Memórias Futuras
Olhar o futuro pelo espelho retrovisor da história. Qual história? Que futuro?
sábado, dezembro 01, 2012
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Será que a reconciliação é impossível? |
GABRIELA
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 153
Sem falar na bofetada. Foi
glosada em prosa e verso. Josué compusera um epigrama. Sobre Gabriela ninguém
falava. Nem bem nem mal como se ela estivesse mais além de todo o comentário ou
como se não mais existisse.
Não erguiam a voz contra
ela e alguns até a defendiam. Afinal rapariga de casa montada tem um pouco o
direito a divertir-se. Não fora casada, não tinha a menor importância.
Ela continuava em casa de
D. Arminda. Nacib não voltara a vê-la. Pela parteira soubera que ela costurava
para o florescente atelier de Dora. E por outros sabia das ofertas a chover
sobre ela, em recados, cartas, bilhetes. Plínio Araçá mandara-lhe dizer que
fizesse ordenado.
Manuel das Onças novamente
a rondava. Também Ribeirinho. O Juiz estava disposto a romper com a rapariga,
botar casa para ela. Segundo constava até o árabe Maluf, aparentemente tão sério
era candidato.
Coisa esqui sita: não havia proposta capaz de tentá-la. Nem casa,
nem conta em loja, nem roça plantada, nem dinheiro batido. Costurava para Dora.
Fora sério prejuízo para o
bar. A cabrocha fazia uma comida sem gosto. Os salgados e doces vinham mais uma
vez das irmãs Dos Reis, careiras de mais. Fazendo por favor, ainda por cima.
Nacib não encontrava cozinheira.
Pensando no restaurante,
mandara encomendar uma em Sergipe, mas ainda não chegara. Engajara um outro
empregado, um rapazola Walter. Sem prática, não sabia servir. Fora um prejuízo danado.
Quanto ao projecto do
restaurante quase leva o diabo. Durante algum tempo nem se preocupou com o bar
e restaurante. Os dois caixeiros mudaram-se do andar de cima quando Nacib ainda
estava naquela primeira fase, de desespero, quando a ausência de Gabriela era a
única realidade a encher-lhe o vazio dos dias.
Mas, ao completar-se o
primeiro mês do andar desocupado, Maluf mandou-lhe o recibo do aluguer. Pagou e
com isso teve de pensar no restaurante. Ainda assim, ia adiantado. Certa tarde,
Mundinho Falcão enviou-lhe um recado, pedindo sua presença no escritório da
casa exportadora.
Foi recebido com
demonstração de muita amizade. Mundinho há tempos não aparecia no bar, andava
pelo interior, em campanha eleitoral. Uma vez Nacib o avistara no cabaré.
Apenas se falaram, Mundinho dançava.
- Então, como vai a vida, Nacib? Prosperando
sempre?
- Vivendo – E para liqui dar
o assunto, falou: - O senhor já deve saber o que me sucedeu. Sou um homem
solteiro de novo.
- Falaram-me. Formidável o que você fez. Agiu
como um europeu. Um homem de Londres, de Paris. – Olhava-o com simpatia – Mas me
diga uma coisa, aqui para nós: ainda
dói um pouco por dentro, não dói?
Sobressaltou-se Nacib.
Porque lhe perguntava aqui lo?
- Sei como é isso – continuava Mundinho –
comigo sucedeu uma coisa não digo parecida, mas de certa maneira semelhante. Foi
por isso que vim para Ilhéus. Com o tempo a ferida cicatriza. Mas, de vez em
quando, ainda dói. Quando ameaça chuva, não é?
sexta-feira, novembro 30, 2012
Qualquer
semelhança com os nossos políticos é erro de redacção.
HARRY TRUMAN foi um tipo diferente como presidente. Provavelmente tomou
tantas ou mais decisões em relação à história dos EUA como as que tomaram os
42 presidentes que o precederam.
Uma medida da grandeza
talvez permaneça para sempre: trata-se do que fez DEPOIS de deixar a Casa
Branca.
A única propriedade que
tinha quando faleceu era uma casa na qual morava, que se encontrava na
localidade de Independence, Missouri. Sua esposa a havia herdado de seus pais
e, fora os anos em que moraram na Casa Branca, foi onde
viveram durante toda a vida.
Quando se retirou da vida oficial em 1952, todos seus rendimentos
consistiam numa pensão do Exército de $ 13.507 por ano. O
Congresso ao saber que ele custeava seus próprios selos de correio, lhe
outorgou um complemento e mais tarde, uma pensão retroativa de $ 25.000
anuais.
