sábado, agosto 10, 2013

RICHARD DAWKINS - O VÍRUS DA FÉ

Temos falado, nos últimos dias, na fé como um vírus que se desenvolve e propaga continuando a ameaçar gerações em todo o mundo... percebam como é verdade através deste pequeno vídeo. No mínimo, perturba e angustia. No limite,esta gente mete medo....

Lula morreu e foi para o Céu...

 
Chegando lá, após breve entrevista, São Pedro recomendou que ele ficasse quinze dias na ala dos filósofos, para aprimorar sua cultura, já que tratava-se de um ex-presidente...
No dia seguinte, preocupado com a decisão que tinha tomado, São Pedro foi até a ala dos filósofos e, pela fresta da janela, surpreendeu Confúcio conversando com Lula.
O velho sábio estava com uma péssima aparência, mais amarelo que nunca e, profundamente irritado, dedo em riste, gritava com Lula.
- Olha Lula, é a última vez que repito:
- Platão não é o prato grande do Hortelino Trocaletra;
- Epístola não é a mulher do apóstolo;
- Eucaristia não é o aumento do custo de vida;
- Cristão não é um cristo como o Redentor;
- Encíclica não é bicicleta de uma roda só;
- Quem tem parte com o diabo não é diabético;
- Quem trabalha na Nasa não é nazista;
- Annus Domini nada tem a ver com o cu do Papa;
- E, volto a repetir, meu nome é Confúcio ... Companhêro Pafúncio é a puta que te pariu...!

É já uma magia conhecida mas vale sempre a pena vê-la pela sua qualidade...



Uma questão de altura... 

Um funcionário passa perto de uma colega de escritório e lhe diz que o seu  cabelo tem "um cheiro gostoso".


Indignada, a mulher dirige-se imediatamente ao gabinete do chefe, dizendo-lhe que quer fazer uma queixa de assédio sexual e explica o motivo.

O gerente fica admirado e pergunta:

- Mas, afinal, qual é o mal que tem um colega lhe dizer que o seu cabelo tem um cheiro gostoso?

A mulher:

- O filho da p... é ANÃO...

MIYOKO SHIDA - O incrível poder da concentração...


Estava desmoralizado. Já não era o imperador da cidade...
JUBIABÁ

Episódio Nº 81


Que foi feito da velha valsa triste que não enche mais o coração destes negros, que os deixa sozinhos com a história de Jubiabá? Onde estava a voz do negro que cantava? Agora só o cego geme no violão e todos o ouvem. O menino pálido e tísico recolhe num prato de flandres moedas para o cego que é seu pai. Um homem diz:

 - Não dou não. O velho não sabe tocar…

Porém todos o olham com tais olhos que ele bota um níquel no prato:

 - Tava brincando, meu bem…

A voz de Jubiabá:

 - A macaca Catita matava galinhas, andava pelas casas. O macaco levava nós para a roça e sentava no cepo. Quando negro não trabalhava ele surrava negro. Às vezes surrava sem motivo. Ele matou negro com chicote…

As luzes tremem na “Lanterna dos Afogados”. O cego toca um baticum no violão.

 - Senhor Leal gostava de soltar Catito em cima das negras… Catito matava elas para gozar nelas…Um dia o senhor soltou Catito em cima de uma negra nova, casada com um negro novo. Senhor Leal tinha visitas…

O Gordo está tremendo todo. Volta ao longe a toada triste… Cessa o violão do cego que conta os níqueis recolhidos.

 - Catito se jogou em cima da negra e o negro em cima de Catito…

Jubiabá olha ao longe a noite. A lua está amarela.

 - Senhor Leal atirou no negro que já tinha dado duas facadas no macaco… A negra também morreu. Ficou um bocado de sangue no lugar. As visitas ficou tudo rindo muito alegre. Menos uma mocinha branca, que ficou doida de noite vendo o macaco e o negro…

A valsa triste canta perto.

 - Mas de noite um irmão do negro matou senhor Leal. O irmão do negro eu conheci. Foi ele quem me contou a história…

O Gordo está junto de Jubiabá. O cachimbo de mestre Manuel brilha como uma estrela. No escuro do mar uma voz canta uma toada triste:

                                   - «Mata-me esta dor
                                     de eu não vê-la mais…»

A voz canta alto, sonora, saudosa.

