Memórias Futuras
Olhar o futuro pelo espelho retrovisor da história. Qual história? Que futuro?
sábado, março 23, 2013
BEAUTIFUL SUNDAY - DANIEL BOONE
Uma linda canção de 1972. Um ano que marcou a minha vida... mais uma razão para me lembrar dela.
O CONTEXTO
O contexto é o refúgio dos políticos.
Eles só dizem o que dizem dentro do Contexto, fora dele nada daqui lo que afirmaram querem dizer o que disseram…
Os “malditos” dos jornalistas
inventam cada coisa…
Do género:
1º Ex.
“… - Mas V.Exª afirmou que se ia demitir por cansaço…
- …
- Não, não, o senhor não pode retirar as minhas palavras do Contexto em que
elas foram ditas: eu tinha acabado de subir as escadarias do Ministério e
estava, de facto, muito cansado e daí a minha afirmação perfeitamente
compreensível e justificada.
2º Ex:
… - Mas o Sr. Presidente disse
textualmente: “Corram com eles à pedrada”.
“… - Não, não vá por aí, não retire
essa afirmação do contexto, eu estava a presidir a uma Assembleia das Juntas de
Freguesia…”
Ficamos, neste caso, a saber que numa
reunião da Assembleia de Juntas de Freguesia a expressão:” Corram-nos à
Pedrada” significa: “Convidem-nos delicadamente a irem-se embora.”
3º Ex:
Mas VªExª afirmou que: “A Crise
Acabou”.
… - Não, não, o senhor está a retirar
as palavras do Contexto em que foram ditas e esse Contexto é de esperança e de
optimismo para o futuro no qual a crise irá acabar e esta é que é a
interpretação correcta das minhas palavras, foi o que, rigorosamente, eu disse.
4ºEx:
Mas V.Exª afirmou que a energia
eléctrica iria sofrer no próximo ano um agravamento de 17,8%...
… - Não, não, o senhor está a citar
as minhas palavras fora do Contexto de anos e anos em que os consumidores
andaram a pagar a electricidade abaixo do seu custo real e por isso a minha
vontade era que no próximo ano sofressem esse aumento de 17,8% mas atendendo a
que se trata de um bem de 1ª necessidade ao qual as camadas mais débeis da
população não se podem furtar o Governo, sensível que é às questões de natureza
social, irá ponderar essa situação e decidir um aumento que se ficará apenas
pelos 6%.
Sinceramente, não há pachorra... ou
será alguma nova forma de dislexia em que as dificuldades de ler e escrever são
substituídas por problemas de expressar oralmente o nosso, deles, pensamento?
MORENA: O meu marido hoje
mandou-me flores! Já sei que esta noite vou ter que abrir as pernas!
LOIRA: A sério... Porquê?! Não
tens uma jarra?!
Baiana do Acarajé |
O PAÍS
DO
CARNAVAL
Episódio Nº 54
Não acredito. Pedro não é
feliz. Garanto que ele sofre uma tragédia intensa. Muito orgulhoso, não conta
nem com os amigos.
- Acho que não. Pedro colocou-se acima de
tudo. Acima da própria vida. É superior. Não sente as alegrias e as dores
quotidianas.
- O homem que não sentisse as alegrias e as
dores quotidianas seria o homem sereno. Mas esse homem ideal não existe.
Ticiano sente também… Principalmente as dores…
- E a felicidade o que é?
- Talvez seja o encontrar uma consolação na
vida…
- Como?
- Um sistema filosófico, uma religião…
- Pode ser. A mim só falta tentar a religião.
- Você fracassará na religião também…
- Por quê?
- Porque a religião só satisfaz quando
chegamos a ela pela filosofia. A não ser assim…
- A não ser assim…
- … pode sentir-se a beleza da religião,
a poesia, mas a gente se saciará como se sacia de uma mulher…
Não conhece as bases, os porquês…
- Entretanto, o povo, os homens ignorantes,
que nem sabem o que seja a filosofia, sentem-se felizes na religião.
- Os ignorantes, sim. Mas você é um homem
superior.
- Que desgraça se ter um pouco de
inteligência! Eu daria toda a minha fortuna em troca da ignorância de um pobre
diabo desses.
