Memórias Futuras
Olhar o futuro pelo espelho retrovisor da história. Qual história? Que futuro?
sábado, maio 31, 2014
Simon & Garfunkel - Sound of Sience
Ouçam esta maravilha composta há quase 50 anos por estes rapazes que a cantam
O
marido está em casa a ver um jogo de futebol, quando a mulher sai e volta logo a
seguir, dizendo-lhe:
-
Querido, podes arranjar o meu carro? Ele parou de funcionar assim que saiu da
garagem....
- Consertar o teu carro? Estás a ver Fiat escrito na
minha testa?
A mulher volta à carga:
- Então podes arranjar a
porta do frigorífico? Ela não está a fechar bem...
E ele
respondeu:
- Arranjar a porta do frigorífico? Estás a ver Siemens
escrito na minha testa?
- Está bem - disse ela. Então podes pelo menos
trocar a lâmpada da porta da frente? Ela está queimada há semanas.
E o
marido:
- Trocar a lâmpada da porta da frente? Estás a ver
Philipps escrito na minha testa? Eu não te aguento mais! Vou para o bar
beber umas cervejas!
Assim fez e bebeu durante algumas horas. Entretanto,
começou a sentir-se culpado pela forma como tinha tratado a mulher e decidiu
voltar para casa e ajudá-la. Ao chegar a casa viu que o carro já estava na
garagem e a luz da porta de entrada já funcionava.
Dirigiu-se ao
frigorífico em busca de uma cerveja e percebeu que a porta do mesmo também tinha
sido arranjada.
- Querida - perguntou ele - como é que todas estas coisas
foram arranjadas?
E ela respondeu:
- Bem, quando tu saíste, eu
sentei-me lá fora e estava a chorar. Então, apareceu um jovem muito simpático,
que me perguntou o que é que me tinha acontecido e eu contei-lhe. Ele
ofereceu-se para arranjar tudo, e eu só tinha que escolher entre ir para a cama
com ele ou fazer-lhe um bolo.
O marido disse:
- Então, que tipo de
bolo é que lhe fizeste, meu amor?
Ao que ela respondeu:
-
Helloooooooo! Tu estás a ver 'DANCAKE' escrito na minha
testa?
Moral da
história:
Abre espaço à concorrência
Contos que qualquer criança entende
No
Reino da Rosa havia um Rei garboso. Tinha sido coroado com a aclamação do povo
do reino após o anterior Rei ter perdido uma boa parte da floresta para os
reinos rivais numa grande batalha de má memória, tendo por isso abdicado e
partido para o exílio em terras distantes.
O
novo Rei não perdeu tempo na reconstrução do reino e preparação das próximas
batalhas com ajuda do seu povo e dos seus bravos cavaleiros. Todos sabiam que um
reino sem floresta não sobrevive muito tempo, e para além disso a floresta
estava a ser destruída pelos reinos vizinhos, para angústia do povo que nela
vivia e que dela dependia.
Como
Rei prudente que era, a primeira coisa que fez foi reforçar o seu castelo.
Aumentou as muralhas, reforçou as portas e cavou um fosso profundo. Ninguém,
pensou o Rei, ali entraria sem a sua expressa autorização.
Para
animar as suas hostes, nunca falava das anteriores batalhas nem dos feitos do
anterior Rei, caído em desgraça e zombado pelos inimigos do reino. A história,
pensou, não era boa conselheira, e em breve os seus feitos a fariam esquecer.
Alguns cavaleiros não gostaram muito, é certo, sobretudo os que tinham travado
essas batalhas, e alguns até protestaram, mas quando chegasse a hora todos se
reuniriam em volta do seu Rei.
A primeira batalha foi ganha, apesar de ter
sido sobretudo combatida pelos nobres nos seus ducados e condados, alguns
importantes terem sido perdidos, e os conspiradores da corte (porque todos os
reinos os têm) segredassem entre si que a vitória se devia sobretudo à bravura
dos nobres e à fraqueza do inimigo. No entanto, e como era seu real privilégio,
o Rei apressou-se a recolher os louros e despojos da vitória, e o seu prestígio
por entre o povo do Reino da Rosa, pensou, aumentava.