Jubiabá diz:

 - Eu conheci o irmão…

António Balduíno segura o punhal na altura do peito.

Jubiabá dizia:

 - Ôju ànun fó ti iká, li ôku.


Sim, António Balduíno, bem sabia que o olho da piedade já vasara e que ficara somente o olho da ruindade. Na noite misteriosa do cais, cheia de músicas diversas, ele quis soltar a sua gargalhada alta, que era seu grito de liberdade. Mas ele a havia perdido. Estava desmoralizado. Já não era imperador da cidade, já não era Baldo, o boxeur. 

sexta-feira, agosto 09, 2013

Se fecharem os olhos não dão por nada... por curiosidade, eram 12.

FAUNA AFRICANA

CHITAS

As chitas são um prodígio da Selecção Natural completamente vitorioso quando se trata do jogo do apanhar... mas perdem quando se trata de guardar o que apanharam. Quase que diremos que trabalham para os outros... Têm de comer rapidamente porque logo chegam as hienas, leoas, abutres, leopardos, mabecos que de imediato as pôem em fuga. "Máquinas" perfeitas de correr a mais de 100 Km/H, elegantes, mesmo esbeltas, mas de aparência frágil, as suas caçadas são muitas vezes uma verdadeira frustração. As chitas são sprinters e tudo o que sejam mais de 400 metros... colocam em risco o aquecimento do corpo. De qualquer maneira, já foi cronometrada em 20 segundos nos 640 metros e em cerca de 2 segundos nos 73 metros... impossível ganhar-lhe: O Usain Bolt  ficar-lhe-ia a perder de vista!


RUI VELOSO - PERFUME

Também Rui Veloso, no seu reportório, nos fala à sua maneira, do menino que foi...

António Lobo Antunes
A VELHICE 
(Por António Lobo Antunes)




Devo estar a ficar velho: as Paulas Cristinas têm mais de 20 anos, os Brunos Miguéis já vão nos 15, as Kátias e as Sónias deram lugar a Martas, Catarinas, Marianas. A maior parte dos polícias são mais velhos do que eu. Comecei a gostar de sopa de Nabiças. A apetecer-me voltar mais cedo para casa. A observar, no espelho matinal, desabamentos, rugas imprevistas, a boca entre parêntesis cada vez mais fundos. A ver os meus retratos de criança como se fosse um estranho. A deixar de me preocupar com o futebol, eu que sabia de cor os nomes de todos os jogadores do Benfica (…). A desinteressar-me dos gelados do Santini que o Dinis Machado, de cigarrilha nas gengivas achava peitorais.

Se calhar, daqui a pouco, uso um sapato num pé e uma pantufa de xadrez no outro e vou, de bengala, contar os pombos do Príncipe Real que circulam, de mãos atrás das costas como os chefes de repartição, em torno do cedro. Ou jogar sueca, com colegas de boina, na Alameda Afonso Henriques de manilha suspensa no ar, numa atitude de Estátua de Liberdade. (…). Quando der por mim, encontro o meu sorriso na mesinha de cabeceira, a troçar-me, num copo de água, com 32 dentes de plástico. Reconhecerei o meu lugar à mesa pelos frasquinhos dos medicamentos sobre a toalha, que me farão lembrar as bandeiras que os exploradores antigos, vestidos de urso como os automobilistas dos tempos heróicos, cravavam nos gelos polares. (…)

Devo estar a ficar velho. E no entanto, sem que me dê conta, ainda me acontece apalpar a algibeira à procura da fisga. Ainda gostava de ter um canivete de madrepérola com sete lâminas, saca-rolhas, tesoura, abre-latas e chave de parafusos. Ainda queria que o meu pai me comprasse na feira de Nelas, um espelhinho com a fotografia da Yvonne de Carlo, em fato de banho, do outro lado. Ainda tenho vontade de escrever o meu nome depois de embaciar o vidro com o hálito. (…).

Pensando bem (e digo isto ao espelho), não sou um senhor de idade que conservou o coração de menino. Sou um menino cujo envelope se gastou.

NOTA

Obrigado, António Lobo Antunes, por este texto.Temos em comum a idade (menos 3 anos que eu nem conta), a fisga, o espelho redondo com a fotografia da Yvonne de Carlo, em fato de banho, do outro lado e o canivete que no meu caso era uma navalha igual à que os trabalhadores do campo usavam na Beira-Baixa e que servia para tudo, incluindo tirar bocadinhos à sardinha frita com uma precisão cirúrgica e cortar os respectivos nacos de pão que acompanhavam, nos seus almoços frugais, a sopa de feijão com couves e que lhe dava forças para cavarem de sol a sol.