Depois da posse do presidente Eisenhower, Truman e sua esposa voltaram ao seu
lar no Missouri dirigindo seu próprio carro... sem nenhuma companhia do
Serviço Secreto.
Quando lhe
ofereciam postos corporativos com grandes salários, os rejeitava dizendo:
Vocês não me querem a mim, o que querem é a figura do Presidente, e essa não
me pertence. Pertence ao povo norte-americano e não está a venda...?.
Ainda depois, quando em 6
de Maio de 1971, por ocasião do seu 87° aniversário o Congresso
estava preparando-se para lhe outorgar a Medalha de Honra, recusou-se a
aceitá-la, escrevendo-lhes:
- "Não
considero que tenha feito nada para merecer esse reconhecimento, venha ele do
Congresso ou de qualquer outra parte".
Como Presidente pagou todos seus
gastos de viagem e comida com o seu próprio dinheiro.
Este homem singular
escreveu:
- "Minhas
vocações na vida sempre foram ser pianista numa casa de putas ou ser
político. E para falar a verdade, não existe grande diferença entre as
duas!".
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EJACULAÇÃO
Parece ser de origem chinesa, tal como alude a remota e peculiar lenda...
Era uma
vez, num dia, ou melhor, numa noite, um casal de "chinocas"
entretinha-se no mórbido prazer da concupiscência quando ela, já estafada do
lascivo e esforçado
exercício,
lhe pergunta:
- Amôle, falta muito
pala te viles?
Solícito,
por entre a luxuriante excitação e deleites carnais, ele responde…
Afonso Henriques proclamado Rei no campo da batalha |
AFONSO HENRIQUES
Nosso Rei Fundador
(continuação)
Batalha de Ourique (II)
A crónica mais antiga, de Duarte Galvão
(1446 – 1517), refere claramente: «… andando (D. Afonso Henriques) suas
jornadas, veio a um lugar, que ora se chama Cabeça de Rei junto a Castro
Verde…». Esta localidade, assim assinalada não dista mais que um bom galope do
sítio em que o Infante se encontrou com o rei Imar.
Mas, para além do mais, pode dizer-se
que a batalha de Campo De Ourique decorreu num verdadeiro mundo das três dimensões.
O jovem príncipe, seu protagonista, herdou um reino que para o Sul que não
possuía cancelas nem fronteiras. Aberto como um descampado. Pobre, ambicioso e
cristão e, para cúmulo, longe a muita soma de léguas da corte, logo percebeu
que a extremidade Sul do território com a sua elasticidade, era para onde devia
convergir as suas melhores atenções.
Para engrandecer-se era por ali que
devia acometer, para dar lustro à sua espada era aquele quadrante o mais
favorável e, já agora, para resolver determinados apuros económicos e
financeiros pois que, a lei daquele tempo, permitia fazer mão baixa sobre os
haveres dos vencidos.
Melhor não havia, portanto, que assaltar
moiros repletos de toda a espécie de gados e de frutos. Nos agregados urbanos
acumulavam-se riquezas de gerações de potentados árabes e de ricos judeus.
Daqui ,
a guerra incessante com o moiro, esse contínuo malhar de martelo e bigorna,
empurrando aquele cada vez mais para longe, pilhando-o nas deslocações.
Por cada légua de território não se encontrava
um moiro. A moirama era uma escumalha escassa na grande área peninsular. Nada
de população rural. O que havia eram nódulos populacionais distantíssimos uns
dos outros: Alcácer, Setúbal, Palmela, Almada, Lisboa, Santarém, Sintra,
Leiria.
Foi sempre assim até ao resto. Salvo a
Andaluzia e o Algarve a dominação árabe não foi mais do que babugem. Regra
geral a Hispânia era deserta, terra de ninguém.
Do alto das torres e atalaias, os vigias
bem espiavam com olhos de lince o que decorria nas redondezas. Podiam acaso
penetrar na escuridão e ver o que se passava à chama indecisa das estrelas?
O cronista Duarte Galvão reza deste modo
a marcha do príncipe para o Sul… «passou o Tejo e as charnecas mui grandes e
despovoadas que ainda hi há e então seriam maiores…»
Afonso Henriques largava com o
lusco-fusco das cidadelas, Coimbra, Guimarães, Lamego, à testa da sua coluna,
tal como os antigos lusitanos. Todos montados. Cada cavaleiro levava o seu
surrão provido para a jornada.
