O Ténis e Eu
O Ténis e Eu
É incontornável, não há volta a dar-lhe, todos os médicos e não só, são implacáveis nas suas recomendações: “Faça exercício… Mexa-se.”
O corpo dos humanos, surpreendentemente, evoluiu para a posição bípede, pela primeira vez a coluna vertebrada, velhinha de 400 milhões de anos, adquiriu a posição vertical e os nossos antepassados perderam força e rapidez mas ganharam versatilidade, elegância, agilidade.
Deslocavam-se, então, pelas planícies africanas a passo ou em corrida, subiam às árvores, trepavam pelas rochas até ao cimo dos montes, atravessam os rios, saltavam as valas, era a versatilidade ao serviço da sobrevivência.
Eram esguios, elegantes, harmoniosos, frágeis no confronto físico mas atletas, todos eram atletas enquanto a idade o permitia porque faziam exercício… muito exercício.
Passados centenas de milhares de anos os mesmos homens já não andam nem correm nas planícies, nem trepam às árvores, nem sobem aos montes, nem nadam nos rios…estão sentados, comodamente sentados no seu local de trabalho, ao volante do automóvel em monótonas viagens nas auto-estradas, ou no pára-arranca de bichas intermináveis, ou repimpados no sofá da sala da sua casa.
Também já não são elegantes, engordaram, ganharam barriga, não porque comam muito mas porque não fazem nada para esmoerem o que comem.
Ser atleta tornou-se uma profissão e enquanto meia dúzia deles correm em pistas concebidas para o efeito, muitos milhões observam, uns, poucos, sentados nos estádios, a maioria, mais uma vez, sentados no sofá em frente das televisões, desolados porque o seu favorito perdeu por um décimo de segundo enquanto eles acham muito natural não conseguirem subir de uma só vez e a passo acelerado os vãos da escada do 2º andar do prédio onde moram.
Com o passar dos anos e principalmente por falta de uso os músculos que suportam o esqueleto definham muito mais rapidamente e a breve trecho não passamos de ossos cobertos de peles, tendões e camadas de gordura.
E o coração… coitado do coração, há muito que trabalha em regime de ralenti, até já se esqueceu daqueles tempos em que batia acelerado quando, em menino, corria atrás de outros meninos…agora, só acelera por força das palpitações pela coleg lá do emprego, ou de raiva pelo patrão que o chamou à atenção porque mais uma vez chegou atrasado, ou pelo seu clube que perdeu porque o árbitro marcou um penalty que nunca existiu.
Mas…e o ténis, onde entra ele nesta “história”? Não entra, o ténis entrou foi na minha vida e já muito depois dos 40 anos e agora, quase com 68, os meus parceiros ainda não têm a idade que eu tinha quando comecei.
E porquê o ténis, que no meu tempo de jovem, era coisa dos muito ricos, que o jogavam nos campos dos jardins das traseiras dos seus palacetes?
Há razões longínquas e próximas e outras que só têm a ver com o jogo em si.
Lembro-me do meu pai, quando eu era rapaz, dizer-me com ar de poucos amigos: …“até cegas quando vês uma bola”, e era verdade… aquela forma redonda, que saltitava provocadoramente à minha frente era um convite, um desafio que até à data os anos não alteraram.
Por uma questão de justiça tenho que referir, também, o 25 de Abril que, entre outras coisas, permitiu a democratização de certos desportos, entre os quais o ténis, que hoje se pode jogar em quase todas as cidades do país utilizando os investimentos feitos pelas Câmaras Municipais em instalações desportivas postas à disposição dos munícipes.
E, finalmente, o convite do meu compadre: …”venha jogar ténis connosco”…como se fosse convite que se fizesse a alguém que nunca tinha pegado, sequer, numa raquete.
Que maldade…teria sido, decerto, a primeira e última vez não fora o tal sortilégio que continuava a sentir por aquela coisa esférica saltitante e provocadora.
