Memórias Futuras
Olhar o futuro pelo espelho retrovisor da história. Qual história? Que futuro?
sábado, outubro 06, 2012
Há em cada aldeia um archote: - O mestre escola
E uma boca que sopra para o apagar: - O pároco
(Victor Hugo)
A CASA DO INFERNO
Richard Dawkins entrevistou, perante as câmaras de
televisão, o pastor Keenan Roberts do Colorado que o pôs ao corrente da
existência de uma Casa do Inferno.
E o que é a Casa do Inferno?
É um lugar onde as crianças são levadas pelos pais ou
pelas respectivas escolas cristãs para serem aterrorizadas com imagens do que
lhes pode acontecer depois de morrerem.
Há actores que encenam quadros assustadores de certos
pecados como o aborto e a homossexualidade, perante o regozijo de um diabo
vestido de vermelho vivo.
Finalmente, a representação do próprio inferno ao qual
não falta o característico cheiro a enxofre a arder e os gritos agonizantes dos
que estão condenados por toda a eternidade.
No fim do ensaio em que o diabo esteve devidamente
diabólico, Dawkins entrevistou o pastor Roberts na presença do seu elenco que
referiu que a idade ideal de uma criança para uma visita à Casa do Inferno são
os 12 anos.
Mas, perguntou Dawkins, não o preocupa o facto de uma
criança de 12 anos ter pesadelos depois de ter visto uma representação destas?
Com honestidade, ele respondeu:
«O que me interessa é que eles compreendam que o
inferno é um lugar para onde, decididamente, não hão-de querer ir. Antes quero
transmitir-lhes essa mensagem aos 12 anos do que não transmitir e vê-los
enveredar por uma via de pecado, sem nunca encontrarem o Senhor Jesus Cristo.
E se vierem a ter pesadelos por causa desta
experiência, penso que terão alcançado e conseguido nas suas vidas um bem mais
importante do que uns simples pesadelos.»… (esta gente não é má, e simplesmente
diabólica...)
O versículo do Evangelho de São Marcos refere: «Se a
tua mãe é para ti ocasião de pecado, corta-a; mais vale entrares mutilado na
vida do que, tendo duas mãos, ires para o inferno, para o fogo inextinguível,
onde o verme não morre e o fogo não se apaga» (9:43-4)
Independentemente de como imaginam que o inferno seja
de facto, todos estes entusiastas do fogo infernal, parecem partilhar daquele
júbilo que alguns sentem com o mal dos outros, a complacência daqueles que se
vêm entre os que serão salvos, ideia de resto, muito bem expressa por esse
expoente máximo da Teologia, São Tomás de Aquino, na sua Summa Theologica :
«Para que mais abundantemente possam desfrutar da sua
beatitude e da graça do Senhor, é permitido aos santos ver o castigo dos
condenados ao inferno» e Dawkins comenta: “ que homem simpático...” e eu
acrescento… “sádico”.
O medo do fogo do inferno pode ser muito real, mesmo
entre pessoas com um comportamento racional a outros níveis.
Após um seu documentário televisivo sobre religião,
Dawkins recebeu muitas cartas, entre as quais, a de uma mulher visivelmente
inteligente e sincera que dizia assim:
“Andei desde os 5 anos numa escola católica, onde as
freiras, de correia, régua ou de vara em punho me inculcaram a doutrina.
Durante a adolescência li Darwin, e o que ele escreveu
sobre a evolução fez imenso sentido para a parte lógica da minha mente. No
entanto, ao longo da vida, tenho-me debatido interiormente com um grande
conflito e com um intenso medo do fogo do inferno, que desperta em mim com
muita frequência.
Fiz psicoterapia, que me permitiu resolver alguns dos
meus problemas mais antigos mas não consigo ultrapassar este medo profundo».
Jill Mytton foi educada no medo do inferno, escapou ao
cristianismo já adulta e hoje aconselha e ajuda outros traumatizados, como ela,
na infância.
«Quando relembro a minha infância, vejo-a dominada
pelo medo. E era o medo de reprovação no presente mas também da condenação
eterna. Para uma criança, as imagens do fogo do inferno e de dentes a ranger
são, efectivamente, muito reais. Não têm nada de metafórico.».
