Memórias Futuras
Olhar o futuro pelo espelho retrovisor da história. Qual história? Que futuro?
sábado, abril 17, 2010
A UTOPIA
Quando, numa Universidade, perguntaram a Galeano o que era a Utopia ele defeniu-a como "o horizonte. Dás um passo e ela afasta-se na mesmo medida. Dás dois passos e ela volta a afastar-se igual. E assim sucessivamente".
Então a utopia não serve para nada, disse um estudante. "Como não? Serve para caminhar!" disse Galeano.
DONA
FLOR
E SEUS
DOIS
MARIDOS
E SEUS
DOIS
MARIDOS
EPISÓDIO Nº 96
Ao vir do Rio, dois meses antes, não tirava da boca o nome de Sílvio Caldas, não tinha outro assunto. Prometera-lhe até um almoço cozinhado por dona Flor. Um absurdo… Sujeito assim famoso, manchete de jornais, capa de revistas, na Bahia por uma semana, não ia chegar nem para as encomendas, para os convites dos ricaços; mesmo se quisesse, onde conseguir tempo para comer em casa de pobre? “Uma série de homenagens estão sendo organizadas por figuras da alta sociedade para festejar a presença do grande artista entre nós”, anunciava o jornal. Com satisfação, no entanto, e grande, ela assumira a trabalheira desse almoço, disposta até a gastar as suas parcas economias, escondidas numa coluna do leito de ferro, a enterrar o dinheiro do mês, a fazer dívidas se necessário, para receber em casa tal convidado e a dar-lhe de comer a verdadeira comida baiana.
Não duvidava das cordiais relações estabelecidas no Rio; não era o cantor firme presença nas mesas de jogo? Mas daí a vir aquela celebridade a sua casa, a distância era grande. Para Vadinho, porém, as distâncias não existiam, nem obstáculos de qualquer ordem, para ele tudo era fácil, a vida não tinha impossíveis.
Numa ponta de melancolia dona Flor comentou o assunto com dona Norma:
- Loucura de Vadinho… Inventa cada uma… Almoço para Sílvio Caldas, você já pensou?
Dona Norma, porém, entusiasmava-se:
- Quem sabe se ele não vem? Menina, ia ser de fechar o comércio…
Dona Flor satisfazia-se com muito menos:
- Eu me contento em ir à serenata… Assim mesmo, se tiver companhia… Senão nem isso…
- Por companhia não se preocupe, porque eu vou de qualquer jeito. Se Zé Sampaio não quiser ir, então que tenha paciência, vai ficar sozinho em casa. Vou com Artur...
No programa das desenove horas, o jornal falado da rádio anunciou a estreia do cantor, marcada para aquela mesma noite para as famílias no salão elegante do Palace Hotel, ao lado das salas de jogo, cantando às duas da manhã no Tabaris para os boémios e as mulheres da vida.
Recolheu-se dona Flor, a pensar que, de todo aquele movimento em torno do cantor, só uma coisa era certa: naquela noite não adiantava esperar a chegada de Vadinho; com Sílvio Caldas na terra, era como se ela não tivesse marido.
Quando, pela madrugada, saíssem do cabaré, a última dobra da noite da Bahia os atendia nos mistérios do pelourinho, nos caminhos das Sete Portas, no mar e nos saveiros da Rampa do Mercado.
Dormiu e sonhou. Um sonho confuso onde se misturavam Mirandão, Sílvio Caldas e Vadinho, com seu irmão Heitor, sua cunhada e dona Rozilda. Todos em Nazareth das Farinhas, onde dona Flor ajudava a cunhada, grávida, amarrada por uma corrente ao guarda-chuva da sogra.
As notícias dos jornais e da rádio e a carta do irmão reuniam-se numa barafunda, sonho mais extravagante. Dona Rozilda, furiosa, queria saber o motivo da presença de Sílvio Caldas em Nazareth. Pois, respondeu ele, para ali se deslocara na exclusiva intenção de acompanhar Vadinho numa serenata a dona Flor. “Tenho asco a serenata” rugiu dona Rozilda. Mas ele empunhava o violão, a voz de pétalas e veludo a acordar o povo do Recôncavo na noite de Paraguaçu… Dona Flor sorri no sonho e no acalanto.
sexta-feira, abril 16, 2010
DONA
FLOR
E SEUS
DOIS
MARIDOS
Sem falar nos conhecidos, como banqueiro Celestino, doutor Luís Henrique e o próprio dom Clemente Nigra, vieram à sua casa os maiores graúdos da Bahia, seja para o famoso almoço, seja em outros dias para cumprimentar o seresteiro, apertar a sua mão. Visitas capazes de por dona Rozilda em êxtase, no cúmulo da excitação, se ela não estivesse, felizmente, em Nazareth das Farinhas infernando a vida da nora que, segundo carta de Heitor, esperava por fim o primeiro filho.
Desse almoço guarda dona Flor não apenas a nítida recordação, como também recortes de notícias na imprensa. Dois jornalistas, conhecidos de Vadinho, aquele Giovanni Guimarães amigo de rir e contar lorotas, e um tal de negro Batista, femeeiro de prestigiosa reputação nos castelos, ambos garfos de respeito, deram conta do facto em suas gazetas.
Referiu-se Giovanni ao “incomparável ágape oferecido ao notável cantor pelo senhor Valdomiro Guimarães, zeloso funcionário municipal, e por sua excelentíssima esposa, Florípedes Paiva Guimarães, cujos méritos culinários se aliam à extrema bondade e à perfeita educação.” Enquanto o negro João Batista comovia-se com a quantidade de pratos: “… finíssimo e fartíssimo repasto, de sabor inexcedível, nele se exibiam todos os principais acepipes da cozinha baiana, além de doze qualidades de sobremesa, provando a grandeza da nossa culinária e a qualidade das mãos de fada da senhora Flor Guimarães, esposa do nosso assinante Waldomiro Guimarães, funcionário da Prefeitura dos mais dedicados e eficientes. Como se vê sentiram-se os dois glutões tão fartos e contentes a ponto de elogiarem não apenas a comida, o paladar de dona Flor, mas de promoverem Vadinho a dedicado, eficiente e zeloso funcionário, exagero um tanto forte.
Por que as comadres não recordam esse domingo do almoço? De tão cheia a casa, ninguém podia se mover, as mesas repletas de comida. Doutor Coqueijo, do Tribunal e músico nas horas vagas, a pronunciar discurso, gabando a arte de dona Flor; o poeta Hélio Simões, prometendo um soneto de louvação ao tempero da “encantadora dona da casa, guardiã das grandes tradições, zeladora do dendê e da pimenta”. No entanto as comadres estavam presentes, todas elas, num cochicheio, e a tudo assistiram; viram quando Sílvio tomou o violão e abriu o peito apaixonado e brasileiro. Juntara gente na porta da rua para ouvir; e às cinco das tarde ainda muitos convidados e outros quantos penetras bebiam cerveja e cachaça, reclamando novas canções ao menestrel, e ele a todos atendia.
O melhor de tudo, porém, superior aos elogios do corpo presente e em letra de forma nas folhas, aos discursos e versos; o que dona Flor colocava mesmo acima do canto de Sílvio Caldas, enchendo de paz e harmonia o céu e o mar, foi o comportamento de Vadinho. Não só arcara com todas as despesas do almoço (onde fora arranjar tanto dinheiro de uma só vez? Só a lábia de Vadinho seria capaz desse milagre…) como naquele dia não se embriagou, bebeu na justa medida, fez sala aos convivas, muito dono de casa. E quando o seresteiro empunhou o violão sem se fazer de rogado, querendo mesmo cantar e tocar em casa de seus amigos, quando agradeceu o almoço chamando dona Flor de “Florzinha, minha irmã…” Vadinho veio sentar-se ao lado da esposa e tomou-lhe a mão. As lágrimas subiram aos olhos de dona Flor, tanta emoção era demais.
