Memórias Futuras
Olhar o futuro pelo espelho retrovisor da história. Qual história? Que futuro?
sábado, junho 02, 2012
VÍDEO
Esta cena, que não estava com certeza prevista no roteiro do passeio, fez as delícias da senhora que em vida nunca mais a vai esquecer...
SHERLOCK HOLMES
E O SEU AMIGO WATSON
O grande detective Sherlock Holmes convidou o seu
inseparável amigo e companheiro, Dr. Watson para acamparem.
Montaram a tenda e depois de uma boa refeição
deitaram-se a dormir.
Algumas horas depois, Holmes acorda e diz ao seu fiel
amigo:
- Meu caro
Watson olhe para cima e diga-me o que vê.
Watson responde:
- Vejo milhares
e milhares de estrelas.
- E Holmes
pergunta:
- E o que é que
isso significa?
Watson pondera um minuto, depois enumera:
- 1º - Astronomicamente,
significa que há milhares e milhares de galáxias e, potencialmente, biliões de
planetas;
- 2º
Astrologicamente, observo que Saturno está em Leão e teremos um dia de sorte;
- 3º
Temporalmente, deduzo que sejam 03 horas e 15 minutos pela a altura em que se
encontra a estrela polar;
- 4º
Teologicamente, posso ver que Deus é todo-poderoso e nós pequenos e
insignificantes;
- 5º
Meteorologicamente, suspeito que teremos um dia lindo.
Correcto?
Holmes fica um minuto em silêncio e por fim diz:
- Porra!...
Watson, não vê que nos roubaram a puta da tenda?
Moral da história: … a vida é simples, nós é que a
complicamos.
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 114
Sobressaltavam-se quando o relógio soava
as doze e meia, iam saindo, deixando gordas gorjetas, que Bico Fino recolhia
com as unhas sujas e ávidas. Iam empurrados pelo relógio, como obrigações, a
contragosto. O bar esvaziava-se, Nacib sentava-se a comer. Ela o servia rodando
em torno da mesa, abrindo a garrafa de cerveja, enchendo-lhe o copo.
O rosto moreno resplandecia, quando ele,
farto, entre dois arrotos – «é bom para a saúde», explicava – elogiava os
pratos. Recolhia as marmitas, Chico Moleza aparecia de volta, era a vez de Bico
Fino ir almoçar. Gabriela armava a espreguiçadeira num terreno por detrás do
bar, plantado de árvores, dando para praça. Dizia «até logo seu Nacib», voltava
para casa.
O árabe acendia o charuto de São Félix,
tomava dos jornais da Bahia, atrasados de uma semana, ficava a espiá-la
desaparecer na curva da igreja, seu andar de dança, seus quadris marinheiros.
Já não levava a flor na orelha, metida nos cabelos. Ele a encontrara na espreguiçadeira,
teria caído por acaso, ao curvar-se a moça, ou a retirara ela da orelha e a
deixara ali de propósito? Rosa rubro, com cheiro de cravo, perfume de Gabriela.
Do Esperado Hóspede Indesejável
Eufóricos, o Capitão e o Doutor
apareceram cedo no bar Vesúvio comboiando um homem de uns trinta e poucos anos,
de rosto aberto e ar desportivo.
Antes mesmo que o apresentassem, Nacib
adivinhou tratar-se do engenheiro. Desencantara, afinal, o tão esperado e
discutido cidadão…
- Dr. Rómulo Vieira, engenheiro do
Ministério de Viação.
-
Muito prazer, doutor. Um seu criado…
-
O prazer é meu.
Ali estava ele, o rosto queimado do sol,
o cabelo cortado quase rente, uma pequena cicatriz na testa. Apertava com força
a mão de Nacib. O Doutor sorria tão feliz como se exibisse parente próximo e
ilustre ou mulher de rara beleza.
