sábado, julho 26, 2008


Manuela Ferreira Leite


A propósito do périplo internacional de Sócrates diz Manuela Ferreira Leite:

- Veremos o que vem aí. Gostaria mais de o ver em périplo pelo país a apoiar as PME, que são o coração da nossa economia.

A Dr.ª Manuela Ferreira Leite é a líder do maior partido da oposição, recém eleita para o cargo numa disputa apertada com mais dois companheiros de partido e, por isso, tem toda a legitimidade para fazer as críticas e as apreciações que entender mais correctas ao líder do PS e 1º Ministro.

Mas, relativamente a esta “farpa” ao trabalho de José Sócrates, a vontade que eu sinto e julgo, a maior parte dos cidadãos deste país, era perguntar-lhe que raio é que ele ia fazer em périplo por todo o país a apoiar as PME?

Iria levar-lhes subsídios, diminuir-lhes o IRC, baixar-lhes a sua percentagem no montante dos descontos para a Segurança Social, ou apenas cumprimentá-los e dar-lhes uma palmadinha nas costas com umas palavras de estímulo à mistura?

Como o país não está em condições, pelo menos neste momento e ela própria também parece reconhecê-lo, de baixar impostos, diminuir as receitas da S. Social e atribuir subsídios às empresas, este périplo por todo o país que Manuela Ferreira Leite preconiza, seria de uma completa inutilidade para além do desperdício de tempo e dinheiro para não lhe chamar de ridículo.

Os líderes da oposição com este tipo de críticas desprestigiam-se e caem no descrédito das pessoas, independentemente de serem deste ou daquele partido, porque se há decisões ou comportamentos do governo que podem merecer o nosso desacordo ou deixarem-nos dúvidas sobre o seu acerto este, de se esfalfarem em viagens para junto dos governantes de outros países conseguir que eles nos comprem mais, invistam mais ou abram as suas portas aos investimentos das nossas empresas, só pode ser merecedor do nosso aplauso.

Uma das imagens de marca da nova líder do PSD e que esteve na base da sua escolha foi o seu aspecto de pessoas séria, pouco dada a tiradas demagógicas e populistas mas esta sua opção por uma voltinha ao país para apoio às PME pelo menos não é coisa para se levar a sério.

No mesmo jornal em que ela, numa longa entrevista, produz esta afirmação, a notícia da primeira página é de que Portugal ganha “jackpot” por ter conseguido um investimento em Évora para o fabrico de componentes de avião em resultado de conversações iniciadas por José Sócrates, há dois anos, numa visita à empresa Embraer, no Brasil.

Esta empresa Embraer é a terceira maior do mundo no fabrico de aviões, logo a seguir à Boeing e Airbus e o investimento que vai fazer em Évora equipara-se, pela dimensão e importância tecnológica, aos da AutoEuropa e da Wollkswagen em Palmela.


Na próxima 4ªfeira, Sócrates recebe a visita de Craig Barret, presidente da Intel, um dos parceiros de um novo consórcio para a instalação, no norte, de uma fábrica que aproveitando as competências existentes nas universidades do Minho, Porto e Aveiro, irá produzir computadores pessoais de baixo custo que se destinam ao mercado interno e que têm também já garantidos os mercados da Venezuela e da Líbia na sequencia das visitas de Sócrates a Hugo Chavez e ao Coronel Muammar Kadafi, mais uma vez por troca com o tal périplo pelo país de apoio às PME que era a opção de Manuela F. Leite.

Estes e muitos outros negócios nesta fase de grandes dificuldades virão a ter, no curto e médio prazo, uma importância crucial na criação de emprego de qualidade e na produção de riqueza exportável com um enorme grau de incorporação de mais valias resultantes da inteligência dos nossos trabalhadores especializados.

Esta, a revolução que era necessária introduzir no nosso tecido económico em substituição do trabalho mecânico e deprimente das mulheres nas fábricas de montagem de vestuário e calçado produzido às ordens de empresas estrangeiras, quando lhes convinha e só possível pelos baixos preços que eram pagos às trabalhadoras.

