Memórias Futuras
Olhar o futuro pelo espelho retrovisor da história. Qual história? Que futuro?
sábado, fevereiro 04, 2012
DEPENDE...
A professora, na escola, pergunta ao Manuel:
- Manuel, quantos são dois e dois?
- DEPENDE, professora, se os números estão na horizontal são 22 se estão na vertical são 4.
- Muito bem, o menino parece que é esperto!
- Diga lá agora; quem descobriu o Brasil?
- DEPENDE, se refere a 1500 foi Pedro Álvares Cabral, se refere a antes de 1500, foi o Índio que já lá estava.
- Ah!...muito inteligente, não é Manuel? Você se acha um superdotado, certo?
- Então, diga-me, agora, quantos são os Mandamentos da Lei de Deus?
- Bom?... DEPENDE, professora!
- Como é que é DEPENDE?...
- DEPENDE, porque se é para homens são dez, mas se são para mulheres são nove.
- NOVE? Porquê, nove?
- Porque as mulheres não podem desejar a mulher do próximo!
- Depende... sussurra a professora.
GABRIELA
CRAVO
E
CANELA
- Mas vazio. O Doutor, em compensação, tudo o que ele diz tem tutano. O homem é um dicionário!
Só mesmo o Dr. Ezequiel Prado podia lhes fazer concorrência nas raras vezes em que, quase sempre bêbado de cair, subia a outra tribuna fora do júri. Tinha ele também seus incondicionais e, no que se refere aos debates jurídicos, a unanimidade da opinião pública: não havia quem se lhe comparasse.
Pelópidas de Assunção d’Ávila descendia de uns Ávilas, fidalgos portugueses estabelecidos nas bandas de Ilhéus ainda no tempo das capitanias. Pelo menos assim o afirmava o Doutor, dizendo-se baseado em documentos de família. Opinião ponderável, de historiador.
Descendente desses celebrados Ávilas, cujo solar se elevara entre Ilhéus e Olivença, hoje negras ruínas ante o mar, cercadas de coqueiros, mas também de uns Assunções plebeus e comerciantes, diga-se em sua homenagem, ele cultivava a memória de uns e de outros com o mesmo fervor exaltado.
É claro que pouco havia a contar sobre os Assunções, enquanto era rica de feitos a crónica dos Ávilas. Obscuro funcionário federal aposentado, vivia o Doutor, no entanto, em meio a um mundo de fantasias de grandeza: a glória antiga dos Ávilas, seus feitos e sua prosápia, estava ele desde há muitos anos escrevendo um livro volumoso e definitivo. Do progresso de Ilhéus era ardoroso propagandista e voluntário colaborador.
Ávila colateral e arruinado fora o pai de Pelópidas. Da família nobre herdara apenas o nome e o aristocrático hábito de não trabalhar.
Havia sido, porém, o amor, e não o vil interesse, como então se propalara, que o levara a casar-se com uma plebeia Assunção, filha de um próspero bazar de miudezas. Tão próspero durante a vida do velho Assunção que o neto Pelópidas fora mandado estudar na Faculdade de Direito do Rio de Janeiro.
Mas o velho Assunção morrera, sem ter ainda completamente perdoado à filha a burrice daquele casamento nobre, e o fidalgo, tendo adquirido hábitos populares como o jogo do gamão e a briga de galos, comera a pouco e pouco o bazar, a metro e metro de fazenda, a dúzia e dúzia de grampos, a peça e peça de fita colorida.
Assim terminara a abastança dos Assunções após a grandeza dos Ávilas deixando Pelópidas no Rio sem recursos para continuar os estudos, quando andava pelo 3º ano da Faculdade. Já então o chamavam de Doutor, primeiro o avô, as empregadas da casa, os vizinhos, quando vinha a ilhéus pelas férias.
Amigos de seu avô, arranjaram-lhe magro emprego numa repartição pública, deixou os estudos, ficou pelo Rio.
Prosperou na Repartição, miúdo prosperar, no entanto, falho de protecção, dos grandes e da útil sabedoria da adulação. Trinta anos depois aposentou-se e voltou a Ilhéus para sempre, para dedicar-se à “sua obra”, o livro monumental sobre os Ávilas e o passado de Ilhéus.
Livro que já era, ele próprio, quase uma tradição. Pois nele se falava desde os tempos quando, ainda estudante, o Doutor publicara numa revista carioca, de circulação limitada e vida reduzida ao primeiro número, famoso artigo sobre os amores do Imperador Pedro II – por ocasião da sua imperial viagem ao norte do país – e da virginal Ofenísia, Ávila romântica e linfática.
