Memórias Futuras
Olhar o futuro pelo espelho retrovisor da história. Qual história? Que futuro?
sábado, junho 08, 2013
- À
BEIRA DE UM PRECIPÍCIO SÓ HÁ UMA MANEIRA DE ANDAR PARA A FRENTE: DAR UM PASSO
ATRÁS;
- DIZ-ME COM QUEM ANDAS, DIR-TE- EI SE VOU CONTIGO;
- EU CAVO; TU CAVAS, ELE CAVA, NÓS CAVAMOS, VÓS CAVAIS, ELES CAVAM: NÃO É
BONITO… MAS É PROFUNDO;
- ERRAR É HUMANO, COLOCAR AS CULPAS EM ALGUÉM, ENTÃO, NEM SE FALA;
- QUANDO TE ATIRAREM UMA PEDRA FAZ DELA UM DEGRAU E SOBE…SÓ DEPOIS, QUANDO
TIVERES UMA VISÃO
- PLENA DE TODA A ÁREA, PEGA NOUTRA
PEDRA, APONTA BEM E ACERTA NA CABEÇA DE QUEM TE ATIROU A PRIMEIRA;
-NUNCA DESISTAS DE UM SONHO, SE NÃO O ENCONTARES NA PADARIA PROCURA NA PRÓXIMA;
- O MAIS NOBRE DOS CACHORROS É O CACHORRO-QUENTE: ALIMENTA A MÃO QUE O MORDE;
- TUDO É RELATIVO: O TEMPO QUE DURA UM MINUTO DEPENDE DO LADO DA PORTA DO WC EM QUE VOCÊ ESTÁ ;
- ROUBAR IDÉIAS DE UMA PESSOA É PLÁGIO, DE MUITAS PESSOAS É PESQUISA.
E finalmente:
Austeridade
E finalmente:
- Acto de punir os pobres pelos erros dos ricos...
Num escritório trabalhavam três raparigas que tinham uma
chefe. A cada dia elas notavam que a chefe saía sempre mais cedo.
Um dia, todas decidiram que quando a chefe saísse elas fariam o mesmo. Afinal,
depois de sair, a chefe nunca mais voltava nem dizia mais nada, por isso
estariam seguras. E porque é que também não poderiam ir para casa mais cedo?
A morena ficou absolutamente radiante por ir para casa mais cedo. Pôde tratar
um pouco do jardim, passar algum tempo a brincar com o filho, e foi para a cama
mais cedo.
A ruiva ficou também deliciada com esse tempinho extra. Aproveitou para uma
curta aula no ginásio antes de se preparar para um encontro ao jantar.
A loura ficou contente por chegar a casa mais cedo e surpreender o marido, mas
quando chegou ao quarto, ouviu vários sons abafados. Abrindo a
porta lenta e silenciosamente, ficou mortificada por ver o marido com a sua
chefe em grande acção na cama! Suavemente fechou de novo a porta e saiu da
casa.
No dia seguinte, durante a pausa para café, a morena e a ruiva planeavam sair
de novo mais cedo e perguntaram à loura se ela queria fazer o mesmo.
- Nem pensar! - foi a resposta - Quase que fui apanhada ontem!
Episódio Nº 37
Somava tudo, geralmente
pelos dedos. Com a ajuda de Viriato fazia a divisão.
- Somos nove… Seis e seiscentos para cada um.
E interrogava:
- Está certo, gente?
Estava certo. Iam passando
em frente a Balduíno que dava a cada um o que lhe pertencia. Por vezes o troco
faltava:
- O Sem Dentes lhe dá qui nhentos
réis…
- Olhe lá… De outra vez você bateu três tões
meus…
Iam comer e depois se
estendiam pela cidade em correrias, procurando mulatas para levar para o areal
do cais, penetrando em festas pobres de morros distantes, bebendo cachaça nos
botequi ns da cidade baixa.
Um dia, no entanto algo de
anormal aconteceu. Quando Zé Casqui nha
ia entregar a sua féria sorria um sorriso enigmático.