A
segunda batalha, no entanto, não correu assim tão bem. Enquanto os seus inimigos
recuavam em toda a linha na floresta, o garboso Rei apenas conseguiu conquistar
uma pequena parte do que tinha sido abandonado, deixando o resto nos braços de
salteadores, pequenos reinos atrevidos que surgiam aqui e acolá, ou pior ainda,
deixando a floresta ao abandono, numa imensa terra de ninguém.
O
que não o impediu, no entanto, de proclamar aos sete ventos a sua grande
vitória, e de como os inimigos tinham fugido apavorados à mera menção do seu
nome. Ao ouvir isto, o povo já de si algo desalentado por tão magra vitória
agitava-se e murmurava, cada vez mais alto, que talvez este Rei não fosse tão
bravo como se supunha.
Foi
então que do meio dos clamores surgiu o Cavaleiro Branco, que se dirigiu ao povo
do Reino dizendo: vejam os magros proveitos da nossa batalha, sabem
a pouco. Vejam tanta floresta abandonada e por conquistar, a que temos agora
sabe a pouco. Esta vitória que o nosso Rei proclama, sabei-lo bem minha boa
gente, sabe a pouco, e os nossos inimigos preparam-se para o grande
confronto que se avizinha. Pois se el-Rei não é capaz de a travar, serei eu Rei
em seu lugar. Quem está comigo?
Ao ouvir estas
palavras, o garboso Rei empalideceu. Como se atrevia o Cavaleiro Branco a
desafiar a sua autoridade, a pôr em dúvida os seus feitos, a menorizar assim a
sua bravura que sabia por todo o povo reconhecida? Foi então que se encerrou no
seu castelo, de altas muralhas, fortes portas e fosso profundo, e lhe
disse: falas bem Cavaleiro Branco, mas aqui não entrarás
tu enquanto eu não quiser, ou não convenceres os guardas a abrirem a
porta.
E
assim ficou o garboso Rei, no alto das muralhas do seu castelo, a observar o
Cavaleiro Branco lá em baixo, no meio do povo, desafiando-o. Em breve, pensou,
se fartará e se irá embora. Basta para isso ficar na segurança do castelo e
esperar. E todo o reino terá a prova que ele, o legítimo Rei, é realmente o mais
bravo. E se reunirão sob sua liderança para a grande batalha da próxima
Primavera.
Porque
o futuro, como qualquer criança sabe, aos bravos e destemidos reis
pertence.
Quando a morte do avô o libertara, ia pelos 30 anos |
OS VELHOS
MARINHEIROS
(Jorge Amado)
Episódio Nº 94
Saiu arrenegando o competente
profissional: por que diabo foram arranjar, para substituir o comandante morto,
logo um velho marinheiro de longo curso, um finório conhecedor de toda a
malandragem? Encolheu os ombros, conformado. Faria a praça do Recife, existiam
uns usineiros cheios de açúcar e doidos por poker
Lamentava apenas o sofá de porcelana com
os namorados, tão bonito, desejava levá-lo de presente a Daniela, sua esposa.
Porque era bem casado, tinha quatro filhos, dois meninos, duas meninas, umas
gracinhas todos, adorava a família, não existia melhor esposo e pai.
O comandante suspirou, tomou da peça de
biscuit, saiu para o vento da noite.
Do comandante imerso em
profundo devaneio e do que lhe foi dado ver na sombra do barco de salvamento
Estava o comandante imerso em profundo
devaneio, naquela alta madrugada, na coberta do navio. Pousara com cuidado a
peça de biscuit a seu lado, de quando em vez arrancava os olhos das estrelas
como um infinito pasto a alimentar os sonhos, e volvia-os para o casal de
namorados sentado no sofá de porcelana.
Sua vida fora inteira de solidão, uma
longa espera. Nos mares, como nesse instante, a pitar seu cachimbo, sozinho
entre os ventos e as luzes do fogo-fátuo, de porto em porto, a trocar de navios
e mulheres.
Seu lar, estreito beliche. Nenhum dia era o
dia da escala definitiva em cais com família a esperá-lo, a esposa macerada de
saudades, os filhos curiosos dos presentes trazidos de terras exóticas e
longínquas.
Em nenhum porto tivera jamais casa
montada, pousava a cabeça fatigada em travesseiros pagos de prostíbulos,
repousava seu coração ardente no seio de mulheres desconhecidas, era só no
mundo, só com seu navio. Só com suas viagens.
