Memórias Futuras
Olhar o futuro pelo espelho retrovisor da história. Qual história? Que futuro?
sábado, julho 11, 2015
Roberto Carlos - Esse Cara sou Eu
Hoje, quarenta anos depois, Roberto Carlos e as suas canções ultrapassaram as críticas de serem "pirosas" . As pessoas adoptaram-nas como suas e o público é o verdadeiro juiz.
Sondagens
– PS com vantagem de 4,9 pontos sobre a Coligação PSD/CDS
António
Costa é melhor em tudo
«A sondagem
Intercampus feita para o Público, TSF e TVI mostra não só as intenções de voto
dos portugueses, isto quando estamos a poucos meses das legislativas, mas
também nos permite ter uma ideia de como os portugueses percepcionam os líderes
dos dois principais partidos. E, neste aspecto, os últimos anos de Governo já terão
feito o seu desgaste à imagem de Passos Coelho.
Quando se compara o líder do PS com o líder do PSD, Costa sai vencedor em
características como ‘Competente’ (32,9% contra os 27,7% de Passos),
‘Conhecedor de Problemas’ (30,9% para Costa, Passos com 27,1%) ou ‘Trabalhador’
(Costa com 30,7%, Passos com 26,7%).
Costa, aliás, triunfa claramente na principal: 'Quem tem melhores qualidades
para ser primeiro-ministro?' Entre os 1014 inqui ridos,
42,3% escolhem António Costa. Passos Coelho fica-se pelos 31,6%.
As principais diferenças, saliente-se, são na percepção sobre qual dos dois
candidatos é visto como o mais ‘Dialogante’ e também qual mostra maior
‘Sensibilidade social’. Entre os inqui ridos,
38,7% escolheu Costa, enquanto 30,3% escolheram Passos como a figura mais
dialogante. Já na sensibilidade social, a liderança é clara para Costa (37,4%),
contra os 24,5% de Passos.»
Nota
As sondagens são o que
são, valem o que valem, estamos a mais de dois meses das eleições mas... prefiro estas
ás últimas que apareceram e punham a Coligação um ponto acima do PS...
Eu é que mando... |
Wolfgang Schaeuble
«O ministro das
Finanças alemão, Wolfgang Schaeuble, diz que nos próximos dias a dívida grega
vai ser discutida, mas vê “pouca margem de manobra para a reestruturação”.
O governante alemão disse ainda, em tom de brincadeira, que já tinha falado com
o secretário de Estado do Tesouro norte-americano, Jack Lew – que tem insistido
para uma resolução rápida da situação grega – e lhe disse que estava disposto a
trocar Porto Rico pela Grécia. “Nestes dias ofereci ao meu amigo Jack Lew que
estávamos dispostos a aceitar Porto Rico na zona euro, se o os Estados Unidos
estivessem dispostos a aceitar a Grécia no euro”.»
NOTA
Nunca os responsáveis europeus desceram tão baixo na Europa, este senhor sente-se, fala e comporta-se como se estivesse na capital do III Reich sem ter que travar guerra nenhuma... valha-nos isso!
Bom Deus? Raios que o partam! |
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)
Episódio Nº 281
- Ir onde, pelo amor de Deus? Acha pouco...
- Eu vi, com meus olhos...
- Desgraçado! Não vê que não é hora de
fuxico?
- Juro pela alma de minha mãe. Vi os
dois, Ção e seu Cícero, no emborco da canoa. Seu Pedro Cigano também viu.
- Por que não disse antes?
- Bem que qui s,
vosmicê não deixou.
Não chegaram à cajazeira onde a canoa
estivera emborcada, tampouco obtiveram notícias recentes de Ção e de seu Cícero
Moura, outras tarefas difíceis e
urgentes ocuparam o patrão e o caixeiro. Do sumiço da canoa souberam pelos
sergipanos enquanto Pedro Cigano confirmou haver visto de noitinha a maluqueta
e o comissário de Koifman & Cia encaminhando-se para o abrigo da cajazeira.
O que lhes sucedera depois não tinha
idéia. Ao ouvir o estrondo teriam fugido ou a enchente os alcançara?
Na metade do caminho entre o pontilhão e a
casa de farinha, Fadul e Durvalino defrontaram-se com o numeroso bando dos sergipanos.
Apesar da pressa, avançavam lentamente no
cuidado com Zeferina, recém-parida e com as crianças, entre advertências e precauções.