- Velha aspiração, meu amigo, de todo o homem
inteligente.
Pediram outro vermute.
José Lopes continuou:
- Eu tenho um romance pronto sobre esse
assunto, Paulo…
- Tem? Quando sai?
- Mas não posso publicá-lo. Cadê dinheiro?
- Eu financio a edição… Mas vamos tratar logo
disso.
Paulo Rigger pagou a
despesa. José Lopes, metido numa roupa surrada, muito magro, era a imagem da
vida de todos eles.
- José Lopes, por que você não vai morar em
minha casa? Eu vou mandar preparar um quarto para você…
- Não Rigger. Deixe-se de trabalhos…
- Vou mandar. E amanhã você se muda.
- Não, senhor. Eu não sei viver em casa de
família. Não vou, decididamente.
- Você…
sexta-feira, março 22, 2013
Humor universitário
Na biblioteca duma
universidade um tipo pergunta a uma moça:
- Importa-se que me senta
ao pé de si?’
A moça respondeu em voz muito alta: - Não, não quero passar a noite consigo!
Toda a gente na biblioteca ficou a olhar para o indivíduo, visivelmente embaraçado.
Passado um pouco a moça foi calmamente até à mesa onde ele estava e disse:
- Eu estudo psicologia,
por isso sei o que um homem está a pensar… ficou embaraçado, não
foi?
Então o fulano respondeu em voz muito alta:
- Quinhentos euros por uma noite? Isso é demais!
Desta vez toda a gente na biblioteca olhou chocada para a rapariga.
O indivíduo sussurrou-lhe então ao ouvido:
- Eu estudo direito, por isso sei como lixar o parceiro!"
A este, faltam-lhe os bigodes. |
Tive a sorte de conhecer, já lá vão quase 50 anos, junto à fronteira leste de Angola, nas então denominadas “terras do fim do mundo” do Alto Zambeze, um velho Soba, de bigodes entrançados, que era um produto genuíno de velha África tradicional que provavelmente, naquele estilo, já vai ser difícil encontrar hoje.
Era casado com várias mulheres, algumas muito mais novas que ele, e a sua descendência vasta era constituída por muitos jovens ainda de pouca idade.
Um camarada meu, de forma maliciosa, perguntou-lhe se todos aqueles jovens eram filhos dele ao que respondeu, serenamente, sem ter acusado a malícia da pergunta, que todas as crianças que nasciam na sua cobata eram seus filhos.
De forma simples e sintética o que ele disse é que para a sociedade a que pertencia, o importante eram as ligações afectivas de carácter familiar e social porque se tratava de pessoas e não de bois-cavalos que pastavam ali ao lado, em imensas manadas nas planícies a perder de vista. Entre estes, só prevalecem as relações biológicas mãe-cria porque, fora dela, as crias morrem votadas ao abandono por todos os restantes elementos do grupo que não a reconhecem, num comportamento de aparente “crueldade” que as conduz inevitavelmente á morte sempre que as mães por variados acidentes, morrem numa lógica que será a da sobrevivência daquela espécie. As outras fêmeas não se podem “distrair” de outras crias que não seja a sua.
Nas sociedades primitivas
a família funda-se na criação de laços de aliança entre um homem e uma mulher,
de descendência que unem os pais aos filhos e de consanguinidade mas o aspecto
biológico é relegado para um segundo plano pois enquanto o vínculo biológico
mãe/filho é claro e directo o mesmo não acontece com a paternidade. Por isso, culturalmente,
o soba era o pai de todas aquelas crianças nascidas de mulheres suas e, daí a
resposta sábia:
- Se nasceu na palhota são meus filhos.
A EMOÇÃO FAZ-NOS HUMANOS
Certo dia ele interceptou um fax do famoso
Teatro Chatelet de Paris que convidava a Orquestra que tinha sido sua, para
tocar, por não saberem que a mesma estava provisoriamente suspensa.
O maestro teve, então, a brilhante ideia de
reunir os músicos despedidos e apresentar-se em Paris como se fosse a Orquestra
de Bolshoi.
