Memórias Futuras
Olhar o futuro pelo espelho retrovisor da história. Qual história? Que futuro?
sábado, abril 11, 2015
IMAGEM
Sabe-se, hoje, através de intensos estudos de campo, que o chimpanzé, nosso
primo afastado é um estratega e implacável caçador de outros macacos, defende
ferozmente o seu território de outros bandos e os chefes dos grupos lideram,
uns, com maior simpatia e aceitação, outros de forma mais despótica... tal como
nós, sem tirar nem pôr.
The Tokens - The Lion Sleeps Tonight
A magia da música da África do Sul. Esta nasceu no ano em que eu nasci. 1939 e foi escrita por Solomon Linda
Neil Tyson - Fala sobre Ovnis
Opinião abalizada... palavras idênticas, raciocínio igual para dizer o mesmo que o seu mentor e o maior divulgador científico da humanidade, o bem conhecido Carl Sagan, desaparecido prematuramente aos 62 anos, dizia.
Valério Cachorrão ficou lavado em sangue... |
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)
Episódio Nº 221
Ocorreram outras rixas de certo vulto
que por pouco não terminam em desgraça. Assim , por exemplo, quando Valério
Cachorrão, ajudante de tropeiro de muita farromba e cachaça fraca, estando
alto, resolveu tomar liberdades com a mulher de Chico Espinheira: de passagem
para Taquaras, o casal pernoitava no descampado.
Chico Espinheira, o próprio, aquele
mesmo que fora a júri em Ilhéus, no fim das lutas, acusado de ser o matador do
coronel Justino Maciel e de dois capangas.
O
turco e o tropeiro Maninho acudiram a tempo de impedir o pior: Chico Espinheira
com uma das mãos segurava Valério Cachorrão pelos gorgomilos, com a outra
trabalhava devagar com a ponta do punhal.
Valério Cachorrão ficou lavado em sangue mas
se safou com vida.
Estando ainda Tocaia Grande em seus começos,
dois mateiros, que, aliás, haviam chegado juntos dispostos a aliviar a
natureza, bateram-se a faca e se feriram os dois para saber qual deles iria
passar a noite com Bernarda.
Tinham-na visto no armazém mas nem
sequer haviam-lhe falado: se a tivessem consultado antes não haveria briga nem
facadas, pois ela estava de paquete, o balaio fechado.
Correndo o risco de levar as sobras,
Fadul conseguiu desapartar os violentos rivais - rivais por que, se Bernarda
não demonstrara o menor interesse por nenhum dos dois?
Terminaram de pazes feitas quando
finalmente desistiram da cabrita. Coroca lavou-lhes as feridas com álcool e
consolou um deles, o outro comboiou Dalila, também muito apreciada devido ao
exagero da taioba.
Bernarda, logo que chegara a Tocaia
Grande, dera lugar a seguidas disputas, resolvidas no tapa ou na carta mais
alta tirada na sorte do baralho. Mas, ao ficar patente a protecção com que a distinguia
o Capitão Natário da Fonseca, a cobiçada deixou de ser objecto de aposta e
desafio.
Podia prevalecer-se e abusar, atendendo tão-somente
a quem aceitasse e decidisse receber nos dias livres que lhe sobravam para
ganhar a vida. Reservava três dias para o padrinho ao anúncio de sua próxima
passagem: a véspera da chegada para com tempo e sossego preparar o acolhimento,
o dia da bem-aventurança e o seguinte.
Esse último para recordar em paz o
principal e os detalhes, cada palavra, cada gesto, o sorriso esqui vo, o abraço poderoso, a respiração e o desmaio.
Sua vida resumia-se a essas horas venturosas, passadas em rude e meiga companhia.
Aí fica o registo das desavenças mais
sérias, dos acidentes mais violentos, os mortos e os feridos: não foram tantos,
muita pachouchada, pouco sangue. Arruaças menores, pequenos bafafás, Fadul se
cansara de pôr-lhes cobro no grito, impondo sua ascendência de comerciante
quando não de credor.
Maria não conseguia atingir o orgasmo
quando fazia amor com o marido.
Certo dia, ela
contou-lhe:
- Amor, esta
noite tive um sonho incrível. Estávamos a fazer amor em cima do armário e tinha
um preto com um leque que nos abanava e eu senti tanto prazer...
Os dois decidem
então realizar o sonho. Procuram um preto na esqui na
da rua a quem oferecem 500€ para abanar os dois de cima do armário enquanto
fazem amor.
