sábado, junho 19, 2010

VÍDEO

O SOLE MIO...

CANÇÕES ITALIANAS
BOBBY SOLO - SÃO FRANCISCO
Bobby Solo recorda S. Francisco em 1967 ...

CANÇÕES ANGLO-SAXÓNICAS

PENNY -McLEAN - LADY BUMP
esta Lady Bump é um "estouro"... fabulosos anos 70... a Penny nasceu em 1948 e foi vocalista do Grupo Silver Convention de 1975 /78

CANÇÕES BRASILEIRAS

A COR DO SOM - SEMENTE DE AMOR
A banda "A Côr do Som"
foi ícone da rapaziada da zona sul carioca no início dos anos 80. As imagens são muito bonitas a condizerem com a música.

CANÇÕES FRANCESAS

NANA MOUSKOURY - ASPRI MERA & QUELQUES CENTIMES
Nana Mouskouri não é francesa, é grega, cantora e política, hoje com 75 anos. Gravou em muitas línguas e, claro, em francês... mas também em português. A sua voz é celestial... mas ela tem um truque... nasceu com uma corda vocal mais grossa que a outra e, por isso, a sua voz é única... tanto a cantar como a falar.


CANÇÕES PORTUGUESAS

DULCE PONTES - FADO PORTUGUÊS
depois da Amália, esta é a nossa voz de referência... e este é o "nosso fado"... o fado português... que mais uma vez está a ser posto à prova... sem nunca ter deixado de o estar


DONA
FLOR
E SEUS
DOIS
MARIDOS

EPISÓDIO Nº 150



- Você foi rude demais… Foi grosseira… - Disse-lhe dona Norma, sincera. Enaide está zangada e com razão…

Na manhã de domingo, de sol e preguiça, a seguir à tumultuosa e festiva noite de sábado e de aniversário de seu Zé Sampaio, as amigas cercavam dona Flor, ainda a ressumar uns restos de irritação.

- Não tolero ousadias…

- Ele estava apenas brincando… você tomou a mal… - dona Amélia não vira maldade em doutor Aluísio.

- Brincadeira de mau gosto…

Enérgica, dona Norma reflectia o pensamento das amigas:

- Flor, desculpe que eu lhe diga, mas você está uma não-me-toques. Por qualquer coisa se zanga, se magoa… Você nunca foi assim enganjenta… Eu não estava presente, mas mesmo que ele tenha exagerado um pouco, você não precisava se exaltar…

Dona Gisa desenvolvia toda uma tese científica para explicar a figura e as atitudes do notário de Pilão Arcado:

- Seu Aluísio é um tipo de homem do sertão, patriarcal, acostumado a tratar as mulheres como sua propriedade, uma coisa, um animal, uma vaca…

- Isso mesmo… - aproveitava dona Flor – Uma vaca… Para ele todas as mulheres não passam disso… E ele é um cavalo…

- Você, Flor, não está me entendendo e tampouco entendeu seu Aluísio. É preciso observá-lo em função do meio em que vive. Meio agro-pecuário… Quanto a ele, é um senhor feudal…

Um descarado é o que ele é… De mão maneira… vai segurando a da gente e fazendo cócega…

- Norma tem razão, Flor, você está uma sensitiva. Doutor Aluísio só fez pegar em sua mão… - opinou dona Jacy.

- Para ler a sorte… - dona Maria do Carmo constatava: - Por que é que todo o sujeito malandro vem com essa história de ler a mão?

Seu Aluísio ou doutor Aluísio? Dona Maria do Carmo, sem o querer, punha em debate um sério problema d tratamento e protocolo. Na região do São Francisco, de Juazeiro a Januária, de Lapa a Remanso e Sento Sé – zona onde exercera advocacia, rábula provisionado, orador de júri dos mais retóricos – era doutor para todos os efeitos. Na capital, no entanto, sem o curso universitário, subtraíam-lhe o curso indevido. No desejo de manter este relato equidistante da cidade e do sertão, aqui serão usados indiferentemente os dois tratamentos, atendendo-se assim aos formalistas rígidos e aos nonchalantes liberais. Quanto às amigas reunidas na sala de dona Flor, não se interessam pelo problema:

- Doutor ou não, é uma patativa, sabe falar, tem mel na língua… um finório… - resumia dona Êmina, até então calada.

Comentavam os acontecimentos, quase um pequeno escândalo, da noite de aniversário de seu Sampaio. Sendo o comerciante de sapatos avesso a festas e comemorações, restringiu-se dona Norma, a contragosto, a um farto jantar para o qual convidara amigos e vizinhos.

sexta-feira, junho 18, 2010

ENTREVISTAS
FICCIONADAS

COM JESUS CRISTO


Entrevista Nº - 31




Tema – Deus faz milagres?



Raquel – Amigos e amigas das E. Latinas, continuamos em Cafarnaum. Ao nosso lado, Jesus Cristo com quem temos de aclarar muitíssimas coisas. Desculpa que insista mas vamos voltar ao tema dos milagres.

Jesus – Pois voltemos, Raquel.

Raquel – Anteriormente o senhor disse que milagre era compartilhar. Compartilhar a comida, os bens, mudar de vida, mas as pessoas procuram outros prodígios. Lourdes, Fátima e outros santuários, os doentes os procuram em peregrinação pedindo curas e quantas campanhas de milagres e curas não se celebram!

Jesus – Como no meu tempo… iam à piscina de Betesda e ao Templo de Jerusalém e rezavam e pediam a Deus que os curassem…

Raquel – E?

Jesus – E nada.

Raquel – Os nossos ouvintes perguntam-se: Se Deus é bom… que lhe custava curar uma velhinha que lhe reza, acende velas e lhe suplica a cura?

Jesus – Tu o disseste. Deus é bom e como bom teria que curar essa velhinha e a todos os velhos que lhe rezam. Não te parece que Deus seria muito injusto se curasse apenas uma e não curasse todos os outros?

Raquel – Talvez esta velinha o merecesse mais, porque rezava mais, porque tinha mais fé.

Jesus – Não, Raquel. A fé não é uma moeda para comprar milagres. “Senhor dou-te tanta fé a troco de um par de milagres.

Raquel – Então, que os cure a todos…

Jesus – E como ninguém quer ficar doente, nem quer morrer, Deus teria que converter-se em médico, suspender a morte e andar curando por todo o mundo e por todo o tempo.

Raquel – Mas poderia fazer alguma excepção, não sei, um tratamento especial para algumas pessoas…

Jesus – Deus não tem preferências para com ninguém. Recordo quando se desmoronou uma torre em Siloé e matou 18 galileus. Os que se salvaram disseram: “Graças a Deus que nos salvámos… e os que morreram? Eram piores do que os sobreviventes? Não mereciam também viver? Não, Deus não tem preferências.

Raquel – Então porque morreram esses 18 galileus?

