Memórias Futuras
Olhar o futuro pelo espelho retrovisor da história. Qual história? Que futuro?
sábado, janeiro 26, 2013
Um Caso de
Divórcio
Naquela noite, enquanto minha esposa servia o jantar, eu segurei sua mão e disse: "Tenho algo importante para te dizer". Ela se sentou e jantou sem dizer uma palavra. Pude ver sofrimento em seus olhos.
De repente, eu também fiquei sem palavras. No entanto, eu tinha que dizer a ela o que estava pensando. Eu queria o divórcio. E abordei o assunto calmamente.
Ela não parecia irritada pelas minhas palavras e simplesmente perguntou em voz baixa: "Por quê?"
Eu evitei responder-lhe, o que a deixou muito brava. Ela jogou os talheres longe e gritou "você não é homem!" Naquela noite, nós não conversamos mais. Pude ouvi-la chorando. Eu sabia que ela queria um motivo para o fim do nosso casamento. Mas eu não tinha uma resposta satisfatória para esta pergunta. O meu coração não pertencia a ela mais e sim a Jane. Eu simplesmente não a amava mais, sentia pena dela.
Me sentindo muito culpado, rascunhei um acordo de divórcio, deixando para ela a casa, nosso carro e 30% das acções da minha empresa.
Ela tomou o papel da minha mão e o rasgou violentamente. A mulher com quem vivi pelos últimos 10 anos se tornou uma estranha para mim. Eu fiquei com dó deste desperdício de tempo e energia, mas eu não voltaria atrás do que disse, pois amava a Jane profundamente. Finalmente ela começou a chorar alto na minha frente, o que já era esperado. Eu me senti libertado enquanto ela chorava. A minha obsessão por divórcio nas últimas semanas finalmente se materializava e o fim estava mais perto agora.
No dia seguinte, eu cheguei em casa tarde e a encontrei sentada na mesa escrevendo. Eu não jantei, fui directo para a cama e dormi imediatamente, pois estava cansado depois de ter passado o dia com a Jane.
Quando acordei no meio da noite, ela ainda estava sentada à mesa, escrevendo. Eu a ignorei e voltei a dormir.
Na manhã seguinte, ela me apresentou suas condições: ela não queria nada meu, mas pedia um mês de prazo para conceder o divórcio. Ela pediu que durante os próximos 30 dias a gente tentasse viver juntos de forma mais natural possível. As suas razões eram simples: o nosso filho faria seus exames no próximo mês e precisava de um ambiente propício para preparar-se bem, sem os problemas de ter que lidar com o rompimento de seus pais.
Isso me pareceu razoável, mas ela acrescentou algo mais. Ela me lembrou do momento em que eu a carreguei para dentro da nossa casa no dia em que nos casamos e me pediu que durante os próximos 30 dias eu a carregasse para fora da casa todas as manhãs. Eu então percebi que ela estava completamente louca mas aceitei sua proposta para não tornar meus próximos dias ainda mais intoleráveis.
Eu contei para a Jane sobre o pedido da minha esposa e ela riu muito e achou a ideia totalmente absurda. "Ela pensa que impondo condições assim vai mudar alguma coisa; melhor ela encarar a situação e aceitar o divórcio" ,disse Jane em tom de gozo.
Minha esposa e eu não tínhamos nenhum contacto físico havia muito tempo, então, quando eu a carreguei para fora da casa no primeiro dia, foi totalmente estranho. Nosso filho nos aplaudiu dizendo "O papai está carregando a mamãe no colo!" Suas palavras me causaram constrangimento. Do quarto para a sala, da sala para a porta de entrada da casa, eu devo ter caminhado uns 10 metros carregando minha esposa no colo. Ela fechou os olhos e disse baixinho "Não conte para o nosso filho sobre o divórcio" Eu balancei a cabeça mesmo discordando e então a coloquei no chão assim que atravessamos a porta de entrada da casa. Ela foi pegar o ónibus para o trabalho e eu dirigi para o escritório.
No segundo dia, foi mais fácil para nós dois. Ela se apoiou no meu peito, eu senti o cheiro do perfume que ela usava. Eu então percebi que há muito tempo não prestava atenção a essa mulher. Ela certamente tinha envelhecido nestes últimos 10 anos, havia rugas no seu rosto, seu cabelo estava ficando fino e grisalho. O nosso casamento teve muito impacto nela. Por uns segundos, cheguei a pensar no que havia feito para ela estar neste estado.
No quarto dia, quando eu a levantei, senti uma certa intimidade maior com o corpo dela. Esta mulher havia dedicado 10 anos da vida dela a mim.
No quinto dia, a mesma coisa. Eu não disse nada a Jane, mas ficava a cada dia mais fácil carregá-la do nosso quarto à porta da casa. Talvez meus músculos estejam mais firmes com o exercício, pensei.
Certa manhã, ela estava tentando escolher um vestido. Ela experimentou uma série deles mas não conseguia achar um que servisse. Com um suspiro, ela disse "Todos os meus vestidos estão grandes para mim". Eu então percebi que ela realmente havia emagrecido bastante, daí a facilidade em carregá-la nos últimos dias.
A realidade caiu sobre mim com uma ponta de remorso... ela carrega tanta dor e tristeza em seu coração..... Instintivamente, eu estiquei o braço e toquei seus cabelos.
Nosso filho entrou no quarto neste momento e disse "Pai, está na hora de você carregar a mamãe". Para ele, ver seu pai carregando sua mão todas as manhãs tornou-se parte da rotina da casa. Minha esposa abraçou nosso filho e o segurou em seus braços por alguns longos segundos. Eu tive que sair de perto, temendo mudar de idéia agora que estava tão perto do meu objetivo. Em seguida, eu a carreguei em meus braços, do quarto para a sala, da sala para a porta de entrada da casa. Sua mão repousava em meu pescoço. Eu a segurei firme contra o meu corpo. Lembrei-me do dia do nosso casamento.
