Memórias Futuras
Olhar o futuro pelo espelho retrovisor da história. Qual história? Que futuro?
sábado, janeiro 25, 2014
A VELHICE
O médico atende o paciente idoso e milionário, que estava a usar um revolucionário aparelho de audição, e pergunta:
- E então, Sr. Almeida, está a gostar do aparelho?
- É muito bom! Respondeu o velhinho.
- E a família gostou? ? Pergunta o médico.
- Não contei a ninguém ainda... Mas já mudei o meu testamento três vezes!
Almada Negreiros dizia que “um povo completo tem todas as qualidades e todos os defeitos.
- Coragem, portugueses, já só vos faltam as
qualidades!”
Esta imagem corresponde bastante ao que
pensamos de nós mesmos. Alimentamos, de resto, o gosto da auto-crítica, temos
prazer em dizer mal do nosso país e dos seus habitantes. Não há nada que mais
entusiasme um português que dizer mal do seu vizinho.
A auto-estima dos portugueses é baixa e
isso afecta-os na confiança, dificulta-lhes o futuro. Na verdade,
colectivamente, somos pró fracalhote por falta de uma tradição de bons exemplos
da parte das classes nobres, mandantes e poderosas deste país, desde sempre.
Educa-se pela palavra mas sem exemplo
adianta pouco… O trabalho como método de enriquecimento é fundamental em
substituição da “esperteza saloia” tão caracteristicamente nacional.
As energias e as vitalidades têm que ser
educadas ou, se qui serem,
encaminhadas por quem tem responsabilidades na condução do país aos mais variados
níveis, para servirem correctamente os interesses dos próprios e os da
comunidade em
reciprocidade. Casos isolados de coragem, confiança, espírito
vencedor são, isso mesmo, sucessos individuais que tanto jeito tem dado ao país
nestes últimos anos.
Mas senão cultivarmos valores de ética,
cidadania e de respeito pelo colectivo, a tendência irá noutro sentido e tornar-se-á
padrão na sociedade: o “chico espertismo”, a técnica do desenrascanço.
Não basta ficarmo-nos pelo que é legal.
Os maiores crimes contra os interesses do país cometeram-se em aparentes
legalidades e daí a dificuldade da justiça condenar os prevaricadores e, também
por isso, os processos se arrastam e raramente resultam em condenações em
conformidade com os delitos, muitas vezes multas ridículas.
A Justiça é a pedra basilar de uma
sociedade porque prevaricadores sempre os houve e há-de haver em todas as
sociedades e as pessoas sabem que é assim. A diferença de umas para outras está
na eficiência e celeridade com que a justiça actua.
Os cidadãos aguardam esses sinais e se
eles não aparecem sobra a descrença, o desalento e a sociedade, o colectivo,
começa a pensar mal de si próprio.
O Estado português conseguiu no ano
passado cobrar receitas mais de 35% superiores às do ano anterior, coisa nunca
atingida em nenhum outro país, autêntico recorde, sendo que, cobrança de impostos é,
efectivamente, uma das obrigações dos Estados, desde sempre.
Parece que pelo meio houve um perdão
fiscal… mas recordes são recordes.
Suponham agora que o mesmo Estado, que
foi 35% mais eficiente na cobrança de impostos, era também 35% mais eficiente
na aplicação da justiça?
Eu, como português, ter-me-ia sentido
muito orgulhoso por essa eficiência acrescida de 35%. Agora, na cobrança de
impostos, mesmo que em parte tenha a ver com aqueles que deviam pagar e não
pagavam, caloteiros que andavam fugidos, tresmalhados, mesmo assim só significa
que o Estado enlouqueceu em ir-nos aos bolsos.
Eu e os meus colegas reformados e
funcionário do Estado somos vítimas predilectas porque nem temos, sequer,
oportunidade de os pagar. É tudo descontado no recibo de pagamento, umas vezes
explicado, outras esquecido.
Mas não há surpresa. O ministro das
Finanças, o que se foi embora escrevendo uma carta em que reconhecia ter
falhado, ameaçou logo na entrada em funções, que íamos ser sujeitos a um enorme
aumento de impostos.
Vejamos um caso concreto, o meu. Em
2000, quando me reformei, foi-me atribuída uma pensão anual de 36.786.73. Reparem
que eu digo atribuída e não dada porque, se falamos em dar depois falamos em
tirar e daí a roubar é um pequeno passo como se demonstra nas manifestações.
Pois bem, fazendo fé na importância do
que me foi entregue neste 1ª mês de Janeiro e multiplicando por 12 meses, verifico que mais de 45% já lá vai… mas,
sabendo nós, que vamos descontar mais 1,5% para o sistema de Saúde começamos a
aproximarmo-nos da metade para eles, metade para mim..
Chegados aqui ,
uma pergunta se pode fazer:
-
O meu país alguma vez produziu riqueza que lhe permitisse pagar no futuro a
pensão que me foi atribuída no Ano 2000?
- Não terá sido tudo isto uma ficção, um
desejo de voar alto, o alimentar de um sonho bom com muita má gestão, demagogia
e alguma roubalheira à mistura?
Pessoalmente não me queixo. Seria
injusto para com tantos concidadãos meus, da minha geração, que também
trabalharam uma vida inteira para o Estado e sobrevivem com muito menos.
Para se queixar, de resto, temos o nosso
Presidente da República que trocou o seu ordenado pela reforma de 10.000 euros, que
lhe é superior, e em Janeiro de 2012 dizia no Porto numa entrevista:
-
“Tudo somado, quase de certeza que não vai chegar para
pagar as minhas despesas porque, como sabe, eu não recebo salário como PR.”