Jesus – Porque lhes caiu a torre em cima, porque os pedreiros a construíram mal ou porque o vento demasiado forte a deitou a baixo.

Raquel – Em qualquer dos casos, desastre natural ou erro humano, Deus poderia ter impedido que a torre caísse.

Jesus – Se Deus estivesse a corrigir os erros de todos os pedreiros, a corrigir a direcção dos ventos, a impedir todo o mal que nos acontece, tudo o que fazemos de mal, ele teria que ser médico, mestre de carpinteiros e ocupar-se das chuvas e das colheitas e ser juiz para resolver as contendas… e nós, homens e mulheres, não passaríamos de uns bonecos de barro nas suas mãos. Bonecos sem alma, sem liberdade.

Raquel – Em resumo, o senhor diz-nos que Deus não actua, que não cura ninguém porque então teria que curar todos. É assim?

Jesus – Assim é.

Raquel – A mim e a muitos dos nossos ouvintes uma dúvida nos assalta: para que servem então as orações pedindo saúde, trabalho…

Jesus – Posso pedir-te algo a ti? Aqui em Cafarnaum, antigamente, havia uns peixes saborosíssimos. Quero ver como se fazem agora. Acompanhas-me? Podes convidar-me e continuamos a conversar.

Raquel – Claro, está convidado. Assim faço eu o milagre de compartilhar.

Raquel Perez das Emissoras Latinas em Cafarnaum.




NOTA

O mal do mundo é um problema com que se debate a fé em Deus. E esse tropeço resulta de uma determinada imagem de Deus:

- Se Deus é o criador de tudo, se é todo-poderoso e infinitamente bom, porque permite o sofrimento, as catástrofes, o mal e a morte? Não poderia evitar tudo isso?

O teólogo alemão Eugene Drewerman recorre à parábola na pessoa do Director de um Casino que não tendo interesse em que todos os jogadores ganhassem, tinha curiosidade em saber o que se iria passar.

Imagino-me a um Deus que passa à frente do mundo tal como ele é e, se existe, renunciou a saber qual o destino que o mundo terá. Para as ciências naturais que se guiam por uma relação entre o acaso e a necessidade é uma imagem adequada que nos permite compreender porque na nossa terra coabitam tantas maravilhas e ao mesmo tempo tanto sofrimento.

As duas coisas estão relacionadas de uma forma inseparável e há que assumi-lo. Será assim até final.

Os seres humanos têm que aprender a aceitar um mundo aberto e não determinado porque é precisamente isso que nos faz tremendamente responsáveis pelos nossos actos.

VÍDEOS

Maneira esquisita de se despir...

Maneira perigosa de se despir...

CANÇÕES FRANCESAS

ROCH VOISINE - COMME J'AI TOUJOURS ENVIE D'AI
a canção é de Marc Hamilton aqui muito bem interpretada por R. Voisine. Foi um mega sucesso em 1970.

CANÇÕES ITALIANAS

ADRIANO CALENTANO - NON ESISTE L'AMOR (1960)
quando alguém diz que "non esiste l'amor" refer-se a um amor não retribuido... prova de que ele existe mas nem sempre esta lá...

CANÇÕES BRASILEIRAS

RITA LEE - CHEGA MAIS
...no Globo de Ouro, de 1979

CANÇÕES PORTUGUESAS

JOSÉ CID - VEM VIVER A VIDA AMOR
uma linda canção do José Cid a quem os admiradores chamam do "Elton John" português

CANÇÕES ANGLO-SAXÓNICAS

SANTA ESMERALDA - HOUSE OF THE RISING SUN
as guitarras são lindas de ouvir mas toda a versão desta bela canção é muito boa


DONA
FLOR
E SEUS
DOIS
MARIDOS


Episódio Nº 149



Nenhum resultado, seu doutor Teodoro. Dormiu de uma estirada a noite inteira, é bem verdade, só acordando quando a ama em susto lhe bateu à porta, na hora quase de começar a aula do turno matutino. Um longo sono, sim, mas igual aos outros, a mesma obsessão, o sensual delírio, a nocturna febre, a orgia desmedida; pior do que os outros, pois não conseguiu interrompê-lo e acordar, nele se crucificando a noite inteira, nesse sonhar sem fim, seu ventre em fome e sede, ferida dolorosa, chaga exposta – pela manhã, dona Flor caindo aos bocados de cansaço. Com pílulas ou sem pílulas, o sono lhe acendia as fogueiras do desejo. Obsedada, obcecada.

Obcecada, dona Flor a debater-se em danação. Durante o dia, com o tempo cheio, era cega e surda ao apelo do sexo solto na cidade: aos ditos, aos olhares pesados de convite, às frases de galanteria ou de indecência, ao cúpido desejo do macho a despi-la com o olhar e a comê-la num suspiro no cruzar da rua. Viúva honesta, exemplo das viúvas, em seu trabalho, em seu passeio, em seu recato. Durante a noite recolhia pelo chão e pelo lixo a voz dos homens, o olhar de posse, o suspiro cínico, o indecoroso ciciar, o assobio de chacota, o torpe palavrão, o convite para a cama. Quando não era ela a convidar, a se oferecer despudorada aos machos, vagando na zona das mulheres-damas, a mais dama e puta, a mais barata e fácil. Sujo poço de excrementos. Nenhum macho, porém, a alcançou e a teve. Quando em vias de obtê-la, já na fímbria de seu ventre em brasa, então o repelia dona Flor, de súbito acordando em ânsia e desespero. Viúva decente e recatada em sua noite de angústia e solitude.

Ninguém se dava conta de sua consumição maldita. Todos julgavam calma a sua vida, sem problemas, cheia de interesse, mesmo alegre. Antes muito sofrera do marido, um mau sujeito, um jogador. Agora uma viúva conforme em seu estado, contente em sua vida, com a maior indiferença por novo matrimónio, com o maior desprezo pelos homens. Tão tranquila a ponto de causar admiração e comentário. Quando despontava no Cabeça, altiva e séria, no bar os homens discutiam a seu respeito:

- Viúva direita aquela ali. Sendo bonita e moça, nunca levantou a vista para homem…

- Honesta até demais. Talvez nem seja por virtude…

- Então por quê?

- Honesta por natureza, por ser de natureza fria. Fria como o gelo, imune ao desejo. Há mulheres assim, belas estátuas, para elas o desejo não existe. Não há virtude em sua castidade e, sim, frieza. São icebergs. Ela é uma dessas, certamente.

- Será ou não, quem sabe? De qualquer maneira, por virtude ou pelo que seja, é a viúva mais direita da cidade…

O outro persistia, céptico e declamatório, subliterato atroz:

- Fria como iceberg, pode ter certeza. Marmórea, álgida, glacial.