O negro aceita e
os três vão para o quarto.
O casal começa a
fazer amor e o preto, em cima do armário, abana com o leque.
Infelizmente, não dá nenhum resultado.
A Maria, então,
diz ao Manuel:
- Talvez seja
melhor inverter os papéis ... ficas em cima do armário e ele vem para aqui .
O Manuel, meio
perplexo, aceitou.
O preto vai para
a cama com a Maria e o Manuel vai para cima do armário abanar...
Pouco tempo
depois Maria grita de prazer e atinge o orgasmo.
Quando os dois
terminam, o Manuel desce do armário e diz ao preto:
- Viste como é
que se abana? ... Preto de merda!!! ...
Na areia da praia... e por que não nas estrelas do céu?... |
Por Que Nos
Apaixonamos
Tão
Intensamente?
Será que a pessoa por quem nos apaixonamos é tão melhor que
todas as outras a ponto de sofrermos profundamente quando não somos
correspondidos, de tentarmos mesmo o suicídio ou de provocarmos a morte de um
rival?
Que mecanismo é este que nos faz concentrar numa pessoa como se ela fosse a
única em todo o planeta?
Por que desenvolvemos dentro de nós este aliciante mas perigoso mecanismo?
Ao princípio, julgávamos que era o coração, depois o cérebro, agora parece ser
uma questão de compatibilidade hormonal.
Todos nos apercebemos quando somos surpreendidos pelas emoções da atracção
sexual. Quase que sentimos o penetrar da flecha do Cupido a justificar o êxtase
de certos momentos quando encontramos determinada pessoa.
… e sempre assim foi ao longo dos tempos!
Às vezes, esse momento muda as nossas vidas, outras não: a vida segue o seu
curso e nós ficamos com a impressão que perdemos a oportunidade de sermos
felizes para sempre.
- Para sempre?
Vinícius de Morais, que nestas coisas do amor era um “expert”, dizia sobre o
amor:
- “Que seja
eterno enquanto dure…”
Vivemos para o amor e construímos a nossa vida em função dele. Nascemos para
amar e sermos amados. Toda a nossa anatomia corporal parece ter essa finalidade
mas não confundamos paixão com amor. São sentimentos diferentes:
- As paixões, são turbilhões que nos desequi libram
e, talvez por isso, a palavra que vem do grego tem o seu radical ligado a
doença;
- O amor, tem a ver com os afectos e dá-nos, pelo contrário, uma sensação de equi líbrio e bem-estar.
“Nunca somos tão
indefesos contra o sofrimento como quando nos apaixonamos” – Sigmundo Freud.
Ver o seu sorriso, ouvir a sua voz, observar o seu andar, recordar um momento
especial ou um comentário inteligente, a mais leve percepção de ser amado envia
ao cérebro uma onda gigantesca de excitação à qual todos ficam vergados:
poetas, presidentes, académicos, técnicos: todos embarcam num estado confuso de
expectativa, esperança, agonia, beatitude.
Depois, a paixão diminui e uma nova sensação invade a mente: - o afecto, e este
é o mais esplêndido sentimento – uma sensação de natural satisfação, de um
compartilhar a identidade com outro ser humano.
... Talvez isso seja o que mais se aproxima da felicidade que
todos procuramos alcançar.
Mas é preciso viver até lá, ultrapassar a fase
"tumultuosamente maravilhosa" dos amores arrebatados em que a
natureza concentrou os ímpetos da vida deste estupendo animal que somos nós...
Qual de nós não se lembra de ter vivido, na sua juventude, um turbilhão de sentimentos, felicidade das felicidades, se formos correspondidos , ou desgraça das desgraças quando somos ignorados?...
Num caso ou noutro, foi aí que nós vivemos verdadeiramente.
Num caso ou noutro, foi aí que nós vivemos verdadeiramente.
sexta-feira, abril 10, 2015
Jogo ou mulheres, as duas únicas razões como se vê |
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)
Episódio Nº 220
Por um fugidio instante, ele a reviu
junto ao balcão servindo cachaça
aos tropeiros. Logo completou, aumentando a confusão do linguarudo:
- Pois eu aposto o dinheiro que tu me rouba como
é Tição que vai ganhar...
Durvalino engoliu o cuspo:
- Que eu roubo? Vosmicê não diga uma
coisa dessas nem por brincadeira. Esconjuro! - Tendo esconjurado, voltou ao
tema apaixonante: - Se vosmicê diz que seu Tição vai ser o vencedor, não sou eu
que vou duvidar. Ressu é da mesma opinião, é maluca por ele.
