O Delator
O DELATOR
Nesta história da Sr.ª Directora Regional que levantou um processo disciplinar e suspendeu de imediato um professor que há 20 anos prestava serviço na Delegação Regional porque alguém lhe foi contar umas coisas desagradáveis há cerca do Sr.1º Ministro por ele ouvidas numa conversa particular ao referido professor, a personagem mais sórdida é, para mim, exactamente, esse alguém cujo nome não aparece e que, portanto, é apenas o Delator.
Este papel de delator desempenhado pela pessoa que movida por instintos, mais que interesses, foi fazer queixinhas à Directora, para além de sórdido é o mais odioso.
O delator em causa era “amigo” ou simplesmente colega do professor e conhecia suficientemente a Directora para saber que após a “inconfidência” ela iria agir contra o professor portanto, a delação, foi a arma cobardemente escondida para fazer mal a alguém por interposta pessoa que iria dar a cara na punição enquanto ele ficaria escondido no anonimato reservado aos delatores.
Temos, assim, uma cena com três personagens: a vítima, o tirano, neste caso a tiranete e o bufo.
Os dois primeiros são conhecidos, identificados, reconhecidos na sociedade que os aponta e os julga, o terceiro espera sair incógnito e para despistar é até capaz de emitir em público juízos críticos sobre o que se passou com a desfaçatez dos sem vergonha.
Todos aqueles que têm uma experiência de vida do tempo da “outra senhora” e mais ainda aqueles que tiveram a ousadia e a coragem de a combater, lembram-se bem destes personagens sinistros que nessa época integravam um “corpo” que constituía uma espécie de arma secreta do regime para lutar contra os seus opositores.
O regime acabou mas o “jeito”ficou porque os malefícios das ditaduras são assimilados pela cultura e vivem pelo tempo fora como que em estado de hibernação dentro de potenciais delatores à espera de uma qualquer oportunidade que possa aparecer, por exemplo, na pessoa de uma “zelosa” Directora Regional.
Poder-se-à pensar que estamos apenas na presença de uma vítima, neste caso, o professor mas infelizmente toda a sociedade é vítima.
Recriar comportamentos do passado já julgados e condenados é andar para trás, retroceder no processo de aperfeiçoamento da nossa sociedade e diminuir a nossa esperança no futuro.
Os nossos jovens têm que receber das pessoas das gerações mais velhas que têm responsabilidades públicas, exemplos de que hoje já não é como era nos tempos dos avós deles e os governos democráticos não podem continuar a servirem-se de pretensos instrumentos de manutenção do poder que serviam nos regimes ditatoriais mas que só desacreditam e prejudicam em democracia.
Todos os quadrantes políticos condenaram veementemente este caso e isso foi bom, foi positivo, mas o que aconteceu poderia ter atingido qualquer um deles que estivesse no poder já que estes comportamentos são transversais e o “vírus” da bufaria pode atacar em qualquer lado.
O governo de José Sócrates com o rótulo de socialista acusou, mais uma vez, os tiques do poder e refugiou-se envergonhadamente nos argumentos formalistas do Direito Administrativo, de que é preciso conhecer os factos, deixar que o Processo corra os seus trâmites… blá-blá-blá-blá-blá.
Ora, neste caso, o Sr. 1ºMinistro disse uma coisa importante: “ninguém será punido por delito de opinião”, mas será que ele poderia ter dito o contrário disto?
Claro que não e, sendo assim, disse pouco e a desculpa de que não conhecia os factos não é suficiente porque um juízo condenatório e fortemente condenatório, em tese, com pessoas imaginárias, só lhe teria ficado bem.
Para isso, no entanto, era preciso um desassombro e uma coragem que não são apanágio dos políticos de hoje quando estão no poder.
Nesta história da Sr.ª Directora Regional que levantou um processo disciplinar e suspendeu de imediato um professor que há 20 anos prestava serviço na Delegação Regional porque alguém lhe foi contar umas coisas desagradáveis há cerca do Sr.1º Ministro por ele ouvidas numa conversa particular ao referido professor, a personagem mais sórdida é, para mim, exactamente, esse alguém cujo nome não aparece e que, portanto, é apenas o Delator.
Este papel de delator desempenhado pela pessoa que movida por instintos, mais que interesses, foi fazer queixinhas à Directora, para além de sórdido é o mais odioso.
O delator em causa era “amigo” ou simplesmente colega do professor e conhecia suficientemente a Directora para saber que após a “inconfidência” ela iria agir contra o professor portanto, a delação, foi a arma cobardemente escondida para fazer mal a alguém por interposta pessoa que iria dar a cara na punição enquanto ele ficaria escondido no anonimato reservado aos delatores.
Temos, assim, uma cena com três personagens: a vítima, o tirano, neste caso a tiranete e o bufo.
Os dois primeiros são conhecidos, identificados, reconhecidos na sociedade que os aponta e os julga, o terceiro espera sair incógnito e para despistar é até capaz de emitir em público juízos críticos sobre o que se passou com a desfaçatez dos sem vergonha.
Todos aqueles que têm uma experiência de vida do tempo da “outra senhora” e mais ainda aqueles que tiveram a ousadia e a coragem de a combater, lembram-se bem destes personagens sinistros que nessa época integravam um “corpo” que constituía uma espécie de arma secreta do regime para lutar contra os seus opositores.
O regime acabou mas o “jeito”ficou porque os malefícios das ditaduras são assimilados pela cultura e vivem pelo tempo fora como que em estado de hibernação dentro de potenciais delatores à espera de uma qualquer oportunidade que possa aparecer, por exemplo, na pessoa de uma “zelosa” Directora Regional.
Poder-se-à pensar que estamos apenas na presença de uma vítima, neste caso, o professor mas infelizmente toda a sociedade é vítima.
Recriar comportamentos do passado já julgados e condenados é andar para trás, retroceder no processo de aperfeiçoamento da nossa sociedade e diminuir a nossa esperança no futuro.
Os nossos jovens têm que receber das pessoas das gerações mais velhas que têm responsabilidades públicas, exemplos de que hoje já não é como era nos tempos dos avós deles e os governos democráticos não podem continuar a servirem-se de pretensos instrumentos de manutenção do poder que serviam nos regimes ditatoriais mas que só desacreditam e prejudicam em democracia.
Todos os quadrantes políticos condenaram veementemente este caso e isso foi bom, foi positivo, mas o que aconteceu poderia ter atingido qualquer um deles que estivesse no poder já que estes comportamentos são transversais e o “vírus” da bufaria pode atacar em qualquer lado.
O governo de José Sócrates com o rótulo de socialista acusou, mais uma vez, os tiques do poder e refugiou-se envergonhadamente nos argumentos formalistas do Direito Administrativo, de que é preciso conhecer os factos, deixar que o Processo corra os seus trâmites… blá-blá-blá-blá-blá.
Ora, neste caso, o Sr. 1ºMinistro disse uma coisa importante: “ninguém será punido por delito de opinião”, mas será que ele poderia ter dito o contrário disto?
Claro que não e, sendo assim, disse pouco e a desculpa de que não conhecia os factos não é suficiente porque um juízo condenatório e fortemente condenatório, em tese, com pessoas imaginárias, só lhe teria ficado bem.
Para isso, no entanto, era preciso um desassombro e uma coragem que não são apanágio dos políticos de hoje quando estão no poder.