Dona Flor em prudente passo, vestida com elegância e descrição, simples e modesta formosura, sem desviar os olhos para os lados, correspondendo ao alegre aceno do santeiro Alfredo, ao sonoro boa-tarde de Mendez, o espanhol, ao respeitoso saudar do farmacêutico, ao riso acolhedor da negra Vitorina com seu tabuleiro de abarás e acarajás. Custava-lhe esforço aquela decência tranquila, aquela face calma – nervosa, no cansaço da noite mal dormida, da luta inglória contra o
desejo
em brasa de seu ventre. Por fora agua parada, por dentro uma fogueira acesa.

quinta-feira, junho 17, 2010

CANÇÕES ANGLO-SAXÓNICAS

POP TOPS - MAMY BLUE
sem dúvidas... a melhor versão do "mamy blue"... nº 1 de vendas em Espanha no Ano de 1971

CANÇÕES ITALIANAS

CARMELO PAGANO - L'AMORE SE NE VA (1966)
belíssima canção...
... o amor se vai, quantos sonhos levará consigo!
... mas pergunto se tu estás sofrendo como eu...

MÚSICA FRANCESA

MARC LAVOINE E CLAIRE KEIM - JE NE VEUX QU'ELLE
uma música para todos os amantes...

CANÇÕES BRASILEIRAS

IVETE SALGADO - CHORANDO SE FOI
para dançar não deve haver melhor que esta música e a Ivete está fantástica...

CANÇÕES PORTUGUESAS

FERNANDO TORDO- A TOURADA (1973)
parece uma canção sobre as touradas... mas a "tourada" era outra! O extrordinário poeta que foi o Ary dos Santos sabia dar a volta à Censura. A crítica social "vendida" desta forma inteligente não seria para todos... e o Fernando, com aquele "ar" de menino da mamã, muito arranjadinho, também não parecia um perigoso revolucionário...


DONA
FLOR

E SEUS

DOIS

MARIDOS



EPISÓDIO nº 148




Por vezes, de tão cansada do dia fatigante, adormecia no cinema, cochilava na conversa com as amigas, morta de sono. Bastava-lhe, porém pôr a camisola e estender-se no leito para perder toda a vontade de dormir: ia-se o sono e o seu pensamento vagabundo não se continha nos limites da decência e do quotidiano, detalhes das aulas, uma compra, um passeio, a enfermidade de vizinho ou conhecido, a asma de tia Lita, por exemplo a lhe causar tanto vexame. Também a boa velha atravessava noites sem pregar olho, ameaçada de asfixia pela moléstia impiedosa.

Asfixiada dona Flor, roída de desejo. Não lhe obedeciam mais seus pensamentos: voltava-se para os problemas de Marilda, seu empenho em cantar na rádio, os intransponíveis obstáculos – e de súbito via em sua frente o lívido Príncipe a repetir-lhe aquelas frases redondas como versos, palavras de amor no escuro do cinema. Onde Marilda e seu problema, seu defeso canto, sua voz de passarinho?

Soubera dona Flor da fama do galã no meretrício. Dionísia, inocente da ridícula aventura, pensando sua comadre ter sabido do vigarista através do noticiário dos jornais, divertia-se a lhe contar histórias do lânguido Senhor dos Passos. Quando Dionísia labutara de rameira, o capadócio gozava de grande prestígio entre as mundanas. Pela boniteza pálida, pela voz romântica, pelos olhos langorosos, e pela sua notável actuação na cama, um zarro de verdade, um xispeteó daqueles de arrelia, no dizer das apreciadoras. Despertava paixões dramáticas, e por ele, certa feita, duas fulanas se atracaram a tapa e a dente, indo uma para o hospital aberta de navalha, a outra para o xadrês sob a acusação de ferimentos leves.

No sonho, dona Flor era a segunda, bêbada e agressiva, de navalha erguida contra Dionísia, em chalaça grossa: “Venha se é mulher, siá imunda para eu te lascar cara e xibiu”. Mas Dionísia ria num deboche, as marafonas todas riam de dona Flor, viúva e tola. Não lhe disseram ser o belo moço o Príncipe das Viúvas, delas tomando apenas o dinheiro e as jóias? Nem casamento nem descaração na cama. Sabendo isso por que ainda vinha dona Flor em brasa, incontida, incontinente, lhe oferecer desnuda seu pelado corpo? Uma vergonha, onde seu pejo de viúva?

Recorreu a pílulas soporíferas, capazes de lhe garantir o sono a noite inteira. Na Drogaria Científica, na esquina do Cabeça, consultou o farmacêutico, doutor Teodoro Madureira. No dizer de dona Amélia, com geral apoio, sendo apenas farmacêutico, doutor Teodoro podia dar quinau em muito médico; competente em seu ofício, para achaques corriqueiros ninguém melhor, receita sua era tiro e queda, cura garantida.

Insónia, nervosismo, mau dormir? Excesso certamente de afazeres, nada sério, diagnosticou amável o droguista, aconselhando o uso de certas drageias ópticas para combater os efeitos da fadiga; davam descanso ao cérebro, equilíbrio aos nervos, calma ao sono. Podia dona Flor tomá-las sem receio, se não lhe fizessem bem, mal não lhe fariam, não continham entorpecentes nem excitantes como algumas drogas caras e modernas, muito em moda. “Perigosíssimas, minha senhora, tanto quanto a morfina e a cocaína, se não o forem mais”. Uma enciclopédia, o farmacêutico, e atento, um tanto cerimonioso, traçando gentil salamaleque ao despedir-se. Sobretudo
não se esquecesse dona Flor de lhe comunicar o resultado.

quarta-feira, junho 16, 2010

VÍDEO

O mais espetacular no género... vale a pena passá-lo outra vez.


ENTREVISTAS
FICCIONADAS


COM JESUS CRISTO

ENTREVISTA Nº 30

Tema – Curou enfermos?


Raquel – Os nossos microfones estão hoje em Cafarnaum. Nas nossas costas aquela que foi a casa de Simão Pedro, próximo do embocadouro, junto ao lago da Galileia e connosco, mais uma vez, Jesus Cristo, em entrevista exclusiva. Boas vindas, mestre.

Jesus – Para ti também, Raquel. Eu recordo-te que…

Raquel – Sim, já sei, não quer que lhe chame mestre. Desculpe-me, mais uma vez. Enfim, J. Cristo, alguns ouvintes insistem para que te pergunte sobre os milagres realizados pelo senhor.

Jesus – Quais milagres?

Raquel – Se contam bem, os Evangelhos narram até 41 seus, a maioria cura de enfermidades. Minha pergunta é: trata-se de enfermidades físicas incuráveis ou de doenças psicossomáticas?

Jesus – Doenças…?

Raquel – Quero dizer enfermidades da mente, psicológicas… Por exemplo, uma cegueira por histeria… os olhos não estavam danificados mas a pessoa não vê depois de sofrer um trauma… As suas curas foram deste tipo?

