Memórias Futuras
Olhar o futuro pelo espelho retrovisor da história. Qual história? Que futuro?
sábado, janeiro 07, 2012
Is This Way To Amarilo - Tony Christie
Nasceu em 1943, cantor, actor, compositor inglês. Vendeu mais de 10 milhões de discos e esta canção foi top no Reino Unido em 1971.
O Alentejano e a Vagina...
Um alentejano senta-se no comboio, em frente a uma ruiva, vestida com uma minissaia.
Nisto, dá conta que ela não tinha roupa interior. Então a ruiva diz-lhe:
- Está a olhar para a minha vagina ...
- Sim, desculpe!... - responde o alentejano.
- Não há problema! - responde a mulher, como és simpático vou fazer com que a minha vagina te mande um beijo.
Incrivelmente, a vagina manda-lhe um beijo!
O alentejano, fica totalmente doido! Nisto, pergunta:
- Que outras coisas sabe fazer?
- Posso também fazer com que te dê uma piscadela...
O homem observa uma vez mais assombrado, como a vagina lhe dá piscadelas.
A mulher, já muito excitada, diz ao alentejano:
- Queres enfiar-me dois dedinhos?...
Paralisado, o alentejano benze-se e responde:
- Porra! Não me digas que ela também assobia?!
TEREZA
BATISTA
CANSADA
DE
GUERRA
Episódio Nº 302
Passados alguns dias, após agradecer-lhe a hospitalidade, Tereza despediu-se de mãe Senhora, deixou o refúgio do candomblé, regressando ao quarto de dona Fina, no Desterro.
Na ausência da sambista, sem saber quando poderia contar com ela. Alinor Pinheiro o proprietário do Flor de Lótus, contratara novas atracções, uma contorcionista e a cantora Patativa de Macau, vinda do Rio Grande do Norte e não do Extremo Oriente, como acreditaram alguns imaginosos fregueses. Viu-se Tereza sem emprego, mas logo lhe acenaram com a possibilidade de actuar no Tabaris, o mais elegante e bem frequentado cabaré da Bahia, sempre cheio, animadíssimo, coração da vida nocturna da cidade. Oferta imprevista e honrosa, em nenhum momento lhe passara pela cabeça a possibilidade de apresentar-se no tablado do Tabaris, cujas artistas vinham todas do sul, entre elas várias estrangeiras. Não sabia estar em mãos de Vavá a parte de leão da sociedade exploradora do dancing. Devia, no entanto, aguardar o término próximo contrato da argentina Rachel Púcio, a quem substituiria. Não fosse por isso! Aguardaria quanto tempo se fizesse preciso: trabalhar no Tabaris era a consagração, a glória.
Podia esperar, não estava em falta de dinheiro. Por Anália, dona Paulina de Sousa lhe mandara algum para ela pagar quando pudesse, e Taviana propusera-lhe adiantar o necessário às despesas. Não chegou a pisar o palco do Tabaris.
Uma tarde, o sobrinho de Camafeu de Oxossi veio buscá-la com um recado urgente: mestre Caetano Gunzá desejava-lhe falar imediatamente, pois a barcaça levantaria ferros à noitinha para Camamu. Tereza sentiu um baque no coração, soube de imediato e de ciência certa tratar-se de notícia ruim. Pôs na cabeça o xale que o doutor lhe dera pouco antes de morrer, desceu o elevador Lacerda em companhia do rapazola.
Na entrada do Mercado, Camafeu lhe afirmou não saber o motivo da mensagem do barcaceiro, apenas a recebera e transmitira, mas a “Ventania” estava perto, ancorada ao lado do Forte do Mar.
Tereza sentiu a insegurança na voz do amigo, a quem tratava de compadre desde uma festa de São João à qual comparecera com Almério e onde pulara fogueira com Camafeu e Toninha, sua mulher, estabelecendo compadrio de estima e convivência. Camafeu mantinha os olhos longe dela, perdidos no mar, media as palavras, de repente casmurro quem era o sujeito mais jovial do mundo. Condenada, Tereza embarcou na canoa, rumo à barcaça.
Antes de mestre Gunzá pronunciar qualquer palavra, ao observar-lhe o rosto conturbado, Tereza disse, a voz sem acento:
- Morreu.
O mestre confirmou: o cargueiro Balboa naufragara nas costas do Peru vítima de grande temporal, um começo de marmoto. Faleceram todos os tripulantes, não houve sobreviventes e quem contou a história foram os marinheiros de outros navios que acorreram em socorro, mas nem puderam aproximar-se, tão terrível a tempestade. Viram, porém, os barcos de salvamento cheios de marujos, serem tragados pelas ondas.
Estende a gazeta, Tereza a toma e olha, não consegue ler. Mestre Caetano recita-lhe a notícia, ele a aprendeu de cor nessas poucas horas cruas e cinzentas. Noite trágica no Pacífico, além de Balboa afundara outro navio, um petroleiro.
Quem vive no mar está sujeito a tempestades e naufrágios, que outra coisa pode lhe dizer? Para a morte não há consolo. O jornal publica a relação dos tripulantes engajados na Bahia. Tereza distingue o nome de Januário Gereba. Os olhos secos, apagados carvões, a garganta trancada. (click na imagem)
INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES
À ENTREVISTA Nº 34 SOBRE O TEMA:
“BAPTISMO DAS CRIANÇAS?” (1)
O Rio Jordão
O Rio Jordão
A Jordânia é praticamente o único rio que rega as terras de Israel. Nasce no norte, perto do monte Hermon, e desagua nas águas salobras do Mar Morto, o lugar mais baixo do planeta, cerca de 400 metros abaixo do nível do mar. O Vale do Jordão é uma extensão do Vale do Rift, formada há 10 milhões de anos na sequência de uma fractura do continente africano, evento geológico decisivo no desenvolvimento da espécie humana.
sexta-feira, janeiro 06, 2012
IMPORTANTE E CORAJOSO DEPOIMENTO:
Eu quero dividir esta minha experiência com vocês e tem a ver com o facto de beber e de conduzir.
No último sábado saí com uns amigos para beber uns copos e perdi a conta das cervejas que bebi.
Depois, tendo a plena consciência de que estava completamente bêbado, fiz uma coisa que nunca antes na minha vida me teria passado pela cabeça fazer…
Apanhei um autocarro para voltar para casa!!!
Cheguei a casa são e salvo e sem nenhum incidente!!!
O que me deixou perplexo, uma vez que eu nunca na minha vida tinha conduzido um autocarro!!!!!
Eu quero dividir esta minha experiência com vocês e tem a ver com o facto de beber e de conduzir.
No último sábado saí com uns amigos para beber uns copos e perdi a conta das cervejas que bebi.
Depois, tendo a plena consciência de que estava completamente bêbado, fiz uma coisa que nunca antes na minha vida me teria passado pela cabeça fazer…
Apanhei um autocarro para voltar para casa!!!
Cheguei a casa são e salvo e sem nenhum incidente!!!
O que me deixou perplexo, uma vez que eu nunca na minha vida tinha conduzido um autocarro!!!!!
TEREZA
BATISTA
CANSADA
DE
GUERRA
Episódio Nº 301
Conversavam em casa de Xangô e pela roça a calma dos afazeres domésticos sucedera às obrigações matutinas celebradas ao nascer da aurora. Mãe Senhora foi ao peji e prostrou-se aos pés de Xangô para lhe pedir as luzes necessárias a um bom entendimento.
De um prato ali posto retirou um obi e o levou para a sala de consultas e conversa. Sentada por detrás da mesa de cipós trançados, com uma pequena faca cortou a noz em quatro, após lhe retirar um pouco em cima e em baixo. Fechando os pedaços na mão, com ela tocou a testa e, pronunciando as palavras mágicas em nagô, iniciou o jogo.
Ia jogando e a cada vez que os pedaços de obi rolavam sobre a toalha de crivo, de assombro em assombro fitava a rapariga.
Mesmo querendo recordar e recordando as palavras cépticas do doutor, as lições sobre a matéria e a vida com ele aprendidas em Estância, ainda assim Tereza sentia um temor no coração, um medo antigo, de antes de ela nascer, herdado dos ancestrais.
Nada dizia, mas esperava com os nervos tensos, quem sabe a sentença final.
Três ou quatro filhas-de-santo de cócoras assistiam e ao lado de iyalorixá sentava-se uma visita grátis, Nezinho, pai-de santo em Muritiba, de saber propalado e reconhecido. Também ele repetidas vezes levantou o olhar para a moça, interrogativo. Por fim iluminou-se o rosto de mãe senhora. Deixando as quatro partes do obi sobre a mesa, ergueu as mãos com as palmas voltadas para cima e exclamou.
- Alafiá!
_ Alafiá! – repetiu Nezinho.
- Alafiá! Alafiá! No eco das filhas-de-santo a palavra da alegria e da paz se estendeu pelo terreiro.
Todos bateram palmas demonstrando satisfação. A iyalorixá e o pai-de-santo fitaram-se sorrindo e fizeram ao mesmo tempo um sinal afirmativo com a cabeça. Só então, mãe Senhora dirigiu-se a Tereza:
- Fique descansada, minha filha, tudo está bem, não há perigo à vista. Tenha confiança, os orixás são poderosos e estão junto de você. Tantos nunca vi em minha vida.
- Nem eu… - apoiou Nezinho… – Nunca topei com criatura mais bem defendida.