E pode um homem viver assim, para sempre
sozinho? A casa dos Barris não fora jamais um lar, desde a morte do pai e da
mãe, figuras esfumaçadas na memória. Crescera no escritório e no depósito,
entre fardos e títulos de cobrança, entre o xarque e as cartas aos fregueses.
Os namoros de todos os adolescentes, o
olhar a medo, o sorriso tímido, o adeus atirado de longe, o fugaz aperto de
mão, o beijo roubado no escuro de uma porta, nada disso tivera, nem no
escritório, nem no mar onde o grumete olhava de longe as orgulhosas e belas
passageiras.
Quando a morte do avô o libertara, ia
pelos trinta anos, perdera o tempo romântico dos suspiros, dos doces
sofrimentos, das moças em flor.
Sozinho mesmo com os amigos, e quando pôde realmente
ser um deles, foram-se um a um, como partiram as mulheres que se sucediam no
leito dos Barris.
Algumas demoravam mais, Dorothy
deixara-lhe o nome e o coração no braço, eram, porém, como passageiras de uma
viagem em transatlântico a seguir adiante, na esteira sem fim das águas.
sexta-feira, maio 30, 2014
ALFREDO MARCENEIRO - A CASA DA MARIQUINHAS
"Alfredo Marceneiro não é o melhor do fado, ele é o próprio fado".
O ti Alfredo era único na sua interpretação. É pena não lhe poderem levar a notícia da elevação do fado a Património Imaterial da Humanidade?...
SÃO AS CRIANÇAS
No infantário, a professora pergunta:
- Qual a parte do corpo que chega primeiro ao céu?
Uma menina levanta o braço:
-As mãos, professora !
-E porquê?
-Porque quando rezamos elevamos as mãos ao céu.
Nisto, o TOMÉ retrucou:
- Não, nada disso, são os pés!
- Ah, sim, TOMÉ , e porquê? - Pergunta a professora ...
- Bem, esta noite, fui ao quarto dos meus pais, a minha mãe tinha os pés no ar, e estava a gritar:
- Meu Deus, meu Deus, estou indo ao céu.. estou indo ao céu...
E ainda bem que o meu pai estava em cima dela segurando-a, senão, lá ia ela.
Seguro inseguro
(Do Blog Jumento)
A posição de Seguro de tentar a todo o custo
impedir a realização de um congresso do PS nada tem que ver com princípios ou
estatutos, se Seguro estivesse convencido de uma vitória ou se fosse o político
corajoso que não é teria sido o primeiro a assumir o confronto com António
Costa.
Mas Seguro sabe que já perdeu o país e muitos
dos eleitores tradicionais do PS preferiram votar no Marinho Pinto a votar num
Rangel do PS apoiado por um sucedâneo de Pedro Passos Coelho. Seguro sabe que
perdeu o país e mais tarde ou mais cedo perderá o PS pondo fim à sua ambição de
chegar ao poder, já que é óbvio que aqui lo
a que neste momento pode ambicionar é substituir Paulo portas no estatuto de
vice-primeiro-ministro.
Seguro pode adiar uma vitória de António Costa
mas não conseguirá adiar o seu fim político, tudo o que neste momento o país
não precisa é de políticos cobardes que se escondem atrás de estatutos para
tentarem sobreviver no poder a qualquer custo. Seguro é cada vez mais o género
de político que os portugueses detestam, de nada lhe tendo servido o tempo que
anda por aí armado no político honesto.
Nota
Não vai ser fácil a caminhada de António Costa mas Seguro se não for agora substituído sê-lo-á quando perder as próximas eleições legislativas ...ainda para mais agora com um PS dividido.
Vamos ver, como diz o cego... A margem de manobra é tão pequena, o poder está tão fora do país que eu não invejo quem queira ser governo nos próximos tempos.
Por isso parabéns à coragem de António Costa. É o melhor com provas dadas, tem o meu voto.
Provavelmente Deus não existe. Pare de se preocupar... |
“Provavelmente,
Deus não Existe”
Lembram-se desta campanha em 2009? Cartazes com esta
frase circularam por toda a cidade de Londres, em Janeiro, segundo a BBC.