Jesus – Não sei. Repara no que se passou um dia. Eu estava falando, precisamente aqui, em casa de Pedro. Havia demasiada gente e uns rapazes, como não podiam chegar até onde eu estava, abriram um buraco no teto, imagina tu.

Raquel – Queriam escutar o senhor, certamente.

Jesus – Não, eles traziam um familiar paralítico… e baixaram-no do teto com a maca e tudo… toda a gente se alvoraçou.

Raquel – E o senhor, que fez?

Jesus – Eu conversei um pouco com o doente, ele me contou as mil desgraças da sua vida e a última de todas que não podia andar.

Jesus – Eu olhei para ele fixamente um bom bocado. E creio que o olhei por dentro. Dei-lhe ânimo e disse: levanta-te e anda.

Raquel – E o paralítico se levantou?

Jesus – Sim, endireitou-se, sentiu que as suas pernas o sustinham… e começou a andar.

Raquel – Um milagre?

Jesus – Não sei.

Raquel – Como não sabe?

Jesus – Que eu não sei se seria um milagre. No meu tempo conheci pessoas, mulheres principalmente, que acalentavam os doentes com as suas palavras, com as suas mãos. Vi-as fazer coisas maiores do que eu fiz naquele dia.

Raquel – Mas houve mais dias. Ao senhor traziam-lhe entrevados, cegos, surdos… que lhes fazia?

Jesus – O mesmo. Olhava-os por dentro, dava-lhes confiança nas suas próprias forças… e muitos curavam-se.

Raquel – O que hoje chamaríamos de terapia de grupo.

Jesus – Na verdade não sei como se chama isso, Raquel… mas curavam-se.

Raquel – O senhor pensava que eram milagres?

Jesus – Eu pensava que eram sinais de amor de Deus para com os mais pobres. Sinais, compreendes? Sinais…

Raquel – Mas não fez nenhum milagre, milagre-milagre.

Jesus – E quais seriam esses milagres- milagres?

Raquel – Não sei…que um morto se levante, a um maneta lhe crescessem braços, que a outro sem pés, lhe nasçam pés.

Jesus – Mas que dizes Raquel? Para Deus nada é impossível. Mas ele não faz coisas raras. Ele não muda as regras no meio do jogo…

Raquel – Espere aqui…

Jesus – Quem são esses que vêm aí?

Raquel – Parecem-me da concorrência. São repórteres de outras emissoras. Uma pausa comercial e em seguida regressamos. Sou Raquel Perez, Emissoras Latinas, Cafarnaum.



NOTA

Dizia Jesus que “a fé move montanhas” mas o que Jesus não sabia é que a fé movia uma substância chamada “endorfinas”, descobertas em 1975, e que funcionam como morfina natural que acalma a dor e faz sentir melhoras. Uma descarga de “endorfinas” pode fazer com que um doente se levante, recobre a vista, se cure. O Dr. Nicanor Arriola, ortopedista muito conhecido em Iquiros, Perú, relata a seguinte experiência:

- "Um dia um ancião, em cadeira de rodas, entrou no meu copnsultório com a sua família. Examinei-lhe os músculos e concluí que não tinha nada, sofria de uma "parelesia histérica". Então, recordando o que fazia Jesus, levantei-me, pus-me diante dele e com uma voz de autoridade e ternura disse-lhe: levanta-te e anda! e o ancião pôs-se de pé e cambaleante, caminhou até mim. A família considerou um milagre."


O nosso corpo é a melhor farmácia que temos, reage às doenças e produz as substâncias curativas que necessitamos. O milagre somos nós próprios que os fazemos.

CANÇÕES ANGLO - SAXÓNICAS

GEORGE HARRISON - MY SWEET LORD
um dos Beatles numa das suas mais lindas canções

CANÇÕES ITALIANAS

CATERINA CASELLI - IL CARNEVALE
uma canção com a "marca" do fim dos anos sessenta ... Caterina Caselli, muito popular nesta década

CANÇÕES FRANCESAS

CHARLES AZNAVOUR - LES DEUX GUITARES
uma das canções mais bonitas de Charles Aznavour em que ele não só a canta como a vive

CANÇÕES BRASILEIRAS

FAGNER - À SOMBRA DE UM VULCÂO
cantor, compositor, instrumentista, actor e produtor brasileiro nascido em 1949 num vídeo excelente

CANÇÕES PORTUGUESAS
CARLOS RAMOS - QUANDO LISBOA CANTA
Nasceu em em 1907 e faleceu em 69. Era um "alfacinha" de gema, nascido no bairro de Alcântara. Era o fadista preferido da minha mãe e muito querido do público português. As imagens são lindos postais ilustrados da minha linda e castiça cidade de Lisboa


DONA
FLOR
E SEUS
DOIS
MARIDOS

EPISÓDIO Nº 147



Amigas e comadres davam razão ao pai, louco e cego ao ver a filha prenha, sua honra comida com champanhe. Todas, menos dona Dinorá, sempre a favor dos ricos. “Essas negrinhas se metem na cama dos patrões para depois fazerem chantagem”. Quanto a dona Flor, só guardava memória dos detalhes escabrosos, só retinha em seu peito e em seu degradado pensamento a visão da meninota nos braços do calhorda, a gemer de gozo, satisfeita. O resto, aquele extenso panorama de horrores, era-lhe no fundo indiferente, por mais que se declarasse com a cólera das comadres.

Foi-se reduzindo assim seu tempo de recato interior. No entanto, quem a visse movimentando-se nas aulas, ao fogão, ou com as amigas de um lado para o outro, em compras, em visitas (jamais indo, porém, a festas defensas a seu estado de viúva) não imaginaria a batalha a travar-se no seu íntimo, a louca bacanal de suas noites, sua consumição. Porque ninguém mais respeitável e honesta, em sua boca jamais se ouviu nome de homem pronunciado com interesse, sequer em referência casual a seus atributos e virtudes. E, se antes zombara de pretensos candidatos, em galhofa com as comadres, agora nem tolerava ouvir seus nomes, morta de verdade por novo matrimónio. Viúva assim tão discreta e recatada, nem naquele bairro nem na cidade toda, e se no mundo houvesse alguma não seria mis composta e honesta; exemplo das viúvas, dona Flor.

Por fora o recato em pessoa. Calma de semblante e retirada, parecendo a própria mansidão; por dentro ardendo de desejo, em “fogo consumida”, como Oxum, seu orixá. Ah!, Dionísia, se soubesses como o fogo de Oxum queima as noites de tua comadre e seu corpo moreno, seu pelado ventre, lhe mandarias dar um banho de folhas ou um marido.