Como viver sem ele? Sem ele, onde reencontrar a graça e a surpresa, como acostumar-se? Lera no vespertino a informação do desembarque do cantor para curta temporada no Palace e no Tabaris. Realizaria também, a convite da Prefeitura, uma serenata no Campo Grande, dando ao povo todo ocasião de vê-lo e ouvi-lo e de cantar com ele. Fora Vadinho esperá-lo ou não tivera conhecimento da notícia?
FLOR
E SEUS
DOIS
MARIDOS
EPISÓDIO Nº 95
Sem falar nos conhecidos, como banqueiro Celestino, doutor Luís Henrique e o próprio dom Clemente Nigra, vieram à sua casa os maiores graúdos da Bahia, seja para o famoso almoço, seja em outros dias para cumprimentar o seresteiro, apertar a sua mão. Visitas capazes de por dona Rozilda em êxtase, no cúmulo da excitação, se ela não estivesse, felizmente, em Nazareth das Farinhas infernando a vida da nora que, segundo carta de Heitor, esperava por fim o primeiro filho.
Desse almoço guarda dona Flor não apenas a nítida recordação, como também recortes de notícias na imprensa. Dois jornalistas, conhecidos de Vadinho, aquele Giovanni Guimarães amigo de rir e contar lorotas, e um tal de negro Batista, femeeiro de prestigiosa reputação nos castelos, ambos garfos de respeito, deram conta do facto em suas gazetas.
Referiu-se Giovanni ao “incomparável ágape oferecido ao notável cantor pelo senhor Valdomiro Guimarães, zeloso funcionário municipal, e por sua excelentíssima esposa, Florípedes Paiva Guimarães, cujos méritos culinários se aliam à extrema bondade e à perfeita educação.” Enquanto o negro João Batista comovia-se com a quantidade de pratos: “… finíssimo e fartíssimo repasto, de sabor inexcedível, nele se exibiam todos os principais acepipes da cozinha baiana, além de doze qualidades de sobremesa, provando a grandeza da nossa culinária e a qualidade das mãos de fada da senhora Flor Guimarães, esposa do nosso assinante Waldomiro Guimarães, funcionário da Prefeitura dos mais dedicados e eficientes. Como se vê sentiram-se os dois glutões tão fartos e contentes a ponto de elogiarem não apenas a comida, o paladar de dona Flor, mas de promoverem Vadinho a dedicado, eficiente e zeloso funcionário, exagero um tanto forte.
Por que as comadres não recordam esse domingo do almoço? De tão cheia a casa, ninguém podia se mover, as mesas repletas de comida. Doutor Coqueijo, do Tribunal e músico nas horas vagas, a pronunciar discurso, gabando a arte de dona Flor; o poeta Hélio Simões, prometendo um soneto de louvação ao tempero da “encantadora dona da casa, guardiã das grandes tradições, zeladora do dendê e da pimenta”. No entanto as comadres estavam presentes, todas elas, num cochicheio, e a tudo assistiram; viram quando Sílvio tomou o violão e abriu o peito apaixonado e brasileiro. Juntara gente na porta da rua para ouvir; e às cinco das tarde ainda muitos convidados e outros quantos penetras bebiam cerveja e cachaça, reclamando novas canções ao menestrel, e ele a todos atendia.
O melhor de tudo, porém, superior aos elogios do corpo presente e em letra de forma nas folhas, aos discursos e versos; o que dona Flor colocava mesmo acima do canto de Sílvio Caldas, enchendo de paz e harmonia o céu e o mar, foi o comportamento de Vadinho. Não só arcara com todas as despesas do almoço (onde fora arranjar tanto dinheiro de uma só vez? Só a lábia de Vadinho seria capaz desse milagre…) como naquele dia não se embriagou, bebeu na justa medida, fez sala aos convivas, muito dono de casa. E quando o seresteiro empunhou o violão sem se fazer de rogado, querendo mesmo cantar e tocar em casa de seus amigos, quando agradeceu o almoço chamando dona Flor de “Florzinha, minha irmã…” Vadinho veio sentar-se ao lado da esposa e tomou-lhe a mão. As lágrimas subiram aos olhos de dona Flor, tanta emoção era demais.
Como viver sem ele? Sem ele, onde reencontrar a graça e a surpresa, como acostumar-se? Lera no vespertino a informação do desembarque do cantor para curta temporada no Palace e no Tabaris. Realizaria também, a convite da Prefeitura, uma serenata no Campo Grande, dando ao povo todo ocasião de vê-lo e ouvi-lo e de cantar com ele. Fora Vadinho esperá-lo ou não tivera conhecimento da notícia?
quinta-feira, abril 15, 2010
Dias difíceis, estes, para a Igreja
A Igreja, na tentativa desesperada de explicar-se, justificar-se e mesmo negar as comprovadas acusações de comportamentos pedófilos dos seus membros, que continuam a chegar ao conhecimento público ao ritmo a que os cogumelos brotam em certos meios nos dias em que faz sol depois de um outro em que choveu, tem produzido afirmações que logo a seguir se vê obrigada a explicar para apagar os fogos das justas reacções que despertam nos sectores da sociedade atingidos.
O Cardeal Bertone veio dizer que há uma relação entre homossexualidade e pedofilia o que é um perfeito disparate logo denunciado pela comunidade científica. Por isso, logo de seguida, veio um esclarecimento dizendo que o Cardeal só falava dos padres pedófilos e, nestes, a homossexualidade estaria mais relacionada com a prática do crime do que o celibato. Se a anterior é um disparate, esta, a explicação, vale o que vale e naturalmente vale pouco ou nada mas, pelo menos, retirou à frase a conotação directa “homossexualidade – pedofilia”.
Antes, tinha sido a frase do pregador da Casa Pontifícia que comparou as acusações de pedofilia com as perseguições aos judeus. Logo a seguir a explicação: “…o pregador citava a carta de um amigo judeu …”
Ora, a Igreja está estruturada em termos de pensamento, para a infalibilidade dos seus dogmas e não está preparada para ser questionada, para se colocar ao nível das coisas terrenas.
Os padres quando se confessam é uns aos outros e tudo fica no domínio da justiça divina que eles controlam perfeitamente através dos mecanismos da penitência, oração, arrependimento e finalmente do perdão... porque Deus é infinitamente bom.
A hierarquia da Igreja, confrontada com crimes desta natureza praticados por representantes seus, foi escondendo, silenciando, mudando os criminosos de umas paróquias para as outras, porque durante séculos ela nunca precisou de dar satisfações de si própria, de falar de si. Ela tinha um estatuto que lhe conferia um poder tal que lhe permitia passar à margem da justiça dos homens e tempos houve em que ela era a própria justiça, espiritual e temporal.
Os tempos hoje são outros, as pessoas muito mais informadas tornaram-se mais críticas, não aceitam boquiabertas todas as informações que lhe são passadas mesmo as que trazem a chancela dos altos dignitários da Igreja.
Nesta história dos crimes de pedofilia o que está verdadeiramente em causa para a Igreja é a idoneidade, a credibilidade, a confiança que merecem os homens que têm por missão transmitir aos outros a verdade divina.