A frase completa era:
“Provavelmente, Deus não existe.
Agora pare de se preocupar e goze a vida.”
Esta campanha pelo ateísmo foi promovida pela British Humanist Association e tem o apoio académico de Richard Dawkins, biólogo Darwinista, em quem tão profusamente nos temos baseado para alimentar este blog.
O objectivo da campanha era “promover o
ateísmo na Grã-Bretanha, encorajar mais ateístas a assumirem publicamente a sua
posição e elevar o moral das pessoas a caminho do trabalho”.
“Vemos tantas campanhas com cartazes
que divulgam a salvação através de Jesus ou que ameaçam com condenação
eterna…que tenho a certeza que esta será encarada como um sopro de ar fresco”,
disse Hanne Stinson, presidente da BHA, “Se fizer as pessoas sorrirem, além de
pensarem melhor”.
A BHA também estuda a possibilidade
de estender esta campanha a outras cidades, incluindo Birmingham e Manchester
em Inglaterra e Edimburgo, na Escócia.
A campanha foi um sucesso, mesmo antes de estar na rua o provocador slogan. Os organizadores conseguiram angariar cinco vezes os fundos de que necessitavam para porem em marcha a campanha.
O objectivo inicial era conseguir
7.000 euros para imprimirem os cartazes a serem colocados com o slogan em
trinta autocarros durante um mês do distrito londrino de Westminster, porém, já
foram obtidos mais de 35.000 em donativos particulares e de empresas.
Quem idealizou a campanha foi a
jornalista Ariane Sherine que sugeriu, em Junho, num Blog do The Guardian
“Fazer uma campanha em autocarros com uma mensagem tranqui lizadora
sobre o ateísmo”como “boa forma de contra atacar as mensagens de organizações
religiosas que ameaçam o s cristãos com o inferno”.
“ A nossa mensagem é divertida, mas
tem um fundo sério: nós, ateus queremos um país, uma escola e o governo laico.
O importante apoio que a nossa campanha já recebeu mostra que muitas pessoas
estão de acordo com estas ideias”.
Os líderes religiosos britânicos
responderam favoravelmente a esta iniciativa. A Igreja de Inglaterra declarou
que defenderá o direito de qualquer grupo que represente uma posição religiosa
ou filosófica a promover as suas ideias através dos canais apropriados, embora
salientando que as crenças cristãs nada têm a ver com preocupações ou com o
desfrutar a vida.
A Igreja Metodista Britânica considera,
por seu lado, “positivo o contínuo interesse” que autores como Dawkins dedicam
aos temas relacionados com Deus.
Richard Dawkins formulou o seguinte
comentário:
“A religião está acostumada a
usufruir de benefícios tributários, respeito não merecido, o direito de não ser
ofendida e o direito de fazer lavagem cerebral às crianças”.
“Mesmo nos autocarros, ninguém pensa
duas vezes quando vê um slogan religioso.
Esta campanha fará com que as pessoas
pensem – e pensar é um anátema perante a religião” completou.
Eu pergunto a mim próprio se seria
possível que autocarros com um slogan destes, muito bem concebido, de resto,
poderiam circular nas ruas de Lisboa… e respondo já: Não.
O "fervor religioso" do nosso Estado laico não o permitiria
O "fervor religioso" do nosso Estado laico não o permitiria
Alan Geenspan |
O Âmago
da Crise
Vamos
recordar o que disse Alan Geenspan, a personalidade mais importante das
finanças mundiais, sobre o que esteve no âmago da crise financeira.
O antigo Presidente da Reserva
Federal Americana, Alan Geenspan, que esteve durante 18 anos à frente daquele
poderoso organismo até Janeiro de 2006, e cuja voz era ouvida religiosamente
por todos os que tinham de tomar decisões importantes no mundo das finanças,
veio mais tarde, em declarações prestadas numa Audiência na Câmara dos Representantes,
reconhecer que, afinal, sempre esteve enganado sobre a capacidade dos
responsáveis das entidades bancárias de defenderem os interesses dos
respectivos accionistas e da própria sobrevivência das instituições que
superintendiam, admitindo que errou por ter confiado na auto regulação dos
mercados.