Ainda uma vez, mãe senhora tomou dos pedaços da noz sagrada e como se buscasse uma confirmação, após tocar na testa com o punho fechado, na mesa os atirou. Sorriram, ao mesmo tempo, ela e Nezinho. Numa reverência a mãe-de-santo de são Gonçalo do Retiro entregou ao pai do candomblé de Muritiba as quatro partes do obi. Nezinho dirigiu-se a Xangô: Kauó Kabiecie! Depois jogou e o resultado foi idêntico. Fitando Tereza, Nezinho lhe perguntou.
-Nunca encontrou em seu caminho, em hora de perigo, um velho de bordão?
- É verdade. Nunca o mesmo, mas sempre parecidos.
- Oxalá cuida de si.
Mãe Senhora renovou a certeza de que nenhum perigo a ameaçava:
- Mesmo na hora mais agoniada, quando pensar que tudo se acabou, tenha confiança, não desanime, não se renda.
- E ele?
- Não tema por você nem por ele. Iansã é poderoso e Januário é seu Ogan. Nada tema, vá em paz. Axé.
- Axé! Axé! – repetiram todos na casa de Xangô.
(click na imagem)
ENTREVISTA FICCIONADA
COM JESUS Nº 34 SOBRE O TEMA:
“O BAPTISMO DAS CRIANÇAS?"
RAQUEL - A nossa unidade móvel mudou-se agora para o sul, para a Judeia, até às margens do rio Jordão onde, há dois mil anos, João estava baptizando multidões. Escutam o rio? ... Ao nosso lado, Jesus Cristo. O senhor lembra-se desse dia tão especial, quando foi baptizado por João. Foi por aqui, certo?
JESUS - Sim, penso que sim. É que havia tantas pessoas ... Eu estou vendo João, vestido com uma pele de camelo, com água pela cintura... João Batista, grande profeta!
RAQUEL - No seu tempo, as pessoas eram baptizadas em adulto. Na nossa, no entanto, o baptismo é feito o mais cedo possível quando as crianças são ainda bebés.
JESUS - Baptizam as crianças?
RAQUEL - Sim, é claro. É o costume.
JESUS - Mas por quê? ... Como é que uma criança pode assumir uma nova vida se ainda não viveu nada? ...
RAQUEL - Eu não entendo por que dizes isso.
JESUS - O baptismo é para aprender a compartilhar. João gritava: quem tem duas túnicas deve dar uma a quem não tem. Para que serve o baptismo: para mudar de vida!
RAQUEL – Mas os seus seguidores dizem o contrário. Eles afirmam que o baptismo elimina o pecado original.
JESUS - Pecado original?
RAQUEL - Sim, o que cometeram Adão e Eva no paraíso. Deus proibiu-os de comer da árvore do bem e do mal mas a serpente tentou-os e eles comeram a maçã…
JESUS – Sim, essa história eu já a sei. Mas o que tem ela a ver com o baptismo?
RAQUEL - Isso é o que lhe perguntamos pois conhece a resposta melhor que ninguém, pois veio a este mundo para nos purificar desse pecado original.
JESUS – Vim purificar o quê?
RAQUEL – Do pecado original. O senhor não sabe que o pecado é herdado, passado de pai para filhos, para netos, bisnetos?...Assim nos ensinaram. Todas as pessoas nascem com essa culpa. Então, há que ser baptizado, para limpá-lo. E quanto mais cedo melhor.
JESUS – Explica-me o porquê.
RAQUEL - Porque as crianças não podem entrar no céu sujas, com a mancha de Adão e Eva.
JESUS – Que voltas dá a vida!... Olha, Raquel, também no meu tempo os padres diziam que as pessoas ficavam doentes por causa dos pecados cometidos pela sua família. Uma vez trouxeram-me um homem cego de nascimento e perguntaram-me: quem pecou, este homem ou seus pais?
RAQUEL - O que o senhor respondeu?
JESUS - Nem ele nem os pais. Porque a doença não é filha do pecado. Eles viam o pecado no doente. E agora tu estás a vê-lo nas crianças, que erro tão grande!
RAQUEL – Agora, sou eu que lhe pergunto o porquê.
JESUS - Porque nenhum pecado é herdado. Nenhum. Se os pais comeram uvas verdes, as crianças não têm que sofrer a desinteria.
RAQUEL - Não podemos evitar a questão. Se as crianças não nascem, como o senhor diz, em pecado, por que os baptizamos, então?
JESUS - Não sei. O que vos digo é que, com água ou sem água, serão os primeiros a entrar no reino de Deus.
RAQUEL - E os adultos?
JESUS - Os que estão dispostos a mudar suas vidas, a lutar pela justiça, que se baptizem. Receberão o Espírito de Deus, como eu recebi das mãos do profeta João.
RAQUEL - Nas margens do rio Jordão, Jesus confirmou que há dois mil anos atrás recebeu o baptismo e testemunhou-o hoje com estas declarações polémicas com as quais terminamos o nosso programa. Eu sou Raquel Pérez, enviada especial das Emissoras Latinas.
quinta-feira, janeiro 05, 2012
O avô conta ao seu neto João as grandes mudanças que aconteceram na sociedade, desde a sua juventude até agora...
- Sabes, João, quando eu era pequeno, a minha mãe dava-me dez escudos, e com isso mandava-me à mercearia da esquina. Então, eu voltava com um pacote de manteiga, dois litros de leite, um saco de batatas, um queijo, um pacote de açúcar, um pão e uma dúzia de ovos..!"
E o João respondeu-lhe:
- Mas avô, na tua época não havia câmaras de vigilância?
Por Que Somos Bons
(parte final)
Vivíamos em aldeias ou, em tempos mais recuados, em bandos nómadas discretos, parcialmente isolados de aldeias ou de bandos vizinhos, e estas eram condições que favoreceram extraordinariamente o evoluir das relações altruístas familiares como factor importante para a sobrevivência do grupo.
E não só para o altruísmo de base parental como igualmente do altruísmo recíproco ao cruzarem-se com frequência com os mesmos indivíduos e estas são as condições ideais para se construir a reputação do altruísmo e também para publicitarem uma generosidade conspícua.
É fácil perceber a razão pela qual os nossos antepassados pré históricos terão sido bons para os membros do seu próprio grupo mas maus, chegando à xenofobia, em relação a outros grupos.
Mas agora que a maior parte de nós vive em grandes cidades onde já não estamos rodeados de parentes e conhecemos indivíduos que não mais voltaremos a encontrar, por que motivo somos ainda tão bons uns para os outros e até para aqueles que pertencem a grupos exteriores ao nosso?
É importante não transmitir uma ideia errada sobre o alcance da selecção natural pois ela não favorece a evolução de uma consciência cognitiva do que é bom para os nossos genes, o que ela favorece são regras de base empírica que na prática funcionam no sentido de prover os genes que as criaram.
Vejamos um exemplo:
-No cérebro de um pássaro a regra «cuidar daquelas coisas pequenas que soltam grasnidos e vivem no ninho e deixar-lhes cair comida nas bocas vermelhas e escancaradas» tem o objectivo de preservar os genes que criaram a regra porque os objectos que soltam grasnidos e ficam de boca aberta são os seus descendentes. Mas esta regra falha se outra cria de pássaro entra para dentro do ninho, situação que foi engendrada pelos cucos.
Esta falha ou “tiro fora do alvo”pode também acontecer com os impulsos para a bondade, altruísmo, empatia, piedade, que o homem continua a desenvolver quando as condições já são diferentes das que existiam em tempos ancestrais.
Por outras palavras, as condições são outras mas a regra empírica manteve-se e, portanto, embora hoje as pessoas já não sejam nossos parentes, façam parte do nosso grupo, ou tenham possibilidade de retribuir, tal como a ave que por impulso continua a alimentar o filho do cuco, também nós continuamos a sentir o desejo de sermos bons e generosos.
É como o desejo sexual que não deixa de ser sentido mesmo quando a mulher é estéril ou toma a pílula e fica incapaz de reproduzir.
São ambos “tiros fora do alvo”, erros darwinianos: abençoados e inestimáveis erros.
Em tempos ancestrais a melhor forma da selecção natural assegurar a sobrevivência da nossa espécie foi instalando no cérebro não só a necessidade de acreditar, da qual já falamos num texto anterior, como também, o desejo sexual e a compaixão ou generosidade.
Estas regras que ditam estes impulsos para acreditar, para o sexo, para a generosidade e para a xenofobia, são muito anteriores à religião, às civilizações e aos vários contextos culturais que se limitaram mais tarde a regulá-los, condicioná-los, instrumentalizá-los, cada um à sua maneira, fazendo deles o cerne da vida dos homens ao longo de toda a sua existência.
Se voltarmos novamente a pôr a questão de saber qual a razão ou razões pelas quais somos bons, a resposta parece-nos ser agora clara, acessível à nossa razão, quase natural e, acima de tudo, nada ter a ver com qualquer religião.
(parte final)
Vivíamos em aldeias ou, em tempos mais recuados, em bandos nómadas discretos, parcialmente isolados de aldeias ou de bandos vizinhos, e estas eram condições que favoreceram extraordinariamente o evoluir das relações altruístas familiares como factor importante para a sobrevivência do grupo.
E não só para o altruísmo de base parental como igualmente do altruísmo recíproco ao cruzarem-se com frequência com os mesmos indivíduos e estas são as condições ideais para se construir a reputação do altruísmo e também para publicitarem uma generosidade conspícua.
É fácil perceber a razão pela qual os nossos antepassados pré históricos terão sido bons para os membros do seu próprio grupo mas maus, chegando à xenofobia, em relação a outros grupos.
Mas agora que a maior parte de nós vive em grandes cidades onde já não estamos rodeados de parentes e conhecemos indivíduos que não mais voltaremos a encontrar, por que motivo somos ainda tão bons uns para os outros e até para aqueles que pertencem a grupos exteriores ao nosso?