É que, a beleza do ténis, e esta é a verdade que se me revelou ao longo dos anos em que tentei aprender a jogá-lo, está precisamente na sua dificuldade.
Não nos iludamos, aquela facilidade com que vemos os profissionais trocarem bolas, fazendo-as passar de um lado para o outro por cima da rede, mesmo só na fase de aquecimento, é o mais possível enganadora.
Compre uma raquete e sem a desembrulhar vá, devidamente equipado, ter com o professor e ele fará o resto…você descobrirá por si, depois de aprender, o prazer de se movimentar no campo, de bater as bolas à esquerda e à direita com movimentos amplos, correctos que o farão sentir como um jovem desportista mesmo que tenha 80 ou 90 anos.
Um antigo campeão francês de Roland Garros, aos 91 anos, jogava ténis todos os dias.
Para mim, jogar ténis, constitui uma terapia e um teste:
Uma terapia para a alma porque alimenta o meu ego, reconduz-me à minha juventude, faz-me sentir o prazer das brincadeiras de outros tempos.
Um teste para o meu corpo que durante uma hora, quase sempre tão curta, se deslocou à esquerda e à direita, atrás e à frente, olhos postos naquela bolinha amarela como se o mundo começasse e acabasse nela.
E à saída, encharcado em suor, é como se ouvisse o meu médico dizer-me à despedida da consulta: …tudo bem, meu amigo, você está óptimo… e eu, em surdina, só para mim, pergunto, até quando? Mas será que não nos podemos esquecer do BI? Por que nos persegue ele mesmo quando nos sentimos bem e felizes? Se estamos mal é porque estamos mal, se estamos bem é até quando… logo, desfrutemos apenas o dia que passa porque a vida é isso mesmo, um dia após outro.
E, já agora, aprenda a jogar ténis, faça-o como investimento para a velhice, se não houver contra-indicação pode jogar e divertir-se até aos 100 anos, depois… logo se verá.
É incontornável, não há volta a dar-lhe, todos os médicos e não só, são implacáveis nas suas recomendações: “Faça exercício… Mexa-se.”
O corpo dos humanos, surpreendentemente, evoluiu para a posição bípede, pela primeira vez a coluna vertebrada, velhinha de 400 milhões de anos, adquiriu a posição vertical e os nossos antepassados perderam força e rapidez mas ganharam versatilidade, elegância, agilidade.
Deslocavam-se, então, pelas planícies africanas a passo ou em corrida, subiam às árvores, trepavam pelas rochas até ao cimo dos montes, atravessam os rios, saltavam as valas, era a versatilidade ao serviço da sobrevivência.
Eram esguios, elegantes, harmoniosos, frágeis no confronto físico mas atletas, todos eram atletas enquanto a idade o permitia porque faziam exercício… muito exercício.
Passados centenas de milhares de anos os mesmos homens já não andam nem correm nas planícies, nem trepam às árvores, nem sobem aos montes, nem nadam nos rios…estão sentados, comodamente sentados no seu local de trabalho, ao volante do automóvel em monótonas viagens nas auto-estradas, ou no pára-arranca de bichas intermináveis, ou repimpados no sofá da sala da sua casa.
Também já não são elegantes, engordaram, ganharam barriga, não porque comam muito mas porque não fazem nada para esmoerem o que comem.
Ser atleta tornou-se uma profissão e enquanto meia dúzia deles correm em pistas concebidas para o efeito, muitos milhões observam, uns, poucos, sentados nos estádios, a maioria, mais uma vez, sentados no sofá em frente das televisões, desolados porque o seu favorito perdeu por um décimo de segundo enquanto eles acham muito natural não conseguirem subir de uma só vez e a passo acelerado os vãos da escada do 2º andar do prédio onde moram.