José Sócrates e uma boa parte dos seus ministros têm sido os impulsionadores e agentes de uma diplomacia de agressividade económica jamais vista em qualquer outro governo… e em boa hora.

Não querer ver nem reconhecer este esforço, nem admitir a importância que ele tem para o nosso futuro, não só é injusto como é, igualmente, uma forma perigosa de demagogia.

Compreendo perfeitamente que não cabe à líder da oposição fazer elogios à acção governativa mesmo quando até seria justo fazê-lo mas, realmente, não é esse o seu papel contudo, por favor, não mande o 1º Ministro, de preferência, em périplo pelo país dar palavras de estímulo e palmadinhas nas costas dos empresários das PME(s) porque , se assim for, levantar-se-á aos cidadãos deste país um novo problema: em quem votar quando José Sócrates se reformar?

quinta-feira, julho 24, 2008


Ainda a Esmeralda



A decisão de 23 deste mês da juíza do Tribunal de Torres Novas de suspender a entrega da Esmeralda ao pai biológico constitui a última etapa, que não a derradeira, de toda a saga que tem sido a vida da Esmeralda e dos seus pais afectivos e efectivos desde os 3 meses de idade.

E se alguma moral se pode já tirar desta história é a de que as crianças são concebidas para serem amadas, por imperativo da natureza, a mandado dos nossos genes e não para serem disputadas em Tribunais entre juízes e advogados ao sabor das leis e dos códigos, das interpretações a que eles sempre estão sujeitos e à mercê das disposições e indisposições de quem tem o poder de decidir, como se fossem uma qualquer propriedade.

Toda a vida desta criança que amanhã será mulher e eventualmente mãe de uma menina como ela é hoje, está definitivamente marcada por esta dolorosa e atribulada experiência e alguém é especialmente responsável, por falta de uma elementar sensibilidade, por todo o mal que lhe tem sido causado.

Os direitos de paternidade não se podem chocar desta forma violenta e traumática contra uma criança que sempre viu naquele homem e naquela mulher o seu pai e a sua mãe, que não a roubaram ou raptaram, antes a receberam dos braços da mãe biológica para a cuidarem melhor do que ela o poderia fazer e isto quando ainda nem se sabia quem era o pai que aparecendo mais tarde, deveria ter sido o primeiro, se amasse verdadeiramente a filha, a entender que a estabilidade emocional da criança era muito mais importante do que os seus direitos de pai biológico.

Faltou-lhe essa sensibilidade e agora, ganhe ou perca nos Tribunais, a relação com a sua filha está definitivamente comprometida para o resto da vida.

Esta é uma história séria e triste mas que nada impede que possa ser abordada com sarcasmo e ironia porque tudo quanto aos homens diz respeito, por mais sério e triste que seja, tem sempre uma face irónica e o humor sarcástico funciona como a última e mais poderosa crítica ao comportamento humano.

De João Miguel Tavares do jornal Diário de Notícias a transcrição de uma suposta entrevista telefónica à Esmeralda efectuada no passado dia 22:

- Então, Esmeralda, que dizes tu desta decisão da Pedopsiquiatria de Santarém, que garante não estares pronta para ires viver com o teu pai biológico?

Acho mal. Eu própria expliquei aos médicos que seis anos no mesmo sítio são demasiado tempo. Se uma criança não muda, acaba por estagnar: sempre o mesmo quarto, sempre a mesma cama, sempre os mesmos brinquedos, sempre o mesmo papel na parede. É um aborrecimento. Mas eles não me quiseram ouvir.

Quer dizer que por ti já estavas em casa do Baltazar?

Obviamente. Quem é que sabe o que é melhor para mim?

Duas equipas de médicos especializados e 99% da população portuguesa ou um juiz? Um juiz, claro. Além disso, repare bem, o Baltazar é muito mais giro que o sargento – alto, elegante, olho azul. Que património genético é que você escolhia?

Os genes são importantes para ti?

Muito, muito. Chamo-lhe mesmo o “chamamento do espermatozóide”.

Se não fosse um espermatozóide do Baltazar, eu não existia e isso é uma coisa que uma criança sente bastante. Cada vez que vejo o Baltazar aproximar-se é como se esse espermatozóide começasse a abanar a cauda. Fico com um nervoso cá dentro…

Os especialistas dizem que é ansiedade. Garantem que até estás a tomar comprimidos para dormires melhor.