Dawkins pediu-lhe, então, que explicasse o que de
facto lhe tinham dito sobre o inferno em criança e a resposta que ela deu foi
rica e comovente como o seu rosto durante a longa hesitação que precedeu a
resposta:
«É estranho, não é? Depois deste tempo todo ainda
consegue… afectar-me…quando…quando me é feita essa pergunta. O inferno é um
lugar assustador. É sermos totalmente rejeitados por Deus. É um julgar total.
Há fogo a sério, sofrimento a sério e dura para sempre, sem tréguas.»
Falou depois do grupo de apoio que agora orienta,
destinado a pessoas que procuram fugir de uma infância semelhante à sua e
insistiu na dificuldade que é, para muitos, sair:
«O processo de
saída é extremamente difícil. Ah, o que se deixa para trás é toda uma rede
social, todo um sistema no qual, praticamente, se foi educado, deixa-se para
trás um sistema de crenças que se interiorizou durante anos. Muitas vezes
deixa-se a família e amigos…deixa-se de existir para eles»
- Alô! É a dona Ieda?
-
Sim, ela mesma...
-
Dona Ieda, aqui é o João Carlos, seu contabilista. Estou ligando p'ra avisar
que a sua declaração do I.R.S caiu na malha fina da Receita, eles estão alegando incompatibilidade de
renda comparado o património da senhora com seu salário de secretária.
-
Então, e agora?
-
Faça o seguinte: envie-me uma cópia da sua principal fonte de rendimentos atuaclizada,
que vou ver o que posso fazer...
-
Tá bem Sr. João, já vou tirar uma fotocópia e envio por fax daqui a
pouquinho...
|
GABRIELA
CRAVO
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 211
Foi tão inesperado, que
Tonico, silencioso e triste naquela noite, rompeu numa gargalhada. Jerusa
baixava os olhos sobre o prato, o vate comia. Josué dominava com esforço a
vontade de rir.
O Doutor salvou a situação
contando uma história dos Ávilas. No fim do jantar chegou Amâncio Leal. O
Doutor sentia que alguma coisa extraordinária acontecia. Amâncio
surpreendera-se, evidentemente ao vê-lo ali. Ficara calado, esperava. Toda a
família esperava. Finalmente, Ramiro não se conteve e perguntou:
- Soube o resultado da operação?
- Parece que se salva. É o que dizem.
- Quem? – qui s
saber o Doutor.
- Não soube de nada?
- Viemos directos do sítio de Helvécio.
Atiraram no coronel
Aristóteles.
- Em Itabuna?
- Aqui
em Ilhéus.
- E porquê?
- Quem sabe?
- Quem atirou?
- Ninguém sabe. Um Jagunço, parece. Fugiu.
O Doutor que não lera o
jornal e de nada sabia, lastimou:
- Que coisa… Ele é seu amigo, não é coronel?
Ramiro baixou a cabeça. O
jantar terminou desanimado, depois o poeta declamou uns versos para Jerusa. Mas
o silêncio na sala era tão pesado que Josué e o Doutor decidiram partir. O vate
bem alimentado, queria demorar mais, bebia conhaque. Mas os outros o forçaram,
saíu reclamando:
- Porquê essa pressa? Gente distinta, conhaque
soberbo.
- Eles queriam estar a sós.
- Que diabo é que há?
Só no bar foram saber, o
Doutor correu para o hospital. O ilustre vate não se conformava:
- Por que diabo mandaram matar gente logo
hoje, que me davam um jantar? Não podiam escolher outro dia?
- Necessidade urgente – esclareceu João
Fulgêncio.
Gente entrava e saía do bar.
Traziam notícias de cerco do morro do Unhão, das batidas efectuadas, da grande
caçada organizada para trazer o negro morto ou vivo.
O pessoal chegado de
Itabuna, os jagunços desembarcados dos caminhões, afirmavam que não
regressariam sem a cabeça do bandido. Para mostrá-la na cidade. Chegava gente
também do Hospital. Aristóteles dormia: Dr. Lopes dizia ser ainda muito cedo
para qualquer prognóstico. A bala atravessara o pulmão.
