sábado, outubro 10, 2015

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Ainda hoje me comove o fervor religioso destas pessoas...



Salvator Adamo - Cai a Neve

Saudades da música deliciosamente romântica dos anos sessenta...


A Linhagem - Camada de Nervos


O "sangue azul" no seu melhor...



Matéria Escura - Energia Escura


Universos paralelos... irão ficar sempre na ficção científica?...




O Joãozinho












Pergunta a Professora:

- Que género de mulher gostarias para ti, João?

- Eu gostaria de uma mulher que fosse como a Lua

- Uau! que escolha... tu queres uma que seja bonita e calma como a Lua

- Não professora, eu quero uma que chegue pela noite e desapareça pela manhã...

Não pode negar-lhe a beleza peregrina
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)

Episódio Nº 359






















Fadul, aliás, desempenhou papel de destaque na cerimónia
do baptizado colectivo, tendo à sua direita Coroca que conduzia nos braços o menino Nado e, à esquerda, Bernarda, mãe comovida, formosa na saia rodada e na blusa de fustão, na mão uma vela acesa.

Reunidos os pagãos de todas as idades, entre os quais moleques taludos, vindos das fazendas, frei Theun os recebeu no seio da Santa Madre Igreja, fazendo-os cristãos.

Foi de um a um, impondo-lhes o sal e o óleo, molhando-lhes as cabeças na bacia cheia de água benta. Declamava as palavras do Credo: creio em Deus Padre Todo-Poderoso.

Pais e padrinhos as repetiam num vozear confuso, numa algaravia de feira livre.

Cumprindo promessa feita, o coronel Robustiano de Araújo e a esposa, dona Isabel, amanheceram em Tocaia Grande para testemunhar o batismo de Tovo, filho da finada Diva e de Castor Abduim: ali estavam, presentes, na hora dos santos óleos.

A negra Epifânia bordara um pano para a cerimónia e nele envolvera o irrequieto Tovo, declarando-se madrinha de apresentação, conforme o costume.

Alma Penada rosnou para o frade e tentou mordê- lo quando o menino abriu no choro ao sentir na boca o sal da sagração.

Incidente cômico, provocou risos. No caminho para a estação do trem, em Taquaras, após o batizado, acompanhados pelo cabra Nazareno, o Coronel e dona Isabel cruzaram com o séquito de Venturinha e por alguns minutos trocaram gentilezas em meio ao lamaçal.

Das alturas do selim sobre o burro Mansidão, dona Isabel contemplou a tal sicrana que viera das estranjas trazida pelo filho do falecido coronel Boaventura, saudoso amigo.

Não pôde negar-lhe a beleza peregrina, parecia uma estampa da Virgem Maria na fuga para o Egito, modesta e pura.

Essas, parecidas com santas, são as piores, comentou dona Isabel com o marido, ao prosseguir viagem. Quanto ao corpulento bacharel, não passava, a seu ver, de um peralvilho.

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As noivas de maio, algumas prenhas, outras acompanhadas pelos filhos nascidos na abominação da mancebia, formaram lado a lado na plataforma diante do Cruzeiro, de frente para o altar.

Frei Theun ajudou na arrumação dos pares, cada par ladeado pelos padrinhos e madrinhas.

Tição Abduim torneara para as noivas rústicas alianças de metal. Risonho e animado pela manhã, durante o batizado, estivera sério e mudo à tarde, na ciranda dos casamentos, padrinho de Bastião da Rosa e de Abigail.

Epifânia do meio do povo o contemplava, preocupada: sabia que o negro pensava em Diva, com quem estaria se casando se a febre não a houvesse consumido.

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)

Episódio Nº 80                                                                              


















Os mouros ou os bandidos, assaltavam-nos e matavam-nos, e com o passar do tempo nasceu, entre os cavaleiros da cidade, a vontade de parar aqueles ignóbeis ataques.

- Havia algumas ordens em Jerusalém, mas nós fundámos uma nova.