Com governos como estes, que
nos trouxeram aonde estamos e Presidentes “solidários” como Cavaco, os
portugueses, ordeiros, que não incendeiam carros nas ruas nem partem montras,
podem gabar-se de ser um povo maduro, uma verdadeira pátria a merecer o
respeito e a confiança dos credores.
Quincas estava sorrido para ele... |
A MORTE
E A MORTE
DE QUINCAS
BERRO
DÁGUA
Episódio Nº 21
Caçava ratos e sapos para vendê-los aos
laboratórios de exames médicos e experiências científicas – o que tornava
Pé-de-Vento figura admirada, opinião das mais acatadas.
Não era ele um pouco cientista, não
conversava com doutores, não sabia palavras difíceis?
Só após muito caminho e vários tragos
deram com ele, embrulhado em seu vasto paletó, como se sentisse frio,
resmungando sozinho.
Soubera da notícia por outras vias e
também ele buscava os amigos. Ao encontrá-los, meteu a mão num dos bolsos. Para
retirar um lenço com que enxugar as lágrimas, pensou Curió.
Mas, das profundezas do bolso,
Pé-de-Vento, extraiu uma pequena jóia verde, polida esmeralda.
Tinha guardado para Quincas, nunca
encontrei uma tão bonita.
IX
Quando surgiram na porta do quarto,
Pé-de-Vento adiantou a mão em cuja palma estendida estava pousada a jóia de
olhos saltados.
Ficaram parados na porta, uns por detrás
dos outros. Negro Pastinha avançava a cabeçorra para ver, Pé-de-Vento,
envergonhado, guardou o animal no bolso.
A família suspendeu a animada conversa,
quatro pares de olhos hostis fitaram o grupo escabroso.
Só faltava aqui lo,
pensou Vanda. Cabo Martim, que em matéria de educação só perdia para o próprio
Quincas, retirou da cabeça o surrado chapéu, cumprimentou os presentes:
-
Boa tarde, damas e cavaleiros. A gente queria ver ele…
Deu um passo para dentro, os outros o
acompanharam. A família afastou-se, eles rodearam o caixão. Curió chegou a
pensar num engano, aquele morto não era Quincas Berro Dágua.
Só o reconheceu pelo sorriso. Estavam
surpreendidos os quatro, nunca poderiam imaginar Quincas tão limpo e elegante,
tão bem vestido.
Perderam num instante a segurança,
diluiu-se como por encanto a bebedeira. A presença da família – sobretudo das
mulheres – deixava-os amedrontados e tímidos, sem saber como agir, onde pousar
as mãos, como comportar-se ante o morto.
Curió fitou os outros três, ridículo com
seu rosto pintado de vermelhão e seu fraque roçado, a pedir que fossem dali o
mais depressa possível.
Cabo Martim vacilava, como um general em
vésperas de batalha enxergando o poderio inimigo. Pé-de-Vento chegou a dar um
passo em direcção à porta.
Só Negro Pastinha, sempre por detrás dos
outros, a cabeçorra estirada para a frente, não vacilou sequer um segundo.
Quincas estava sorrindo para ele, o
negro sorriu também. Não havia força humana capaz de arrancá-lo dali, de perto
do paizinho Quincas.
sexta-feira, janeiro 24, 2014
Desta vez sem imagens para nos podermos concentrar melhor no prodígio desta voz e na beleza desta canção.
AS MULHERES
DE HOJE
Cada um de nós é o produto da época e da sociedade em que nasce e em 1939 a sociedade portuguesa era dominada pelos homens, pelo menos na aparência, porque na intimidade dos lares, muitas vezes, eram as mulheres que decidiam e organizavam tudo ainda que de forma oculta e sub-reptícia para salvaguardar as aparências de uma sociedade machista e patriarcal.
Na família onde nasci o”homem” da casa era a minha mãe. Era ela que educava os filhos para além, já se vê, de tratar deles na saúde e na doença. Comandava, igualmente, o exército das criadas que chegaram a ser três: a cozinheira, a de “fora” e a dos “meninos” e organizava tudo desde os “assaltos” lá em casa (17 assoalhadas) pelo Carnaval, enquanto que o meu pai passava discreto por aquele autentico turbilhão de energia que era a minha mãe.
Na família onde nasci o”homem” da casa era a minha mãe. Era ela que educava os filhos para além, já se vê, de tratar deles na saúde e na doença. Comandava, igualmente, o exército das criadas que chegaram a ser três: a cozinheira, a de “fora” e a dos “meninos” e organizava tudo desde os “assaltos” lá em casa (17 assoalhadas) pelo Carnaval, enquanto que o meu pai passava discreto por aquele autentico turbilhão de energia que era a minha mãe.
Quando, no pós guerra, o meu pai comprou o Vauxhall, ela tirou a carta de condução em pouco mais de 20 lições e sujeitou-se a ouvir toda a espécie de piropos quando conduzia na baixa lisboeta desde o clássico “vai cozer meias” que era, por excelência, a tarefa que os homens reservavam às mulheres para as humilhar e castigar pelo atrevimento e ousadia em desempenharem funções que as promoviam socialmente, que era, ao fim e ao cabo, o grande pecado.
Não seria este o panorama geral dos lares e das mulheres portuguesas na década de 40 e esta é mais uma razão para uma palavra de elogio à minha mãe pela coragem e arrojo necessários para escandalizar a sociedade da sua época com comportamentos que incluíam também o de fumar e que, de há muito, fazem parte do dia a dia de todas as portuguesas.
Mas estamos agora a assistir a um autêntico volte-face desta situação que se prolongou demasiado no nosso país com resultado de uma moral e costumes impostos pelo medo e à força por um regime bolorento que só terminou em 25 de Abril.