Mas o seu corpo tão magro me deixou triste. No último dia, quando eu a segurei em meus braços, por algum motivo não conseguia mover minhas pernas. Nosso filho já tinha ido para a escola e eu me vi pronunciando estas palavras: "Eu não percebi o quanto perdemos a nossa intimidade com o tempo".
Eu não consegui dirigir para o trabalho.... fui até o meu novo futuro endereço, saí do carro apressadamente, com medo de mudar de idéia...Subi as escadas e bati na porta do quarto. A Jane abriu a porta e eu disse a ela "Desculpe, Jane. Eu não quero mais me divorciar".
Ela olhou para mim sem acreditar e tocou na minha testa "Você está com febre?" Eu tirei sua mão da minha testa e repeti "Desculpe, Jane. Eu não vou me divorciar. Meu casamento ficou chato porque nós não soubemos valorizar os pequenos detalhes da nossa vida e não por falta de amor. Agora eu percebi que desde o dia em que carreguei minha esposa no dia do nosso casamento para nossa casa, eu devo segurá-la até que a morte nos separe.
A Jane então percebeu que era sério. Me deu um tapa no rosto, bateu a porta na minha cara e pude ouvi-la chorando compulsivamente. Eu voltei para o carro e fui trabalhar.
Na loja de flores, no caminho de volta para casa, eu comprei um buquê de rosas para minha esposa. A empregada me perguntou o que eu gostaria de escrever no cartão. Eu sorri e escrevi: "Eu te carregarei em meus braços todas as manhãs até que a morte nos separe".
Naquela noite, quando cheguei em casa, com um buquê de flores na mão e um grande sorriso no rosto, fui directo para o nosso quarto onde encontrei minha esposa deitada na cama, morta.
Os pequenos detalhes de nossa vida são o que realmente contam num relacionamento. Não é a mansão, o carro, as propriedades, o dinheiro no banco. Estes bens criam um ambiente propício a felicidade mas não proporcionam mais do que conforto. Portanto, encontre tempo para ser amigo de sua esposa, faça pequenas coisas um para o outro para mantê-los próximos e íntimos. Tenham um casamento real e feliz!
Se você não dividir isso com alguém, nada vai te acontecer. Mas se escolher enviar para alguém, talvez salve um casamento. Muitos fracassados na vida são pessoas que não perceberam que estavam tão perto do sucesso e preferiram desistir.
De repente, eu também fiquei sem palavras. No entanto, eu tinha que dizer a ela o que estava pensando. Eu queria o divórcio. E abordei o assunto calmamente.
Ela não parecia irritada pelas minhas palavras e simplesmente perguntou em voz baixa: "Por quê?"
Eu evitei responder-lhe, o que a deixou muito brava. Ela jogou os talheres longe e gritou "você não é homem!" Naquela noite, nós não conversamos mais. Pude ouvi-la chorando. Eu sabia que ela queria um motivo para o fim do nosso casamento. Mas eu não tinha uma resposta satisfatória para esta pergunta. O meu coração não pertencia a ela mais e sim a Jane. Eu simplesmente não a amava mais, sentia pena dela.
Me sentindo muito culpado, rascunhei um acordo de divórcio, deixando para ela a casa, nosso carro e 30% das acções da minha empresa.
Ela tomou o papel da minha mão e o rasgou violentamente. A mulher com quem vivi pelos últimos 10 anos se tornou uma estranha para mim. Eu fiquei com dó deste desperdício de tempo e energia, mas eu não voltaria atrás do que disse, pois amava a Jane profundamente. Finalmente ela começou a chorar alto na minha frente, o que já era esperado. Eu me senti libertado enquanto ela chorava. A minha obsessão por divórcio nas últimas semanas finalmente se materializava e o fim estava mais perto agora.
No dia seguinte, eu cheguei em casa tarde e a encontrei sentada na mesa escrevendo. Eu não jantei, fui directo para a cama e dormi imediatamente, pois estava cansado depois de ter passado o dia com a Jane.
Quando acordei no meio da noite, ela ainda estava sentada à mesa, escrevendo. Eu a ignorei e voltei a dormir.
Na manhã seguinte, ela me apresentou suas condições: ela não queria nada meu, mas pedia um mês de prazo para conceder o divórcio. Ela pediu que durante os próximos 30 dias a gente tentasse viver juntos de forma mais natural possível. As suas razões eram simples: o nosso filho faria seus exames no próximo mês e precisava de um ambiente propício para preparar-se bem, sem os problemas de ter que lidar com o rompimento de seus pais.
Isso me pareceu razoável, mas ela acrescentou algo mais. Ela me lembrou do momento em que eu a carreguei para dentro da nossa casa no dia em que nos casamos e me pediu que durante os próximos 30 dias eu a carregasse para fora da casa todas as manhãs. Eu então percebi que ela estava completamente louca mas aceitei sua proposta para não tornar meus próximos dias ainda mais intoleráveis.
Eu contei para a Jane sobre o pedido da minha esposa e ela riu muito e achou a ideia totalmente absurda. "Ela pensa que impondo condições assim vai mudar alguma coisa; melhor ela encarar a situação e aceitar o divórcio" ,disse Jane em tom de gozo.