Éramos devotos, bons combatentes, e não desejávamos riquezas, por isso rejeitávamos as benesses que nos ofereceram aquando do saque das aldeias da região.

Só queríamos servir a Cristo e vivíamos numa casta pobreza – relatou Gondomar.

Como símbolo, decidiram cobrir-se sempre com o manto branco, para serem facilmente reconhecidos, fosse pelos peregrinos, fosse pelos infiéis ou pelos salteadores. E tinham como casa o velho e santo templo do rei Salomão, sendo por isso chamados Cavaleiros do Templo ou Templários.

Temidos pelos adversários, amados pelos peregrinos, ganharam prestígio e adesões.

Nobres, infanções e homens do povo foram se juntando, foram-se juntando aos nove cavaleiros originais.

Décadas depois, a Ordem já era conhecida em Roma e nas abadias da Europa, e muitos começaram a defender que não devia apenas dedicar-se a Jerusalém, mas a combater os infiéis onde quer que eles estivessem.

Bernardo de Claraval desfraldou essa bandeira, e os cavaleiros da Ordem foram partindo da Terra Santa para lutarem noutros pontos da cristandade.

Nesse momento, Gondomar olhou para Afonso Henriques e declarou:

 - Vosso pai esteve duas vezes em Jerusalém, no Templo de Salomão. Admirava os que ajudavam os peregrinos e conheceu alguns de nós.

O príncipe estranhou:

 - O meu pai pertencia à vossa Ordem?

Gondomar abanou a cabeça, explicando que tal não era possível, pois a Ordem era apenas composta por homens castos, sem esposa ou filhos, totalmente dedicados a Cristo.

Além disso, só se formara depois da ida do conde Henrique à Terra Santa. Contudo, o pai de Afonso Henriques era muito estimado por lá, pois era conhecida a sua fama de grande guerreiro contra os mouros.

- Foi ele quem defendeu este condado! E queria retomar Lisboa e Santarém, que vosso bisavô Fernando havia conquistado mas que vosso avô, Afonso VI, perdeu para os serracenos!

Os reis de Castela e Leão têm sempre desejos diferentes dos vossos. Talvez o Condado devesse ser um reino independente...

Afonso Henriques ficou pensativo, e depois questionou-o:

 - Foi isso que haveis proposto a minha mãe?

Gondomar informou-o apenas que Dona Teresa já lhes destinara Soure para que a reconstruíssem e começassem a preparar o combate aos mouros abaixo do Mondego.

- Reconquistar Lisboa é tão importante quanto defender Jerusalém? – provocou Gonçalo.

Mau governante, político sagaz...

Passos Coelho














Passos Coelho é uma pessoa odiada por uma grande parte da população do país como, em Portugal, nenhum outro político o foi.

Acertadamente, os responsáveis pela sua campanha eleitoral decidiram não pôr a sua cara em lado nenhum, porque, é da mais elementar lógica de que, cara de quem não se gosta não se mostra. (rima e é verdade).

Feliz ou infelizmente, nestas coisas da política, as caras contam muito. Lembremos a empatia da cara de Mário Soares a quem, ternamente, chamavam o “bochechas”, e conseguia virar a seu favor previsões catastróficas de resultados eleitorais.

Sucedendo a Sócrates, Passos Coelho, grande vitorioso das eleições, por demérito do anterior 1º Ministro, começou a sua governação com uma enorme arrogância, a roçar o desprezo, por larguíssimas camadas da população, a que contrapunha admiração, quase deslumbre, pelos líderes europeus que detinham o controle das nossas vidas e a quem ele obedecia respeitosamente, de uma maneira quase servil ou devota, não sei bem...

Saiu-lhe tudo ao contrário e o seu Ministro das Finanças, vindo expressamente de Bruxelas para mandar no lugar dele, foi-se embora, abandonou-o, reconhecendo que, afinal, o resultado das medidas de austeridade tinham provocado um autentico desastre na nossa débil economia ao contrário do que ele esperava.

