Memórias Futuras
Olhar o futuro pelo espelho retrovisor da história. Qual história? Que futuro?
sábado, julho 07, 2012
IMAGEM
Estamos em África, Angola, povoação do Lumbala, Província do Moxico, Distrito do Cazombo, no Alto-Zambeze. A fronteira com a Zâmbia, então Rodésia do Norte, fica a 50 Km para Leste em Caripande. Esta imagem, a recuperei da Internet mas num destes barracões, o único que havia então, (1963 - 1964) passei com os meus soldados 15 meses: Natal de 1963 e o de 1964. Foram 15 meses de paz e de convívio com o simpático povo Luena, à beira do Rio Zambeze, nas terras "do fim do mundo". Sem dúvida, os 15 meses mais felizes e descontraídos da minha vida.
WILSON SIMONAL
Se Jorge Ben foi o compositor que inovou o samba para uma concepção
afro-moderna, Wilson Simonal foi o intérprete que soube como ninguém captar todo
o balanço da chamada à época, moderna musica popular brasileira, consagrando-se
como um dos seus maiores interpretes e até hoje inigualável em swing e
balanço. "Quem não tem swing morre com a boca cheia de formiga".Escolhi este vídeo para possam recordar as carinhas das jovens do nosso tempo e da "candura" daqueles ambientes. Wilson faleceu em 2000 e a sua vida não foi pacífica.
A filha em conversa
diz ao pai:
- Pai, eu saí com o meu namorado, e ele
disse-me umas coisas que eu não percebi lá muito bem...
Disse que eu tinha um belo
"chassis", dois lindos "airbags" e um
"pára-choques" fenomenal!
Responde-lhe o pai:
-Diz ao teu namorado que se ele te abrir
o "capô" e meter a vareta para medir o óleo , dou-lhe uma
tareia que lhe gripo o motor.!!
"Antigamente
as mulheres cozinhavam igual à mãe...
Hoje, estão bebendo igual ao pai!"
FRASE
DA DÉCADA
(IRRETOCÁVEL)
"Antigamente os cartazes nas ruas, com rostos de criminosos, ofereciam recompensas; hoje em dia, pedem votos". |
GABRIELA
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 143
É a rainha da festa… -
disse-lhe.
Mais se encostou Iracema,
respondendo.
- Pobre de mim… ninguém me olha.
Dª Felícia sorria na
cadeira. Iracema concluiria o curso no Colégio das Freiras no fim do ano, chegava
o tempo de casar.
O coronel Ramiro Bastos
fizera-se representar no acto da tarde por Tonico. O outro filho, Alfredo
estava na Baía, ocupado na Câmara. À noite, no baile, Tonico, acompanhava Dª
Olga, de banhas esmagadas num vestido rosa e juvenil, ridículo!
Com eles viera a sobrinha
mais velha de desmaiados olhos azuis e pele fina de madrepérola. Muito
compenetrado e respeitável, Tonico nem olhava as mulheres, ocupado em fazer
rodopiar aquela montanha de carnes que Deus e o coronel Ramiro lhe haviam dado
por esposa.
Nacib bebia champanhe. Não
para aumentar o consumo da bebida cara e ganhar mais dinheiro como rosnara o
despeitado Plínio Araçá. Para esquecer padecimentos, afugentar o medo que não o
largava mais, temores a persegui-lo dia e noite.
O cerco em derredor de
Gabriela crescia e se apertava. Mandavam-lhe recados, propostas, bilhetinhos de
amor. Ofereciam mirabolantes salários à incomparável cozinheira: casa posta,
luxo nas lojas, à rapariga incomparável.
Ainda há poucos dias, quando
Nacib se sentia menos triste devido àquela eleição de quarto-secretário,
sucedera um caso a lhe mostrar até onde ia a audácia dessa gente.
A esposa de mister Grant,
director da Estrada de Ferro não se pejara de ir a casa de Nacib fazer
propostas a Gabriela. Era esse Grant um inglês idoso, magro e calado, habitando
Ilhéus desde 1910. Conheciam-no e tratavam-no simplesmente por Mister. A
esposa, uma gringa alta e loiríssima de modos livres e um tanto masculinos não
suportava Ilhéus, vivia na Baía há vários anos.
Dos seus tempos na cidade
ficara a lembrança da sua figura então extremamente jovem e uma quadra de ténis
que fizera construir nuns terrenos da Estrada invadida pelo capim após a sua
partida. Na Baía dava grandes jantares na sua casa na Barra Avenida, corria de automóvel,
fumava cigarros, constava que recebia os amantes em plena luz do dia.
O Mister não saía de Ihéus
adorando a boa cachaça ali fabricada, jogando pocker de dados, embriagando-se
indefectivelmente todos os sábados no Pinga de Ouro, indo todos os Domingos
caçar nas redondezas. Vivia numa bela casa cercada de jardins, sozinho com uma
índia que dele tivera um filho.
Quando a esposa aparecia em
Ilhéus, duas, três vezes por ano trazia presentes para a índia grave e
silenciosa como um ídolo. E apenas o menino completara seis anos, a inglesa o
levara consigo para a Baía onde o educava como se fosse seu filho.