Minha esposa e eu não tínhamos nenhum contacto físico havia muito tempo, então, quando eu a carreguei para fora da casa no primeiro dia, foi totalmente estranho. Nosso filho nos aplaudiu dizendo "O papai está carregando a mamãe no colo!" Suas palavras me causaram constrangimento. Do quarto para a sala, da sala para a porta de entrada da casa, eu devo ter caminhado uns 10 metros carregando minha esposa no colo. Ela fechou os olhos e disse baixinho "Não conte para o nosso filho sobre o divórcio" Eu balancei a cabeça mesmo discordando e então a coloquei no chão assim que atravessamos a porta de entrada da casa. Ela foi pegar o ónibus para o trabalho e eu dirigi para o escritório.
No segundo dia, foi mais fácil para nós dois. Ela se apoiou no meu peito, eu senti o cheiro do perfume que ela usava. Eu então percebi que há muito tempo não prestava atenção a essa mulher. Ela certamente tinha envelhecido nestes últimos 10 anos, havia rugas no seu rosto, seu cabelo estava ficando fino e grisalho. O nosso casamento teve muito impacto nela. Por uns segundos, cheguei a pensar no que havia feito para ela estar neste estado.
No quarto dia, quando eu a levantei, senti uma certa intimidade maior com o corpo dela. Esta mulher havia dedicado 10 anos da vida dela a mim.
No quinto dia, a mesma coisa. Eu não disse nada a Jane, mas ficava a cada dia mais fácil carregá-la do nosso quarto à porta da casa. Talvez meus músculos estejam mais firmes com o exercício, pensei.
Certa manhã, ela estava tentando escolher um vestido. Ela experimentou uma série deles mas não conseguia achar um que servisse. Com um suspiro, ela disse "Todos os meus vestidos estão grandes para mim". Eu então percebi que ela realmente havia emagrecido bastante, daí a facilidade em carregá-la nos últimos dias.
A realidade caiu sobre mim com uma ponta de remorso... ela carrega tanta dor e tristeza em seu coração..... Instintivamente, eu estiquei o braço e toquei seus cabelos.
Nosso filho entrou no quarto neste momento e disse "Pai, está na hora de você carregar a mamãe". Para ele, ver seu pai carregando sua mão todas as manhãs tornou-se parte da rotina da casa. Minha esposa abraçou nosso filho e o segurou em seus braços por alguns longos segundos. Eu tive que sair de perto, temendo mudar de idéia agora que estava tão perto do meu objetivo. Em seguida, eu a carreguei em meus braços, do quarto para a sala, da sala para a porta de entrada da casa. Sua mão repousava em meu pescoço. Eu a segurei firme contra o meu corpo. Lembrei-me do dia do nosso casamento.
Mas o seu corpo tão magro me deixou triste. No último dia, quando eu a segurei em meus braços, por algum motivo não conseguia mover minhas pernas. Nosso filho já tinha ido para a escola e eu me vi pronunciando estas palavras: "Eu não percebi o quanto perdemos a nossa intimidade com o tempo".
Eu não consegui dirigir para o trabalho.... fui até o meu novo futuro endereço, saí do carro apressadamente, com medo de mudar de idéia...Subi as escadas e bati na porta do quarto. A Jane abriu a porta e eu disse a ela "Desculpe, Jane. Eu não quero mais me divorciar".
Ela olhou para mim sem acreditar e tocou na minha testa "Você está com febre?" Eu tirei sua mão da minha testa e repeti "Desculpe, Jane. Eu não vou me divorciar. Meu casamento ficou chato porque nós não soubemos valorizar os pequenos detalhes da nossa vida e não por falta de amor. Agora eu percebi que desde o dia em que carreguei minha esposa no dia do nosso casamento para nossa casa, eu devo segurá-la até que a morte nos separe.
A Jane então percebeu que era sério. Me deu um tapa no rosto, bateu a porta na minha cara e pude ouvi-la chorando compulsivamente. Eu voltei para o carro e fui trabalhar.
Na loja de flores, no caminho de volta para casa, eu comprei um buquê de rosas para minha esposa. A empregada me perguntou o que eu gostaria de escrever no cartão. Eu sorri e escrevi: "Eu te carregarei em meus braços todas as manhãs até que a morte nos separe".
Naquela noite, quando cheguei em casa, com um buquê de flores na mão e um grande sorriso no rosto, fui directo para o nosso quarto onde encontrei minha esposa deitada na cama, morta.
Minha esposa estava com câncer e vinha se tratando a vários meses, mas eu estava muito ocupado com a Jane para perceber que havia algo errado com ela. Ela sabia que morreria em breve e quis poupar nosso filho dos efeitos de um divórcio - e prolongou a nossa vida juntos proporcionando ao nosso filho a imagem de nós dois juntos toda manhã. Pelo menos aos olhos do meu filho, eu sou um marido carinhoso.
Os pequenos detalhes de nossa vida são o que realmente contam num relacionamento. Não é a mansão, o carro, as propriedades, o dinheiro no banco. Estes bens criam um ambiente propício a felicidade mas não proporcionam mais do que conforto. Portanto, encontre tempo para ser amigo de sua esposa, faça pequenas coisas um para o outro para mantê-los próximos e íntimos. Tenham um casamento real e feliz!
Se você não dividir isso com alguém, nada vai te acontecer. Mas se escolher enviar para alguém, talvez salve um casamento. Muitos fracassados na vida são pessoas que não perceberam que estavam tão perto do sucesso e preferiram desistir.
DO
CARNAVAL
Episódio Nº 6
E ele seguiu. Adiante
encontrou o diplomata.
- Oh, doutor Rigger! Passeando, não é?
- É verdade. Conhecendo o Rio…
- Nunca tinha estado na Metrópole, doutor?