António Balduíno disse:
- Três mil réis…
Zé Casqui nha sorriu:
- E mais isto…
Jogou no boné do negro um
anel onde uma pedra brilhava à luz do poste. Uma pedra grande cercada por uma
dúzia de pedrinhas. António Balduíno levantou os olhos e afirmou:
- Você roubou isto, Zé Casqui nha.
- Juro que não…A moça me deu uma esmola e foi
embora… Quando eu vi, esse anelão estava junto de mim. Eu ainda corri atrás mas
não vi mais a moça…
- Mentindo em cima de mim…
Os moleques olhavam a
pedra que passava de mão em
mão. Ninguém ligava para a conversa entre Balduíno e Zé Casqui nha.
- Conte como foi, Zé.
- Não tou mentindo, não, Baldo. Foi assim
mesmo…
- E você foi atrás dela…
- Isso é mentira mesmo… Mas o resto é verdade,
eu juro…
- Tá direito. E agora o que é que a gente vai
fazer com isso?
Filipe riu:
- Me dá para mim… Nasci
para usar anel…
Riram todos mas António
Balduíno perguntou de novo:
- O que
é que a gente faz disso?
- Prego. Dá dinheiro muito…
Filipe pilheriou de novo:
- Faço uma roupa nova…
- Basta ir buscar nas latas de lixo…
- Mas no prego não pode, Viriato. O gringo não
tá vendo que não acredita que o bruto seja de nós… Chama a polícia, tá tudo na
cadeia…
- É mesmo…
- Me dá para eu usar – pediu Filipe.
- Não chatei…
- Eu acho que o melhor é a gente guardar ele
um bocado de tempo. Quando a dona já tiver esquecido dele a gente resolve…
E António Balduíno amarrou
o anel junto à figa que trazia no pescoço.
sexta-feira, junho 07, 2013
Será que Deus existe?
Vejamos, sobre esta questão, como se dividem as
pessoas:
Teísmo - Que agrupa todos aqueles que acreditam numa
inteligência sobrenatural que, além de ter criado o universo, se encontra por
perto para vigiar e influenciar o destino subsequente da sua criação inicial.
Em certos casos, a divindade está intimamente
envolvida nos assuntos humanos, responde às preces, perdoa ou castiga pelos
pecados, opera milagres e agita-se tanto com as boas como com as más acções que
praticamos ou mesmo quando nos limitamos a pensar em praticá-las;
Deístas – Todos aqueles que acreditam numa
inteligência sobrenatural que criou o universo e as leis que o regem e por aqui
se terá ficado num aparente desinteresse pelos destinos humanos;
Panteístas - Aqueles que não acreditam num Deus
sobrenatural mas usam a palavra Deus como sinónimo da natureza ou do universo
ou da legitimidade que rege o seu funcionamento.
Este Deus metafórico ou panteísta dos físicos está a
anos-luz do Deus bíblico interventivo, milagreiro, leitor dos pensamentos,
punidor de pecados, atendedor de preces e que é o Deus dos padres, mulás e
rabinos.
Como exemplo de panteístas referiremos Carl Sagan e
Einstein:
Escreve Carl Sagan: “… se com “Deus” nos referimos ao
conjunto de leis físicas que regem o universo, então há claramente um “Deus”,
um “Deus” que é emocionalmente insatisfatório…não faz muito sentido rezar à lei
da gravidade.”
Einstein, por sua vez, escrevia; “Sentir que por
detrás de qualquer coisa que possa ser experimentada há algo que a nossa mente
não consegue compreender e cuja beleza e sublimidade nos atinge apenas
indirectamente como um débil reflexo, isso é religiosidade. Neste sentido sou
religioso”.
Ateísmo – Que agrupa os que recusam a existência de uma
entidade sobrenatural e não utilizam a palavra Deus para designar o que quer
que seja para que não se preste a confusões.
Agnósticos - Aparecem no fim do século XIX e
representam uma corrente de pensamento que, em síntese, afirma o seguinte:
- Se o que determina a crença em Deus é a fé e
esta não é baseada na razão logo, do ponto de vista racional, não se pode
demonstrar a existência ou inexistência de Deus.