Pernoitavam no recesso dos bosques e nas
brenhas dos montes, e os garranos pastavam onde havia erva. Ao cabo de cinco,
seis dias de marcha caíam sobre o infiel, inopinadamente, como gerifaltes.
Assim teria sucedido na gesta de Ourique.
A hoste cristã podia ter atravessado o Tejo para os lados de Ródano, avançando
para sul a marchas nocturnas e cautelosas e cautelosas, esgueirando-se, por
entre os raríssimos postos muçulmanos mais subtis e ágeis.
Uma vez em Orick, acudiram à riposta os
seus emires mais próximos.
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 152
Só lembrava a Gabriela de antes,
daqueles primeiros tempos. Faziam sofrer, mas eram doces lembranças. De quando
em vez, no entanto, a feri-lo no peito, no orgulho de macho (pois já não podia
feri-lo na honra de marido, marido não era, marido não fora), ele a via nos
braços de outro.
Difíceis as primeiras semanas, vazias,
ele morto por dentro. De casa para o bar, do bar para casa. Por vezes ia
conversar com João Fulgêncio, ouvia-o falar de assuntos diversos.
Um dia os amigos o levaram quase a
pulso, ao novo cabaré. Bebeu muito, de mais. Mas tinha uma resistência brutal,
não ficou bêbado de todo. Na outra noite voltou. Conheceu Rosalinda, uma loira
do Rio, o oposto de Gabriela. Começava a viver, lentamente a esquecia. O mais
trabalhoso foi dormir com outra mulher.
Metida no meio, lá estava Gabriela. A
sorrir. A estirar-lhe os braços, a botar a anca sob sua perna, a deitar a
cabeça em seu peito. Nenhuma tinha o seu gosto, seu cheiro, seu calor, seu
morrer e matar. Mesmo isso, porém, foi aos poucos passando.
Rosalinda, lembrava Risoleta, sabida no
amor. Agora todas as noites vinha buscá-la, a não ser quando ela devia ir
dormir com o coronel Manuel das Onças, que lhe pagava o quarto e a comida em
casa de Maria Machadão. Uma noite faltou um parceiro, na roda do pocker.
Tomou do baralho, jogou até tarde. Começou
novamente a sentar-se às mesas, a conversar com os amigos, a disputar partidas
de damas e gamão. A comentar as notícias, a discutir política, a rir de
anedotas, a contá-las também. A dizer que na terra de seu pai era ainda pior,
tudo o que sucedia em ilhéus lá sucedia também em ponto maior.
Já não a enxergava no bar, já podia em
seu leito dormir, apenas o perfume de cravo ainda sentia. Nunca fora tão
convidado para almoços, jantares, ceias em casa de Machadão, farras com
mulheres nos coqueirais do Pontal. Como se gostassem ainda mais dele, mais o
estimassem e considerassem.
Nunca pensara. Ele rompera com a lei. Em
vez de matá-la, tinha-a deixado ir em paz. Em vez de ter atirado em tónico contentou-se
com uma bofetada. Imaginou a sua vida daí em diante como um inferno. Assim não
haviam feito com o Dr. Felesmino? Não lhe haviam negado o cumprimento.
Não o apelidaram de “Boi Manso? Não o
obrigaram a ir-se de Ilhéus? Porque o médico não matara a mulher e o amante, a
lei não cumprira. É verdade que ele, Nacib, anulara seu casamento, borrara o
presente e o passado. Mas nunca esperou que compreendessem e aceitassem.
Tivera a visão do bar deserto, sem
fregueses, das mãos recusadas dos amigos, dos risos de mofa, das pancadinhas
nas costas de Tonico a felicitá-lo, a debochar de Nacib. Nada disso acontecera.
Bem ao contrário.
Ninguém lhe falava no assunto e quando,
casualmente, a ele se referiam era para louvar sua malícia, sua esperteza, a
maneira como saíra daquele embrulho. Riam e debochavam, mas não de Nacib, e,
sim de Tonico. Ridicularizavam o tabelião com elogios à sabedoria do árabe.
Tonico mudara-se para o Pingo de Ouro,
com seu amargo diário. Pois o próprio Plínio Araça encontrou maneira de
esfregar-lhe na cara a boa peça que Nacib lhe pregara.
quinta-feira, novembro 29, 2012
O pai entra no quarto do filho e vê um bilhete em cima da cama.