(click 2 vezes na imagem do Calçadão e do actual Centro Histórico de Ilhéus)
INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES
À ENTREVISTA Nº 37 SOBRE O TEMA:
Comer ou Não Comer Carne de Porco
O porco foi domesticado pelo homem há 5000 anos e a proibição de comer carne de porco aparece tanto na Bíblia como no Alcorão. Até hoje, o facto de judeus e muçulmanos não comerem carne de porco, foi entendida como uma regra religiosa. No entanto, o antropólogo Marvin Harris explica os tabus das sociedades humanas como "ajustamentos" ao meio ambiente em que elas se desenvolvem. Sob essa perspectiva, consideramos que, como em Israel a criação de suínos era limitada pelo clima, muito quente e com pouca água, era muito mais rentável criar ovelhas ou cabras e estima que, daqui, tivesse surgido este tabu.
- “Não sabemos. Talvez os proto-israelitas deixassem de comer carne de porco porque os seus inimigos a comiam em profusão e eles quiseram ser diferentes. A proibição bíblica é posterior, aparece 500 anos depois.
Por isso, quando os judeus de hoje observam esta proibição, não fazem mais que perpetuar a cultura mais antiga praticada pelo seu povo e hoje comprovada pela arqueologia.”
sexta-feira, fevereiro 03, 2012
VÍDEO
Humor Samora Machel, a seguir à independência de Moçambique... acções de esclarecimento e politização. O intérprete é convincente e faz-se entender perfeitamente...
O SAMBA
A galeria de artistas que fizeram a história do samba é muito grande e dentre eles destaca-se Ismael Silva responsável pela formação da primeira escola de samba, a Deixa Falar do bairro do Estácio no Rio de Janeiro e um dos personagens que deram o molho e as características essenciais para que o samba se distanciasse de suas influencias vindas do maxixe e ganhasse um andamento próprio fixando um estilo moderno cujas bases permanecem até hoje.
ISMAEL SILVA - QUE SERÁ DE MIM?
Reveja as imagens do Rio e da praia de Copacabana e dos fatos de banho de 1920.
GABRIELA
O Doutor não era doutor, o Capitão não era capitão. Como a maior parte dos Coronéis não eram coronéis. Poucos, na realidade, os fazendeiros que nos começos da República da lavoura do cacau haviam adquirido patente de coronel da Guarda Nacional. Ficara o costume: dono de roças de mais de mil arrobas passava normalmente a usar e a receber o título que ali não implicava um mando militar e, sim, o reconhecimento da riqueza.
João Fulgêncio que amava rir dos costumes locais, dizia serem, a maioria deles “coronéis de jagunços”, pois muitos se haviam envolvido nas lutas pela conquista da terra.
Entre as jovens gerações havia quem não soubesse sequer o sonoro e nobre nome de Pelópidas de Assunção d’Ávila, tanto se haviam acostumado a tratá-lo respeitosamente de Doutor.
Quanto a Miguel Baptista de Oliveira, filho do finado Cazuzinha, que fora Intendente no começo das lutas, que tivera dinheiro e morrera pobre, cuja fama de bondade ainda hoje é comentada por velhas comadres, a Miguel, chamaram-no de Capitão ainda criança, quando, irrequieto e atrevido, comandava os moleques de então.
Eram duas personalidades ilustres da cidade e, se bem velhos amigos, entre eles se dividia a população indecisa em resolver qual dos dois o maior e mais empolgante orador local. Sem desfazer no Dr. Ezequiel Prado, invencível no júri.
Nos feriados nacionais – o 7 de Setembro, o 15 de Novembro, o 13 de Maio – mas festas do fim e do começo do ano com reisado, presépio e bumba-meu-boi, por ocasião da vinda a Ilhéus de literatos da capital do Estado, a população se regalava e mais uma vez se dividia ante a oratória do Doutor e a do Capitão.
Jamais a unanimidade se obtivera nessa disputa prolongada através dos anos. Preferindo uns as altissonantes tiradas do Capitão, onde os adjectivos grandiosos se sucediam em impetuosa cavalgada, uns trémulos na voz rouca a provocarem delirantes aplausos; preferindo outros as longas frases rebuscadas do Doutor, a erudição transparecendo nos nomes citados em abundância, na adjectivação difícil, na qual brilhavam, como jóias raras, palavras tão clássicas que apenas uns pouco conheciam o seu verdadeiro significado.
Até as irmãs Dos Reis, tão unidas em tudo o mais na vida, dividiam, no caso, as suas opiniões.
A franzina e nervosa Florzinha exaltava-se com os rompantes do Capitão, suas “rútilas auroras da liberdade”, deliciava-se com os trémulos de voz nos fins de frase, vibrando no ar.
Quinquina, a gorda e alegre Quinquina, preferia o saber do Doutor, aquelas vetustas palavras, aquela maneira patética como, de dedo em riste, ele chamava: “Povo, meu Povo!”.