É importante não transmitir uma ideia errada sobre o alcance da selecção natural pois ela não favorece a evolução de uma consciência cognitiva do que é bom para os nossos genes, o que ela favorece são regras de base empírica que na prática funcionam no sentido de prover os genes que as criaram.
Vejamos um exemplo:
-No cérebro de um pássaro a regra «cuidar daquelas coisas pequenas que soltam grasnidos e vivem no ninho e deixar-lhes cair comida nas bocas vermelhas e escancaradas» tem o objectivo de preservar os genes que criaram a regra porque os objectos que soltam grasnidos e ficam de boca aberta são os seus descendentes. Mas esta regra falha se outra cria de pássaro entra para dentro do ninho, situação que foi engendrada pelos cucos.
Esta falha ou “tiro fora do alvo”pode também acontecer com os impulsos para a bondade, altruísmo, empatia, piedade, que o homem continua a desenvolver quando as condições já são diferentes das que existiam em tempos ancestrais.
Por outras palavras, as condições são outras mas a regra empírica manteve-se e, portanto, embora hoje as pessoas já não sejam nossos parentes, façam parte do nosso grupo, ou tenham possibilidade de retribuir, tal como a ave que por impulso continua a alimentar o filho do cuco, também nós continuamos a sentir o desejo de sermos bons e generosos.
É como o desejo sexual que não deixa de ser sentido mesmo quando a mulher é estéril ou toma a pílula e fica incapaz de reproduzir.
São ambos “tiros fora do alvo”, erros darwinianos: abençoados e inestimáveis erros.
Em tempos ancestrais a melhor forma da selecção natural assegurar a sobrevivência da nossa espécie foi instalando no cérebro não só a necessidade de acreditar, da qual já falamos num texto anterior, como também, o desejo sexual e a compaixão ou generosidade.
Estas regras que ditam estes impulsos para acreditar, para o sexo, para a generosidade e para a xenofobia, são muito anteriores à religião, às civilizações e aos vários contextos culturais que se limitaram mais tarde a regulá-los, condicioná-los, instrumentalizá-los, cada um à sua maneira, fazendo deles o cerne da vida dos homens ao longo de toda a sua existência.
Se voltarmos novamente a pôr a questão de saber qual a razão ou razões pelas quais somos bons, a resposta parece-nos ser agora clara, acessível à nossa razão, quase natural e, acima de tudo, nada ter a ver com qualquer religião.
Richard Dawkins
(Prémio Nobel)
TEREZA
BATISTA
CANSADA
DE
GUERRA
Episódio Nº 300
Vavá não se aproveitou sequer para insinuar uma palavra, guardou os olhos longe de Tereza. Não é pitéu para seu bico. Outra aparecerá, mais dia, menos dia, para rendê-lo de novo apaixonado. Não tão formosa, certamente, nem tão direita.
67
Taviana mandou um recado para Almério, não quisera adiantar a notícia no receio de não passar igualmente de tapeação o acordo estabelecido pelo comissário com Vavá.
O padeiro tocou-se para o castelo, em disparada, os olhos fizeram-se húmidos ao ver Tereza, ficou mudo, sem palavras. Ela se aproximou e o beijou nas duas faces.
- Ela precisa de se restabelecer, virou um esqueleto, os cães comeram as carnes dela – disse Taviana, acrescentando: - O melhor é tirar Tereza uns tempos da circulação, o porqueira do Peixe Cação vai espumar quando souber que ela está na rua, é capaz de inventar outra miséria. Aquilo não é gente.
– Cuspiu com desprezo, esmagou na sola do sapato a sordidez do dito cujo.
Tereza não via necessidade de esconder-se, querendo retomar às pistas do Flor de Lótus naquele mesmo dia, às lides do castelo apenas melhorasse um pouco a fachada e entrassem carnes, assim lhe voltasse a cor de cobre. Mas Almério e Taviana não admitiram, nem pense nisso. Quer ir outra vez para a cadeia, inquietando os amigos, criando toda a classe de problemas, deixando todo o mundo feito doido? Tire da cabeça.
Já sei onde lhe vou botar – informou Almério.
Levou-a para o candomblé de São Gonçalo do Retiro, o Axé do Opô Afonxá, deixando-a aos cuidados de Senhora, a mãe-de-santo.
68
Estando Tereza Batista adormecida na casa de Oxum onde a iyalorixá a hospedara, teve um sonho com Januário Gereba e acordou agoniada. No sonho ela o viu no meio do mar, em cima de um rochedo, entre ondas colossais, cercado de espuma e de peixes enormes. Janu lhe estendia os braços e Tereza se encaminhava para ele caminhando sobre as águas como se estivesse em terra firme. Próxima a alcançá-lo eis que do mar se elevou aparição divina, metade mulher metade peixe, uma sereia.
Nos cabelos longos e verdes, longos a cobrirem as escamas do rabo, verde da cor do fundo do mar, envolveu Januário e o levou consigo. Somente no último momento, quando já a sereia e o marujo desapareciam nas águas, Tereza enxergara a face da encantada e não era Iemenjá, como lhe parecera, mas sim a morte, o rosto de uma caveira, as mãos dois gadanhos secos.
A aflição de Tereza, por mais ela encobrisse, não passou despercebida à mãe-de-santo:
- Que ocorre com você, minha filha?
- Nada, mãe.
- Não minta a Xangô, jamais.
- Tereza relatou o sonho e mãe Senhora ouviu atentamente. Assim, de chofre, não soube dar solução à advinha. Só fazendo o jogo. Já jogaram alguma vez para saber de sua sina?
- Que eu pedisse, não.
(click na imagem)
INFORMAÇÕES ADICIONAIS
À ENTREVISTA Nº 33 SOBRE O TEMA:
“A BENÇÂO DE DEUS?” (última parte)
Jesus Não Teve Sucesso
Toda a vida de Jesus e o fracasso "económico e político" do seu projecto, com sua morte violenta, questionam radicalmente a teologia da prosperidade. Na vida de Jesus e na sua morte Deus não aparece ligado nem ao sucesso nem ao poder. Aparece ligado ao amor e ao compromisso para realizar a justiça, mesmo quando, por causa dos grandes obstáculos do projecto, às vezes as coisas não saem conforme o desejado.
Toda a imagem de um Deus Todo-Poderoso e triunfador muda radicalmente em Jesus, um homem frágil que fracassa e é assassinado.
Essas imagens, que apontam para o triunfo e para o êxito, que leva a identificar a liderança com o poder e a pompa, regressam na dogmática de Cristo ressuscitado que se torna rei do universo, Juiz Todo-Poderoso sentado sobre um trono de glória.
Toda a imagem de um Deus Todo-Poderoso e triunfador muda radicalmente em Jesus, um homem frágil que fracassa e é assassinado.
Essas imagens, que apontam para o triunfo e para o êxito, que leva a identificar a liderança com o poder e a pompa, regressam na dogmática de Cristo ressuscitado que se torna rei do universo, Juiz Todo-Poderoso sentado sobre um trono de glória.
quarta-feira, janeiro 04, 2012
Porque Somos Bons?
(continuação)
Reputação que não se restringe apenas ao ser humano, de acordo com experiências recentemente feitas em animais, nomeadamente peixes, e publicadas num artigo de R. Bshary e A. S. Grutter na revista Nature de Junho de 2006.
-Em quarto lugar, o economista norueguês-americano Thorstein Veblen e de uma forma diferente o zoólogo israelita Amotz Zahavi, acrescentaram ainda uma ideia mais fascinante quanto à vantagem dos comportamentos altruístas considerando-os uma proclamação implícita de domínio ou superioridade.
Por exemplo, os chefes rivais das tribos do noroeste do Pacífico competiam entre si organizando festins de uma abundância ruinosa.
Só um indivíduo genuinamente superior pode dar-se ao luxo de anunciar o facto por meio de uma oferta dispendiosa.
Os indivíduos compram o êxito através de demonstrações de superioridade, incluindo a generosidade ostentatória e o assumir de riscos pelo bem comum.
Temos então quatro boas razões Darwinianas para os indivíduos serem altruístas, generosos ou “morais” uns para com os outros e ao longo da nossa Pré-Histórica, o ser humano viveu em condições que terão favorecido bastante a evolução destes quatro tipos de altruísmo.
Reputação que não se restringe apenas ao ser humano, de acordo com experiências recentemente feitas em animais, nomeadamente peixes, e publicadas num artigo de R. Bshary e A. S. Grutter na revista Nature de Junho de 2006.
-Em quarto lugar, o economista norueguês-americano Thorstein Veblen e de uma forma diferente o zoólogo israelita Amotz Zahavi, acrescentaram ainda uma ideia mais fascinante quanto à vantagem dos comportamentos altruístas considerando-os uma proclamação implícita de domínio ou superioridade.
Por exemplo, os chefes rivais das tribos do noroeste do Pacífico competiam entre si organizando festins de uma abundância ruinosa.
Só um indivíduo genuinamente superior pode dar-se ao luxo de anunciar o facto por meio de uma oferta dispendiosa.
Os indivíduos compram o êxito através de demonstrações de superioridade, incluindo a generosidade ostentatória e o assumir de riscos pelo bem comum.
Temos então quatro boas razões Darwinianas para os indivíduos serem altruístas, generosos ou “morais” uns para com os outros e ao longo da nossa Pré-Histórica, o ser humano viveu em condições que terão favorecido bastante a evolução destes quatro tipos de altruísmo.