Há, no entanto, ainda, uma outra categoria de pessoas
que se afirmam como crentes e seguidores desta ou daquela religião mas que, no
fundo, não fazem mais do que “mentir” à sociedade por uma questão de
conveniência pessoal. São os falsos religiosos.
O actual presidente da Royal Society confessou a
Richard Dawkins que vai à Igreja como “anglicano descrente…por lealdade com a
tribo.”
Mas não será só por uma questão de “lealdade com a
tribo” mas também por medo das represálias da sociedade como se pode deduzir
pelos resultados de uma sondagem efectuada em 1999 pela Gallup e na qual se
perguntava aos americanos se eles votariam numa pessoa bem habilitada e que
fosse mulher:
- 95% Responderam
afirmativamente; se fosse católica 94%; se fosse judia, 92%; se fosse negra,
92%; se fosse homossexual, 79%; se fosse ateu, 49%.
A mentira está, portanto, explicada e justificada como
igualmente se percebe melhor os cuidados e a atenção, por vezes demasiada, com
que os candidatos à Casa Branca se referem e tratam o tema religião nas suas
campanhas eleitorais.
Consequentemente, os não crentes têm muita dificuldade
em assumirem-se, sobretudo entre a elite mais instruída e não é só de hoje.
John Stuart Mill, já no sec. XIX afirmava: "O mundo
ficaria espantado se soubesse quantos dos seus melhores ornatos, dos que mais
se distinguem pelo apreço popular, sabedoria e virtude são completamente
cépticos”.
Aqui, neste ponto, levanta-se a questão de saber se
para sermos bons precisamos de Deus ou se uma crença religiosa é necessária
para que tenhamos preceitos morais.
Vale a pena transcrever, a propósito da razão de sermos
bons, este notável pensamento de Albert Einstein:
- “Estranha é a
nossa situação aqui na Terra. Cada um de nós vem para uma curta visita, sem
saber porquê, por vezes parecemos adivinhar um objectivo. No entanto, do ponto
de vista do quotidiano, há uma coisa que sabemos: que o homem está aqui pelos
outros homens – acima de tudo por aqueles de cujos sorrisos e bem-estar depende
a nossa própria felicidade”.
Há pessoas religiosas que têm dificuldade em imaginar
como é que alguém sem religião pode ser bom e para que há-de querer ser bom.
E depois, há outras ainda, que desenvolvem ódio contra
aqueles que não partilham a sua fé, um ódio violento, de morte sem contemplações
e isto na defesa da religião que professam!
Por que é que se acredita que para se defender Deus é
preciso ser-se tão feroz?
Há estudos e experiências efectuadas com ateus e
crentes religiosos que permitem concluir não existirem diferenças estatísticas
significativas entre uns e outros quanto a juízos morais pelo que não
precisamos da religião para sermos bons ou maus.
Mas então se Deus não existe para quê ser bom?
A este propósito dizia Einstein: “Se as pessoas são só
boas porque temem o castigo e esperam a recompensa, então somos mesmo uma
triste cambada.”
O grande filósofo Emanuel Kant, embora religioso, como
era quase inevitável à época, baseou toda a moralidade no dever pelo dever e
não em função de Deus.
É verdade que a filiação num partido político nos EUA
não é um indicador perfeito do factor religiosidade mas não é segredo nenhum
que os estados republicanos são fortemente influenciados pelos cristãos
conservadores pelo que seria de esperar uma sociedade mais saudável
relativamente aos estados democratas onde a influencia do conservadorismo
cristão não se faz tanto sentir.
Essa não é, no entanto, a realidade. Das 25 cidades
com mais baixos índices de crimes violentos 62% acontecem nos estados
democratas e 38% nos republicanos. Das 25 cidades mais perigosas 76% estão em
estados republicanos e 24% nos democratas.
Na verdade, 3
das 5 cidades mais perigosas do EUA situam-se no devoto estado do Texas e dos
22 estados com índices de homicídio mais elevado, 17 são republicanos.