O Capitão pilheriava:
-
Esse árabe é uma instituição. É ele quem nos envenena com bebida falsificada,
rouba-nos ao pocker, sabe da vida de todo o mundo.
-
Não diga isso, Capitão. O que é que o doutor vai pensar?
-
Um bom amigo, rectificava o Capitão. – Pessoa de bem.
O engenheiro sorria, um tanto
contrafeito, a olhar com desconfiança a praça e as ruas, o bar, o cinema, as
casas próximas, em cujas janelas surgiam olhos curiosos.
Sentaram-se em torno de uma das mesas do
passeio. Glória surgia da janela, molhada do banho, os cabelos por pentear, num
desalinho matinal. Logo descobria o forasteiro, cravava-lhe os olhos, corria
para dentro a embelezar-se.
-
Um pancadão de mulher, hem? – O Capitão explicava-lhe Glória solitária.
Nacib qui s
servi-los pessoalmente, trouxe pedaços de gelo num prato, a cerveja apenas
estava fria. Afinal chegara o engenheiro!
ENTREVISTA
FICCIONADA COM JESUS Nº 52 SOBRE O TEMA: “AS PROSTITUTAS PRIMEIRO?”
RAQUEL – Emissoras Latinas localizadas às portas de Nazaré. Final da tarde na periferia da cidade onde Jesus Cristo nasceu… Nada disto existia no seu tempo, certo?
JESUS
- Não, tudo isto era monte…
RAQUEL - Agora é um bairro árabe muito
populoso, com bastante movimento. Está proibido o álcool, está proibida a
droga mas tudo circula... Isto é o que chamamos uma zona rosa, Senhor Jesus
Cristo…
JESUS - Por que lhe chamam isso?
RAQUEL
- Digamos, uma zona de tolerância ...
Olhe para essas meninas… Se o senhor fosse andando sozinha, sem minha
empresa, já o teriam abordado…
JESUS
– Prostitutas?
RAQUEL
- Sim, prostituição, um mal social que
nunca acaba.
JESUS
- No meu tempo também havia.
RAQUEL
- Bem, dizem que é a profissão mais antiga do mundo ...
JESUS
– Diz antes que é o mais antigo abuso.
RAPARIGA
- Hei! Barbudo deixa essa franguita e vem comigo!
RAQUEL
– Vês, o que te estava a dizer…? Hoje, são vistas como profissionais do sexo…
Um trabalho como qualquer outro, uma opção que as mulheres escolhem
livremente…
JESUS
- As mulheres que eu conheci não eram livres. Eram pobres, abandonadas, precisavam
de alimentar seus filhos… A outras, as tinham como escravas sem poderem fugir...
A prostituição é uma das piores afrontas cometidas contra as filhas de Deus.
RAQUEL
– Num programa anterior, o senhor nos contou que a prostituta mais famosa da história
não tinha sido prostituta…
JESUS
– Estás a referir-te a Maria?
RAQUEL
- Sim, a Maria Madalena. Nos quadros, nas imagens, ela sempre aparece a
chorar a seus pés, uma grande pecadora…
JESUS
– Falam assim dela porque não a conheceram...
RAQUEL
- Imagine que mesmo numa rádio-novela intitulada “UM Certo Jesus” cujos
autores, progressistas e que falavam muito bem de si, apresentaram-na, a ela, a trabalhar num
bordel na Rua do Jasmim ...
JESUS
– Pois bem, quem escreveu isso estava errado.
RAQUEL
- Agora eles estão arrependidos ...
Eles Dizem que não sabia…Enfim, de volta ao tema… Dentro do seu grupo
entraram algumas prostitutas?
JESUS
- Elas estavam nos últimos escalões e por
isso foi-lhes fácil entenderem a mensagem e entrarem para o nosso movimento.
RAQUEL
– O senhor as defendeu?
JESUS
- Eu disse aos
sacerdotes que as via a elas em primeiro lugar no Reino de Deus.