- Não. Quando fui para a Europa embarquei na
Bahia. Agora é que voltei por aqui
de propósito, para conhecer o Rio…
- E tem gostado? Naturalmente que sim. Eu
calculo. A natureza, hei, Dr. A natureza maravilhosa… A coisa mais bela do
mundo.
- Mas eu acho que a natureza faz um enorme mal
ao Brasil. O homem daqui parece
preguiçoso, indolente… Isso deve ser a natureza… Tão majestosa faz mal. Vence,
esmaga.
- É. Pode ser… Mas nós temos tido grandes
homens, doutor. Rui Barbosa…
Paulo Rigger já lera Rui
Barbosa. Não lhe agradara… Horrivelmente retórico… Não compreendia como se
adorava aquele homem… E, demais, não tinha ideias… Era de um patriotismo lorpa…
E estafante. Não, ele não ia com o tal Rui Barbosa.
O diplomata, José Augusto
da Silva Reis, escandalizou-se. Rui era genial… genial… genialíssimo… Em França
mesmo adoravam-no.
- Em França? Pode ser…
E Direito? O Rui sabia
Direito como pouca gente. E a figura que fizera em Haia?
- Não é preciso talento para se saber Direito.
Basta memória…
Encontraram um baiano.
Deputado pelo Sul do Estado. Na cabeça pequena e nas orelhas grandes mostrava
ser um tarado da imbecilidade.
José Augusto fez as
apresentações:
- Dr. António Ramos, deputado pela Bahia. Dr.
Paulo Rigger que acaba de chegar de França. É filho do velho Godofredo…
- Oh, muito prazer em conhecê-lo… Somos patrícios…
- Somos três patrícios – disse José Augusto.
Sentaram-se num bar a
tomar um aperitivo. Em honra da Bahia, brindou o deputado. A conversa girou
sobre a campanha da sucessão presidencial. O deputado era prestista.
- Ah! Os gaúchos querem é o poder… somente o
poder… não têm pátria nem nada.
- Tem razão, Doutor, tem toda a razão… apoiou
José Augusto. Depois perguntou baixo ao deputado: - E os negócios, doutor? Sempre
umas comidinhas, não é?
- Às vezes… Agora a coisa está ruim, nem vale
a pena ser deputado… Mas, no momento, todas as minhas forças estão voltadas
para a Pátria. Irei até fazer um discurso, contra os oposicionistas… Devem
assistir… Será um notável discurso… - E despedindo-se:
- Dr. Rigger, apareça. Quero apresentá-lo à
minha esposa. Ela adora Paris, gostará de conhecê-lo. Uma santa, a minha esposa…
sexta-feira, janeiro 25, 2013
IMAGEM
Esta imagem desperta em mim a minha "costela" de lavrador que nunca fui. Estes terrenos bem tratados à espera das sementes fazem-me sentir a nostalgia de ver uma seara a crescer como se fossem filhos meus, acariciando uma espiga em formação... Tenho a sorte de trazer essas imagens na minha memória de criança quando acompanhava o meu pai de visita a uma propriedade agrícola que ele tinha de renda. Acabou a renda, acabaram as visitas, ficaram as imagens na minha memória.
Quanto Tempo Vai Durar
a Crise?
Esta é uma das perguntas cuja resposta valeria, nos dias de hoje, muito dinheiro.
Pedro Arroja, economista, professor universitário e consultor financeiro, afirma que, perante o caos que se vive, não serão menos de cinco anos: é uma estimativa, provavelmente outras haverá e muitos nem sequer adiantam palpites sobre o assunto com receio de dizerem disparates.
Tratando-se de uma situação completamente nova, não vale a pena procurá-la nos livros e qualquer pessoa está livre de pensar e dar a sua opinião sem correr o risco de ser corrigido.
Ninguém tem a garantia de como é que vai ser, estão todos um bocadinho à descoberta, do tipo: adopta-se a medida que se tem como boa e acende-se a velinha para que resulte rapidamente.
Parece comum a ideia de que esta crise tem uma enorme componente de pessimismo, de desconfiança nas estruturas dos estados, das entidades financeiras, reguladoras, de inspecção, enfim, tudo aquilo que nos deveria deixar dormir descansados e que, afinal, falhou rotundamente.
Outro estado de espírito, também, não era de esperar: gente respeitável e importante que durante uma vida assegurou o funcionamento de Bancos, apresentadas à sociedade como exemplos a seguir são, de um dia para outro, presas, consideradas arguidas, suspeitas de fraudes e manigâncias, desviando milhões e defraudando milhares de pessoas, só poderia conduzir a uma rotunda perda de confiança generalizada.
Os homens das esquerdas, que sempre foram adeptos da intervenção do Estado na sociedade, parecem ser “os que tinham razão” e aproveitam agora para reivindicarem o regresso ao Marxismo esquecidos de outros recentes fracassos, enquanto os defensores do sistema capitalista, de economia de mercado, recusam o regresso ao tempo das “dialéticas” como coisas do antigamente, não acreditando “nas manhãs que cantam”.
Mais regulação, dizem estes e, principalmente, regulação mais eficaz. A bem ou a mal, há que moralizar o capitalismo: à solta, faz disparate, é como o homem, a ocasião faz o ladrão!
Felizmente, todos temos a memória curta, para o bem e para o mal, e alimentar um estado de espírito pessimista durante mais de cinco anos parece-me tempo demasiado para pensamentos negativos.
Uma coisa parece indispensável:
- Impor respeito e seriedade no mundo financeiro. Aqui residirá a chave da crise, a solução para os problemas do futuro.
Mas não se pense que vai ser fácil, essa gente continua lá, agora um pouco despercebidos e não vão responder pela actuação que tiveram em toda esta crise, nem moral nem criminalmente, com excepção de um ou outro.