No jornal of Religion and Society (2005), Gregory S.
Paul levou a cabo um estudo comparativo sistemático de 17 nações economicamente
desenvolvidas, chegando à devastadora conclusão que:
- “Nas
democracias prósperas, índices mais elevados de crença e adoração de um criador
correlacionam-se com índices mais elevados de homicídio, mortalidade juvenil e
precoce, índices de contágio de doenças sexualmente transmissíveis, gravidez na
adolescência e aborto”.
Estes resultados atingiram tão profundamente as
propaladas pretensões de superior virtude moral por parte das pessoas
religiosas que se assistiu de imediato a um acréscimo da investigação
desencadeada por organizações religiosas que os tentaram refutar…mas até à data
ainda nada apareceu que desmentisse os dados do estudo referido e as conclusões
a que eles conduzem.
Mas, regressemos de novo à pergunta inicial acerca da
existência de Deus e sobre ela vamos abrir um leque de probabilidades de 0 a 100%.
1º -Ateu convicto - “Sei que Deus não existe com o
mesmo grau de convicção com que Carl Gustav Jung “sabe” que ele existe;
2º -Ateu de Facto – Uma probabilidade muito baixa mas
acima do zero. “Não tenho a certeza, mas acho muito improvável Deus existir e
vivo a minha vida no pressuposto de que ele não existe”.
3º-Tecnicamente Agnóstico – Abaixo dos 50% mas não
muito, tende para o ateísmo. “Não sei se Deus existe, mas inclino-me para o
cepticismo”.
4º- Agnóstico Completamente – Exactamente 50%. “A
existência ou a não existência de Deus são igualmente incomprováveis.
5º- Tecnicamente Agnóstico - Acima dos 50% mas não
muito elevado a tender para o teísmo. “Estou muito indeciso, mas inclinado a
acreditar em Deus”.
6º- Teísta de Facto – Grande probabilidade mas aquém
dos 100%. “Não posso ter a certeza, mas acredito firmemente em Deus e vivo a
minha vida no pressuposto de que ele existe”
7º- Teísta Convicto – 100% de probabilidades da
existência de Deus. Nas palavras de C. G. Jung, “Eu não acredito, eu sei”.
Reflectindo sobre este leque de hipóteses sobre a
existência de Deus, e embora admita que existem pessoas para cada uma das sete
hipóteses, a primeira e a última são, para mim, as mais credíveis e as mais
sinceras.
Acreditar ou não acreditar em Deus tem a ver com uma
questão de fé que não é possível existir em pequenas, médias ou grandes doses,
ou se tem fé ou não se tem.
Se sim, acredita-se em Deus a 100%, na modalidade
teísta ou deísta.
Se não se tem fé, coerentemente, só se pode ser ateu.
As hipóteses intermédias têm a ver com a delicadeza do
tema:
Todos nascemos em sociedades mais ou menos religiosas
e há um grau de religiosidade que, diria, nos é insuflado logo após o primeiro
choro e que cada um de nós desenvolve em maior ou menor grau em função das
características da nossa própria personalidade e do contexto social em que a
nossa vida decorre.
E, em certos contextos sociais, não é fácil, muitas
vezes é impossível, que alguém se consiga libertar totalmente de um elemento
que insuflado à nascença é como se fosse constitutivo de si próprio e por isso
aquele limbo de incerteza, de cepticismo, de dúvida tão difícil de quebrar e
que não é mais do que um refúgio onde escondemos todos os “diabinhos” que nos
assaltam.
Eu penso que a fragilidade do ser humano, este nosso
intelecto que nos superioriza tão claramente aos restantes animais mas que não
chega para fazer de nós deuses, este ficar a meio caminho, nem animal nem deus,
se traduz, de facto, numa fragilidade.
- Ser ateu, é um acto de coragem, é regressar
definitivamente à terra e aos animais a que pertencemos e cuja evolução
encabeçamos.
- Ser ateu, é um acto de humildade para com a vida, é
deixar de ser pretensioso e “convencido” sobre aquilo que, de facto, não somos
por muito que gostássemos de o ser.