Cada coisa... Mas vosmicê vai ver: essa
pendência acaba mal, acaba em fuzuê... Vosmicê vai ver!
13
Fuzuês, sarilhos, barulhos - sempre
havia algum, devido as mais das vezes ao carteado ou a desavença por motivo de
mulher.
Em geral vavás de pouca monta, não davam
para susto e comentário. Acontecia dois viventes se estranharem nas apostas do jogo
de ronda ou no aconchego de uma rapariga: xingavam-se e se desafiavam, quase
sempre não passava disso, terceiros se metiam para apaziguar.
Todavia registaram-se algumas situações
delicadas, incidentes graves. O mais grave de todos se deu naquela sempre
lembrada festa de Santo António quando Cotinha levou um tiro na testa e morreu na
hora.
Outras mortes vieram aumentar as cruzes
no cemitério mas apenas duas em consequência de emboceto no povoado: dois mateiros
se empenharam em luta corporal por causa de Sebá, uma sujeitinha reles, sem
valia, um argaço.
Pois bem, por essa piolhenta um deles
acabou sangrado e enterrado às pressas, sem acompanhamento, enquanto o outro
desvalido sumiu no mato e dele nunca mais se soube.
Também impunemente - será necessário repetir?
- um jagunço matou um ajudante de tropeiro que tentou passá-lo para trás na
hora de virar a carta no baralho: jogo ou mulher, as únicas razões, como se vê.
Além dessas covas, o cemitério cresceu
devido às cobras e à febre que grassava solta em toda a zona do cacau. Uma
padecente esticou as canelas na estrada, perto dali, sofria de barriga-d’água,
estava sendo levada para Itabuna, uma récua de familiares sucedendo-se na
tarefa de carregar a rede.
Enterraram-na no povoado, depois de
emotivo velório no galpão de palha, com substancial consumo de cachaça. A
sentinela atravessou a noite em contínua animação devido à solidária presença
dos tropeiros e das putas. Na falta de padre, Fadul Abdala, pau para toda obra,
encomendou o corpo com unção e piedade, salmodiando em árabe e o fez de graça:
não cobrava serviços religiosos, o bom Deus os levaria em conta no dia do
juízo.
Ia uma Freira
a caminho do Convento quando uma loira lhe oferece boleia. A Freira entra no
carro e começa a reparar no seu luxuoso interior:
- Mas que
belo carro a Senhora tem! Deve ter trabalhado muito arduamente para o
conseguir comprar.
- Olhe Irmã,
por acaso não foi bem assim. Foi um industrial com quem dormi durante uns
tempos que me ofereceu.
Entretanto, a
Freira olha para o banco de trás onde estava pousado um casaco de vison e
exclama:
- Oh! O seu
casaco de peles é lindo! Deve ter custado uma fortuna.
- Não me
custou muito pois bastou-me passar umas quantas noites com um futebolista.
Após ouvir
isto, a Freira manteve-se calada durante o resto da viagem. Ao chegar ao
Convento foi para os seus aposentos tomar um banho revigorante.
Estava a
Freira na banheira quando ouve alguém a bater à porta do seu quarto:
- Quem é?
- É o Padre
António !
- Vai à
merda, mais os teus rebuçadinhos de mentol.......
Concerto para Violino de Tchaikovsky
(O Dia do Reencontro)
A emoção nos faz humanos...
O vídeo é um trecho do filme "O Concerto", baseado na história que se passou na Rússia, em 1980, quando o maestro Andrei Filipov e alguns músicos da Orquestra de Bolshoi foram despedidos por motivos políticos.
O vídeo é um trecho do filme "O Concerto", baseado na história que se passou na Rússia, em 1980, quando o maestro Andrei Filipov e alguns músicos da Orquestra de Bolshoi foram despedidos por motivos políticos.
O maestro, para sobreviver
financeiramente, aceitou o cargo de faxineiro do teatro.
Certo dia intercepta um fax do famoso
Teatro Chatelet de Paris que convidava a orquestra para tocar, sem saber que a
mesma estava, provisoriamente, suspensa.