Lê o bilhete,
temendo o pior:
- Pai, é com grande pesar que te informo que fugi
com meu novo namorado,
o João, um italiano muito lindo que conheci no Algarve.
Estou apaixonado por ele. Ele é muito gato, com
todos aqueles
'piercings', tatuagens e aquela super-moto BMW que comprou há dias.
Mas não é só por isso que vou com ele, é que
também descobri que não
gosto de mulheres e, como sei que não vais consentir isso, decidimos fugir e
ser muito felizes neste mundo.
Ele quer adoptar filhos comigo, e isso é tudo o
que eu sempre desejei
para mim.
Aprendi com ele que a canabis é óptima, uma
coisa natural, que não faz
mal a ninguém, e ele garante que no nosso pequeno lar não vai faltar
marijuana.
O João acha que eu, os nossos filhos adoptivos e
os seus colegas
'gays' vamos viver em perfeita harmonia.
Não te preocupes pai, eu já sei cuidar de mim,
apesar dos meus 16
anos.
Já tive várias experiências com outros tipos e
tenho a certeza que o
João é o homem da minha vida.
Um dia eu volto, para que tu e a mãe conheçam os
nossos filhos.
Um grande abraço e até algum dia.
De teu filho, com amor......
O pai quase a desmaiar, continua a ler.
PS: - Pai, não te assustes é tudo mentira!!!
Estou na casa da Cátia, a nossa vizinha boazona...
Só queria mostrar-te que existem coisas muito piores
do que as minhas notas escolares, que estão na primeira
gaveta.
Abraços,
Teu filho, burro, mas macho!
Uma
morena vai ao médico... (Até que enfim... uma morena !!!)
Uma jovem morena vai a um
consultório médico e queixa-se de que todos os lugares do seu corpo doem quando
ela os toca.
- Impossível - diz o médico - mostre-me como isso acontece.
Então, ela encosta o seu próprio dedo no seu próprio ombro e grita de dor.
Depois ela encosta o dedo na perna e grita.
Encosta no cotovelo e grita, e assim por diante.... Em qualquer lugar em que
ela se tocava, ela gritava.
O doutor perguntou:
- Você não é morena natural pois não?
- Não! Na verdade eu sou loira!!!
- Foi o que eu pensei ! - diz o doutor - O seu dedo está partido !
Que bem lhe ficam estas flores. |
GABRIELA
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 151
Continuava na papelaria a
discussão.
- A fidelidade é a maior prova de amor – Dizia
Nhô-Galo.
- É a única medida com que se pode calcular as
dimensões de um amor – apoiava o Capitão.
O amor não se prova, nem se
mede. É como Gabriela. Existe, e isso basta - falou João Fulgêncio – O facto de
não se compreender ou explicar uma coisa não acaba com ela. Nada sei das
estrelas, mas vejo no céu, são a beleza da noite.
Da Vida Surpreendente
Aquela primeira noite na casa
sem Gabriela: dolorosa de sua recordação vazia de sua presença. Em vez de seu
sorriso a esperá-lo, a humilhação a machucar, a certeza de não se tratar de um
pesadelo, de ter acontecido aquela coisa impossível, nunca imaginada.
A casa vazia sem Gabriela,
cheia de lembranças e sentimentos. Enxergava Tonico sentado na borda do leito. A
raiva, a tristeza, o saber que tudo terminara, que ela não estava, que era de
outro, que não mais a teria.
Noite cansada, fatigante,
como se ele carregasse todo o peso da Terra, longa como o fim do mundo. Nunca
mais iria acabar. Aquela dor funda, aquele vazio, não saber o que fazer, não
saber para que viver, para que trabalhar.
Os olhos secos de lágrimas,
o peito rasgado a punhal. Sentado na beira da cama, impossível dormir. Nunca
mais dormiria nessa noite apenas começada, noite a durar a vida inteira.
De Gabriela ficara
entranhado nos lençóis, no colchão o perfume de cravo. Dentro de suas narinas.
Não podia olhar para a cama porque a via, deitada, nua, os seios erguidos, a
curva das ancas, a sombra veludosa das coxas, a terra plantada no ventre.
Sua cor de canela onde em violeta Nacib
deixava, nos ombros, no peito, a marca dos lábios. O dia acabara para sempre,
aquela noite em seu peito duraria todo a vida, murchos bigodes caídos para
nunca mais, um travo amargo na boca para sempre amarga, não voltaria a sorrir,
jamais!