Vê lá, que tenho ainda presente, como se tivesse sido ontem, o único passarinho que consegui matar com a fisga. Espalmei-lhe a cabeça com a pedra. Teve morte instantânea, caiu da árvore redondo, na vertical, não soube do que morreu, e eu senti-me vaidoso com a minha pontaria. Fosse uma seta em vez de uma simples pedra e ter-me-ia sentido um Robin Hood… os restantes passarinhos aos quais fiz pontaria sempre conseguiram fugir... felizmente para eles... desesperadamente, então, para mim...

Faltava-me o treino, eu era um menino da cidade de Lisboa, tal como tu, mas que tinha a sorte de passar as férias na aldeia dos meus avós onde, no Verão, se juntavam os primos todos.

Mal sabia eu, nessa altura, que estava vivendo os tempos mais felizes e descontraídos da minha vida aqueles que, mais de meio século depois, continuam a fazer-me sentir um menino com o envelope gasto…como dizes magistralmente.

Nunca envelhecerei completamente porque esse menino vai estar sempre presente, mesmo aos 90 anos e não é ele que é o intruso.

Intruso... é tudo aquilo que se intrometeu na minha vida e esbateu as memórias da minha juventude e que faz com que o menino, embora presente, esteja cada vez mais longe de mim.

É tal como dizes, não somos velhos, com alguma condescendência seremos meninos que envelheceram.

No teu caso valeu a pena, foste aproveitando o tempo e os anos para escreveres coisas profundamente humanas, que nos falam à alma e que vão ficar para sempre impedindo que morras na memória dos homens embora isso, para ti, já não seja importante.

Importante, verdadeiramente importante, era mesmo continuares sempre menino para poderes chamar aos pombos do Jardim do Príncipe Real, chefes de repartição a passearem de mãos atrás das costas, sim, porque só a perspicácia de observação de um menino poderia ver tal.

Eu, que passei muitas horas nesse Jardim a estudar e a ler na companhia dos tais pombos, só agora, porque falas nisso, acho que alguns também faziam lembrar os polícias de giro do antigamente a passearem a sua autoridade de mãos atrás das costas.

E quanto aos sinais de velhice que referes e que te levam a desconfiar que talvez estejas a ficar velho, brinca com eles, faz chalaça, afinal não és tu um menino cujo envelope se gastou?

O Por Quê das Religiões
(continuação)

Richard Dawkins – “A Desilusão de Deus”



Uma panorâmica antropológica como a que nos proporciona Frazer, em "Golden Bough", dá bem conta da diversidade de crenças irracionais humanas.

Uma vez entrincheiradas numa cultura perduram, desenvolvem-se e espalham-se de uma forma que faz lembrar a evolução biológica.

No entanto, Frazer, distingue alguns princípios gerais, como, por exemplo, a “magia homeopática” de acordo com a qual os feitiços e encantamentos vão beber algum aspecto simbólico ao objecto do mundo real que pretendem influenciar.

Um exemplo com consequências trágicas é que o corno do rinoceronte, uma vez reduzido a pó, possui propriedades afrodisíacas.

Completamente absurda, a lenda tem a origem na suposta semelhança entre o corno e um pénis viril.

Presumo que as religiões, tal como as línguas, vão evoluindo de uma forma bastante aleatória. Muitas delas, ensinam a doutrina – subjectivamente aliciante – de que as nossas personalidades sobrevivem à nossa morte física.

Esta ideia de imortalidade sobrevive e alastra porque vai ao encontro dos que tendem a tornar os desejos por realidade.

E esta ilusão tem o seu valor porque a psicologia humana encerra uma tendência quase universal para permitir que a crença se deixe colorir pelo desejo. («o teu desejo, Harry, foi pai desse teu pensamento» disse Henrique IV ao filho).

Parece não haver dúvida nenhuma que muitos dos atributos da religião estão ao serviço da sobrevivência da própria religião.

Os líderes religiosos são perfeitamente capazes de verbalizar os truques que ajudam à sobrevivência da religião.