Pretendeu ir ainda mais longe nas medidas de austeridade aumentando os cortes nas pensões dos reformados, o que só não fez porque o Tribunal Constitucional não permitiu.

Mas, como todos os diabos têm sorte, factores externos para os quais ele não meteu prego nem escopro, foram-lhe “escandalosamente” favoráveis: compra de dívida portuguesa por Dragui, descida a pique da taxa de juros dos empréstimos, preço do petróleo, de que somos fortemente dependentes, que atingem mínimos históricos dos últimos anos, e lá se mantêm, e o valor do dólar relativamente ao euro que evolui para níveis mais favoráveis.

 Enfim, só lhe faltou descobrir petróleo no Beato... e ainda bem para todos nós!

Finalmente, há também que dizer, como o meu amigo Astérix, que “depois da tempestade vem a bonança”, neste caso, ciclos económicos, e qualquer coisa que viesse depois dos fins de 2011, 2012 e 13, facilmente seria melhor do que nos anos anteriores.

Mas, falávamos de simpatias e eu vou confessar que gosto tão pouco de Passos Coelho que, às vezes, até tenho medo de exagerar... isto, quando parti, logo no início da sua governação, por uma "aceitação esperançada".

Ao contrário, tinha e tenho por Rui Rio um capital de simpatia que nunca deu para confirmar, porque as contingências da vida política portuguesa nunca o permitiram.

Igualmente, simpatizo com António Costa e parece-me bem, que sendo ele agora o fiel da balança política, tenha conversações com os líderes das forças políticas que, com a dele, fazem maioria absoluta na Assembleia da República.

Contudo, julgo eu e muitos notáveis do PS, que, para já, a decisão mais correcta será a de viabilizar um governo de Passos Coelho e julgo que irá nesse sentido a orientação maioritária da Comissão Política do partido.

Creio que está mais na linha do resultado do voto das eleições e a favor dos interesses do partido socialista e do país.   

sexta-feira, outubro 09, 2015



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O nosso coelho também era assim: gordo e enorme. Agora emagreceu muito mas... resistiu.




Leonard Cohen - Dance Me To The End Of Love

Tudo neste vídeo é lindo, elegante, leve e pesado ao mesmo tempo...


Neil Tyson - A Morte por um Buraco Negro



António Galamba: "O que Costa fez ao PS e ao país foi criminoso"....

Terão votado PS?



















Jorge Coelho dizia ontem, no programa de televisão da Quadratura do Círculo, que não compreendia como é que o PS conseguira ter menos votos do que o PSD.

Realmente, causa admiração, como é que no actual contexto do país, depois do que os portugueses sofreram, com o desemprego, emigração forçada, cortes nas pensões e salários, precariedade e instabilidade laboral, diminuição nos subsídios sociais, etc..., que o PS tenha tido menos votos que o PSD.

É verdade que houve diferença na qualidade das campanhas. 

Passos Coelho, poderá ser um mau governante mas é um político sagaz que desceu ao ponto de aparecer, para as imagens da televisão, durante a campanha, com um crucifixo na mão tocando, assim, todo o mundo católico e beato, num sinal de que ele era um dos seus.

É também verdade, que fez sentido o discurso de Passos: a austeridade que ele foi obrigado a praticar foi o resultado da bancarrota de Sócrates, que está preso, da intervenção urgente da troika, chamada também pelo Sócrates, para emprestarem dinheiro ao país depois do despesismo dos socialistas... Coitado do Passos Coelho, aquilo que o obrigaram a fazer, contra a sua vontade, para salvar o país da desgraça... Não lhe terem dado a maioria absoluta novamente, foi, do ponto de vista desta narrativa, uma grande injustiça...

Mas, Jorge Coelho, sabia de tudo isto antes dos portugueses irem às urnas e continua a fazer a pergunta:

 - Como é que o PS teve menos votos que o PSD?