Porque é, na verdade, uma questão de confiança: a palavra divina está num livro sagrado, é um axioma, não precisa de ser demonstrada, não é o produto final de um processo de raciocínio e, portanto, o seu destinatário aceita-a apenas por uma questão de fé mas espera, exije mesmo, que o mensageiro seja uma pessoa de bem porque se o não for a mensagem perde força e qualidade.
Não oferece dúvidas a ninguém que um padre pedófilo não é uma pessoa de bem e se a fé dos destinatários da verdade divina, de uma forma genérica, não tem hoje a mesma força do antigamente, a tal crise da fé de que os homens da Igreja se queixam, então as coisas ficam muito piores.
Dias difíceis, estes, para a Igreja, acusada e julgada nos cabeçalhos dos jornais.
O Cardeal Bertone veio dizer que há uma relação entre homossexualidade e pedofilia o que é um perfeito disparate logo denunciado pela comunidade científica. Por isso, logo de seguida, veio um esclarecimento dizendo que o Cardeal só falava dos padres pedófilos e, nestes, a homossexualidade estaria mais relacionada com a prática do crime do que o celibato. Se a anterior é um disparate, esta, a explicação, vale o que vale e naturalmente vale pouco ou nada mas, pelo menos, retirou à frase a conotação directa “homossexualidade – pedofilia”.
Antes, tinha sido a frase do pregador da Casa Pontifícia que comparou as acusações de pedofilia com as perseguições aos judeus. Logo a seguir a explicação: “…o pregador citava a carta de um amigo judeu …”
Ora, a Igreja está estruturada em termos de pensamento, para a infalibilidade dos seus dogmas e não está preparada para ser questionada, para se colocar ao nível das coisas terrenas.
Os padres quando se confessam é uns aos outros e tudo fica no domínio da justiça divina que eles controlam perfeitamente através dos mecanismos da penitência, oração, arrependimento e finalmente do perdão... porque Deus é infinitamente bom.
A hierarquia da Igreja, confrontada com crimes desta natureza praticados por representantes seus, foi escondendo, silenciando, mudando os criminosos de umas paróquias para as outras, porque durante séculos ela nunca precisou de dar satisfações de si própria, de falar de si. Ela tinha um estatuto que lhe conferia um poder tal que lhe permitia passar à margem da justiça dos homens e tempos houve em que ela era a própria justiça, espiritual e temporal.
Os tempos hoje são outros, as pessoas muito mais informadas tornaram-se mais críticas, não aceitam boquiabertas todas as informações que lhe são passadas mesmo as que trazem a chancela dos altos dignitários da Igreja.
Nesta história dos crimes de pedofilia o que está verdadeiramente em causa para a Igreja é a idoneidade, a credibilidade, a confiança que merecem os homens que têm por missão transmitir aos outros a verdade divina.
Porque é, na verdade, uma questão de confiança: a palavra divina está num livro sagrado, é um axioma, não precisa de ser demonstrada, não é o produto final de um processo de raciocínio e, portanto, o seu destinatário aceita-a apenas por uma questão de fé mas espera, exije mesmo, que o mensageiro seja uma pessoa de bem porque se o não for a mensagem perde força e qualidade.
Não oferece dúvidas a ninguém que um padre pedófilo não é uma pessoa de bem e se a fé dos destinatários da verdade divina, de uma forma genérica, não tem hoje a mesma força do antigamente, a tal crise da fé de que os homens da Igreja se queixam, então as coisas ficam muito piores.
Dias difíceis, estes, para a Igreja, acusada e julgada nos cabeçalhos dos jornais.
DONA
FLOR
E SEUS
DOIS
MARIDOS
EPISÓDIO Nº 94
Envolta no corte de seda a escorregar pelos ombros, a cobri-la e a descobri-la, na alegria do retorno de Vadinho, desfolhada em risos e suspiros, dona Flor no leito come o marido a vadiar. Uma ponta de remorso a fazer mais doce aquele amor: ela o julgara mal, agressiva e injusta, duvidando dele, de “seu estudante mais lindo…”
Do que jamais dona Flor tomou conhecimento foi do esforço despendido por Mirandão para arrancar Vadinho dos braços de Josi, e pô-lo no navio, de regresso. Josi era o nome de guerra da lusa Josefina, corista da Companhia Portuguesa de Revista Beatriz Costa, perdida de paixão pelo moço baiano (e vice-versa). Conheceram-se quando a Embaixada Académica, tendo obtido entrada grátis para o Teatro República, foi aos bastidores após o espectáculo, cumprimentar Beatriz, suas artistas, suas coristas. Vadinho bateu o olho em Josi, ainda em trajes de varina, Josi mediu o falso estudante de alto a baixo, riram um para o outro, meia hora depois ceavam juntos iscas de bacalhau numa tasca das vizinhanças. Josi pagou a despesa, aquela primeira e todas as demais, até ele viajar. Com o tempo dividido entre a portuguesa e os casinos, Vadinho esqueceu por completo a data do embarque, hora de partida, regresso à Bahia. Mirandão teve de usar energia e sentimento:
- Me bastou ver minha comadre chorando uma vez, outra não quero ver… Se eu lá chegar sem você, o que é que minha comadre não vai dizer?
Disso nunca teve notícias dona Flor, como jamais soube da verdadeira origem do corte de seda francesa; não fora comprada no Rio e, sim, ganho a bordo, ao pocker, na véspera da chegada do navio a Salvador, quando os membros da caravana, já de todo sem dinheiro, arriscavam ao baralho os presentes e as lembranças cariocas. De um dos estudantes, Vadinho ganhara a seda, de outro um par de reluzentes sapatos de verniz e uma gravata borboleta de bolinhas azuis, muito em moda. Contra essas utilidades apostara magnífica foto de Josi, grande e colorida, com vidro e moldura doirada, onde a saloia se exibia numa cena de teatro, de calçola e porta seio, a perna erguida, perdição de cachopa! Numa letra trabalhosa ela escrevera: “A meu baianinho adorado, sua saudosa Josi”. Retrato finalmente adquirido, após longa barganha, por um outro companheiro de viagem jovem advogado desejoso de causar inveja aos amigos, com a narração e as provas de sensacionais conquistas metropolitanas. Foi assim que Josi financiou também o desembarque de Vadinho e concorreu para a alegria de dona Flor. Dona Flor a vadiar nos braços do marido, o corte de seda a escondê-la e a exibi-la, rolando afinal aos pés da cama.
Como viver sem ele? Asfixiada de ausência, debatendo-se na névoa, presa em correntes, como transpor os limites do desejo impossível? Como reencontrar a luz do sol, o calor do dia, a brisa matutina, a viração da tarde e as estrelas do céu, a face do povo? Não, sem ele não sabia viver e o recolhia então naquela bruma de tristeza, risos e emoções, em seu mundo sempre surpreendente.
Podiam as comadres recordar os maus momentos, as ácidas disputas, as calhordagens em matéria de dinheiro. As noites sem vir em casa, na bebedeira, quem sabe com mulheres, a loucura do jogo. Mas por que não abriam a boca de pragas para lembrar os dias exaltantes da estada de Sílvio Caldas na Bahia, quando dona Flor não tivera um minuto de descanso, tão pouco de tristeza?