TEREZA
BATISTA
CANSADA
DE
GUERRA
Episódio Nº 299
Já os navios norte-americanos haviam abandonado o porto da Bahia onde haviam permanecido três dias e três noites levando em seu bojo as últimas esperanças da vitalina Veralice de ser estuprada por ianque loiro de indomável estrovenga; já a velhíssima Vovó, devota e bochincheira fora esquecida na vala comum do cemitério das Quintas: já desaparecera das páginas dos jornais o polémico assunto do balaio fechado – e ainda permanecia Tereza na cana.
Nem sequer o pintor Jenner Augusto, com prestígio junto de algumas personalidades do governo, conseguiu libertá-la.
Posto a par do assunto ele se movimentou – e muito. Não somente ele mas também os demais artistas para quem ela posara de modelo e dos quais se fizera amiga. Promessas e mais promessas: hoje mesmo será solta, vá descansado. Pura conversa mole. Refém pessoal do investigador Nicolau Ramada Júnior, presa à sua ordem e disposição, devia continuar no xelindró até à volta do herói da Barroquinha até à plena actividade funcional e sexual, completamente reposto da inchação nos quibas.
Não se satisfizera ele com o espancamento na noite de baderna. Embora surra para valer, quatro homens se revezando no porrete, dela Peixe Cação participara em termos, os ovos doíam-lhe por demais, impedindo uma perfomance à altura. Não só queria voltar a bater, agora com as forças restauradas, mas sobretudo dela dispor à sua mercê, sem possibilidades de defesa, para fazê-la engolir o insulto gritado no Flor de Lotus, pondo-se nela, enrabando-a, fazendo-a chupar, lamber-lhe os bagos.
O pintor terminou por retar-se com tanta tapeação e adiamento, entregou a solução do assunto a um advogado amigo, doutor António Luís Calmon Teixeira, nas rodas de pesca submarina o recordista Chiquinho.
Caso de “habeas corpus”, entendeu o bacharel, mas quando ia a dirigir-se à justiça, eis que Tereza foi solta e logo várias autoridades reclamaram as palmas da vitória, o reconhecimento dos amigos da moça, todos se declarando responsáveis pela ordem de soltura.
Em verdade, a libertação de Tereza deveu-se a Vavá. Também ele se pusera em campo fazendo-o da maneira justa; entrou em contacto com a própria polícia de costumes. Espalhou um bocado de dinheiro, mas quem engoliu a bolada grande foi o comissário Labão, negociando no leito de dor, as pernas engessadas estendidas para cima, sessenta dias previsto naquela posição, disposto a diminuir de qualquer forma o prejuízo resultante do fracasso da maldita empresa turística.
Pediu alto para esquecer os agravos de Vavá e ordenar a libertação da arruaceira: no cálculo do preço teve em conta o facto da tipa estar presa na condição de espólio de guerra de um colega e amigo. Vavá pagou sem discutir.
Pagou sem discutir, pagou por amor e sem esperança, pois Exu voltara a repetir, após retornar ao peji em meio à obrigação festiva, não ser Tereza pitéu para o bico do aleijado.
Além disso, ele tomara informações e soubera de Almério das Neves nas encolhas, e de mestre Januário Gereba sumido no oceano. Nem assim a abandonou na cadeia a apodrecer, à espera da segunda parte da lição de bom comportamento.
Os intermediários foram e regressaram, finalmente Tereza viu a luz do dia, foi retirada da cafua.
Amadeu Mestre Jegue a recebeu na porta da Central e a conduziu aos aposentos de Vavá, onde Taviana, outra a movimentar conhecimentos e amizades, esperava, o coração aos saltos. Tereza perdera um pouco de cor e emagrecera muito. Nas coxas e nos peitos restavam marcas dos maus -tratos, tinha sido para valer. No mais, risonha, grata, satisfeita com a briga, Tereza do Balaio Fechado. (click na imagem)
Episódio Nº 299
Já os navios norte-americanos haviam abandonado o porto da Bahia onde haviam permanecido três dias e três noites levando em seu bojo as últimas esperanças da vitalina Veralice de ser estuprada por ianque loiro de indomável estrovenga; já a velhíssima Vovó, devota e bochincheira fora esquecida na vala comum do cemitério das Quintas: já desaparecera das páginas dos jornais o polémico assunto do balaio fechado – e ainda permanecia Tereza na cana.
Nem sequer o pintor Jenner Augusto, com prestígio junto de algumas personalidades do governo, conseguiu libertá-la.
Posto a par do assunto ele se movimentou – e muito. Não somente ele mas também os demais artistas para quem ela posara de modelo e dos quais se fizera amiga. Promessas e mais promessas: hoje mesmo será solta, vá descansado. Pura conversa mole. Refém pessoal do investigador Nicolau Ramada Júnior, presa à sua ordem e disposição, devia continuar no xelindró até à volta do herói da Barroquinha até à plena actividade funcional e sexual, completamente reposto da inchação nos quibas.
Não se satisfizera ele com o espancamento na noite de baderna. Embora surra para valer, quatro homens se revezando no porrete, dela Peixe Cação participara em termos, os ovos doíam-lhe por demais, impedindo uma perfomance à altura. Não só queria voltar a bater, agora com as forças restauradas, mas sobretudo dela dispor à sua mercê, sem possibilidades de defesa, para fazê-la engolir o insulto gritado no Flor de Lotus, pondo-se nela, enrabando-a, fazendo-a chupar, lamber-lhe os bagos.
O pintor terminou por retar-se com tanta tapeação e adiamento, entregou a solução do assunto a um advogado amigo, doutor António Luís Calmon Teixeira, nas rodas de pesca submarina o recordista Chiquinho.
Caso de “habeas corpus”, entendeu o bacharel, mas quando ia a dirigir-se à justiça, eis que Tereza foi solta e logo várias autoridades reclamaram as palmas da vitória, o reconhecimento dos amigos da moça, todos se declarando responsáveis pela ordem de soltura.
Em verdade, a libertação de Tereza deveu-se a Vavá. Também ele se pusera em campo fazendo-o da maneira justa; entrou em contacto com a própria polícia de costumes. Espalhou um bocado de dinheiro, mas quem engoliu a bolada grande foi o comissário Labão, negociando no leito de dor, as pernas engessadas estendidas para cima, sessenta dias previsto naquela posição, disposto a diminuir de qualquer forma o prejuízo resultante do fracasso da maldita empresa turística.
Pediu alto para esquecer os agravos de Vavá e ordenar a libertação da arruaceira: no cálculo do preço teve em conta o facto da tipa estar presa na condição de espólio de guerra de um colega e amigo. Vavá pagou sem discutir.
Pagou sem discutir, pagou por amor e sem esperança, pois Exu voltara a repetir, após retornar ao peji em meio à obrigação festiva, não ser Tereza pitéu para o bico do aleijado.
Além disso, ele tomara informações e soubera de Almério das Neves nas encolhas, e de mestre Januário Gereba sumido no oceano. Nem assim a abandonou na cadeia a apodrecer, à espera da segunda parte da lição de bom comportamento.
Os intermediários foram e regressaram, finalmente Tereza viu a luz do dia, foi retirada da cafua.
Amadeu Mestre Jegue a recebeu na porta da Central e a conduziu aos aposentos de Vavá, onde Taviana, outra a movimentar conhecimentos e amizades, esperava, o coração aos saltos. Tereza perdera um pouco de cor e emagrecera muito. Nas coxas e nos peitos restavam marcas dos maus -tratos, tinha sido para valer. No mais, risonha, grata, satisfeita com a briga, Tereza do Balaio Fechado. (click na imagem)
INFORMAÇÕES ADICIONAIS
À ENTREVISTA Nº 33 SOBRE O TEMA:
“A BENÇÃO DE DEUS?” (4)
A História de Job
Cerca de 500 anos antes de Jesus, um autor anónimo escreveu um dos livros mais sugestivos da Bíblia: o Livro de Job.
Conta a história de um homem bom, que foi vítima de todos os tipos de calamidades. As páginas do livro recolhem todas as perguntas para a sua dor, que ele considera absurda, injusta e imerecida.Na sua crise, Job enfrenta vários amigos que lhe fazem considerações piedosas, procurando que ele se resigne. Job não o faz e enfrenta Deus a quem considera, em última instância, responsável por todos os seus males.
A personalidade de Job, rebelde ao sofrimento, desafiando Deus, significou uma revolução no pensamento religioso de Israel. Muito antes de Job, acreditava-se que as punições e recompensas de Deus eram para todo o povo, para o colectivo. Mas, nos tempos de Job, o judaísmo já não era apenas a religião do povo, era também uma religião pessoal e como não havia uma ideia muito clara do que aconteceria depois da morte, acreditava-se, esperava-se, que todos na Terra recebessem a recompensa ou a punição por seus actos pessoais. O bom seria feliz, prosperaria. O mau acabaria em fracasso e sofrimentos.
O Livro de Job veio contradizer radicalmente estas ideias. O seu tema resume-se numa pergunta preocupante: Por que sofrem os bons, que sentido faz a dor dos inocentes? Por que são bem sucedidos os injustas? Mais ainda: Como explicar o mal no mundo, por que existe o mal no mundo?
Ao longo de 38 capítulos, e de todas as formas possíveis, Job levanta uma e outra vez as mesmas questões. A partir deste livro, a reflexão do povo de Israel sobre a dor e a responsabilidade individual mudou substancialmente.
Conta a história de um homem bom, que foi vítima de todos os tipos de calamidades. As páginas do livro recolhem todas as perguntas para a sua dor, que ele considera absurda, injusta e imerecida.Na sua crise, Job enfrenta vários amigos que lhe fazem considerações piedosas, procurando que ele se resigne. Job não o faz e enfrenta Deus a quem considera, em última instância, responsável por todos os seus males.