Discutiam as duas, de volta das reuniões cívicas na Intendência ou em praça pública, como discutia toda a cidade, incapaz de decidir-se.
- Não entendo nada, mas é tão bonito…- concluía Qinquina pelo Doutor.
- Sinto até um frio na espinha quando ele fala – decidia Florzinha pelo Capitão.
Memoráveis dias aqueles em que, no palanque da Praça da Matriz de São Jorge, ornamentado de flores, o Capitão e o Doutor se sucediam com o verbo, um como orador oficial da Euterpe 13 de Maio, o outro em nome do Grémio Rui Barbosa, organização literocharadística da cidade.
Desapareciam todos os outros oradores (mesmo o professor Josué, cujo palavreado lírico tinha o seu público de mocinhas do Colégio de Freiras), fazia-se o silêncio das grandes ocasiões quando avançava no palanque ou bem a figura morena e insinuante do Capitão, vestido de impecável roupa branca, uma flor na lapela, alfinete de rubi na gravata, ar de ave de rapina devido ao nariz crescido e curvo, ou bem a silhueta magra do Doutor, pequenino e saltitante, como gárrulo pássaro inquieto, trajando sua eterna roupa negra, colarinho alto e peitilho engomado, o “pince-nez” preso ao paletó por uma fita, os cabelos já quase inteiramente brancos.
(click na imagem das belas praias de Ilhéus, na linha da beleza de todas as praias do nordeste brasileiro. Infelizmente, não é possivel registar a temperatura das águas de fazer inveja aos portugueses)
INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES
À ENTREVISTA Nº 37 SOBRE O TEMA:
"A PERSONALIDADE DE JESUS"
O Jejum que Deus Quer
Tal como outras práticas religiosas, o jejum foi duramente criticado pelos profetas de Israel. Ele tinha-se tornado uma espécie de chantagem espiritual dos homens injustos pensado assim ganhar os favores de Deus, esquecendo a essência da religião: a justiça. Os profetas deixaram claro qual o jejum que Deus queria: “libertar os oprimidos, partilhar o pão, abrir as portas das a prisões. (Is 58,1-12).
quinta-feira, fevereiro 02, 2012
GABRIELA
CRAVO
E
CANELA
Em frente à garagem de Moacir Estrela juntavam-se os passageiros da primeira marinete. O sol aparecera, um dia esplêndido.
- Vai ser uma safra de primeira.
- Amanhã tem um jantar, um banquete das marinetes…
- É verdade, o russo Jacob me convidou.
A conversa foi interrompida por apitos repetidos, breves e aflitos do navio. Houve um movimento de expectativa na ponte. Até os carregadores pararam para escutar.
- Encalhou!
- Porcaria de barra!
- Continuando assim, nem navio da Baiana vai poder entrar no porto.
- Quanto mais da costeira e do Lloyd.
A costeira já ameaçou suspender a linha.
Barra difícil e perigosa, aquela de Ilhéus, apertada entre o morro do Unhão, na cidade, e o morro de Pernambuco, numa ilha ao lado do Pontal. Canal estreito e pouco profundo, de areia movendo-se continuamente, a cada maré.
Era frequente o encalhe de navios, por vezes demoravam um dia para libertar-se. Os grandes paquetes não se atreviam a cruzar a barra assustadora, apesar do magnífico ancoradouro de Ilhéus.
Os apitos continuavam angustiosos, pessoas vindas para esperar o navio começavam a tomar o caminho da Rua do Unhão para ver o que se passava na barra.
- Vamos até lá?
- Isso é revoltante – dizia o Doutor, enquanto o grupo caminhava pela rua sem calçamento, contornando o morro.
- Ilhéus produz grande parte do cacau que se consome no mundo, tem um porto de primeira, e, no entanto, a renda da exploração do cacau fica é na cidade da Baía. Tudo por causa dessa maldita barra…
Agora, que as chuvas tinham cessado, nenhum assunto mais empolgante do que aquele para os Ilheenses. Sobre a barra e a necessidade de torná-la praticável para os grandes navios discutia-se todos os dias e em todas as partes. Sugeriam-se medidas, criticava-se o governo, acusava-se a Intendência de pouco caso. Sem que a solução fosse dada, ficando as autoridades em promessas e as docas da Baía recolhendo as taxas de exportação.
Enquanto a discussão mais uma vez fervia, o Capitão atrasou-se, tomou-se do braço de Nhô-Galo, a quem ele deixara, por volta da uma da madrugada, na porta de Maria Machadão.
- E a zinha, que tal?
- Papa fina… - murmurou Nhô-Galo com sua voz fanhosa. E contou: - Você não sabe o que perdeu. Você precisava ter visto o árabe Nacib fazendo declaração de amor àquela zarolha nova que saíu com ele. Era de mijar de rir…
Os apitos do navio cresciam em desespero, eles apressaram o passo, aparecia gente de todos os lados.
INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES
Jesus era um Essênio
No entanto, a disciplina dos essênios, o silêncio, a negação das mulheres na comunidade, o jejum, a abstenção de comer qualquer carne e o ritual contínuo de abluções não têm nada a ver com o que Jesus pregava e praticava.
Os Evangelhos registaram a sua participação em reuniões e festas e de estar sempre entre os da "ralé". Jesus foi acusado por seus inimigos de ser "um comilão e beberrão" (Mateus 11,19, Lucas 7.34).
quarta-feira, fevereiro 01, 2012
No auge da carreira quando se preparava para conquistar definitivamente os Estados Unidos, Sylvia Telles vem a falecer num desastre de automóvel no dia 17 de dezembro de 1966 no kilometro 24 da rodovia Amaral Peixoto no Rio de Janeiro. Deixou órfã a musica popular brasileira privando-a de seu talento, porém, sua obra já há muito deveria ter sido redescoberta pelas novas gerações.
Um índio foi ao bordel e disse:
- Índio qué mulhé. Índio tem dinheiro!
A dona do bordel perguntou:
- Índio tem experiência? Já fez antes?
Índio apressado respondeu:
- Índio primeira vez.
A dona do bordel ponderou:
- Então, índio vai no mato, procura um buraco numa árvore, aprende como se
faz e depois volta aqui.
Uma semana depois, o índio voltou ao bordel:
- Índio qué mulhé. Índio tem dinheiro. Índio já aprendeu.
A dona do bordel, então, mandou o índio subir para um quarto,
no qual, já havia uma moça esperando por ele.
O índio subiu, entrou no tal quarto e mandou a mocinha tirar
A roupa e ficar de quatro.
Depois, pegou um pedaço de pau e começou a espancar as nádegas dela. Aos
gritos, a dita cuja pergunta:
- Índio tá maluco? O que você está fazendo?
Ele responde:
- Índio tá vendo primeiro se tem formiga no buraco!
GABRIELA
CRAVO
E
CANELA
- O quê?
- Que a palmatória é necessária olhem que é…
- Vocês estão atrasados de um século. Nos Estados Unidos…
- As meninas boto no colégio das Freiras, está certo. Mas os meninos é com D. Guilhermina…
- A pedagogia moderna aboliu a palmatória e os castigos físicos – conseguiu explicar João Fulgêncio.
- Não sei de quem você está falando, João Fulgêncio mas lhe garanto que foi muito mal feito. Se eu sei ler e escrever…
Assim discutindo sobre os métodos do Dr. Enoch e da famosa D. Guilhermina, legendária por sua severidade, foram andando para a ponte. Desembocando das ruas, algumas outras pessoas apareciam na mesma direcção, vinham esperar o navio.
Apesar da hora matinal reinava já certo movimento no porto. Carregadores conduziam sacos de cacau dos armazéns para o navio da Baiana. Uma barcaça, as velas despregadas, preparava-se para partir, semelhava enorme pássaro branco. Um toque de búzio elevou-se, vibrou no ar anunciando a partida próxima. O coronel Manuel das Onças insistia:
- O que é que Mindinho Falcão está visando? O homem tem o diabo no corpo. Não se contenta com seus negócios, se mete em tudo.
- Ora, é fácil. Quer ser Intendente na próxima eleição.
- Não creio… É pouco para ele – disse João Fulgêncio.
- É homem de muita ambição.
- Daria um bom Intendente. Empreendedor.
- Um desconhecido, chegou aqui outro dia.
O Doutor, admirador de Mundinho, atalhou:
- De homens como Mundinho Falcão é que estamos precisando. Homens de visão, corajosos, dispostos…
- Ora, Doutor, coragem é o que nunca faltou aos homens desta terra…
- Não falo disso: dar tiro e matar gente. Falo de coisa mais difícil…
- Mais difícil?
- Mundinho Falcão chegou aqui outro dia, como diz Amâncio. E veja quanta coisa já realizou: abriu a avenida na praia, ninguém acreditava, foi um negócio de primeira e, para a cidade, uma beleza. Trouxe os primeiros caminhões, sem ele não saía o Diário de Ilhéus nem o Clube Progresso.
- Dizem que emprestou dinheiro ao russo Jacob e a Moacir para a empresa de marinetes…
- Estou com o doutor, disse o Capitão, até então silencioso – De homens assim é que precisamos… capazes de compreender e ajudar o progresso.
Chegavam à ponte, encontravam Nhô-Galo, funcionário da Mesa de Rendas, boémio inveterado, figura indispensável em todas as rodas, de voz fanhosa e anticlerical irredutível.
INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES
É incrível o quão pouco se importaram os evangelhos a descreverem a personalidade de Jesus. Temos que imaginar como era sociologicamente a partir da informação limitada que nos deixaram e da sua maneira de falar e de actuar. Como profeta que era, Jesus devia possuir uma personalidade apaixonada e sensível ao sofrimento humano e às injustiças que ele via na sua sociedade. Devia ser uma pessoa ansiosa, ardente, com uma grande capacidade para as relações humanas e a força de uma palavra poética e cheia de convicção.
terça-feira, janeiro 31, 2012
SÍlvia Teles -Felicidade (1959) de Carlos Jobin e Viníius de Morais
Mais de cinquenta anos desculpam as imperfeições da gravação. Falamos de Sylvia Telles, uma das maiores intérpretes brasileirase, a responsável pelo lançamento de inúmeros sucessos de Antonio Carlos Jobim na década de cinqüenta quando o então jovem compositor se afirmava como uma das maiores promessas da canção. Em 1959 ela lançou pela Odeon um LP intitulado Amor de Gente Moça, inteiramente dedicado a obra de Tom Jobim. O repertório do disco traz nove musicas inéditas de Tom e registra o lançamento da sua parceria com Aloysio de Oliveira através das canções, Dindi, De você eu Gosto e Demais, três musicas eram apenas de Tom Jobim, "Esquecendo Você", "Só em Teus Braços" e Fotografia, Discussão, com Newton Mendonça e cinco canções com Vinicius de Moraes, Sem você, "Janelas Abertas" e "O que Tinha de Ser", A "Felicidade" e "Canta, Canta Mais". A produção e direção artística foram de Aloysio de Oliveira, os arranjos de Lindolfo Gaya e as regências de Oswaldo Borba.
No comboio Lisboa-Porto viajava uma bela mulher, com um bebé ao colo... e umas mamas do tamanho do Mundo!
No banco da frente vai sentado um sujeito que não tirava os olhos do decote da moça...
O bebé desata a chorar e a espernear, e para acalmá-lo, ela tira o peito para fora para alimentá-lo. Mas o danado do bebé continua na gritaria...
- Vá lá bebé, chupa, senão dou a maminha àquele senhor!
E nada do bebé mamar... E a cena repete-se:
- Vá lá filhotinho, chupa, senão dou a maminha àquele senhor!
E o puto não mamava, e o comboio aproximava-se do Porto, e a cena repetia-se...
Aí o fulano, já farto das cenas, grita-lhe:
- Oh minha senhora, veja lá se o puto se decide, porque eu já devia ter saído em Coimbra!...
GABRIELA
CRAVO
E
CANELA
Além do mais - considerou o Doutor – os homens ricos da região, como você, têm obrigação de concorrerem para o progresso da cidade, construindo boas residências, bengalós, palacetes. Veja o palacete que Mundinho Falcão construiu na praia: e isso que ele chegou aqui a um par de anos, e, ainda por cima, é solteiro.
Afinal de que vale juntar dinheiro para viver na roça, sem conforto?
- Por mim, vou comprar uma casa é na Bahia, levar para lá a família – disse o coronel Amâncio Leal que tinha um olho vazado e um defeito no braço esquerdo, recordações do tempo das lutas.
- Isso é o que eu chamo de falta de civismo – indignou-se o Doutor – Foi na Bahia ou foi aqui que você ganhou o dinheiro? Porque empregar na Bahia o dinheiro que ganhou aqui?
- Calma Doutor, não se afobe. Ilhéus é muito bom, etc. e tal, mas vosmicê compreende, a Bahia é a capital, tem de um tudo, bom colégio para os meninos.
Não se acalmava o doutor.:
- Tem de um tudo porque vocês desembarcam aqui de mãos a abanar, aqui enchem o bandulho, entopem-se de dinheiro e depois vão gastá-lo na Bahia.
- Mas…
- Creio, compadre Amâncio – dirigia-se João Fulgêncio ao fazendeiro – que o nosso doutor tem razão. Se nós não cuidarmos de Ilhéus, quem vai cuidar?
- Não digo que não… - cedeu Amâncio. Era um homem calmo, não gostava de discussões, ninguém que o visse assim cordato imaginaria estar diante do célebre chefe de jagunços, de um dos homens que mais sangue fizera correr em Ilhéus, nas lutas pelas matas de Sequeiro Grande.
- Para mim, pessoalmente, não há terra que valha Ilhéus. Só que na Bahia tem outro conforto, bons colégios. Quem pode negar isso? Estou com os meninos mais moços no Colégio dos Jesuítas, e a patroa não quer ficar longe deles. Já morre de saudades do que está em São Paulo. O que é que posso fazer? Por mim, não saio daqui…
O Capitão interveio:
- Por colégio, não, Amâncio. Com o de Enoch funcionando é até um absurdo dizer isso. Não tem colégio melhor na Bahia… - O próprio Capitão, para ajudar e não porque necessitasse, ensinava História Universal no colégio fundado por um advogado de pequena clientela, Dr. Enoch Lira, introduzindo modernos métodos de ensino e abolindo a palmatória.