Nacib também fora espiar o
cerco do morro, do fim da ladeira. Contara as novidades a Gabriela e a Dª
Arminda, que estranhavam o movimento de gente.
(Click na imagem: veja se é um colar de maçãs ou um exercício de equilíbrio)
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sexta-feira, outubro 05, 2012
O avô conta ao seu
neto João as grandes mudanças que aconteceram na sociedade, desde a sua
juventude até agora.Sabes, João,
quando eu era pequeno, a minha mãe dava-me dez escudos mais ou menos cinco cêntimos de hoje e mandava-me à
mercearia da esquina. Então, eu voltava com
um pacote de manteiga, dois litros de leite, um saco de batatas, um queijo, um
pacote de açúcar, um pão e uma dúzia de ovos..!"
E o João respondeu-lhe:
- Mas, avô, nesse tempo não havia câmaras de vigilância?
Quando não emergem da água rastejam sobre a areia da praia |
GABRIELA
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 210
No bar de Nacib, o árabe
corria de mesa em mesa a ouvir os comentários. João Fulgêncio anunciava:
- Nenhuma mudança na sociedade é feita sem
sangue. Esse crime é mau sinal para Ramiro Bastos. Ainda se houvesse liqui dado o homem, poderia talvez dividir Itabuna. Mas
agora, é que o prestígio de Aristóteles vai crescer. E não vamos ser súbitos de
Tonico, o Bem Amado. Vai começar o reinado de Mundinho, o Alegre.
Cochichava-se também acerca
do estado de saúde do coronel Ramiro, apesar do segredo que a família tentara
guardar. Tonico e Alfredo não arredavam pé de seu lado. Dizia-se estar o velho
à morte. Notícia desmentida à noite por Josué e pelo Doutor.
O sucedido com o Doutor foi
curioso. Líder importante da campanha de Mundinho, jantara, no entanto,
cordialmente com Ramiro e sua família, na tarde do atentado.
Havia sido convidado na
véspera, com Ari e Josué, para um jantar em casa de um combatido adversário, em
homenagem ao vate. Aceitou: a oposição política não alterara as suas boas
relações pessoais com os Bastos.
Apesar dos artigos
violentos, de sua autoria, no Diário de Ilhéus. Naquele dia haviam ido de
passeio, ele, o poeta e Josué, almoçar num sítio de coqueiros além do Pontal,
deliciosa moqueca regada a cachaça, oferecida pelo Dr. Helvécio Marques,
advogado e boémio. Demoraram-se por lá. Voltaram correndo ao hotel para o poeta
botar uma gravata e partiram directos para a casa de Ramiro. Josué bem que
chamou a atenção para o movimento inabitual das ruas, mas não lhe deram maior
importância. Enquanto isso, Ari Santos, no bar, calculou que o convite houvesse
sido cancelado e lá não foi.
Alegre não se pode dizer que
tivesse transcorrido o jantar. Havia uma atmosfera apreensiva e tensa.
Atribuíram a não ter o coronel passado bem pela manhã. Os filhos até não
queriam que ele viesse à mesa, mas Ramiro fez questão, se bem nada comesse.
Tonico estava estranhamente calado, Alfredo não conseguia manter-se atento à
conversa. Sua esposa, dirigindo as copeiras, tinha os olhos pisados como se
tivesse chorado. Era Jerusa quem animava a mesa, cutucando o pai para que
respondesse quando lhe falavam, conversando com o poeta e o Doutor, enquanto
Ramiro, imperturbável, interrogava Josué sobre os alunos do colégio de Enoch.
De quando em vez a conversa
morria, Ramiro e Jerusa a animavam. Foi numa dessas vezes que se travou, entre
a moça e o vate, um diálogo glosado depois nos bares:
- O senhor é casado, Dr. Argileu? – perguntava
amável, Jerusa.
- Não, senhorita – respondeu o poeta com a sua
voz de trovão.
- Viúvo? Coitado… Deve ser triste.
- Não, senhorita. Não sou viúvo…
- Ainda é solteiro? Dr. Argileu, já é tempo de
casar.
- Não sou solteiro, senhorita.