Martinho Lutero tinha perfeita consciência de que a razão era a arqui-inimiga da religião e muitas vezes advertiu para os seus perigos:

 - «A razão é o maior inimigo da fé, nunca vem em auxílio das coisas espirituais, e as mais das vezes luta contra o Verbo divino, tratando com desprezo tudo o que emana de Deus».

E num outro passo acrescentou:

 - «Quem quiser ser cristão deve arrancar os olhos à sua própria razão». «A razão deve ser destruída em todos os cristãos».

Este homem, aponta inteligentemente aspectos inteligentes para ajudar a religião a sobreviver mantendo-se como um astuto e feroz observador da sua eficácia.


IMAGEM

Impossível ficar indiferente...


JUBIABÁ

Episódio Nº 80


O Gordo se assustou:

 - O que foi que você disse?

António Balduíno diz para Jubiabá:

 - Pai Jubiabá eu hoje tive um sonho esquisito, deitado no areal…

 - O que foi que você sonhou?

Jubiabá está murcho e pequenino na cadeira. O Gordo pensa em quantos anos terá Jubiabá. Cento e quantos? António Balduíno está forte e enorme.

Não diz qual foi o sonho, mas fala:

 - Vi aquele negro com as costas marcadas, pai Jubiabá…

A voz canta bem no botequim:


                                  - «Tão só que hei-de fazer
                                       mais do que gemer…
                                       mais do que gemer…»


António Balduíno fala:

 - … gemendo, pai, gemendo… Aquele negro chicoteado nas costas… Eu vi no sonho… Estava horroroso. Eu tenho vontade de bater naqueles marinheiros…

O Gordo se espanta:

 - Porquê?

 - O negro malhado… malhado…

Jubiabá se levanta na cadeira. Está com o rosto enrugado aberto em ódio. Todos o ouvem:

 - Aconteceu há muito tempo, Baldo…

 - O quê?

 - A história que estou contando… O pai de seu pai era menino…

Numa roça de um senhor branco e rico lá no Corta Mão…

Uma toada triste, uma velha valsa que um negro canta não se sabe onde, domina tudo:


                                - «dai tréguas aos meus ais…


Jubiabá está contando:

 - A gente era um montão de negros… A gente tinha desembarcado e não sabia a fala do senhor branco… Foi há muito tempo isso… Lá em Corta Mão

O que foi que teve?


 - Senhor Leal não tinha feitor. Mas tinha um casal de gorilas, uns macacões negros, amarrados numa corrente enorme. O senhor chamava o macho de Catito e a fêmea de Catita. O macho andava com um copo amarrado na corrente e um chicote na mão… Era o feitor…

quinta-feira, agosto 08, 2013

FAUNA AFRICANA

Esta fotografia é reveladora do segredo do sucesso dos leões nas grandes savanas africanas: a família. É a sua vida social e familiar, um grupo alargado de fêmeas com as crias e um macho, (por vezes dois, irmãos), chefe da família, que defende o território de caça e assegura o bem-estar de todos. Esforços isolados são quase sempre mal sucedidos. O esquema é a entreajuda, a emboscada, a distribuição correcta das leoas no terreno e finalmente o ataque. O leão, que pouco ou nada faz, aparece no fim para comer em primeiro lugar, como um senhor... Parece injusto, mas ele é a chave porque manteve em paz o território de caça impondo-se a outros leões que cobiçam as fêmeas. Sempre atento, a vida dele não é fácil... primeiro, quando jovem promissor é mandado embora da família para não destabilizar... Mais tarde,  quando consegue arranjar uma à custa de lutas ferozes com o macho dominante já velho e cansado, acontece-lhe depois o mesmo para ir morrer só, incapaz de sobreviver.
Na melhor das hipóteses, Rei por três ou quatro anos...


Um pouco de boa disposição...

VISITA DO PAPA FRANCISCO AO BRASIL...


JUBIABÁ

Episódio Nº 79


Mas o negro canta para todo o mundo, não é só para António Balduíno. Canta para o Gordo, para o Mestre Manuel, para os marinheiros alemães, para todos os negros dos saveiros e das canoas, para todos os alvos marinheiros dos navios suecos, para o mar também.

As luzes da cidade brilham no morro. Ainda há pouco vinha do morro um baticum de candomblés e macumbas. Porém agora a cidade está longe e o brilho das estrelas está muito mais perto deles que as lâmpadas eléctricas.