Mas ontem li o desabafo de António Galamba, ex-secretário nacional do tempo do Tó Zé Seguro que proferiu a seguinte afirmação:

- “O que Costa fez ao PS e ao país foi criminoso!”

Eu, que sou apenas simpatizante do PS, se pensasse de Costa o que Galamba pensa, teria votado em branco e, quem diz Galamba, diz muitos outros do seu núcleo e proximidades, que foram arrastados para fora dos seus lugares, pela vitória clamorosa e humilhante de Costa que o defrontou lealmente e de acordo com as regras de Seguro.

Não esqueçamos do que disse Churchill:

 - “Os nossos adversários estão nos partidos que concorrem connosco. Os inimigos, esses, estão dentro do nosso próprio partido!”


Debruçou-se sobre a rede, os seios arfavam
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)

Episódio Nº 358



















Conquistada por Tocaia Grande, andara no descampado, nas ruelas, atravessara o pontilhão, cruzara a Baixa dos Sapos e se demorara na oficina vendo o ferreiro - busto nu, uma pele sebosa de queixada cobrindo-lhe as partes - bater o ferro na bigorna, fabricando uma pulseira de metal.

Quis comprá-la, o negro a ofertou, lembrança pobre e incomparável: faiscava ao sol.

Ao regressar do passeio, os olhos cintilantes, o rosto perolado de suor, a voz cortada de emoção, Ludi perguntou a Venturinha ainda estirado na rede, prolongando a sesta:

- Esta aldeia é tua, paizinho? Esses gentios são teus servos?

 - Debruçou-se sobre a rede, os seios arfavam, comoventes: - Se me amasses de verdade, me darias aldeia e servos em penhor de teu afeto.


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Pronunciado pela manhã, durante a missa, o sermão, emotivo e clemente, de frei Theun da Santa Eucaristia, lastimava o estado de degradação e desregramento em que se comprazia o povo de Tocaia Grande, mas acenava com a caridade de Deus, suprema bondade, cujo coração sangrava de pena pelas desviadas ovelhas de seu rebanho; convidava ao arrependimento e às lágrimas.

Não fossem empedernidos os tocaia-grandenses, o pranto teria corrido solto e alto, as mãos teriam flagelado os peitos pecadores: pecadores, ai, eram todos os habitantes do lugar, sem exceção.

Seria piedoso e edificante consignar na crónica dos eventos de Tocaia Grande esse augusto instante de compunção e de penitência da diminuta multidão comprimida em frente à Santa Cruz, que escutava em relativo silêncio as palavras do pregador.

Mas, como fazê-lo, se não aconteceram mostras de compunção nem tentativas de penitência? Numa coisa, contudo, estiveram de acordo: o reverendo falava bonito, a voz fervorosa e quente.

Ele próprio era um bonito mocetão, na criteriosa opinião das putas.

Não houve choro pela manhã nem ranger de dentes à tarde, medo pânico, durante o sermão de frei Zygmunt, Martelo de Deus a martelar com sua pronúncia de cão de fila, gotteshammer.

 Frei Theun obteve sucesso com o raparigal: enquanto, envergando em cima da surrada batina a alva sobrepeliz, se movia no altar improvisado e se condoía com o destino dos viventes cuja salvação lhe parecia tão ameaçada, as quengas trocavam comentários de gosto duvidoso e intenção canalha sobre o que elas fariam se tivessem o privilégio de apertar nos braços o roliço frade com cara de bebé chorão.

Em troca, frei Zygmunt com o sermão de fogo, de ameaças e de insultos, entusiasmou sobretudo aos homens, frade mais retado!

Choraram apenas algumas criancinhas quando levadas à pia batismal, uma bacia esmaltada, nova em folha, emprestada pelo Turco Fadul, peça cara no estoque de utensílios vendidos no armazém.

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)

Episódio Nº 79



















Era o velho cavaleiro Gondomar, envolto no seu manto branco.