Em Davos, os banqueiros de investimento, “os maus da fita”, primaram pela ausência, naturalmente estão envergonhados e comprometidos mas, segundo nos disse António Bernardo, Vice – Presidente da Roland Berger, que esteve presente, estavam lá mais políticos e representantes de sectores industriais do que na reunião do ano passado.
E lá foram ditas coisas importantes e que despertam a esperança:
- Os líderes da China e da Índia prometeram passar de um modelo de desenvolvimento baseado nas exportações para outro que tenha mais a ver com o crescimento do investimento e consumo interno;
- O líder chinês afirmou que o seu país iria, em 2009, crescer a uma taxa de 8%;
- Existe uma esperança colectiva no papel que Obama irá desempenhar para ajudar o mundo a sair da crise;
- O processo de globalização é assumido como imparável mas foi reconhecida a falta de mecanismos que o coordenem;
- Foi aplaudido um mundo multipolar com os BRICs a ocuparem um papel mais importante na cena global e definitivamente os G8 a passarem a G20;
- Houve grandes banqueiros que “deram a cara” e assumiram os erros das diferentes instituições, apresentando ideias sobre novos modelos de negócios financeiros coincidindo todos na necessidade de maior transparência e de uma regulação mais eficaz.
Eu acho que se sabe mais sobre as mediadas certas a tomar a nível mundial do que, na generalidade, as pessoas pensam, simplesmente, duvida-se da força e capacidade para, de forma coordenada, implantar essas medidas rapidamente sem se poder garantir o tempo preciso para que elas provoquem os efeitos desejados.
Mas não tenhamos dúvidas, os caminhos que vinham a ser trilhados iriam conduzir fatalmente a este desfecho mas, de acordo com o ditado, “depois da tempestade virá a bonança”, ou “há males que vêm por bem”.
Iremos, com certeza, ter no futuro um mundo melhor, pena que, mais uma vez, seja o justo a pagar pelo pecador. Será?
Pedro Arroja, economista, professor universitário e consultor financeiro, afirma que, perante o caos que se vive, não serão menos de cinco anos: é uma estimativa, provavelmente outras haverá e muitos nem sequer adiantam palpites sobre o assunto com receio de dizerem disparates.
Tratando-se de uma situação completamente nova, não vale a pena procurá-la nos livros e qualquer pessoa está livre de pensar e dar a sua opinião sem correr o risco de ser corrigido.
Ninguém tem a garantia de como é que vai ser, estão todos um bocadinho à descoberta, do tipo: adopta-se a medida que se tem como boa e acende-se a velinha para que resulte rapidamente.
Parece comum a ideia de que esta crise tem uma enorme componente de pessimismo, de desconfiança nas estruturas dos estados, das entidades financeiras, reguladoras, de inspecção, enfim, tudo aquilo que nos deveria deixar dormir descansados e que, afinal, falhou rotundamente.
Outro estado de espírito, também, não era de esperar: gente respeitável e importante que durante uma vida assegurou o funcionamento de Bancos, apresentadas à sociedade como exemplos a seguir são, de um dia para outro, presas, consideradas arguidas, suspeitas de fraudes e manigâncias, desviando milhões e defraudando milhares de pessoas, só poderia conduzir a uma rotunda perda de confiança generalizada.
Os homens das esquerdas, que sempre foram adeptos da intervenção do Estado na sociedade, parecem ser “os que tinham razão” e aproveitam agora para reivindicarem o regresso ao Marxismo esquecidos de outros recentes fracassos, enquanto os defensores do sistema capitalista, de economia de mercado, recusam o regresso ao tempo das “dialéticas” como coisas do antigamente, não acreditando “nas manhãs que cantam”.
Mais regulação, dizem estes e, principalmente, regulação mais eficaz. A bem ou a mal, há que moralizar o capitalismo: à solta, faz disparate, é como o homem, a ocasião faz o ladrão!
Felizmente, todos temos a memória curta, para o bem e para o mal, e alimentar um estado de espírito pessimista durante mais de cinco anos parece-me tempo demasiado para pensamentos negativos.
Uma coisa parece indispensável:
- Impor respeito e seriedade no mundo financeiro. Aqui residirá a chave da crise, a solução para os problemas do futuro.
Mas não se pense que vai ser fácil, essa gente continua lá, agora um pouco despercebidos e não vão responder pela actuação que tiveram em toda esta crise, nem moral nem criminalmente, com excepção de um ou outro.
Em Davos, os banqueiros de investimento, “os maus da fita”, primaram pela ausência, naturalmente estão envergonhados e comprometidos mas, segundo nos disse António Bernardo, Vice – Presidente da Roland Berger, que esteve presente, estavam lá mais políticos e representantes de sectores industriais do que na reunião do ano passado.
E lá foram ditas coisas importantes e que despertam a esperança:
- Os líderes da China e da Índia prometeram passar de um modelo de desenvolvimento baseado nas exportações para outro que tenha mais a ver com o crescimento do investimento e consumo interno;
- O líder chinês afirmou que o seu país iria, em 2009, crescer a uma taxa de 8%;
- Existe uma esperança colectiva no papel que Obama irá desempenhar para ajudar o mundo a sair da crise;
- O processo de globalização é assumido como imparável mas foi reconhecida a falta de mecanismos que o coordenem;
- Foi aplaudido um mundo multipolar com os BRICs a ocuparem um papel mais importante na cena global e definitivamente os G8 a passarem a G20;
- Houve grandes banqueiros que “deram a cara” e assumiram os erros das diferentes instituições, apresentando ideias sobre novos modelos de negócios financeiros coincidindo todos na necessidade de maior transparência e de uma regulação mais eficaz.