(Click na imagem)
INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES
À ENTREVISTA Nº 55 SOBRE O TEMA:
“JESUS FEMINISTA” (4)
O sangue impuro menstrual
Como um eco desta crença religiosa e deste
mandato bíblico, o sangue menstrual foi durante séculos considerados altamente
nocivo. Na mais profunda ignorância científica, mandava-se evitar o contacto do
marido e da mulher menstruada porque acreditavam que os filhos nascidos dessa
relação seriam doente, leproso e até mesmo possuído pelo demónio. Dizia-se também
que o contacto do sangue menstrual secava as flores, enegrecia o bronze e
interrompia o crescimento dos frutos.
No
século XIII os teólogos cristãos advertiam que era pecado mortal ter sexo com
uma mulher menstruada, porque desta relação nasciam crianças doentes ou
possuídas pelo demónio.
Que uma mulher com o seu período, a sua
"poluição regular," pudesse receber a comunhão durante a missa foi
objecto de discussão teológica, durante a Idade Média. Pior ainda, o sangue da
mulher durante o parto era visto como mais prejudicial do que o sangue da
menstruação. E o Sínodo de Treves (ano 1227) estabeleceu que as mulheres após o
parto deviam "reconciliar-se" com a igreja, uma ordem que combinava
as leis judaicas de ritual de purificação (Maria, a mãe de Jesus cumpriu-as,
ver Lucas 2.22 - 23) com a rejeição dos teólogos cristãos ao prazer implícito
em todas as relações sexuais.
Nesta época, e em muitos casos, a hierarqui a religiosa considerava que as mulheres que
morrem durante o parto não tinham sido "reconciliadas" e, por isso,
não podiam ser enterradas em cemitérios cristãos.
sexta-feira, julho 06, 2012
WILSON SIMONAL
Nascido no Rio de Janeiro em 26 de Fevereiro de 1939 Wilson Simonal desde
cedo já apresentava inclinações musicais. Em 1961 foi descoberto por Carlos
Imperial que o levou ao seu programa de televisão Os Brotos Comandam, no antigo
canal 9 no Rio de Janeiro e o estimulou a gravar seu primeiro compacto.
Tornando-se conhecido no meio artístico acabou indo parar no Beco das Garrafas
reduto de boémios, artistas iniciantes e consagrados, realizando alguns shows.
Em 1963 grava seu primeiro LP e faz sucesso com a musica Balanço zona sul, de
Tito Madi. Em 1964 grava seu segundo disco, A nova dimensão do samba, um marco
divisor da musica brasileira pós Bossa Nova.
WILSON SIMONAl - NÃO VEM QUE NÃO TEM
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 142
À noite foi o baile, com o bufete
fornecido por ele (Plínio Araçá andou espalhando ter-se Nacib aproveitado do
cargo para cobrar um dinheirão, mentira injusta) variado e gostoso.
Havia bebidas a escolher, à excepção de
cachaça. Nas cadeiras encostadas às paredes, num reboliço de risos, as moças
esperavam ser tiradas para dançar. Nas salas do segundo andar, abertas e
iluminadas, senhoras e cavalheiros mastigavam os doces e salgados de Gabriela,
conversando, diziam que nem na Baía se via uma festa assim tão distinta.
A orquestra do Bataclan atacava valsas,
tangos, fox-trots, polcas militares. Naquela noite não se dançava no cabaré.
Mas também não estavam na Associação todos os coronéis, comerciantes,
exportadores, rapazes do comércio, médicos e advogados? O cabaré dormitava
deserto, uma ou outra mulher numa espera inútil.
Velhas e jovens cochichavam na sala de
baile, detalhando vestidos, jóias, enfeites, maliciando namoros, prevendo
noivados. No mais belo vestido de noite, mandado vir da Baía, Malvina era o
vivo e comentado escândalo.
Ninguém mais desconhecia na cidade a
condição de homem casado do engenheiro da barra, separado da mulher. Louca
incurável internada no auspício, é bem verdade. Mas isso que importava, era um
homem sem direito a olhar para moça solteira, casadoira.
Que tinha ele para lhe oferecer para
além da desonra, no mínimo deixá-la falada, na boca do mundo, sem nunca mais
conseguir casamento?
No entanto, não se largavam, o par mais
constante do baile, sem perder uma valsa, uma polca, um fox-trot. Rómulo
dançava o tango argentino ainda melhor que o finado Osmundo.
Malvina, as faces rosadas, os olho0s
profundos, parecia envolta num sonho, leve, quase a voar nos braços atléticos
do engenheiro. Um cochicho corria pelas cadeiras encostadas nas paredes, subia
as escadas, espalhava-se nas salas.
Dª Felícia, mãe de Iracema, a fogosa
morena dos namoros do portão, proibia a filha de andar com Malvina. O professor
Josué misturava bebidas, falava alto, representava indiferença e alegria.
Os sons da música iam morrer na praça,
entravam pela janela de Glória deitada com o coronel Coriolano, que viera
assistir ao acto da tarde. Bailes não frequentava, era coisa para moços. Seu
baile era aquele na cama de glória.
Mundinho Falcão descia para a sala de
dança. Dª Felícia beliscava Iracema, segredava:
-
Seu Mundinho está olhando para você. Vem tirar para dançar.