Confusa e sem malícia,
Jerusa forçou:
- Então o que é que o senhor é, Dr. Argileu?
- Amancebado, senhorita – respondeu,
inclinando a cabeça.
COM JESUS Nº 76 SOBRE O TEMA:
“UMA
FÁBRICA DE SANTOS? ”
RAQUEL - Retomamos a nossa transmissão próximo ao templo
de Santa… Não, melhor, preservarmos a identidade do lugar para evitar susceptibilidades.
Jesus Cristo, ao meu lado, parece ainda muito surpreso pelo que vimos no
interior desta igreja, não muito diferente de tantas outras, cheias de imagens
de santos. O que acha de tudo isto, Jesus Cristo?
JESUS - Idolatria.
Adorar imagens é idolatria.
RAQUEL - Bom, os católicos dizem que não adoram, mas
que veneram.
JESUS - Veneram?…
Não conheço essa palavra, mas é a mesma coisa. Em vez de falar com Deus, que
habita em seus corações, ajoelham - se diante de um pedaço de madeira.
RAQUEL - Uma ligação… Sim, alô?
ANDRÉS - Sou
Andrés Pérez Baltodano, estou a ligar do Canadá.
RAQUEL - Quer opinar, senhor Baltodano?
ANDRÉS - Só
para dizer a Jesus Cristo que o problema não é com o verbo, com o verbo
venerar, mas sim com o substantivo.
RAQUEL - Qual substantivo?
ANDRÉS - Com o substantivo lucro que a Igreja Católica
tem com o negócio dos santos.
RAQUEL - Senhor Andrés, poderia explicar -nos melhor?
ANDRÉS - Pois
se Jesus Cristo não sabe, a fábrica de santos não fechou.
JESUS - A
fábrica de santos?
ANDRÉS - Nesse templo onde vocês entraram viram
santos antigos, santos de outros séculos. Mas somente no pontificado de João
Paulo Segundo fabricaram-se, quero dizer, canonizaram-se… 464 novos santos e
santas, mais que nos cinco séculos anteriores!
RAQUEL - E para que precisam de tantos? Já não temos
o bastante?
ANDRÉS - É
que os santos mantêm as pessoas ajoelhadas e, além disso, melhoram as finanças
vaticanas.
JESUS - Esse
“além disso” é o que não entendo.
ANDRÉS - Fazer
um santo é um processo complicado, Jesus Cristo. Testemunhas, tribunais,
peritos, milagres demonstrados, exame do cadáver para ver se ficou incorrupto
ou saponificado… A causa dura anos e anos.
RAQUEL - E isso custa caro, não?
ANDRÉS -Caríssimo.
Esse dinheiro vai para as arcas do vaticano. Prestem atenção neste detalhe. De
cada cem santos e santas canonizados ao longo da história, só cinco foram gente
pobre. A imensa maioria foram príncipes, reis, rainhas, bispos, abadessas. Seus
parentes pagavam uma fortuna para que os fizessem santos. Agora, a fábrica de
santos está muito mais organizada: ninguém chega aos altares sem ter uma instituição
poderosa por trás.
JESUS - Posso fazer-lhe uma pergunta, senhor Andrés?
ANDRÉS
- Claro, Jesus Cristo.
JESUS - Para que fazem tudo isso?
ANDRÉS - O processo de canonização?
JESUS - Sim, esse caminho tão custoso.
ANDRÉS - Para
demonstrar que o santo está no céu, junto a Deus.
JESUS - Mas
isso é buscar o tesouro onde não está. Os santos não estão nos céus, mas na
terra!
RAQUEL - Agora sou eu que não entendo.
JESUS - Os
santos e as santas estão entre nós. São de carne e osso. As mulheres que passam
a vida criando seus filhos, essas são santas. Os camponeses que trabalham na
lavoura desde que sai o sol são santos. A gente boa, que luta pela justiça, que
põe sempre Deus e seus irmãos acima do dinheiro, esses são os santos.
RAQUEL
- Pois sempre nos disseram que santos são os que morreram e do céu fazem
milagres.