O
maestro teve a brilhante ideia de reunir os músicos despedidos e apresentar-se
em Paris como se fosse a Orquestra de Bolshoi. Antes da apresentação, um grupo
de amigos, sem que o maestro soubesse, substituiu o seu solista por uma
desconhecida violinista que era sua própria filha que, em razão da perseguição
que sofreram do regime ditatorial russo, sua esposa e amigos entregaram, com
apenas seis meses, a uma violoncelista francesa que a levou, para Paris, dentro
do estojo do seu violoncelo.Vejam a cena final desta obra
cinematográfica.
A música da cena é "Concerto
para Violino" de Tchaikovsky..."O Dia do Reencontro"...
Prof. Adriano Moreira |
Estadista, político, deputado, politólogo, sociólogo, Prof. Universitário... |
Noventa e dois anos de idade, 6 filhos,
14 netos, reformado há 22 anos e um poço de sabedoria acumulada ao longo de uma
vida num cérebro brilhante.
Assim foi, ontem, o reencontro com o meu
professor de há 56 anos quando, aos 20, entrei pela primeira vez na sala de
aulas da antiga Escola Superior Colonial, ali ao Príncipe Real, em Lisboa, para
a disciplina de Princípios Gerais de Direito, aproveitando o facto de ele ter
aceite o convite da APRE, Associação de Pensionistas e Reformados, para vir a
Santarém , à Casa - Museu Pedro Canavarro, proferir uma palestra.
Reencontro com o meu professor mas
também reencontro com o passado. De repente, ali estava eu, sentado na carteira
e à minha frente, de pé, o Prof. Adriano Moreira dando uma aula envolvendo-nos
nas suas palavras como se não tivesse passado mais de meio século.
Como está, Sr. Professor? – Melhor do
que o país – responde-me ele.
Sem dúvida, melhor do que o país
relativamente ao qual ele sente uma genuína e muito sentida preocupação.
Quando o vi pessoalmente pela última vez
ele tinha 36 anos, o cabelo negro, estava na pujança da vida, irradiava
confiança, impunha o respeito e disciplina a mim, seu jovem e inseguro aluno.
Ontem, encontrei-o com a delicadeza e a
simpatia que o peso dos anos conferem. Mais sábio, com dúvidas, incertezas e
receios que há 56 anos, de certo, não tinha.
É assim a vida, torna-nos humildes e a
arrogância, se a houve, esmoreceu-se com o passar do tempo. Deixou de meter
medo aos alunos que se preparavam para ser examinados, medo infundado, de
resto, porque o seu interrogatório era leal.
Recordei-lhe uma ou outra coisa do
passado e ele sorriu... quantos milhares de alunos não terá ele tido ao longo
de toda a sua vida? Eu fiz apenas parte do 1º grupo desses alunos no já
longínquo ano lectivo de 1959/60.
Sabe, disse-nos ele, quando vou à minha
aldeia, para os lados de Macedo de Cavaleiros, Grijó de Vale Benfeito, os
velhos de 70 anos vêm ter comigo, abraçam-me e choram.
“Havia antigamente uma escola e eu pus lá
outra, hoje nem uma criança se vê... as pessoas eram então muito pobres mas
felizes, agora vivem tristes.”
O Prof. Adriano Moreira é hoje uma
pessoa na qual a sensibilidade cresceu com os anos. A CPLP, Comunidade de
Países de Língua Oficial Portuguesa, é uma “janela” para Portugal, uma
Comunidade de Afectos, nada que se confunda com a Commonwealth que já existia
antes das independências e não tem a ver com afectos que tenham ficado depois
dos ingleses partirem.
Se algumas dúvidas existissem a este
respeito lembro a minha experiência de 15 meses, nos anos de 1963/64, vivendo
na fronteira entre Angola e a Rodésia do Sul, hoje Zâmbia, onde os ingleses
eram denominados pelos Luenas, de brancos e os portugueses de... portugueses.
Era o princípio da comunidade de afectos, uma raiz longínqua da CPLP.
A outra “janela” de Portugal, para
Adriano Moreira, é o mar e a plataforma continental, a maior de todas no mundo chamando a atenção para a importância do trabalho das Universidades de Aveiro, Algarve e Açores para a
valorização desse património e estremece quando houve falar no “mar europeu”...
Da sua formação católica fala-nos da
importância da família como o grande pilar da sociedade e dos valores e
princípios como suporte da vida em sociedade e, puxando a brasa à sua sardinha
ou talvez não, do valor e contributo dos velhos.
Eram velhos os homens que lançaram e
construíram a Comunidade Europeia: Schuman, Jean Monet, Adenaur, Willy Brant,
velhos foram os Papas da sua admiração terminando agora no Papa Francisco.