Quase empurrava a filha nos braços do
exportador. Que partido melhor em todo o Ilhéus. Exportador de cacau,
milionário, chefe político e moço solteiro. Sim, solteiro, capaz de casar.
-
Permite-me a honra? – perguntava Mundinho.
-
Com prazer… - soerguia-se Dª Felícia num cumprimento.
Iracema, de pujante carnação, langorosa
e fingida, encostava-se nele. Mundinho sentia os seios da moça, a coxa a
tocá-lo, apertou-a de manso.
À ENTREVISTA
Nº 55 SOBRE O TEMA:
“JESUS FEMINISTA”
(3)
Melania, uma mulher super-marginalizada
Jesus recorda seu encontro com uma
mulher doente, a quem chama de Melania. Os três Evangelhos sinópticos relatam o
caso de uma mulher "hemorroísa" (Mateus 9,18-26), certamente por
estar sofrendo de menorragia: menstruação irregular causando um fluxo contínuo
de sangue. Além do desconforto e debilitação que causaria, que fazia a sua permanente
condição de "impura" já que durante os dias do período todas as mulheres eram consideradas assim.
O livro do Levítico (Lv 15,19-30) está
cheio de proibições em relação às mulheres menstruadas: impura durante sete
dias, tudo o que ela toca fica imundo. Por
isso, Melania foi um caso extremo de marginalização: porque era mulher, doente, imunda, estéril e sozinha.
Interagir com uma mulher menstruada –
por isso impura e, ser impura significava estar cheia de forças negativas que
afastavam de Deus - era muito mais um
tabu na cultura patriarcal e machista do mundo antigo e não só na cultura em que Jesus nasceu. Daqui,
a importância do gesto de Jesus com Melania, deitando assim por terra uma ideia
e uma prática enraizada, apagando as fronteiras entre o puro e o impuro.
quinta-feira, julho 05, 2012
Guerra Colonial
As guerras têm uma componente humana que
não interessa à análise política ou histórica e que na sua quase totalidade se
esquece com o desaparecimento dos seus protagonistas ou descendentes quando,
por vezes, alguns deles, ainda recordam as histórias da guerra que o pai ou avô
contavam.
Esta componente humana determina que
cada guerra se desmultiplique em tantas guerras quantos aqueles que nela
participaram porque ela constitui uma experiência única, diferente em função da
sensibilidade de cada um que a vive ou melhor, lhe sobrevive.
Fonte inspiradora por excelência de
romances, o palco da guerra tem todos os condimentos para seduzir o leitor que
procura num livro, emoção, aventura e sentimentos sejam eles de heroicidade,
covardia ou de simples espírito de sobrevivência.
Na manhã do dia 9 de Novembro de 1962 a marginal de Luanda
regurgitava com as centenas de militares, mais de mil, que tinham desembarcado
naquele dia do Paquete Vera Cruz.
Três Batalhões, para além de Companhias
Independentes, desciam pelo portaló do convés do navio, sendo certo que as
expressões dos soldados demonstravam mais alívio pelo fim da viagem do que medo
daqui lo que os esperava.
Eram poucos aqueles que antes da
mobilização tinham saído da sua aldeia natal num Portugal acentuadamente rural
e em grande parte analfabeto.
Mas a juventude é uma fonte de vida e de
esperança e quem ouvisse o cruzar de tantos gritos e falatório perguntaria,
senão soubesse, se eles iam para a guerra ou para uma festa… ou talvez fosse
apenas uma maneira de se animarem uns aos outros para não pensarem no destino
que os esperava e que eles também não sabiam bem qual era.
Para já, iria ser o Campo do Grafanil,
nos subúrbios de Luanda, imenso quartel ao ar livre onde as camionetas GMC e Berliettes,
estas construídas na Fábrica do Tramagal, ali para os lados de Abrantes,
levariam as Unidades ao seu destino sem que antes, porém, nessa noite,
exércitos de mosqui tos plenos de
energia própria da época das chuvas, não partissem ao assalto dos corpos, ávidos
de sangue fresco acabado de desembarcar, num primeiro teste de adaptação a esse
misterioso e envolvente continente Africano.
Nós, os Alferes, e aqui ficam os seus nomes: Rocha – já falecido – Ataíde,
emigrado para o Canadá de há muitos anos, Frederico Melo , Paula de
Matos e Dória Nóbrega, o médico da Companhia. Nessa primeira noite da chegada a
Luanda, o nosso Capitão Machado Monteiro que nos foi esperar ao barco, convidou
os alferes para jantar no Grande Hotel Universo.
Este Capitão não pertencia ao Quadro
Permanente do Exército. Dada a escassez de oficiais do Quadro ao nível de capitães
eram convidados oficias milicianos a tirarem o curso de Capitães e seguirem
posteriormente a carreira militar.
Deixem-me recordar este senhor que
tivemos a satisfação de o rever, no almoço anual da nossa Companhia, já este ano, nos seus desempenados 81 anos.
Ficou para a história da “nossa guerra”
como o “120” ,
mas eu explico:
-
Na guerra subversiva o inimigo tinha as suas preferências e alvejava,
naturalmente, os militares mais graduados. Por isso, os camuflados eram iguais
para todos sem nada que os distinguisse e aqueles militares que usavam óculos
tiravam-nos durante as operações para não serem confundidos com oficiais que
terão gasto a vista a estudar...