António Balduíno vê a brasa do cachimbo do mestre Manuel. A voz do negro vem para dentro dele, de repente se afasta, foge pelo mar afora. Mas volta e fica vibrando no botequim…

Uma tristeza baixa sobre tudo:

                              - «Tão só que hei-de fazer
                                   Mais do que gemer…
                                   Mais do que gemer…»


Não falam. Os marinheiros alemães escutam. Jubiabá estende as mãos na mesa. O Gordo está tremendo e António Balduíno vê Lindinalva, branca, pálida, sardenta, nas águas, no céu, nas nuvens, no copo de cachaça, nos olhos do garoto tísico que serve o botequim.

Aquela lua amarela descambou de novo sobre a “Lanterna dos Afogados”. A voz vem em surdina trazida pelo vento. O Gordo treme, mestre Manuel fuma devagar. A voz parou no botequim e gira com a brisa:

                                  - «Até que de mim tenha dó
                                      volve o teu olhar
                                       o teu sagrado amor
                                       para mim…»

Foi embora a toada triste. O cego a procura com os olhos sem luz.

Jubiabá resmunga palavras que ninguém ouve. Joaquim pergunta:

 - Tem um cigarro, mulato?

Fuma em grandes tragadas. Os marinheiros bebem cerveja. As mulheres têm os olhos puxados para o mar. Jubiabá estira as pernas magras e espia a noite. A lua amarelou tudo, prateou o mar e o céu. Mas eis que volta a velha valsa. A voz do negro está perto, muito mais perto:

                                   - «MATA-ME ESTA DOR
                                       DE EU NÃO VÊ-LA MAIS»

A voz se aproxima cada vez mais. Mestre Manuel volta ao cachimbo que brilha como uma estrela. Um saveiro atravessou o mar lá ao longe. Vai silencioso também ouvindo a toada triste que vem com o vento.

António Balduíno tem vontade de dizer:

 - Boa viagem, amigos …

Porém fica calado, ouvindo. A voz foi embora levada pelo vento. Voltou em surdina, baixinho:

                                  - «de eu não vê-la mais… »

A lua entrou pelo botequim. Os marinheiros ouvem como se entendessem a valsa do negro. As mulheres que agora entendem não riem mais. Joaquim fala:

- De que vale voltar?
 

quarta-feira, agosto 07, 2013

Imagem
Com amigos destes...


Coisas dos tempos que correm...



Permitam que vos mostre um pouco da minha cidade natal... uma parte menos conhecida de Lisboa. Obras recentes  de saneamento básico despoluíram quase completamente o estuário do Tejo para bem da vida animal.


É pena não darem choque...


O Por Quê das Religiões
(continuação)





Trata-se de uma força extremamente potente que há no cérebro e não admira que alguns vírus tenham evoluído no sentido de a explorar. («Vírus», neste contexto é uma metáfora para religiões: o meu artigo intitulava-se «Vírus da mente».

O biólogo Lewis Wolpert adianta, em Six Impssible Things Before Breakfast, uma sugestão que pode ser vista como generalização da ideia de irracionalidade construtiva.

Wolpert sustenta que, para um espírito inconstante, uma convicção irracionalmente poderosa funciona como protecção:

 - “Se as crenças capazes de salvar vidas não fossem fortes, isso teria sido desvantajoso nos primórdios da evolução humana. Teria sido uma séria desvantagem, por exemplo, ao caçar ou fabricar ferramentas, estar sempre a mudar de ideias.”

A implicação do argumento de Wolpert é que, pelo menos, em determinadas circunstâncias, é melhor insistir numa crença irracional do que hesitar, mesmo que nova evidência ou o raciocínio aconselhem uma mudança.

A Teoria da Auto – Ilusão desenvolvida proposta em 1976 no livro Social Evolution afirma que a auto-ilusão é esconder a verdade do plano consciente, a fim de melhor a ocultar dos outros.

Reconhecemos que entre os da nossa espécie os olhos esquivos, as mãos transpiradas e a voz rouca podem ser sinal de tensão própria de quem, conscientemente, está a tentar enganar alguém.

Ao tornar-se inconsciente da sua mentira aquele que engana esconde do observador estes sinais. Ele ou ela podem mentir sem o nervosismo que costuma acompanhar o engano.