Uma semana perfeita, nem um pormenor destoante, dona Flor guarda memória de cada detalhe, uma riqueza de alegria, uma festa. Por assim dizer, naquela semana ela foi uma espécie de rainha de todo o agitado bairro; do Cabeça ao Largo Dois de Julho, do Areal de Cima ao Areal de Baixo, do Sodré a Santa Tereza, da Preguiça ao Mirante dos Aflitos. Sua casa cheia, gente importante, mas importante de verdade, batendo-lhe à porta, pedindo licença para entrar, pois apesar de hóspede do Palace foi em casa de Vadinho que Sílvio se expandiu, recebeu e conversou, como se aquele fosse seu lar, dona Flor sua irmã mais moça .
E SEUS
DOIS
MARIDOS
EPISÓDIO Nº 94
Envolta no corte de seda a escorregar pelos ombros, a cobri-la e a descobri-la, na alegria do retorno de Vadinho, desfolhada em risos e suspiros, dona Flor no leito come o marido a vadiar. Uma ponta de remorso a fazer mais doce aquele amor: ela o julgara mal, agressiva e injusta, duvidando dele, de “seu estudante mais lindo…”
Do que jamais dona Flor tomou conhecimento foi do esforço despendido por Mirandão para arrancar Vadinho dos braços de Josi, e pô-lo no navio, de regresso. Josi era o nome de guerra da lusa Josefina, corista da Companhia Portuguesa de Revista Beatriz Costa, perdida de paixão pelo moço baiano (e vice-versa). Conheceram-se quando a Embaixada Académica, tendo obtido entrada grátis para o Teatro República, foi aos bastidores após o espectáculo, cumprimentar Beatriz, suas artistas, suas coristas. Vadinho bateu o olho em Josi, ainda em trajes de varina, Josi mediu o falso estudante de alto a baixo, riram um para o outro, meia hora depois ceavam juntos iscas de bacalhau numa tasca das vizinhanças. Josi pagou a despesa, aquela primeira e todas as demais, até ele viajar. Com o tempo dividido entre a portuguesa e os casinos, Vadinho esqueceu por completo a data do embarque, hora de partida, regresso à Bahia. Mirandão teve de usar energia e sentimento:
- Me bastou ver minha comadre chorando uma vez, outra não quero ver… Se eu lá chegar sem você, o que é que minha comadre não vai dizer?
Disso nunca teve notícias dona Flor, como jamais soube da verdadeira origem do corte de seda francesa; não fora comprada no Rio e, sim, ganho a bordo, ao pocker, na véspera da chegada do navio a Salvador, quando os membros da caravana, já de todo sem dinheiro, arriscavam ao baralho os presentes e as lembranças cariocas. De um dos estudantes, Vadinho ganhara a seda, de outro um par de reluzentes sapatos de verniz e uma gravata borboleta de bolinhas azuis, muito em moda. Contra essas utilidades apostara magnífica foto de Josi, grande e colorida, com vidro e moldura doirada, onde a saloia se exibia numa cena de teatro, de calçola e porta seio, a perna erguida, perdição de cachopa! Numa letra trabalhosa ela escrevera: “A meu baianinho adorado, sua saudosa Josi”. Retrato finalmente adquirido, após longa barganha, por um outro companheiro de viagem jovem advogado desejoso de causar inveja aos amigos, com a narração e as provas de sensacionais conquistas metropolitanas. Foi assim que Josi financiou também o desembarque de Vadinho e concorreu para a alegria de dona Flor. Dona Flor a vadiar nos braços do marido, o corte de seda a escondê-la e a exibi-la, rolando afinal aos pés da cama.
Como viver sem ele? Asfixiada de ausência, debatendo-se na névoa, presa em correntes, como transpor os limites do desejo impossível? Como reencontrar a luz do sol, o calor do dia, a brisa matutina, a viração da tarde e as estrelas do céu, a face do povo? Não, sem ele não sabia viver e o recolhia então naquela bruma de tristeza, risos e emoções, em seu mundo sempre surpreendente.
Podiam as comadres recordar os maus momentos, as ácidas disputas, as calhordagens em matéria de dinheiro. As noites sem vir em casa, na bebedeira, quem sabe com mulheres, a loucura do jogo. Mas por que não abriam a boca de pragas para lembrar os dias exaltantes da estada de Sílvio Caldas na Bahia, quando dona Flor não tivera um minuto de descanso, tão pouco de tristeza?
Uma semana perfeita, nem um pormenor destoante, dona Flor guarda memória de cada detalhe, uma riqueza de alegria, uma festa. Por assim dizer, naquela semana ela foi uma espécie de rainha de todo o agitado bairro; do Cabeça ao Largo Dois de Julho, do Areal de Cima ao Areal de Baixo, do Sodré a Santa Tereza, da Preguiça ao Mirante dos Aflitos. Sua casa cheia, gente importante, mas importante de verdade, batendo-lhe à porta, pedindo licença para entrar, pois apesar de hóspede do Palace foi em casa de Vadinho que Sílvio se expandiu, recebeu e conversou, como se aquele fosse seu lar, dona Flor sua irmã mais moça .
quarta-feira, abril 14, 2010
Isto é que é Racismo...
- Como te chamas? - Pergunta a professora.
- 'Kinaxixi' - responde o puto.
- Estamos em Portugal e não há cá Kinaxixis, isso era lá em Angola.
Daqui para a frente chamas-te 'Joaquim' - diz a professora.
À tarde, Kinaxixi volta para casa.
- Correu-te bem o dia, Kinaxixi? - Pergunta a mãe.
- Já não me chamo Kinaxixi, mas sim Joaquim, porque agora vivo em Portugal.
- Ah, tu tem vergonha do teu nome, da tua raça e renegas os teu pais!
A mãe fica danada e enfia-lhe uma galheta bem aviada.
Chega o pai a casa e faz a mesma pergunta:
- Correu-te bem o dia, Kinaxixi?
- Já não me chamo Kinaxixi, mas sim Joaquim, porque agora vivo em Portugal.
Diz o pai: - Ah, tu tens vergonha do teu nome e da tua raça? Então, até renegas os teu pais...
Kinaxixi oferece a outra face e leva mais uma galheta.
No dia seguinte quando chega à escola, a professora, reparando nas marcas dos dedos na cara do miúdo, pergunta:
- O que foi que te aconteceu, Joaquim?
- Bem, professora, mal me tornei português... fui logo agredido por dois pretos!...
- Como te chamas? - Pergunta a professora.
- 'Kinaxixi' - responde o puto.
- Estamos em Portugal e não há cá Kinaxixis, isso era lá em Angola.
Daqui para a frente chamas-te 'Joaquim' - diz a professora.
À tarde, Kinaxixi volta para casa.
- Correu-te bem o dia, Kinaxixi? - Pergunta a mãe.
- Já não me chamo Kinaxixi, mas sim Joaquim, porque agora vivo em Portugal.
- Ah, tu tem vergonha do teu nome, da tua raça e renegas os teu pais!
A mãe fica danada e enfia-lhe uma galheta bem aviada.
Chega o pai a casa e faz a mesma pergunta:
- Correu-te bem o dia, Kinaxixi?
- Já não me chamo Kinaxixi, mas sim Joaquim, porque agora vivo em Portugal.
Diz o pai: - Ah, tu tens vergonha do teu nome e da tua raça? Então, até renegas os teu pais...
Kinaxixi oferece a outra face e leva mais uma galheta.
No dia seguinte quando chega à escola, a professora, reparando nas marcas dos dedos na cara do miúdo, pergunta:
- O que foi que te aconteceu, Joaquim?
- Bem, professora, mal me tornei português... fui logo agredido por dois pretos!...
União de Bancos Suiços, a coisa está muito feia! Está pegando fogo!