Estávamos numa reunião promovida pela
APRE, todos com mais de 65 anos e o elogio aos velhos pareceu muito a propósito
sem deixar de ser verdadeiro.
Sem princípios e valores não há
confiança, por isso os terroristas do denominado Estado Islâmico não matam
príncipes nem ministros, matam inocentes para minar exactamente a confiança das
populações nos respectivos Estados e dessa forma enfraquecê-los.
Toda a nossa história mostra que Portugal
não tem existência sozinho aqui no
canto da Europa. Éramos um milhão de pessoas no tempo de D. João II quando
começou a nossa luta por outros espaços. Homens eram metidos em barcos e lá iam
eles sem que alguém soubesse para onde deixando o país entregue às mulheres que
asseguravam a criação dos filhos e a transmissão dos valores e dos costumes.
Demos a volta ao mundo e estamos
regressados, finalmente, ao espaço que é o nosso: a Europa. Temos que lutar por
ela, aperfeiçoá-la nas suas instituições, dar-lhe força, sobreviveremos com ela
ou morreremos fora dela, não há mais por onde ir.
Olhando para a história e para a Europa
vemos os países colonizados pelo antigo Império Romano: Chipre, Grécia, Itália,
Espanha, Portugal que constituem agora uma espécie de caminho inverso que as
populações destes países percorrem para trabalharem nos países ricos do norte
da Europa, antigamente o território dos bárbaros, os mesmos que destruíram Roma
e o Império Romano do Ocidente.
Agora é indispensável que a Europa se
defina quanto ao seu destino: ou a Alemanha se incorpora na Europa ou os
restantes países do Sul da Europa se tornam numa extensão da Alemanha com
gravíssimos riscos. A continuação de uma Europa rica a Norte e pobre a Sul não
corresponde ao projecto europeu,
A actual crise e dificuldades
resultantes de um Ajustamento das economias por força de um Tratado Orçamental
que tem de ser revisto, irá ter efeitos perniciosos na relação de confiança
entre os cidadãos e os Estados, em Portugal, Espanha, Itália, Grécia e na
própria França, levando ao aparecimento de franjas da população cada vez
maiores com tendências independentistas e de isolamento.
O Prof. Adriano Moreira foi uma das
personalidades que assinou a lista para a reestruturação da dívida a qual, por
questões semânticas aparentemente incompreensíveis, foi lida como não pagamento
da dívida o que nunca esteve no pensamento dos signatários.
O principal problema da Comunidade
Europeia tem a ver com o papel da Alemanha. Neste momento coloca-se com premência
a questão da Grécia mas será ela um problema grego ou europeu? – Da resposta a
esta pergunta poderá depender o desfecho da situação.
O Prof. não augura o futuro de uma
Grécia fora do Euro e da Europa e desta, por sua vez, sem a Grécia, que mesmo
com o equi líbrio que regista entre
importações e exportações ficaria só, sem ninguém que a ajudasse logo no dia a seguir à sua saída. Tem a palavra
a diplomacia.
Esta, terá sido a minha última aula com
o Professor Adriano Moreira, fui um privilegiado nesse aspecto embora, como ele
próprio reconheceu, a grande aula, agora que nós, os velhos, vamos estando de
partida e em termos de balanço final, a grande aula, aquela que ensinou mesmo,
foi a da vida.
quinta-feira, abril 09, 2015
Poeta lírico. Por interesse foi épico |
Os Lusíadas
Numa manhã a professora
pergunta ao aluno:
- Diz-me lá quem
escreveu 'Os Lusíadas'?
O aluno, a
gaguejar, responde:
- Não sei, Sra.
Professora, mas eu não fui.
E começa a
chorar. A professora, furiosa, diz-lhe:
- Pois então, de tarde,
quero falar com o teu pai.
Em conversa com
o pai, a professora faz-lhe queixa:
- Não percebo o seu
filho. Perguntei-lhe quem escreveu 'Os Lusíadas' e ele respondeu-me que não sabia, que não
foi ele...
Diz o pai:
- Bem, ele não costuma
ser mentiroso, se diz que não foi ele, é porque não foi. Já se fosse o irmão...
Irritada com
tanta ignorância, a professora resolve ir para casa e, na passagem pelo posto local da G.N.R., diz-lhe o comandante:
- Parece que o dia não
lhe correu muito bem...
- Pois não,
imagine que perguntei a um aluno quem escreveu 'Os Lusíadas'respondeu-me que não sabia, que não foi
ele, e começou a chorar.