Cada vez mais inquieta, dona Flor, suas noites em sonho ou em solidão. Quando conseguia dormir tranquila uma noite inteira, ah!, era uma bênção de Deus! Quase sempre não durava seu repouso senão um começo de sono sossegado. Logo os sonhos se erguiam e levavam para seu degredo de obscenidades, dona flor rolando no colchão, opresso o peito, doído o ventre. Cada vez menor seu tempo de dormir e descansar, crescendo a cada noite o de sonhar e desejar, o de ranger os dentes. “A matéria predominando sobre o espírito” segundo lhe ensinou a culta propaganda yoga.

Impúdica, devassa, onde nos seus sonhos seu recato de viúva? Nunca fora assim: mesmo casada, na cama com o marido, jamais se entregara fácil, sendo preciso ele cada vez vencer-lhe a pudicícia, romper o decoro de sua casta natureza. Pois agora, nos sonhos, ela saía a se oferecer a uns e a outros; e por vezes nem viúva era, e sim mulher-da-vida a vender-se por dinheiro. Quanta vergonha, ai; já lhe acontecera acordar no meio da noite e pôr-se em pranto sobre as ruínas de seu ser antigo, aquela dona
Flor pudica em volta em seu pejo e seu lençol. Em luxúria envolta agora, na desfaçatez do sonho, voraz e cínica rameira, loba uivante, gata em cio, puta.

terça-feira, junho 15, 2010

IMAGINE MAIS DE 30 ELEMENTOS DA COMPANHIA DE ÓPERA DE FILADÉLFIA, NO MEIO DO POVO, COMO TRANSEUNTES COMUNS E DE REPENTE COMEÇAREM A CANTAR A TRAVIATA: O EFEITO É ESTE...



Não me deprimam, Porra!




Estou farto desta tendência dos nossos políticos para a dramatização, uns dizem que estamos de tanga, outros que temos de fazer sacrifícios, agora vem o Cavaco dizer-nos que a situação está insustentável, nem uma palavra de esperança, nem uma direcção em relação ao futuro, nem o mais pequeno sinal de optimismo. Temos uns políticos idiotas que não encontram outra forma de estimular a confiança do povo nas suas ambições que não seja a depressão, o medo e a frustração colectiva.

Já não me basta viver num país que por causa das suas elites não são grande coisa, desde que me conheço enquanto ser que pensa em política que só ouço políticos a tentarem deprimir-me, começou com as conversas em família e acabou com a situação insustentável de Cavaco Silva, a única excepção foi a embriaguez colectiva do pós-25 de Abril.

Quem ouve os nossos políticos dramatizarem os problemas do país até pode pensar que sofrem muito, que estão sinceramente preocupados com a situação dos portugueses, uma treta! Nenhum deles faz grandes sacrifícios, a situação da família Silva entre pensões, vencimentos presidenciais, almoços pagos no palácio e ajudas de representação é desafogada, o Pedro Passos Coelho gasta mais em cabeleireiro do que muitas famílias portuguesas gastam em comida, um fato de José Sócrates daria para um trabalhador que ganha o salário mínimo ir uns dias de férias pela primeira vez da vida.

Votamos em políticos para que nos dêem esperança, para encontrarem soluções e depois é esta lenga, lenga constante do discurso depressivo. Que o ministro Teixeira dos Santos nos obrigue a pagar com língua de palmo de 2010 em diante a generosidade de 2009 é uma coisa, que todos dias se entretenha a preparar-nos psicologicamente é outra.

Que Cavaco tenha concluído que a única qualidade que os seus os seus adversários não terão são as suas habilitações académicas e conclua que a melhor forma de ganhar as presidenciais é transformar eleições presidenciais democráticas num concurso de avaliação curricular tudo bem, mas que decida atirar todo um povo para o sofá do psicólogo com o discurso da insustentabilidade e outras tretas que ele diz que já tinha alertado há uns tempos é pior.

Como agora se costuma dizer não há cu que aguente tanta lamecha depressiva, tanto político a distribuir falta de esperança, tanta justificação para o falhanço colectivo da nossa classe política.

Se não sabem dar esperança aos portugueses, se só sabem vender austeridade, se estão velhos demais para sustentar o peso das responsabilidades, se mais nada têm para dar aos portugueses então façam-me um favor, reformem-se, mudem de profissão, desamparem a “loja” e dêem lugar a gente que acredita no futuro e que não precisa de salvadores, avisadores ou outros géneros de Chicos espertos.
Mas já basta o que os portugueses sofrem no dia a dia, deixem de nos chatear com discursos idiotas. A poucas semanas de ir de férias venho fazer um apelo aos nossos políticos: Não me deprimam, porra!
Publicada
por Jumento

MÚSICAS ITALIANAS

DOMENICO MODUGNO - IL MAESTRO DI VIOLINO (1961)
... quando o amor começa numa aula de violino... ele, o professor, tinha mais 30 anos do que ela ... mas a aluna não quis prosseguir as aulas... porque também se tinha apaixonado... pois, no amor, a idade não conta...

CANÇÕES FRANCESAS

PIERRE BACHELET - EMMANUEL
este tema, para os jovens dos anos 70, trás recordações nostálgicas... o seu tom melódico é fabuloso... convida a sonhos eróticos, à sexualidade da mulher e ao sexo sem finginmentos nem rodeios.

CANÇÕES ANGLO-SAXÓNICAS

YOLANDA - AMAZING GRACE
se houvesse vozes e músicas do céu... eram estas!

CANÇÕES BRASILEIRAS

ROBERTO CARLOS - NÂO SE ESQUEÇA DE MIM
a voz de R. Carlos não cansa... transmite tranquilidade... e esperança aos namorados.

CANÇÕES PORTUGUESAS

MARIZA - QUE ESTRANHA FORMA DE VIDA
um fado clássico, um dos "best-sellers"... o dedilhar das cordas das guitarras ... e a vida... a vida no lamento e queixas de uma voz.

DONA FLOR

E SEUS DOIS

MARIDOS


EPISÓDIO Nº 146


Perdera “o perfeito equilíbrio entre a mente e o corpo”, necessário a uma vida sadia, no erudito dizer da brochura ioga, “o justo acordo entre o espírito e a matéria”. Matéria e espírito em guerra sem quartel: por fora viúva exemplar em sua honra; por dentro em fogo a arder e a consumir-se.

A princípio apenas de quando em vez e só pela noite, sonho de lascivas imagens a levava para um mundo interdito às virgens e às viúvas, a sacudi-la em seus alicerces de mulher, a lhe despertar instinto e ânsia. Acordava num esforço, punha a mão no peito, a boca seca. Tinha medo de dormir.

Durante o dia, nas tarefas da escola, na leitura de romances, à escuta no rádio, distraindo-se com tanta ocupação, era mais ou menos fácil manter-se à parte de qualquer mau pensamento, abalar os latidos de seu peito. Mas como conter-se e comedir nas noites sem defesa, ao sabor dos sonhos sem controle?