O testemunho deste homem,
profundamente envelhecido, até há pouco o todo poderoso do mundo da finança nos
EUA, foi algo de patético e se esta crise tem um rosto era aquele, certamente.
Acreditou-se num “homem” que, na
realidade, não existe nem nunca existiu e uma sociedade que se estrutura numa
base irrealista está destinada a surpresas muito desagradáveis.
Foi assim nos regimes comunistas com
os resultados conhecidos e está a ser agora quando se deixou “à rédea solta pessoas que foram praticamente livres
para actuarem e decidirem num sector de actividade que era vital para todos
nós.
O “homem” é intrinsecamente egoísta e
desonesto, que é uma das formas de ser egoísta, e portanto não se espere dele aqui lo que não está na sua natureza e por isso, em
sociedade, o homem tem de se defender de si próprio.
Richard Dawkins, no seu livro “O Gene
Egoísta” escreveu:
- “Este livro pretende, acima de tudo,
ser interessante, mas se alguém qui ser
extrair dele uma moral, que seja lido como um aviso.
Saibam que, se desejarem, tal como
eu, construir uma sociedade na qual os indivíduos cooperem generosa e
desinteressadamente para o bem-estar comum, não poderão contar com a ajuda da
natureza biológica.
Tentamos ensinar generosidade e
altruísmo porque nascemos egoístas.
Compreendamos o que pretendem os
nossos próprios genes egoístas, para que possamos ter a oportunidade de
frustrar as suas intenções, uma coisa que nenhuma outra espécie alguma vez
aspirou a fazer.
Os nossos genes podem programar-nos
para sermos egoístas, mas não somos obrigados necessariamente a obedecer-lhes,
simplesmente, ser-nos-á mais difícil aprender o altruísmo do que seria se
estivéssemos geneticamente programados para sermos altruístas.”
Pensem naquelas centenas ou milhares
de pessoas que em todo o mundo tinham a liberdade de tomar decisões, legais ou
de legalidade duvidosa, no desempenho dos seus cargos nas instituições
bancárias onde trabalhavam;
Pensem nos muitos milhões de clientes
de bancos, que lhes confiam os seus depósitos ou que aceitam empréstimos porque
lhos concedem mas admitindo, interiormente, que têm pouca probabilidade de os
pagarem.
Pensem nos muitos outros milhões que
vivem permanentemente endividados porque não aceitam um nível de vida com
despesas dentro dos seus orçamentos apenas porque se julgam com direito a terem
e a usufruírem daqui lo que vêm no
vizinho.
Em todos estes casos temos
manifestações de egoísmo e não estamos, de certo, a pensar nos outros… apenas a
obedecer à nossa natureza egoísta.
É preciso saber isto, a ciência da
biologia e da genética ensina-nos sobre o homem, não apenas para vivermos mais
tempo e com mais saúde, mas também para nos conhecermos melhor naqui lo que é a nossa verdadeira natureza e o Aviso foi
feito por Richard Dawkins.
Parece, no entanto, que nas coisas
importantes da vida só conseguimos aprender à nossa custa, a nível individual,
muitas vezes já tarde de mais, no que respeita à sociedade, parece que
aprendemos no momento mas, normalmente, mais tarde voltamos ao erro.
Não está ao nosso alcance corrigir a
nossa própria natureza que é o resultado de um processo evolutivo de muitos
milhões de anos, mas somos dotados de inteligência e conhecimentos que nos
permitem defender do risco que representamos para nós próprios.
Nós,
portugueses, temos casos graves de bancos fraudulentos e muita gente enganada
porque, ela própria, também se julgava com direito a ganhar mais dinheiro que
os outros e isso aconteceu também com a Dª Branca e vai acontecendo todos os
dias por esse país fora.
José
Oliveira e Costa, do BPN, ouvido por uma Comissão de Deputados no Parlamento,
reconhecia pacificamente que ganhar dinheiro tornou-se numa volúpia que se apossara dele e à qual não conseguiu resistir.
A
lição não foi tirada completamente porque os dispositivos de fiscalização,
controle e regulação bancários, não são completamente eficazes.
O Director do Banco de Portugal, à altura, Victor Constâncio, reconheceu ingenuamente que nunca desconfiara dele até por ter sido anteriormente um alto funcionário do próprio Banco de Portugal.