RAQUEL
- Palavras fortes, imagino as reacções
...
JESUS
- É que os sacerdotes as humilhavam muito. Cuspiam no seu caminho, nem mesmo
a sua sombra queriam trilhar. Mas aqueles que lhes chamavam de imundas durante o dia, iam à
noite procurá-las. Hipócritas…
RAQUEL
– Temos uma chamada
MONA
- Fala Mona Sahlin do Ministério da
Igualdade da Suécia.
RAQUEL
- É uma chamada de Suécia, Jesus Cristo ...Sim, diga-me Senhora Ministra ...
MONA
– Pode dizer a Jesus Cristo que o meu governo aprovou legislação sobre a
prostituição. No meu país quem prendemos e punimos não é a prostituta mas sim
o cliente.
RAQUEL
- Bem feito. E o metem na cadeia?
MONA
- Sim, porque isso é um crime:
violência contra as mulheres.
RAQUEL
- E ela?
MONA
– À prostituta, oferecemos oportunidades de emprego e reabilitação, se ela
RAQUEL
- Agradeço ao Ministro para a
Igualdade da Suécia.
Ouviu,
Jesus Cristo. Algumas coisas estão melhorando neste mundo, não é?
JESUS
- Eu acredito e estou satisfeito, Raquel. Vai ser longa a estrada mas é ela
que conduz à vida ...
RAQUEL
– E os senhores ouvintes, o que pensam? São mulheres de vida fácil,
prostitutas ou vítimas de género?
Nota
- Com esta medida a corrente migratória de mulheres estrangeiras para o negócio
da prostituição na Suécia diminuiu drasticamente.
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sexta-feira, junho 01, 2012
ADVINHAS
Qual é a única comida que liga e desliga?
- O Strog-On-Off.
O que é que um tubarão diz para o outro?
- Tubaralhas-me.
O que é que uma impressora diz para a outra?
- Essa folha é tua ou é impressão minha?
Diz a
massa para o queijo:- O Strog-On-Off.
O que é que um tubarão diz para o outro?
- Tubaralhas-me.
O que é que uma impressora diz para a outra?
- Essa folha é tua ou é impressão minha?
- Que maçada!
Responde o queijo:
- E eu ralado!
Sabem quando é que os americanos comeram carne pela primeira vez?
- Foi quando lá chegou o Cristovão co-lombo.
- O que vai fazer a galinha à Igreja?
- Assistir à missa do galo.
Um tipo, ao ver o vizinho do prédio ao lado na varanda, puxou conversa com ele:
- Ó vizinho! Quando é o seu aniversário?
-
- É que eu vou oferecer-lhe uns cortinados de presente, pra você colocar no seu quarto. Não aguento mais ver você e sua esposa a darem
quecas brutais em plena luz do dia!
Nessa altura e sorrindo, o outro perguntou:
- E o seu, quando é?
-
- Vou dar-lhe uns binóculos, pra você ver bem de quem é a esposa!...
GABRIELA
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 113
Exclamações ressoavam à sua
entrada: aquele passo de dança, os olhos baixos, o sorriso espalhando-se dos
seus lábios para todas as bocas. Entrava dizendo «bom dia» por entre as mesas,
ia direita para o balcão, depositava a marmita.
Habitualmente, àquela hora,
o movimento deveria ser mínimo, um ou outro retardatário a apressar-se para
casa. Mas, pouco a pouco, os fregueses foram prolongando a hora do aperitivo,
medindo o tempo pela chegada de Gabriela, bebendo um último trago após a sua
aparição no bar.
- Desce um «rabo-de-galo», Bico fino.