JESUS - Não,
os santos são os vivos. E o milagre que fazem é o bom exemplo que dão. Meu pai
José foi santo, mas não pela coroazinha que puseram no boneco que tem nesse
templo, mas porque foi justo até o último dia de sua vida.
RAQUEL - Mas… E se são santos os que estão neste mundo,
como se chamam os outros, os que já estão com Deus?
JESUS - Pergunte
isso a Deus.
RAQUEL - Obrigada ao amigo que nos ligou do Canadá. E
obrigada a tantos santos e santas que seguramente formam parte da grande
audiência de Emissoras Latinas. De Jerusalém, transmitiu Raquel Pérez.
quinta-feira, outubro 04, 2012
Um
agricultor comprou um Mercedes da
nova
classe „E“ directamente na Daimler-
Benz AG.
Ficou estupefacto com as taxas
adicionais
que teve de pagar pelos
equipamentos
fora de série.
Pouco
tempo depois, o director da
Daimler-Benz
AG comprou a este
agricultor
uma vaca para a sua casa de
campo.
Eis a factura enviada pelo
agricultor ao
director:
Factura
1 vaca (versão standard) preço base
2.400 €
2 cores (preto/branco) mais-valia
150 €
Revestimento em couro 100 €
Reservatório de leite p/ exploração
verão/inverno 50 €
4 torneiras a 12,50€ 50 €
2 para-choques, aplicação corneada a
17,50 € 35 €
Enxota-moscas, semi-automático 30 €
Dispositivo de Estrume (BIO) 60 €
Cascos todo-terreno e todo-clima 100
€
Sistema de travões 2 circuitos
(patas tr+dt) 400 €
Buzina com vários sons 135 €
Faróis HALOGENIOS 150 €
Utilização Multi-Enchimento 1.250 €
Total da
Vaca segundo o orçamento: 4.910 €
AS MULHERES SÓ DEVIAM VESTIR DE BRANCO.... |
GABRIELA
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 209
Em Itabuna foi um fim do
mundo. Poucas horas depois do atentado começaram a chegar a Ilhéus automóveis,
procedentes da cidade vizinha, a marinete da tarde veio superlotada e dois
caminhões desembarcaram jagunços. Parecia uma guerra a começar.
«A guerra do cacau».
Durará trinta anos – previu Nhô-Galo.
O coronel Aristóteles
Pires foi levado para casa de saúde, ainda em obras, do Dr. Demóstenes. Apenas
alguns quartos e a sala de cirurgia estavam funcionando. Em torno do ferido
reuniram-se as sumidades médicas locais.
Dr. Demóstenes, amigo
político do coronel Ramiro, não qui s
assumir a responsabilidade da operação. O estado de Aristóteles era grave, o
que não diriam se o homem morresse em suas mãos?
Foi o Dr. Lopes, médico de
grande fama, negro como a noite e belíssima pessoa, que operou com a
assistência de dois colegas. Quando chegaram os médicos de Itabuna, enviados às
pressas por parentes e amigos, a intervenção terminara, Dr. Lopes lavava as
mãos com álcool:
- Agora depende dele. Da sua resistência.
Os bares cheios, as ruas
cheias, um nervosismo geral.
A edição do Diário de
Ilhéus, com a entrevista sensacional de Aristóteles, fora arrancada, em poucos
minutos, aos moleques, o exemplar estava a ser vendido a dez tostões.
O negro que desfechara o
tiro ocultara-se nos bosques do morro do Unhão, não fora identificado. Uma das
testemunhas da ocorrência, pedreiro numa obra, afirmara já o ter visto, mais de
uma vez, em companhia de Loirinho, nas ruas de canto e no Bate-Fundo, cabaré de
última ordem.
O outro popular, que
correra em perseguição ao assassino que quase recebera um tiro, nunca o tinha
visto antes, mas descreveu a sua roupa: calça porta de loja, camisa de
bulgariana xadrez. Quanto aos mandantes, ninguém punha dúvidas: murmuravam-se
nomes em voz baixa.
Mundinho mantivera-se no
hospital enquanto a operação durou. Despachara o seu automóvel a buscar a
esposa de Aristóteles em
Itabuna. Enviou depois uma série de telegramas para a Baía e
para o Rio. Alguns jagunços de Altino Brandão e Ribeirinho, na cidade desde a
chegada dos rebocadores, batiam o morro, com ordens de trazer o negro morto ou
vivo.