Mas, Comandante, o que é isso? |
OS VELHOS
MARINHEIROS
Episódio Nº 93
- Dança bem, Comandante. Eu é que
agradeço. Foi para junto de Clotilde, ao piano. Ela comentou:
- Pra isso é que me pediu para tocar,
não foi?
Não houve mais passeio naquela noite.
Quando, finalmente, os jovens deixaram-na levantar-se e partir, já era quase
meia-noite e Clotilde preocupava-se com o pequi nês,
sozinho na cabine.
Combinaram visitar juntos Recife, no dia
seguinte. Ela ainda estava um pouco arrufada e tachou a mameluca de
“desavergonhada”.
Vasco foi à sala de jogo. Rapazes jogavam
king, três mesas de poker estavam funcionando. Numa delas, brilhava o tal
capitalista em viagem de prazer, numa cadeira a peça de biscuit. Os outros
parceiros eram comerciantes e fazendeiros. Perdiam os três. Vasco puxou uma
cadeira, sentou-se ao lado do afortunado jogador:
- Dão-me licença?
- Ora, Comandante, por favor ... -
respondeu um dos fazendeiros.
- Conhece o jogo, Comandante? -
perguntou o rapaz de sorte.
- Não sei jogar, não entendo. Mas gosto
de ver... Quem está ganhando?
- Não está vendo? - falou outro
perdedor. - O Dr. Stênio. Nunca vi tanta sorte. Está de ganhador aberto.
O citado Dr. Stênio riu satisfeito, da
pilhéria talvez, talvez da notícia sobre a ignorância do comandante em matéria
de poker. Demorou-se Vasco, ali sentado, fazendo, de quando em vez, uma pergunta
idiota a propósito do valor dos jogos e das apostas. Acompanhava Stênio a dar
cartas, interessado.
- O senhor desembarca em que porto, Dr.
Stênio?
- Em Belém. Ficarei
alguns dias por lá, talvez siga até Manaus num vaticano. Devo voltar no
Almirante Jaceguay, do Lloyd. - E replicava a aposta de um fazendeiro: - Seus
32 mais 64.
Por volta de uma hora e meia da
madrugada, um dos parceiros, cujas perdas subiam a vários contos de réis,
propôs a roda-de-fogo. Vasco assistiu à prestação de contas, às despedidas.
Um dos fazendeiros ficaria em Recife,
lamentou não continuar a viagem para recuperar o prejuízo. O Dr. Stênio
embolsava os lucros, ia pegar a peça de biscuit, preparava-se para recolher-se
à cabine.
O comandante, no entanto, deixando
partir os outros parceiros, disse-lhe:
- Ainda é cedo, vamos conversar um
pouco, Doutor .. .
- Estou morrendo de sono, Comandante.
Fica para amanhã.
- Hoje mesmo e agora. Ouça, seu
batoteiro vagabundo, você não vai a Belém, interrompe sua viagem em Recife...
- Mas, Comandante, o que é isso?
- É o que eu lhe digo. Nasci jogando
poker, meu caro. Andei quarenta anos embarcado, vinte comandando navios na
Ásia, conheço toda a corporação dos profissionais de bordo... Desembarque
calado se não qui ser ir para o
xadrez...
- Mas paguei minha passagem ...
- Capital bem empregado, já rendeu juros
demais. Então?
- Se o senhor manda... - não discutia, aqui lo fazia parte das regras do jogo de sua vida,
esperaria outro barco para subir até Belém.
Levantava-se Vasco, tomava a peça de
porcelana, retirava-se:
- Boa noite...
- Mas, Comandante, me desculpe, esse
negócio aí, que o senhor vai levando, é meu ...
- Seu? O quê?
- Esse troço bonito .. . Ganhei na
víspora e na pura sorte. Sem batota...
- Sem batota? Pode ser... Mas, isso dá uma
urucubaca danada no poker. Aliás, você já teve a prova... É melhor deixar
comigo.
quinta-feira, maio 29, 2014
tornei Invisível...
Já não sei em que
data estamos, lá em casa não há calendários e na minha memória as datas estão
todas misturadas.
Recordo-me daquelas folhinhas grandes, um primor, ilustradas com imagens dos
Santos que colocávamos ao lado do penteador.