- Dois vermutes aqui …
- Saímos para outra? – Os dados ressoavam no
copo de couro, rolavam sobre a mesa – Trinca de reis em uma…
Ela ajudava a servir, para
mais depressa o movimento acabar, senão a comida esfriaria na marmita, perderia
o gosto. Os chinelos arrastando-se no cimento, os cabelos amarrados com uma
fita, o rosto sem pintura, as ancas de dança. Ia por entre as mesas, um lhe
dizia galanteios, outro a fitava com olhos súplices, o doutor batia-lhe
palmadinhas na mão, chamava-a “minha menina”.
Ela sorria para uns e
outros, parceria uma criança não fossem as ancas soltas. Uma súbita animação
percorria o bar, como se a presença de Gabriela o tornasse mais acolhedor e
íntimo.
Do balcão, Nacib a via
aparecer na praça, a rosa na orelha, presa nos cabelos. Semicerravam-se os
olhos do árabe: a marmita cheia de comida gostosa, àquela hora sentia-se
esfomeado, contendo-se para não devorar os pastéis e empadas de camarão, os
bolinhos dos tabuleiros.
E a entrada de Gabriela
significaria mais uma rodada de bebida em quase todas as mesas, aumentou o
lucro. Ao demais era um prazer para os olhos vê-la no meio-dia, rememorar a
noite passada, imaginar a próxima.
Por baixo do balcão a
beliscava, passava-lhe a mão sob as saias, tocava-lhe os peitos. Gabriela ria
então em surdina, era gostoso.
O Capitão a reclamava.
De aluna a tratava, um falso
ar paterno, desde um dia quando tentara, no bar quase vazio, ensinar-lhe os
mistérios do gamão. Ela rira sacudindo a cabeça, além do «jogo do burro» não
conseguira aprender nenhum outro. Mas ele, nas conclusões das partidas
prolongadas em jogadas lentas para a ver chegar, reclamava sua presença nos
lances decisivos:
- Venha aqui
me dar sorte…
Por vezes a sorte era para
Nhô-Galo, para o sapateiro Felipe ou para o Doutor:
- Obrigado, minha menina, Deus lhe faça ainda
mais bela – O doutor batia-lhe levemente na mão.
- Mais bela? Impossível! – protestava o
Capitão, abandonando o ar paternal.
Nhô-Galo não dizia nada,
apenas olhava. O sapateiro Felipe elogiava-lhe a rosa na orelha:
- Ah! Mis vinte años…
Reclamava de Josué, porque
não fazia ele um soneto para aquela flor, aquela orelha, aqueles olhos verdes?
Josué respondendo que um soneto era pouco, faria uma ode, uma balada.
(Click na imagem. Na intimidade do seu espaço)
INFORMAÇÔES COMPLEMENTARES À ENTREVISTA Nº 51
SOBRE O TEMA:“COMO ERA SER CRIANÇA” (6º e último)
O que nos ensinam as crianças
Há muitos e
bons filmes sobre o quanto as crianças podem ensinar aos adultos. Encantariam
Jesus e confirmariam a sua intuição de que o reino de Deus é das crianças e que
podemos aprender com os mais jovens a ser mais humanos. Realçamos um desses filmes, "A
Cor do Paraíso" (2000), do iraniano Majid Majidi, em que a criança-professor
é uma criança cega. O crítico
de cinema Chico Julio Rodriguez, diz no seu comentário sobre esse filme: Vendo este e outros filmes
iranianos tão cheios de beleza e amor pela vida, o espectador naturalmente
fica com vontade de gritar para não destruírem essas vidas e essas terras e
pedir para os adultos aprenderem com as crianças mais velhas a olhar, não
ficarem na cegueira da guerra que os impede de verem "a cor do paraíso
".
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quinta-feira, maio 31, 2012
Tango
É sem duvida um primor de elegância. Vale a
pena ver até ao fim.
No início do século XX, o Tango era dançado entre homens, como é o Sirtaki, dança tradicional grega.
Era vergonhoso para uma mulher ter essa oportunidade.
Levou mais de 20 anos até que o TANGO fosse dançado com uma mulher.
Este vídeo é uma obra de arte. O estilo é uma pequena jóia...