Por tudo isto, o nosso capitão impunha
aos soldados que, no mato, em operações, ele não era capitão, era o …120!
Apresentou-se ao jantar, no Hotel, numa
figura que antecipava aquela que viria a ser a do Rambo – admito que ele se
tenha inspirado nele - com a faca de
mato e granadas penduradas à cintura e um desembaraço que nos impressionou.
Durante a viagem para o Úcua, onde iríamos
ficar nove ou dez meses, dormitava, ou fingia, ao lado do condutor do jeep numa
atitude misto de confiança e displicência própria dos heróis do Western, tipo
John Wayne.
Quando chegámos decidiu “brindar-nos”
com uma volta de reconhecimento à povoação mas fê-lo de forma tão desastrada
que senão o tivéssemos agarrado por um braço teria caído do jeep.
Era um homem muito medroso e só saía para
o mato na companhia do Ataíde, de todos, aquele que a ele lhe oferecia mais “garantias”
de protecção. Pretendendo alardear uma coragem e valentia que não possuía caia
facilmente no ridículo porque os soldados podiam ser analfabetos mas não eram
parvos.
Tivemos sorte, apesar de tudo, porque
dos três Batalhões que viajaram connosco o nosso terá ficado no local menos
perigoso pois em quase um ano que ali estivemos não se registou a explosão de
uma única mina nas estradas da nossa área de intervenção e as minas, para além
das emboscadas, eram a grande causa de mortes e principalmente de estropiados.
“Fugimos” das minas mas não evitámos uma
emboscada minuciosamente preparada pelo inimigo a uma coluna de uma outra
Companhia do nosso batalhão que nos era vizinha.
O
meu amigo “Setúbal” – grande número dos soldados eram conhecidos pelo nome da
terra de onde eram naturais – pagou o preço supremo quando, sentado atrás da
sua metralhadora Breda, no Unimog, caiu na zona de morte da emboscada que lhes
foi montada e foi atingido por um tiro na cabeça.
Foi o melhor soldado da recruta que dei
em Évora, no Regimento de Infantaria 16, ainda em 1961.
Era casado, tinha a 4ª Classe - era quase licenciatura nessa época - uma filha e trabalhava como empregado de mesa.
Eu só lhe dava autorização para responder às perguntas quando nenhum dos seus camaradas
sabia a resposta.
Era um primor de simpatia, educação e
inteligência mas, infelizmente, quando foram divididos pelas três Companhias do
Batalhão, ficou na 389 quando a mim me calhou a 388.
Por esta razão fiquei no Úcua e ele foi
parar ao Pango, cerca de 50 a
60 km
para leste.
Creio que foi em Março, eu seguia de
jeep do Úcua para o Pango e já relativamente próximo do destino apercebi-me que
na estrada, mais à frente, algo se estava a passar.
Um Unimog, com uma metralhadora Breda para
dar protecção a um grupo de trabalhadores que reparavam a estrada, tinha caído
numa emboscada montada numa curva e o inimigo, julgando que o meu jeep que se
aproximava em sentido contrário, fazia parte de um reforço de tropas chamado
pela rádio para ajudar os camaradas em apuros, fugiram em debandada deixando
para trás um cadáver e uma pistola metralhadora.
O meu amigo “Setúbal” e mais três
colegas estavam mortos e mais dois desapareceram para sempre. Uma bala
disparada a curta distância acertou-lhe a meio da testa…felizmente não sofreu.
Os restantes foram igualmente mortos à
queima-roupa com excepção de um que sobreviveu apenas porque se atirou da
viatura e fingiu estar morto, deitado de barriga para baixo, no meio do capim.
Essa simulação valeu-lhe a vida e um
louvor.
Nem sempre os heróis se fazem de coragem
e valentia. Neste caso, a astúcia e o sangue frio… e o meu jeep que apareceu
providencialmente foram decisivos para a sua sobrevivência.
Com uma perna partida em consequência da
queda do Unimog conseguiu manter-se imóvel não obstante as dores que sentia que
não eram, no entanto, tão fortes como a vontade de se manter vivo.
A chegada inesperada do meu jeep como
factor surpresa pôs termo à situação em que para ele cada segundo parecia uma
eternidade.
A bala que atingiu o “Setúbal” em cheio,
na cabeça, perfurou-me a mim a alma. A minha tensão arterial baixou para 4/8 e
as noites seguintes passei-as junto dos sentinelas, em silêncio, como se cada
um deles fosse o meu amigo de quem não me queria separar.
Na verdade, não conseguia dormir, todos
nós tínhamos morrido um pouco com os nossos camaradas falecidos.
Este texto é dedicado ao “Setúbal”, um
jovem cheio de qualidades, decerto um cidadão exemplar, mais um que aquela
guerra privou da vida a que tinha direito subtraindo-o ao seu país, à sua família
e a todos nós.
Não vale a pena perder tempo a odiar os
culpados tantos são e continuarão a ser os “senhores das guerras” em todo o
mundo. O nosso, caiu de uma cadeira e morreu uns tempos depois…
Prefiro recordar com saudade e amizade o
meu amigo “Setúbal” de quem nunca me esqueci ao longo de cinquenta anos!