O antropólogo Lionel Tiger diz algo parecido que funciona também como um tipo de defesa:

 - “Os humanos têm uma tendência consciente para verem aquilo que querem ver e, literalmente, dificuldade em ver coisas que têm conotações negativas ao passo que vêm com muita facilidade as positivas”

Isto é pertinente para a religião, nomeadamente no que tem a ver com tomar os desejos por realidade.

A teoria geral da religião como subproduto acidental – um tiro falhado de algo útil – é aquela que me proponho defender.

A título de exemplo continuarei a fazer uso da minha teoria da «criança crédula» que tomo como representativa das teorias do «subproduto» em geral.

Esta teoria – segundo a qual o cérebro da criança é, por bons motivos, passível de ser infectada por «vírus» mentais – pode parecer incompleta aos olhos de alguns leitores. A mente pode ser vulnerável, mas por que razão há-de ser infectada por este vírus e não por aquele? Serão alguns vírus especialmente proficientes em infectar mentes vulneráveis? Por que se manifesta a infecção sob a forma de religião e não sob a forma de outra coisa?

Parte do que quero dizer é que não importa que tipo concreto de disparate vai infectar o cérebro da criança. Uma vez infectada, ela vai crescer e infectar a geração seguinte com o mesmo disparate seja ele qual for.
(continua)
Richard Dawkins – “A Desilusão de Deus

JUBIABÁ

Episódio Nº 78


Cumprimenta António Balduíno:

 - Boa noite, seu Baldo.

 - Traz uma pinga.

O Gordo está atento à canção dos marinheiros:

 - É bonito…

 - E você entende?

 - Não, mas me bole cá dentro…

 - Lhe bole? -  Joaquim não entende.

Mas António Balduíno entende e já não sente vontade de brigar com os alemães. Agora ele gostaria era de cantar com os marinheiros e rir com as mulheres. Bate os dedos na mesa e assobia. Os marinheiros estão cada vez mais bêbados e um deles já não canta. Arriou a cabeça em cima da mesa.

O cego toca violão num canto da escuridão. Ninguém o ouve excepto o garoto pálido que serve o botequim. Entre as carreiras com copos de cachaça ele espia o cego com admiração. E sorri.

Mas de longe, do escuro do mar, vem uma voz que canta. Apesar das estrelas não se vê de quem é, nem de onde vem, se das canoas, dos saveiros, se do forte velho. Mas vem do mar esta toada triste. Uma voz forte, longe.

António Balduíno espia. Tudo negro em redor. Só há luz nas estrelas e no cachimbo do mestre Manuel. Os marinheiros já não cantam, as mulheres já não riem, o cego parou de chorar no violão para tristeza do garoto pálido que serve no botequim.

Jubiabá voltou para a mesa e seu António para o balcão. O vento que invade o botequim como uma carícia, traz a  tristura da voz. De onde virá ela? O mar é tão grande e tão misterioso que não se sabe de onde vem essa valsa triste.

Mas é um negro que está cantando. Porque só os negros cantam assim. Mestre Manuel está mudo. Será que ele pensa na carga de sapotis que seu saveiro vai pela madrugada receber em Itaparica? Não, ele ouve a toada da valsa. Ele se volta para o lado de onde parece vir a voz que enche o mistério do mar: de onde virá a voz do negro?

                          - «Senhor, dai tréguas aos meus ais…


Será que ele está no forte velho e é um velho soldado? Será que ele está numa canoa e é um camponês moço que vende laranjas na Feira de Água dos Meninos? Será de um canoeiro que está na sua canoa no Porto da Lenha? Virá de um rápido saveiro a sua voz, voz de um marinheiro negro que esqueceu a amada num porto distante?

                           - «Senhor dai tréguas aos meus ais…
                                Mata-me esta dor
                                De eu não vê-la mais…


De onde virá a toada triste que atravessa os saveiros, as canoas, o quebra-mar, o cais, a “Lanterna dos Afogados, a baía toda e que vai se perder nas ladeiras da cidade?


O Gordo bem vê que António Balduíno ouve nervoso. Ele pensa em Lindinalva e julga que o preto canta unicamente para ele, que está tão só.

terça-feira, agosto 06, 2013

O que vão ver, por incrível que pareça, é um modelo de um aeroporto em pequena escala, ou seja, um brinquedo para distrair os passageiros enquanto esperam pelo avião a sério... (abra todo o ecrã)

Angela Maria - Babalú (1959)

Apesar desta voz esplendorosa o começo não foi fácil. Acontece... quando se é de famílias humildes. Em 1947, com 19 anos, trabalhava de dia e à noite "mendigava" a entrada em algum programa de música. Depois... bem, depois, todos a queriam para cantora.