Com o correr do tempo, porém, mesmo durante o dia começou dona Flor a entregar-se a estranhos devaneios, cismarenta e melancólica, em ais de desconsolo. O perigo era ficar a sós, logo invadida por uma corte de lembranças, inclusivé as mais líricas e inocentes a conduzirem ao leito de ferro e fogo, em anseio e oferta. E seu recato de viúva?

Ultimamente dera para imaginar cenas inteiras, misturando pedaços de romances com factos lidos nos jornais ou com as histórias das comadres, com recordações de sua vida de casada. No hálito do Príncipe queimando seu cangote no cinema, entrara-lhe corpo a dentro o sopro do desejo; entrara-lhe pelo sangue e a expunha às penas do impossível pior que as do “dantesco inferno” da literatice yoga.

A partir de certo momento teve de abandonar, por excitante, a leitura dos tolos romances para moças, alimento espiritual da jovem Marilda a suspirar com condessas e duques, no langor tropical da espreguiçadeira. Pois bem: dona Flor descobria malícia nas páginas mais ingénuas e força de sexo naquele barato e baixo sentimentalismo dando outra dimensão aos insonsos relambórios.

Poluía o enredo, a transformar dramalhão e personagens, a virgem das campinas em lúbrica marafona; os adamados mancebos, quase eunucos, cresciam em garanhões brutais. Em vez de colecção Menina e Moça para adolescentes, romances pornográficos, leitura para alcova.

O mesmo se passava com a excitante crónica da cidade, no comentário das comadres, nas páginas das gazetas. Em cadeiras na calçada, compunha-se a roda nocturna das amigas no relato e no debate do último crime apaixonante: a mucama deflorada pelo patrão, ela com quinze anos e onze irmãos; ele com cinquenta e três de idade e cinco filhos, dois doutores e três filhas já casadas, sem falar na esposa e nos vários netos; o pai carpina, de arma em punho para vingar sua honra; três tiros no coração do baluarte da sociedade, do esteio do civismo e da moral, do líder dos conservadores; ferimento de morte e o criminoso preso, metido na enxovia, após uma surra para acalmar-lhe os nervos; honra lavada a sangue e o povo a exigir justiça, liberdade para o vingador.

segunda-feira, junho 14, 2010

Entrevistas

Ficcionadas
com Jesus Cristo

Entrevista Nº29

Tema – Ofensa ou Dívidas

Raquel – Os nossos microfones estão instalados em Tabgha, a colina das sete fontes, junto de Cafarnaum. Foi Jesus Cristo que nos sugeriu este lugar. E por quê esta preferência?

Jesus – Recordações… Muitas vezes vinha aqui, de noite, rezar.

Raquel – Mas sendo o sendo o senhor o mesmíssimo Deus, rezar não seria falar consigo mesmo?

Jesus – Não sei o que dizes Raquel… Como vou falar comigo? Eu falava com Deus, pedia-lhe o pão de cada dia, pedia-lhe forças, dava-lhe graças e rezava-lhe para que interviesse a favor de um reino de justiça.

Raquel – Talvez seja indiscreta mas… podia partilhar com a nossa audiência alguma das suas orações?

Jesus – Por que não? Assim começava a minha oração preferida: abba, yitkadash shemaj, teté maljustaj, lajman delimjar…

Raquel – Desculpe a minha ignorância mas… em que língua me está falando?

Jesus – Em aramaico, a língua que falamos na Galileia.

Raquel – Poderia traduzir a sua oração?

Jesus – Diz assim: papá nosso, santificado seja o teu nome, venha a nós o teu reino, faça-se a tua vontade…

Raquel – Conheço essa oração! O senhor está rezando o Padre-Nosso com uma alteração: ouvi dizer papá…

Jesus – Sim, “,abbá”, papá…

Raquel – um excesso de confiança com Deus?

Jesus – Com Deus nunca sobra a confiança. Ele conhece-nos, quer-nos.

Raquel – Pois eu diria que essa é a oração mais famosa do mundo.

Jesus – Não me digas?

Raquel – Sim, é o best-seller das orações. Todos os dias milhões e milhões de pessoas em todo o mundo a rezam.

Jesus – Pois é uma boa notícia, Raquel. Se é assim, já não falarei dos usurários no mundo. Meu sonho se transformou em realidade.

Raquel – Desculpe, Jesus Cristo, mas de que está o senhor a falar…

Jesus – Da minha oração. Se tanto a rezaram já eliminaram as dívidas.

Raquel – Dívidas?... A que se refere?

Jesus – Àquilo que eu pedia na minha oração. Recorda, Raquel, como ela começa…

Raquel – Se eu me enganar o senhor corrija-me. Vejamos: “Padre-Nosso que estais no céu, santificado seja o vosso nome, venha a nós o vosso reino, faça-se a sua vontade aqui na terra como no céu …” Vou bem?

Jesus – Continua, continua.

Raquel – “Dai-nos hoje o pão nosso de cada dia…

Jesus – Continua…

Raquel – “E perdoa-nos as nossas ofensa assim como nós perdoamos a quem nos ofende…

Jesus – Não, não, não…

Raquel – Como não?

Jesus – Que eu não disse isso. Eu não falei de ofensas.

Raquel – Bem, de pecados que é o mesmo.

Jesus – Não, eu falei de dívidas.

Raquel – Dívidas com Deus?

Jesus – Dívidas para com o usurário.

Raquel – Mas…

Jesus – Dívidas de dinheiro, Raquel.

Raquel – Espere um momento. Temos uma chamada em linha…Sim, alô?

Liana – Fala Liana Cisceros, representante da campanha Jubileu 2.000. Quero felicitar Jesus Cristo e dizer à sua audiência que, com efeito, o Padre-Nosso foi adulterado. Essa oração deve-se a dívidas materiais!

Jesus – Vês que eu tinha razão, Raquel!

Raquel – O senhor disse que o Padre-Nosso foi adulterado?

Liana – Sim, como o café descafeinado. Tiraram-lhe a essência.

Raquel – E qual era a essência?

Liana – Jesus Cristo explicar-lhe-á melhor do que eu. Até à próxima.

Raquel – Obrigado Liana Cisneros. Jesus Cristo…

Jesus - Escuta, Raquel. No meu tempo os pobres ganhavam muito pouco e se endividavam para dar de comer à família. Tinham problemas com o dono das terras, com os credores, com os usurários… dívidas injustas que se tornavam eternas, que não podiam pagar nem em mil anos, num desespero e humilhação.

Raquel – Passava-se no seu tempo e passa-se agora.

Jesus – Eu não falei dessas dívidas. Eu pedia a Deus que esse jugo terminasse. Deus não nos perdoará antes que ponhamos fim às dívidas dos pobres.

Raquel – Talvez sem querer o senhor coloca-nos um tema de cadente actualidade. Porque há países ricos, que se dizem cristãos e não perdoam as suas dívidas aos países pobres
E há instituições internacionais que estrangulam os seus devedores.

