurar a continuidade da espécie.
Acreditar obedientemente, sem contestar, nos conselhos dos pais, dos avós, dos chefes, das pessoas mais velhas, foi a necessidade sentida, a palavra de ordem para a qual o cérebro humano desenvolveu uma predisposição psicológica acentuada nas crianças imediatamente a partir do seu nascimento.
Nunca animal nenhum tinha necessitado tanto das experiências de vida dos seus progenitores porque também nenhum outro tinha nascido tão frágil e dependente por um período tão longo da sua vida.
E a evolução parece que só teve esse caminho: aquelas crianças tinham que acreditar e ser obedientes.
A evolução, através da selecção natural, não tem soluções pré programadas, na maioria dos casos até nem as tem, a maioria das suas tentativas são becos sem saída que terminam na extinção.
No caso concreto do homem a aposta foi num cérebro superior mas condicionada a um período inicial em que “a ordem” foi “não penses, (não arrisques) faz o que te digo” se queres ter mais possibilidades de sobreviver.
Esta “terrível”necessidade de acreditar que, provavelmente, pode ter sido decisiva para que eu possa estar hoje aqui a escrever este texto no teclado do meu computador, é precisamente a mesma que explica que um número assustadoramente elevado de pessoas continue a seguir à risca os seus livros sagrados.
De acordo com uma sondagem da Gallup, cerca de 50% dos eleitores americanos fazem parte dessas pessoas (o que não deixa de ser assustador…) não obstante muitos teólogos afirmarem que já não seguem à risca o livro do Génesis.
Comece-se, então, este livro pela conhecida história da Arca de Noé que sendo encantadora tem, no entanto, uma moral perfeitamente aterradora que revela a consideração que Deus tinha pelos humanos pois, à excepção de uma única família, afogou-os a todos, incluindo crianças, e os restantes animais.
Na destruição de Sodoma e Gomorra o equivalente a Noé escolhido para ser salvo foi Lot, sobrinho de Abraão, porque era incomparavelmente justo.
Dois anjos foram enviados a Sodoma para avisar Lot que saísse da cidade antes desta ser assolada pelo enxofre.
Hospitaleiro, Lot, recebeu os anjos em sua casa, após o que todos os homens de Sodoma se juntaram em redor e exigiram que ele lhes entregasse os anjos para (que outra coisa haveria de ser?) os sodomizarem.
“Onde estão os homens que entraram na tua casa esta noite. Trá-los cá para fora para nós os conhecermos” (Génesis 19:5)
Sim, “conhecer” tem o habitual significado eufemístico da versão autorizada da Bíblia, o que, no contexto, é bastante curioso.
A galhardia com que Lot se recusa a ceder a tal exigência sugere que Deus terá acertado ao elegê-lo como o único homem bom de Sodoma.
Mas os termos da sua recusa irá manchar essa aura de Lot:
-“Suplico-vos, meus irmãos, não cometais semelhante maldade. Eu tenho duas filhas ainda virgens. Eu vo-las trarei. Farei delas o que vos aprouver, mas não façais mal a esses homens porque vieram acolher-se à sombra do meu teto” (Génesis 19:7-8)
Independentemente de outros significados que esta história possa encerrar, ela diz-nos seguramente alguma coisa acerca do respeito pelas mulheres nesta cultura intensamente religiosa.
O que acabou por acontecer foi que a oferta, por troca, da virgindade das filhas se mostrou desnecessária, já que os anjos conseguiram repelir os meliantes cegando-os miraculosamente. Depois, avisaram Lot para que fugisse de imediato com a sua família e os seus animais porque a cidade estava prestes a ser destruída.
Toda a gente escapou excepto a infeliz esposa, a quem o Senhor transformou numa estátua se sal porque cometeu o crime - relativamente brando, dir-se-ia - de olhar para trás para mirar o aparato pirotécnico.
As duas filhas de Lot voltam a aparecer por breves instantes na história porque depois da mãe ter sido transformada numa estátua de sal ficaram a viver com o pai numa caverna, no cimo de um monte.
Famintas de companhia masculina, decidiram embriagar o pai e deitar-se com ele. Lot estava longe de se poder aperceber de quando a filha mais velha se deitou na cama com ele ou de quando se levantou mas não estava suficientemente embriagado para a engravidar.
Na noite seguinte as duas filhas concordaram que seria a vez da mais nova e repetiram a cena da embriaguês que não impediu, novamente, que a filha ficasse grávida.
Se esta família disfuncional era o melhor que Sodoma tinha para oferecer quanto a preceitos morais, então talvez Deus desperte alguma solidariedade quanto ao seu criterioso enxofre.
Num outro episódio, capítulo 19 do Livro dos Juízes, vemos uma história semelhante à de Lot.
Um levita (sacerdote) viajava com a sua concubina em Guibeá. Passaram a noite em casa de um velho hospitaleiro mas quando ceavam, os homens da cidade chegaram, bateram à porta exigindo que o velho lhes entregasse o seu convidado “a fim de o conhecerem” e o velho com uma argumentação idêntica à de Lot, disse:
“ Não, meus irmãos! Eu vo-lo peço por favor, não pratiqueis semelhante mal! Agora que este homem entrou na minha casa, não pratiqueis tal desonra! Eis a minha filha que está virgem e a concubina dele; vou fazê-las sair, abusai delas, fazei-lhes o que vos agradar! A este homem, porém, não lhe façais uma infâmia desta natureza”
Uma vez mais transparece com toda a clareza o ódio e aversão às mulheres com a expressão sinistra de “abusai delas”.
O desfecho desta história não foi feliz:
O levita entregou a concubina à multidão que a violou consecutivamente durante toda a noite. “Eles conheceram-na e satisfizeram com ela a sua luxúria durante toda a noite e só a deixaram livre ao amanhecer. Ao raiar da aurora, a mulher caiu por terra à porta da casa onde estava o seu marido até vir o dia” (Juízes 19: 25-6).
De manhã, o levita, encontrando a concubina prostrada à porta da casa disse: - num tom que hoje podemos considerar de grande insensibilidade – “Levanta-te e vamos”. Mas ela não se mexeu, estava morta. Então ele “pegou num cutelo e agarrando na sua concubina, esquartejou-a membro a membro em doze pedaços, enviando-os depois a todas tribos de Israel”
Na sequência deste episódio, e por vingança, segue-se uma guerra onde mais de sessenta mil homens foram mortos.
O tio de Lot, Abraão, foi o pai fundador das três grandes religiões monoteístas e o seu estatuto de patriarca confere-lhe uma importância, enquanto modelo de comportamento, apenas ligeiramente inferior à do próprio Deus.
No entanto, que moralista moderno iria querer segui-lo?
Na sua longa vida Abraão foi para o Egipto onde, na companhia da sua mulher Sara, enfrentou um período de escassez e fome.
Apercebeu-se então, de que uma mulher assim bela seria cobiçada pelos egípcios e a sua própria vida, enquanto marido, poderia estar em perigo.
Por esta razão, decidiu fazê-la passar por irmã e é nesta qualidade que ela foi levada ao harém do faraó sob cuja protecção Abraão ficou rico (à custa da mulher… já se vê) mas Deus desaprovou tal aconchego e mandou pragas sobre o faraó e a sua casa (e por que não sobre Abraão?).