- Ser ateu, é perceber que a vida desenrola-se à nossa
volta e é nela que temos de concentrar todas as nossas energias e capacidades.
- Ser ateu é respeitar a natureza como um legado dos
nossos antepassados a transmitir aos nossos descendentes com o máximo respeito
por todas as formas de vida.
- Ser ateu é respeitar todas as pessoas
independentemente de elas o serem ou não.
- Ser ateu, é amar a vida e os outros muito em especial
“aqueles de cujos sorrisos e bem-estar a nossa felicidade depende (Einstein)”
Richard Dawkins
Richard Dawkins
OBS - Nesta perspectiva, é capaz de haver mais ateus do que julgamos...
Duas amigas caídas de bêbedas e aflitas para fazer xixi, vão
fazê-lo no cemitério. Uma limpou-se à cuequi nha
e a outra como não tinha limpou-se uma fita de uma coroa de flores que estava perto.
No dia seguinte um dos maridos ligou ao outro:
- A minha mulher chegou bêbeda e sem cuecas acabei o casamento!
Diz o outro.
- Eu também! A minha trazia uma fita presa no cu que dizia:
- ''jamais te esqueceremos. Carlos, Tiago, Pedro e todo o pessoal da Faculdade.''
Baiana do Acarajé |
JUBIABÁ
Episódio Nº 36
O mais estranho de todos
eles era porém Viriato o Anão. O apelido fora-lhe dado devido a ele ser
baixinho, mais baixo mesmo que Filipe apesar de três anos mais velho.
Baixote e pesadão, possuía
uma força prodigiosa para a sua idade. Mesmo quando tomava banho dava a
impressão de sujeira e de miséria.
Quando o grupo se formou
já ele mendigava através das ruas da cidade. A sua cabeça chata metia medo. E
para meter mais impressão andava curvo, o que o fazia parecer mais baixo e
corcunda. Custava arrancar de Viriato uma palavra. E enquanto os outros riam em
gargalhadas soltas ele apenas sorria.
Mas não aborrecia ninguém,
nunca reclamava quando o grupo pouco fazia, e se contentava com o que havia
para comer e com pontas de cigarro para fumar.
António Balduíno gostava
dele, sujeitava à sua opinião muitas resoluções, dava-lhe o maior prestígio.
Durante o dia, Viriato o
Anão, pouco se movia com o grupo. Ficava parado na rua Chile, as pernas
encolhidas, todo curvo, a cabeça chata acachapada sobre o pescoço. Estendia sem
uma palavra o chapéu aos que passavam. Parecia fazer parte da porta onde se
sentava como uma escultura trágica, um monstro de igreja.
A sua féria era sempre
gorda. Pelo fim da tarde se encontrava com o grupo e depositava nas mãos de
António Balduíno o resultado do trabalho do dia.
Depois de feitas as contas
e haver recebido a sua parte, ia para um canto, comia, fumava, dormia.
Acompanhava os outros nos passeios malandros pelas ruas da cidade, nas caçadas
a criadinhas nos areais, nas brigas, nas festas, mas sem nenhum entusiasmo.
Acompanhava por acompanhar.
Era o único do grupo dos
moleques que mendigava que levava a sério a profissão.
No fim da tarde António
Balduíno se sentava no chão, reunia os moleques em torno de si e ia recolhendo
o dinheiro ganho durante o dia. Eles remexiam os bolsos das velhas calças,
puxavam níqueis e algumas pratas e depositavam na mão do chefe.
- E você Gordo, quanto?
O Gordo contava o
dinheiro:
- Cinco mil e oitocentos…
- E o Belo?
Filipe atirava com um
gesto de superioridade a sua féria:
- Dezasseis mil réis…
Não era preciso chamar
Viriato:
- Doze e cem…
Os outros iam chegando. O
boné de Balduíno se enchia aos poucos de prata e níqueis. Por último António
Balduíno vasculhava os bolsos e juntava a sua féria.