Antes
da apresentação, um grupo de amigos, sem que o maestro soubesse, substituiu o
solista da orquestra por uma desconhecida violinista que era, sem ele saber, a
sua própria filha que, em razão da perseguição que sofreram do regime
ditatorial russo, a sua esposa e amigos entregaram, com apenas seis meses, a
uma violoncelista francesa que a levou para Paris dentro do estojo do seu
violoncelo.
Vejam a cena final desta obra
cinematográfica. A música da cena é "Concerto para
Violino" de Tchaikovsky ...O Dia do Reencontro...
DO
CARNAVAL
Episódio Nº 53
Paulo Rigger andava à toa.
E quase se choca com Dª Helena, que saltitante, vestido novo, cumprimentava-o:
- Oh, Dr. Paulo! Como vai?
- Vou mais ou menos… E a senhora, Dª Helena?
- Bem. Não como o senhor…
E toda curiosa:
- E Maria de Lourdes, Dr.
Paulo, tem visto?
- Não, Dª Helena. Não sei que fim levou.
Dª Helena sabia. Maria de
Lourdes chorara muito com o rompimento. Mudaram-se. Depois haviam-lhe contado,
a madrinha arranjara uma cadeira de professora no interior. E viajaram…
Rigger, muito pálido,
despediu-se:
- Adeus, Dª Helena, adeus!
- Oh, dr. Paulo! Pelo amor de Deus… Que
pressa” Vamos conversar um pouco… Eu agora moro em casa minha. Quer ir até lá,
conversar?
Paulo Rigger foi. Deu-lhe
uma vontade repentina de possuir aquela mulher. Ela tinha qualquer coisa de
comum com Maria de Lourdes.
Talvez tivesse a sensação
de possuir a sua ex-noiva quando apertasse entre os braços a vizinha de quarto.
E sentiu, de facto, essa sensação esqui sita.
Parecia-lhe apertar Maria de Lourdes, quando abraçava Helena.
E Paulo Rigger voltou a
sofrer intensamente.
Tornara-se difícil
encontrar qualquer dos amigos. Ricardo, casado, estava na fazenda que ele lhe
cedera para a lua-de-mel.
Paulo Rigger sentira que
Ricardo se afastara completamente deles. Tentara a experiência a ver se
conseguia a Felicidade. E no Piauí, na cidadezinha do interior, vivendo a sua
experiência, vivendo o seu burguesíssimo amor, não queria naturalmente
recordar-se dos amigos que negavam a felicidade do casamento.
Invadiu-o uma alegria
enorme quando, em uma tarde de sol intenso, encontrou José Lopes, que lia uma
obra de Freud ao mesmo tempo que tomava um cálice de vermute.
- José!
- Olá, Paulo! Sente-se.
- Lendo sempre, José Lopes?
- É verdade…
- Disposto a encontrar a Felicidade na
filosofia?
- E o que será a Felicidade, Rigger? Será a
alegria de todo o dia, a dor de toda a hora? Você bem sabe que essa Felicidade
não nos satisfaz.
- Talvez seja a serenidade, a indiferença de
Pedro Ticiano.
quinta-feira, março 21, 2013
A D. Maria no beija-mão papal
Vale a pena ver a apresentação de cumprimentos do casal Silva e do afilhado portas ao papa Francisco . A Dra. Maria, com o seu véu tipo Amália Rodrigues que a distinguiu de quase todas as outras esposas presidenciais que se apresentavam com um ar menos fundamentalista, foi uma das mais efusivas, tanto que até parece que estava ali na sequência de um convite pessoal e aproveitou para apresentar o esposo, que por coincidência, é presidente. Aliás, a D. Maria até se antecipou e foi a primeira a cumprimentar o papa. Logo atrás, com ar de neto mais velho vinha um Paulo Portas cheio de fé e de trejeitos, até a cabecinha abana toda mais parecendo um daqueles cãezinhos com que os portugueses gostavam de decorar os carros nos anos 60. O único ministro dos negócios estrangeiros que se aproveitou da boleia presidencial para ir à missa e ao beija-mão papa. Enfim, uma delegação parola e saloia. "O JUMENTO!