Não seria este o panorama geral dos lares e das mulheres portuguesas na década de 40 e esta é mais uma razão para uma palavra de elogio à minha mãe pela coragem e arrojo necessários para escandalizar a sociedade da sua época com comportamentos que incluíam também o de fumar e que, de há muito, fazem parte do dia a dia de todas as portuguesas.
Mas estamos agora a assistir a um autêntico volte-face desta situação que se prolongou demasiado no nosso país com resultado de uma moral e costumes impostos pelo medo e à força por um regime bolorento que só terminou em 25 de Abril.
E foi pena que assim tivesse acontecido porque a marcha de uma sociedade não deve ser retida artificialmente, barrada no seu percurso natural determinado pelas influências normais que se desencadeiam no seu seio permitindo que a adaptação a novos comportamentos possam ser feitos de uma forma crítica, gradual e sem traumas.
Não foi assim que aconteceu. Registaram-se quebras abruptas de princípios e valores arrastados na enxurrada da revolução dos cravos comprovando que os malefícios dos regimes de força constituem uma chaga social que dura enquanto eles existem e perduram ainda durante muitos anos depois de terminarem.
Mas, esquecendo agora a minha mãe que talvez não sirva de exemplo, sempre me pareceu injusto, face à responsabilidade e ao volume de trabalho que recaíam sobre a mulher, o papel subalterno que o homem lhe reservava.
Hoje, quando vejo as Universidades, maioritariamente preenchidas por alunos do sexo feminino, quando entro num Serviço Público e me apercebo que a maioria esmagadora dos funcionários, incluindo as chefias, são mulheres e quando, nos ecrãs da TV, me aparece uma jovem loura a falar na qualidade de responsável máxima da PSP de Lisboa, vem-me à memória o que era a sociedade portuguesa nos tempos idos da minha meninice e compreendo, então, que os privilégios que os homens, ciosamente, reservavam para si, tinham a ver com a percepção sentida de que, em termos de competição pura, seriam facilmente ultrapassados.
Ana Paula Vitorino, engenheira civil, Secretária de Estado dos Transportes em Março de 2005, foi a primeira mulher escolhida para ditar as políticas públicas nos sectores marítimo-portuários, logístico, ferroviário, transportes urbanos e ferroviários.
Não foi assim que aconteceu. Registaram-se quebras abruptas de princípios e valores arrastados na enxurrada da revolução dos cravos comprovando que os malefícios dos regimes de força constituem uma chaga social que dura enquanto eles existem e perduram ainda durante muitos anos depois de terminarem.
Mas, esquecendo agora a minha mãe que talvez não sirva de exemplo, sempre me pareceu injusto, face à responsabilidade e ao volume de trabalho que recaíam sobre a mulher, o papel subalterno que o homem lhe reservava.
Hoje, quando vejo as Universidades, maioritariamente preenchidas por alunos do sexo feminino, quando entro num Serviço Público e me apercebo que a maioria esmagadora dos funcionários, incluindo as chefias, são mulheres e quando, nos ecrãs da TV, me aparece uma jovem loura a falar na qualidade de responsável máxima da PSP de Lisboa, vem-me à memória o que era a sociedade portuguesa nos tempos idos da minha meninice e compreendo, então, que os privilégios que os homens, ciosamente, reservavam para si, tinham a ver com a percepção sentida de que, em termos de competição pura, seriam facilmente ultrapassados.
Ana Paula Vitorino, engenheira civil, Secretária de Estado dos Transportes em Março de 2005, foi a primeira mulher escolhida para ditar as políticas públicas nos sectores marítimo-portuários, logístico, ferroviário, transportes urbanos e ferroviários.
Reuniu-se, a propósito do Dia Internacional da Mulher, com as suas 14 líderes de primeira linha e a sua preocupação é de ainda não existirem mulheres nos Conselhos de Administração da CP, da Refer, do Metro de Lisboa e do Porto o que, provavelmente, em breve poderá acontecer.
Kjell Nordstrom, Guru do ano 2000 e que há quase uma década teoriza sobre a vantagem competitiva das mulheres explica-nos a razão desta evolução:
-“As mulheres adequam-se melhor às características das sociedades modernas, urbanas, democráticas e igualitárias onde as pessoas são reconhecidas pelo mérito do seu desempenho”.
E acrescenta:
-Mas agora entrámos verdadeiramente noutra fase, em que as aptidões e os perfis procurados são muito mais femininos, privilegiando a maior capacidade de gerir tensões e coligações de forma pacífica e eficaz, sem transformar o mínimo atrito numa competição agressiva”.
-Um bom exemplo é dado pela Chanceler alemã Ângela Merkl e pelo seu hercúleo trabalho a gerir a coligação política que governa a Alemanha.
Lembram-se do papel pacificador que as mulheres desenvolviam com toda a diplomacia e descrição no seio das grandes famílias patriarcais do século XIX?
Sem esquecermos a nossa 1º Ministro, Maria de Lurdes Pintassilgo que muito honrou a nossa classe política de governantes, o nosso país não pode equiparar-se, neste aspecto, aos nórdicos onde, por exemplo, na Noruega, o governo tem 50% de mulheres.
Tradicionalmente, os homens latinos desempenharam um papel muito apagado na criação dos filhos e esta realidade reduziu-os na sua dimensão humana, na sua capacidade de decisão a todos os níveis e tornou-os menos responsáveis.
Quem hoje é avô depois de ter sido pai há 40 anos atrás compreende melhor este ponto de vista.