VÍDEO
Trata-se de uma jovem fêmea no início da sua vida independente. Os instintos maternais e de sobrevivência parece que não estão ainda bem definidos... o filme, aos nossos olhos de humanos, é uma ternura. A mãe da Legadema, a jovem fêmea de leopardo desta aventura ternurenta, é que não teria gostado muito...
GABRIELA
CRAVO
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 141
Não estou me queixando. Sou
homem de luta, não tenho medo. Esse senhor Mundinho pensa que Ilhéus começou
quando ele desembarcou aqui . Quer
tapar o dia de ontem, isso ninguém pode fazer. Vai amargar uma derrota, vai me
pagar caro essa patifaria… Venço ele nas eleições, depois boto para fora de
Ilhéus. E ninguém vai me impedir.
- Nisso, coronel, não me meto. Tudo o que
desejo é resolver o caso da Associação. Porque envolvê-la nessas disputas?
Afinal a Associação é coisa à toa, só cuida de negócios, dos interesses do
comércio. Se passar a servir causa política, vai por água abaixo. Porque gastar
forças agora com essa besteira?
- Qual é a sua proposta?
Explicou, o coronel Ramiro
Bastos ouvia, o queixo apoiado na bengala, o fino rosto rugoso bem barbeado, um
resto de cólera a cintilar nos olhos.
- Pois bem, não quero que digam que arruinei a
Associação. E o senhor me merece muito. Vá descansado, eu mesmo explico ao
compadre Maluf. Ficam os dois
iguaizinhos, não tem negócio de primeiro e segundo vice-presidente?
- Iguaizinhos. Obrigado, coronel.
- Já conversou com esse Sr. Mundinho?
- Ainda não. Primeiro qui s
ouvir o senhor, agora vou falar com ele.
- É capaz de não aceitar.
- O senhor, que é o senhor, aceitou, porque
ele vai recusar?
O coronel Ramiro Bastos
sorriu, era ele o primeiro. Assim viu-se eleito Nacib quarto secretário da
Associação Comercial de Ilhéus, companheiro de Ataulfo, Mundinho, Maluf, do
joalheiro Pimenta, de outros tipos importantes, inclusive do Doutor Maurício e
do Capitão.
Quase dera mais trabalho a
Ataulfo Passos resolver o problema do orador oficial que todo o resto. Muito
custou a convencer o Capitão a conformar-se com o cargo de bibliotecário, o
último da lista. Mas já não era ele o orador oficial da Euterpe 13 de Maio? Dr.
Maurício não era orador de nenhuma sociedade. Além disso, com a substanciosa
verba votada para biblioteca, quem senão o Capitão com suficiente competência
para escolher e adqui rir os livros?
Aquela seria, na realidade,
a biblioteca pública de Ilhéus onde moços e velhos viriam ler e instruir-se,
aberta a toda a população.
- Bondade sua. Tem João Fulgêncio, tem o
Doutor. Elementos óptimos…
Mas não são candidatos. O
Doutor nem é sócio da Associação, o nosso caro João não aceita cargos… Só mesmo
você, senão quem iríamos botar? Orador, o maior da cidade, você é de qualquer
maneira.
A festa da instalação da sede e de posse da
nova direcção foi digna de ver-se e comentar-se. À tarde, com champanhe e
discursos na grande sala, ocupando todo o andar térreo, onde deveria funcionar
a biblioteca, realizarem-se reuniões e conferências (no segundo andar ficavam
os diversos serviços e a secretaria), empossaram-se os novos directores.
Nacib mandara fazer roupa
nova, especialmente para o acto. Flamante gravata, sapatos lustrosos, um
solitário no dedo, até parecia coronel dono de fazendas.
(Click na imagem)
À ENTREVISTA
Nº 55 SOBRE O TEMA :
“JESUS FEMINISTA” (2)
Não há testemunhas, só testemunhos
São muitos os exemplos de tradições
machistas e patriarcais que aparecem nos livros da Bíblia, tanto na língua e
nos costumes, como nas leis e no conteúdo da teologia. Um exemplo curioso é o que
lemos no livro do Génesis (24,1-4), quando Abraão diz a um dos seus servos: "Põe a
tua mão debaixo da minha coxa e jura por Yahvéh, o Deus do Céu e da Terra…" assim fazia Abraão os juramentos e todos os patriarcas da Bíblia. Mas o
"coxa" é um eufemismo: onde os homens que eram empossados punham a
mão era nos testículos. Agarrando os testículos de outro o compromisso ficava
selado.
Também durante o império romano os
homens estavam acostumados a levar a mão direita aos seus órgãos genitais,
símbolo de masculinidade, virilidade e coragem, quando faziam uma promessa ou
estabeleciam um contrato. Os orgãos produtores de sémen davam credibilidade à
palavra empenhada.
Esta prática, entre muitas outras, reflecte
a discriminação contra as mulheres: como elas não têm testículos, não podiam
testemunhar, não podiam dar testemunho nem herdar em testamento.