Vale a pena ver a apresentação de cumprimentos do casal Silva e do afilhado portas ao papa Francisco . A Dra. Maria, com o seu véu tipo Amália Rodrigues que a distinguiu de quase todas as outras esposas presidenciais que se apresentavam com um ar menos fundamentalista, foi uma das mais efusivas, tanto que até parece que estava ali na sequência de um convite pessoal e aproveitou para apresentar o esposo, que por coincidência, é presidente. Aliás, a D. Maria até se antecipou e foi a primeira a cumprimentar o papa. Logo atrás, com ar de neto mais velho vinha um Paulo Portas cheio de fé e de trejeitos, até a cabecinha abana toda mais parecendo um daqueles cãezinhos com que os portugueses gostavam de decorar os carros nos anos 60. O único ministro dos negócios estrangeiros que se aproveitou da boleia presidencial para ir à missa e ao beija-mão papa. Enfim, uma delegação parola e saloia. "O JUMENTO!
VIVIANE - MEU CORAÇÃO ABANDONADO
Que bom entregar-mo-nos no som de uma linda canção portuguesa cantada por uma voz tão fresca...
Perante a situação crítica que atravessamos entendi ser de bom senso consultar um sábio chinês, portador de uma cultura várias vezes milenar e que, vendo-me tão preocupado, me disse:
- Há apenas duas coisas
com que você se deve preocupar:
- Se você está bem ou se
você está doente.
- Se você está bem, não
há nada com que se preocupar.
- Se você está doente,
há duas coisas com que se preocupar:
- Se você se vai curar
ou se vai morrer.
- Se você se vai se
curar, não há nada com que se preocupar.
- Se você vai morrer, há
duas coisas com que se preocupar:
- Se você vai para o céu
ou vai para o inferno.
- Se você vai para o
céu, não há nada com que se preocupar.
- Agora se você for para
o inferno, estará tão ocupado cumprimentando os velhos amigos, que nem terá
tempo de se preocupar.
- Então, para que se
preocupar ?
Fiquei muito mais descansado...
CHIPRE |
E se um dia a Gazprom
comprasse Portugal?
«Então chegámos ao ponto
em que uma empresa se propõe comprar um país da União Europeia. Não se trata de
comprar uma ilha das Caraíbas pintalgada por palhotas folclóricas. Trata-se da
aqui sição, a preço de saldo, de um
pequeno Estado, é certo, mas que é membro da, ó mito, poderosa Zona Euro... É
revolucionário!
Autor:
Pedro Tadeu.
Nota - Perante uma proposta tão indigna de Bruxelas, todas as alternativas podem acontecer...
DO
CARNAVAL
Episódio Nº 52
E quase sempre terminava
por tomar o automóvel e ir para casa de Ticiano conversar.
Ticiano já não saía. Quase
completamente cego, mal podendo caminhar pela casa. Ajudava-o uma neta, garota
de treze anos que fugia mal avistava Paulo Rigger. Aqueles dois homens
conversavam muito. Pedro Ticiano, “blagueur”, ria da insatisfação de Paulo:
- Porque você não chega à religião, rapaz?
- Sei lá! Talvez chegue mesmo…
- Ora, Rigger, deixe isso. Procure viver para
a dúvida. Viver para o sofrimento. Para a própria insatisfação. Em vez de
combater a dúvida, adorá-la. Eu duvido de tudo.
- Até da dúvida?
- Principalmente da dúvida…
- Eu sei, Ticiano, que você achou a solução do
problema. Por que a guarda tão avaramente? Por que não no-la ensina?
- Eu tenho dito tantas vezes! A solução é não
querer solucionar…
- Blague…
- Então é…
Pouco se encontravam
ultimamente. Paulo Rigger ensimesmado, só procurava Ticiano. José Lopes,
bebendo muito, enterrado entre livros de filosofia, não trabalhava e mudava
constantemente de pensão.
Cada vez que saía de uma,
ia para outra pior. Magro, insatisfeito, odiando a vida, lia cada vez mais, a
ver se, entre as páginas de Kant e de São Tomás, encontrava a Felicidade.
- Só na filosofia…
Mas Ricardo Braz
discordava:
- Só no amor, no casamento…
E Ricardo Braz casou-se.