Sim, mas isso nada tem a ver com o Baltazar. Isso é por causa dos filmes que o sargento me põe a ver. A Branca de Neve a morder a maçã envenenada, a madrasta da Cinderela a enfiá-la na torre, o Nemo quase a morrer na pia do dentista…

São coisas que dão cabo dos nervos de uma criança. Mudar de pai é como o outro.

Então não estás zangada com a demora da justiça em resolver o teu caso?

Ó, claro que não. Ainda sou nova, tenho muitos anos à minha frente. Esta coisa de não saber onde vou dormir amanhã até é emocionante. Sempre gostei de surpresas e o Tribunal de Torres Novas sabe disso. Aqueles juízes são uns brincalhões.

terça-feira, julho 22, 2008


Felizmente, há o Amor

Foi tudo tão rápido que ele quase que ouviu o click. Uma expressão do olhar, um aceno de cabeça, um sim envergonhado e ele ficou a saber que ela o amava.

Nessa noite, quando regressou a casa e meteu a chave à porta a mão tremia-lhe de excitação, despiu-se atabalhoadamente com os sapatos a voarem cada um para seu lado e abrindo os braços, bem ao alto, exultante de alegria gritou eufórico: estou apaixonado!

E de seguida, uma e outra vez, em tom mais contido, como que falando para si próprio repetia, como se fosse possível duvidar dos seus próprios sentimentos: estou apaixonado!

Percorreu a sala de um lado para o outro, depois o resto da casa, sem propósito nem objectivo, apenas aquela impossibilidade de se fixar, de serenar o espírito, de travar a torrente de energia de que estava possuído.

Nessa noite mal conseguiu conciliar o sono e quase teve vontade de desafiar o sol para ver qual deles se levantaria primeiro.

No outro dia iriam almoçar juntos, seria o primeiro almoço de ambos, em boa verdade seria o primeiro almoço da sua vida.

Nunca tinha levado tanto tempo a arranjar-se, cada fase tinha sido executada minuciosa e cuidadosamente ao pormenor: o banho, a barba, o penteado… como era possível que todas aquelas operações feitas mecanicamente todos os dias durante tantos anos, naquela manhã, efectuadas com aquele rigor e solenidade, pareciam até estarem a ser executadas pela primeira vez.

Tirou do guarda vestido o seu melhor fato, vestiu a única camisa branca que tinha, escolheu de entre todas as gravadas a preferida e perfumou-se com abundância com a sua melhor água-de-colónia.

Saiu cedo e lesto para a rua, cá fora o dia esperava-o, um dia diferente como nunca tinha visto outro, é certo que tudo estava no lugar do costume mas a luz e o brilho do seu olhar emprestavam à realidade o aspecto de um cenário ali colocado só para ele, o próprio passeio por onde todos os dias encaminhava os seus passos sentia-o debaixo dos pés com uma nuvem espessa e fofa onde se afundava para logo se erguer e se projectar mais à frente como se vogasse em vez de andar.

Pensava naquele almoço obsessivamente, desejava-o e temia-o. Tudo já tinha sido por ele conjecturado com algumas dúvidas à mistura: beijá-la-ia na face ou limitar-se-ia a um simples e afectuoso cumprimento?

Ao fim e ao cabo ainda não se conheciam há muito tempo e estavam longe de serem íntimos e ele sabia como era importante a primeira impressão que se deixa numa pessoa mas assim, nervoso como estava, como se iria sair?

Ela parecia ser uma mulher segura de si própria, confiante, quem sabe se anteriormente não teria mesmo estado apaixonada por outro homem e aquele não fosse, para ela, o primeiro almoço?

Esta ideia não lhe agradou e pô-la de imediato de parte, era apenas, com certeza, o resultado da ebulição em que o seu espírito se encontrava.

Tinha toda a manhã para passear e serenar e o ar fresco ao longo da marginal até ao restaurante onde a iria esperar seria de certo um bom calmante.