O sábio distraído, vai à rua comprar
cigarros e deixa um papel na porta: “Saí por instantes. Volto já.”
Regressa, sobe a escada, lê o papel,
senta-se no patamar e diz: - Bem, espero um pouco. Oxalá que não demore...
O
pescador:
— Há três horas que o senhor está aí a observar-me.
Porque é que não pega numa cana e não vem também pescar?
— Não tenho paciência.
— Não tenho paciência.
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 112
-
Meu Deus, os tabuleiros…
Arrumaram às pressas, os doces sobre o
dos salgados, tudo na cabeça de Tuísca, que saíu assobiando a melodia. Os pés
de Gabriela ainda traçaram uns passos, dançar era bom.
Um ruído de fervura veio da cozinha: ela
precipitou-se.
Quando sentiu Chico Moleza entrar na
casa ao lado, já estava pronta, tomou da marmita, enfiou os chinelos dirigiu-se
para a porta. Ia levar a comida de Nacib, ajudar enquanto o empregado não
estava. Voltou, porém, colheu uma rosa no canteiro do qui ntal,
enfiou o talo atrás da orelha, sentia as pétalas aveludadas a tocar-lhe de leve
a face.
Fora o sapateiro Felipe – boca suja de
anarqui sta a praguejar contra os
padres, tão educado quanto um nobre espanhol ao falar com uma dama – quem lhe
ensinara aquela moda. «A mais famosa das modas», dissera-lhe.
Todas as muchachas em Madrid usam uma
flor roxa nos cabelos…
Tantos anos em Ihéus, batendo sola e
ainda misturava palavras castelhanas ao seu português. Antes aparecia no bar
apenas de raro em
raro. Trabalhava muito, remendando selas, arreios, fabricando
chicotes de montaria, botando sola em sapatos e botas, no tempo livre lia
folhetos de capa encarnada, discutia na Papelaria Modelo.
Quase só aos Domingos vinha ao bar para
jogar gamão e damas, adversário temido. Actualmente era todos os dias, antes do
almoço, na hora do aperitivo.
Quando Gabriela chegava, o espanhol
suspendia a cabeça de rebeldes cabelos brancos, ria com os dentes perfeitos de
jovem.
-
Salve la gracia, olé.
E fazia com os dedos um ruído de
castanholas.
Outros também, fregueses anteriormente
acidentais, haviam-se tornado quotidianos, O Vesúvio conhecia uma singular
prosperidade. A fama dos salgados e doces de Gabriela circulara, desde os
primeiros dias, entre os viciados do aperitivo, trazendo gente dos bares do
porto alarmando Plínio Araçá, o dono do Pinga de Ouro, Nhô-Galo, Tonico Bastos,
o Capitão, cada um por sua vez, haviam partilhado o almoço de Nacib, saíam
dizendo maravilhas da comida.
Seus acarajés, as fritadas envoltas em
folha de bananeira, os bolinhos de carne, picantes, eram cantados em prosa e
verso – em verso porque o Professor Josué a eles dedicara uma quadra, onde
rimara «frigideira» com «abrideira», «cozinheira» com «faceira».
Mundinho Falcão já a solicitara por
empréstimo, um dia, quando ofereceu um jantar em sua residência por ocasião da
acidental passagem por Ilhéus, num Ita, de um amigo seu, senador por Alagoas.
Vinham para o aperitivo, o pocker de
dados, acarajés apimentados, bolinhos, salgados de bacalhau a abrir o apetite.
O número crescendo, uns trazendo outros, devido às notícias sobre a alta
qualidade do tempero de Gabriela.
Mas muitos deles demoravam-se agora um
pouco mais além da hora habitual, atrasando o almoço. Desde que Gabriela
passara a vir ao bar com a marmita de Nacib.