Agoniza o segredo bancário suíço. Artigo de Gilles Lapouge - Paris.
A Suíça tremula. Zurique alarma-se. Os belos bancos, elegantes, silenciosos de Basileia e Berna estão ofegantes. Poderia dizer-se que eles estão assistindo na penumbra a uma morte ou estão velando um moribundo. Esse moribundo, que talvez acabe mesmo morrendo, é o segredo bancário suíço.
Agoniza o segredo bancário suíço. Artigo de Gilles Lapouge - Paris.
A Suíça tremula. Zurique alarma-se. Os belos bancos, elegantes, silenciosos de Basileia e Berna estão ofegantes. Poderia dizer-se que eles estão assistindo na penumbra a uma morte ou estão velando um moribundo. Esse moribundo, que talvez acabe mesmo morrendo, é o segredo bancário suíço.
O ataque veio dos Estados Unidos, em acordo com o presidente Obama. O primeiro tiro de advertência foi dado na quarta-feira.
A UBS - União de Bancos Suíços, gigantesca instituição bancária suíça - viu-se obrigada a fornecer os nomes de 250 clientes americanos por ela ajudados para defraudar o fisco. O banco protestou, mas os americanos ameaçaram retirar a sua licença nos Estados Unidos. Os suíços, então, passaram os nomes. E a vida bancária foi retomada, tranquilamente.
Mas, no fim da semana, o ataque foi retomado. Desta vez os americanos golpearam forte, exigindo que a UBS forneça o nome dos seus 52.000 clientes titulares de contas ilegais!
O banco protestou. A Suíça está temerosa. O partido de extrema-direita, UDC (União Democrática do Centro), que detém um terço das cadeiras no Parlamento Federal, propõe que o segredo bancário seja inscrito e ancorado pela Constituição federal. Mas como resistir!
A União de Bancos Suíços não pode perder sua licença nos EUA, pois é nesse país que aufere um terço dos seus benefícios.
A UBS - União de Bancos Suíços, gigantesca instituição bancária suíça - viu-se obrigada a fornecer os nomes de 250 clientes americanos por ela ajudados para defraudar o fisco. O banco protestou, mas os americanos ameaçaram retirar a sua licença nos Estados Unidos. Os suíços, então, passaram os nomes. E a vida bancária foi retomada, tranquilamente.
Mas, no fim da semana, o ataque foi retomado. Desta vez os americanos golpearam forte, exigindo que a UBS forneça o nome dos seus 52.000 clientes titulares de contas ilegais!
O banco protestou. A Suíça está temerosa. O partido de extrema-direita, UDC (União Democrática do Centro), que detém um terço das cadeiras no Parlamento Federal, propõe que o segredo bancário seja inscrito e ancorado pela Constituição federal. Mas como resistir!
A União de Bancos Suíços não pode perder sua licença nos EUA, pois é nesse país que aufere um terço dos seus benefícios.
Um dos pilares da Suíça está sendo sacudido. O segredo bancário suíço não é coisa recente.
Esse dogma foi proclamado por uma lei de 1934, embora já existisse desde 1714. No início do século 19, o escritor francês Chateaubriand escreveu que neutros nas grandes revoluções nos Estados que os rodeavam, os suíços enriqueceram à custa da desgraça alheia e fundaram os bancos em cima das calamidades humanas. Acabar com o segredo bancário será uma catástrofe econômica.
Para Hans Rudolf Merz, presidente da Confederação Helvética, uma falência da União de Bancos Suíços custaria 300 biliões de francos suíços ou 201 milhões de dólares.
Esse dogma foi proclamado por uma lei de 1934, embora já existisse desde 1714. No início do século 19, o escritor francês Chateaubriand escreveu que neutros nas grandes revoluções nos Estados que os rodeavam, os suíços enriqueceram à custa da desgraça alheia e fundaram os bancos em cima das calamidades humanas. Acabar com o segredo bancário será uma catástrofe econômica.
Para Hans Rudolf Merz, presidente da Confederação Helvética, uma falência da União de Bancos Suíços custaria 300 biliões de francos suíços ou 201 milhões de dólares.
E não se trata apenas do UBS. Toda a rede bancária do país funciona da mesma maneira. O historiador suíço Jean Ziegler, que há mais de 30 anos denuncia a imoralidade helvética, estima que os banqueiros do país, amparados no segredo bancário, fazem frutificar três triliões de dólares de fortunas privadas estrangeiras, sendo que os activos estrangeiros chamados institucionais, como os fundos de pensão, são nitidamente minoritários.
Ziegler acrescenta ainda que se calcula em 27% a parte da Suíça no conjunto dos mercados financeiros "offshore" do mundo, bem à frente de Luxemburgo, Caribe ou o extremo Oriente.
Na Suíça, um pequeno país de 8 milhões de habitantes, 107 mil pessoas trabalham em bancos.
O manejo do dinheiro na Suíça, diz Ziegler, reveste-se de um carácter sacramental. Guardar, recolher, contar, especular e ocultar o dinheiro, são todos actos que se revestem de uma majestade ontológica, que nenhuma palavra deve macular e realizam-se em silêncio e recolhimento...
Onde páram as fortunas recolhidas pela Alemanha Nazi? Onde estão as fortunas colossais de ditadores como Mobutu do Zaire, Eduardo dos Santos de Angola, dos Barões da droga Colombiana, Papa-Doc do Haiti, de Mugabe do Zimbabwe e da Mafia Russa?
Quantos actuais e ex-governantes, presidentes, ministros, reis e outros instalados no poder, até em cargos mais discretos como Presidentes de Municipios têm chorudas contas na Suiça?
Quantas ficam eternamente esquecidas na Suíça, congeladas, e quando os titulares das contas morrem ou caem da cadeira do poder, estas tornam-se impossíveis de alcançar pelos legítimos herdeiros ou pelos países que indevidamente espoliaram?
Porquê após a morte de Mobutu, os seus filhos nuncam conseguiram entrar na Suíca?
Tudo lá ficou para sempre e em segredo...
A agora surge um outro perigo, depois do duro golpe dos americanos.
Na minicúpula europeia que se realizou em Berlim, em preparação ao encontro do G-20 em Londres, França, Alemanha e Inglaterra (o que foi inesperado) chegaram a um acordo no sentido de sancionar os paraísos fiscais.
"Precisamos de uma lista daqueles que recusam a cooperação internacional", vociferou a chanceler Angela Merkel.
Ziegler acrescenta ainda que se calcula em 27% a parte da Suíça no conjunto dos mercados financeiros "offshore" do mundo, bem à frente de Luxemburgo, Caribe ou o extremo Oriente.
Na Suíça, um pequeno país de 8 milhões de habitantes, 107 mil pessoas trabalham em bancos.
O manejo do dinheiro na Suíça, diz Ziegler, reveste-se de um carácter sacramental. Guardar, recolher, contar, especular e ocultar o dinheiro, são todos actos que se revestem de uma majestade ontológica, que nenhuma palavra deve macular e realizam-se em silêncio e recolhimento...
Onde páram as fortunas recolhidas pela Alemanha Nazi? Onde estão as fortunas colossais de ditadores como Mobutu do Zaire, Eduardo dos Santos de Angola, dos Barões da droga Colombiana, Papa-Doc do Haiti, de Mugabe do Zimbabwe e da Mafia Russa?
Quantos actuais e ex-governantes, presidentes, ministros, reis e outros instalados no poder, até em cargos mais discretos como Presidentes de Municipios têm chorudas contas na Suiça?