Sentou-se no murete sobranceiro à praia e olhou aquele mar, aquelas ondas, aquele areal que conhecia tão bem como a sua própria casa e alongou o olhar pelo oceano até aos limites do horizonte.

Nascera naquela cidade e durante toda a juventude aquelas areias tinham sido o seu recreio sempre que o tempo o permitia, conhecia-lhes a textura, os avanços e recuos ao sabor das marés e as fases de mau humor do oceano quando descarregava sobre elas a fúria das suas indisposições.

Pressentia que a sua vida iria mudar mas nem por isso lhe apetecia pensar no futuro, estava demasiado feliz naquele momento para se aventurar com o pensamento para zonas do desconhecido. Se pudesse pararia o tempo e ficaria ali a recordar todo o seu passado em estilo de despedida.

Na qualidade de filho único vivera em casa dos pais mais de trinta anos e só conseguiu sair debaixo dos cuidados da mãe porque arranjara uma casa tão próxima que a sua autonomia era mais aparente do que real.

Tinha sido, como se costuma dizer, um bom filho, não tinha vícios, era obediente, bem comportado, bom aluno e hoje um grande profissional na área dos computadores que passaram agora a ser a sua segunda paixão.

Nunca fora dado a muitos namoros talvez pela presença demasiado assídua da mãe que sempre o mimara como se os anos não tivessem passado e o homem não se tivesse seguido ao menino.

Levantou-se repentinamente e pôs-se a caminho com demasiada pressa para o tempo que ainda tinha à sua frente mas a última coisa que lhe poderia acontecer seria atrasar-se e fazê-la esperar.

Quando entrou na sala do restaurante apenas uma mesa a um canto já estava ocupada por um casal idoso que atentamente se inteirava da Ementa.

Com todo o vagar escolheu um lugar junto da janela de onde se via o mar e quando o empregado o abordou disse-lhe que aguardava a chegada de uma pessoa e que, entretanto, lhe podia servir um aperitivo.

Lentamente a sala foi-se enchendo de clientes e o empregado acercou-se novamente e ele limitou-se a pedir mais um aperitivo.

Pouco a pouco a sala esvaziou-se de pessoas e sons e ele ficou sozinho, olhando absorto o último copo em cima da mesa.

Finalmente, levantou-se com vagar, pagou a conta, e iniciou o caminho de regresso, em passo incerto, hesitante, de cabeça levantada e de olhar que continuava, estranhamente, vago e absorto.

De repente estacou e olhou fixamente para um automóvel parado, encostado ao passeio, no outro lado da estrada. Dentro do carro, sentada ao volante, a mulher por quem tinha esperado toda a tarde, ao seu lado, um homem desconhecido.

As pernas começaram a tremer-lhe e quando se esperava que caísse desamparado fixou o olhar no automóvel e atravessou a estrada na sua direcção. Os passos eram os de um autómato mas não foram mais que três ou quatro porque ao característico barulho de uma travagem repentina com os pneus a deixarem um lastro de borracha agarrado ao alcatrão, o som surdo e cavo de um embate contra um corpo que volteia no ar e se estatela uns bons metros mais à frente.

Pessoas que correm, outras que param e olham, murmúrios, queixas, gritos, protestos, desabafos, de tudo se ouve. Em poucos minutos, ao longe a sirene da ambulância do INEM faz-se ouvir e os mirones abrem um corredor para que os cuidados possam ser prestados.

A médica ajoelha-se junto ao corpo, observa-o, pressiona as carótidas e depois de uns segundos, que naquelas circunstâncias mais parecem uma eternidade, abana lentamente a cabeça e limita-se a dizer para o enfermeiro: é cadáver.

O cadáver de um homem impecavelmente barbeado, dentro do seu melhor fato, vestindo a sua única camisa branca que ostentava a gravata preferida e que exalava ainda o agradável odor a uma água-de-colónia de qualidade…o cadáver de um homem apaixonado.

O polícia de trânsito gesticula para afastar as pessoas e entre os gritos e apitos da autoridade ouve-se uma voz feminina que em tom baixo e resignado desabafa:

- Oh! Esqueci-me de que tinha um encontro marcado com este homem.