Click na imagem. O autor, o grande Jorge Amado, o tal que nasceu com uma estrela, como dizia a mãe, e Sónia Braga, a "nossa" Gabriela)
À ENTREVISTA Nº 51 SOBRE O
TEMA:“COMO
ERA SER CRIANÇA” (5)
Pioneiro numa época sem direitos
Da mesma
forma que Jesus teve uma abordagem verdadeiramente revolucionária para com as
mulheres, a sua atitude para com as crianças foi igualmente surpreendente para
a sociedade do seu tempo.
Ele
ensinou que o Reino de Deus era para "crianças" e "aqueles que
são como crianças." Isto
significa que o reino pertence aos que não são tidos em conta na sociedade. E significa que Jesus fez das crianças
destinatários privilegiados do Reino de Deus enquanto crianças sugerindo que
elas estão mais perto de Deus do que os adultos. Para ele, o valor das crianças não
tinha a ver com o que viessem a fazer quando adultos mas assim por serem
jovens. Esta atitude de Jesus não
tem precedentes nas tradições de seus antepassados.
Claude Piron
é um linguista suíço e psicoterapeuta, Professor Universitário, especialista em
questões interculturais. Participa
no programa dando relevo à novidade da mensagem e na atitude de Jesus para com
as crianças. Pode ler as ideias
de Piron sobre as crianças no seu texto "Somos responsáveis pela tragédia
da «criança-sol» em www.envio.org.ni
quarta-feira, maio 30, 2012
Um velho doutor que sempre trabalhara no meio rural,
achou que tinha chegado a hora de se aposentar, após ter exercido a medicina
por mais de 50 anos.
Ele
encontrou um jovem médico para o seu lugar e sugeriu ao novo diplomado que o
acompanhasse nas visitas domiciliares para que as pessoas se habituassem a ele
progressivamente.
Na
primeira casa uma mulher queixou-se que lhe doía muito o estômago.
O
velho doutor respondeu-lhe:
-
Sabe, a causa provável é que você abusou das frutas frescas... Por que não reduz
a quantidade que consome?
Quando
eles saíram da casa o jovem disse:
-
O senhor nem sequer examinou aquela mulher... Como conseguiu chegar ao
diagnóstico assim tão rápido?
-
Oh, nem valia a pena examiná-la... Você notou que eu deixei cair o estetoscópio
no chão? Quando me abaixei para apanhá-lo, notei que havia muitas de
cascas de mangas, algumas ainda verdes, no balde do
lixo. Concluí que tal excesso, seguramente, vinha lhe causando as
dores.
Na
nossa próxima visita você se encarregará do exame.
-
Humm! Que legal! Eu vou tentar empregar essa sua técnica!
Na
casa seguinte, eles passam vários minutos a falar com uma mulher ainda jovem.
Ela
queixava-se de uma grande fadiga:
-
Ah, Doutor! Eu me sinto completamente sem forças...
O
jovem doutor, encarregado pelo mais velho para examiná-la, diz então, sem
grande demora e muito convicto:
-
A senhora, provavelmente, está dando muito de si para a igreja... Se
reduzir essa atividade, com certeza recuperará toda a sua
energia.
Assim
que deixaram aquela casa, o velho doutor questionou o novato:
-
Colega, o seu diagnóstico surpreendeu-me... Como é que, tão
rapidamente, chegou à conclusão de que aquela mulher se dava de corpo e
alma aos trabalhos religiosos?
-
Eu apliquei a mesma técnica que o senhor me ensinou: deixei cair o meu
estetoscópio e, quando me abaixei para o apanhar, vi o padre debaixo da
cama!...
GABRIELA
CRAVO
CRAVO
E
CANELA
CANELA
Episódio Nº 111
Nas roças, os frutos de cacau punham-se
de vez, todas as gamas do amarelo na paisagem, um ar doirado. O tempo da
colheita aproximava-se, de safra tão grande jamais se tivera notícia.