- Mas nem está equiparado.
- A estas horas já deve estar. Enoch recebeu um telegrama de Mundinho Falcão dizendo que o Ministro da Educação garantira para dentro de poucos dias…
- E então?
- Esse Mundinho Falcão é um danado…
- Que diabo vocês pensam que ele está querendo? – perguntou o coronel Manuel das Onças, mas a pergunta ficou sem resposta porque uma discussão se iniciara entre Ribeirinho, o Doutor e João Fulgêncio a propósito de métodos de ensino.
- Pode ser tudo o que vocês quiserem. Para mim, para ensinar o b-a-bá, não tem como dona Guilhermina. Mão de ferro. Filho meu é com ela que aprende a ler e a contar. Isso de ensinar sem palmatória…
( Click na imagem que dispensa apresentações. O chocolate obtem-se fermentando e torrando a semente de cacau. Originalmente, era consumida sob a forma de uma bebida quente e amarga de uso exclusivo da nobreza. Foi trazido para a Europa e popularizou-se a partir dos séculos XVII e XVIII)
ENTREVISTA FICCIONADA COM JESUS
RAQUEL – As Emissoras Latinas deslocaram-se agora para o sul para Qumran. Rodeia-nos uma paisagem desolada, com o Mar Morto por trás de nós. Visitamos as ruínas do mosteiro lendário dos essênios, os monges contemporâneos de Jesus de Nazaré. O senhor, Jesus Cristo, não esteve aqui, como nos contou.
JESUS - Não, como eu te disse, para aqui só vieram as crianças de algumas famílias da Judeia. Além disso, confesso-te, eu não teria gostado deste ambiente.
RAQUEL – Por causa da solidão, do silêncio?
JESUS – E por estar isolado das pessoas.
RAQUEL - João Batista, esse, esteve aqui, certo?
JESUS - Sim. Depois se separou dos essênios e foi pregar no deserto. João era um profeta como os de antigamente. Jejuava, usava peles de camelo, comia grilos.
RACHEL – O senhor, não?
JESUS - Não, eu não. E isso chocou muitos. Os meus compatriotas eram como crianças mimadas. Nunca estavam satisfeitos.
RAQUEL - Por que diz isso?
JESUS - Por causa de João, que não comia nem bebia vinho e eles diziam: "Ele tem um demónio". E de mim, que andava misturado com a multidão, diziam: - "É um comilão e um borracho".
RAQUEL – O senhor gostava de comer?
JESUS - Com certeza, quem não gosta?
RAQUEL - Mas tinham alguns alimentos proibidos…
JESUS – Nenhuns. Eu sempre disse que o sujo não é o que entra na boca, mas a palavra que sai da boca. Nenhum alimento é proibido por Deus.
RAQUEL - Nem o porco? E o que pensa sobre a comida kosher? (comida própria dos judeus sujeitas a determinadas leis e exigências. Por ex: comer peixe que não tenha escamas)
JESUS - Não sei o que seja ... Mas eu acho que todos os animais são criaturas de Deus. Todos.
RAQUEL - E o vinho ....? O senhor também gostou do vinho?
JESUS - Nunca acabei como Noé, debaixo da videira, mas ... na Galileia o vinho é muito saboroso. Ainda não o provaste?
RAQUEL - De certeza de que era o vinho que corria em abundância nas bodas de Canâ...
JESUS - Ah, esse foi um casamento maravilhoso. Quando havia festas de casamento duravam sete dias. Lá, bebia-se, cantava-se e dançava-se…
RAQUEL - O senhor dançou?
JESUS - Claro. Todos os meus irmãos eram bons dançarinos e a minha mãe também.
RAQUEL - Se eu perguntasse o que gostava de fazer, o que me diria diria?
JESUS - Conversar. Eu sempre gostei muito de falar. Portanto, essas solidões, estes silêncios… desde a infância eu gostava de contar histórias. Advinhas, então, ainda gostava mais. Em que é que o reino de Deus se parece com um grão de mostarda? E anedotas? Sabes aquela do judeu avarento?
RAQUEL - A da semente de mostarda, sei... mas só... off the record ... E essa do judeu avarento, como é?
JESUS - Era um judeu que estava orando a Deus e dizia-lhe assim: Senhor, o que são para si cem mil anos? Cem mil anos? Responde Deus: - É como um minuto. Senhor, volta o judeu a dizer: - O que são para si cem mil moedas de ouro? Cem mil peças de ouro? Diz Deus: é assim como uma moeda de um centavo. Então, Senhor, diz o judeu, dá-me um centavo. Responde Deus: De acordo, espera um minuto.