Paulo Rigger e José Lopes serviram de testemunhas. Paulo oferecera-lhe a
fazenda para passar a lua-de-mel. Depois iria para uma cidadezinha do interior
longínquo do Piauí.
Infeliz – murmurava
Ticiano.
Jerónimo Soares
libertava-se aos poucos da influência de Pedro Ticiano. Começava a ser feliz.
Passava as noites com a rameira que encontrara naquele dia com Pedro Ticiano.
Fazia projectos de morar
com ela na mais completa felicidade… Aparecia raramente. Mas, nos dias em que
visitava Ticiano, botava abaixo todos os seus sonhos ao ouvir as blagues do
amigo.
E pensava em ser como Pedro, um indiferente,
superior, mau, destruidor de ilusões.
À noite, porém, entre os
braços dela, esquecia Ticiano. E ao seu pensamento voltava a imagem de uma
casinha, muito amor, muito carinho, o sorriso bom dela, a mais completa
felicidade.
E lutava contra a
influência de Pedro Ticiano. Temia não poder vencê-la. Se não a vencesse, seria
infeliz toda a vida… nunca a realizaria os seus sonhos, nunca teria coragem de
ser feliz…
E Pedro Ticiano que achava
aqui lo tudo tão ridículo…
quarta-feira, março 20, 2013
O PAÍS
DO
CARNAVAL
Episódio Nº 51
- E as entrevistas que eu
consegui no Rio, que devo fazer delas? Publicar noutro jornal?
José Lopes pensava que
devia mandar as entrevistas para o Gomes. “Nem isso a gente deve querer dele…”
- Ora essa! Eu vou ao Rio às minhas custas. Realizo
depois umas entrevistas. Por que motivo elas são do A. Gomes?
- Você foi com o fito de realizá-las para ele.
Mande.
- Bem, vou mandar. Você,
José Lopes, sempre o mesmo sujeito bom.
Jerónimo informava:
- Agora o “Estado da Bahia” é dirigido por um
jornalista cheio de moralidade que veio do interior.
E os redactores?
- Gente daqui mesmo. Está horrivelmente mal escrito…
- Fará sucesso. Para a Bahia só um jornal
assim.
- O Gomes, eu o vi outro dia, cada vez mais
gordo. Enriquece o canalha…
- Inteligente…
- Mas analfabeto até ali.
- Acabará Governador do Estado!
- Se acaba.
Uma preta na rua,
rebolando as ancas, gritava:
- Amendoim torrado! Acarajé e abará!
E mais longe, um garoto
berrava:
- O “Estado da Bahia”… Olha o “Estado da Bahia”.
Artigo sobre a carestia de vida….
A imagem de Maria de
Lourdes apagava-se aos poucos no pensamento de Paulo Rigger. Ele sentia,
entretanto, que mesmo conseguindo esquecê-la, jamais reconstruiría a sua vida. Jamais
tomaria um “sentido”, marcharia para um “fim”, na existência.
Para que vivia, afinal.
Sentia a sua vida parada como as águas de um lago que não tem, como os rios, um
fim, o de correr para os oceanos. Mas ao contrário das águas de um lago, apesar
de parada, a sua vida não era serena. Acompanhava-o sempre uma insatisfação
enorme. A necessidade de ser feliz, ou pelo menos sereno. De viver sem desejos,
sem sonhos, como Pedro Ticiano.
Já que não encontrava “o
sentido”, o fim da existência, que, pelo menos, encontrasse a Serenidade. Que
ficasse indiferente, sem desejos. Mas até isso sentia impossível. A tortura de
procurar a Felicidade não o largava.
Não conseguira, como
Ticiano, endeusar a dúvida. E tinha goras horríveis. Na chácara, trancado no
seu quarto, andava de um lado para o outro numa vontade enorme de acabar com
tudo aqui lo.
O Papa Renuncia para
Limpar o Vaticano
Umas semanas depois
de regressar das suas viagens a Cuba e ao México, em Março de 2012, durante as
suas férias em
Castelo Gandolfo , Joseph Ratzinger assumou a um poço muito
escuro que só os seus olhos estavam autorizados a ver.