A polícia local aparecera,
ouvira Mundinho, o delegado mandara dois soldados dar uma busca nos arredores.
O Capitão, também no hospital, acusara aos gritos os coronéis Ramiro, Amâncio e
Melk de mandantes.
O delegado recusou-se a
tomar suas declarações, ele não era testemunha. Mas perguntou a Mundinho se
fazia suas aquelas acusações do Capitão:
- Que adianta? – disse o exportador. – Não sou
menino, sei que o senhor tenente (o delegado era um tenente da Polícia Militar)
não vai tomar providência. O importante é prender o jagunço. Ele nos dirá quem
o armou. E isso nós mesmos vamos fazemos.
- O senhor está-me insultando.
- Insultar o senhor? Para quê? Ao senhor vou é
mandar embora de Ilhéus. Pode ir preparando a bagagem – Falava agora quase no
mesmo tom de um coronel dos outros tempos.
quarta-feira, outubro 03, 2012
Que posso fazer quando me apercebo que não voltarei a receber mais uma das tuas chamadas de telemóvel em que, invariavelmente, perguntavas: “então meu querido?”, que não seja tentar reter lágrimas de saudade.
Foi anteontem, era mais uma das
sardinhadas que organizavas em tua casa, pretexto para reunires os teus amigos,
especialmente aqueles de quem gostavas como se fossem teus irmãos.
Tínhamos começado a almoçar quando o teu
“amigo-irmão”, Rui Silvério, recebeu um toque no telemóvel que lhe enviaste
depois de te teres levantado da mesa sem nos apercebermos.
Pressentido que se aproximava mais um
“surto” da esclerose múltipla de que sofrias, ausentaste-te para uma outra
parte da casa sem que depois conseguisses evitar um mudo pedido de SOS.
Foram minutos de pânico, desespero, em
que cada um de nós procurou agarrar a vida que se escoava de ti. Os apelos eram
dramáticos: “vá, companheiro, reage, abre os olhos, vive…” mas neste último
“surto” já não haveria retorno.
Com os teus amigos de quem tanto
gostavas à tua volta em desespero, perfeitamente atordoados, tinhas adormecido
para sempre em paz e sem sofrimento.
Ao longo de cerca de vinte anos, até aos
quarenta e cinco, carregaste uma sentença de morte denominada esclerose múltipla
mas durante esses anos em que o “copo foi enchendo até à gota que o fez
transbordar”, na expressão do Zé Manel, médico, amigo,“irmão”, tu viveste, caramba, se viveste!... como qualquer outro mortal dificilmente conseguirá viver
cem anos que cá esteja.
Montagem e exploração de estufas na agricultura,
empresa de serviços na área das limpezas industriais, na Central Eléctrica do
Pego, comércio de móveis com o pai com permanentes deslocações à Holanda,
construção de um empreendimento turístico em Pipa, no Brasil, negócios no imobiliário
em João Pessoa
e Natal, incursões prolongadas a Cuba de onde conseguiste trazer a Portugal
músicos daquele país que actuaram e ganharam dinheiro aqui
e em Espanha, melhorando as condições de vida na sua terra e abrindo-lhes as
perspectivas do mundo.
Tudo isto fizeste com respeito pelos
outros, sem amachucar ninguém, ajudando, estendendo a mão, semeando amigos,
deixando por todo o lado onde passaste pessoas que te adoraram.
Era assim, porque o coração que
finalmente se recusou a manter-te vivo por mais não poder, era grande, enorme e
bom.
Na minha qualidade de homem orgulho-me
que tenhas sido meu sobrinho e se me é permitido este desabafo, dizer que
aquilo que aconteceu contigo só não constitui a maior injustiça deste mundo
porque não há critérios ou preocupações de justiça nestas coisas.
Às cegas, ao acaso, as escleroses
múltiplas e muitos outros males são por esse mundo distribuídos pelas pessoas
sem cuidar de nada, absolutamente de nada, e eu próprio me sentia incomodado
por ter a saúde que tu não tinhas, sentia-me injustiçado porque tu eras melhor
que eu e a maioria esmagadora de qualquer de nós.