Compreensivelmente magoado com o agravo, o faraó exigiu saber por que motivo Abraão não lhe tinha dito que Sara era sua mulher e expulsou-os do Egipto. (Génesis 12:18-19)
Mais tarde, o casal volta a cometer a mesma proeza desta vez com Amibelec, rei de Guerar, induzido a casar com Sara julgando, também, que ela era irmã de Abraão e não sua mulher. (Génesis 20:2-5).
Mas se estes episódios são desagradáveis na história de Abraão eles são pecados menores quando comparados com a famigerada história do sacrifício do seu filho muito desejado Isaac por ordem de Deus.
Construído o altar e amarrado Isaac sobre a lenha já estava Abraão de cutelo em punho pronto para a matança quando lhe apareceu um anjo e o mandou parar porque Deus, afinal, estava só a brincar, submetendo Abraão à tentação e testando-lhe a fé.
Pelos padrões da moralidade moderna esta história vergonhosa é, simultaneamente, um exemplo de abuso de menores, de tratamento tirânico entre duas relações de poder assimétrico, e o primeiro caso de que há registo da defesa utilizada em Nuremberga:”Estava apenas a cumprir ordens”.
Mesmo assim, esta lenda é um dos grandes mitos fundadores das três religiões monoteístas.
Thomas Jefferson, 3º Presidente dos EUA, estadista, filósofo político, arquitecto, arqueólogo e um espírito que representava o Iluminismo emitiu a opinião de que o “Deus de Moisés e de Abraão é um ser de carácter terrífico – cruel, vingativo, caprichoso e injusto”.
Há teólogos modernos que dirão que a história do sacrifício de Isaac por Abraão não deve ser entendida literalmente mas esse não é o facto relevante.
Relevante, é sim, haver muitíssimas pessoas nos dias de hoje, repetimos os resultados das sondagens em que metade dos americanos que votam seguem à risca os textos bíblicos e alguns deles detêm grande poder político sobre nós, especialmente nos EUA e no mundo islâmico.
A história bíblica da destruição de Jericó por Josué, tal como a invasão da Terra Prometida em geral, em nada se distingue, do ponto de vista moral, da invasão da Polónia por Hitler ou do massacre dos Curdos e dos Árabes das zonas pantanosas do Iraque por Sadam Hussein
A Bíblia pode até ser uma empolgante e poética obra de ficção mas não é o tipo de livros que se deva dar a uma criança para lhe moldar a moral.
(Ritchar Dawkins)
Se algum realizador cinematográfico quisesse contar a história do homem como espécie animal poderia, com toda a propriedade, intitulá-lo “Nascidos para Acreditar”.
Se as crianças, filhas dos nossos antepassados, tivessem tido a necessidade de aprenderem a sobreviver à custa da sua própria experiência, muito naturalmente, a percentagem dos que passariam à idade adulta não seria suficiente para assegurar a continuidade da espécie.
Acreditar obedientemente, sem contestar, nos conselhos dos pais, dos avós, dos chefes, das pessoas mais velhas, foi a necessidade sentida, a palavra de ordem para a qual o cérebro humano desenvolveu uma predisposição psicológica acentuada nas crianças imediatamente a partir do seu nascimento.
Nunca animal nenhum tinha necessitado tanto das experiências de vida dos seus progenitores porque também nenhum outro tinha nascido tão frágil e dependente por um período tão longo da sua vida.
E a evolução parece que só teve esse caminho: aquelas crianças tinham que acreditar e ser obedientes.
A evolução, através da selecção natural, não tem soluções pré programadas, na maioria dos casos até nem as tem, a maioria das suas tentativas são becos sem saída que terminam na extinção.
No caso concreto do homem a aposta foi num cérebro superior mas condicionada a um período inicial em que “a ordem” foi “não penses, (não arrisques) faz o que te digo” se queres ter mais possibilidades de sobreviver.
Esta “terrível”necessidade de acreditar que, provavelmente, pode ter sido decisiva para que eu possa estar hoje aqui a escrever este texto no teclado do meu computador, é precisamente a mesma que explica que um número assustadoramente elevado de pessoas continue a seguir à risca os seus livros sagrados.
De acordo com uma sondagem da Gallup, cerca de 50% dos eleitores americanos fazem parte dessas pessoas (o que não deixa de ser assustador…) não obstante muitos teólogos afirmarem que já não seguem à risca o livro do Génesis.
Comece-se, então, este livro pela conhecida história da Arca de Noé que sendo encantadora tem, no entanto, uma moral perfeitamente aterradora que revela a consideração que Deus tinha pelos humanos pois, à excepção de uma única família, afogou-os a todos, incluindo crianças, e os restantes animais.
Na destruição de Sodoma e Gomorra o equivalente a Noé escolhido para ser salvo foi Lot, sobrinho de Abraão, porque era incomparavelmente justo.
Dois anjos foram enviados a Sodoma para avisar Lot que saísse da cidade antes desta ser assolada pelo enxofre.
Hospitaleiro, Lot, recebeu os anjos em sua casa, após o que todos os homens de Sodoma se juntaram em redor e exigiram que ele lhes entregasse os anjos para (que outra coisa haveria de ser?) os sodomizarem.
“Onde estão os homens que entraram na tua casa esta noite. Trá-los cá para fora para nós os conhecermos” (Génesis 19:5)
Sim, “conhecer” tem o habitual significado eufemístico da versão autorizada da Bíblia, o que, no contexto, é bastante curioso.
A galhardia com que Lot se recusa a ceder a tal exigência sugere que Deus terá acertado ao elegê-lo como o único homem bom de Sodoma.
Mas os termos da sua recusa irá manchar essa aura de Lot:
-“Suplico-vos, meus irmãos, não cometais semelhante maldade. Eu tenho duas filhas ainda virgens. Eu vo-las trarei. Farei delas o que vos aprouver, mas não façais mal a esses homens porque vieram acolher-se à sombra do meu teto” (Génesis 19:7-8)
Independentemente de outros significados que esta história possa encerrar, ela diz-nos seguramente alguma coisa acerca do respeito pelas mulheres nesta cultura intensamente religiosa.
O que acabou por acontecer foi que a oferta, por troca, da virgindade das filhas se mostrou desnecessária, já que os anjos conseguiram repelir os meliantes cegando-os miraculosamente. Depois, avisaram Lot para que fugisse de imediato com a sua família e os seus animais porque a cidade estava prestes a ser destruída.
Toda a gente escapou excepto a infeliz esposa, a quem o Senhor transformou numa estátua se sal porque cometeu o crime - relativamente brando, dir-se-ia - de olhar para trás para mirar o aparato pirotécnico.
As duas filhas de Lot voltam a aparecer por breves instantes na história porque depois da mãe ter sido transformada numa estátua de sal ficaram a viver com o pai numa caverna, no cimo de um monte.
Famintas de companhia masculina, decidiram embriagar o pai e deitar-se com ele. Lot estava longe de se poder aperceber de quando a filha mais velha se deitou na cama com ele ou de quando se levantou mas não estava suficientemente embriagado para a engravidar.