Já o tínhamos visto na igreja, na véspera, e Afonso Henriques saudou-o:

 - Bem-vindo Gondomar da Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo.

O visado, enquanto pegava num pão quente, murmurou:

 - Em Jerusalém, de início, nem pão havia.

A padeira incentivou-o a tirar mais e depois olhou para trás dele, onde outro vulto surgira e exclamou:

 - Meu senhor, pareceis doente, comei também!

Era Ramiro, com os olhos raiados de sangue, pálido e cabisbaixo. Retirou um pequeno pão da bandeja mas não o levou à boca.

- Posso trazer-vos uma fogaça ou uma broa – sugeriu a padeira.

Apesar de o notar ainda transtornado, Afonso Henriques comentou:

 - Vejo que estais melhor.

Ramiro encolheu os ombros mas agradeceu ao príncipe:

 - Obrigado pelas vossas palavras, ontem à noite.

Ao escuta-lo, Gonçalo barafustou:

 - Devíeis era ter-me ajudado a mim! Sois uns traidores: levo-vos à estalagem e fogem como meninas! Tive de arrasar a pipa sozinho!

Nós rimo-nos mas Gondomar fixou-o, preocupado.

 - Assim perdei-vos de Deus. Por que não vos juntais a nós?

Gonçalo observou-o com desdém.

 - Não vejo ninguém convosco. A não ser o Ramiro, mas, pelo que sei de ontem, esse vai a caminho de Satanás!

O ancião, desiludido, confessou:

 - Por cá, ainda somos poucos.

Enquanto comia o seu pão, Gondomar contou-lhes a história dos Pobres Cavaleiros de Cristo. A princípio haviam sido apenas nove, liderados por Hugo de Payins, um francês.

Chegados a Jerusalém com a Primeira Cruzada, haviam decidido ficar, pois a vitoriosa demanda da Terra Santa gerara uma comoção generalizada nos reinos cristãos da Europa, e de toda a parte tinham avançado os peregrinos.

Depois de longas viagens a pé, atravessando montanhas, vales e mares, os que não morriam pelo caminho aportavam a Java, e de lá seguiam, de novo a pé, pela estrada que se dirigia a Jerusalém.                                                                                 


A Fabulosa história

do Juvenal












"O Juvenal estava desempregado há vários meses. Com a resistência que só os brasileiros têm, o Juvenal foi tentar mais um emprego em mais uma entrevista. Ao chegar ao escritório, o entrevistador observou que o candidato tinha exactamente o perfil desejado, as virtudes ideais e perguntou-lhe:"

- Qual foi seu último salário?

- 'Salário mínimo', respondeu Juvenal.

- Pois se o Sr. for contratado, ganhará 10 mil dólares por mês!

- Jura?

- Que carro o Sr. tem?

- Na verdade, agora eu só tenho um carrinho para vender pipocas na rua e um carrinho de mão!

- Pois, se o senhor vier trabalhar connosco ganhará um Audi para você e um BMW para sua esposa! Tudo a custo zero!

- Jura?

- O senhor viaja muito para o exterior?

- O mais longe que fui foi para Belo Horizonte, visitar uns parentes...

- Pois, se o senhor trabalhar aqui viajará pelo menos 10 vezes por ano, para Londres, Paris, Roma, Mónaco, Nova Iorque, etc.

- Jura?

- E lhe digo mais... O emprego é quase seu. Só não lhe confirmo agora porque tenho que falar com meu gerente. Mas é praticamente garantido.

Se até amanhã (6ª feira) à meia-noite o senhor não receber um telegrama nosso cancelando pode vir trabalhar na segunda-feira com todas essas regalias que eu citei.

Então já sabe: se não receber telegrama cancelando até à meia-noite de amanhã, o emprego é seu!

Juvenal saiu do escritório radiante.

Agora era só esperar até a meia-noite da 6ª feira e rezar para que não aparecesse nenhum maldito telegrama.

