JORGE COELHO
Simpatizo com Jorge Coelho o que não constitui grande admiração porque, da mesma maneira que há pessoas que instintivamente despertam antipatia outras, pelo contrário, provocam agrado pela forma como se relacionam tirando partido de uma espécie de dom com que a natureza os dotou e este é ocaso do destacado militante do Partido Socialista.
Jorge Coelho, evidentemente, não é só uma pessoa simpática. No sucesso que tem sido a sua carreira de muitos anos ao serviço do Partido Socialista de pouco lhe teria servido a sua natural simpatia se outros dotes não a tivessem complementado como, por exemplo, a coragem que revelou ao abandonar de imediato as suas funções de Ministro de Estado, do Equipamento Social e Obras Públicas aquando da queda da ponte de Castelo de Paiva com o argumento de que a culpa não podia morrer solteira referindo-se à responsabilidade política que sempre deve estar presente em situações deste tipo.
Mas Jorge Coelho decidiu, após 3 anos de afastamento de cargos políticos que foram sempre a sua vida, aceitar o convite para presidir à mais importante empresa de Construção de Obras Públicas do país a Mota Engil o que, não constituindo qualquer espécie de ilegalidade, dá sentido às palavras do cronista Pedro Norton no seu artigo de Opinião na revista Visão e cuja parte final transcrevo:
“Chamemos os bois pelos nomes. Os accionistas da Mota Engil, do BCP, da Média Capital ou da Lusoponte não decidiram juntar-se para filantropicamente montarem uma espécie de “Casa do Artista” para políticos na reforma. Muito pelo contrário, continuam a tomar decisões com base em critérios de pura racionalidade económica. E se escolhem os gestores que escolhem é porque conhecem muito bem o poder que estes têm na economia e na sociedade portuguesas.
Para mal dos nossos pecados, não é o poder dos mais competentes, dos mais visionários, ou dos mais trabalhadores. É o poder das decisões de corredor, dos telemóveis dos governantes, dos favores prestados e por retribuir. Que é o poder que verdadeiramente interessa num país em que todos os caminhos vão dar ao Estado.
Bem vistas as coisas, a nomeação de Jorge Coelho é assombrosamente natural. Os accionistas da Mota Engil são competentes, racionais e inteligentes. E sabem ler muito bem os sinais do mercado. E o que o “mercado” paradoxalmente lhes diz é que precisam de um “ especialista em Estado”. Pois que não restem dúvidas: contrataram o melhor profissional que o “mercado” tinha para oferecer.”
Infelizmente estou muito de acordo com Pedro Norton sem que isso signifique qualquer espécie de “mau juízo” relativamente a Jorge Coelho, apenas um sentimento de tristeza por, mais uma vez, constatar que o “público” não é suficientemente aliciante relativamente ao “privado” para reter junto de si, em benefício da comunidade, todos aqueles que aprenderam nele e nele se destacaram pelas suas capacidades.
Cedo ou tarde quase todos acabam por partir vendendo, a preço de ouro, a esta ou àquela grande empresa, um capital de experiência e conhecimentos adquiridos ao longo de anos no “público” que pode desequilibrar, de forma desleal, a concorrência com outras empresas no mercado o que ajuda a explicar a subida das acções da Mota Engil em flecha com a notícia da entrada de Jorge Coelho.
Será que isto acontece só porque há um insuportável peso do Estado na economia como advoga Pedro Norton num momento especial da vida do país em que milhares de milhões de euros oriundos da Comunidade Europeia irão ser aplicados nos mais variados domínios da vida nacional?
E quando se acabarem esses fundos e a vida regressar ao normal iremos continuar a assistir à fuga dos nossos políticos para o “privado” só porque este sempre pagará mais?
O prestígio, a satisfação pessoal de servir o país e os nossos compatriotas, estarão condenados face ao maior poder salarial de uma empresa face ao Estado mas cujos objectivos serão sempre os de levar mais dinheiro para os bolsos dos accionistas divorciados, muitas vezes, de uma séria preocupação de reinvestir os lucros e de melhorar as condições de vida de quantos nelas trabalham?
Provavelmente, um dia, a nossa sociedade poderá ver-se confrontada com o preço a pagar por termos alienado para o privado os que eram melhores, mais aptos e mais capazes porque, mais importante em termos de futuro, é governar bem um país mais do que uma empresa por muito importante que ela seja.