São, pois, profundas as alterações que estão a acontecer na estrutura da sociedade contemporânea e o homem se quiser desenvolver características que nas mulheres são natas e que hoje as tornam importantes para liderar a gestão moderna há que começar a treinar, como hoje já fazem muitos jovens pais, na criação e educação dos seus filhos desde o nascimento em paralelo com as mães.
Caso contrário, estaremos a evoluir para uma sociedade de cotas para homens, na melhor das hipóteses. Na pior vejam só qual é o papel dos machos na sociedade das hienas…
Kjell Nordstrom, Guru do ano 2000 e que há quase uma década teoriza sobre a vantagem competitiva das mulheres explica-nos a razão desta evolução:
-“As mulheres adequam-se melhor às características das sociedades modernas, urbanas, democráticas e igualitárias onde as pessoas são reconhecidas pelo mérito do seu desempenho”.
E acrescenta:
-Mas agora entrámos verdadeiramente noutra fase, em que as aptidões e os perfis procurados são muito mais femininos, privilegiando a maior capacidade de gerir tensões e coligações de forma pacífica e eficaz, sem transformar o mínimo atrito numa competição agressiva”.
-Um bom exemplo é dado pela Chanceler alemã Ângela Merkl e pelo seu hercúleo trabalho a gerir a coligação política que governa a Alemanha.
Lembram-se do papel pacificador que as mulheres desenvolviam com toda a diplomacia e descrição no seio das grandes famílias patriarcais do século XIX?
Sem esquecermos a nossa 1º Ministro, Maria de Lurdes Pintassilgo que muito honrou a nossa classe política de governantes, o nosso país não pode equiparar-se, neste aspecto, aos nórdicos onde, por exemplo, na Noruega, o governo tem 50% de mulheres.
Tradicionalmente, os homens latinos desempenharam um papel muito apagado na criação dos filhos e esta realidade reduziu-os na sua dimensão humana, na sua capacidade de decisão a todos os níveis e tornou-os menos responsáveis.
Quem hoje é avô depois de ter sido pai há 40 anos atrás compreende melhor este ponto de vista.
São, pois, profundas as alterações que estão a acontecer na estrutura da sociedade contemporânea e o homem se quiser desenvolver características que nas mulheres são natas e que hoje as tornam importantes para liderar a gestão moderna há que começar a treinar, como hoje já fazem muitos jovens pais, na criação e educação dos seus filhos desde o nascimento em paralelo com as mães.
Caso contrário, estaremos a evoluir para uma sociedade de cotas para homens, na melhor das hipóteses. Na pior vejam só qual é o papel dos machos na sociedade das hienas…
Problemas... |
Um grupo de senhoras atravessando dificuldades conjugais resolveram frequentar um curso na procura de soluções para os seus problemas.
A coordenadora sugeriu que cada uma delas enviasse ao respectivo marido uma mensagem dizendo simplesmente: - "Amo-te".
Seguidamente trocaram os telemóveis e encontraram respostas como estas:
- "O que é que te deu?"
- "Diz logo, quanto dinheiro é que queres?"
- "Já sei, bateste com o carro"
- "O que é que aconteceu?"
E a mais grave:
- "Quem és tu?"
DEPOIS
DE ALGUMAS BEBIDAS ELES ACABAM NUM
BORDEL.
A
DONA DO BORDEL DEPOIS DE OLHAR PARA OS DOIS SUSSURROU PARA A
EMPREGADA:
-
VAI LÁ ACIMA AOS DOIS PRIMEIROS QUARTOS E PÕE UMA BONECA INSUFLÁVEL EM CADA
CAMA. ELES SÃO TÃO VELHOS E ESTÃO TÃO BÊBADOS QUE NÃO VÃO DAR PELA
DIFERENÇA.
A
EMPREGADA PREPAROU TUDO E LEVOU OS VELHOS PARA CIMA.
NO REGRESSO A CASA
UM VELHOTE DIZ PARA O OUTRO:
- ACHO QUE A FULANA COM QUEM FIZ AMOR,
ESTAVA MORTA...
- MORTA? PERGUNTA O AMIGO, PORQUE DIZES ISSO?
-
BEM, ELA NÃO SE MOVEU TODA A NOITE NEM EMITIU NENHUM SOM ENQUANTO EU FAZIA AMOR
COM ELA...
O AMIGO RESPONDEU:
- PODIA-TE TER CALHADO PIOR, COMO A
MIM: EU ACHO QUE A MINHA ERA UMA BRUXA!
- UMA BRUXA? PORQUE RAZÃO DIZES ISSO? - BEM, EU ESTAVA A FAZER AMOR COM ELA, BEIJEI-A NO PESCOÇO E DEI-LHE UMA DENTADINHA NO BICO DA MAMA. ELA PEIDOU-SE, VOOU PELA JANELA FORA E AINDA POR CIMA LEVOU A MINHA DENTADURA. | ||
MORREU O PAI DA GENTE.... |
A MORTE
E A MORTE
DE
QUINCAS
BERRO
DÁGUA
Episódio Nº 20
Cabo Martim fitou-os com olho
competente, demorando-se na garrafa em cálculos precisos, comentou para a roda:
-
Aconteceu alguma coisa importante para eles já terem bebido uma garrafa. Ou bem
Negro Pastinha ganhou no Bicho ou Curió ficou noivo.
Porque sendo Curió um incurável
romântico, noivava frequentes vezes vítima de paixões fulminantes. Cada noivado
era devidamente comemorado, com alegria ao iniciar-se, com tristeza e filosofia
ao encerrar-se, pouco tempo depois.
- Alguém morreu… - disse um chauffeur.
Cabo Martim estende o ouvido.
-
Morreu! Morreu!
Vinham os dois curvados ao peso da
notícia. Das Sete Portas à Água dos Meninos, passando pela rampa dos saveiros e
pela casa de Carmela, haviam dado a triste nova a muita gente.