A personalidade de Job, rebelde ao sofrimento, desafiando Deus, significou uma revolução no pensamento religioso de Israel. Muito antes de Job, acreditava-se que as punições e recompensas de Deus eram para todo o povo, para o colectivo. Mas, nos tempos de Job, o judaísmo já não era apenas a religião do povo, era também uma religião pessoal e como não havia uma ideia muito clara do que aconteceria depois da morte, acreditava-se, esperava-se, que todos na Terra recebessem a recompensa ou a punição por seus actos pessoais. O bom seria feliz, prosperaria. O mau acabaria em fracasso e sofrimentos.
O Livro de Job veio contradizer radicalmente estas ideias. O seu tema resume-se numa pergunta preocupante: Por que sofrem os bons, que sentido faz a dor dos inocentes? Por que são bem sucedidos os injustas? Mais ainda: Como explicar o mal no mundo, por que existe o mal no mundo?
Ao longo de 38 capítulos, e de todas as formas possíveis, Job levanta uma e outra vez as mesmas questões. A partir deste livro, a reflexão do povo de Israel sobre a dor e a responsabilidade individual mudou substancialmente.
terça-feira, janeiro 03, 2012
Bunquer Roy - Aprendendo com o Movimento dos Pés Descalços
Por que perdemos tanto tempo a ouvir "papagaios" e não havemos de utilizar 19 minutos a ouvir a palestra deste senhor indiano?... Por Quê?
Porque Somos Bons
(continuação)
Há cerca de sessenta milhões de anos, após o desaparecimento dos grandes dinossauros, pequenos animais que viviam nas florestas passaram a encontrar um espaço que até aí não dispunham.
Eram os antepassados dos mamíferos dos quais, hoje, nós somos os seus mais recentes representantes.
Nada aconteceu por acaso!
Muitos cientistas sustentam que o nosso sentido do certo e errado provem do nosso passado darwiniano.
Richard Dawkins apresenta, a este respeito, a sua versão:
- Em primeiro lugar temos os comportamentos de altruísmo e bondade para com os nossos parentes dos quais o carinho e a protecção que dispensamos aos nossos filhos é o exemplo mais óbvio mas longe de ser o único no mundo animal.
Cuidar dos parentes próximos para os defender, para os alertar contra os perigos ou partilhar com eles alimentos são comportamentos normais entre indivíduos que partilham cópias dos mesmos genes.
- Em segundo lugar temos um outro tipo de altruísmo para o qual existe uma sólida fundamentação lógica darwiniana que é o altruísmo recíproco (temos de ser uns para os outros).
Esta teoria trazida para a biologia por Robert Trivers não depende da partilha de genes e funciona até igualmente bem entre animais de espécie diferentes, sendo aí chamada de simbiose.
Trata-se do mesmo princípio que está na base de todo o comércio e das trocas entre os seres humanos.
O caçador precisa de uma lança e o ferreiro precisa de carne. É assimetria que medeia o acordo.
A abelha precisa de néctar e a flor de ser polinizada.
A selecção natural favorece os genes que predispõem os indivíduos, em relações de necessidade e oportunidade assimétricas, para darem quando podem e solicitarem quando não podem.
E favorece também as tendências para lembrar as obrigações, para guardar rancor, para fiscalizar as relações de troca e para punir os trapaceiros que recebem, mas que não dão quando chega a sua vez de o fazerem.
- Em terceiro lugar, os comportamentos altruístas favorecem o indivíduo que os pratica porque lhes permite ganhar fama de bondosos e generosos e essa reputação é importante e os biólogos reconhecem nela valor de sobrevivência darwiniana não só pelo facto de serem bons como também por alimentarem essa reputação.
Há cerca de sessenta milhões de anos, após o desaparecimento dos grandes dinossauros, pequenos animais que viviam nas florestas passaram a encontrar um espaço que até aí não dispunham.
Eram os antepassados dos mamíferos dos quais, hoje, nós somos os seus mais recentes representantes.
Nada aconteceu por acaso!
Muitos cientistas sustentam que o nosso sentido do certo e errado provem do nosso passado darwiniano.
Richard Dawkins apresenta, a este respeito, a sua versão:
- Em primeiro lugar temos os comportamentos de altruísmo e bondade para com os nossos parentes dos quais o carinho e a protecção que dispensamos aos nossos filhos é o exemplo mais óbvio mas longe de ser o único no mundo animal.
Cuidar dos parentes próximos para os defender, para os alertar contra os perigos ou partilhar com eles alimentos são comportamentos normais entre indivíduos que partilham cópias dos mesmos genes.
- Em segundo lugar temos um outro tipo de altruísmo para o qual existe uma sólida fundamentação lógica darwiniana que é o altruísmo recíproco (temos de ser uns para os outros).
Esta teoria trazida para a biologia por Robert Trivers não depende da partilha de genes e funciona até igualmente bem entre animais de espécie diferentes, sendo aí chamada de simbiose.
Trata-se do mesmo princípio que está na base de todo o comércio e das trocas entre os seres humanos.
O caçador precisa de uma lança e o ferreiro precisa de carne. É assimetria que medeia o acordo.
A abelha precisa de néctar e a flor de ser polinizada.
A selecção natural favorece os genes que predispõem os indivíduos, em relações de necessidade e oportunidade assimétricas, para darem quando podem e solicitarem quando não podem.
E favorece também as tendências para lembrar as obrigações, para guardar rancor, para fiscalizar as relações de troca e para punir os trapaceiros que recebem, mas que não dão quando chega a sua vez de o fazerem.
- Em terceiro lugar, os comportamentos altruístas favorecem o indivíduo que os pratica porque lhes permite ganhar fama de bondosos e generosos e essa reputação é importante e os biólogos reconhecem nela valor de sobrevivência darwiniana não só pelo facto de serem bons como também por alimentarem essa reputação.
TEREZA
BATISTA
CANSADA
DE
GUERRA
Episódio Nº 298
“Explicar, não explico, só lhe contei porque me rogou, com insistência e um chofer de táxi tem obrigação de tratar bem a freguesia conversando e comentando para fazer a corrida mais maneira. Quem no mundo pensa tudo explicar, trocando em miúdo cada facto, prendendo a vida nas cancelas das teorias, é apenas, me desculpe o amigo, um falso materialista, um sábio de meia-tijela, um caga-regras, historiador de voo curto, um tolo.
Para terminar some mais um despropósito aos muitos que ouviu, sucedeu comigo, Edgar Rogaciano Ferreira conhecido em toda a praça da Bahia por sério e inimigo de patranhas. Já lhe disse como vi naquela noite o pedestal da estátua do poeta Castro Alves, na praça do mesmo nome, onde faço ponto.
Pois, ao acordar novamente, bem mais tarde, à passagem dos carros da polícia conduzindo o mulherio preso no fim da briga, tendo levantado os olhos para o monumento, o que vejo? A estátua do poeta em seu lugar de sempre, o braço estendido para o mar e na mão um cartaz rasgado com figuras de mulheres e palavras sem sentido, todo o poder às putas, já pensou? E agora saia dessa se puder, o caro amigo. Boa noite eu lhe desejo, tome cuidado com Exu.”
65
O dia seguinte foi de festa na zona. Às doze horas as mulheres da Barroquinha romperam a aleluia, abriram os balaios. As raparigas presas na véspera começaram a ser soltas a partir da madrugada, também os boémios com elas solidários no bar e na cadeia.
Pela manhã, o velho Hipólito Sardinha, chefe da grande firma imobiliária, incorporadora do monumental conjunto turístico Parque Baía de Todos os Santos, foi visto entre as ruínas dos sobradões da Ladeira do Bacalhau, devorados pelo fogo.
Trouxera consigo o principal advogado da empresa, um mestre do direito, um papa-questões. O fogo evitara o gasto da demolição mas impedira a renda dos alugueis durante dois anos às prostitutas: boas inquilinas, pagam caro e não atrasa. Ainda assim talvez não haja prejuízo a lamentar e se venha a obter algum lucro. O ilustre causídico e o velho patrão encontram-se de acordo na caracterização indiscutível da responsabilidade civil do Estado no incêndio em virtude da incúria na preservação da ordem pública.
Fazendo os casarões parte da zona do meretrício, palco de arruaça e sediação contínuas durante a tarde e a noite do balaio fechado, foram incendiados em consequência, cabendo ao estado pagar os prejuízos aos proprietários, vítimas da incapacidade das autoridades responsáveis.
Assim, nada se perdeu com o incêndio dos sobrados, além da pouca valia do Cincinato Gato Preto de pescoço aberto à navalha, carbonizado em fogueira de maconha. Prejuízo mesmo, só o da erva desperdiçada.
Presa continuou apenas Tereza Batista. Mesmo se decidissem soltá-la com as demais teria sido impossível. Após a visita de Peixe Cação, não se encontrava ela em estado de sair à rua.
Apesar de estar fora de forma, devido á persistente dor nos ovos, o paternal polícia não se reduziu a comandar os espancadores. Participou também, pessoalmente.
66
Desesperado, Almério das Neves mexeu com deus e o mundo, para soltar Tereza. Andou de ceca em meca nos dias seguintes à agitada noite do bafatá, da batalha do Pelourinho. (click na imagem)
Episódio Nº 298
“Explicar, não explico, só lhe contei porque me rogou, com insistência e um chofer de táxi tem obrigação de tratar bem a freguesia conversando e comentando para fazer a corrida mais maneira. Quem no mundo pensa tudo explicar, trocando em miúdo cada facto, prendendo a vida nas cancelas das teorias, é apenas, me desculpe o amigo, um falso materialista, um sábio de meia-tijela, um caga-regras, historiador de voo curto, um tolo.