Sei que relativamente a estas coisas da
vida e da morte pensavas como eu: desligado o interruptor da vida regressamos ao
mesmo local onde sempre estivemos até nascer. Tal como então, nada nem ninguém
jamais te incomodará mas atrevo-me a dizer, que mesmo com a esclerose múltipla,
pelas muitas pessoas que te amaram nesta vida, foi um feliz acaso teres
nascido.
Adeus, meu querido.
Tio Jaquim.
Política feita a tiro pelas mãos de jagunço |
GABRIELA
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 208
O ancião levantou-se,
apoiado à bengala, pálido.
- Estás falando sério?
- Como lhe digo.
- Então ponha-se fora dessa casa – Esticava o
dedo para a porta – E depressa!
Aristóteles saíu calmo, não
se alterou. Foi directo à redacção do Diário de Ilhéus, disse a Clóvis Costa:
- Pode botar no jornal que aderi a seu
Mundinho.
Jerusa veio encontrar o avô
caído numa cadeira:
- Vovô! O que é isso? O que tem? – Gritava
pela mãe, pelas empregadas, reclamava um médico.
O ancião recuperava-se,
pedia:
- Médico, não. Não precisa. Mande chamar
compadre Amâncio. Depressa.
Os médicos obrigaram-no a
guardar o leito. Dr. Demóstenes explicava a Alfredo e Tonico:
- Deve ter sido emoção muito forte. É preciso
evitar que tais coisas se repitam. Mais uma dessas e coração não resiste.
Amâncio Leal chegava, a
notícia o alcançara quando ia começar o almoço, deixara a família alarmada.
Entrou no quarto de Ramiro.
Na mesma hora em que o
Diário de Ilhéus circulava um título a toda a largura da primeira página: «Itabuna
Apoia o Programa de Mundinho
Falcão», Aristóteles, em companhia do exportador,
voltava, num barco, de uma visita às dragas e aos rebocadores na barra.
Vira os escafandristas
descerem ao fundo das águas, assistira as escavadeiras comer a areia como
animais fabulosos. Ria seu riso fácil. «Juntos faremos o porto de Malhado»,
dizia a Mundinho.
O tiro alcançou no peito
quando ele e Mundinho passavam no descampado do Unhão, vindo para o bar de
Nacib tomar qualquer coisa.
- Álcool não bebo… - acabava de dizer quando a
bala o derrubou.
Um negro saíu correndo para
as bandas do morro, perseguido por dois populares testemunhas da cena. O
exportador amparou o Intendente de Itabuna. O sangue quente sujava-lhe a
camisa. Chegavam pessoas, aglomeravam-se.
Ouviam-se gritos ao longe.
- Pega! Pega assassino! Não deixa fugir!
Da Grande Caçada
Tarde ainda mais agitada que
a do assassinato de Sinhàzinha e Osmundo. Talvez desde o fim dos barulhos, há
mais de vinte anos, acontecimento algum houvesse tanto comovido e emocionado,
não só a cidade mas os municípios limítrofes, todo o interior.
COM JESUS Nº 75 SOBRE O TEMA:
“SANTOS
MILAGROSOS?”
JESUS - De
Jerusalém a Cafarnaum, de Cafarnaum a Jerusalém… Não paramos, Raquel… Daqui p'ra lá…
RAQUEL - Está muito cansado?
JESUS - Não,
pelo contrário… Eu gosto de conhecer coisas novas.
RAQUEL - Pois se prepare para o que vamos conhecer
agora... Desculpe-me, que me pedem sinal da cabine… Rãrã… Amigas, amigos de
Emissoras Latinas, aqui estamos de
volta em Jerusalém… As ruas do bairro cristão repletas de gente e as igrejas
também repletas de…
JESUS - De
quê, Raquel?
RAQUEL - Acompanhe-me, Jesus Cristo, entremos nesta
igreja. Quero que veja algo e me dê sua opinião.
JESUS - Sim,
já me deixaste curioso.
RAQUEL - Entramos?