Porque cada um, ao saber do passamento
de Quincas, logo destapava uma garrafa? Não era culpa deles, arautos da dor e
do luto, se havia tanta gente pelo caminho, se Quincas tinha tantos conhecidos
e amigos.
Naquele dia começou-se a beber na Baía
muito antes da hora habitual. Não era para menos, não é todos os dias que morre
um Quincas Berro Dágua.
Cabo Martim esquecido da briga, o
baralho suspenso na mão, observava-os cada vez mais curioso. Estavam chorando,
já não tinham dúvidas. A voz do Negro Pastinha chegava estrangulada:
-
Morreu o pai da gente…
- Jesus Cristo ou o governador? –
perguntou um dos moleques com vocação de piadista. A mão do negro o suspendeu
no ar, atirou-o ao chão.
Todos compreenderam que o assunto era
sério. Curió levantou a garrafa e disse.
-
Berro Dágua morreu!
Caiu o baralho da mão de Martim. O
feirante malicioso viu confirmar-se suas piores suspeitas: ases e damas, cartas
de banqueiro, espalharam-se em quantidade.
Mas também até ele chegou o nome de
Quincas, resolveu não discutir. Cabo Martim requi sitava
a garrafa de Curió, acabou de esvaziá-la, atirou-a fora com desprezo.
Olhou longamente a feira, os caminhões,
as marinetes na rua, as canoas no mar, a gente indo e vindo. Teve a sensação de
um vazio súbito, não ouvia sequer os pássaros nas gaiolas próximas da barraca
de um feirante.
Não era homem de chorar, um militar não
chora mesmo após ter deixado a farda. Mas seus olhos ficaram miúdos, sua voz
mudou, perdeu toda a fanfarronada.
Era quase uma voz de criança a
perguntar:
-
Como pôde acontecer?
Juntou-se aos outros após recolher o
baralho, faltava ainda encontrar Pé-de-Vento.
Esse não tinha pouso certo, a não ser às
qui ntas e domingos à tarde, quando
invariavelmente brincava na roda de capoeira de Valdemar na Estrada da
Liberdade.
quinta-feira, janeiro 23, 2014
Rod Stewart & Amy Belle - I Dont Want To Talk About It
Delícia de canção na voz única de Rod Stewart muito bem acompanhado Amy Belle.
O orgasmo feminino é uma coisa da qual as mulheres percebem muito pouco, e os homens ainda menos. Pelo facto de ser uma reacção endócrina, que se dá sem expelir nada, não se apresenta nenhuma prova evidente de que aconteceu, ou de que foi simulado.
Diante
deste mistério, investigações continuam, pes
A
acompanhar este tema, deu no outro dia uma entrevista na TV com uma conhecida
sexóloga, que apresentou uma pes
Portanto,
é preciso ter muito cuidado porque a
Preservativo
agora é pouco: tem de se mandar encamisar na Michelin. E, no momento da
descarga, é recomendado usar sapatos de borracha, não os descalçar e não
pisar o chão molhado. É também aconselhável que, antes de se começar a molhar
o biscoito, se pergunte à parceira se ela é de 110 ou de 220 volts, não se vá
esturricar a alheira…
|
VELHICE
Um casal idoso estava num
cruzeiro e o tempo estava tempestuoso. Eles estavam sentados na traseira do
navio, a olhar a lua, quando uma onda veio e levou a velha senhora. Procuraram
por ela durante dias, mas não conseguiram encontrá-la.
... o pai da gente.... - repetia o coro |
A MORTE
E A MORTE
DE QUINCAS
BERRO
DÁGUA
Episódio Nº 19
A morte de Quincas aumentava, onde ia chegando, a consumação de cachaça. De longe, Curió, observava a cena. A notícia andara mais depressa do que ele. Também o negro o viu, soltou um urro espantoso, levantou os braços para o céu, levantou-se.
-
Curió, irmãozinho, morreu o pai da gente.
-
… o pai da gente… - repetiu o coro.
-
Cala a boca, pestes. Deixa eu abraçar irmãozinho Curió.
Cumpriam-se os ritos de gentileza do
povo da Baía, o mais pobre e o mais civilizado. Calaram-se as bocas. As abas do
fraque de Curió elevavam-se ao vento, sobre sua cara pintada começaram a correr
as lágrimas.
Três vezes abraçaram-se, ele e o negro
Pastinha, confundindo seus soluços. Curió tomou da nova garrafa, buscou nela a
consolação. Negro Pastinha não encontrava consolação:
-
Acabou a luz da noite…
-
… a luz da noite…
Curió propôs.
-
Vamos buscar os outros para ir visitar ele.
Cabo Martim podia estar em três ou
quatro lugartes. Ou dormindo em casa de Carmela, cansado ainda da noite da
véspera, ou conversando na rampa do Mercado, ou jogando na Feira de Água dos
Meninos.
Só a essas três ocupações dedicava-se
Martim desde que dera baixa do Exército, uns qui nze
anos antes: o amor, a conversação e o jogo. Jamais tivera outro ofício
conhecido, as mulheres e os tolos davam-lhe suficiente com que viver.
Trabalhar depois de ter envergado a
farda gloriosa, parecia a Cabo Martim, uma evidente humilhação. Sua altivez de
mulato boa pinta e a agilidade de suas mãos no baralho faziam-no respeitado.
Sem falar em sua capacidade ao violão.
Estava ele exercendo suas habilidades na
Feira de Água dos Meninos, ao baralho. Ao fazê-lo com tanta simplicidade,
concorria para a alegria espiritual de alguns “chauffeurs” de marinete e
caminhão, colaborava na educação de dois molecotes que iniciavam seu
aprendizado prático da vida e ajudava uns quantos feirantes a gastar os lucros
obtidos nas vendas do dia.