RAQUEL – Essa tem muita graça… mas continuemos a nossa entrevista. Falávamos sobre os essénios, que viveram neste mosteiro. Eles moravam sozinhos, jejuavam, procuravam Deus na solidão… e hoje, milhares de seguidores seus, religiosos, monges e monjas, fazem o mesmo. Mas, ao ouvi-lo falar, não sei se o senhor os aconselharia a fugirem do mundo....
JESUS - O meu conselho agora é ir-mos agora tomar uma bebida. Vamos fugir deste calor, está bem? Talvez até mesmo procurar um pouco de vinho nas lojas. Vem, vem, Rachel... eu sei anedotas com muita graça e que te vão fazer rir…
RAQUEL - Amigas e amigos, a pergunta sobre as freiras continua para a próxima entrevista. De Qumran, e com vista sobre a solidão do mar Morto, Raquel Perez, Emissoras Latinas.
segunda-feira, janeiro 30, 2012
Um homem vê uma mulher linda de morrer, com seios espetaculares, a saltar do autocarro.
Corre até ela e pergunta:
- A menina deixaria que eu mordesse os seus seios por 50€ ?
- Você deve estar maluco - diz a rapariga.
- E por 500€ você deixaria ?
- Olhe, não me leve a mal, mas não sou desse tipo de mulher...
De olho no volume daqueles seios, ele insiste:
- Por 5.000€ você deixaria que eu mordesse seus seios maravilhosos ?
A mulher hesita, pensa um pouco e finalmente responde:
- Por 5.000€ tudo bem.
- Então vamos até aquele cantinho...
Ela abre a blusa, deixa os seios à mostra e à disposição do homem.
O sujeito beija, passa as mãos, encosta a cabeça, lambe, chupa e nada de morder...
Até que a mulher perde a paciência:
- Então? Vai morder ou não ?
- Eu não! É muito caro!
GABRIELA
CRAVO
E
CANELA
Episódio nº 9
Apontava o ancoradouro: um cargueiro do Lloyd na ponte da Estrada de Ferro, um navio da Baiana na ponte em frente aos armazéns, uma lancha desatracando da ponte mais próxima, fazendo lugar para o Ita. Barcaças e lanchas, canoas indo e vindo entre Ilhéus e Pontal, chegando das roças pelo rio.
Conversavam junto à banca de peixe construída num descampado em frente à Rua do Unhão onde os circos de passagem armavam seus pavilhões. Negras vendiam mingau e cuscuz, milho cozido e bolos de tapioca. Fazendeiros habituados a madrugar nas suas roças e certas figuras da cidade – o doutor, João Fulgêncio, o Capitão, Nhô-Galo, por vezes o Juiz de Direito e o Dr. Ezequiel, quase sempre vindo directamente da casa da rapariga situada nas imediações – reuniam-se ali diariamente antes da cidade acordar.
A pretexto de comprar o melhor peixe, fresquinho, a debater-se, ainda vivo nas mesas da banca, comentavam os últimos acontecimentos, faziam previsões sobre a chuva e a safra, o preço do cacau. Alguns, como o coronel Manuel das Onças, apareciam tão cedo que assistiam à saída dos últimos retardatários do cabaré Bataclan e à chegada dos pescadores, os centos de peixes retirados dos saveiros, robalos e douradas brilhando, como lâminas de prata, à luz da manhã.
O coronel Ribeirinho, proprietário da fazenda Princesa da Serra, cuja riqueza não afectava sua simplicidade bonachona, quase sempre já ali se encontrava quando, às cinco da manhã, Maria de São Jorge, formosa negra especialista em mingau e cuscuz de puba, descia o morro, tabuleiro sobre a cabeça, vestida com a saia colorida de chitão e a bata engomada e decotada a mostrar-lhe metade dos seios rijos. Quantas vezes não a ajudava o coronel a baixar a lata de mingau, a arrumar o tabuleiro, os olhos no decote da bata.
Alguns vinham mesmo de chinelas, paletó de pijama sobre uma calça velha. Jamais o Doutor, é claro. Esse dava a impressão de não despir a roupa negra, os borzeguins, o colarinho de bunda virada, a gravata austera, sequer para dormir. Repetiam diariamente o mesmo itinerário: primeiro o copo de mingau na banca do peixe, a conversa animada, a troca de novidades, grandes gargalhadas. Iam andando depois até à ponte principal do cais, onde paravam ainda um momento, separavam-se quase sempre em frente da garagem de Moacir Estrela, onde a marinete das sete horas, espectáculo recente, recebia passageiros para Itabuna.