Mais apitos e gestos dos polícias, a ambulância já não se vê, os automóveis que tinham sido obrigados a parar iniciam lentamente a marcha e dentro de poucos minutos o trânsito ficará normalizado.

domingo, julho 20, 2008


Por Que Nos Apaixonamos?


Por que nos apaixonamos?

Por que concentramos numa pessoa toda a nossa atenção como se ela fosse a única no mundo?

Por que suspiramos longa e repetidamente quando estamos apaixonados?

Por que ficamos possuídos de uma enorme energia que nos permite andar a noite toda e conversar até ao amanhecer?

Por que bate o nosso coração mais depressa e nos suam as mãos quando estamos juntos da pessoa amada?

Por que chegamos ao ponto de pôr termo à vida por não sermos capazes de a enfrentar sem essa pessoa?

A primeira reposta para todas estas perguntas que são apenas uma síntese de muitas outras que se poderiam colocar é muito simples:

- Porque o amor faz parte da nossa própria natureza, tanto quanto o medo ou a fome, e terá começado nos primórdios da humanidade tendo evoluído da simples atracção sexual até ao amor romântico que cativa e nos prende ao nosso parceiro sexual.

Se hoje é mais difícil criar um filho sem a intervenção, a presença ou o apoio de um pai, como não teria sido no princípio desta longa caminhada que a humanidade já trás percorrida, quando as mulheres transportavam, em regiões perigosas, um filho nos braços e não nas costas como os restantes primatas, com um corpo despido de cabelos onde ele não se podia agarrar, e que tinha ainda, entre outras coisas, que procurar comida?

O amor romântico constituiu um factor decisivo no triunfo da nossa espécie porque assegurou e deu consistência à relação entre o pai e a mãe sem a qual os filhos dificilmente sobreviveriam e explica porque o amor não dura para sempre…porque deixa de ser indispensável.

Nós gostaríamos de pensar que nos apaixonámos para nosso deleite, que tudo teve a ver apenas com aqueles olhos negros com os quais, um dia, nos cruzámos e que nada daquilo que teve a ver com a nossa experiência pessoal, se inscreve em teorias científicas que quebram o encantamento da relação e da história do nosso amor.

Gostaríamos muito mais que o mistério prevalecesse, que fôssemos não só os únicos como igualmente a razão de ser de tão linda história de amor que nada teve a ver com mais ninguém nem com o que quer que fosse.

E, no entanto, foi tudo uma questão de altos níveis de dopamina que são neurotransmissores que estimulam a actividade do sistema nervoso central e à qual se juntou a feniletilamina e a ocitocina, químicos que são normais no nosso corpo mas que se juntam para desencadearem a paixão. Com o tempo, o organismo torna-se resistente aos seus efeitos e a “loucura” passa.

Mas, sejam quais forem os processos químicos, a relação amorosa continua a ter qualquer coisa de sublime, de poético, que não se presta a comparações com uma simples atracção sexual porque ninguém pensa obsessivamente numa mulher apenas por um desejo sexual momentâneo que, satisfeito, rapidamente leva ao esquecimento da relação, nem se circunscreve às inexoráveis explicações do ponto de vista científico por mais correctas e exactas que elas sejam.

É que, amanhã mesmo, mais homens e mulheres vão iniciar o deslumbrante e arriscado processo de amor e ao fazê-lo vão ter a mais importante experiência das suas vidas. É certo que essas experiências se inscrevem numa longa lista de experiências, de tal forma longa que o cérebro as interiorizou e tornaram-se, por essa razão, imperativas, mas eles não sabem isso, nem tão pouco lhes interessa.

Eles vão ser autores e personagens de uma história de amor que poderá muito bem ser a história da vida deles, aquela que valerá a pena recordar quando a vida se for esfumando por entre o emaranhado dos anos.

Talvez algum deles seja escritor e não lhe baste apenas a sua história de amor…ou prefira criá-la na sua imaginação em vez de a viver…ou a recrie para esquecer uma má história de amor.

Com o amor romântico, como lhe chamam os estudiosos, tudo é possível de acontecer.

É verdade que a fé religiosa tem aspectos em comum com o enamoramento e ambos têm muitas das características da euforia induzida por uma droga viciante.