Realizava assim obra das mais louváveis.
Não se explica, por consequência, que um dos feirantes não parecesse entusiasta
do seu virtuosismo ao bancar, rosnando entre dentes que “tanta sorte fedia a
bandalheira”.
Cabo Martim levantou para o apressado
seus olhos de azul inocência, ofereceu-lhe o baralho para que ele bancasse, se
ele qui sesse e para tanto possuísse
a necessária competência. Quanto a ele, Cabo Martim, preferia apostar contra a
banca, quebrá-la rapidamente, reduzir o banqueiro à mais negra miséria.
E não admitia insinuações sobre a sua
honestidade. Como antigo militar, era especialmente sensível a qualquer
murmúrio que envolvesse a sua honradez. Tão sensível que a uma nova provocação
seria obrigado a quebrar a cara de alguém.
Cresceu o entusiasmo dos rapazolas, os
chauffeurs esfregavam as mãos, excitados. Nada mais deleitável que uma boa
briga, assim gratuita e inesperada.
Nesse momento, quando tudo podia se
passar, surgiram Curió e Negro Pastinha carregando a notícia trágica e a
garrafa de cachaça com um restinho no fundo.
Ainda de longe gritaram para o Cabo.
-
Morreu! Morreu!
quarta-feira, janeiro 22, 2014
MIDDLE OF THE ROAD - YELLOW BOOMERANG
Continuamos a recordar os Middle of the Road dos princípios dos anos 70 quando se ouvia música e muito menos televisão. Nenhuma na Beira, em Moçambique.
Santo Graal
Tradicionalmente conhecido como o Santo Graal o cálice
que Jesus teria usado na sua última refeição antes de ser morto e com o qual
José de Arimatéia teria recolhido o sangue de Jesus quando Ele estava pregado
na cruz. Não é plausível pensar que alguém mantenha a taça e ela se tenha
preservado durante séculos. No entanto, a busca do "sagrado objecto"
está cheio de lendas na Idade Média.
A religiosidade daqueles tempos estava obcecada pela busca e adoração de relíqui as. A principal dessas lendas, transmitidas
oralmente no início, e depois registada por escrito, é a dos Cavaleiros do
mítico rei Arthur que procuraram o Santo Graal em Albion, ilha mitológica
identificada com a Grã-Bretanha, onde, como rico comerciante, José de Arimatéia
tinha chegado levando essa taça.
A religiosidade daqueles tempos estava obcecada pela busca e adoração de relí
Houve outras lendas em torno do Santo Graal por toda a Europa.
Com o tempo, o Graal não era mais uma taça específica para se tornar num
objecto espiritual que assegurava saúde. Foi sendo equi parada
à pedra filosofal, a um objecto secreto dos Cavaleiros da Ordem dos Templários
ou outros objectos misteriosos.
Mais recentemente, e para reforçar a ideia da linhagem real de
Jesus Cristo, o Santo Graal tornou-se equi valente
ao Sangue Real ou "Sangreal". Numa interpretação ainda mais simbólica
é proposto para o Graal, o cálice, como uma alegoria da matriz feminina, tal
como o expressa no romance "O Código Da Vinci" de Dan Brown.
A lenda do Santo Graal tem sido uma fonte de inspiração para
muitas obras de arte: a ópera "Parsifal", de Richard Wagner, o filme
"Excalibur", de John Boorman, o romance "O Pêndulo de
Foucault" de Umberto Eco.
Morreu o pai da gente... |
A MORTE
E A MORTE
DE QUINCAS
BERRO
DÁGUA
Episódio Nº 18
Durante anos e anos haviam-se encontrado
todos os dias, haviam estado juntos todas as noites, com dinheiro ou sem
dinheiro, fartos de bem comer ou morrendo de fome, dividindo a bebida, juntos
na alegria e na tristeza.
Curió sòmente agora percebia como eram
ligados entre si, a morte de Quincas parecia-lhe uma amputação, como se lhe
houvessem roubado um braço, uma perna, como se lhe tivessem arrancado um olho.
Aquele olho do coração do qual falava a
mãe-de-santo Senhora, dona de toda a sabedoria. Juntos, pensou Curió, deviam
chegar ante o corpo de Quincas.
Saiu em busca do negro Pastinha, àquela
hora certamente no Largo das Sete Portas, ajudando bicheiros conhecidos,
arranjando uns cobres para a cachaça da noite.
Negro Pastinha media quase dois metros,
quando estufafa o peito parecia assemelhava um monumento, tão grande e forte
era.
Ninguém podia com o negro quando lhe
dava a raiva. Felizmente coisa difícil de acontecer, pois negro Pastinha era de
natural alegre e bonacheirão.
Encontrou-o no Largo das Sete Portas,
como calculara. Lá estava ele sentado na calçada do pequeno mercado, debulhado
em lágrimas, segurando uma garrafa quase vazia.
Ao seu lado, solidários na dor e na
cachaça, vagabundos diversos faziam coro às suas lamentações e suspiros. Já
tivera conhecimento da notícia, compreendeu Curió ao ver a cena.
Negro Pastinha virava um trago, enxugava
uma lágrima, urrava em desespero:
-
… Morreu o pai da gente…
-
… pai da gente… - gemiam os outros.
