Os Novos Sacerdotes do Templo
“Os senhores Francisco Cardoso dos Reis e José Benoliel receberam, para se deslocarem na qualidade de Presidente e Vogal do Conselho de Gerência da CP respectivamente, cada um deles, um Mercedes 220 CDI no valor de 70.000 euros os quais, entre muitos outros extras, podem vir até a serem equipados com Televisão.
Deste luxo usufruirão também os restantes vogais da Administração, já que a encomenda, num total de 350.000 euros, prevê a entrega de mais três automóveis.
Nos últimos dois anos, a CP apresentou um défice de 376 milhões de euros.”
Esta notícia, no tempo da Censura, teria sido cortada e eu não teria, ao lê-la, passado pela vergonha e sentido a revolta que ela me provocou.
Mais tarde, às vezes, por portas e travessas, corriam uns zunzus e ficava-se a saber que uns fulanos do Conselho de Gerência da CP, empresa pública que dava milhões de prejuízo, tinham recebido para se deslocarem e pavonearem a sua vaidade e “importância” um automóvel que custou o equivalente ao rendimento de quase 6 anos de trabalho de um funcionário com um salário médio de 1.000 euros mensais.
E eu ficaria a pensar: “…pois, isto só é possível porque existe esta inadmissível censura à sombra da qual é possível acontecerem coisas que de outra forma não aconteceriam”.
Então, só havia coragem para certos abusos porque, pensávamos nós, o segredo encobria do povo os seus autores que assim ficavam no anonimato e podiam continuar de cabeça levantada.
Na pior das hipóteses a dúvida instalava-se no nosso espírito.
- Seriam eles capazes de fazerem o que fizeram se tivessem que passar pela vergonha de serem apontados a dedo como esbanjadores do erário público quando, ainda por cima, se trata de despesas feitas com recurso a importações aumentando o desequilíbrio na Balança Comercial de um país como o nosso que tanto se esforça para equilibrá-las através das exportações?
Mas felizmente a Censura desapareceu e infelizmente a dúvida também e a resposta aí está:
- São, sim senhor, estes senhores não têm pudor, melhor dizendo, vergonha em mostrar aos trabalhadores e aos cidadãos em geral que as dificuldades da empresa e do país não têm nada a ver com eles que constituem uma casta à parte, ungidos que foram à nascença por um dom especial que faz deles homens de excepção como, antigamente, no época dos Faraós, acontecia com os grandes Sacerdotes do Templo aos quais seria impensável faltar qualquer iguaria mesmo que o povo morresse à fome em consequência de uma qualquer praga que destruísse as colheitas.
Estes senhores são hoje a reincarnação dos Grandes Sacerdotes do Templo e na sua qualidade de semideuses limitam-se a receber em vida os privilégios (e, neste caso, só estamos a falar de automóveis…) que lhes são devidos, apenas isso…
A Censura, afinal, não servia para nada, não teria evitado fosse o que fosse e a sua abolição, no que diz respeito a este assunto, apenas trouxe à tona de água para conhecimento de todos nós a existência desta casta de privilegiados.
Um dia ainda os veremos a construir por aí umas pirâmides para prolongarem, com as honras e a comodidade devidas, os privilégios que lhes deverão continuar a ser prestados na vida do além…
“Os senhores Francisco Cardoso dos Reis e José Benoliel receberam, para se deslocarem na qualidade de Presidente e Vogal do Conselho de Gerência da CP respectivamente, cada um deles, um Mercedes 220 CDI no valor de 70.000 euros os quais, entre muitos outros extras, podem vir até a serem equipados com Televisão.
Deste luxo usufruirão também os restantes vogais da Administração, já que a encomenda, num total de 350.000 euros, prevê a entrega de mais três automóveis.
Nos últimos dois anos, a CP apresentou um défice de 376 milhões de euros.”
Esta notícia, no tempo da Censura, teria sido cortada e eu não teria, ao lê-la, passado pela vergonha e sentido a revolta que ela me provocou.
Mais tarde, às vezes, por portas e travessas, corriam uns zunzus e ficava-se a saber que uns fulanos do Conselho de Gerência da CP, empresa pública que dava milhões de prejuízo, tinham recebido para se deslocarem e pavonearem a sua vaidade e “importância” um automóvel que custou o equivalente ao rendimento de quase 6 anos de trabalho de um funcionário com um salário médio de 1.000 euros mensais.
E eu ficaria a pensar: “…pois, isto só é possível porque existe esta inadmissível censura à sombra da qual é possível acontecerem coisas que de outra forma não aconteceriam”.
Então, só havia coragem para certos abusos porque, pensávamos nós, o segredo encobria do povo os seus autores que assim ficavam no anonimato e podiam continuar de cabeça levantada.
Na pior das hipóteses a dúvida instalava-se no nosso espírito.
- Seriam eles capazes de fazerem o que fizeram se tivessem que passar pela vergonha de serem apontados a dedo como esbanjadores do erário público quando, ainda por cima, se trata de despesas feitas com recurso a importações aumentando o desequilíbrio na Balança Comercial de um país como o nosso que tanto se esforça para equilibrá-las através das exportações?
Mas felizmente a Censura desapareceu e infelizmente a dúvida também e a resposta aí está:
- São, sim senhor, estes senhores não têm pudor, melhor dizendo, vergonha em mostrar aos trabalhadores e aos cidadãos em geral que as dificuldades da empresa e do país não têm nada a ver com eles que constituem uma casta à parte, ungidos que foram à nascença por um dom especial que faz deles homens de excepção como, antigamente, no época dos Faraós, acontecia com os grandes Sacerdotes do Templo aos quais seria impensável faltar qualquer iguaria mesmo que o povo morresse à fome em consequência de uma qualquer praga que destruísse as colheitas.
Estes senhores são hoje a reincarnação dos Grandes Sacerdotes do Templo e na sua qualidade de semideuses limitam-se a receber em vida os privilégios (e, neste caso, só estamos a falar de automóveis…) que lhes são devidos, apenas isso…
A Censura, afinal, não servia para nada, não teria evitado fosse o que fosse e a sua abolição, no que diz respeito a este assunto, apenas trouxe à tona de água para conhecimento de todos nós a existência desta casta de privilegiados.
Um dia ainda os veremos a construir por aí umas pirâmides para prolongarem, com as honras e a comodidade devidas, os privilégios que lhes deverão continuar a ser prestados na vida do além…