Na noite seguinte as duas filhas concordaram que seria a vez da mais nova e repetiram a cena da embriaguês que não impediu, novamente, que a filha ficasse grávida.
Se esta família disfuncional era o melhor que Sodoma tinha para oferecer quanto a preceitos morais, então talvez Deus desperte alguma solidariedade quanto ao seu criterioso enxofre.
Num outro episódio, capítulo 19 do Livro dos Juízes, vemos uma história semelhante à de Lot.
Um levita (sacerdote) viajava com a sua concubina em Guibeá. Passaram a noite em casa de um velho hospitaleiro mas quando ceavam, os homens da cidade chegaram, bateram à porta exigindo que o velho lhes entregasse o seu convidado “a fim de o conhecerem” e o velho com uma argumentação idêntica à de Lot, disse:
“ Não, meus irmãos! Eu vo-lo peço por favor, não pratiqueis semelhante mal! Agora que este homem entrou na minha casa, não pratiqueis tal desonra! Eis a minha filha que está virgem e a concubina dele; vou fazê-las sair, abusai delas, fazei-lhes o que vos agradar! A este homem, porém, não lhe façais uma infâmia desta natureza”
Uma vez mais transparece com toda a clareza o ódio e aversão às mulheres com a expressão sinistra de “abusai delas”.
O desfecho desta história não foi feliz:
O levita entregou a concubina à multidão que a violou consecutivamente durante toda a noite. “Eles conheceram-na e satisfizeram com ela a sua luxúria durante toda a noite e só a deixaram livre ao amanhecer. Ao raiar da aurora, a mulher caiu por terra à porta da casa onde estava o seu marido até vir o dia” (Juízes 19: 25-6).
De manhã, o levita, encontrando a concubina prostrada à porta da casa disse: - num tom que hoje podemos considerar de grande insensibilidade – “Levanta-te e vamos”. Mas ela não se mexeu, estava morta. Então ele “pegou num cutelo e agarrando na sua concubina, esquartejou-a membro a membro em doze pedaços, enviando-os depois a todas tribos de Israel”
Na sequência deste episódio, e por vingança, segue-se uma guerra onde mais de sessenta mil homens foram mortos.
O tio de Lot, Abraão, foi o pai fundador das três grandes religiões monoteístas e o seu estatuto de patriarca confere-lhe uma importância, enquanto modelo de comportamento, apenas ligeiramente inferior à do próprio Deus.
No entanto, que moralista moderno iria querer segui-lo?
Na sua longa vida Abraão foi para o Egipto onde, na companhia da sua mulher Sara, enfrentou um período de escassez e fome.
Apercebeu-se então, de que uma mulher assim bela seria cobiçada pelos egípcios e a sua própria vida, enquanto marido, poderia estar em perigo.
Por esta razão, decidiu fazê-la passar por irmã e é nesta qualidade que ela foi levada ao harém do faraó sob cuja protecção Abraão ficou rico (à custa da mulher… já se vê) mas Deus desaprovou tal aconchego e mandou pragas sobre o faraó e a sua casa (e por que não sobre Abraão?).
Compreensivelmente magoado com o agravo, o faraó exigiu saber por que motivo Abraão não lhe tinha dito que Sara era sua mulher e expulsou-os do Egipto. (Génesis 12:18-19)
Mais tarde, o casal volta a cometer a mesma proeza desta vez com Amibelec, rei de Guerar, induzido a casar com Sara julgando, também, que ela era irmã de Abraão e não sua mulher. (Génesis 20:2-5).
Mas se estes episódios são desagradáveis na história de Abraão eles são pecados menores quando comparados com a famigerada história do sacrifício do seu filho muito desejado Isaac por ordem de Deus.
Construído o altar e amarrado Isaac sobre a lenha já estava Abraão de cutelo em punho pronto para a matança quando lhe apareceu um anjo e o mandou parar porque Deus, afinal, estava só a brincar, submetendo Abraão à tentação e testando-lhe a fé.
Pelos padrões da moralidade moderna esta história vergonhosa é, simultaneamente, um exemplo de abuso de menores, de tratamento tirânico entre duas relações de poder assimétrico, e o primeiro caso de que há registo da defesa utilizada em Nuremberga:”Estava apenas a cumprir ordens”.
Mesmo assim, esta lenda é um dos grandes mitos fundadores das três religiões monoteístas.
Thomas Jefferson, 3º Presidente dos EUA, estadista, filósofo político, arquitecto, arqueólogo e um espírito que representava o Iluminismo emitiu a opinião de que o “Deus de Moisés e de Abraão é um ser de carácter terrífico – cruel, vingativo, caprichoso e injusto”.
Há teólogos modernos que dirão que a história do sacrifício de Isaac por Abraão não deve ser entendida literalmente mas esse não é o facto relevante.
Relevante, é sim, haver muitíssimas pessoas nos dias de hoje, repetimos os resultados das sondagens em que metade dos americanos que votam seguem à risca os textos bíblicos e alguns deles detêm grande poder político sobre nós, especialmente nos EUA e no mundo islâmico.
A história bíblica da destruição de Jericó por Josué, tal como a invasão da Terra Prometida em geral, em nada se distingue, do ponto de vista moral, da invasão da Polónia por Hitler ou do massacre dos Curdos e dos Árabes das zonas pantanosas do Iraque por Sadam Hussein
A Bíblia pode até ser uma empolgante e poética obra de ficção mas não é o tipo de livros que se deva dar a uma criança para lhe moldar a moral.
quinta-feira, maio 08, 2008
As Raízes da Religião
( RITCHARD DAWKIINS )
Sabendo que somos produtos da evolução natural Darwiniana, o que é preciso procurar e entender é que pressões terão sido exercidas pela selecção natural favoráveis, na sua origem, às religiões, comuns em todas as culturas humanas.
E isto, porque, aparentemente, as religiões, esbanjadoras e extravagantes, não se conciliam com as regras da selecção natural que é sovina e pune a mínima extravagância.
Darwin explicou:
“ A selecção natural escrutina dia a dia, hora a hora, por todo o mundo, todas as variações, mesmo as mais ínfimas, rejeitando aquilo que é mau, preservando e aumentando aquilo que é bom; trabalhando em silencio e sem cessar, onde e sempre que a oportunidade o permita, para o aperfeiçoamento de todos os organismos”.
Por outras palavras: se um animal selvagem tem por hábito uma actividade inútil qualquer, a selecção natural vai favorecer os seus rivais que, pelo contrário, dedicam esse tempo e energia à sobrevivência e à reprodução.
Ora, a religião, pode pôr em perigo a vida das pessoas, milhares delas foram torturadas e perseguidas por lealdade a um culto religioso por seguidores de um culto alternativo que nem é muito diferente do deles, sendo igualmente certo que devora recursos disponíveis numa escala maciça.
A construção, por exemplo, de uma catedral na Idade Média podia levar séculos de trabalho humano e depois de construída não era usada como residência ou para qualquer outro fim que fosse reconhecidamente útil.
Gente devota morreu pelos seus deuses e por eles matou, outros autoflagelaram-se até as costas verterem sangue, ou juraram uma vida de celibato ou de silêncio em clausura, tudo ao serviço da religião.
Para quê tudo isto? Qual o benefício da religião?