Jesus – Pois te asseguro que não serão perdoados antes de anularem essas dívidas. Palavra de Deus.

Raquel – Louvamos-te! De Tabgha, próximo de Cafarnaum, Raquel Perez das Emissoras Latinas.



NOTA

- Jesus falava em aramaico que é uma língua semita do mesmo tronco linguístico que o hebreu Tem uma história de mais de 3.000 anos mas é ainda uma língua viva falada por cerca de 400.000 pessoas no Líbano, Síria, Turquia, Israel, Arménia, Geórgia…

O aramaico usava-se na Galileia e na Judeia como língua familiar cinco séculos antes de Jesus nascer sendo que o hebraico passou a ser a língua dos doutores da Lei e das Escrituras.

- Jesus rezava as orações do seu povo e do seu tempo mas o que nele chamava a atenção dos seus conterrâneos era a sua forma muito pessoal de falar com Deus à margem das leis litúrgicas.

Por exemplo, na oração do Padre-Nosso o que eles notavam é que Jesus chamava a Deus “abbá” papá, palavra muito familiar na língua aramaica: “abbá” e “Immá”, papá e mamã que são palavras dos primeiros balbucios das crianças e, para os conterrâneos de Jesus, isso era inconcebível, um desrespeito, que Jesus se dirigisse a Deus com tanta espontaneidade. Não foi encontrado em parte alguma da literatura das orações do judaísmo antigo um único exemplo em que se invoque Deus com o “abbá” pelo que os analistas da especialidade consideram que esta é, incontestavelmente, palavra dita por Jesus Cristo.

- Jesus conhecia de perto os abusos dos credores e usurários contra os pobres do seu país e denunciou-os. Em situações extremas os devedores desfaziam-se de todos os seus bens e vendiam-se a eles próprios entregando-se como escravos.

A propósito desta situação, diga-se que havia uma lei antiga, anterior ainda a Moisés, segundo a qual de 49 em 49 anos acontecia o Ano da Graça. Nesse ano, os escravos eram devolvidos à liberdade, as dívidas anuladas e as propriedades adquiridas devolvidas aos donos antigos tudo com a finalidade de evitar a acumulação da riqueza.

Mas havia, também outra lei, a Lei do Ano Sabático que devia cumprir-se em cada sete anos. O seu código exprimia-se assim:

- “Durante seis anos semearás a tua terra e colherás o seu produto. Ao sétimo ano, “Ano Sabático”, deixarás a terra em pousio e abandoná-la-ás. Os pobres do teu povo comerão e os animais do campo comerão o que restar. Farás do mesmo modo para a tua vinha e o teu olival.”

Esta lei tinha um carácter ecológico, em solos muitos deles pobres, para os deixar descansar mas este costume passou a ter um sentido religioso e social permitindo que todos os pobres pudessem entrar em qualquer campo e comer gratuitamente aquilo que a terra produzisse espontaneamente.

- Quando Jesus chegou á Sinagoga da Nazareth como pregador pegou no livro de Isaías, abriu-o precisamente na passagem que anunciava a chegada do Ano Santo para o povo e leu-o. Ao terminar fez-se um profundo silêncio, olhou para todos os presentes e disse:

“Cumpriu-se hoje esta passagem da Escritura que acabais de ouvir”

Com esta frase Jesus quis dizer que passaríamos a viver o Ano Santo perpétuo, que assumiríamos o compromisso da solidariedade uns com os outros esforçando-nos para que ninguém sofra, se sinta angustiado ou submetido a
qualquer tipo de escravidão. Viveríamos um
Ano interminável de Graça, proposto por Deus.

domingo, junho 13, 2010

VÍDEO

Cusco comendo... não perturbe.

CANÇÕES BRASILEIRAS

SIMONE - PARA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DE FLORES
esta é uma canção à Zeca Afonso... parabéns.

CANÇÕES FRANCESAS

SALVATORE ADAMO- VIEM MA BRUNE
canção romântica, linda, bem ao estilo de Adamo... e a condizer as imagens...

CANÇÕES ITALIANAS

GIGIOLA CINQUETTI - QUELLI ERA GIORNI (1968)
era uma vez uma rua, um bom vento me levou lá e se a memória não me falha, na esquina apareceste tu...

CANÇÕES ANGLO-SAXÓNICAS

CAT STEVENS - MORNING HAS BROKENS
legendado em português e com imagens lindas...

CANÇÕES PORTUGUESAS

RUI VELOSO- PROMETIDO E DEVIDO
esta canção é de uma grande ternura. Impossível não nos transportar à infância... quando tudo era inocente... e esta é uma das "especialidades" do Rui Veloso...




DONA

FLOR

E SEUS

DOIS

MARIDOS



EPISÓDIO Nº 145



Não fora fácil convencê-la, vencer-lhe arraigados preconceitos contra os quais de nada valiam os lógicos argumentos de dona Gisa nem as razões sentimentais de dona Flor. Ao ver, porém, a filha ao microfone, tão graciosa, e a sua voz no ar sobre a cidade, rendeu-se em lágrimas de orgulho e de emoção. Exaltou-se contra o julgamento, quase agredindo o locutor do popular programa, Sílvio Lamenha ou Silvinho simplesmente, pois, a seu ver, Marilda merecera o primeiro lugar, por injusta protecção atribuído a um tal João Gilberto, desafinado sem categoria.

Com sua comadre Dionísia acertara dona Flor comparecer à festa de Oxóssi no candomblé da Axé Afonxá, levando com ela dona Norma e a gringa (curiosíssima) e só não o fazendo por forte resfriado e algum receio (receio que transformou o resfriado em perigosa gripe). Nesses mistérios de macumba e candomblé é melhor não se mexer, as ruas vivem cheias de feitiços e despachos, ebós de forte fundamento, mandingas perigosas, coisa-feita; quem quiser acreditar que acredite, quem não quiser não acredite, dona Flor prefere não tirar a limpo. Dionísia lhe dissera um dia:

- Minha comadre, seu anjo da guarda é Oxum, eu mandei um eluô olhar nos búzios.

- E como é Oxum, comadre Dionísia?

- Pois eu lhe digo que é o Orixá dos rios; é uma senhora de semblante muito calmo e vive em sua casa retirada, parecendo a própria mansidão. Mas vai se reparar, é uma faceira, cheia de melindre e dengue; por fora água parada, por dentro um pé-de-vento. Basta lhe dizer, minha comadre, que essa enganadeira foi casada com Oxóssi e com Xangô e, sendo das águas, vive consumida em fogo.

Tanta correria, tanto movimento, porque com o Príncipe se fora também sua paz sua tranquilidade, aquela vida amena, sem problemas, aquele dormir sem sonhos cada noite, de um sono só, reparador.

Desde o absurdo sonho na roda da ciranda, seu sossego terminara. Aos poucos, dia a dia, a inquietação de dona Flor foi aumentando até tornar-se angústia permanente: ao correr do tempo de viúva, num crescendo.