Já não há nada disso. Todas as coisas antigas foram desaparecendo e, sem que
dessem conta, eu fui-me apagando também.
Primeiro, trocaram-me de quarto pois a família cresceu, depois passaram-me para
outro, ainda na companhia das minhas bisnetas e agora ocupo um pequeno espaço
numa despensa que está no pátio atrás da casa.
Prometeram-me trocar o vidro quebrado da janela, mas esqueceram-se, e de noite
corre por ali um ar frio que aumenta as minhas dores reumáticas.
Mas, tudo bem…
Desde há muito tempo que tinha intenção de escrever porém, passei semanas a
procurar um lápis e quando o encontrava, de novo me esquecia onde o tinha
posto… na minha idade as coisas perdem-se facilmente.
Claro que não é uma enfermidade delas, das coisas, porque julgo estar segura de
tê-las, mas sempre desaparecem.
Há dias dei-me conta que a minha voz também tinha desaparecido porque quando
falo com os meus netos ou os meus filhos não me respondem.
Todos falam sem me olharem, como se não estivesse com eles, escutando atenta
tudo o que me dizem.
Ás vezes intervenho na conversação, segura de que o que tenho para lhes dizer
não ocorreu a nenhum deles e que lhes vai ser de grande utilidade.
Porém, não me ouvem, não me olham, não me respondem e então, cheia de tristeza,
retiro-me para o meu quarto e vou beber a minha chávena de café.
E faço assim de propósito, para que compreendam que estou aborrecida, para que
se dêem conta que me entristecem, me venham buscar e me peçam perdão…mas
ninguém vem.
Quando o meu genro ficou doente, pensei que teria oportunidade de lhe ser útil
e levei-lhe um chá especial que eu mesma preparei.
Coloquei-o na mesinha de cabeceira e sentei-me esperando que o tomasse, só que
ele estava a ver televisão e nem um só movimento me indicou que se dera conta
da minha presença.
O chá, pouco a pouco, foi esfriando e com ele o meu coração.
Então, no outro dia, disse-lhes que quando eu morresse todos se iriam
arrepender e o meu neto mais pequeno respondeu: “Ainda estás viva avó” e
acharam tanta graça que não pararam de rir.
Estive três dias a chorar no meu quarto, até que numa manhã entrou um dos
rapazes para tirar umas rodas e nem o bom dia me deu.
Foi então quando me convenci de que sou invisível…
Parei no meio da sala para ver se tornando-me num estorvo me olhavam, porém a
minha filha continuou a varrer sem me tocar e os meninos correram à minha
volta, de um lado para o outro, sem tropeçarem em mim.
Um dia, os meninos agitaram-se e vieram dizer-me dizer que no fim-de-semana
iríamos todos passar um dia ao campo.
No sábado fui a primeira a levantar-me. Quis arrumar as coisas com calma porque
nós, os velhos, levamos muito tempo a fazer as coisas e assim adiantei o meu
tempo para não os atrasar.
Rápidos, entravam e saíam da casa a correr levando os sacos e brinquedos para o
carro.
Eu já estava pronta e muito alegre e permaneci no meu quarto à espera que me
chamassem mas, quando dei conta, já tinham partido e o carro desapareceu
envolto em algazarra.
Compreendi que não estava convidada, talvez porque não coubesse no carro, ou
porque os meus passos, de tão lentos, impediriam que caminhassem a seu gosto
pelo bosque.
Senti, claro, como o meu coração se encolheu e a minha face ficou tremendo como
quando a gente tem que engolir a vontade de chorar.
Eu entendo-os, eles vivem no mundo deles, riem, gritam, sonham, choram,
abraçam-se, beijam-se…eu nem sinto mais o gosto de um beijo.
Antes beijava os pequeninos, era um prazer enorme tê-los nos meus braços como
se fossem meus.
Sentia a sua pele tenrinha e a sua respiração doce bem perto de mim.
A vida nova produzia-me alento e até me dava vontade de cantar canções que já
não acreditava lembrar-me delas.
Mas um dia, a minha neta Laura, que acabava de ter um bebé disse-me que não era
bom que os velhos beijassem os bebés, por questões de saúde…
Desde então já não me aproximo deles, não quero passar-lhes algum mal por
imprudência minha.