O facto da religião ter aparecido em todo o lado significa, provavelmente, que funcionou em benefício de algo mas não no nosso benefício ou no dos nossos genes.
Kim Sterelny, filósofo naturalista australiano/neozelandês, relativamente aos povos aborígenes da Austrália, Papuásia e Nova Guiné que vivem, provavelmente, de forma muito idêntica à dos nossos antepassados, chamava a atenção para um surpreendente contraste das suas vidas:
- Por um lado, testam ao limite as suas capacidades de sobrevivência em ambientes extraordinariamente hostis de uma forma bem sucedida graças a um entendimento preciso do ambiente biológico que os rodeia.
-Por outro lado, aliam a esse entendimento, obsessões profundas e destrutivas atulhando as suas mentes de crenças e vivendo atormentados por medos relacionados com a feitiçaria e a magia.
Como podemos, ao mesmo tempo, ser tão estúpidos e tão espertos, pergunta Sterelny e acrescenta que a nossa espécie é dotada de uma”inteligência perversa” quando as mesmas pessoas são tão sabedoras acerca do mundo natural e de como nele sobreviver e, em simultâneo, alimentam as suas mentes com crenças falsas e altamente perturbadores das suas vidas.
Embora os pormenores variem pelo mundo, todas as culturas têm os seus rituais religiosos: contraproducentes, anti factuais, dispendiosos e trabalhosos.
Alguns indivíduos cultos podem abandonar a religião mas todos somos criados numa cultura religiosa e é preciso uma decisão consciente para romper com ela.
A velha piada da Irlanda do Norte que pergunta: “ sim, mas és ateu católico ou ateu protestante?” está carregada de uma amarga verdade.
Os comportamentos religioso e heterossexual são “universais humanos” e embora comportem todas as excepções a nível individual elas sabem bem qual é a regra de que se afastam.
Do ponto de vista Darwiniano não há qualquer dificuldade em explicar o comportamento heterossexual sem o qual não haveria filhos mas e o comportamento religioso?
Por que jejuam os humanos, por que se ajoelham, se auto flagelam, acenam a cabeça freneticamente em frente de um muro, por que fazem cruzadas ou se entregam a práticas dispendiosas capazes de lhes consumir a vida e, em casos extremos, acabarem com ela?
Vantagens Directas da Religião
Será que a religião protege as pessoas em doenças como o stress?
As provas não são convincentes mas a cura pela fé pode resultar em determinados casos sem que isso reforce o verdadeiro valor das pretensões da religião.
Nas palavras de Bernard Shaw “o facto de um crente ser mais feliz que um céptico não é mais relevante do que o facto de um homem bêbedo ser mais feliz do que um sóbrio”.
Parte daquilo que um médico pode dar a um paciente é consolo e confiança. A voz tranquilizadora vinda de um rosto ladeado por um estetoscópio chega, muitas vezes, para “curar” muitos pequenos males.
O efeito placebo está bem documentado e nem sequer é muito misterioso. Está demonstrado que se consegue melhorar a saúde ministrando comprimidos sem qualquer actividade farmacológica.
Será a religião um placebo que prolonga a vida por reduzir o stress?
Talvez, embora esta teoria tenha de se submeter ao severo crivo dos cépticos que chamam a atenção para as muitas circunstâncias em que a religião provoca mais stress do que aquele que liberta.
A comediante americana Cathy Ladman observa que “todas as religiões são iguais: religião é, basicamente, culpa, com feriados diferentes”.
Não é crível que o motivo pelo qual temos religião seja porque ela reduzia os níveis de stress dos nossos antepassados.
A religião é um fenómeno vasto que carece de uma teoria vasta para o explicar.
Outras teorias de que “a religião satisfaz a nossa curiosidade sobre o universo e o nosso lugar nele” ou “a religião é consoladora” não são explicações darwinianas embora possa haver nelas alguma verdade psicológica.
Steven Pinker dizia, relativamente à teoria do “consolo”, “porque há-de uma mente evoluir para encontrar consolo em crenças que claramente se sabe que são falsas?”
Mas para os cientistas darwinianos o que interessa é encontrar as causas profundas ou seja, qual a pressão da selecção natural que favoreceu tal ocorrência.
Suponhamos que os neurologistas descobrem no cérebro um “centro-deus”, então é preciso saber a razão pela qual os nossos antepassados com uma tendência genética para desenvolver nos seus cérebros esse “centro-deus” sobreviveram de maneira a terem mais netos do que os outros que não a tinham.
Tão pouco os darwinianos se dão por satisfeitos com explicações de natureza política, do género “a religião é uma ferramenta usada pela classe dirigente para subjugar as classes inferiores”.
É verdade que consolava os escravos negros da América com promessas de outra vida, o que lhes embotava o descontentamento com a vida deste mundo e beneficiava, assim, os seus donos.
Se as religiões são deliberadamente criadas por sacerdotes cínicos ou por governantes, é uma questão interessante à qual os historiadores devem prestar atenção, mas não é uma questão darwiniana.
O investigador darwiniano quer saber por que razão as pessoas são vulneráveis aos encantos da religião expondo-se, desse modo, à exploração de sacerdotes, políticos e reis.
A Religião como um Sub-Produto de outra coisa
Numa perspectiva darwiniana, Richard Dawkins, tal como um número crescente de biólogos, vê a religião, cada vez mais, como um sub-produto de outra coisa.
Para explicar esta ideia o autor socorre-se de um exemplo concreto que tem a ver com a traça uma vez que ele próprio é um especialista nesta área (etólogo – estuda os comportamentos padrões das espécies).
As traças voam na direcção da chama de uma vela e isso não parece ser por acaso porque fazem propositadamente desvios no voo para se oferecerem em sacrifício.
Poderemos designar isto como um “comportamento de auto imolação” e logo nos perguntamos como é que a selecção natural pode favorecer um comportamento destes.
Mas esta pergunta está mal feita e tem de ser reformulada para poder ter uma resposta inteligente porque não se trata de um suicídio, ele é apenas aparente e surge como um efeito secundário involuntário ou “um sub-produto de outra coisa”.
Expliquemos:
É recente a chegada da luz artificial às nossas noites. Até há bem pouco tempo a única iluminação nocturna era a luz da lua e das estrelas que estão no infinito óptico pelo que os raios que delas nos chegam são paralelos.
Isto permite que eles sejam usados como bússola pois sabe-se que os insectos usam objectos celestes tais como o sol e a lua para se deslocarem em linha recta com precisão e que se servem da mesma bússola mas com sinal contrário, quando voltam para casa depois de uma surtida.
Mas para que a bússola da luz funcione é vital que o objecto que a emite esteja no infinito óptico porque, senão estiverem, os raios já não são paralelos divergindo como os de uma roda.
Para a traça continua a ser compensador o seu mecanismo de orientação ancestral porque aquelas que nós vimos “suicidando-se” contra a chama das velas são uma minoria comparadas com as que continuam a avistar a luz da lua e não a das velas.
Vamos então reformular a pergunta: “porque motivo estão as traças a cometer suicídio?”.
A pergunta correcta é: por que têm as traças sistemas nervosos que as guiam mantendo um ângulo fixo em relação aos raios de luz, táctica esta na qual só reparamos quando as coisas correm mal?