Simpatizo com Jorge Coelho o que não constitui grande admiração porque, da mesma maneira que há pessoas que instintivamente despertam antipatia outras, pelo contrário, provocam agrado pela forma como se relacionam tirando partido de uma espécie de dom com que a natureza os dotou e este é ocaso do destacado militante do Partido Socialista.
Jorge Coelho, evidentemente, não é só uma pessoa simpática. No sucesso que tem sido a sua carreira de muitos anos ao serviço do Partido Socialista de pouco lhe teria servido a sua natural simpatia se outros dotes não a tivessem complementado como, por exemplo, a coragem que revelou ao abandonar de imediato as suas funções de Ministro de Estado, do Equipamento Social e Obras Públicas aquando da queda da ponte de Castelo de Paiva com o argumento de que a culpa não podia morrer solteira referindo-se à responsabilidade política que sempre deve estar presente em situações deste tipo.
Mas Jorge Coelho decidiu, após 3 anos de afastamento de cargos políticos que foram sempre a sua vida, aceitar o convite para presidir à mais importante empresa de Construção de Obras Públicas do país a Mota Engil o que, não constituindo qualquer espécie de ilegalidade, dá sentido às palavras do cronista Pedro Norton no seu artigo de Opinião na revista Visão e cuja parte final transcrevo:
“Chamemos os bois pelos nomes. Os accionistas da Mota Engil, do BCP, da Média Capital ou da Lusoponte não decidiram juntar-se para filantropicamente montarem uma espécie de “Casa do Artista” para políticos na reforma. Muito pelo contrário, continuam a tomar decisões com base em critérios de pura racionalidade económica. E se escolhem os gestores que escolhem é porque conhecem muito bem o poder que estes têm na economia e na sociedade portuguesas.
Para mal dos nossos pecados, não é o poder dos mais competentes, dos mais visionários, ou dos mais trabalhadores. É o poder das decisões de corredor, dos telemóveis dos governantes, dos favores prestados e por retribuir. Que é o poder que verdadeiramente interessa num país em que todos os caminhos vão dar ao Estado.
Bem vistas as coisas, a nomeação de Jorge Coelho é assombrosamente natural. Os accionistas da Mota Engil são competentes, racionais e inteligentes. E sabem ler muito bem os sinais do mercado. E o que o “mercado” paradoxalmente lhes diz é que precisam de um “ especialista em Estado”. Pois que não restem dúvidas: contrataram o melhor profissional que o “mercado” tinha para oferecer.”
Infelizmente estou muito de acordo com Pedro Norton sem que isso signifique qualquer espécie de “mau juízo” relativamente a Jorge Coelho, apenas um sentimento de tristeza por, mais uma vez, constatar que o “público” não é suficientemente aliciante relativamente ao “privado” para reter junto de si, em benefício da comunidade, todos aqueles que aprenderam nele e nele se destacaram pelas suas capacidades.
Cedo ou tarde quase todos acabam por partir vendendo, a preço de ouro, a esta ou àquela grande empresa, um capital de experiência e conhecimentos adquiridos ao longo de anos no “público” que pode desequilibrar, de forma desleal, a concorrência com outras empresas no mercado o que ajuda a explicar a subida das acções da Mota Engil em flecha com a notícia da entrada de Jorge Coelho.
Será que isto acontece só porque há um insuportável peso do Estado na economia como advoga Pedro Norton num momento especial da vida do país em que milhares de milhões de euros oriundos da Comunidade Europeia irão ser aplicados nos mais variados domínios da vida nacional?
E quando se acabarem esses fundos e a vida regressar ao normal iremos continuar a assistir à fuga dos nossos políticos para o “privado” só porque este sempre pagará mais?
O prestígio, a satisfação pessoal de servir o país e os nossos compatriotas, estarão condenados face ao maior poder salarial de uma empresa face ao Estado mas cujos objectivos serão sempre os de levar mais dinheiro para os bolsos dos accionistas divorciados, muitas vezes, de uma séria preocupação de reinvestir os lucros e de melhorar as condições de vida de quantos nelas trabalham?
Provavelmente, um dia, a nossa sociedade poderá ver-se confrontada com o preço a pagar por termos alienado para o privado os que eram melhores, mais aptos e mais capazes porque, mais importante em termos de futuro, é governar bem um país mais do que uma empresa por muito importante que ela seja.