Na terra de Jesus, a mulher não contava para
nada nos tribunais. Da cultura judaica à língua portuguesa, todas estas
palavras - "testemunho", "testemunha”, testamento" - têm a
mesma raiz (testículos) e provêm da mesma cultura patriarcal. Ainda hoje, nos
melhores dicionários, não existe a palavra "testemunha" como que insinuando
que uma mulher não o pode ser, que a sua palavra não vale nada, que seus
juramentos são sempre questionáveis.
Durante séculos e em todos os países, as
mulheres não tiveram direito à propriedade ou herança, não assinavam, não
decidiam, não elegiam, não votavam. Tudo isto mudou, mas não sem grande
esforço, luta, sofrimento e sangue.
terça-feira, julho 03, 2012
IMAGENS
Por baixo desta fotografia temos a do Arco da Rua Augusta. Entrando nele por uma porta pequenina, na sua base e subindo por umas escadinhas interiores, chegamos ao cimo onde está o relógio. Daqui se desfruta esta linda vista do Largo do Terreiro do Paço ou Praça do Comércio, sala de entrada pelo estuário do Tejo da cidade de Lisboa. Uma das maiores praças da Europa com 36.000 metros quadrados. Nela, esteve instalado o palácio dos Reis de Portugal durante cerca de dois séculos.
ELIZETE CARDOSO - CHEGA DE SAUDADE
Parabéns Tom, Vinícius e Elizete. E vivas ao violão de João Gilberto pela primeira vez ouvido com as bençãos da batida da Bossa-Nova. Esta música está no disco Canção Do Amor Demais, obra que ficou para sempre na história, fonte de pesquisa para todos os músicos de todas as gerações.
Um ladrão entra com uma arma dentro de um banco e
exige o dinheiro ao caixa.
Uma vez com o dinheiro na mão, volta-se para um cliente e pergunta:
-Você viu-me a assaltar este banco?
-Vi sim senhor.
O ladrão dá-lhe um tiro, matando-o instantaneamente.
Depois volta-se para um casal parado a seu lado e pergunta ao homem:
-Você viu-me a assaltar este banco?
-Não, eu estava distraído, mas a minha mulher viu e ouviu tudo...
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 140
Previa-se uma disputa acirrada, as
forças se equi libravam. Mas Ataulfo,
homem hábil e bem visto declarou que só aceitaria sua candidatura se os
adversários se entendessem, entrassem em acordo para a composição de uma chapa
única reunindo figuras dos dois grupos. Não foi fácil convencê-los.
Ataulfo, porém, era maneiroso, visitou
Mundinho, louvou-lhe o civismo, o constante interesse pela terra e pela
Associação, disse-lhe de como se sentia honrado de tê-lo como Vice-Presidente.
Mas não acreditava o exportador ser uma obrigação manter a Associação Comercial
equi distante das lutas políticas,
exactamente como um terreno neutro onde as forças opostas pudessem colaborar
para o bem de Ilhéus e da pátria?
O que ele propunha era fundir as duas
chapas, criando duas vice-presidências, dividindo as secretarias e os dois
lugares de tesoureiro, os de orador e bibliotecário. A Associação, factor de
progresso, com um grande programa a cumprir para fazer de Ilhéus uma verdadeira
cidade devia pairar sobre as lamentáveis divisões políticas.
Mundinho concordou, mesmo a abrir mão da
sua candidatura a vice-presidente, proposta à sua revelia. No entanto, devia
consultar os amigos; ao contrário do coronel Ramiro, ele não ditava ordens, nada
decidia sem ouvir seus correligionários.
Creio que ficarão de acordo. Já falou
com o coronel?
-
Quis ouvir primeiro o senhor. Vou visitá-lo à tarde.
Com o coronel Ramiro foi mais difícil. O
velho mostrou-se a princípio insensível a qualquer argumentação, encolerizado.:
-
Forasteiro sem raízes na terra. Não tem nem pé de cacau…
-
Eu também não tenho coronel.
-
Com o senhor é outra coisa. Já está aqui
há mais de qui nze anos. É homem de
bem, pai de família, não veio para aqui
virar a cabeça de ninguém, não trouxe homem casado para namorar as filhas da
gente, não quer mandar tudo como se nada prestasse.
-
Coronel, o senhor sabe que não sou político. Não sou nem eleitor. Quero viver
bem com todos. Trato com uns e com outros. Mas é certo que muitas coisas devem
mudar em Ilhéus, já não vivemos naqueles tempos do passado. E quem tem mudado
mais coisas em Ilhéus que o senhor?
O velho, cuja cólera ia em aumento,
pronta para explodir, abandonou-se com as últimas palavras do negociante em
grosso:
-
Sim, quem mudou mais coisas em Ilhéus?... – repetiu. – Isso aqui era um fim do mundo, uma tapera, o senhor deve
se lembrar. Hoje não tem cidade no Estado igual a Ihéus. Porque não esperam ao
menos eu morrer? Estou a um passo da cova. Porquê essa ingratidão no fim da
minha vida? Que mal eu fiz, em que ofendi esse senhor Mundinho, que quase nem
conheço?
Ataulfo Passos não sabia como responder.
Agora a voz do coronel era trémula, voz de homem velho, terminado.