Reformulada a pergunta o mistério desaparece e tudo fica compreensível.
Aplique-se agora ao comportamento religioso dos humanos a lição acerca do subproduto.
Vemos numerosos grupos de pessoas, que em alguns casos chegam aos 100%, defender crenças que contradizem rotundamente factos cientificamente comprovados. As pessoas não só nutrem por estas crenças uma certeza veemente, como também lhes dedicam tempo e recursos chegando mesmo a morrer e a matar por elas.
Pasmamos com este facto da mesma maneira que pasmávamos com o comportamento de “auto imolação” das traças.
E mais uma vez perguntamos, angustiados, porquê e mais uma vez estaremos a fazer a pergunta errada porque o comportamento religioso pode ser “um tiro falhado”, um “subproduto” infeliz de uma propensão psicológica subjacente que, noutras circunstâncias, terá sido, em tempos, útil.
Por este prisma, a propensão que acabou por ser naturalmente seleccionada pelos nossos antepassados não era religião “per si”; teria uma outra vantagem qualquer e só circunstancialmente se manifesta sob a forma de comportamento religioso.
Se a religião é, então, subproduto de outra coisa o que é essa outra coisa?
Qual é a característica primitiva vantajosa que por vezes falha dando origem à religião?
A hipótese de resposta concreta de Dawkins centra-se nas crianças.
Expliquemos:
Nenhuma outra espécie depende tanto, na sua sobrevivência, das experiências acumuladas pelas gerações anteriores como a nossa, e essas experiências têm que ser transmitidas às crianças para a sua protecção e bem-estar.
Teoricamente, as crianças poderão aprender por si, pela sua experiência, a não se aproximarem de um penhasco, a não comerem bagas vermelhas desconhecidas, a não nadarem em águas infestadas de crocodilos, pois podem mas possuirão menos vantagens selectivas relativamente às crianças cujo cérebro contiver a seguinte regra prática: acredita sem hesitações em tudo o que os adultos te disserem, obedece aos teus pais, aos chefes da tribo, sobretudo quando falam num tom grave e ameaçador, confia nos mais velhos sem contestar.
Esta é, por norma, a regra para uma criança mas, como no caso das traças, pode dar mau resultado.
Conta-se, a este propósito, uma história em que as crianças acreditam:
“ Era um pelotão de soldados que treinava ao lado de uma linha de caminho de ferro. Num dado momento crítico, o sargento encarregado do treino distraiu-se e não deu a voz de «alto» e os soldados, de bem tão bem ensinados que estavam a cumprir ordens, não pararam e foram de encontro ao comboio”. Quando se tem 9 anos é possível acreditar nestas coisas.
A selecção natural constrói o cérebro das crianças de maneira a neles incutir uma tendência para acreditarem no que lhes dizem os pais e os chefes mas eles são incapazes de distinguir os bons ensinamentos dos maus e esta é consequência automática da “tendência para acreditar” das crianças.
A criança não pode adivinhar que “não te metas no rio Limpopo que está infestado de crocodilos” é um bom conselho e que “tens que sacrificar uma cabra senão a chuva não vem” é, no mínimo, um desperdício de tempo e cabras.
Ambos os avisos parecem igualmente dignos de confiança, ambos provêm de uma fonte respeitável e são proferidos com uma grave seriedade que inspira respeito e exige obediência.
E quando a criança crescer e tiver filhos seus, ela irá, muito provavelmente, transmitir-lhes tudo - quer o bom senso, quer o disparate – com toda a naturalidade, usando o mesmo ar grave e contagiante.
Os líderes religiosos estão bem cientes da vulnerabilidade do cérebro de uma criança e desta ser doutrinada em tenra idade.
Lembremo-nos de madrassas (escolas onde se ensina o Corão), só no Paquistão mais de 1,5 milhões de crianças frequentam estas escolas e, já agora, aquela afirmação vaidosa dos jesuítas: “ dai-me uma criança nos seus primeiros 7 anos e eu dar-vos-ei o homem”.
James Dobson que em 1992 fundou nos EUA o famigerado Focus on de Family mostra que também conhece o princípio quando diz: “ Aqueles que controlam o que é ensinado aos mais novos e aquilo que são as suas experiências – pensam, vêm, ouvem e crêem – irão determinar o rumo futuro da nação”.
Dawkins põe o acento tónico na criança como estando nela a explicação para a religião como um “sub produto de outra coisa” mas ele próprio admite que este não seja o único e haja muitos “sub produtos” provenientes de disposições psicológicas normais.
quarta-feira, maio 07, 2008
A Religião
A Religião
“A religião convenceu efectivamente as pessoas de que existe um homem invisível que vive no céu e que vê tudo o que fazemos, a cada minuto do dia. E o homem invisível tem uma lista de dez coisas que não quer que façamos. E se fizermos algumas dessas coisas, ele tem um lugar especial, repleto de fogo e fumo e calor e abrasamento e dor para onde nos manda viver e sofrer e arder e sufocar e gritar e chorar para todo o sempre, até ao fim dos tempos…
“A religião convenceu efectivamente as pessoas de que existe um homem invisível que vive no céu e que vê tudo o que fazemos, a cada minuto do dia. E o homem invisível tem uma lista de dez coisas que não quer que façamos. E se fizermos algumas dessas coisas, ele tem um lugar especial, repleto de fogo e fumo e calor e abrasamento e dor para onde nos manda viver e sofrer e arder e sufocar e gritar e chorar para todo o sempre, até ao fim dos tempos…
…Mas ele ama-nos!”
(George Carlin)
George Carlin vai falar connosco a seguir:
(George Carlin)
George Carlin vai falar connosco a seguir:
domingo, maio 04, 2008
Deus Existe?
Será que Deus existe?
Vejamos, sobre esta questão, como se dividem as pessoas:
Teísmo - Que agrupa todos aqueles que acreditam numa inteligência sobrenatural que, além de ter criado o universo, se encontra por perto para vigiar e influenciar o destino subsequente da sua criação inicial.
Em certos casos, a divindade está intimamente envolvida nos assuntos humanos, responde às preces, perdoa ou castiga pelos pecados, opera milagres e agita-se tanto com as boas como com as más acções que praticamos ou mesmo quando nos limitamos a pensar em praticá-las;
Deístas – Todos aqueles que acreditam numa inteligência sobrenatural que criou o universo e as leis que o regem e por aqui se terá ficado num aparente desinteresse pelos destinos humanos;
Panteístas - Aqueles que não acreditam num Deus sobrenatural mas usam a palavra Deus como sinónimo não sobrenatural da natureza ou do universo ou da legitimidade que rege o seu funcionamento.
Este Deus metafórico ou panteísta dos físicos está a anos-luz do Deus bíblico interventivo, milagreiro, leitor dos pensamentos, punidor de pecados, atendedor de preces e que é o Deus dos padres, mulás e rabinos.
Como exemplo de panteístas referiremos Carl Sagan e Einstein:
Escreve Carl Sagan:…” se com “Deus” nos referimos ao conjunto de leis físicas que regem o universo, então há claramente um “Deus”, um “Deus” que é emocionalmente insatisfatório…não faz muito sentido rezar à lei da gravidade.”