Para terminar some mais um despropósito aos muitos que ouviu, sucedeu comigo, Edgar Rogaciano Ferreira conhecido em toda a praça da Bahia por sério e inimigo de patranhas. Já lhe disse como vi naquela noite o pedestal da estátua do poeta Castro Alves, na praça do mesmo nome, onde faço ponto.
Pois, ao acordar novamente, bem mais tarde, à passagem dos carros da polícia conduzindo o mulherio preso no fim da briga, tendo levantado os olhos para o monumento, o que vejo? A estátua do poeta em seu lugar de sempre, o braço estendido para o mar e na mão um cartaz rasgado com figuras de mulheres e palavras sem sentido, todo o poder às putas, já pensou? E agora saia dessa se puder, o caro amigo. Boa noite eu lhe desejo, tome cuidado com Exu.”
65
O dia seguinte foi de festa na zona. Às doze horas as mulheres da Barroquinha romperam a aleluia, abriram os balaios. As raparigas presas na véspera começaram a ser soltas a partir da madrugada, também os boémios com elas solidários no bar e na cadeia.
Pela manhã, o velho Hipólito Sardinha, chefe da grande firma imobiliária, incorporadora do monumental conjunto turístico Parque Baía de Todos os Santos, foi visto entre as ruínas dos sobradões da Ladeira do Bacalhau, devorados pelo fogo.
Trouxera consigo o principal advogado da empresa, um mestre do direito, um papa-questões. O fogo evitara o gasto da demolição mas impedira a renda dos alugueis durante dois anos às prostitutas: boas inquilinas, pagam caro e não atrasa. Ainda assim talvez não haja prejuízo a lamentar e se venha a obter algum lucro. O ilustre causídico e o velho patrão encontram-se de acordo na caracterização indiscutível da responsabilidade civil do Estado no incêndio em virtude da incúria na preservação da ordem pública.
Fazendo os casarões parte da zona do meretrício, palco de arruaça e sediação contínuas durante a tarde e a noite do balaio fechado, foram incendiados em consequência, cabendo ao estado pagar os prejuízos aos proprietários, vítimas da incapacidade das autoridades responsáveis.
Assim, nada se perdeu com o incêndio dos sobrados, além da pouca valia do Cincinato Gato Preto de pescoço aberto à navalha, carbonizado em fogueira de maconha. Prejuízo mesmo, só o da erva desperdiçada.
Presa continuou apenas Tereza Batista. Mesmo se decidissem soltá-la com as demais teria sido impossível. Após a visita de Peixe Cação, não se encontrava ela em estado de sair à rua.
Apesar de estar fora de forma, devido á persistente dor nos ovos, o paternal polícia não se reduziu a comandar os espancadores. Participou também, pessoalmente.
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Desesperado, Almério das Neves mexeu com deus e o mundo, para soltar Tereza. Andou de ceca em meca nos dias seguintes à agitada noite do bafatá, da batalha do Pelourinho. (click na imagem)
INFORMAÇÔES ADICIONAIS
À ENTREVISTA Nº 33 SOBRE O TEMA:
“A BENÇÃO DE DEUS?” (3)
“A BENÇÃO DE DEUS?” (3)
Parar de Sofrer
A "teologia da prosperidade" foi lançada em massa na América Latina pelas igrejas neo-pentecostais evangélicas. Activamente e com enormes recursos financeiros tem defendido a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), um grupo fundado em 1977 no Brasil por Edir Macedo Bezerra.
Depois de concluir neste país enormes de templos, a IURD espalhou-se em todos os países da América Latina e do mundo, sendo característica deste grupo a transformação de cinemas em templos religiosos. Em alguns países, a organização mudou seu nome chamando-se também "oração forte ao Espírito Santo", "Comunidade Cristã do Espírito Santo" ou "Arca Universal".
A "teologia da prosperidade" foi lançada em massa na América Latina pelas igrejas neo-pentecostais evangélicas. Activamente e com enormes recursos financeiros tem defendido a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), um grupo fundado em 1977 no Brasil por Edir Macedo Bezerra.
Depois de concluir neste país enormes de templos, a IURD espalhou-se em todos os países da América Latina e do mundo, sendo característica deste grupo a transformação de cinemas em templos religiosos. Em alguns países, a organização mudou seu nome chamando-se também "oração forte ao Espírito Santo", "Comunidade Cristã do Espírito Santo" ou "Arca Universal".
Várias associações destinadas a um público especializado integram também a IURD. Entre eles, A Igreja Sara Nossa Terra e do Evangelho Pleno de Associação, que capturam os fiéis entre as elites políticas e económicas e os Atletas de Cristo, que captura os atletas.
A IURD também é conhecida pelo nome de seus programas na rádio e televisão "Pare de Sofrer". A IURD declara-se cristã, evangélica e pente-costal, mas, praticamente todas as organizações evangélicas e pente-costais, a rejeitam. É essencial no seu "credo" o pagamento dos dízimos, a luta contra os demónios, a crença em milagres e o uso de objectos "sagrados" para entrar em contacto com a divindade.
Nos seus templos e programas de rádio e de televisão vendem todos os tipos de amuletos: pedras da tuesus, a milagrosa rosa de Jericó, a água benta do rio Jordão, sal abençoado pelo Espírito Santo, azeite de Israel… investigações realizadas a partir de vários países e a escuta atenta das mensagens deste grupo rapidamente levam à conclusão de que se trata de um grande negócio e de uma fraude cometida sobre pessoas incautas, necessitadas e desesperadas, levadas pelas suas crises financeiras e emocionais a expectativas ilusórias e a um fanatismo irreal e irracional.
segunda-feira, janeiro 02, 2012
Um cão velho e com olhar cansado andava pela rua e entrou no meu jardim. Eu pude ver, pela coleira e pelo brilho do seu pêlo, que era bem alimentado e bem cuidado.
Ele aproximou-se calmamente de mim e devo ter-lhe dado confiança. Então seguiu-me e entrou em minha casa. Passou pela sala, entrou no corredor, deitou-se num cantinho e dormiu.
Uma hora depois foi para a porta e eu deixei-o sair.
No dia seguinte voltou. Fez-me uma festinha no jardim, entrou em minha casa e novamente dormiu cerca de uma hora no cantinho do corredor. Isso repetiu-se por várias semanas.
Curioso, coloquei um bilhete na sua coleira: "Gostaria de saber quem é o dono deste lindo e amável animal, e perguntar se sabe que ele vem até minha casa todas as tardes para dormir uma soneca."
Ele aproximou-se calmamente de mim e devo ter-lhe dado confiança. Então seguiu-me e entrou em minha casa. Passou pela sala, entrou no corredor, deitou-se num cantinho e dormiu.
Uma hora depois foi para a porta e eu deixei-o sair.
No dia seguinte voltou. Fez-me uma festinha no jardim, entrou em minha casa e novamente dormiu cerca de uma hora no cantinho do corredor. Isso repetiu-se por várias semanas.
Curioso, coloquei um bilhete na sua coleira: "Gostaria de saber quem é o dono deste lindo e amável animal, e perguntar se sabe que ele vem até minha casa todas as tardes para dormir uma soneca."
No dia seguinte ele chegou para a sua habitual soneca, com um outro bilhete na coleira: "Ele mora numa casa com 6 crianças, 2 das quais têm menos de 3 anos - provavelmente ele está tentando descansar um pouco.
Posso ir com ele amanhã???
Posso ir com ele amanhã???
PORQUE SOMOS BONS
(continuação)
Estas cartas rancorosas, de que esta é apenas um exemplo, são mais comuns na América do Norte provenientes de pessoas afectas a Igrejas de Cristo e a Seitas que proliferam por todos os EUA, mas a carta que se segue, de Maio de 2005, é de um médico inglês e foi dirigida a Richard Dawkins.
Depois de uns parágrafos introdutórios a denunciar a evolução e a incitar o autor a ler um livro que defende que o mundo tem apenas 8.000 anos (será que ele pode mesmo ser médico?) conclui:
Os seus livros, o prestígio de que goza em Oxford, tudo o que ama na vida, e tudo aquilo que alcançou são um exercício de total futilidade…A interpeladora pergunta de Camus torna-se inescapável: porque não cometemos todos suicídio? Na verdade, a sua visão do mundo tem esse tipo de efeito sobre os estudantes e em muitas outras pessoas…que todos evoluímos por puro acaso, a partir do nada, e que a esse nada voltaremos. Mesmo que a religião não fosse verdadeira, é melhor, muito melhor acreditar num mito nobre, como o de Platão, se durante as nossas vidas ele conduzir à paz de espírito.
Mas a sua visão do mundo leva à ansiedade, à toxicodependência, à violência, ao niilismo, ao hedonismo, à ciência Frankenstein, ao inferno na Terra e à terceira guerra mundial. Pergunto-me quão feliz será o senhor nas suas relações pessoais? Divorciado? Viúvo? Homossexual? As pessoas como o senhor nunca são felizes, caso contrário não se esforçariam tanto para provar que não existe felicidade nem significado em nada.
Segundo este médico inglês o Darwinismo é intrinsecamente uma evolução ao acaso quando, a selecção natural, é precisamente o oposto de um processo casual.
A evolução acontece à custa de alterações genéticas que favorecem a sobrevivência da espécie e essa é a essência da selecção natural de Darwin.
Muitas vezes, a selecção natural conduz a “becos sem saída” e, nesses casos, a espécie extingue-se e esse foi o desfecho de todas aquelas que hoje estudamos sob a forma de fósseis.