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À ENTREVISTA Nº 55 SOBRE O TEMA:
“JESUS
FEMINISTA” (1)
Era uma Sociedade Machista
Jesus era o filho de uma cultura muito
machista, nascido de uma religião, o judaísmo, totalmente marcada por tradições
patriarcais. E, embora Jesus tivesse rompido com palavras e atitudes machistas
da sua religião no seu ambiente, a tradição cristã não foi fiel a Jesus e,
desde o início e cada vez mais desde o terceiro século, estabeleceram-se em
pleno os moldes da cultura patriarcal, onde a hierarqui a
masculina estabelece e impõe normas, leis morais e formas de se relacionar com
Deus.
Mulheres: sempre discriminadas
Nas leis civis e religiosas e nos
costumes de Israel, as mulheres eram consideradas inferiores aos homens. As
leis civis assimilavam-nas aos escravos e aos filhos menores e, como eles,
deviam ter um homem como o proprietário. Seu testemunho não estava disponível
no julgamento, era considerada mentirosa. No plano religioso também foi posta
de lado. Ela não podia ler as Escrituras na sinagoga, nem rezar à mesa. A
exclusão das mulheres da vida social era muito maior entre as classes
superiores e nas grandes cidades do que nas aldeias rurais. A pouca importância
dada às mulheres era-lhes concedida apenas pela sua habilidade no trabalho
doméstico. Ela era apreciada principalmente pela sua fertilidade. Uma mulher
incapaz de ter filhos era considerada inútil.
segunda-feira, julho 02, 2012
TOM JOBIM E ELIS REGINA - ÁGUAS DE MARÇO
Esta canção na voz de Tom Jobim e de Elis Regina bem merecia que lhe dedicassem um monumento!
ELIZETH CARDOSO - A FLOR E O ESPINHO
Foi então que nos dias 31 de maio, 7, 14 e 15 de Junho daquele ano de 1965 uma
das maiores cantoras brasileiras, Elizete Cardoso entrou nos estúdios da
Copacabana Discos no Rio de Janeiro e gravou um LP em que sintetizava o
tradicional modernizando-o com categoria e demonstrando que se podia manter uma
raiz cultural numa época de grandes transformações na estética musical . Ela não
se intimidou e fez como ninguém havia feito ainda dando um novo rumo ao samba
realizando um trabalho atemporal e eterno.
OFERTA DE EMPREGO
Procura-se
- Um electricista
para restabelecer a corrente entre as pessoas que já não dialogam.
- Um técnico de
óptica
para
mudar o olhar das pessoas.
- Um artista para
desenhar um sorriso em todos os rostos.
- Um pedreiro para
construir a paz.
- Um jardineiro para fazer florir
a capacidade de pensar ...
- E um professor de matemática
para nos ensinar a contar...... uns com os outros !!!!
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 139
A cor de canela? O perfume
de cravo? O modo de rir? Como ia saber? Um calor possuía, queimando na pele,
por dentro, um fogaréu.
- Foi um fogaréu de papel, queimou num
instante. Eu tava querendo ir ver Gabriela, dar uma prosa com ela. Nem deu
jeito, tanto eu queria.
- Tu num viu mais?
A luz do fifó lambia a
sombra, a noite aumentava sem Gabriela. Uivos de cães, piar de corujas, silvos
de cobras. No silêncio a cismar a saudade dos dois. Negro Fagundes pegou o fifó,
foi embora dormir. Na sombra da noite, imensa e sozinha, o mulato Clemente
recolheu Gabriela. Seu rosto sorrindo, seus pés andarilhos, suas coxas morenas,
os seios erguidos, o ventre nocturno, seu perfume de cravo, sua cor de canela.
Tomou-a nos braços, levou-a prà cama feita com varas. Deitou-se com ela,
reclinada em seu peito.
Do Baile Com História
Inglesa
Um dos mais importantes
sucessos daquele ano em Ilhéus foi a inauguração da nova sede da Associação
Comercial. Nova sede que era na realidade a primeira, pois a Associação,
fundada há uns quantos anos, funcionara até então no escritório de Ataulfo
Passos, seu Presidente e representante de firmas do Sul do país.
Nos últimos tempos vinha-se
tornando a Associação poderoso instrumento da vida da cidade, factor de
progresso, promovendo iniciativas, exercendo influência. A nova sede, sobrado
de dois andares, ficava nas vizinhanças do bar Vesúvio, na rua que ligava a
Praça São Sebastião ao porto.
A Nacib foram encomendadas
as bebidas, os doces e salgados para a festa da inauguração. Dessa vez não teve
jeito senão contratar duas cabrochas para ajudar Gabriela, a encomenda era
grande.
As eleições para a
directoria precederam a festa da mudança. Antes era preciso adular comerciantes,
importadores e exportadores, para que consentissem figurar seus nomes na mesa
directora. Agora, disputavam os cargos, dava prestígio, crédito nos bancos,
direito a opinar sobre a administração da cidade.
Duas chapas foram
apresentadas, uma pela gente dos Bastos, outra pelos amigos de Mundinho Falcão.
Actualmente era assim a propósito de cada coisa: de um lado, os Bastos, do
outro Mundinho. Manifesto assinado por exportadores, vários comerciantes, donos
de escritórios de importação, apareceu no Diário de Ilhéus apresentando uma
chapa, encabeçada por Ataulfo Passos, candidato à reeleição, com Mundinho para
Vice-Presidente e o Capitão para orador oficial. Nomes conhecidos a completavam.