Circulava a garrafa consoladora,
cresciam lágrimas nos olhos do negro, crescia seu agudo sofrer:
-
Morreu o homem bom…
-
… homem bom…
De quando em quando um novo elemento
incorporava-se à roda, por vezes sem saber do que se tratava. Negro Pastinha
estendia-lhe a garrafa, soltava seu grito de apunhalado:
-
Ele era bom…
-
… era bom… - repetiam os demais, menos o novato à espera de uma explicação para
os tristes lamentos e a cachaça grátis.
-
Fala também, desgraçado… - Negro Pastinha, sem se levantar, espichava o
poderoso braço, sacudia o recém-chegado, um brilho mau nos olhos – Ou tu acha
que ele era ruim?
Alguém se apressava a explicar, antes
que as coisas se tornassem mal paradas:
-
Foi Quincas Berro Dágua quem morreu.
-
Quincas?... Era bom… - dizia o novo membro do coro, convicto e aterrorizado.
-
Outra garrafa! – reclamava entre soluços, Negro Pastinha.
Um molecote levantava-se ágil,
dirigia-se à venda vizinha:
-
Pastinha quer outra garrafa.
terça-feira, janeiro 21, 2014
Middle Of the Road - Chirpy Chirpy Cheep Cheep
Mas que música bem disposta, esta, que já tem tem 40 anos na nossa memória...
Duas freiras regressam ao convento já de
noite e apercebem-se, a dado momento, que são seguidas por um homem.
Uma delas pergunta à outra:
-
Ó irmã, o que quererá o homem de nós?
- É lógico, irmã, que o homem nos quer
apanhar para nos violar…
- Então, irmã, é melhor corrermos para o
convento. Mas o homem começou também a correr e a aproximar-se o que não era
difícil atendendo às longas vestes das freiras.
- Irmã, diz a da lógica: se temos que
ser apanhadas, separemo-nos e sigamos caminhos diferentes. Assim, pela lógica, só
uma de nós será sacrificada.
E assim fizeram.
A irmã da lógica que continuou a ser
perseguida chegou mais tarde ao convento enquanto que a outra a esperava
ansiosa e preocupada.
- Então, irmã, o que aconteceu?...
- Ora, irmã, como era lógico o homem
apanhou-me.
-
E depois, irmã, e depois…
-
Ora, como era lógico, eu levantei as vestes e o homem baixou as calças até aos
pés…
-
E depois, irmã… e depois?...
-
Depois, irmã, eu fugi porque, como é lógico, uma freira com as saias levantadas
corre muito mais do que um homem com as calças abaixadas.
REVOLUÇÃO
(continuação)
No próximo Oriente,
desde o norte do Mar Vermelho até ao alto do Vale do Eufrates o aparecimento de
um clima quente e húmido provocou uma considerável expansão de cereais
selvagens e os povos do Mesolítico, que é um período entre o Paleolítico e o Neolítico que se
iniciou há 10.000 anos, particularmente por responsabilidade das mulheres, sempre atentas a tudo
quanto pudesse constituir alimento para a família, souberam imediatamente tirar
proveito desse recurso colhendo a maior quantidade possível de espigas maduras
de trigo, centeio ou de cevada.
Os grãos dessas espigas eram leves,
muitas vezes guarnecidos de barbas e na maturidade separavam-se facilmente das
espigas para que o vento pudesse facilmente proceder à sua disseminação no
interesse da propagação da planta.
Ao procederem à apanha, as mulheres,
fizeram contudo, uma selecção involuntária dessas sementes porque acabavam por
levar consigo espigas mutantes cujos grãos eram mais pesados e estavam mais
fortemente agarrados às espigas não se separando facilmente, enquanto os grãos
normais, digamos assim, não mutantes, pelas suas características, dificilmente
chegavam aos acampamentos.
Uma vez aqui ,
muitos deles caem para o chão, germinam e dão origem a campos em que a
variedade mutante, que era mais útil ao homem, estava largamente representada.
Este processo repetido durante
algumas dezenas de anos em locais onde as pequenas comunidades humanas voltam
regularmente para instalar os seus acampamentos sazonais, deu início à
“domesticação” de novas variedades de cereais mais proveitosas para o homem.
Mais tarde, com a fixação permanente
num determinado local, estavam criadas as condições para o aperfeiçoamento de
técnicas elaboradas de preparação do solo, colheita e sementeira.
A agricultura nasceu verdadeiramente
há cerca de 10.000 anos numa região do “Crescente Fértil”, que se estende desde
a Turqui a até Oeste do Irão e foi na
Turqui a, numa zona minúscula de
20x20 Km, situada a 1000
metros de altitude, nas vertentes bem expostas dos
montes vulcânicos do Karacadag, que Jack Harlan, da Universidade do Oklahoma,
localizou em 1966, aquele que foi sem dúvida o primeiro campo de trigo
cultivado.
Na aldeia de Jarno, a nordeste do
Iraque, foi encontrada cevada doméstica com 9.000 anos mas não só cereais
também várias leguminosas tais como o grão, as favas e as lentilhas e um pouco
mais tarde, há 6.000 anos, a pistácia , a oliveira e a vinha.
Os métodos de cultura e as espécies
vegetais domesticadas logo foram levadas, primeiro para o norte da Turqui a, depois para os Balcãs, Danúbio e finalmente
para a Europa ocidental, onde espécies não indígenas são aclimatadas a partir
do VII milénio.
As abóboras, pimentos e feijão
desenvolvem-se largamente no México entre 9 e 6.000 anos atrás, enquanto que o
milho começa a ser cultivado pelo homem no vale de Tehuacan, a partir de há
7.000 anos e os progressos registados nesta cultura são medidos pelo aumento
considerável e progressivo do tamanho das espigas.
Tubérculos como a batata e a mandioca
foram alvo de uma exploração precoce que não deixou vestígios formais.