- Fiz pouco… Sete mil réis…
quinta-feira, junho 06, 2013
João comprou um par de sapatos novos e chega a casa:
- Maria o que achas?- Acho de quê?
- Não notas nada de diferente?
- Não...
João vai à casa de banho, tira a roupa toda e volta apenas com os sapatos
novos calçados.
- E agora? Já notas alguma coisa diferente?
- Não, o 'coiso' continua pendurado para baixo, assim como estava ontem e
como estará amanhã!
- E SABES PORQUE É QUE ELE ESTÁ PENDURADO PARA BAIXO?
- Porquê?
- Porque ele está a olhar para os meus sapatos novos!
- Hum... podias ter comprado um chapéu ....
IRENA SENDLER |
que não devem serPorque há coisas
NUNCA esquecidas!
Durante a 2ª Guerra Mundial, Irena conseguiu uma autorização para trabalhar no Gueto de Varsóvia, como especialista de canalizações. Mas os seus planos iam mais além... Sabia quais eram os planos dos nazis relativamente aos judeus (sendo alemã!).
Irena trazia crianças escondidas no fundo da sua caixa de ferramentas e levava um saco de sarapilheira na parte de trás da sua camioneta (para crianças de maior tamanho).
Também levava na parte de trás da camioneta um cão, a quem ensinara a ladrar aos soldados nazis quando entrava e saia do Gueto. Claro que os soldados não queriam nada com o cão e o ladrar deste encobriria qualquer ruído que os meninos pudessem fazer.
Enquanto pôde manter este trabalho, conseguiu retirar e salvar cerca de 2500 crianças.
Por fim os nazis apanharam-na. Souberam dessas atividades e em 20 de Outubro de 1943 Irena Sendler foi presa pela Gestapo e levada para a infame prisão de Pawiak, onde foi brutalmente torturada.
Ela, era a única que sabia os nomes e moradas das famílias que albergavam crianças judias, suportou a tortura e negou trair seus colaboradores ou as crianças ocultas. Quebraram-lhe os ossos dos pés e das pernas, mas não conseguiram quebrar a sua determinação. Já recuperada foi, no entanto, condenada à morte.
Enquanto esperava pela execução, um soldado alemão levou-a para um "interrogatório adicional". Ao sair, ele gritou-lhe em polaco: "Corra!".
Esperando ser baleada pelas costas, Irena, contudo, correu por uma porta lateral e fugiu, escondendo-se nos becos cobertos de neve até ter certeza de que não fora seguida. No dia seguinte, já abrigada entre amigos, Irena encontrou o seu nome na lista de polacos executados que os alemães publicavam nos jornais.
Os membros da organização Żegota ("Resgate") tinham conseguido deter a execução de Irena, subornando os alemães e Irena continuou a trabalhar com uma identidade falsa.
Irena mantinha um registo com o nome de todas as crianças que conseguiu retirar do Gueto, guardadas num frasco de vidro enterrado debaixo de uma árvore no seu jardim.Depois de terminada a guerra tentou localizar os pais que tivessem sobrevivido e reunir a família. A maioria tinha sido levada para as câmaras de gás. Para aqueles que tinham perdido os pais, ajudou a encontrar casas de acolhimento ou pais adoptivos.Em 2006 foi proposta para receber o Prêmio Nobel da Paz... mas não foi seleccionada. Quem o recebeu foi Al Gore por sua campanha sobre o Aquecimento Global. (Por que terá sido?...)Não permitamos que alguma vez esta Senhora seja esquecida!!
Passaram já mais de 60 anos, desde que terminou a 2ª Guerra Mundial na Europa. Este texto será reenviado como uma cadeia comemorativa, em memória dos 6 milhões de judeus, 20 milhões de russos, 10 milhões de cristãos (inclusive 1.900 sacerdotes católicos ), 500 mil ciganos, centenas de milhares de socialistas, comunistas e democratas e milhares de deficientes físicos e mentais e que foram assassinados, massacrados, violados, mortos à fome e humilhados, com os povos do mundo muitas vezes olhando para o outro lado...