Com o passar dos anos e principalmente por falta de uso os músculos que suportam o esqueleto definham muito mais rapidamente e a breve trecho não passamos de ossos cobertos de peles, tendões e camadas de gordura.
E o coração… coitado do coração, há muito que trabalha em regime de ralenti, até já se esqueceu daqueles tempos em que batia acelerado quando, em menino, corria atrás de outros meninos…agora, só acelera por força das palpitações pela coleg lá do emprego, ou de raiva pelo patrão que o chamou à atenção porque mais uma vez chegou atrasado, ou pelo seu clube que perdeu porque o árbitro marcou um penalty que nunca existiu.
Mas…e o ténis, onde entra ele nesta “história”? Não entra, o ténis entrou foi na minha vida e já muito depois dos 40 anos e agora, quase com 68, os meus parceiros ainda não têm a idade que eu tinha quando comecei.
E porquê o ténis, que no meu tempo de jovem, era coisa dos muito ricos, que o jogavam nos campos dos jardins das traseiras dos seus palacetes?
Há razões longínquas e próximas e outras que só têm a ver com o jogo em si.
Lembro-me do meu pai, quando eu era rapaz, dizer-me com ar de poucos amigos: …“até cegas quando vês uma bola”, e era verdade… aquela forma redonda, que saltitava provocadoramente à minha frente era um convite, um desafio que até à data os anos não alteraram.
Por uma questão de justiça tenho que referir, também, o 25 de Abril que, entre outras coisas, permitiu a democratização de certos desportos, entre os quais o ténis, que hoje se pode jogar em quase todas as cidades do país utilizando os investimentos feitos pelas Câmaras Municipais em instalações desportivas postas à disposição dos munícipes.
E, finalmente, o convite do meu compadre: …”venha jogar ténis connosco”…como se fosse convite que se fizesse a alguém que nunca tinha pegado, sequer, numa raquete.
Que maldade…teria sido, decerto, a primeira e última vez não fora o tal sortilégio que continuava a sentir por aquela coisa esférica saltitante e provocadora.
É que, a beleza do ténis, e esta é a verdade que se me revelou ao longo dos anos em que tentei aprender a jogá-lo, está precisamente na sua dificuldade.
Não nos iludamos, aquela facilidade com que vemos os profissionais trocarem bolas, fazendo-as passar de um lado para o outro por cima da rede, mesmo só na fase de aquecimento, é o mais possível enganadora.
Compre uma raquete e sem a desembrulhar vá, devidamente equipado, ter com o professor e ele fará o resto…você descobrirá por si, depois de aprender, o prazer de se movimentar no campo, de bater as bolas à esquerda e à direita com movimentos amplos, correctos que o farão sentir como um jovem desportista mesmo que tenha 80 ou 90 anos.
Um antigo campeão francês de Roland Garros, aos 91 anos, jogava ténis todos os dias.
Para mim, jogar ténis, constitui uma terapia e um teste:
Uma terapia para a alma porque alimenta o meu ego, reconduz-me à minha juventude, faz-me sentir o prazer das brincadeiras de outros tempos.
Um teste para o meu corpo que durante uma hora, quase sempre tão curta, se deslocou à esquerda e à direita, atrás e à frente, olhos postos naquela bolinha amarela como se o mundo começasse e acabasse nela.
E à saída, encharcado em suor, é como se ouvisse o meu médico dizer-me à despedida da consulta: …tudo bem, meu amigo, você está óptimo… e eu, em surdina, só para mim, pergunto, até quando? Mas será que não nos podemos esquecer do BI? Por que nos persegue ele mesmo quando nos sentimos bem e felizes? Se estamos mal é porque estamos mal, se estamos bem é até quando… logo, desfrutemos apenas o dia que passa porque a vida é isso mesmo, um dia após outro.
E, já agora, aprenda a jogar ténis, faça-o como investimento para a velhice, se não houver contra-indicação pode jogar e divertir-se até aos 100 anos, depois… logo se verá.