Quantas ficam eternamente esquecidas na Suíça, congeladas, e quando os titulares das contas morrem ou caem da cadeira do poder, estas tornam-se impossíveis de alcançar pelos legítimos herdeiros ou pelos países que indevidamente espoliaram?
Porquê após a morte de Mobutu, os seus filhos nuncam conseguiram entrar na Suíca?
Tudo lá ficou para sempre e em segredo...
A agora surge um outro perigo, depois do duro golpe dos americanos.
Na minicúpula europeia que se realizou em Berlim, em preparação ao encontro do G-20 em Londres, França, Alemanha e Inglaterra (o que foi inesperado) chegaram a um acordo no sentido de sancionar os paraísos fiscais.
"Precisamos de uma lista daqueles que recusam a cooperação internacional", vociferou a chanceler Angela Merkel.
No domingo, o encarregado do departamento do Tesouro britânico, Alistair Darling, apelou aos suíços para se ajustarem às leis fiscais e bancárias europeias. Vale observar, contudo, que a Suíça não foi convidada para participar do G-20 de Londres, quando serão debatidas as sanções a serem adotadas contra os paraísos fiscais.
Há muito tempo se deseja o fim do segredo bancário. Mas até agora, em razão da prosperidade económica mundial, todas as tentativas eram abortadas.
Hoje, estamos em crise.
Viva a crise!!!
Há muito tempo se deseja o fim do segredo bancário. Mas até agora, em razão da prosperidade económica mundial, todas as tentativas eram abortadas.
Hoje, estamos em crise.
Viva a crise!!!
Barack Obama, quando era senador, denunciou com perseverança a imoralidade desses remansos de paz para o dinheiro corrompido. Hoje ele é presidente. É preciso acrescentar que os Estados Unidos têm muitos defeitos, mas a fraude fiscal sempre foi considerada um dos crimes mais graves no país.
Nos anos 30, os americanos conseguiram laçar Al Capone.
Sob que pretexto? Fraude fiscal.
Para muito breve, a queda do império financeiro suiço!
Nos anos 30, os americanos conseguiram laçar Al Capone.
Sob que pretexto? Fraude fiscal.
Para muito breve, a queda do império financeiro suiço!
Artigo de Gilles Lapouge - Paris
Citação Feminina do dia:
Os homens são como os pavimentos: Se os montarmos bem... podemos
pisá-los durante 30 anos!!
--------------------
Uma Freira velha pediu para escreverem na campa:
- Nasci virgem, Vivi virgem, Morri Virgem...
O cangalheiro achou que eram muitas palavras e escreveu:
- Devolvida sem ser comida
Os homens são como os pavimentos: Se os montarmos bem... podemos
pisá-los durante 30 anos!!
--------------------
Uma Freira velha pediu para escreverem na campa:
- Nasci virgem, Vivi virgem, Morri Virgem...
O cangalheiro achou que eram muitas palavras e escreveu:
- Devolvida sem ser comida
DONA
FLOR
E SEUS
DOIS
MARIDOS
- Não sou estudante…
- Ora senhor… Por isso não, fica sendo… Só que tem de andar depressa, o navio sai daqui a duas horas…
O tempo de correr até em casa, juntar umas cuecas e umas camisas, o terno azul de casimira, enquanto Mirandão, amigo para qualquer sacrifício, arrostava com as lágrimas de dona Flor.
Nunca mais ele voltaria, ela tinha a certeza. Não era tão palerma a ponto de acreditar naquela história absurda da Embaixada estudantil, de viagem de estudos. Se Vadinho não era estudante de coisa nenhuma, como fazer parte de uma caravana de universitários? O único estudo de Vadinho era o dos Livro dos Palpites com completa interpretação dos sonhos e dos pesadelos, indispensável a quem quisesse ganhar no jogo do bicho. Partira sem dúvida na esteira de alguma vagabunda para o abismo da depravação do Rio de Janeiro.
Quanto mais jurava Mirandão, pela sagrada memória de sua mãe, pela saúde de seus filhos, mais céptica dona Flor, aquela história não lhe merecia crédito. Por que vinha Mirandão, seu compadre, fazer tal papelão, causar-lhe tamanho desgosto, zombando de seus sentimentos, com mentira tão reles?
Se não lhe dispensava consideração e estima, por que então a convidara para madrinha do menino? Se Vadinho queria abandoná-la, ir-se embora com qualquer marafona, mudar-se para o Rio, pelo menos agisse como homem, viesse em pessoa, falando a verdade, não mandasse o compadre com aquele conto da carochinha para abusar de sua amizade e lhe passar diploma de idiota. “Mas, comadre, se é verdade, a pura verdade…?” “Juro que daqui a um mês a gente volta”.
Para que essa comédia toda? Nunca mais Vadinho voltaria, ela tinha certeza.
Voltou, no entanto, na data prevista, com a caravana – de cuja existência já se convencera dona Flor, pois o filho mais velho de dona Sinhá Terra, sua aluna, participava da excursão e, numa carta, referia-se a Vadinho, “um companheirão batuta”.
Não só voltou como lhe trouxe um régio corte de seda, tecido estrangeiro, bonito e caro. Sinal de sorte na roleta, pensara dona Flor, e de que Vadinho não a esquecera durante os passeios, as festas, as novidades do Rio, as noites de jogatina e farra. “Como havia de esquecer você, meu bem, se eu só fui para fazer favor aos rapazes, a embaixada não podia ficar incompleta”. Chegara usando colete, muito carioca, todo bem-falante. Fizera relações, citara nomes: o cantor Sílvio Caldas, Beatriz Costa, estrela de teatro.
A Sílvio fora apresentado por Caymmi, no Casino de Urca, onde o seresteiro cumpria contrato. Vadinho rasgava-lhe elogios à simplicidade, à modéstia. “Nem parece que é ele, de tão igual, você vai ver quando ele vier aqui. Me disse que vem em Março e eu prometi que tu ia fazer um almoço para ele, com tudo o que é prato baiano. Ele é metido a entendedor de cozinha”. Com que prazer cozinharia dona Flor esse almoço, se um dia surgisse tão remota oportunidade; era admiradora entusiasta do cantor, escutando-o ao rádio a voz tão brasileira!
FLOR
E SEUS
DOIS
MARIDOS
EPISÓDIO Nº 93
- Não sou estudante…
- Ora senhor… Por isso não, fica sendo… Só que tem de andar depressa, o navio sai daqui a duas horas…
O tempo de correr até em casa, juntar umas cuecas e umas camisas, o terno azul de casimira, enquanto Mirandão, amigo para qualquer sacrifício, arrostava com as lágrimas de dona Flor.
Nunca mais ele voltaria, ela tinha a certeza. Não era tão palerma a ponto de acreditar naquela história absurda da Embaixada estudantil, de viagem de estudos. Se Vadinho não era estudante de coisa nenhuma, como fazer parte de uma caravana de universitários? O único estudo de Vadinho era o dos Livro dos Palpites com completa interpretação dos sonhos e dos pesadelos, indispensável a quem quisesse ganhar no jogo do bicho. Partira sem dúvida na esteira de alguma vagabunda para o abismo da depravação do Rio de Janeiro.
Quanto mais jurava Mirandão, pela sagrada memória de sua mãe, pela saúde de seus filhos, mais céptica dona Flor, aquela história não lhe merecia crédito. Por que vinha Mirandão, seu compadre, fazer tal papelão, causar-lhe tamanho desgosto, zombando de seus sentimentos, com mentira tão reles?