Agora, mais do que nunca, com o recrudescimento do racismo, da discriminação e os massacres de milhões civis em conflitos e guerras sem fim em todos os continentes, é imperativo assegurar que o Mundo nunca esqueça. Gente como Irena Sendler, que salvou milhares de vidas praticamente sozinha, é extremamente necessária.
"A razão pela qual resgatei as crianças tem origem no meu lar, na minha infância. Fui educada na crença de que uma pessoa necessitada deve ser ajudada com o coração, sem importar a sua religião ou nacionalidade." - Irena Sendler
O Totoloto do nascimento... |
A Importância
Do Meio Social
Em Que Se Nasce
Dois homens discutem por causa de um
jogo de bilhar ou porque um insulta a namorada de outro e a animosidade vai
subindo até chegar ao assassínio, muitas vezes à vista de quem está perto.
A este tipo de homicídio os
criminologistas costumam chamar de “altercação trivial” mas, será?
Para mim foi fácil casar e ter filhos.
Tudo o que tive de fazer foi ir para a Universidade e depois garantir um bom
emprego.
Eu gostaria de atribuir o meu
comportamento de pessoa civilizada ao meu excelente carácter mas, acima de
tudo, tenho de estar grato ao extracto social a que pertenço.
No meu caso não me envolveria em luta
que me pudesse levar a um homicídio que erradamente seria chamado de
“altercação trivial” porque teria muito a perder e pouco a ganhar.
Naquela luta o que estava
verdadeiramente em causa era a competição entre indivíduos de sexo masculino
pelo “estatuto” que pode ser tudo menos trivial.
Tenho cinquenta e seis anos, ultrapassei
a idade média em que morre o homem das zonas deprimidas da cidade de Chicago e
ainda estou de boa saúde.
Eu sou como os homens dos bairros
sociais de Chicago mais favorecidos com muito menor probabilidade de cometerem
homicídios em lutas de “altercação trivial” porque a sua frequência está
relacionada com o meio social a que se pertence.
A cidade de Chicago está dividida em
setenta e sete bairros para os quais as taxas de homicídio e outros dados
estatísticos vitais estão compilados separadamente.
Estes bairros variam imenso quanto a
qualidade de vida, incluindo a própria duração média de vida de tal forma que a
esperança de vida dos bebés nascidos nos melhores bairros é vinte anos superior
à dos nascidos nos piores (cinquenta e tal anos para setenta e tal anos).
Estas mesmas diferenças verificam-se em
geral entre países desenvolvidos e em vias de desenvolvimento.
Nos bairros com menor esperança de vida,
as mulheres têm tendência a começar a ter filhos mais cedo e esta gravidez na
adolescência é amplamente reconhecida como um problema social mas, quando se
perguntava às mulheres de um geto porque tinham filhos tão cedo as respostas
suscitavam simpatia. Diziam elas que queriam que as suas mães conhecessem os
netos.
Usavam o termo de “desgaste” para
descrever a deterioração de saúde que observavam à sua volta.
E a pergunta aqui fica:
-
Se o meu amigo e aqueles que lhe são chegados estivessem a desgastar-se a um
rito rápido não gostaria de começar a ter filhos suficientemente cedo para os
conhecer e ajudá-los a criar os seus próprios filhos?
As taxas de homicídio variam imenso
oscilando de 1,3 e 156 por 100.000, entre bairros de pessoas ricas e de pessoas
pobres porque nestes o panorama é uns quantos bem sucedidos e muitos falhados
e, nestas circunstâncias, um “zé-ninguém” assume comportamentos de riscos
extremos na perspectiva de ser “alguém”.
A desvalorização acentuada do futuro
pode ser uma resposta “racional” à informação que indica uma probabilidade
incerta ou baixa de sobreviver para mais tarde colher benefícios, por exemplo,
e correr “riscos impensados” pode ser a solução óptima quando os benefícios de
uma escolha de acções mais segura são insignificantes.
A evolução tem intrinsecamente a ver com
organismos que reagem a modificações ambientais sendo impossível negar a
capacidade de mudança.