Os grandes dinossauros que noutros tempos dominaram a vida sobre a Terra foram eliminados por alterações drásticas e bruscas que lhes retiraram totalmente as possibilidades de sobrevivência tendo-se então aberto caminho para a evolução de ootras espécies que até aí não tinham espécies de evoluir.
Depois de uns parágrafos introdutórios a denunciar a evolução e a incitar o autor a ler um livro que defende que o mundo tem apenas 8.000 anos (será que ele pode mesmo ser médico?) conclui:
Os seus livros, o prestígio de que goza em Oxford, tudo o que ama na vida, e tudo aquilo que alcançou são um exercício de total futilidade…A interpeladora pergunta de Camus torna-se inescapável: porque não cometemos todos suicídio? Na verdade, a sua visão do mundo tem esse tipo de efeito sobre os estudantes e em muitas outras pessoas…que todos evoluímos por puro acaso, a partir do nada, e que a esse nada voltaremos. Mesmo que a religião não fosse verdadeira, é melhor, muito melhor acreditar num mito nobre, como o de Platão, se durante as nossas vidas ele conduzir à paz de espírito.
Mas a sua visão do mundo leva à ansiedade, à toxicodependência, à violência, ao niilismo, ao hedonismo, à ciência Frankenstein, ao inferno na Terra e à terceira guerra mundial. Pergunto-me quão feliz será o senhor nas suas relações pessoais? Divorciado? Viúvo? Homossexual? As pessoas como o senhor nunca são felizes, caso contrário não se esforçariam tanto para provar que não existe felicidade nem significado em nada.
Segundo este médico inglês o Darwinismo é intrinsecamente uma evolução ao acaso quando, a selecção natural, é precisamente o oposto de um processo casual.
A evolução acontece à custa de alterações genéticas que favorecem a sobrevivência da espécie e essa é a essência da selecção natural de Darwin.
Muitas vezes, a selecção natural conduz a “becos sem saída” e, nesses casos, a espécie extingue-se e esse foi o desfecho de todas aquelas que hoje estudamos sob a forma de fósseis.
Os grandes dinossauros que noutros tempos dominaram a vida sobre a Terra foram eliminados por alterações drásticas e bruscas que lhes retiraram totalmente as possibilidades de sobrevivência tendo-se então aberto caminho para a evolução de ootras espécies que até aí não tinham espécies de evoluir.
Uma noite, depois de alguns anos de casados, o casal está na cama quando a mulher sente que o seu marido começa a acariciá-la como não fazia há muito tempo.
Ele começou no pescoço, desceu pelo dorso até às nádegas; voltou ao pescoço, aos ombros, aos seios e parou na barriga; colocou a mão na parte interna do braço esquerdo, passou no seio, na nádega, na perna esquerda até o pé, subiu na parte interna da coxa e parou bem em cima da perna.
Fez a mesma coisa na parte direita e, de repente, vira-se de costas e não fala uma palavra.
A esposa, diz-lhe carinhosamente:
- Querido, estava maravilhoso, porque paraste?
Ele resmungando:
- Já encontrei o comando.
Fez a mesma coisa na parte direita e, de repente, vira-se de costas e não fala uma palavra.
A esposa, diz-lhe carinhosamente:
- Querido, estava maravilhoso, porque paraste?
Ele resmungando:
- Já encontrei o comando.
TEREZA
BATISTA
CANSADA
DE
GUERRA
Episódio Nº 297
Parte a carga de cavalaria, dissolve-se a procissão, os guardas baixam os cassetetes, os investigadores apontam os revólveres. A imagem de Santo Onofre fica depositada no chão, em pé. Ao lado, Vovó continua a puxar a ladainha. Tem pelo menos cem anos de idade e mil de puta. Basta ver-lhe as rugas, a cara chocha, a boca sem dentes, mas ainda gosta de brigar e de louvar os santos:
Ave, ave Maria
Ave, ave Maria
O comissário Labão corre para fazê-la calar-se, tropeça num buraco, tomba, rola, não se levanta. Mesmo caído, atira, a velha emudece, o canto cessa, o silêncio cobre a praça inteira.
Junto da imagem do santo o corpo pequeno e gasto de vovó; morreu rezando, morreu brigando, morreu contente.
Tiras acodem ao comissário, ajudam-no a erguer-se, mas ele não consegue firmar-se de pé, partidos os ossos das duas pernas.
O investigador Alírio, apavorado, joga-se no chão, bate a cabeça nas pedras, bem ele avisara: comissário, não seja doido, não toque em Exu.
Os carros rumam para o edifício central, lotados de presos, mulheres e boémios, praticamente a zona inteira foi de cana. No comando da limpeza final ainda permanece alguns minutos o investigador Peixe Cação. Mas tem pressa, no depósito, bem guardada, Tereza Batista espera.
Mais uma vez tentarão ensinar-lhe o respeito e a obediência. Peixe Cação esfrega as mãos, em noite de tanto descalabro uma alegria.
63
Quando os marinheiros americanos chegam ao centro da zona, ao Largo do Pelourinho, à sombra dos casarões coloniais, na esperança de mulheres belas e alegres, encontram apenas uma, e essa é velha coroca, sem idade, imprestável mesmo se não estivesse morta, estendida ao lado de Santo Onofre, padroeiro das putas.
Ainda no pasmo da visão inesperada, recebem ordens estritas de retorno imediato e obrigatório aos navios: a cidade está em pânico. A festa fica transferida.
64
Milagres de mais na opinião do amigo, descrente dessas abusões. Orixás acontecendo a cada instante, encantamentos e magias. Velho de barbas e bordão surgindo de repente, a fechar os caminhos da polícia, a abrir portas de Igreja, poeta morto há cem anos salvando raparigas, Ogum Peixe Marinho infundindo confiança, Exu empurrando o revoltado comissário, fazendo-o estatelar-se, quebrando-lhe de vez as duas pernas, Santo Onofre zelando no deserto chão da zona o corpo de Vovó – para um materialista é dose bruta, o amigo deseja o relato da verdade pura e não feitiçarias.
Não discuto a conta feita pelo amigo, o número certo das intervenções indébitas, mas não se esqueça que o caso se deu na cidade da Bahia, situada no oriente do mundo, terra de esconjuros e oboés. Aqui, meu prezado, os absurdos são o pão de cada dia desse povo incapaz de inventar uma mentira ainda mais a propósito de assunto tão mexido.
Me diga o distinto, por favor: como seria possível a putas, sem tostão, sem armas e sem leitura, enfrentar a polícia e ganhar do balaio fechado se não contassem com a ajuda de santos e orixás, de feiticeiros e poetas? O que teria sido delas me responde, se para tanto tem competência e fantasia. (click na imagem)
INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES
À ENTREVISTA Nº 33 SOBRE O TEMA:
“A BENÇÃO DE DEUS” (2)
(continuação)Há grande preocupação entre as igrejas protestantes históricas perante a avalanche das igrejas neo-pentecostais, que são sempre acompanhadas da teologia da prosperidade. Como antídoto simples contra esta "teologia" o ‘pastor baptista dos EUA, Calvin George oferece, por exemplo, estas reflexões num de seus textos na Internet:
- "Há muitas coisas que o dinheiro não pode comprar. O dinheiro vai comprar uma cama, mas não o sono, livros, mas não a sabedoria, a comida, mas não o apetite, ornamentos, mas não a beleza, a atenção mas não o amor, uma casa, mas não um lar, um relógio mas não o tempo, a medicina, mas não a saúde, o luxo mas não a cultura, admiração, mas não o respeito, divertimento mas não a felicidade, um crucifixo mas não um Salvador. "
- "Há muitas coisas que o dinheiro não pode comprar. O dinheiro vai comprar uma cama, mas não o sono, livros, mas não a sabedoria, a comida, mas não o apetite, ornamentos, mas não a beleza, a atenção mas não o amor, uma casa, mas não um lar, um relógio mas não o tempo, a medicina, mas não a saúde, o luxo mas não a cultura, admiração, mas não o respeito, divertimento mas não a felicidade, um crucifixo mas não um Salvador. "
domingo, janeiro 01, 2012
HOJE É
DOMINGO
Memórias…
Um homem sem memória e sem recordações, sem acesso ao seu passado é como um balão vazio, um saco amarfanhado esquecido no chão do tempo.
É este o grande desafio da velhice, não as doenças ou a morte que está certa, mas antes manter vivo dentro de si aquilo que foi o seu passado ou pelo menos apontamentos dele que a nossa memória, gentilmente, nos oferece muitos anos depois de os termos vivido:
- “Nosso Alferes”, disse-me o capitão, comandante de Companhia, “temos informações do Comando de Batalhão que amanhã, um importante chefe terrorista vai deslocar-se para a nossa zona de actuação, vindo do Norte de Angola, da região de Nanbuangogo, atravessando a estrada do Úcua / Quibaxe. O nosso Alferes vai com os seus homens emboscar a estrada para o interceptar.”
Estávamos sensivelmente a meio do primeiro semestre do ano de 1963 e a guerrilha contra as tropas portuguesas debatia-se com falta de quadros qualificados e estes guerrilheiros especializados que lideravam a população inexperiente e desmoralizada, fugida para a mata depois das represálias devastadoras do exército português, representavam uma séria ameaça para as nossas tropas.
A ordem recebida não era mais que uma tentativa vaga de resultados pouco credíveis, no fundo, uma satisfação para não se dizer que face àquela informação as tropas no terreno nada fizeram. Íamos esperar sentados, deitados no capim, escondidos, quem sabe se alguém, por acaso, iria passar a estrada à nossa vista?…
O local escolhido foi ao fundo de uma longa recta, a subir e antes da estrada virar para a direita. A visibilidade era boa, a estrada alcatroada e a esperança de ver alguém, espingarda nas mãos, a tentar atravessar à socapa, de um lado para o outro, parecia-me uma miragem…eram muitos os quilómetros em que a estrada podia ser atravessada e a informação, muito provavelmente, não passaria de uma “boca” para satisfazer ouvidos curiosos.