Velhos e jovens, homens e mulheres, a meninada
insubmissa, além dos que haviam vindo do arraial: Coroca, Castor, Bastião,
Pedro Cigano.
Projetada
dos longes da memória, uma lembrança azucrinou o árabe: menino, vira caravanas
chegando do deserto, carregadas de miséria e de infortúnio. Tão diferente e tão
igual.
Ao se defrontar com os retirantes, e
somente então, Fadul pôde medir a completa extensão da catástrofe. Antes, não
lhe sobrara tempo para se ocupar com os roceiros: ademais do casario, a enchente
engolira a lavoura, arrasara, destruíra Tocaia Grande.
Nos dois lados do rio, a miséria e o
infortúnio. Logo quando as coisas marchavam tão a contento e ele, Fadul,
começava a colher os frutos de sua persistência. O bom Deus dos maronitas mais uma
vez o punha à prova.
Bom
Deus? Raios que o partam!
- Deus
da ruindade e da desolação, impiedoso, atrabiliário, carrasco! Iárára- dínák!
Rára! Rára!
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De nada adiantaria prosseguir no rastro de
Ção e de seu Cícero Moura: a canoa já não servia de ponto de referência. Tição sugeriu
que, após deixarem as mulheres e a filharada em segurança em casa do Capitão,
organizassem uma batida geral nos arredores, em busca dos desaparecidos.
(Domingos Amaral)
Episódio Nº 13
A verdadeira mãe de Afonso Henriques foi sempre a minha mãe, Dórdia Viegas. Ela mimava-o, penteava-o, vestia-o, à noite levava-o para a cama e fazia-lhe o sinal da cruz na testa, como a mim, ao Afonso ou ao Soeiro. Tratava-o como nos tratava a nós os três, seus filhos. Com ternura, como uma mãe deve.
E ele retribuía. Amava-a
como nós a amávamos, sempre de roda dela a pedir coisas, a reclamar atenção.
Uma vez o Afonso Henriques
disse-me:
- Deus é injusto. O meu pai morreu, tinha eu
três anos, não o conheci, só às suas barbas cinzentas e falantes. E Dórdia, a
minha única mãe, morreu naquele dia do cerco a Coimbra!
Para minha grande tristeza e
de toda a família dos Moniz de Ribadouro, Dórdia Viegas já arfava muito, tinha
de sentar-se constantemente, e à mesa estava sempre com um ar calmo de mais,
como quem tinha muitas dores mas sofria em silêncio, para não incomodar os
outros.
Tanto o meu amigo como eu
que, se ela subisse ao céu, ninguém mais nos iria dizer:
- Vinde dar-me um beijo!
Isso entristecia-o muito,
dizia-me o meu melhor amigo, e era por isso que fazia um esforço para imaginar
combates sangrentos logo de manhã no alto do castelo de Coimbra.
Enquanto o arqueiro suspende
a ronda, a um canto da torre, o menino mira de novo a faustosa do califa, e
promete a si próprio que quando for grande o vai derrotar.
Terá de aprender a usar a
enorme espada de seu pai, a montar, a vestir a cota de malha e a armadura, mas
será o mais hábil, corajoso e destemido cavaleiro do condado de Portucalense.
Agora sente-se forte,
imaginar vitórias animou-o, mas logo se lembra do que ouviu Egas ou Ermígio
dizerem, que sem Paio Soares a comandá-las as tropas de Dona Tereza pouco
valem, pois Bermudo de Trava, seu marido, não nasceu para empunhar a espada!
Ontem, escutou também as
meninas árabes a intrigarem, aos risinhos, nas suas costas:
- A rainha não gosta do
Bermudo, gosta é do irmão, do Fernão!
O menino também já reparou
que Dona Tereza também nunca beija o marido em público, eles nem se tocam, não
há uma festa carinhosa, uma ternura visível. Nunca viu sequer um abraço e
sempre atribuiu essa falha à maneira de ser de Dona Tereza.
Dórdia diz que ela é arisca,
quando falam na condessa que agora se diz rainha, o que é raro, pois Dórdia
evita falar dela.
sexta-feira, julho 10, 2015
A Professora de educação sexual desenha no quadro uma mama, e pergunta aos
alunos o que está desenhado.
O menino Joãozinho levanta a mão e diz:
- É uma mama e a minha mãe tem duas.
Muito bem...
Começa então a desenhar um pénis. O menino Carlinhos levanta a mão e diz:
- Isso é uma pilinha... o meu pai também tem duas.