Não mais, porém, a partir daquela noite de cinema e sonho, retornou de todo à calma indiferença, à íntegra sensação de vida plácida, talvez vazia mas serena: dona Flor quieta em seu canto e em seu trabalho. Mesmo sendo em aparência pacata e agradável sua vida – uma água parada - não tivera mais um dia de completo repouso: seu peito em fogo consumido.

Recatada viúva mas coagida a defender o seu recato. Não contra a insolência de uma proposta indecorosa; quem, conhecendo-a, ousaria sequer um galanteio? Quanto aos estranhos, atrevidos postulantes, coiós de esquina, esses em geral emudeciam ao vê-la tão discreta e séria. Mas se ainda assim alguma piada arriscavam ao seu passar, elogios a seu porte (“que bunda rebolosa”) e a detalhes de seu corpo (“ai, os peitinhos tão durinhos”) ou descarados convites (“vamos fazer menino, minha bela”), perdiam a inspiração, a graça ou a independência, e o tempo: ia em frente dona Flor como se fosse cega surda e muda, em sua modéstia e em seu orgulho de viúva, coagida a defender o seu recato contra ela própria: contra os errantes pensamentos, sonhos ruins, contra o desperto e árduo desejo, aguilhão em sua carne.


ENTREVISTAS


FICCIONADAS


COM JESUS CRISTO


Entrevista Nº 28

Tema – Malditos os Ricos?



Raquel – Os microfones das E. Latinas continuam aqui, no Monte das Bem-Aventuranças. Perante os nossos olhos uma vista panorâmica do Lago da Galileia e connosco, Jesus Cristo em entrevista exclusiva.

O senhor referiu-se na entrevista anterior à segunda parte do seu discurso histórico que pronunciou neste Monte. De que falou nessa segunda parte?

Jesus – Bem, primeiro, eu bem disse os pobres, felicitei-os.

Raquel – E depois?

Jesus – Depois mal disse os ricos.

Raquel – O senhor… mal disse?

Jesus – Mal disse os ricos.

Raquel – Pode repetir as suas palavras?

Jesus – Eu disse então e digo agora. Mal digo os ricos, os que estão fartos, porque passarão fome. Ai daqueles que se riem e enganam os pobres, porque irão chorar e gritar quando deus lhes esvaziar as arcas e lhes arrancar as roupas e os deixar sem pão e sem dinheiro tal como eles fizeram aos seus trabalhadores!

Raquel – São palavras muito duras…

Jesus – Mais duro é o coração daqueles que não querem repartir.

Raquel – Talvez nos estejam escutando pessoas com dinheiro mas generosas, de espírito humilde. O senhor também as mal diria?

Jesus – Uma vez um jovem rico, de bom coração, queria acompanhar – nos, queria pôr as mãos no arado de Deus.

Raquel – E o senhor que lhe disse?

Jesus – Tens de escolher. Deus ou o dinheiro. Se queres unir-te a nós reparte primeiro as tuas riquezas entre os pobres.

Raquel – Se essas eram as condições não acredito que muitos ricos tenham aderido ao movimento.

Jesus – Alguns entenderam mas, na verdade, é que tanto então como agora, é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha que um rico entrar no reino de Deus.

Raquel – A sua mensagem não soa politicamente correcto. Não será demasiado radical?

Jesus – Radical, sim. Púnhamos as coisas na sua raiz e a raiz está apodrecida.

Raquel – Sempre me ensinaram que o senhor era calmo e tolerante, de coração humilde e agora encontro-o… com direi… um pouco intolerante.

Jesus – Deus não tolera a injustiça, Raquel. Ele não nos irá julgar por rituais, orações, jejuns, nem por templos. Julgar-nos-á pela justiça e será implacável com os injustos.

Raquel – O senhor está muito alterado.

Jesus – Não me pediste para recordar o que eu disse neste monte?

Raquel – De qualquer maneira podemos acabar este programa reafirmando que a sua mensagem é uma mensagem de paz.

Jesus – A mensagem de Deus é fogo na terra e eu quero que arda. Escuta, Raquel, se em cada manhã não desejares ardentemente que desapareçam as guerras, a violência, as mentiras, a codícia, a ambição do poder… não entenderás nunca a minha mensagem.

Raquel – Algo mais queres dizer?

Jesus – Olha o horizonte, Raquel. Neste tempo em que te calhou a ti viver, vieram sinais do céu que ameaçam tempestade. Quem tenha olhos para os ver que os veja e quem tenha ouvidos para ouvir que os oiça.

Raquel – Acompanhando Jesus Cristo na sua segunda vinda ao nosso mundo cada vez mais desigual e cada vez mais violento. Raquel Perez E. Latinas.



NOTA

Nos tempos de Jesus, os Fariseus, uma facção judaica radical, considerava “malditos” de Deus os pecadores e considerava pecadores ou impuros os enfermos e as enfermas, as mulheres, a quem cobravam impostos (os publicanos), as prostitutas e todos os que não cumpriam a Lei e as leis e ritos que eles, fariseus, apresentavam como sendo do agrado de Deus.

Fora de dúvida, Jesus Cristo, não seguiu este critério religioso e não amaldiçoou ninguém. Condenou os ricos com a sua famosa frase. “Ai de vocês! (Lucas 6.24. 26).

Santiago, irmão de Jesus, dirigente da Igreja em Jerusalém após a sua morte, seguindo a posição de seu irmão, também falou com muita dureza contra os ricos.

O pensamento “social” dos primeiros padres da Igreja de Cristo continua a tradição dos profetas de Israel e de Jesus e pode resumir-se da seguinte forma:

-“Aqueles que possuem riquezas são apenas administradores dessas riquezas e deverão distribui-las pelos pobres para que estes deixem de o ser.”

Santo Basílio, Santo Ambrósio, Santo Agostinho, Santo João Crisóstomo defendem todos o mesmo nos seus textos:

- “Deus nunca fez a uns ricos e a outros pobres. Deu a mesma terra para todos e os frutos da terra são comuns.”

Fiel a esta mensagem, a Teologia da Libertação, propõe-se denunciar a riqueza daqueles que a acumulam à custa do suor e da exploração do próximo, anunciando a equidade da justiça e lutando por torná-la possível.

A “opção pelos pobres” é um conceito chave da Teologia da Libertação que significa entender que não se pode amar a todos por igual.

Significa, igualmente, que a acumulação da riqueza é anticristã e impede a fraternidade, da mesma forma que a acumulação da miséria é também anticristã e anti-humanidade.

Amar o rico, o opressor, significa desafiá-lo, combatê-lo para conseguir que ele mude e aprenda a ser irmão.

Por sua vez, amar o pobre, o oprimido, significa acompanhá-lo e libertá-
lo para que ele consiga
que a sua vida tenha dignidade humana.

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