                  FAUNA AFRICANA                 

                         Rinoceronte Preto

Algumas espécies e subespécies de rinocerontes, ameaçadas por caçadores furtivos devido ao uso dos seus cornos na medicina tradicional asiática, estão cada vez mais em risco de extinção, noticiou a agência AFP. (Inf. publicada em Nov. de 2011).

Os povos asiáticos, com os seus estranhos, caprichosos, errados e criminosos costumes, estão na origem da eliminação de espécies de animais soberbos, no maior atentado à natureza que se pode imaginar. Rinocerontes, tigres, ursos, elefantes, tubarões... podem vir a desaparecer por sua causa numa demonstração de uma actividade totalmente irresponsabilidade que, como ilegal e clandestina, torna-se muito difícil de combater porque há sempre dinheiro para pagar seja o que for e quem for.

Uma das subespécies de rinoceronte de Java, na Indonésia, provavelmente, desapareceu em 2010 no Vietname, fruto da caça furtiva.

É um animal ameaçado de extinção, por causa das presumíveis propriedades medicinais dos seus chifres. É um animal atarracado e muito forte. É neurasténico por natureza. Tem um sentido da vista muito fraco. Há um pequeno pássaro que o avisa, sempre que há algum perigo eminente por perto. É um passarito de bico vermelho, um pouco maior que um pardal comum.

É um dos animais mais antigos da terra. O rinoceronte tem um ouvido e um olfacto apurados.Vive nas florestas que bordam as savanas. Come folhas, frutos silvestres, raízes e tubérculos. Pesa em adulto cerca de 2000 kg - Altura 1,5 m … medida na espádua - A sua caça clandestina reduziu de forma terrível o seu número no Continente Africano. De 1970 para esta data o número de rinocerontes pretos foi reduzido em 90 %. Apesar de toda a vigilância e esforços não tem sido possível protegê-lo eficazmente.





É a própria...


O Por Quê das Religiões



Uma possibilidade especialmente sugestiva mencionada por Dennet refere que a irracionalidade da religião é um subproduto de um mecanismo de irracionalidade incorporada no cérebro: a nossa tendência – presumivelmente vantajosa do ponto de vista genético – para nos apaixonarmos.

Em Wy We Love, a antropóloga Helen Fisher exprimiu lindamente a insanidade do amor do amor romântico e quão excessivo ele é comparado com aquilo que poderia parecer o estritamente necessário.

Veja-se a questão do seguinte prisma. Do ponto de vista de um homem, por exemplo, é pouco provável que uma mulher sua conhecida seja cem vezes mais encantadora do que a sua concorrente mais próxima e, no entanto, é assim que ele provavelmente a descreve quando está apaixonado ou “enamorado”.

Perante isto, uma qualquer espécie de poliamor (amar simultaneamente vários membros do sexo oposto) será mais racional do que a devoção fanaticamente monótona a que somos tão susceptíveis.

Aceitamos alegremente o facto de podermos amar mais do que um filho, progenitor, irmão, professor, amigo ou animal de estimação.

Quando pensamos na questão desta maneira, não sou positivamente estranha a total exclusividade que esperamos do amor conjugal? E, no entanto, é isso mesmo que esperamos e é aquilo que nos propomos alcançar (unidos pelo amor até à morte em total fidelidade!). Tem de haver uma razão.

Helen Fisher e outros demonstraram que o estar apaixonado se faz acompanhar de invulgares estados cerebrais que incluem a presença de químicos neuralmente activos (na verdade drogas naturais) muito especificamente característicos desse estado.

Os psicólogos da evolução concordam com ela quanto ao facto de o “coup de foudre” irracional poder ser um mecanismo que assegura a fidelidade a um co-progenitor, por tempo suficiente para criarem uma criança juntos.

Mas uma vez feita essa escolha – mesmo que seja má – e concebida uma criança, é mais importante assumir a escolha e arrostar com todas as adversidades, pelo menos até a criança estar desmamada.

Será a religião irracional um subproduto dos mecanismos de irracionalidade que, por via da selecção, foram originariamente incorporados no cérebro com vista ao enamoramento (e ambos têm muitas das características da euforia induzida por uma droga viciante).