Alguns dias depois já
sorria, ouvindo, no Vesúvio, Nhô-Galo imprecar contra os padres. Foram difíceis
as primeiras semanas. Semanas vazias de tudo, plenas de sua ausência.
Cada coisa, cada pessoa a
trazia de volta. Olhava o balcão e ela lá estava, de pé, uma flor atrás da
orelha. Olhava a Igreja e a via chegando, os pés nas chinelas. Olhava o Tuísca
e ei-la na roda a dançar, cantando cantigas.
Chegava o Doutor, falava
em Ofenísia, ele ouvia Gabriela. Jogavam o Capitão e Felipe, seu rir cristalino
soava no bar. Pior ainda em casa: em cada canto a enxergava, a cozinhar no fogão,
a sentar-se ao sol no batente da porta, a morder goiabas no qui ntal, a apertar a cara do gato contra seu rosto,
a mostrar o dente de ouro, a esperá-lo sob o luar no quartinho dos fundos.
Nem se dava conta de uma
particularidade dessas lembranças a acompanhá-lo durante semanas, no bar, na
rua, em casa. É que jamais a recordava no tempo de casados (ou de amigados,
como explicava aos demais: tudo não passara de imaginação).
quarta-feira, novembro 28, 2012
(Luís
Fernando Veríssimo)
História deliciosa...
Transposição para a justiça
portuguesa?...
Pegaram o cara em flagrante roubando galinhas de um galinheiro e o
levaram para a delegacia.
D - Delegado
L - Ladrão
- Que vida mansa, hein, vagabundo? Roubando galinha para ter o que
comer sem precisar trabalhar. Vai para a cadeia!
- Não era para mim não. Era para vender.
- Pior, venda de artigo roubado. Concorrência desleal com o comércio
estabelecido. Sem-vergonha!
- Mas eu vendia mais caro.
- Mais caro?
- Espalhei o boato que as galinhas do galinheiro eram bichadas e as
minhas galinhas não. E que as do galinheiro botavam ovos brancos enquanto as
minhas botavam ovos castanhos.
- Mas eram as mesmas galinhas, safado.
- Os ovos das minhas eu pintava.
- Que grande pilantra... (mas já havia um certo respeito no tom do
delegado...)
Ainda bem que tu vai preso. Se o dono do galinheiro te pega...
- Já me pegou. Fiz um acerto com ele. Me comprometi a não espalhar
mais boato sobre as galinhas dele, e ele se comprometeu a aumentar os preços
dos produtos dele para ficarem iguais aos meus. Convidamos outros donos de
galinheiros a entrar no nosso esquema. Formamos um oligopólio. Ou, no caso, um
ovigopólio..
- E o que você faz com o lucro do seu negócio?
- Especulo com dólar. Invisto alguma coisa no tráfico de drogas.
Comprei alguns deputados. Dois ou três ministros. Consegui exclusividade no
suprimento de galinhas e ovos para programas de alimentação do governo e
super facturo os preços.
O delegado mandou pedir um cafézinho para o preso e perguntou se estava
confortável na cadeira, se ele não queria uma almofada. Depois perguntou:
- Doutor, não me leve a mal, mas com tudo isso, o senhor não está
milionário?
- Trilionário. Sem contar o
que eu sonego de Imposto de Renda e o que tenho depositado ilegalmente no
exterior.
- E, com tudo isso, o senhor continua roubando galinhas?
- Às vezes. Sabe como é.
- Não sei não, Excelência. Me explique.
- É que, em todas essas minhas actividades, eu sinto falta de uma
coisa. O risco, entende? Daquela sensação de perigo, de estar fazendo uma coisa
proibida, da iminência do castigo. Só roubando galinhas eu me sinto realmente
um ladrão, e isso é excitante. Como agora fui preso, finalmente vou para a
cadeia. É uma experiência nova.
- O que é isso, Excelência? O
senhor não vai ser preso não.
- Mas fui pegado em flagrante pulando a cerca do galinheiro!
- Sim. Mas com esses antecedentes...e respectivas equi valências... Prof. DOUTOR... Preso ???... Nem
pensar!!
- Nosso Rei Fundador –
Batalha de Ourique ( I )
A batalha de Ourique travou-se no pino
da estação quente, quando a planície alentejana, tornada forno, assava as codornizes
em pleno voo se elas, entretanto, não pousassem.