O Criacionismo religioso e secular
sempre se baseou no medo das consequências de aceitar a evolução, mas se
encararmos a teoria da evolução como um instrumento capaz de proporcionar uma
modificação positiva, ela será fácil de aceitar.
No que toca à evolução o futuro pode ser
diferente do passado, para melhor.
Richard Dawkins
Episódio Nº 35
O menino é macho, ninguém
bole nele…
- E se eu bulir?
António Balduíno sentia
que estavam todos do seu lado:
- Pois bula…
Levantou-se. O Sem Dentes
também. Pensava que se vencesse António Balduíno chefiaria os moleques. Ficaram
olhando um para o outro.
- Bata – disse o Sem Dentes.
António Balduíno arrumou o
soco. O Sem Dentes vacilou mas não caiu. Se atacaram, a molecada torcendo. O
Sem Dentes estava por baixo mas deu um jeito e se pôs em pé. Um soco de António
Balduíno o pôs novamente no chão.
Quando o Sem Dentes se
levantou vinha com um canivete aberto, brilhando no escuro.
- Covarde, não sabe brigar como homem…
O Sem Dentes veio com o
canivete, mas António Balduíno tinha aprendido capoeira com Zé Camarão no Morro
do Capa Negro. Jogou as pernas, o Sem dentes se estatelou no chão, o canivete
voou longe.
António Balduíno concluiu:
- Se bulir com o menino bole comigo… De outra
vez tomo o canivete…
O Sem dentes dormiu
sozinho numa porta. Filipe, o Belo, ficou definitivamente no grupo.
Era especialista em velhas. Mal aparecia
uma no princípio da rua, ele consertava o laço da gravata velha que nunca
abandonava, jogava fora a ponta do cigarro, metia as mãos nos bolsos fundos,
escondia a navalha e se aproximava muito triste. Falava baixinho:
- Bom dia, senhora. Eu sou um menino
abandonado, sem pai, sem mãe. Não tenho ninguém por mim... Tenho fome…Estou com
tanta fome…
Começava a chorar. Possuía
um talento especial para chorar na hora que queria. As lágrimas caíam, soluçava
alto:
- fome… mamãe… a senhora tem filho… tenha
pena… mamãe…
Ficava lindo chorando, o
rostinho redondo e alvo cheio de lágrimas, os lábios tremendo. Não havia mulher
que não dissesse.
- Coitadinho… Tão pequenininho… Já sem mãe…
Davam-lhe largas esmolas.
Três vezes foi convidado a morar em casas ricas de senhoras ricas. Mas amava a
liberdade das ruas e permanecia fiel ao grupo, onde já era elemento
respeitadíssimo, pois dos mais eficientes.
Até o Sem Dentes o tratava
com respeito quando ele voltava de junto de uma velha.
- Caiu com cincão…
A gargalhada dos moleques
estrugia pelas ruas, ladeiras e becos da cidade da Baía de Todos os Santos e do
Pai de Santo de Jubiabá.
quarta-feira, junho 05, 2013
Vinha
pela estrada uma caravana de motociclistas fortes, bigodudos, em suas poderosas
motos, quando de repente eles vêem uma garota a ponto de saltar de uma ponte
para o rio.
Eles param e o líder, particularmente corpulento e de
aspecto rude, salta, dirige-se à rapariga e pergunta:
- Que diabo estás a fazer??
- Vou suicidar-me - Responde suavemente a delicada
garota com a voz cadenciada e ameaçando pular.
O motociclista pensa por alguns segundos e
finalmente diz:
- Bom, antes de saltar, por que não me dás um beijo?
Ela acena com a cabeça, põe os cabelos compridos
encaracolados de lado e dá um beijo longo e apaixonado na boca do motociclista
corpulento. Depois desta intensa experiência, o gangue de motoqueiros aplaude,
o líder recupera o fôlego, alisa a barba e admite:
- Este foi o melhor beijo que me deram na vida. É um
talento que se perderá caso te suicides. Por que queres morrer?
- Meus pais não gostam que eu me vista de mulher!!!