As áreas do cérebro activadas não são exactamente as mesmas, contudo, como observa o neuropsiquiatra John Smythies, têm algumas semelhanças:

 - Uma faceta das muitas faces da religião é o amor intenso centrado numa pessoa sobrenatural, isto é, em Deus, acompanhado da veneração de ícones dessa pessoa.

A vida humana é, em grande parte, impelida pelos nossos genes egoístas e por processos de reforço. É grande o reforço de tipo positivo originado pela religião, sentimentos reconfortantes e calorosos por sermos amados e protegidos num mundo perigoso, perda do medo da morte, auxílio vindo não se sabe de onde em resposta a preces em tempos difíceis, etc…

De igual modo, o amor romântico por outra pessoa real (geralmente do sexo oposto) apresenta a mesma concentração intensa no outro e reforços positivos desse sentimento, que podem ser desencadeados por íconos do outro, tais como fotografias, cartas, madeixas de cabelo, como acontecia na época vitoriana.

Fiz a comparação entre enamoramento e religião em 1993, escrevendo na altura que os sintomas de um indivíduo infectado pela religião “podem ser surpreendentemente reminiscentes daqueles que habitualmente associamos  ao amor sexual".
(continua)

«Lanterna dos Afogados»
JUBIABÁ

Episódio Nº 77


Mas não via nada porque voltou a claridade perturbadora da lua e os sons morriam nas ladeiras, nos becos sem iluminação, nas ruas calçadas de pedra.

Com os últimos sons de batuque e o brilho atordoante do luar ele se achou diante do rosto sardento de Lindinalva.

Estava linda e sorria. Fazia desaparecer o batuque e o ódio.

António Balduíno passou a mão pelo rosto para afastar a visão que o acordava e olhou fixo para o outro lado. Enxergou novamente as luzes dos saveiros e Mestre Manuel que andava pelo cais.

Mas no meio das luzes estava Lindinalva bailando. Tudo porque ele perdera a luta e estava desmoralizado.

Fechou os olhos e quando os abriu só conseguiu ver a luz da triste, da pequena lâmpada da “Lanterna dos Afogados”.


UMA TOADA TRISTE QUE VEM DO MAR

A luz da “Lanterna dos Afogados” brilha como um convite. António Balduíno deixa o cais, levanta-se da areia que o acaricia e se dirige em grandes passadas para o botequim.

A lâmpada de poucas velas mal ilumina a tabuleta que traz o desenho de uma mulher bonita com corpo de peixe e seios duros. Por cima uma estrela pintada com tinta vermelha, derrama sobre o corpo virgem da seria uma luz clara que a torna misteriosa e difusa.

Ela retira da água um suicida. E por baixo o nome:

«LANTERNA DOS AFOGADOS»

De dentro vem um grito:

 - É você, Baldo?

 - Sou eu mesmo, Joaquim!

Lá estão numa das mesas sebentas o Gordo e o Joaquim. Joaquim grita da mesa, as mãos postas em cima dos olhos para ver melhor à luz vacilante do poste:

 - Entra, Jubiabá está aqui

Na sala pequena, quase envolta na escuridão, cinco ou seis mesas onde canoeiros, mestres de saveiros, e marinheiros bebem. Copos grossos cheios de cachaça. Um cego toca um violão mas ninguém o ouve.

Numa mesa, marinheiros alvos e louros, alemães de um cargueiro que carrega no porto, bebem cerveja e cantam embriagados. Duas ou três mulheres que nesta noite desceram da Ladeira do Taboão para a «Lanterna dos Afogados» estão com eles.

Riem muito mas têm um ar espantado pois não entendem a canção. Os marinheiros estão abraçados e beijam as mulheres. Em baixo da mesa inúmeras garrafas de cerveja vazias.

António Balduíno passa por junto deles e cospe. Um marinheiro levanta um copo. António Balduíno se prepara para brigar. Num canto, o cego geme no violão e ninguém o escuta.

António Balduíno se lembra que Jubiabá está no botequim, baixa o braço e vai se sentar junto do Gordo e de Joaquim.

 - Cadê Jubiabá?


 - Está lá dentro com seu António rezando à mulher dele. Seu António é um português velho, amigado com uma mulata com cara furada de bexiga. Um garoto pálido serve as mesas, correndo.

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