Manifesto semelhante
publicou o Jornal do Sul, assinado igualmente por diversos sócios importantes
da Associação patrocinando outra chapa. Para Presidente Ataulfo Passos, em
torno de seu nome não havia dúvidas. Não era político, a ele se devia o
progresso da Associação. Para
Vice-Presidente o sírio Maluf, dono da maior loja de Ilhéus, íntimo de Ramiro
Bastos, em cujas terras, muitos anos antes, começara com uma tenda de
mantimentos. Para orador oficial, o Dr. Maurício Caíres.
Além do nome de Ataulfo
Passos, um outro se repetia nas duas chapas, indicado para o mesmo modesto
cargo de quarto-secretário: o do árabe Nacib A. Nacib.
CRISTO Nº 55 SOBRE O TEMA:
“JESUS FEMINISTA”
RAQUEL – Emissoras Latinas continuam com seus os microfones na Nazaré, entrevistando Jesus Cristo, que
retornou à Terra para ver, como ele diz, o que temos feito em seu nome e na sua
ausência. Bom dia, Jesus Cristo.
JESUS – Bom dia, Raquel. Shalom!
RAQUEL - Suas mensagens em programas anteriores, tão favoráveis aos direitos das mulheres, têm sido muito
controversas. Na verdade, um grupo de mulheres querem falar com o senhor
e fazer-lhe algumas perguntas.
Jesus - Se eles não estão aqui ... como posso eu ouvir suas perguntas?
RAQUEL - Espere para eu lhe colocar
esses fones no ouvido... Vamos ver... Adiante com a chamada do estúdio.
FEMINISTA - O nosso Colectivo cumprimenta o homem que moldou a história e
queremos fazer uma primeira pergunta decisiva para nós: o senhor, Jesus Cristo,
considera-se um feminista?
JESUS - Bem, Raquel, explica-me tu o que me
perguntando…
RAQUEL - Ela quer saber se ...
FEMINISTA - Melhor ... Diga-me o senhor
qual acha que foi o seu gesto mais ousado, que representou maior novidade para
mulheres, no seu tempo?
JESUS – O meu gesto... não sei... Deixe-me pensar... Talvez quando a mulher
que tinha um fluxo de sangue... hemorragia, lhe chamavam, para a ofender ainda
mais, de mensageira de sangue.
RAQUEL – Poderia contar esse caso
para a nossa audiência?
JESUS - Sim, por que não? As leis religiosas de meu país
declaravam impuras para todas as mulheres durante os dias de seu período.
FEMINISTA - Sim?... todos os meses?
JESUS - A cada mês, a cada volta da
lua, uma mulher tornava-se impura. E
isso significava que eu não podia rezar na sinagoga e, muito menos, entrar no
Templo. Ninguém lhe podia tocar,
nem o marido nem ninguém... Estava manchada, poluída...
FEMINISTA - E como saber se uma mulher estava com a regra?
JESUS - Era humilhante. Elas tinham
que se retirar e sofrer a vergonha de se declararem menstruadas. Elas tinham que reconhecer-se imundas...
Ou então, lhe perguntavam...
FEMINISTA – Se um homem tivesse hoje essa impertinência, levava uma bofetada.
JESUS - E bem merecida ...
RAQUEL - Prossigamos com a mulher da
sua história...
JESUS - Eu me lembro que se
chamava Melania e tinha uma estranha condição: estava sempre a perder sangue...
FEMINISTA – Menorragia… assim é chamada essa doença.
JESUS - Certamente hoje iria curar-se mas
então, ninguém sabia. E eles
tinham muitas ideias distorcidas sobre as mulheres. No sangue das mulheres, o meu povo via
pecado. Nas fontes da vida, viam
sujeira. A lei era a que era lida com
os olhos dos homens, escrita com o egoísmo do homem… viam o mal na nossa mãe
Eva.
FEMINISTA - Bem, eu vou te dizer, Jesus Cristo , que isso
ainda está acontecendo hoje.
JESUS - Esta mulher viveu sempre impura. E, pior ainda, numa condição estéril. Ela estava morta em vida: uma
mulher que não tinha filhos era inútil. Era a
última dos últimos.
RAQUEL - E por isso o senhor a curou…
JESUS - Não, ninguém sabia como curá-la. Eu a encontrei um dia e quando
ela se aproximou de mim, eu a chamei pelo nome, Melania e toquei-a e deixei que
ela me tocasse, algo que era estritamente proibido por lei e que ninguém se
atrevia a fazer.
FEMINISTA – Então, o senhor agiu como
uma feminista...
JESUS - Raquel, explica-me a palavra que ela usou…
RAQUEL - Feminista, é aliar-se com as
mulheres na luta por seus direitos, respeitá-las… tudo isso. Tudo isso e muito
mais.
FEMINISTA - Então, Jesus Cristo, você
foi um feminista?
JESUS - Sim, eu acho que fui… e
continuo sendo…
FEMINISTA - E podemos chamá-lo de
feminista nos nossos documentos?
JESUS - Por que não? Chame-me assim, feminista.
RAQUEL - Ao lado de Jesus, feminista
e controverso, na Nazaré, Raquel Perez, Emissoras Latinas..