Gabriela guardava enorme tabuleiro de
doces. Outro, ainda maior de acarajés, abarás, bolinhos de bacalhau,
frigideiras. O moleque Tuísca pitando uma ponta de cigarro, esperava a
contar-lhe conversas do bar, miúdos acontecimentos, aqueles a afectá-lo mais
particularmente: os dez pares de sapatos de Mundinho Falcão, as partidas de
futebol na praia, um roubo acontecido na loja de fazendas, o anúncio da próxima
chegada do Grande Circo Balcânico com elefante e girafa, leões e tigres.
Gabriela ria, ouvindo, ficou atenta às
notícias do circo:
-
Vem mesmo?
-
Já tem anúncio nos postes.
Uma vez teve um circo por lá. Fui com a
tia para ver. Tinha um homem que comia fogo.
Tuísca fazia projectos: quando o circo
chegasse, ele acompanharia o palhaço em seu percurso pela cidade, montado de
costas num jumento. Assim acontecia sempre, cada vez que um circo armava seu
pavilhão no descampado da banca de peixe. O palhaço a perguntar:
-
Palhaço o que é?
A meninada a responder:
-
É ladrão de mulher…
O palhaço marcava-lhe a testa com cal,
ele entrava de graça no espectáculo à noite. Quando não ajudava os
“mata-cachorros” na arrumação do picadeiro, fazendo-se indispensável e íntimo.
Nessas ocasiões abandonava sua caixa de engraxate.
-
Um circo qui s me levar. O director
me chamou…
-
De mata-cachorros?
Tuísca quase se ofendeu.
-
Não, de artista.
-
O que é que tu ia fazer?
Iluminou-se o rostinho negro:
-
Pra ajudar com os macacos, aparecer com eles. E pra dançar também… Só não fui
por causa de mamãe… – A negra Raimunda estava entrevada de reumatismo,
incapacitada de exercer sua profissão de lavadeira; os filhos sustentavam a
casa: Filó, “chauffer” de marinete e Tuísca, mestre de várias artes.
-
E tu sabe dançar?
- Nunca viu? Quer ver?
Imediatamente pôs-se a dançar, tinha a
dança dentro de si, os pés criando passos, o corpo solto, as mãos batendo o
ritmo. Gabriela olhava, como ela era igual, não se conteve. Abandonou
tabuleiros e panelas, salgados e doces, a mão a suspender a saia. Dançavam
agora os dois, o negrinho e a mulata, sob o sol do qui ntal.
Nada mais existia no mundo.
Em certo momento Tuísca parou, ficou
apenas a bater as mãos sobre um tacho vazio, emborcado. Gabriela volteava, a
saia voando, os braços indo e vindo, o corpo a dividir-se, as ancas a rebolar,
a boca a sorrir.
(Click na imagem de uma pintura da colheita do cacau na Bahía. "As gamas de amarelo na paisagem, um ar doirado..."
À ENTREVISTA Nº 51 SOBRE O
TEMA:
“COMO ERA SER CRIANÇA” (4)
Apesar das Declarações ...
Apesar das
declarações, convenções, princípios, códigos e direitos, a situação das
crianças no planeta que partilhamos ainda é um desafio formidável. Com uma variada informação, recolhida
no mundo inteiro, o jornalista espanhol José Manuel Martin Medem, construiu um
livro chocante: "A guerra contra as crianças" (Editorial El Viejo
Topo, Barcelona 1998).
Este
jornalista comprometido descreve neste livro a extrema violência que
o nosso mundo, acredita-se ser civilizado, exerce sobre as crianças na
indústria do sexo, em guerras tribais, no tráfico de órgãos, abuso sexual na
família, sobre o trabalho escravo nas adopções ilegais em servidão doméstica,
em fábricas… O autor diz na
introdução: “Nesta guerra, as
armas mais letais contra as meninas, as filhas da miséria, os sem-abrigo que sofrem, como todos os marginalizados, da discriminação e da violência como quase todas
as mulheres.