A professora, admirada com a resposta, replica:
- Duas... Carlinhos?
- Sim senhora professora: uma pequenina para fazer chichi e uma grande para
lavar os dentes à minha empregada.
Volto com ela ou com a notícia. |
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)
Episódio Nº 280
Do paradeiro de Ção, fosse de dia, fosse
de noite, ninguém dava notícia certa; de sua vida o pai e a mãe, resignados,
carregavam a cruz. Sendo ela lesa, uma simples de Deus, sem tino de gente,
impossível pôr-lhe freios, controlar-lhe os passos.
Tentar bem que tinham tentado, sem
sucesso. Das Dores dissera e repetira a Altamirando ao vê-lo amiúde apoquentado
por causa da filha:
- Deixa pra lá. Foi Deus que fez ela
assim, fica aos cuidados
dele. Nós não pode fazer nada. - Temia
que se o marido viesse a saber de tudo, enfurecido, matasse a pobre de pancada.
Assim era, não podiam fazer nada.
Altamirando buscava seguir o conselho da mulher, deixar de mão, tratava de não
esquentar a cabeça. Mas quando Cão aparecia para apascentar as cabras,
acalentar os bacorinhos ou para mercadejar na feira; quando vinha correndo e se
pendurava em seu pescoço, o sertanejo, sem nada demonstrar, sentia-se outro,
leve e contente.
Uma boa menina, sua filha, não tinha
culpa da moleira fraca, nascera assim, se havia um culpado era Deus que não
tivera pena dela. Bonita como era, esquecida da cabeça, indefesa naquelas brenhas,
melhor mesmo não pensar nas desgraças fáceis de acontecer.
Exaustos, nas últimas forças, Das Dores
botando os bofes pela boca, terminaram de labutar com os porcos. Nada tinham podido
fazer para salvar a lavoura.
Das Dores sentou-se num pedregulho, Altamirando
anunciou:
- Vou me tocar por aí.
- Fazer o quê?
- Vou procurar ela. Tenho de encontrar.
- Vou com ocê.
- Pra quê? Tu fica aqui , tomando conta. Um sozinho ou dois junto, é a
mesma coisa. Volto com ela ou com a notícia.
A notícia: outra coisa não podia ser.
Deus que dá a vida, dá a morte, pensou Das Dores. Altamirando desceu o outeiro,
entrou na água que lhe batia na cintura, vergou-se para a frente sob a chuva e
o vento, e saiu a procurar a filha. Das Dores cobriu a cara com as mãos, pôs-se
a chorar.
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A visão de Altamirando desnorteado, indo
de um lado para outro, no meio das águas que cresciam, a perguntar pela filha se
a tinham visto, onde, com quem, fazendo o que - causou tamanha impressão em
Durvalino a ponto de levá-lo a enfrentar novamente a ira de Fadul Abdala, seu patrão
a quem estimava, acatava e temia:
- Seu Fadu, não me leve a mal mas tenho
de ir...
(Domingos Amaral)
Episódio Nº 12
Nas margens, a duzentos
passos do acampamento, há quem nade, vê cabecinhas à superfície e corpos
inteiros seminus, a caminharem para o rio. Devem ir lavar-se logo pela manhã.
Os árabes lavam-se muito,
foi o que lhe explicou a menina moura, a mais nova, Zaida, que é muito mais
simpática do que a irmã mais velha, Fátima, que gosta de andar à bulha; isso já
deu para perceber nestes vinte e poucos dias que conviveu com elas em Coimbra.
Elas estão na cidade desde o
ano anterior, quando ficaram prisioneiras dos cristãos, depois do primeiro
cerco de Ali Yusuf.
Diz-se que foi Taxfin,
marido da mãe delas, Zulmira, e governador de Córdova, quem convenceu o Califa
a regressar a Coimbra para as resgatar.
Ontem à tarde, Fátima
ameaçou-o, enquanto brincavam no pátio da alcáçova. Ele jurou que os cristãos
iam matar os infiéis todos e ela cresceu para ele, enfurecida, berrando.
- Se não vos calais levais
um murro!
Ele desatou a correr fugindo
dela e repetindo bem alto o que dissera. Mas até ele, com oito anos, sabe que
Coimbra está em
perigo. Espanta-o que os infiéis não ataquem a cidade com
mais violência.