Na Ásia, dois tipos principais de
cereais, o milho miúdo aos cachos e o arroz foram alvo de uma primeira
domesticação precoce entre os 8.000 e 6.000 anos.
Uma leguminosa, a soja, foi
domesticada na China Setentrional a partir de há 5.000 anos e vários núcleos
humanos no Sudoeste da Ásia desenvolvem economias agrícolas baseadas no
tubérculo inhame e em árvores de fruto como a árvore-do-pão, o coqueiro e a
bananeira.
Em África, a agricultura
desenvolve-se principalmente no Magrebe, bastante tardiamente, 6.000 anos, e
numa orla costeira muito limitada.
No Sara os dados utilizáveis são
pouco numerosos mas é possível que tenha havido grupos semi-nómadas que tenham
explorado cereais, milho miúdo e palmeiras em locais de agrupamento sazonal há
cerca de 7.000 anos.
O sedentarismo e a prática regular da
agricultura acontece de uma forma gradual, progressiva e em épocas diferentes
conforme as regiões.
Tudo começa por acampamentos mais ou
menos permanentes com cabanas provisórias de forma arredondada que são feitas
para durarem cada vez mais graças a um reforço das armações.
Depois, os grupos sedentarizados
aprenderam a substituir os ramos entrançados e os painéis de couro dos grupos
nómadas por muros de sustentação de pedra, de tijolos crus secos ao sol ou de
adobe (terra misturada com palha) suportando um teto feito de colmo ou de
pequenos ramos cobertos com uma espessa camada de argila.
Para economizar espaço passa-se de
instalações circulares disseminadas e distantes umas das outras para planos arqui tecturais rectangulares, mais compactos.
Por fim, os grupos formados por cada vez mais indivíduos têm tendência para se associarem em locais favoráveis dando
origem às primeiras aglomerações que reúnem algumas dezenas de habitações e
abrigam trezentas ou quatrocentas pessoas.
No próximo Oriente, aldeias como
estas cujos vestígios foram encontrados, desenvolveram-se há 9.000 anos nas
actuais Jordânia, Turqui a e Iraque.
As maiores são rodeadas por uma
muralha acompanhada de um fosso evoluindo para cidades-mercado, situadas no
centro de uma rede de várias dezenas de aglomerações de agricultores.
A presença de um templo relativamente
imponente que serve também de entreposto e de local de reunião, o tamanho das
habitações mais ou menos imponentes e bem arranjadas, assim como a natureza
variada dos objectos encontrados, revelam nitidamente que está a desaparecer a
tradição igualitária nestas cidades de 2 a 3.000 habitantes e que se está a instalar,
pela primeira vez, um sistema social hierarqui zado
dominado por uma casta religiosa.
Mais tarde, ao lado desta casta
religiosa e em cidades que se estendem agora já por várias dezenas de hectares
abrigando cerca de 40.000 habitantes, aparece uma aristocracia militar e os
negociantes passam a ter primazia relativamente aos artesãos e agricultores,
isto na região da Suméria e com algum tempo de atraso fenómenos similares
surgem em outras regiões do mundo especialmente no norte da China, no vale do
rio Amarelo.
A população mundial, que não atingia
os 10 milhões no início do Neolítico, há 10.000 anos, com uma taxa de
crescimento da ordem dos 0,001%, 6.000 mais tarde era de 100 milhões com uma
taxa de crescimento de 0,1% ou seja, cem vezes mais.
É que durante o Neolítico os homens
vivem de maneira diferente e sobretudo melhor do que jamais tinham vivido.
São relativamente bem alimentados,
estão muito menos expostos a acidentes mortais, vivem durante mais tempo e
mudam mesmo de aspecto físico uma vez que são mais pequenos que os seus
antepassados do Paleolítico Superior e o dimorfismo sexual entre homens e
mulheres voltou a diminuir, característica que poderia facilmente explicar as
mudanças psíqui cas e sociológicas
que afectam as sociedades humanas.
Na base destas mudanças, há o
sentimento de poder dominar a natureza e a descoberta da individualidade.
O Homem “antigo” o de Cro-Magnon,
vivia num mundo de sensações e de intuições e identificava-se espontaneamente
com a sua tribo.
O Homem do Neolítico descobre que é
um indivíduo capaz de influenciar o curso dos acontecimentos. A mudança é
vertiginosa e leva, com algum optimismo, o etnólogo Claude Levi-Strauss a
afirmar que após mais de 2 milhões de anos muito difíceis, tendo chegado mesmo
à beira da extinção, a humanidade encontrou finalmente os Jardins de Éden e a
esse estado feliz, o cândido Rousseau, chamava “justo meio entre a indolência
do estado primitivo e a petulante actividade do nosso amor próprio”.
Mas o género humano não era feito
para viver “no justo meio” e essa “idade de ouro” que poderia ser representada
pelo começo do Neolítico não durou muito tempo se é que esse período alguma vez
mereceu essa denominação.
Nas grandes cidades-Estado e nas
aldeias que elas governam organiza-se, manifestamente, a exploração do homem
pelo homem e só de uma forma aparentemente paradoxal é que esta revolução
social coincide com a descoberta da escrita cujo papel principal foi
estabelecer inventários, recenseamentos e leis.
Acabou a pré-história, começou a
história e o homem foi o único ser vivo capaz de acrescentar uma história à sua
evolução biológica e é por isso que o podemos considerar verdadeiramente
excepcional.
Mas é uma história de ambição, de
desequi líbrios, de desigualdades…
O Homem, “homo” que se tinha, talvez,
tornado sábio, “sapiens” qui s além
disso, tornar-se sapiente, “sapiens sapiens”. Por vezes para as coisas boas, mas muito mais vezes para as más.