Tenho tanto medo de contagiá-los!
Eu os bendigo a todos e lhes perdoo porque:
“ Que culpa tenho eu de me ter tornado invisível?”
(Hamilton Slide)
A
Velhice
A velhice não tem que ser,
necessariamente, só por ser velhice, algo de dramático mas é verdade que ela,
tal como a infância, constitui um período frágil da nossa vida. Percebo isso por mim que já fiz 75 anos.
Na primeira, porque tudo está ainda
em formação, na última porque tudo aqui lo
que se formou está a chegar ao fim, não que se tenha perdido ou que tenha sido
inútil, ou ainda que não tenha tido proveito para muitos outros mas, de
qualquer forma, está a chegar ao fim.
Há que ter consciência de que o facto
de termos nascido constituiu um acontecimento raro e extraordinário, uma
oportunidade única e irrepetível de que não nos apercebemos mas acontecendo, abriu um ciclo e a velhice
aponta, irremediavelmente, para a sua conclusão.
De todos os seres que já viveram na
Terra fomos os únicos privilegiados a terem a consciência de si próprios e da
sua própria existência. Só a nós nos foi facultado o acesso a
esse mundo complexo mas maravilhoso dos sentimentos através dos quais
conhecemos o amor, o ódio, a paixão, o ciúme, a amizade, o companheirismo e
talvez, alguns de nós, tenham sentido, em algum momento, a felicidade
Viemos do anonimato onde estivemos
até nascer e a ele vamos ter que regressar, sem dramas, agradecidos que
devíamos estar pela oportunidade da vida que aconteceu connosco.
Com a velhice diminuem as nossas
faculdades físicas e intelectuais como se tratasse de um alijar de carga por
desnecessária para a viagem, ou melhor, para o fim da viagem.
Nada se encerra com alegria e daí a
nossa fragilidade na fase final do ciclo da nossa vida, compreende-se…
…o que não se compreende é que os
nossos “companheiros” que começaram a viagem mais tarde, de inebriados e
entusiasmados com a sua própria existência, se permitam ignorar os velhos,
“matá-los” em vida, como se a velhice fosse um monopólio exclusivo dos velhos…e
todos os outros, ainda jovens, caso não morram antes, não venham de certeza a serem velhos também.
A qualidade da relação que se
estabelece com eles, quer dentro da família, quer com a sociedade, é um dos
factores importantes que define o avanço civilizacional e, neste aspecto, parece que recuámos.
As grandes famílias rurais com fortes laços entre todos os seu membros e de um enorme respeito e protecção aos velhos desfez-se.O urbanisno tinha outras atracções. Tinha empregos, locais de divertimento para todos os gostos mas as casas eram pequeninas, davam apenas para casais e em crises de desemprego como agora, não só faltava
a terra que sempre ia suprindo algumas dificuldades, como agora, também está cada um foi para seu lado.
Infelizmente, pelo menos entre nós,
as famílias parecem ter especiais dificuldades em enquadrar no seu seio os
velhos que hoje se amontoam em lares com melhores ou piores condições mas afastados dos seus familiares, quando mesmo não esquecidos na cama de um hospital.
Depois, temos igualmente, o fosso que
se estabeleceu entre as últimas gerações, as dificuldades de compreensão entre
os velhos e os jovens de hoje agravada pela crise da autoridade e a perda de
respeito pelos mais velhos.
As novas tecnologias que nasceram e
se expandiram com os jovens de agora deram lugar a uma nova linguagem que os
velhos têm dificuldade de entender e, em geral, já não se sentem com forças
para aprenderem. Ora se são os novos que ensinam os velhos e não o contrário como podem eles ter respeito e consideração pelos mais velhos?
A indiferença e o ostracismo para com
os velhos é um dado cultural relativamente recente e traduz-se, não só numa
enorme falta de sensibilidade como, igualmente, numa tremenda injustiça que
remete para a consciência de cada um de nós.
Este texto da velhinha que desabafa
relativamente às injustiças de que é vítima por parte de todas as pessoas da
sua própria família, é bem revelador de que a velhice pode ser, em demasiadas
situações, um autêntico drama.
…”Senti, claro, como o meu coração se encolheu e a minha face
ficou tremendo como quando a gente tem que engolir a vontade de chorar”…