Se avançassem ganhavam, foi
o que ouviu dizer. Terá sido meu pai Egas Moniz, ou meu tio Hermígio quem assim
falou?
O Afonso Henriques e eu, bem
como os meus irmãos Afonso e Soeiro, fomos educados pelos dois, vivemos com eles
em Lamego, e foram eles que nos levaram para Coimbra. Se tivessem sabido
daquele cerco, não teriam certamente ido. Tratava-se apenas de uma visita
estival de cortesia à mãe do meu melhor amigo.
Ou melhor, à condessa Dona
Teresa.
Uma mãe tem de dar carinho,
estar lá, beijar os filhos. Caso contrário, não é uma mãe, é mãe só de nome.
Ora Dona Teresa nunca estava. Via o filho uma ou duas vezes por ano quando ia a
Lamego ou a Viseu, ou ele ia a Coimbra, mas limitava-se a olhar para ele e a
dizer:
- Está mais crescido. E era tudo. Nunca lhe
dava um beijo, embora exigisse que ele lhe beijasse a mão.
Não era grande coisa como
mãe. Nunca foi.
Quando vejo uma fotografia de homens deitados no chão barrando com
os seus corpos o caminho de um touro à saída do curro e à entrada na arena,
fico com sérias dúvidas sobre a total sanidade mental da espécie humana actual.
Exactamente a mesma dúvida que me assalta quando jovens
portugueses que enfileiram no movimento da jihad e se deixam matar
protagonizando ataques suicidas.
Uma curiosidade enorme faz-me sentir, então, vontade de recuar no
tempo até aos nossos avós do paleolítico, o homem de Cromagnon, que vivia em
comunhão com a natureza, aqui na
Europa, e tentar saber se comportamentos deste tipo existiam ou se seriam
compreendidos por esses nossos antepassados.
Não estou a referir-me à violência ou à crueldade porque essas sempre
existiram, fazem parte da nossa natureza e sobrevivência. O que aqui está em causa é o desprezo pela vida, o risco
inútil.
No que estou a pensar é que, provavelmente, nesses tempos, a nossa
vida era escassa, de tal forma que não fazia sentido nenhum, não tinha
cabimento, desperdiça-la de forma gratuita, inútil, irracional ou meramente
exibicionista.
O convívio íntimo com a natureza ao nível de toda a comunidade,
implica uma mensagem permanente do bom senso, se é que se lhe pode chamar
assim, que regula os fenómenos em que estamos integrados.
A sociedade de massas, a concentração de populações em pequenos
espaços como são as grandes cidades, onde milhões de pessoas se aglomeram e
acotovelam, constitui um factor de pressão que pode acarretar distúrbios da
mente.
Podemos, se qui sermos
um termo de comparação nos dias de hoje, observar os bosquímanos ou os pigmeus,
grupos em vias de desaparecimento, os mais antigos, geneticamente, da
humanidade, para perceber como o seu comportamento no grupo social de que fazem
parte nem sequer concebe comportamentos alienantes deste tipo.
A vida na dependência da natureza é muito exigente. Cada homem e
cada mulher tem que saber “ler” em cada “gesto” de tudo o que mexe e por vezes não mexe, à sua volta.
A escola é-lhes servida, em criança, não dentro de uma sala de
aulas mas em todo o cenário que as rodeiam e os professores são todos os
membros do grupo em aulas teóricas, à noite, à volta da fogueira, e as
práticas, de dia, seguindo os adultos, vendo com atenção tudo quanto eles fazem
na minúcia e pormenor de cada movimento num desafio à inteligência de cada um.
Quem estudou estas sociedades não teve dúvidas nenhumas em afirmar
que elas são as melhores e as mais felizes pessoas do mundo... ou pelo menos
eram.
quinta-feira, julho 09, 2015
Nana Mouskouri - The Power Of Love
Nascida Ioánna Mouskouri e conhecida como Nana, é uma cantora nascida em Creta, Grécia. Estabeleceu-se com sua família em Atenas, onde seu pai trabalhava como projecionista em cinema. Nesta época, bastante jovem, começou seu amor pelas artes, principalmente pela música. Ela gravou músicas em muitas línguas, incluindo grego, inglês, francês, espanhol, alemão, português e italiano, entre outras.