Einstein, por sua vez, escrevia; “Sentir que por detrás de qualquer coisa que possa ser experimentada há algo que a nossa mente não consegue compreender e cuja beleza e sublimidade nos atinge apenas indirectamente como um débil reflexo, isso é religiosidade. Neste sentido sou religioso”.
Ateísmo – Que agrupa os que recusam a existência de uma entidade sobrenatural e não utilizam a palavra Deus para designar o que quer que seja para que não se preste a confusões.
Agnósticos - Aparecem no fim do século XIX e representam uma corrente de pensamento que, em síntese, afirma o seguinte; se o que determina a crença em Deus é a fé e esta não é baseada na razão logo, do ponto de vista racional, não se pode demonstrar a existência ou inexistência de Deus.
Há, no entanto, uma outra categoria de pessoas que se afirmam como crentes e seguidores desta ou daquela religião mas que, no fundo, não fazem mais do que “mentir” à sociedade por uma questão de conveniência pessoal. São os falsos religiosos.
O actual presidente da Royal Society confessou a Richard Dawkins que vai à Igreja como “anglicano descrente…por lealdade com a tribo.”
Mas não será só por uma questão de “lealdade com a tribo” mas também por medo das represálias da sociedade como se pode deduzir pelos resultados de uma sondagem efectuada em 1999 pela Gallup e na qual se perguntava aos americanos se eles votariam numa pessoa bem habilitada e que fosse mulher:
95% Responderam afirmativamente; se fosse católica 94%; se fosse judia, 92%; se fosse negra, 92%; se fosse homossexual, 79%; se fosse ateu, 49%.
A mentira está, portanto, explicada e justificada como igualmente se percebe melhor os cuidados e a atenção, por vezes demasiada, com que os candidatos à Casa Branca se referem e tratam o tema religião nas suas campanhas eleitorais.
Consequentemente, os não crentes têm muita dificuldade em assumirem-se, sobretudo entre a elite mais instruída e não é só de hoje.
John Stuart Mill, já no sec. XIX afirmava:”O mundo ficaria espantado se soubesse quantos dos seus melhores ornatos, dos que mais se distinguem pelo apreço popular, sabedoria e virtude são completamente cépticos”.
Aqui, neste ponto, levanta-se a questão de saber se para sermos bons precisamos de Deus ou se uma crença religiosa é necessária para que tenhamos preceitos morais.
Vale a pena transcrever, a propósito da razão de sermos bons, este notável pensamento de Albert Einstein:
“Estranha é a nossa situação aqui na Terra. Cada um de nós vem para uma curta visita, sem saber porquê, por vezes parecemos adivinhar um objectivo. No entanto, do ponto de vista do quotidiano, há uma coisa que sabemos: que o homem está aqui pelos outros homens – acima de tudo por aqueles de cujos sorrisos e bem-estar depende a nossa própria felicidade”.
Há pessoas religiosas que têm dificuldade em imaginar como é que alguém sem religião pode ser bom e para que há-de querer ser bom.
E depois, há outras ainda, que desenvolvem ódio contra aqueles que não partilham a sua fé, um ódio violento, de morte sem contemplações e isto na defesa da religião que professam!
Por que é que se acredita que para se defender Deus é preciso ser-se tão feroz?
Há estudos e experiências efectuadas com ateus e crentes religiosos que permitem concluir não existirem diferenças estatísticas significativas entre uns e outros quanto a juízos morais pelo que não precisamos da religião para sermos bons ou maus.
Mas então se Deus não existe para quê ser bom?
A este propósito dizia Einstein: “Se as pessoas são só boas porque temem o castigo e esperam a recompensa, então somos mesmo uma triste cambada.”
O grande filósofo Emanuel Kant, embora religioso, como era quase inevitável à época, baseou toda a moralidade no dever pelo dever e não em função de Deus.
É verdade que a filiação num partido político nos EUA não é um indicador perfeito do factor religiosidade mas não é segredo nenhum que os estados republicanos são fortemente influenciados pelos cristãos conservadores pelo que seria de esperar uma sociedade mais saudável relativamente aos estados democratas onde a influencia do conservadorismo cristão não se faz tanto sentir.
Essa não é, no entanto, a realidade. Das 25 cidades com mais baixos índices de crimes violentos 62% acontecem nos estados democratas e 38% nos republicanos. Das 25 cidades mais perigosas 76% estão em estados republicanos e 24% nos democratas.
Na verdade, 3 das 5 cidades mais perigosas do EUA situam-se no devoto estado do Texas e dos 22 estados com índices de homicídio mais elevado, 17 são republicanos.
No jornal of Religion and Society (2005), Gregory S. Paul levou a cabo um estudo comparativo sistemático de 17 nações economicamente desenvolvidas, chegando à devastadora conclusão que:
“Nas democracias prósperas, índices mais elevados de crença e adoração de um criador correlacionam-se com índices mais elevados de homicídio, mortalidade juvenil e precoce, índices de contágio de doenças sexualmente transmissíveis, gravidez na adolescência e aborto”.
Estes resultados atingiram tão profundamente as propaladas pretensões de superior virtude moral por parte das pessoas religiosas que se assistiu de imediato a um acréscimo da investigação desencadeada por organizações religiosas que os tentaram refutar…mas até à data ainda nada apareceu que desmentisse os dados do estudo referido e as conclusões a que eles conduzem.
Mas, regressemos de novo à pergunta inicial acerca da existência de Deus e sobre ela vamos abrir um leque de probabilidades de 0 a 100%.
1º -Ateu convicto - “Sei que Deus não existe com o mesmo grau de convicção com que Carl Gustav Jung “sabe” que ele existe;
2º -Ateu de Facto – Uma probabilidade muito baixa mas acima do zero. “Não tenho a certeza, mas acho muito improvável Deus existir e vivo a minha vida no pressuposto de que ele não existe”.
3º-Tecnicamente Agnóstico – Abaixo dos 50% mas não muito, tende para o ateísmo. “Não sei se Deus existe, mas inclino-me para o cepticismo”.
4º- Agnóstico Completamente – Exactamente 50%. “A existência ou a não existência de Deus são igualmente incomprováveis.
5º- Tecnicamente Agnóstico - Acima dos 50% mas não muito elevado a tender para o teísmo. “Estou muito indeciso, mas inclinado a acreditar em Deus”.
6º- Teísta de Facto – Grande probabilidade mas aquém dos 100%. “Não posso ter a certeza, mas acredito firmemente em Deus e vivo a minha vida no pressuposto de que ele existe”
7º- Teísta Convicto – 100% de probabilidades da existência de Deus. Nas palavras de C. G. Jung, “Eu não acredito, eu sei”.
Reflectindo sobre este leque de hipóteses sobre a existência de Deus, e embora admita que existem pessoas para cada uma das sete hipóteses, a primeira e a última são, para mim, as mais credíveis e as mais sinceras.
Acreditar ou não acreditar em Deus tem a ver com uma questão de fé que não é possível existir em pequenas, médias ou grandes doses, ou se tem fé ou não se tem.
Se sim, acredita-se em Deus a 100%, na modalidade teísta ou deísta.
Se não se tem fé, coerentemente, só se pode ser ateu.