O comandante do posto:
- Não se preocupe.
Chamamos cá o miúdo, damos-lhe um 'aperto', vai ver que ele confessa tudo!
Com os cabelos
em pé, a professora chega a casa e encontra o marido sentado no sofá, a ler o
jornal.
Pergunta-lhe este:
- Então o dia correu
bem?
- Ora, deixa-me
cá ver. Hoje perguntei a um aluno quem escreveu Os Lusíadas.
Começou a gaguejar, que
não sabia, que não tinha sido ele, e pôs-se a chorar.
O pai diz-me que ele
não costuma ser mentiroso. O comandante da G.N.R. quer chamá-lo e obrigá-lo a confessar. Que
hei-de fazer a isto?
O marido,
confortando-a:
- Olha, esquece. Janta,
dorme e amanhã tudo se resolve. Vais ver que se calhar foste tu e já não te lembras...!
NOTA - Parece ter virado segredo da cultura
portuguesa.
"Bem feito", para ele não ter sido, à época, bajulador de
Reis preocupado com a "pensãozinha". Salvou-se o Canto IX...
(Jorge Amado)
Episódio Nº 219
Leva-e-Traz, diziam para designá-lo, mas
a esse levar e trazer e ao hábito de exagerar - no que se parecia a Pedro Ogano
- deve-se ainda acrescentar a mania de
prever o desenvolvimento de cada assunto, anunciando o que iria suceder.
Além de Leva-e-Traz, alcunharam-no
também de Vosmicê-Vai-Ver. Figura familiar na Baixa dos Sapos, metia-se
constantemente em camisa de onze varas em conseqüência de seus constas, seus estão-dizendo-por-aí,
dos boatos e dos zunzuns, mas sobretudo devido às conjeturas e aos agouros.
Andou levando uns pegas, umas corridas
de quengas de maus bofes que se consideraram injuriadas ou caluniadas por
Vara-de-Pescar, se bem, em geral, fosse recebido com agrado e curiosidade ao
despontar no puteiro com ar misterioso e a pergunta habitual: já sabe da
novidade?
Por Já-Sabe? saudavam-no ao vê-lo
surgir, galalau de pernas de compasso e olhos arregalados.
Graças a Durvalino, Fadul andava de
grande: já não tinha de se levantar antes do sol para atender à saída dos
tropeiros passara-lhe a penosa obrigação. Chegava ao balcão depois de aliviar a
barriga, mergulhar no rio e tomar o café com farinha, jabá e rapadura.
Pronto para ouvir, junto com o cordial
“bom dia, patrão”, as notícias, os comentários e as previsões de empregado que
não ia à casinha, ao rio e ao fogão, antes de despejar o saco:
-
Vosmicê já sabe o que tá havendo entre Tição e Bastião da Rosa pro mode Diva?
Todo mundo sabe...
Também Fadul sabia, o próprio Durvalino
chamara sua atenção para o interesse com que os dois citados personagens rondavam
a filha de Ambrósio e de Vanjé, arrastavam-lhe a asa, à vista de todos.
Com a tendência para a jogatina
característica da população de Tocaia Grande - a estável e a transitória – já apostavam
sobre qual dos dois levaria a melhor no torneio de agrados e cortesias pela conqui sta do cabaço da galante sergipana.
Que Diva fosse cabaço não cabia dúvida,
nem o próprio Já-
Sabe?, língua comprida e viperina,
levantara qualquer suspeita a esse respeito: virgem até o momento em que Castor ou Bastião, um
dos dois, lhe fizesse o serviço.
A opinião pública encontrava-se
evidentemente dividida ao meio a propósito do resultado da contenda, mas
Durvalino tinha ponto de vista formado, não admitia discussão, era categórico:
-
Vosmicê não acha que seu Bastião ganha de longe? É muita petulância de seu
Tição pensar que Diva vai preferir um negro feio, um estupor - aqui pra nós que ele não me ouça - a
um branco que até parece raciado de
alemão? Seu Tição vai arrastar lata, vosmicê vai ver.
- Tu acha que Tição é feio porque é
negro mas pra tu ser negro igual a ele falta quase nada. Durvalino era ainda
mais escuro do que a tia, mulata cor de cacau seco: - Cor não faz boniteza nem
feiúra de ninguém, tanto pode ser bonito branco ou preto.
Baixando a voz, considerou como se
falasse consigo mesmo: - - Zezinha se
fosse branca não era tão bonita...