Se não lhe dispensava consideração e estima, por que então a convidara para madrinha do menino? Se Vadinho queria abandoná-la, ir-se embora com qualquer marafona, mudar-se para o Rio, pelo menos agisse como homem, viesse em pessoa, falando a verdade, não mandasse o compadre com aquele conto da carochinha para abusar de sua amizade e lhe passar diploma de idiota. “Mas, comadre, se é verdade, a pura verdade…?” “Juro que daqui a um mês a gente volta”.
Para que essa comédia toda? Nunca mais Vadinho voltaria, ela tinha certeza.
Voltou, no entanto, na data prevista, com a caravana – de cuja existência já se convencera dona Flor, pois o filho mais velho de dona Sinhá Terra, sua aluna, participava da excursão e, numa carta, referia-se a Vadinho, “um companheirão batuta”.
Não só voltou como lhe trouxe um régio corte de seda, tecido estrangeiro, bonito e caro. Sinal de sorte na roleta, pensara dona Flor, e de que Vadinho não a esquecera durante os passeios, as festas, as novidades do Rio, as noites de jogatina e farra. “Como havia de esquecer você, meu bem, se eu só fui para fazer favor aos rapazes, a embaixada não podia ficar incompleta”. Chegara usando colete, muito carioca, todo bem-falante. Fizera relações, citara nomes: o cantor Sílvio Caldas, Beatriz Costa, estrela de teatro.
A Sílvio fora apresentado por Caymmi, no Casino de Urca, onde o seresteiro cumpria contrato. Vadinho rasgava-lhe elogios à simplicidade, à modéstia. “Nem parece que é ele, de tão igual, você vai ver quando ele vier aqui. Me disse que vem em Março e eu prometi que tu ia fazer um almoço para ele, com tudo o que é prato baiano. Ele é metido a entendedor de cozinha”. Com que prazer cozinharia dona Flor esse almoço, se um dia surgisse tão remota oportunidade; era admiradora entusiasta do cantor, escutando-o ao rádio a voz tão brasileira!
terça-feira, abril 13, 2010
DONA
FLOR
E SEUS
DOIS
MARIDOS
Sem ele não sabe viver, não pode viver. Como acostumar-se, se outra é a luz do dia envolto em cinza, num crepúsculo metálico onde vivos e mortos se confundem nas mesmas lembranças. Tantas imagens e figuras em derredor de Vadinho, tanto riso e tanto choro, um bulício, um calor, o tilintar das fichas e a voz do crupiê. Só no fundo da memória a vida se afirma, plena com a luz da manhã e as estrelas nocturnas; afirma-se vitoriosa sobre esse crepúsculo em coma, no estertor da morte.
Insone no leito de ferro, no abandono e na ausência, dona Flor parte na rota do acontecido, portos de bonança, mar de tempestades. Reúne momentos esparsos, nomes, palavras, o som de uma breve melodia.
Deseja romper a cintura de aço desse crepúsculo, mais além estão o dia de trabalho e a noite de descanso, a vida de viver. Não esse viver num tempo gris de nojo, não esse vegetar num asfixiante pântano de lama, essa sua vida sem Vadinho. Como sair desse óvulo de morte, como atravessar a porta estreita desse tempo nu? Sem ele não sabe viver…
Por vezes Vadinho fora tão ruim como decretavam as comadres, dona Rozilda, dona Dinorá, as demais carpideiras. Em outras ocasiões, porém, faziam-lhe injustiças, acusando-o sem motivo. Ela própria, dona Flor, assim agira por mais de uma vez.
Um dia, por exemplo, ele viajara às pressas, dona Flor soubera no último momento e imaginou o pior, considerando-o perdido para sempre. Não acreditava fosse ele regressar do Rio de Janeiro, com suas luzes feéricas, suas avenidas fervilhantes, os casinos, centenas de mulheres à disposição. Quantas vezes não ouvira Vadinho proclamar: “um dia me toco para o Rio, lá é que é vida, nunca mais volto…?”
Pura maluquice, aquela viagem. Necessitando de numerário, Mirandão inventara uma caravana de estudantes de agronomia com o fim de “visitar os centros de estudo do Rio de Janeiro” durante as férias. Percorreu o comércio em companhia de cinco colegas, tomando dinheiro de meio mundo com um Livro de Ouro. Foram mordidos banqueiros, industriais empresários, lojistas, comerciantes os mais diversos, políticos do governo e da oposição. Ao fim de alguns dias haviam conseguido considerável maquia e criado um problema: nas cortesias aos políticos, por três vezes, em sinceros preitos de homenagem, mudaram o nome da Embaixada. Dos três nomes ilustres, por qual agora optar? Mirandão propunha uma solução extremamente simples: dividir entre eles o dinheiro recolhido e dissolver a caravana ali mesmo dando os Centros de Estudo por visitados. Mas os cinco colegas, unânimes, discordaram: queriam fazer a viagem, conhecer o Rio (dispondo-se, inclusivé, se houvesse ocasião propícia, a visitar a Escola de Agronomia, percorrer-lhe as dependências).
Obtidas passagens de favor, requisitadas pela Secretaria de Agricultura do Estado – pela quarta vez a caravana mudava de nome em honra ao generoso Secretário de Estado – no dia do embarque, quase na hora do navio partir, houve uma defecção, um dos seis picaretas tremia de febre palustre, o médico proibira-lhe a viagem, quando já não tinham tempo de convidar outro estudante para a vaga, nem de vender a baixo preço a passagem inútil.
Vadinho acompanhara Mirandão ao cais, ouvia a discussão. Foi quando o outro lhe perguntou de repente:
- Por que você não vem, não aproveita a passagem?
FLOR
E SEUS
DOIS
MARIDOS
EPISÓDIO Nº 92
Sem ele não sabe viver, não pode viver. Como acostumar-se, se outra é a luz do dia envolto em cinza, num crepúsculo metálico onde vivos e mortos se confundem nas mesmas lembranças. Tantas imagens e figuras em derredor de Vadinho, tanto riso e tanto choro, um bulício, um calor, o tilintar das fichas e a voz do crupiê. Só no fundo da memória a vida se afirma, plena com a luz da manhã e as estrelas nocturnas; afirma-se vitoriosa sobre esse crepúsculo em coma, no estertor da morte.
Insone no leito de ferro, no abandono e na ausência, dona Flor parte na rota do acontecido, portos de bonança, mar de tempestades. Reúne momentos esparsos, nomes, palavras, o som de uma breve melodia.
Deseja romper a cintura de aço desse crepúsculo, mais além estão o dia de trabalho e a noite de descanso, a vida de viver. Não esse viver num tempo gris de nojo, não esse vegetar num asfixiante pântano de lama, essa sua vida sem Vadinho. Como sair desse óvulo de morte, como atravessar a porta estreita desse tempo nu? Sem ele não sabe viver…
Por vezes Vadinho fora tão ruim como decretavam as comadres, dona Rozilda, dona Dinorá, as demais carpideiras. Em outras ocasiões, porém, faziam-lhe injustiças, acusando-o sem motivo. Ela própria, dona Flor, assim agira por mais de uma vez.
Um dia, por exemplo, ele viajara às pressas, dona Flor soubera no último momento e imaginou o pior, considerando-o perdido para sempre. Não acreditava fosse ele regressar do Rio de Janeiro, com suas luzes feéricas, suas avenidas fervilhantes, os casinos, centenas de mulheres à disposição. Quantas vezes não ouvira Vadinho proclamar: “um dia me toco para o Rio, lá é que é vida, nunca mais volto…?”