O navio apitava novamente, um apito longo e alegre como se quisesse despertar toda a cidade.
- Recebeu o prático. Vai entrar.
- Sim, Ilhéus é um colosso. Não há terra de mais futuro.
- Se o cacau subir, nem que seja quinhentos réis este ano, com a safra que vamos ter, dinheiro vai ser cama de gato… - sentenciou o coronel Ribeirinho, uma expressão de cobiça nos olhos.
- Até eu vou comprar uma boa casa para minha família. Comprar ou construir… - anunciou o coronel Manuel das Onças.
- Ora, muito que bem! Sim senhor, finalmente! – aprovou o Capitão batendo nas costas do fazendeiro.
- Já era tempo, Manuel… - zombou Ribeirinho.
- Os meninos mais moços estão chegando na idade de colégio e não quero que fiquem ignorantes como os mais velhos e como o pai. Quero que pelo menos um seja doutor de anel e diploma.
(na imagem, uma plantação de cacau. O sul da Bahia produz 95% do cacau brasileiro e é o 5º maior produtor mundial com a Costa do Marfim, Nigéria, Gana e Camarões tendo já permitido receitas de 3,5 mil milhões de dólares de receita para o país)
domingo, janeiro 29, 2012
HOJE É
DOMINGO
De todos os temas abordados nessas entrevistas o mais importante, o que toca o essencial da religião, não só da católica mas de todas as religiões, é exactamente este em que estamos agora, sobre “O Ateísmo”.
Nesta entrevista, Jesus é confrontado com o tema do ateísmo mas ele ignora o que seja:
- “No meu tempo essa palavra era desconhecida” mas depois acrescenta que ateus eram aqueles que adoravam outros deuses que não o de Israel.
Ou seja, há dois mil anos atrás, era inconcebível que alguém não adorasse um deus, pelo menos um, depois de toda aquela profusão de deuses da antiguidade clássica. O homem estava, então, demasiado indefeso no que respeita aos fenómenos da natureza e às doenças do seu próprio corpo para que pudesse dar-se ao luxo de viver sem qualquer amparo divino.
O ateísmo, hoje, não é uma reacção aos malefícios do aparelho de poder da Igreja Católica de Roma e de outras religiões, sejam elas quais forem, e que são uma evidência histórica dos dias de ontem e de hoje ("Corrupção abala Cidade do Vaticano" 27/01/2012) mas, tão somente, um fenómeno de autonomia do homem moderno relativamente a essa herança genética que dá pelo nome de fé ou crença.
Eu não preciso de me socorrer do exercício da fé para pautar a minha vida pelos valores da justiça, especialmente a distributiva da riqueza, amor e solidariedade entre os homens e respeito pela natureza.
A verdadeira modernidade é a interiorização e prática destes princípios como normas fundamentais da vida em sociedade e não por receio, agrado ou recompensas após a morte.
Mas há dois mil anos atrás, um homem, Jesus da Nazaré, por amor ao seu Deus, deu a vida por esses valores. Se assim foi, se tudo se passou como se relata, considero-o uma referência de toda a humanidade e um exemplo a seguir, hoje e sempre, e esta posição não tem a ver com nenhum deus.
O fanatismo religioso continua a campear entre seguidores de Maomé, nos países do norte de África, dos seguidores de Jeová e de Jesus na América actual e por todo o mundo, constituindo o maior factor perturbador da paz e do entendimento entre os homens juntamente com os atentados à natureza.
Prefiro não criticar qualquer religião em si mesma porque, aos olhos de outros, tal poderia parecer um elogio ou simples aprovação implícita de outra religião mas, naturalmente, da prática de cada uma delas, resultam comportamentos perigosos e reprováveis. A pedofilia e os negócios fraudulentos com a banca no seio da Igreja de Roma e a violência selvática entre os próprios seguidores do profeta Maomé quase todos os dias estampados na imprensa, fazem um cidadão normal da nossa sociedade arrepiar-se de espanto e pavor.
A sociedade actual desenvolveu e aprovou já regras de convivência entre os homens e de dever cívico que devem ser, essas sim, os baluartes e faróis que iluminam a humanidade. As religiões apenas contribuem, com os seus extremismos inevitáveis, para precipitar guerras, ódios, sofrimento e apressar o fim…
Thomas Jefferson, um dos mais importantes “Pais fundadores da América” (1776), numa carta ao seu sobrinho Peter Carr aconselhava-o desta maneira:
“Repele todos os receios de preconceitos servis, sob os quais as mentes fracas servilmente se agacham. Amarra firme a razão ao seu assento e submete ao seu tribunal cada facto, cada opinião. Com arrojo, questiona até a existência de um Deus; porque se existir, ele há-de mais depressa aprovar a homenagem da razão do que a do medo vendado”.