GUIA - Bem-vindos. You speak english, french or deutsch?
JESUS - Como
disse?
RAQUEL - Em português, por favor.
GUIA - No problem. São turistas?
RAQUEL - Estamos fazendo uma reportagem para as
Emissoras Latinas… “Imagens de santos na Terra Santa”.
GUIA - Magnífico! Aqui
temos muitas e muito bonitas. Venham, comecemos pelos altares menores.
JESUS - Quem
é este?
GUIA - São Gregório Nanzianzo, um santo muito
milagroso.
RAQUEL - E que tipo de milagres faz?
GUIA - Especialmente eficaz para mordidas de
cachorros e serpentes ou de qualquer animal daninho.
JESUS - E
essa boneca?
GUIA - Boneca! É Santa Apolónia, padroeira
dos dentistas. Alivia as dores de dente.
JESUS - Ela
cura os dentes?
GUIA - Tem que acender uma velinha daquelas,
vê? Uma esmola, uma oração, e pronto. Venham… Este altar está dedicado a Santa
Águeda.
RAQUEL - E o que cura esta santa?
GUIA - As mulheres lhe rezam quando têm partos
difíceis.
JESUS - Pelo
que eu vou vendo, cada santo tem uma tarefa.
GUIA - É assim, senhor. Na sacristia temos
outros que já não cabem aqui . São
Brás, advogado da garganta. Santa Luzia, para os olhos. Santa Bárbara, contra
as tempestades. São Benedito, padroeiro das cozinheiras. São José, padroeiro da
boa morte.
JESUS - Meu
pai José?
GUIA - São Judas Tadeu, recomendado para
causas impossíveis. Este é santo António, um dos mais poderosos, encontra
qualquer objecto perdido.
RAQUEL - Também serve para encontrar marido, não?
GUIA - Sim, mas nesse caso as solteiras
colocam-no de cabeça pra baixo para que o santo resolva logo.
RAQUEL - Certo, isso foi o que fez a minha avozinha.
GUIA - Agora estamos procurando uma imagem de santo
Isidoro de Sevilha, que será o padroeiro da Internet.
RAQUEL - Internet já tem seu santo?
GUIA - Sim. É que santo Isidoro foi um grande
sábio. Sabia de tudo, uma enciclopédia viva, uma Wikipédia. Como a própria
Internet.
RAQUEL - E seus milagres poderiam
servir de antivírus celestial?
GUIA - Não duvide, senhorita.
JESUS - Desculpe
minha ignorância, amigo. Ela não, mas eu venho de longe…
GUIA - Sim, diga-me…
JESUS - Poderia
me explicar como funcionam os pedidos a estes santos?
GUIA - É simples. O senhor, por exemplo, tem
um problema. Então, pede o milagre ao santo de sua devoção. O santo passa a
solicitude para a virgem Maria, mediadora de todas as graças. Maria a passa ao
seu filho Jesus Cristo, como fez nas bodas de Canã.
JESUS
- As bodas de Canâ, me lembro…
GUIA - Como disse?
JESUS - Não,
nada.
GUIA - Como lhe explico, o senhor pede ao
santo, o santo pede à virgem, a virgem pede a Jesus e Jesus a resolve com Deus
Pai.
JESUS - E
por que todos esses escalões para chegar até Deus?
GUIA - Deus tem muito trabalho, forasteiro.
Muitas coisas para atender. Os santos e as santas são seus secretários, lhe
ajudam. Satisfeita sua inqui etação?
JESUS - Bom,
não, mas…
GUIA - Não querem visitar a sacristia?
RAQUEL - Não, já é suficiente para nossa reportagem… Aqui tem seu pagamento.
GUIA - Que São Cristóvão os acompanhe!
RAQUEL - Parece aborrecido, Jesus Cristo.
JESUS - Não
vês como se aproveitam das pessoas necessitadas, das mulheres em apuros, dos
doentes? Dizem que esta é a casa de Deus e a encheram de ídolos e a converteram
num covil de impostores. Vamos para a rua, vamos.
RAQUEL - Então, um corte e já voltamos! De Jerusalém e
para Emissoras Latinas, falou Raquel Pérez.