Pura maluquice, aquela viagem. Necessitando de numerário, Mirandão inventara uma caravana de estudantes de agronomia com o fim de “visitar os centros de estudo do Rio de Janeiro” durante as férias. Percorreu o comércio em companhia de cinco colegas, tomando dinheiro de meio mundo com um Livro de Ouro. Foram mordidos banqueiros, industriais empresários, lojistas, comerciantes os mais diversos, políticos do governo e da oposição. Ao fim de alguns dias haviam conseguido considerável maquia e criado um problema: nas cortesias aos políticos, por três vezes, em sinceros preitos de homenagem, mudaram o nome da Embaixada. Dos três nomes ilustres, por qual agora optar? Mirandão propunha uma solução extremamente simples: dividir entre eles o dinheiro recolhido e dissolver a caravana ali mesmo dando os Centros de Estudo por visitados. Mas os cinco colegas, unânimes, discordaram: queriam fazer a viagem, conhecer o Rio (dispondo-se, inclusivé, se houvesse ocasião propícia, a visitar a Escola de Agronomia, percorrer-lhe as dependências).
Obtidas passagens de favor, requisitadas pela Secretaria de Agricultura do Estado – pela quarta vez a caravana mudava de nome em honra ao generoso Secretário de Estado – no dia do embarque, quase na hora do navio partir, houve uma defecção, um dos seis picaretas tremia de febre palustre, o médico proibira-lhe a viagem, quando já não tinham tempo de convidar outro estudante para a vaga, nem de vender a baixo preço a passagem inútil.
Vadinho acompanhara Mirandão ao cais, ouvia a discussão. Foi quando o outro lhe perguntou de repente:
- Por que você não vem, não aproveita a passagem?
domingo, abril 11, 2010
DONA
FLOR
E SEUS
DOIS
MARIDOS
E SEUS
DOIS
MARIDOS
EPISÓDIO Nº 91
Ao enxergar dona Flor de olhos húmidos, comentou a triste nova: pobre dona Ângela. Vinha de saber, encontrara Vadinho e o Cigano, ia vender o esquife praticamente sem lucro. Dona Ângela merecia: uma escrava no trabalho e sempre jovial, pessoa óptima. Seu Vivaldo fora uma vez, com Vadinho, honrar-lhe a feijoada…
Só então dona Dinorá e as outras comadres ligaram palavras e gestos, o dinheiro mudando de mão nas sombras do crepúsculo. Assim o disseram, pelo menos; acredite quem quiser.
Despediu-se seu Vivaldo com o compromisso de vir provar o prato espanhol, a receita custara-lhe esforço e propina: tivera de corromper a ama dos Taboadas, sua Antonieta era ciosa dos seus segredos culinários.
Dona Flor conhecera dona Ângela naqueles inesquecíveis dias finais do namoro, às vésperas do casamento, quando passava as tardes com Vadinho na casinha clandestina de Itapoã. O estroina dono da casa, durante o dia ocupado com os seus negócios de fumo, para as mulheres reservava as noites, as horas mortas da madrugada.
Sucedeu, porém, de passagem pela Bahia, uma carioca sensacional, com apenas uma tarde livre. Vadinho recebeu um recado para não utilizar naquele dia o discreto endereço.
No táxi, discutiram onde ir. Ela refugou o cinema, a matiné de indiscreta bolinagem; a um castelo ele não podia levar a sua esposa. Visitar tia Lita no Rio Vermelho? E se dona Rozilda aparecesse por lá? Cigano propôs irem ver dona Ângela que já demonstrara desejo de conhecer a noiva de Vadinho. Passaram a tarde com a gorda lavadeira, a conversar e a tomar café, Vadinho num assanhamento de beijos, dona Flor toda acanhada. Dona Ângela encantou-se com a moça, fez um discurso de alerta e compaixão:
- Vai casar com esse maluco… Deus lhe proteja e dê paciência, que muito vai precisar. Jogador é a pior nação do mundo, minha filha. Vivi para mais de dez anos com um…igualzinho a esse daí… De cabelo loiro como ele, branco de olho azul… Perdido pelo jogo, punha tudo fora. Até um medalhão que minha mãe me deixou, o maluco vendeu para enterrar o dinheiro no vício. Perdia tudo e ainda ficava brabo, vinha gritar comigo, me dar pancada…
- Lhe dava pancada? – a voz tensa de dona Flor.
- Quando bebia demais até bater ele me batia… Mas só quando bebia demais…
- E a senhora suportava? Isso eu não admito… De nenhum homem…
- Dona Flor estremecia de pavor só ao pensar: - Nunca hei-de admitir.
Dona Ângela sorriu compreensiva e experiente; dona Flor era ainda tão menina, nem começara a viver:
- Que é que eu podia fazer se gostava dele, se era minha sina? Ia largar ele sozinho nessa vida agoniada, sem ter quem cuidar dele? Era chofer como Cigano, só que trabalhava para os outros, de comissão. Nunca juntou dinheiro para dar de entrada num carro, o desperdiçado. O que eu juntava, ele perdia, tomava nem que fosse a pulso. Morreu de desastre, tudo o que deixou foi o filho pequeno para eu criar… - olhava dona Flor com afecto e pena: - Mas vou lhe dizer uma coisa, minha filha… Se ele me aparecesse de novo eu me juntava com ele outra vez. Morreu, nunca mais quis saber de outro homem, e olhe que não me faltou proposta, até de casamento. Eu gostava dele, que é que eu podia fazer, me diga, minha filha, se era minha sina?
“Era minha sina eu gostava dele”… Que é que dona Flor podia fazer? “Me diga, Norminha, que é que eu posso fazer? Esvaziar as malas, vestir-se de negro para ir ao velório de dona Ângela. “Que é que eu posso fazer, se é minha sina, se eu gosto dele?”
Dona Norma a acompanharia, sim. Era chegada dona Norma a um bom velório. Com lágrimas, soluços, flores roxas, velas acesas, cerimoniosos abraços de pêsames, orações, histórias e lembranças, anedotas e risos, um café bem quente, uns biscoitos, um trago pela madrugada; nada igual a uma sentinela.
Mudo o vestido num minuto…
“Que posso fazer, me diga, Norminha, se ele é minha sina? Largar ele por aí, sozinho, sem ter quem cuide dele? Que posso fazer, se eu sou doida por ele e sem ele não saberia viver?
FRASES DE CARIZ SEXUAL
- Não sei nada sobre sexo. Sempre fui casada... (Greta Garbo)
- As mulheres se dão para Deus quando o diabo não quer nada com elas... (Sophie Arnold)
- O problema do gordo é só um: quando ele penetra, não beija e, quando beija, não penetra... (Tim Maia, quando pesava mais de 140 kg)
- Orgasmo é como um ónibús: Se a agente perde um, dá um tempo, logo vem outro... (Márcia Zonega)
- O brasileiro é sueco com as mulheres dos outros, e mineiro com a própria mulher... (Ronaldo Boscoli)
- O que eu gosto na masturbação é que você não tem que dizer nada depois... ( Milor Forman)
- Amor platónico significa gostar de alguém do pescoço para cima... (T. Winslow)
- Clítoris ou Clitóris, lá no norte, mulher não tem essas coisas, não. E, se tiver entra na vara! (Raquel de Queiroz)
- Jamais alguém ganhará a guerra dos sexos: há demasiada confraternização entre o inimigo... (Kissinger)
- Às vezes fala o falo, outras fala o dedo... (Vinicius de Morais)