Aparentemente, o
progresso na protecção das crianças está avançando nas declarações antecipadas
e nas promessas, mas a ajuda mais básica para elas continua a ser esta
recomendação: «Não acredites no que
dizem mas sim no que te fazem.»
terça-feira, maio 29, 2012
Uma mãe stressada, pede ao filho para ligar ao
pai, a dizer-lhe que o jantar está pronto.
- Já ligaste?! O que o teu pai disse?! Já vem?!
- Já liguei três vezes, mãe, mas só atende uma mulher...
A mãe, interrompendo-o, bruscamente, grita:
- ... Aaaah..., deixa comigo!... Quando ele vier, vai
ver!!!
Mal o pai chega a casa, ela vira-se a ele e aplica-lhe uma valente tareia, com tudo o que
encontra à disposição: vassoura, frigideira, panela, micro-ondas, enfim....
Os vizinhos correm em socorro, mas para
conseguirem tirar o homem debaixo dela, era complicado: ela estava furiosa...
ralhava, continuava a atirar com as coisas, enquanto esperavam pela
ambulância...
- Ordinário, filho da put*, eu mato-te!!! Filho, anda cá! Diz, aqui, a toda a gente, o que foi que aquela vaca te disse, ao telefone!
- Ela disse: "TMN - o número que marcou não está disponível. Por favor, tente mais tarde. Obrigada.?...
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 110
CANTIGA PARA MALVINA
Dorme, menina dormida
Teu lindo sonho a sonhar.
No teu leito adormecida
Partirás a navegar.
Estou presa em meu jardim
Com flores acorrentada.
Acudam! Vão me afogar
Acudam! Vão me matar
Acudam! Vão me casar
numa casa me enterrar
na cozinha a cozinhar
na arrumação a arrumar
no piano a dedilhar
na missa a me confessar.
Acudam! Vão me casar
Na cama me engravidar.
No teu leito adormecida
Partirás a navegar.
Meu marido, meu senhor
Na minha vida a mandar,
A mandar na minha roupa
No meu perfume a mandar.
A mandar no meu desejo
No meu dormir a mandar.
A mandar nesse meu corpo
Nessa minha alma a mandar
Direito meu a chorar.
Direito dele a matar.
No teu leito adormecida
partirás a navegar.
Acudam! Me levem embora
Quero marido para amar
Não quero para respeitar
Quem seja ele – que importa?
Moço pobre ou moço rico
Bonito, feio, mulato
Me levem embora.
No teu leito adormecida
Partirás a navegar.
A navegar partirei
acompanhada ou sòzinha.
Abençoada ou maldita
a navegar partirei.
Partirei para me casar
a navegar partirei.
Partirei para me entregar
a navegar partirei.
Partirei pra trabalhar
a navegar partirei
Partirei pra me encontrar
para jamais
partirei.
Dorme menina dormida
teu lindo sonho a sonhar.
Gabriela com Flor
As flores desabrochavam nas praças de
Ihéus, canteiros de rosas, crisântemos, dálias, margarinas, malmequeres. As
pétalas «onze horas» abriam-se por entre a relva, pontuais como o relógio da
Intendência, salpicando de vermelho o verde da grama.
Para as bandas do Malhado, em meio ao
mato, nos bosques húmidos do Unhão e da Conqui sta,
explodiam fantásticas orquídeas. Mas o perfume a elevar-se da cidade, a
dominá-la, não vinha dos jardins, dos bosques, das tratadas flores, das
orquídeas silvestres.
Chegava dos armazéns de ensacamento, do
cais e das casas exportadoras, era o perfume das amêndoas de cacau seco, tão
forte que entontecia os forasteiros, tão habitual que ninguém mais o sentia.
Espalhando-se sobre a cidade, o rio e o mar.
(Click na imagem de Malvina - «Presa em seu jardim com flores acorrentada»)