Eu acho que se sabe mais sobre as mediadas certas a tomar a nível mundial do que, na generalidade, as pessoas pensam, simplesmente, duvida-se da força e capacidade para, de forma coordenada, implantar essas medidas rapidamente sem se poder garantir o tempo preciso para que elas provoquem os efeitos desejados.
Mas não tenhamos dúvidas, os caminhos que vinham a ser trilhados iriam conduzir fatalmente a este desfecho mas, de acordo com o ditado, “depois da tempestade virá a bonança”, ou “há males que vêm por bem”.
Iremos, com certeza, ter no futuro um mundo melhor, pena que, mais uma vez, seja o justo a pagar pelo pecador. Será?
PS
Este texto foi publicado, aqui, no Memórias Futuras, em Fevereiro de 2009 e, como se vê, estávamos a ser optimistas. Sobreveio uma crise financeira, política, de indecisões da zona euro que ameaçaram a unidade da comunidade europeia e do próprio euro, dívidas soberanas a levantarem dúvidas nos mercados, desiquilíbrios orçamentais, e agora recessão económica com inevitáveis níveis de desemprego como não se conheciam. Três anos depois vamos continuar a dizer que iremos ter, um futuro melhor mas daqui a quanto tempo e à custa de quantos sacrifícios?
CARTA PARA JOSEFA,
MINHA AVÓ
Tens noventa anos. És velha, dolorida. Dizes-me que foste a mais bela rapariga do teu tempo - e eu acredito. Não sabes ler.Tens as mãos grossas e deformadas, os pés encortiçados. Carregaste à cabeça toneladas de restolho e lenha, albufeiras de água.Viste nascer o Sol todos os dias. De todo o pão que amassaste se faria um banquete universal! Criaste pessoas e gado, meteste os bácoros na tua própria cama quando o frio ameaçava gelá-los. Contaste-me histórias de aparições e lobisomens, velhas questões de família, um crime de morte.Trave da tua casa, lume da tua lareira sete vezes engravidaste, sete vezes deste à luz.
Não sabes nada do Mundo. Não entendes de política, nem de economia, nem de literatura, nem de filosofia, nem de religião. Herdaste umas centenas de palavras práticas, um vocabulário elementar. Com isto viveste e vais vivendo. És sensível às catástrofes e também aos casos da rua, aos casamentos de princesas e ao roubo dos coelhos da vizinha.
Tens grandes ódios por motivos de que já perdeste lembrança, grandes dedicações que assentam em coisa nenhuma.Vives. Para ti, a palavra Vietnam é apenas um som bárbaro que não condiz com o teu círculo de légua e meia de raio. Da fome sabes alguma coisa: já viste uma bandeira negra içada na torre da igreja. (Contaste-me tu, ou terei sonhado que o contavas?...) Transportas contigo o teu pequeno casulo de interesses. E, no entanto, tens os olhos claros e és alegre. O teu riso é como um foguete de cores.Como tu, não vi rir ninguém.
Estou diante de ti e não entendo. Sou da tua carne e do teu sangue, mas não entendo. Vieste a este Mundo e não curaste de saber o que é o Mundo. Chegas ao fim da vida, e o Mundo ainda é, para ti, o que era quando nasceste: uma interrogação, um mistério inacessível, uma coisa que não fazia parte da tua herança: quinhentas palavras, um quintal, a que em cinco minutos se dá a volta, uma casa de telha vã e chão de terra batida. Aperto a tua mão calosa, passo a minha mão pela tua face enrugada e pelos teus cabelos brancos, partidos pelo peso dos carregos e continuo a não entender. Foste bela, dizes, e bem vejo que és inteligente. Porque foi então que te roubaram o mundo? Quem to roubou? Mas disto entendo eu, e dir-te-ia o como, o porquê e o quando se soubesses compreender. Já não vale a pena. O mundo continuará sem ti e sem mim.Não teremos dito um ao outro o que mais importava.
Não teremos realmente? Eu não te terei dado, porque as minhas palavras não são as tuas, o mundo que te era devido. Fico com esta culpa de que me não acusas e isso ainda é pior. Mas porquê, avó, porque te sentas tu na soleira da porta, aberta para a noite estrelada e imensa, para o céu de que nada sabes e por onde nunca viajarás, para o silêncio dos campos e das árvores assombradas, e dizes com a tranquila serenidade dos teus noventa anos e o fogo da tua adolescência nunca perdida: "O mundo é tão bonito, e eu tenho tanta pena de morrer!"
É isto que eu não entendo- mas a culpa não é tua.
José Saramago
PS
Eu podia ter escrito uma carta destas à minha avó Helena, não com esta profundidade literária e humana porque, ao pé de José Saramago, eu apenas sei escrever, literalmente falando, mas porque a minha avó Helena era quase igual à avó Josefa e de quase todas as avós velhinhas das aldeias do interior deste Portugal.
Eu tinha pela minha um amor feito de respeito e admiração pelas razões expostas nesta carta.
Estou a vê-la: pequenina, vestida de preto, cabeça coberta por um lenço igual, sempre no seu passo miudinho, recolhida no seu mundo.
Eu tinha pela minha um amor feito de respeito e admiração pelas razões expostas nesta carta.
Estou a vê-la: pequenina, vestida de preto, cabeça coberta por um lenço igual, sempre no seu passo miudinho, recolhida no seu mundo.
Tal como a avó de Saramago era analfabeta, igual a todas as outras naquela época e naquele meio. O saber delas tinha a ver com o seu pequenino mundo aprendido com as suas mães e pessoas mais velhas e aí elas eram totalmente competentes. A minha avó criou quatro filhos da forma como se criavam os filhos naquele tempo. Muitos as doenças os levavam, os outros faziam-se homens e mulheres preparados para a vida.