Uma informação
elaborada por três cardeais octogenários, sobre a fuga massiva de documentos
secretos que sacudiu o Vaticano e que só terminou depois da detenção de Paolo
Gabriel, o ajudante de câmara de Bento XVI.
Não se tratava de
uma peça para encerrar o caso mas de uma investigação cheia de nomes e datas
dos protagonistas das guerras do poder que desde há anos vêm sucedendo no
Vaticano e das quais, o chamado caso Vatileask não era mais do que a sua
escandalosa consequência.
Ao terminar a
leitura da Informação, Bento XVI, tinha já todos os dados. Aos anjos caídos
pode-se combater com a oração e o bom exemplo mas, contra os príncipes da
Igreja é mais aconselhável uma espada de aço temperado e de um braço capaz de
empunhá-la e ele já não tinha forças.
Dizem que foi por
aquela época quando Bento XVI – um homem tímido, incapaz de uma confrontação
directa mas um profundo conhecedor das intrigas do Vaticano – decidiu ir-se
embora.
Na manhã de ontem,
os qui osques de Roma deixavam claro
que, para além da surpresa, a imprensa italiana e internacional ressaltava a
coerência da decisão de Bento XVI.
A sua sinceridade ao
reconhecer o seu cansaço, pedir perdão e ir-se embora. Numa cafetaria de Borgo
Pio, o bairro das ruas estreitas, contíguas ao Vaticano, um diplomata
acreditado na Santa Sé, colocava a sua atenção sobre um aspecto que não deixava
de ser apelativo: “Se olharmos, com atenção, para a generalidade dos jornais,
cada um, ao seu estilo, refere-se ao Papa como uma vítima das lutas pelo poder
no Vaticano.
Há uns meses atrás,
mesmo uns anos, quem abordasse o assunto do desgoverno da Igreja faziam-no
culpando Ratzinger, a sua falta de carácter, a sua maneira equi vocada de escolher os colaboradores.
Será feio usar esta
palavra referindo-se a um Papa mas, pode-se dizer que com a sua renúncia,
Josepf Ratzinger realizou a sua vingança perfeita.
Ele vai-se embora
mas, com ele, caem todos os que lhe amargaram o papado e tornaram ingovernável
o Vaticano.
Meia hora depois, na
sede romana de uma congregação religiosa, com fortes ligações a Espanha, um
prelado sorri com a interpretação:
- “É algo malvada, própria de um não crente,
inadequada num momento em que a única coisa que há a fazer é acompanhar o Santo
Padre que se vai embora e prepararmo-nos para receber o Santo Padre que será
eleito dentro de uns dias mas, devo dizer que ele não se furta à realidade.”
Uma realidade que
pelo seu próprio carácter, só Ratzinger a conhece e talvez o único homem de sua
confiança seja o seu Secretário Pessoal, desde 2003, monsenhor George Ganswein.
A decisão de Bento
XVI – que qui s deixar muito claro –
que não era imposta pela enfermidade mas sim pela sua falta de vigor espiritual
para continuar a governar a barca de Pedro - pode conduzir também à desmontagem
de um organigrama de poder cada vez mais afastado das necessidades dos católicos
mas que continua a satisfazer a voracidade da Cúria.
Cardeais
confrontando-se entre si, instituições religiosa em luta por privilégios, um
Secretário de Estado, Tarcisio Bertone, que há muito tempo perdeu a confiança
de um Papa que, para evitar o escândalo da substituição decidiu substitui-lo
por si próprio.
Por outro lado, o
assunto de novela dos «corvos» - os espiões, os traidores – deixou para um
segundo plano um acontecimento de muito maior importância para entender que o
Vaticano continua a ser um Estado mais obscuro do que qualquer outro.
Em Setembro de 2009,
Ratzinger, nomeou o especialista em Finanças, Ettore Gotti Tedeschi, próximo da
Opus Dei e representante do Banco Santander em Itália desde 1992, Presidente do
Instituto das Obras para a Religião (IOR) o Banco do Vaticano.
Segundo se disse então, a nomeação supunha um
golpe de autoridade de Bento XVI, a última intenção de por em ordem as finanças
da Santa Sé Vaticano, trazer luz para onde nunca a houve.