As hipóteses intermédias têm a ver com a delicadeza do tema:
Todos nascemos em sociedades mais ou menos religiosas e há um grau de religiosidade que, diria, nos é insuflado logo após o primeiro choro e que cada um de nós desenvolve em maior ou menor grau em função das características da nossa própria personalidade e do contexto social em que a nossa vida decorre.
E, em certos contextos sociais, não é fácil, muitas vezes é impossível, que alguém se consiga libertar totalmente de um elemento que insuflado à nascença é como se fosse constitutivo de si próprio e por isso aquele limbo de incerteza, de cepticismo, de dúvida tão difícil de quebrar e que não é mais do que um refúgio onde escondemos todos os “diabinhos” que nos assaltam.
Eu penso que a fragilidade do ser humano, este nosso intelecto que nos superioriza tão claramente aos restantes animais mas que não chega para fazer de nós deuses, este ficar a meio caminho, nem animal nem deus, se traduz, de facto, numa fragilidade.
Ser ateu, é um acto de coragem, é regressar definitivamente à terra e aos animais a que pertencemos e cuja evolução encabeçamos.
Ser ateu, é um acto de humildade para com a vida, é deixar de ser pretensioso e “convencido” sobre aquilo que, de facto, não somos por muito que gostássemos de o ser.
Ser ateu, é perceber que a vida desenrola-se à nossa volta e é nela que temos de concentrar todas as nossas energias e capacidades.
Ser ateu é respeitar a natureza como um legado dos nossos antepassados a transmitir aos nossos descendentes com o máximo respeito por todas as formas de vida.
Ser ateu é respeitar todas as pessoas independentemente de elas o serem ou não.
Ser ateu, é amar a vida e os outros muito em especial “aqueles de cujos sorrisos e bem-estar a nossa felicidade depende”
Nesta perspectiva, eu sou ateu.
Será que Deus existe?
Vejamos, sobre esta questão, como se dividem as pessoas:
Teísmo - Que agrupa todos aqueles que acreditam numa inteligência sobrenatural que, além de ter criado o universo, se encontra por perto para vigiar e influenciar o destino subsequente da sua criação inicial.
Em certos casos, a divindade está intimamente envolvida nos assuntos humanos, responde às preces, perdoa ou castiga pelos pecados, opera milagres e agita-se tanto com as boas como com as más acções que praticamos ou mesmo quando nos limitamos a pensar em praticá-las;
Deístas – Todos aqueles que acreditam numa inteligência sobrenatural que criou o universo e as leis que o regem e por aqui se terá ficado num aparente desinteresse pelos destinos humanos;
Panteístas - Aqueles que não acreditam num Deus sobrenatural mas usam a palavra Deus como sinónimo não sobrenatural da natureza ou do universo ou da legitimidade que rege o seu funcionamento.
Este Deus metafórico ou panteísta dos físicos está a anos-luz do Deus bíblico interventivo, milagreiro, leitor dos pensamentos, punidor de pecados, atendedor de preces e que é o Deus dos padres, mulás e rabinos.
Como exemplo de panteístas referiremos Carl Sagan e Einstein:
Escreve Carl Sagan:…” se com “Deus” nos referimos ao conjunto de leis físicas que regem o universo, então há claramente um “Deus”, um “Deus” que é emocionalmente insatisfatório…não faz muito sentido rezar à lei da gravidade.”
Einstein, por sua vez, escrevia; “Sentir que por detrás de qualquer coisa que possa ser experimentada há algo que a nossa mente não consegue compreender e cuja beleza e sublimidade nos atinge apenas indirectamente como um débil reflexo, isso é religiosidade. Neste sentido sou religioso”.
Ateísmo – Que agrupa os que recusam a existência de uma entidade sobrenatural e não utilizam a palavra Deus para designar o que quer que seja para que não se preste a confusões.
Agnósticos - Aparecem no fim do século XIX e representam uma corrente de pensamento que, em síntese, afirma o seguinte; se o que determina a crença em Deus é a fé e esta não é baseada na razão logo, do ponto de vista racional, não se pode demonstrar a existência ou inexistência de Deus.
Há, no entanto, uma outra categoria de pessoas que se afirmam como crentes e seguidores desta ou daquela religião mas que, no fundo, não fazem mais do que “mentir” à sociedade por uma questão de conveniência pessoal. São os falsos religiosos.
O actual presidente da Royal Society confessou a Richard Dawkins que vai à Igreja como “anglicano descrente…por lealdade com a tribo.”
Mas não será só por uma questão de “lealdade com a tribo” mas também por medo das represálias da sociedade como se pode deduzir pelos resultados de uma sondagem efectuada em 1999 pela Gallup e na qual se perguntava aos americanos se eles votariam numa pessoa bem habilitada e que fosse mulher:
95% Responderam afirmativamente; se fosse católica 94%; se fosse judia, 92%; se fosse negra, 92%; se fosse homossexual, 79%; se fosse ateu, 49%.
A mentira está, portanto, explicada e justificada como igualmente se percebe melhor os cuidados e a atenção, por vezes demasiada, com que os candidatos à Casa Branca se referem e tratam o tema religião nas suas campanhas eleitorais.
Consequentemente, os não crentes têm muita dificuldade em assumirem-se, sobretudo entre a elite mais instruída e não é só de hoje.
John Stuart Mill, já no sec. XIX afirmava:”O mundo ficaria espantado se soubesse quantos dos seus melhores ornatos, dos que mais se distinguem pelo apreço popular, sabedoria e virtude são completamente cépticos”.
Aqui, neste ponto, levanta-se a questão de saber se para sermos bons precisamos de Deus ou se uma crença religiosa é necessária para que tenhamos preceitos morais.
Vale a pena transcrever, a propósito da razão de sermos bons, este notável pensamento de Albert Einstein:
“Estranha é a nossa situação aqui na Terra. Cada um de nós vem para uma curta visita, sem saber porquê, por vezes parecemos adivinhar um objectivo. No entanto, do ponto de vista do quotidiano, há uma coisa que sabemos: que o homem está aqui pelos outros homens – acima de tudo por aqueles de cujos sorrisos e bem-estar depende a nossa própria felicidade”.
Há pessoas religiosas que têm dificuldade em imaginar como é que alguém sem religião pode ser bom e para que há-de querer ser bom.
E depois, há outras ainda, que desenvolvem ódio contra aqueles que não partilham a sua fé, um ódio violento, de morte sem contemplações e isto na defesa da religião que professam!
Por que é que se acredita que para se defender Deus é preciso ser-se tão feroz?
Há estudos e experiências efectuadas com ateus e crentes religiosos que permitem concluir não existirem diferenças estatísticas significativas entre uns e outros quanto a juízos morais pelo que não precisamos da religião para sermos bons ou maus.
Mas então se Deus não existe para quê ser bom?
A este propósito dizia Einstein: “Se as pessoas são só boas porque temem o castigo e esperam a recompensa, então somos mesmo uma triste cambada.”
O grande filósofo Emanuel Kant, embora religioso, como era quase inevitável à época, baseou toda a moralidade no dever pelo dever e não em função de Deus.
É verdade que a filiação num partido político nos EUA não é um indicador perfeito do factor religiosidade mas não é segredo nenhum que os estados republicanos são fortemente influenciados pelos cristãos conservadores pelo que seria de esperar uma sociedade mais saudável relativamente aos estados democratas onde a influencia do conservadorismo cristão não se faz tanto sentir.