Instalámo-nos debaixo de uma árvore, pouco mais que um arbusto grande rodeado de capim seco suficientemente alto para nos proteger das vistas na posição de deitados… e ali ficámos um dia e uma noite até ao fim da tarde do segundo dia.
Pela primeira vez os papéis estavam invertidos, sensação estranha, tínhamos vantagem, éramos nós que emboscávamos… O silêncio instalou-se, o dia estava bom, apenas o sussurrar da brisa acariciando a vegetação, os soldados pensariam na família ou na namorada, nenhuma tensão, nenhum nervosismo, o nosso instinto dizia-nos que nada ia acontecer.
Para ocupar o tempo fixava o olhar estrada abaixo, para acompanhar com a vista alguma camioneta que se aventurava a uma possível emboscada pela necessidade de satisfazer a economia do café, estrebuchante depois do início da guerra, quase dois anos antes, quando muitas das roças foram provisoriamente abandonadas.
Os civis portugueses eram valentes, corajosos, frustraram os planos de Holden Roberto, líder do Movimento considerado terrorista da UPA (União dos Povos de Angola) que depois das selváticas mortandades ordenadas no norte de Angola sobre a população civil, negros, brancos, mulheres e crianças, em Março de 1961 não assistiu, como ele esperava, à debandada geral dos portugueses como tinha acontecido com os belgas em 1960.
Regressaram as mulheres e as crianças, essas sim… mas os homens puseram uma espingarda ao ombro e por lá ficaram convencidos de que aquela era a terra deles…
Primeiro, ouviu-se um zumbido longínquo que no silêncio da tarde ia pouco a pouco aumentando até começar a espreitar lá ao fundo da estrada. O motorista engrenava então uma mudança e a camioneta abrandava de velocidade e redobrava de esforço e barulho para vencer a subida.
À medida que se aproximava aumentava a nitidez com que víamos o condutor, percebíamos-lhe a tensão, as duas mãos agarrando firmemente o volante, o corpo debruçado para a frente como se nessa posição ajudasse o motor a subir a ladeira.
Umas semanas antes, um deles tinha sido atacado na estrada antes de chegar ao Úcua e a camioneta incendiada. Julguei que tivesse fugido ou sido levado pelos terroristas porque não vi ninguém na cabine até ao momento em que reparei num tição negro, no chão, junto aos pedais. Era o corpo carbonizado.
Teria gostado de enviar a este uma mensagem por telepatia: “descontrai-te, estamos a velar por ti, aqui, na beira da estrada, mais à frente não sabemos…”
Eram alvos indefesos à mercê de um qualquer atirador estrategicamente colocado. Conhecia bem essa sensação… tinha chegado no dia anterior à guerra, no norte de Angola, quando o capitão me mandou escoltar um civil na picada do Úcua para o Pango e pela primeira vez, em cima de um Unimog, mergulhei naquele mundo de verde em que o capim mais alto que um homem se abria para nos deixar passar, aos solavancos, à mercê dos buracos da picada como se a viatura fosse um simples barquito navegando em mar encapelado.
À nossa volta tudo era verde e dissimulado nele, milhões de olhos negros nos espiavam numa ameaça de morte. O medo foi tanto que gelava o olhar e petrificava os rostos. Por isso, compreendia bem aquele que devia ser o estado de espírito daquele homem que a meia dúzia de metros de onde eu estava escondido passava agora por mim segurando com frenesim, o volante da camioneta.
Dentro de poucas semanas, neste ano de 2012 que já entrou, vão fazer quarenta e nove anos sobre estes factos, por isso, termino como comecei:
- “Um homem sem recordações é como um balão vazio, um saco amarfanhado esquecido no chão do tempo…”
Bom Domingo e Bom Ano Novo.
DOMINGO
Memórias…
Um homem sem memória e sem recordações, sem acesso ao seu passado é como um balão vazio, um saco amarfanhado esquecido no chão do tempo.
É este o grande desafio da velhice, não as doenças ou a morte que está certa, mas antes manter vivo dentro de si aquilo que foi o seu passado ou pelo menos apontamentos dele que a nossa memória, gentilmente, nos oferece muitos anos depois de os termos vivido:
- “Nosso Alferes”, disse-me o capitão, comandante de Companhia, “temos informações do Comando de Batalhão que amanhã, um importante chefe terrorista vai deslocar-se para a nossa zona de actuação, vindo do Norte de Angola, da região de Nanbuangogo, atravessando a estrada do Úcua / Quibaxe. O nosso Alferes vai com os seus homens emboscar a estrada para o interceptar.”
Estávamos sensivelmente a meio do primeiro semestre do ano de 1963 e a guerrilha contra as tropas portuguesas debatia-se com falta de quadros qualificados e estes guerrilheiros especializados que lideravam a população inexperiente e desmoralizada, fugida para a mata depois das represálias devastadoras do exército português, representavam uma séria ameaça para as nossas tropas.
A ordem recebida não era mais que uma tentativa vaga de resultados pouco credíveis, no fundo, uma satisfação para não se dizer que face àquela informação as tropas no terreno nada fizeram. Íamos esperar sentados, deitados no capim, escondidos, quem sabe se alguém, por acaso, iria passar a estrada à nossa vista?…
O local escolhido foi ao fundo de uma longa recta, a subir e antes da estrada virar para a direita. A visibilidade era boa, a estrada alcatroada e a esperança de ver alguém, espingarda nas mãos, a tentar atravessar à socapa, de um lado para o outro, parecia-me uma miragem…eram muitos os quilómetros em que a estrada podia ser atravessada e a informação, muito provavelmente, não passaria de uma “boca” para satisfazer ouvidos curiosos.
Instalámo-nos debaixo de uma árvore, pouco mais que um arbusto grande rodeado de capim seco suficientemente alto para nos proteger das vistas na posição de deitados… e ali ficámos um dia e uma noite até ao fim da tarde do segundo dia.
Pela primeira vez os papéis estavam invertidos, sensação estranha, tínhamos vantagem, éramos nós que emboscávamos… O silêncio instalou-se, o dia estava bom, apenas o sussurrar da brisa acariciando a vegetação, os soldados pensariam na família ou na namorada, nenhuma tensão, nenhum nervosismo, o nosso instinto dizia-nos que nada ia acontecer.
Para ocupar o tempo fixava o olhar estrada abaixo, para acompanhar com a vista alguma camioneta que se aventurava a uma possível emboscada pela necessidade de satisfazer a economia do café, estrebuchante depois do início da guerra, quase dois anos antes, quando muitas das roças foram provisoriamente abandonadas.
Os civis portugueses eram valentes, corajosos, frustraram os planos de Holden Roberto, líder do Movimento considerado terrorista da UPA (União dos Povos de Angola) que depois das selváticas mortandades ordenadas no norte de Angola sobre a população civil, negros, brancos, mulheres e crianças, em Março de 1961 não assistiu, como ele esperava, à debandada geral dos portugueses como tinha acontecido com os belgas em 1960.
Regressaram as mulheres e as crianças, essas sim… mas os homens puseram uma espingarda ao ombro e por lá ficaram convencidos de que aquela era a terra deles…
Primeiro, ouviu-se um zumbido longínquo que no silêncio da tarde ia pouco a pouco aumentando até começar a espreitar lá ao fundo da estrada. O motorista engrenava então uma mudança e a camioneta abrandava de velocidade e redobrava de esforço e barulho para vencer a subida.
À medida que se aproximava aumentava a nitidez com que víamos o condutor, percebíamos-lhe a tensão, as duas mãos agarrando firmemente o volante, o corpo debruçado para a frente como se nessa posição ajudasse o motor a subir a ladeira.
Umas semanas antes, um deles tinha sido atacado na estrada antes de chegar ao Úcua e a camioneta incendiada. Julguei que tivesse fugido ou sido levado pelos terroristas porque não vi ninguém na cabine até ao momento em que reparei num tição negro, no chão, junto aos pedais. Era o corpo carbonizado.
Teria gostado de enviar a este uma mensagem por telepatia: “descontrai-te, estamos a velar por ti, aqui, na beira da estrada, mais à frente não sabemos…”
Eram alvos indefesos à mercê de um qualquer atirador estrategicamente colocado. Conhecia bem essa sensação… tinha chegado no dia anterior à guerra, no norte de Angola, quando o capitão me mandou escoltar um civil na picada do Úcua para o Pango e pela primeira vez, em cima de um Unimog, mergulhei naquele mundo de verde em que o capim mais alto que um homem se abria para nos deixar passar, aos solavancos, à mercê dos buracos da picada como se a viatura fosse um simples barquito navegando em mar encapelado.
À nossa volta tudo era verde e dissimulado nele, milhões de olhos negros nos espiavam numa ameaça de morte. O medo foi tanto que gelava o olhar e petrificava os rostos. Por isso, compreendia bem aquele que devia ser o estado de espírito daquele homem que a meia dúzia de metros de onde eu estava escondido passava agora por mim segurando com frenesim, o volante da camioneta.
Dentro de poucas semanas, neste ano de 2012 que já entrou, vão fazer quarenta e nove anos sobre estes factos, por isso, termino como comecei:
- “Um homem sem recordações é como um balão vazio, um saco amarfanhado esquecido no chão do tempo…”
Bom Domingo e Bom Ano Novo.