Uma faceta, das muitas faces da religião, é o amor intenso centrado numa pessoa sobrenatural, isto é, em Deus, acompanhado da veneração de ícones dessa pessoa e é grande o reforço positivo que a religião presta através de sentimentos reconfortantes e calorosos por sermos amados e protegidos num mundo perigoso, pela perda do medo da morte, do auxílio vindo não se sabe de onde em resposta a preces em tempos difíceis, etc.

De igual modo, o amor romântico por uma pessoa real apresenta a mesma concentração intensa no outro e também reforços positivos pelos sentimentos que desencadeia com a ajuda igualmente de ícones que, neste caso, poderão ser cartas, fotografias e até mesmo madeixas de cabelo como era hábito no século XIX.

Podemos controlar o nosso comportamento, não podemos controlar o sentimento do amor da mesma forma que também não se consegue controlar a fome, a sede, ou o instinto maternal.

Se o meu amor me deixar eu posso controlar o meu comportamento e não ir atrás dele, mas é impossível controlar os meus sentimentos pela simples razão que sobre eles não tenho controle, só o tempo poderá ajudar ou então, como diz o povo, sábio, procurando novo amor porque “o mal do cão cura-se com o pelo do mesmo cão”.

Mas, vivendo muitos de nós rodeados por tantas pessoas por que nos apaixonamos por uma e não por qualquer outra?

Mais uma vez a química parece ser a chave das atracções entre as pessoas que, em princípio, se sentirão atraídas para aquelas que têm um perfil químico complementar do seu de forma a equilibrarem-se.

Por exemplo, pessoas com altos níveis de serotonia tendem a ser mais calmas enquanto as de altos níveis de dopamina são mais agitadas e esta circunstância poderá constituir um factor de atracção entre ambas para, de certa forma, se equilibrarem ou complementarem.

Certo, certo, é que os homens se apaixonam mais fácil e rapidamente que as mulheres e de 4 pessoas que se matam por não suportarem o fim da relação, 3 são homens.

Julga-se que as mulheres são mais apaixonadas mas os estudos revelam que os mecanismos são muito parecidos, embora o estímulo visual seja mais activo no homem do que nas mulheres talvez porque, nas eras do antigamente, os homens tinham que olhar para as mulheres para tentarem perceber as que tinham condições de lhes dar filhos saudáveis.

Em contrapartida, as mulheres, vá lá saber-se porquê, revelam uma melhor memória recordando mais facilmente um relacionamento.

De qualquer maneira, o amor é imparável e se lhe é colocado qualquer tipo de barreira o resultado será intensificá-lo ainda mais.

Num estudo efectuado com 32 pessoas loucamente apaixonadas o que os cientistas observaram é que quando uma delas olha a fotografia da pessoa amada a parte do cérebro que se torna activa fica bem no interior do órgão pelo que se pode concluir que se trata de um sistema antigo e primitivo.

Os cientistas envolvidos neste estudo acreditam que, ligados ao tema do amor, temos três sistemas cerebrais diferentes:

- O primeiro trata do impulso sexual;

- O segundo do amor romântico, um estágio intenso de sentimentos obsessivos associados ao parceiro;

- Um terceiro que tem a ver com a sensação de segurança que se sente quando vivemos com alguém por muito tempo.

Posto isto, parece que o amor romântico não é uma emoção mas várias emoções e acontece para que a pessoa apaixonada concentre a sua energia numa única para um compromisso que dure, pelo menos, o tempo suficiente para criar um filho.

Pesquisas efectuadas junto de 5000 pessoas de 37 culturas diferentes permitiram concluir que o amor tem um «tempo de vida» entre 18 a 30 meses, o suficiente para que o casal se conheça, copule e produza uma criança.

Apesar de todas as pesquisas e descobertas, anda no ar uma sensação de que a evolução, há cerca de 10.000 anos a esta parte, por algum motivo, modificou nossos genes permitindo que surgisse o amor não ligado à procriação.

Finalmente, de então para cá, o amor entre homens e mulheres pôde acontecer e algumas delas puderam passar a olhar os homens como algo mais do que máquinas de protecção.

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