Basta recordar que o cardeal dos Estados
Unidos, Paul Marcinkus e o escândalo do Banco de Deus dos anos setenta e
oitenta, cujo culminar foram os assassinatos de Robert Calvi, responsável pela
falência do Banco Ambrosiano e do banqueiro mafioso Michele Sindona,
pertencentes ambos à Loja Maçónica P2.
Naquele Setembro de 2009, Gotti Tedeshi,
que chegou ao Banco com a intenção de limpá-lo mas, antes de se completarem
três anos, deu –se conta de que, efectivamente, aquele trabalho era muito
perigoso.
Tanto que, na primavera de 2012, Gotti
Tedeshi, elaborou uma informação secreta de tudo quanto havia visto nos últimos
meses. Foi descobrindo que por detrás de algumas contas cifradas, escondia-se
dinheiro sujo de “políticos, intermediários, construtores e altos funcionários
do Estado” mas, não só. Como sustenta a fiscalização de Trapani (Sicília),
também Mateo Messina Denaro, novo chefe dos chefes da Casa Nostra teria a sua
fortuna a bom recato na IOR – Instituto de Obras Para a Religião – através de
nomes fictícios.
Dizem que foi então quando Gotti Tedeshi
que havia recebido o encargo do Papa como uma autêntica missão começou a ter
medo. Um medo que o levou a arranjar uma escolta e a elaborar, folha por folha,
uma carta que só viria à luz caso fosse assassinado.
Um medo que se acentuou quando,
coincidindo com a detenção de Paolo Gabriele pela difusão de documentos
secretos. Gotti Tedeshi foi então destituído do Banco do Vaticano.
A operação de derrube do amigo do papa
levada a cabo pelos conselheiros do Banco e com a protecção do Secretário de
Estado Monsenor Bertoni, incluía um “documento duríssimo que o demolia moral e
profissionalmente ao dar a entender que ele estava envolvido no roubo de
documentos ao Papa”, segundo explicou então Andrea Tornielli, um jornalista
especializado em assuntos do Vaticano.
Não se trata, portanto, de desfazer a
amizade com o Papa Tratava-se de destrui-lo. Daí que, quando por outros
motivos, os agentes dos Carabinieri se apresentaram em sua casa, depois de ele
já ter sido despedido, para um simples registo da casa, ele apanhou um susto
enorme: “Há, sois polícias…” disse-lhes aliviado. “Pensei que vinham dar-me um
tiro”
Os escândalos do Mordomo Mor infiel e do
banqueiro despedido não acabaram sem consequências. Paoleto recebeu uma
condenação simbólica e foi logo indultado e no julgamento ficou logo claro que
se tratava de um acordo. Os silêncios foram mais eloquentes do que as palavras.
Também Gotti Tedeshi aceitou ser
despedido em silêncio, “por amor ao Papa” e quando os fiscais e jornalistas
italianos qui seram saber do conteúdo
do documento secreto do banqueiro, uma nota do Vaticano os mandou calar e eles
calaram…
Paoleto e Gotti são personagens
pitorescos de uma história muito mais crua e obscura do que aqui lo que o Papa viu quando se debruçou sobre as
investigações dos três Cardeais octogenários.
Jornal El País
Nota – Ratzinger, com quem não simpatizava, passou a ter a minha admiração. Não como católico, religioso ou simplesmente crente, que o não sou, como sabem os meus amigos do Memórias Futuras, mas como cidadão deste nosso mundo.
Com Francisco, na parte da doutrina da Igreja, irão os católicos
continuar encerrados nos dogmas férreos que desde sempre caracterizam a Igreja
Católica de Roma.
O acesso das mulheres ao sacerdócio continuará fora de questão, como
se elas não fizessem parte da humanidade, e a proibição de casamento dos padres manter-se-à, como sempre foi, uma aberração e um atentado à própria natureza humana,
fonte de “pecados” e de dolorosos sacrifícios “tão ao gosto” da Igreja.
Já quanto ao funcionamento, estrutura e saneamento da organização na
sua sede do Vaticano, talvez aí outro galo venha a cantar.
De resto, só pode melhorar…
De resto, só pode melhorar…