A sua família viveu em Chania, Creta, enquanto o seu pai trabalhou como projecionista num cinema local. Sua mãe trabalhou no mesmo cinema. Quando Nana completou três anos, a sua família mudou-se para Atenas. A família trabalhou duro para mandar Nana e sua irmã mais velha, Jenny, para o famoso Conservatório de Atenas. Nana demonstrou possuir um talento musical excepcional aos 6 anos de idade, apesar de sua irmã ter parecido a mais talentosa das duas. Na verdade, Nana possui uma corda vocal mais grossa do que a outra, o que contribuiu para sua voz única, seja cantando ou falando.
A sua infância foi marcada pela invasão nazi da Grécia. Seu pai tornou-se
integrante do movimento da resistência antinazi em Atenas. Nana começou a ter
lições de canto aos 12 anos. Porém, devido à ocupação nazi, a sua família não
possuía mais recursos para continuar a financiar as suas aulas. A sua
professora, por achar que ela possuía um talento inigualável, ofereceu-se para
continuar as aulas sem nenhum pagamento.
Em 1950, Nana foi aceite no Conservatório.
O árabe vai à loja do judeu para comprar soutiens pretos.
O judeu, pressentindo bons negócios, diz que
são raros e vende por 40 euros cada um.
O árabe compra 6, e volta alguns dias depois querendo mais duas dúzias.
O judeu diz que as peças vão ficando cada vez mais raras e
vende por 50 euros a unidade.
Um mês mais tarde, o árabe compra o que resta por 75 euros
cada.
O judeu, encucado, pergunta-lhe o que faz com tantos soutiens pretos.
Diz o árabe:
- Corto o soutien em dois, faço dois chapeuzinhos e vendo aos judeus por 100
euros cada.
Vambora enquanto o pontilhão tá firme. |
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)
Episódio Nº 279
De cima do assento improvisado, sia
Leocádia repreendeu o pirracento, apoiou Vanjé:
- Cala a boca, tu não sabe o que diz. Eu
digo o mesmo que vosmicê, sia Vanjé. Nós tá com vida e ninguém tomou a terra da
gente. Só peço a Deus que nos dê saúde.
- Saúde e um pouqui nho
de sol... - brincou novamente Bastião: - Se lembra da promessa que lhe fiz, tia
Vanjé? A primeira casa que vou botar de pé quando a cheia se acabar vai ser a de
vosmicê. Não pense que me esqueci.
Mal podiam se mover no pequeno recinto
da casa de farinha.
Tição pediu notícias de Altamirando, a
mulher e a filha. Soube pelos estancianos que o casal permanecia no roçado,
ocupado em salvar a criação de porcos; a enchente engolira o casebre e o
chiqueiro.
Não haviam visto a lesa: largada no
mundo, não tinha hora de sair nem de chegar. A menos que estivesse com as
cabras, metida num socavão dos morros.
A conversa não chegou a se encompridar pois
os homens, que tinham ido recolher a canoa, voltavam, portadores de más
notícias.
Conforme o previsto, da canoa nem sinal.
Deixavam-na emborcada entre as raízes de copada cajazeira, mais abaixo da
correnteza, num local onde o rio, livre da garganta de pedras, se alargava e se
tornava mais profundo.
Como imaginar que a embarcação permaneceria
ali, à disposição dos donos? O rio passara a ser senhor e dono, único e
incontestado, desmandando sozinho.
Nem paga a pena ir ver, dissera Ambrósio.
Junto com os roceiros chegou Pedro Cigano, haviam-no encontrado ao pé da
cajazeira: sombrio, de cara amarrada, falando sozinho.
O negro Castor não permitiu sequer que
começassem a discutir sobre a sorte da canoa:
- Vambora enquanto o pontilhão tá
firme, antes que leve a
breca.
Coroca tomou a dianteira, exibiu o neném
para o pedreiro e o ferrador de burros:
— Coisinha mais linda!
Despiu a blusa para com ela agasalhar
melhor a criancinha, fio de vida, condão de esperança.
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Imóveis nas lombadas do outeiro, as
cabras eram pedras esculpidas.
De súbito, sem motivo, uma delas partia
a correr, desatinada; as demais a acompanhavam. Na paisagem devastada, as cabras
afirmavam a eternidade.
Entre os dois, Das Dores e Altamirando,
carregavam morro acima os porcos da engorda, as porcas prenhas e a parida, os
leitões, mais de dez bichos pesados: cada passo custava um rude esforço.
Perderam três dos oito bacorinhos. Por
falar nisso, cadê Ção que não aparecia nas horas de ajudar? Gostava de embalar
os bacorinhos, cantava-lhes cantigas de ninar.