Os soldados da Cruz, cobertos de ferro,
esgrimindo o pesado montante, breve esgotavam as borrachas que eles ou os
pajens traziam à cinta, como hoje os soldados usam o cantil.
Os árabes, nos cavalos magros e esguios,
armados de alfange, incomparavelmente mais leve, afeitos ao clima africano
encontrar-se-iam em melhores condições pessoais do que os seus adversários.
Todavia, foram batidos, segundo consta
das crónicas, pela força das armas, é verdade mas secundado o Infante pelo
braço inquebrantável de Senhor. O milagre, temos de concordar com Alexandre
Herculano, não se operou, bem entendido, pela intervenção concreta de novos
factores guerreiros ou como um aliado que subitamente comparece no campo da
refrega.
O milagre pode exercer-se mercê de
circunstâncias psicológicas, que não estamos em condições de medir mas apenas
de supor. Chamam-se, hoje em dia, a esses fenómenos de sugestão para uns,
alucinatórios para outros, umas vezes por razões místicas, outras vezes obra de
impostores e assim podem gregos e troianos convir no milagre de Ourique, que
sagrou o pendão real de D. Afonso Henriques.
Se Cristo, com as cinco chagas abertas a
irradiar lume apareceu ou não apareceu a D. Afonso Henriques não se discute.
A verdade é que a coorte dos seus assim
o julgou e acreditou. Os vindouros tornaram-se eco da voz que correu no arraial
cristão e explica o feito estranho de uma vitória ganha no coração da mourama a
muitas dezenas de léguas dos bastiões cristãos, contra cinco cabos moiros.
O materialismo histórico veio com a sua
foice impiedosa e ceifou este açucenal de poesia e lenda. Podia o Deus soberano
intervir de modo tão precário nas contendas dos homens, terçando armas
restritas e parciais?
Não era igualmente pai de cristãos e
serracenos?
De certo era pai de uns e de outros, se
bem que os muçulmanos representassem na Península a violência e a invasão,
actos característicos dos povos piratas. Mas, como digo, milagre aqui foi o conjunto de factos anormais ou mesmo
prodigiosos, desenvolvendo-se num teatro favorável ao imaginativo de que foram
agentes pessoas dispostas pelo seu psiqui smo
a ver o dedo sobrenatural em tudo o que nós hoje denominamos heroísmo ou
temeridade exercendo-se num meio propício, que, incrédulos mas classificadores
até à morte, também denominamos azar, bom azar, e os jogadores chamam
prosaicamente «sorte de cão».
Foi em Campo de Ourique, Baixo Alentejo
que se travou a célebre batalha, sendo inacreditável que perdurasse nos cronicões
literários da época um topónimo agrário ou coisa parecida, se nos reportarmos
ao obscuro Ourique, em prejuízo de outros termos geográficos de lugares
circundantes que ao tempo desfrutavam mais preferência do que aquele Ourique.
E não se argumente que Ourique pode
representar, tal como um marco miliário, a posição precisa da batalha e como
tal se inscreveu na história.
(continua)
PENSAMENTOS SÁBIOS
- À BEIRA DE UM PRECIPÍCIO SÓ HÁ UMA MANEIRA DE ANDAR PARA
A FRENTE: DAR UM PASSO ATRÁS;
- DIZ-ME COM QUEM ANDAS, DIR-TE EI SE VOU CONTIGO;
- EU CAVO; TU CAVAS, ELE CAVA, NÓS CAVAMOS, VÓS CAVAIS, ELES CAVAM: NÃO É
BONITO… MAS É PROFUNDO;
- ERRAR É HUMANO, COLOCAR AS CULPAS EM ALGUÉM, ENTÃO, NEM SE FALA;
- QUANDO TE ATIRAREM UMA PEDRA FAZ DELA UM DEGRAU E SOBE…SÓ DEPOIS, QUANDO
TIVERES UMA VISÃO PLENA DE TODA A ÁREA, PEGA NOUTRA
PEDRA, APONTA BEM E ACERTA NA CABEÇA DE QUEM TE ATIROU A PRIMEIRA;
-NUNCA DESISTAS DE UM SONHO, SE NÃO O ENCONTARES NA PADARIA PROCURA NA PRÓXIMA;
- O MAIS NOBRE DOS CACHORROS É O CACHORRO-QUENTE: ALIMENTA A MÃO QUE O MORDE;
- TUDO É RELATIVO: O TEMPO QUE DURA UM MINUTO DEPENDE DO LADO DA PORTA DO WC EM QUE VOCÊ ESTÁ ;
- ROUBAR IDEIAS DE UMA PESSOA É PLÁGIO, DE MUITAS PESSOAS É PESQUISA;
Agora percebo porque gosto tanto de cerejas... |
GABRIELA
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 150
Ela não compreendia. Se seu Nacib tivesse vontade, bem
que podia ir com outra deitar, nos seus braços dormir. Ela sabia que Tonico
dormia com outras. Dona Arminda contava que ele tinha um horror de mulheres. Mas,
se era bom deitar-se com ele, brincar com ele na cama, porque exigir que fosse
só ela? Entendia não.