Essa não é, no entanto, a realidade. Das 25 cidades com mais baixos índices de crimes violentos 62% acontecem nos estados democratas e 38% nos republicanos. Das 25 cidades mais perigosas 76% estão em estados republicanos e 24% nos democratas.
Na verdade, 3 das 5 cidades mais perigosas do EUA situam-se no devoto estado do Texas e dos 22 estados com índices de homicídio mais elevado, 17 são republicanos.
No jornal of Religion and Society (2005), Gregory S. Paul levou a cabo um estudo comparativo sistemático de 17 nações economicamente desenvolvidas, chegando à devastadora conclusão que:
“Nas democracias prósperas, índices mais elevados de crença e adoração de um criador correlacionam-se com índices mais elevados de homicídio, mortalidade juvenil e precoce, índices de contágio de doenças sexualmente transmissíveis, gravidez na adolescência e aborto”.
Estes resultados atingiram tão profundamente as propaladas pretensões de superior virtude moral por parte das pessoas religiosas que se assistiu de imediato a um acréscimo da investigação desencadeada por organizações religiosas que os tentaram refutar…mas até à data ainda nada apareceu que desmentisse os dados do estudo referido e as conclusões a que eles conduzem.
Mas, regressemos de novo à pergunta inicial acerca da existência de Deus e sobre ela vamos abrir um leque de probabilidades de 0 a 100%.
1º -Ateu convicto - “Sei que Deus não existe com o mesmo grau de convicção com que Carl Gustav Jung “sabe” que ele existe;
2º -Ateu de Facto – Uma probabilidade muito baixa mas acima do zero. “Não tenho a certeza, mas acho muito improvável Deus existir e vivo a minha vida no pressuposto de que ele não existe”.
3º-Tecnicamente Agnóstico – Abaixo dos 50% mas não muito, tende para o ateísmo. “Não sei se Deus existe, mas inclino-me para o cepticismo”.
4º- Agnóstico Completamente – Exactamente 50%. “A existência ou a não existência de Deus são igualmente incomprováveis.
5º- Tecnicamente Agnóstico - Acima dos 50% mas não muito elevado a tender para o teísmo. “Estou muito indeciso, mas inclinado a acreditar em Deus”.
6º- Teísta de Facto – Grande probabilidade mas aquém dos 100%. “Não posso ter a certeza, mas acredito firmemente em Deus e vivo a minha vida no pressuposto de que ele existe”
7º- Teísta Convicto – 100% de probabilidades da existência de Deus. Nas palavras de C. G. Jung, “Eu não acredito, eu sei”.
Reflectindo sobre este leque de hipóteses sobre a existência de Deus, e embora admita que existem pessoas para cada uma das sete hipóteses, a primeira e a última são, para mim, as mais credíveis e as mais sinceras.
Acreditar ou não acreditar em Deus tem a ver com uma questão de fé que não é possível existir em pequenas, médias ou grandes doses, ou se tem fé ou não se tem.
Se sim, acredita-se em Deus a 100%, na modalidade teísta ou deísta.
Se não se tem fé, coerentemente, só se pode ser ateu.
As hipóteses intermédias têm a ver com a delicadeza do tema:
Todos nascemos em sociedades mais ou menos religiosas e há um grau de religiosidade que, diria, nos é insuflado logo após o primeiro choro e que cada um de nós desenvolve em maior ou menor grau em função das características da nossa própria personalidade e do contexto social em que a nossa vida decorre.
E, em certos contextos sociais, não é fácil, muitas vezes é impossível, que alguém se consiga libertar totalmente de um elemento que insuflado à nascença é como se fosse constitutivo de si próprio e por isso aquele limbo de incerteza, de cepticismo, de dúvida tão difícil de quebrar e que não é mais do que um refúgio onde escondemos todos os “diabinhos” que nos assaltam.
Eu penso que a fragilidade do ser humano, este nosso intelecto que nos superioriza tão claramente aos restantes animais mas que não chega para fazer de nós deuses, este ficar a meio caminho, nem animal nem deus, se traduz, de facto, numa fragilidade.
Ser ateu, é um acto de coragem, é regressar definitivamente à terra e aos animais a que pertencemos e cuja evolução encabeçamos.
Ser ateu, é um acto de humildade para com a vida, é deixar de ser pretensioso e “convencido” sobre aquilo que, de facto, não somos por muito que gostássemos de o ser.
Ser ateu, é perceber que a vida desenrola-se à nossa volta e é nela que temos de concentrar todas as nossas energias e capacidades.
Ser ateu é respeitar a natureza como um legado dos nossos antepassados a transmitir aos nossos descendentes com o máximo respeito por todas as formas de vida.
Ser ateu é respeitar todas as pessoas independentemente de elas o serem ou não.
Ser ateu, é amar a vida e os outros muito em especial “aqueles de cujos sorrisos e bem-estar a nossa felicidade depende”
Nesta perspectiva, eu sou ateu.
Poemas de Guerra
(José Niza )
CORRE CORRE SOLDADINHO
Corre corre soldadinho
Que a vida é corrida louca
Para onde vais soldadinho
Com esse cravo na boca?
Corro para o meu amor
Com este cravo na boca
Levo comigo saudades
E a minha vida que é pouca
Para onde vais soldadinho
Com essa corrida louca?
Vou ao encontro da morte
E levo um cravo na boca.
O Magalinha
Era uma vez um magalinha
Que tinha uma galinha
Veio uma guerra daninha
E levou o magalinha
Comeram a galinha
Morreu o povo
E só se salvou
Um ovo
A Construção do Silêncio
Já pensaste
Na imensidão dos gritos sofreados
Que são necessários para construir o silêncio?
Já alguma vez calculaste
Quantas mordaças apertadas
E quantas bocas esmagadas
São indispensáveis para construir o silêncio?
Acaso algum dia imaginaste
Os queixumes abafados dos humildes
Que são fundamentais para construir o silêncio?
E contudo
Quando nos beijávamos
Quando nos amávamos
Era nesse silêncio que habitávamos
(José Niza )
CORRE CORRE SOLDADINHO
Corre corre soldadinho
Que a vida é corrida louca
Para onde vais soldadinho
Com esse cravo na boca?
Corro para o meu amor
Com este cravo na boca
Levo comigo saudades
E a minha vida que é pouca
Para onde vais soldadinho
Com essa corrida louca?
Vou ao encontro da morte
E levo um cravo na boca.
O Magalinha
Era uma vez um magalinha
Que tinha uma galinha
Veio uma guerra daninha
E levou o magalinha
Comeram a galinha
Morreu o povo
E só se salvou
Um ovo
A Construção do Silêncio
Já pensaste
Na imensidão dos gritos sofreados
Que são necessários para construir o silêncio?
Já alguma vez calculaste
Quantas mordaças apertadas
E quantas bocas esmagadas
São indispensáveis para construir o silêncio?
Acaso algum dia imaginaste
Os queixumes abafados dos humildes
Que são fundamentais para construir o silêncio?
E contudo
Quando nos beijávamos
Quando nos amávamos
Era nesse silêncio que habitávamos