Esta carta foi publicada no jornal lisboeta "A Capital", em 1968 e é emocionante pensar que 30 anos depois o neto receberia o Prémio Nobel da Literatura, algo de incompreensível para a sua avó,
DO
CARNAVAL
Episódio Nº 5
A bordo, os passageiros saudosos
elogiavam o Brasil. E ele falara mal. Agora queria fazer uma ideia do Brasil. Às
vezes, na Europa, caía a sua máscara de cerebral e pensava em quando voltasse à
Pátria meter-se-ia na política. Fundaria um jornal. Elevaria o nome do Brasil…
Pilheriavam os amigos com ele e com seu
patriotismo de momento. Desculpava-se dizendo que tudo aqui lo
era egoísmo. Queria elevar o nome da Pátria para assim elevar o dele, Paulo
Rigger. Um meio… No fundo, o egoísmo predominava…
Os amigos concordavam. A Pátria era com certeza
o fim…
Os jornais só falavam da campanha política
que agitava o país. De um lado, o então Presidente da República que queria,
apoiado por um certo número de Estados, impor um candidato da sua confiança
para sucedê-lo no Poder. Do outro lado, oposicionistas que queriam eleger um
Presidente seu.
Paulo Rigger leu um jornal: “Ainda há
brasileiros que sabem morrer pela liberdade”. Essas palavras sobressaíam em
grandes caracteres. Era um trecho do discurso de um deputado da oposição.
Rigger riu:
-
Que morte estúpida, a morte em luta pela liberdade da Pátria…
O criado do hotel, que entrara com o
café, murmurou:
-
Esse sujeito é pretista…
E ao servir-lhe (soava-lhe aos ouvidos o
amassar das notas da gorjeta) gabou, para espanto de Rigger, as virtudes do Dr.
Júlio Prestes.
Paulo Rigger andava na rua, ao léu. Sentia-se
um estranho na sua pátria. Achava tudo diferente… Se aqui lo
lhe acontecia no Rio, que seria na Bahia, para onde iria residir na companhia
da sua velha mãe?... Poderia, conseguiria viver? E tinha uma grande nostalgia
de Paris…
Teria que viver burguesmente… Não teria
mais camaradas intelectuais… Ficaria com o espírito obtuso… Talvez se casasse…
Talvez fosse mesmo morar na fazenda… Que fim para ele, degenerado, viciado,
doente da Civilização… Enfim…
Paulo Rigger parou em frente de uma casa
de discos. Uma marcha bem cantada enchia o espaço com uma música estranha, nostálgica,
cheia de um sentimento que Paulo não compreendia.
A marcha rugia:
Essa mulher há muito tempo me provoca…
Dá nela…
Dá nela…
-
Isso deve ser a música brasileira – pensou Rigger – a grande música do Brasil.
E ficou a escutar, enlevado pela barbaria
do ritmo. A alma do povo devia estar ali… E como era diferente da sua… Ele não
bateria nunca numa mulher. A música bradava:
Dá nela…
Dá nela…
quinta-feira, janeiro 24, 2013
Árvore
Genealógica
- Mãe, vou casar!
- Jura, meu filho ?! Estou tão feliz
! Quem é a moça ?
- Não é moça. Vou casar com um moço.
O nome dele é Murilo.
- Você falou Murilo... Ou foi meu
cérebro que sofreu um pequeno surto psicótico?
- Eu falei Murilo. Por que, mãe? Tá
acontecendo alguma coisa?
- Nada, não.. Só minha visão que está
um pouco turva. E meu coração, que talvez dê uma parada. No mais, tá tudo
óptimo.
- Se você tiver algum problema em
relação a isto, melhor falar logo...
- Problema ? Problema nenhum. Só
pensei que algum dia ia ter uma nora... Ou isso.
- Você vai ter uma nora. Só que uma
nora... Meio macho. Ou um genro meio fêmea. Resumindo: uma nora quase macho,
tendendo a um genro quase fêmea...
- E quando eu vou conhecer
o meu. A minha... O Murilo ?
- Pode chamar ele de Biscoito. É o
apelido.
- Tá ! Biscoito... Já gostei dele...
Alguém com esse apelido só pode ser uma pessoa bacana. Quando o Biscoito vem aqui ?
- Por quê ?
- Por nada. Só pra eu poder
desacordar seu pai com antecedência.
- Você acha que o Papai não vai
aceitar ?
- Claro que vai aceitar! Lógico que
vai. Só não sei se ele vai sobreviver... Mas isso também é uma bobagem. Ele
morre sabendo que você achou sua cara-metade... E olha que espectáculo: as duas
metade com bigode.
- Mãe, que besteira ... Hoje em dia
... Praticamente todos os meus amigos são gays.
- Só espero que tenha sobrado algum
que não seja... Pra poder apresentar pra tua irmã.
- A Bel já tá namorando.
- A Bel? Namorando ?! Ela não me falou
nada... Quem é?
- Uma tal de Veruska.
- Como ?
- Veruska...
- Ah !, bom! Que susto! Pensei que
você tivesse falado Veruska.
- Mãe !!!...
- Tá..., tá..., tudo bem... Se vocês
são felizes. Só fico triste porque não vou ter um neto...
- Por que não ? Eu e o Biscoito
queremos dois filhos. Eu vou doar os espermatozóides. E a ex-namorada do
Biscoito vai doar os óvulos.
- Ex-namorada? O Biscoito tem
ex-namorada?
- Quando ele era hétero... A Veruska.
- Que Veruska ?
- Namorada da Bel...