Gostava de dormir nos braços de um homem. Não de
qualquer. De moço bonito como Clemente, como Tonico, como seu Nilo, como
Betinho, ah!, como Nacib. Se o moço também queria, se a olhava pedindo, se
sorria para ela, se a beliscava, porque recusar, porque dizer não? Se estavam
querendo tanto um como o outro? Não via porquê. Era bom dormir nos braços de um
homem, sentir o estremecimento do corpo, a boca a morder, num suspiro morrer.
Que seu Nacib se zangasse, ficasse com raiva, sendo
casado, isso entendia. Havia uma lei, não era permitido. Só o homem tinha
direito, não o tinha a mulher. Ela sabia, mas como resistir? Tinha vontade, na
hora fazia, nem se lembrava que não era permitido.
Tomava cuidado para não ofendê-lo, para não magoá-lo. Mas
nunca pensara que ia tanto ofender, tanto magoar. Daí a uns dias, o casamento
acabado, acabado para a frente, acabado para trás, porquê seu Nacib continuaria
com raiva?
De algumas coisas ela gostava, gostava demais: do sol
da manhã antes de muito esquentar. Da água fria, da praia branca, da areia e do
mar. De circo, de parque de diversões. De cinema também. De goiaba e pitanga. Das
flores, dos bichos, de cozinhar, de comer, de andar pela rua, de rir e de
conversar. Com senhoras cheias de si gostava não.
Mais que tudo gostava de moço bonito, nos seus braços
dormir, gemer, suspirar. Dessas coisas gostava. E de seu Nacib. Dele gostava de
um gostar diferente. Na cama para gemer, beijar, morder, suspirar, morrer e renascer.
Mas também para dormir de verdade, sonhando com o sol, com o gato bravio, com a
areia da praia, a lua do céu e a comida a fazer. Sentindo em suas ancas o peso
da perna de seu Nacib.
Dele gostava de mais, muito de mais, sentia sua falta,
atrás da porta se escondia para espiá-lo chegar. Muito tarde chegava, por vezes
bêbado. Tanto gostaria de tê-lo outra vez, no seu peito deitar a cabeça
formosa, de ouvi-lo dizer-lhe coisas de amor numa língua estrangeira, de ouvir
sua voz murmurando.: «Bié!»
Só porque a encontrara na cama a sorrir para Tonico. Que
importância tão grande, porque tanto sofrer, se ela deitava com um moço? Não
tirava pedaço, não ficava diferente, gostava dele da mesma maneira, e não podia
ser mais. A!, não podia ser mais. Duvidava existisse no mundo mulher a gostar
tanto de um homem, para com ele dormir ou para com ele viver, fosse irmã, fosse
filha, fosse mãe, amigada ou casada, como ela gostava de seu Nacib.
Tanta coisa, esse barulho todo, só porque a encontrara
com outro? Nem por isso gostava menos. Menos o queria, menos sofria porque ele
não estava.
D.ª Arminda jurava que seu Nacib jamais voltaria,
jamais a seus braços. Queria, pelo menos, cozinhar para ele. Onde ele iria
comer? E o bar, quem prepararia salgados e doces? E o restaurante que estava
pra se abrir? Queria, pelo menos, cozinhar para ele.
E queria, como queria!, vê-lo sorrir com seu rosto tão bom, sua cara bonita. Sorrir
junto dela, tomá-la nos braços, dizer-lhe Bié, enfiar os bigodes no cangote
cheiroso. Não havia no mundo mulher que tanto gostasse de um homem, que com
tanto amor suspirasse por seu amado como suspira, morta de amor, Gabriela por
seu Nacib.
terça-feira, novembro 27, 2012
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