- "Peraí". A ex-namorada do
teu atual namorado... E a atual namorada da tua irmã. Que é minha filha
também... Que se chama Bel. É isso? Porque eu me perdi um pouco...
- É isso. Pois é... A Veruska doou os
óvulos. E nós vamos alugar um útero.
- De quem ?
- Da Bel.
- Mas . Logo da Bel ?! Quer dizer
então... Que a Bel vai gerar um filho teu e do Biscoito. Com o teu
espermatozóide e com o óvulo da namorada dela, que é a Veruska...
- Isso.
- Essa criança, de uma certa forma,
vai ser tua filha, filha do Biscoito, filha da Veruska e filha da Bel.
- Em termos...
- A criança vai ter duas mães : você
e o Biscoito.E dois pais: a Veruska e a Bel.
- Por aí...
- Por outro lado, a Bel...,além de
mãe, é tia... Ou tio.... Porque é tua irmã.
- Exacto. E ano que vem vamos ter um
segundo filho. Aí o Biscoito é que entra com o espermatozóide. Que dessa vez
vai ser gerado no ventre da Veruska... Com o óvulo da Bel. A gente só vai
trocar.
- Só trocar, né ? Agora o óvulo vai
ser da Bel. E o ventre da Veruska.
- Exato!
- Agora eu entendi! Agora eu
realmente entendi...
- Entendeu o quê?
- Entendi que é uma espécie de swing
dos tempos modernos!
- Que swing, mãe?!!....
- É swing, sim! Uma troca de
casais... Com os óvulos e os espermatozóides, uma hora no útero de uma, outra
hora no útero de outra...
- Mas..
- Mas uns tomates! Isso é um bacanal
de última geração! E pior... Com incesto no meio...
- A Bel e a Veruska só vão ajudar na
concepção do nosso filho, só isso...
- Sei!!!... E quando elas qui serem ter filhos...
- Nós ajudamos.
- Quer saber? No final das contas não
entendi mais nada. Não entendi quem vai ser mãe de quem, quem vai ser pai de
quem, de quem vai ser o útero, o espermatozóide... A única coisa que eu entendi
é que...
- Que.. ?
- Fazer árvore genealógica daqui pra frente... vai ser f...
(Luiz Fernando Veríssimo ).
P.S. - Uma delícia...
Maria Rita tinha apenas 4 anos quando a mãe, Elis Regina, faleceu. Além da semelhança da voz, há semelhanças físicas - bem evidentes - e até na maneira como se apresenta em palco. Maria Rita vendeu mais de um milhão de cópias, fez uma digressão mundial e recebeu prémios.
M
Reservara para ele as carícias que nunca vendera a ninguém... Imbecil! |
DO
CARNAVAL
Episódio Nº 4
Ao jantar, a francesinha sorria-lhe. Havia no seu sorriso uma promessa enlouquecedora de volúpias incríveis. E Paulo Rigger ficou a idealizá-la nua. Devia ser linda… Aquela mulher, tão jovem e conhecedora da vida, devia ser uma requi ntada. E jurou conhecê-la.
Paulo Rigger aproximou-se.
- Mademoiselle…
- Mademoiselle, não. Julie, sim.
- Ah Julie, você é adorável!
- Só isso que você me diz? Isso me disseram todos aqueles rapazes que me galanteavam à pouco. Eu pensei que você tivesse qualquer coisa mais nova para me dizer…
- Sim, tenho. Quero dizer-lhe que os seus olhos prometem coisas absurdas, mas eu conheço todas as coisas absurdas e duvido muito que você me dê qualquer coisa nova.
- Hoje há uma hora a porta do meu camarote estará aberta… Esperá-lo-ei.
No seu camarote, Paulo Rigger pensava se devia ir ao encontro de Julie. Uma grande lassidão invadia-lhe os membros. Pensou em Julie. E teve medo dos seus olhos.
Não, não iria. Aquela mulher era capaz de se agarrar a ele como uma sarna, no Brasil. E, de mais, ela não passava de uma rameira conhecida. Uma mulher que amava por dinheiro, sem amor. Que lhe poderia dar de novo?
Prazer, ele conhecia muito. Carne… Mas o amor talvez não fosse somente carne… Talvez fosse alguma coisa mais… Essa coisa, ele não conhecia. Afirmava até que ela não existia. Existisse ou não, a francesinha não lhe poderia dar. Daria somente o sexo… E do mesmo modo de sempre. Bolas! Não iria lá…
E Julie esperou por toda a noite, nua, a sonhar volúpias incríveis. Depois, chorou de raiva, mordendo o travesseiro… Afinal, xingava-o, era um animal. Não sabia que ela reservara para ele as carícias que nunca vendera a ninguém… Imbecil!
E Paulo Rigger sonhava que tinha uma namorada romântica que lia Henri Ardel e tocava piano.
No outro dia, o grito da descoberta:
- Terra! Terra!
Lá longe, o País do Carnaval!
II
Paulo Rigger encostado à janela do Hotel lia os jornais da manhã. Estava no Rio de Janeiro. Sentia, entretanto, que a capital da República não era Brasil. Tinha muito das grandes cidades do universo. E essas cidades não são cidades de países, são cidades do mundo. Paris, Londres, Nova York, Tóqui o e Rio de Janeiro pertencem a todos os países e a todas as raças. E Paulo Rigger tinha desejos de ir bem para o interior, para o Pará e para Mato Grosso, a sentir de perto a alma desse povo que, afinal, era o seu povo. O seu povo… Não, o seu povo era aquele. Toda a sua formação francesa bradava-lhe que o seu povo estava na Europa.
Lembrava-se: em Paris os brasileiros falavam mal da sua terra. Muito mal mesmo. Ele, por contradição, sempre falara bem.