Sexta-feira mais feliz não poderia haver. Juvenal reuniu a família e contou as boas novas. Convocou o bairro todo para uma churrascada comemorativa à base de muita música.

Sexta de tarde já tinha um barril de chopp aberto.

Às 9 horas da noite a festa fervia. A banda tocava, o povo dançava, a bebida rolava solta.

Dez horas, e a mulher de Juvenal aflita, achava tudo um exagero. A vizinha gostosa, interesseira, já se jogava pro lado do Juvenal.

E a banda tocava!

E o choop gelado rolava!

O povo dançava!

Onze horas, Juvenal já era o rei do bairro. Gastaria horrores para o bairro encher a pança. Tudo por conta do primeiro salário. E a mulher resignada, meio aflita, meio alegre, meio boba, meio assustada..

Às onze horas e cinquenta e cinco minutos....vira na esquina buzinando feito louco, um cara numa motoca amarela....

Era do Correio!

A festa parou!
A banda calou!
A tuba engasgou!
Um bêbado arrotou!
Um cachorro uivou!

- Meu Deus, e agora? Quem pagaria a conta da festa?

- Coitado do Juvenal! Era a frase mais ouvida.

- Joguem água na churrasqueira!

O chopp esquentou!

A mulher do Juvenal desmaiou!

A motoca parou!

O cara desceu e se dirigiu ao Juvenal:

- Senhor Juvenal Batista Romano Barbieri?

- Si..., si....., sim, so...., so......, sou eu...
  
A multidão não resistiu...

- OOOOOHHHHHHHHHHH!

E o cara da motoca:

- Telegrama para o senhor...

Juvenal não acreditava... Pegou o telegrama, com os olhos cheios d'água, ergueu a cabeça e olhou para todos.

Silêncio total. Não se ouvia sequer uma mosca!

Juvenal respirou fundo e abriu o envelope do telegrama tremendo, enquanto uma lágrima rolava, molhando o telegrama...

Olhou de novo para o povo e a consternação era geral. Tirou o telegrama do envelope, abriu e começou a ler.

O povo em silêncio aguardava a notícia e se perguntava:

- E agora? Quem vai pagar essa festa toda?

Juvenal recomeçou a ler, levantou os olhos e olhou mais uma vez para o povo que o encarava...

Então, Juvenal abriu um largo sorriso, deu um berro triunfal e começou a gritar eufórico:
*
*
*
*
*
*
- Mamãe morrreeeuuu!
- Mamãe morrreeeuuu!

quinta-feira, outubro 08, 2015

José Vilhena


Foi um companheiro dos homens da minha geração com os seus desenhos provocantes vendidos às escondidas nos tempos da outra senhora. Nasceu em 1927, cursou Belas Artes no Porto e veio para Lisboa fazer a cabeça em água ao Estado Novo. Faleceu no passado dia 3.



                    

Stephen Hawkin - O maior físico teórico e cosmólogo vivo.

Os ETs não existem.... 


Vale a pena ver a dança destes jovens...



Um encanto de cantora russa
Tocaia Grande
(Jorge Amado)

Episódio Nº 357



















Visitaram as roças em plena colheita - o trabalho dos alugados começava às cinco da manhã - e o curral das vacas leiteiras onde, aproveitando-se de uma distração de Venturinha interessado na novilha Sulamita, o coronel Demostinho correra a mão na nobre bunda de Ludmila Gregorióvna e lhe sussurrara, o bafo fazendo cócegas no cangote:

- No dia que quiser, esta casa é sua, assim como uma outra que fica em Ilhéus, em frente ao mar. - Disse em seu melhor francês num murmúrio de brisa matutina.

Ludmila respondeu com um sorriso e um olhar enigmáticos como soem ser sorrisos e olhares de heroínas russas.

O bravo Coronel antes de retirar a mão que sopesava o elegante rabiosque, ferrou-lhe delicado beliscão para recordar-lhe a oferta, concluir o trato.

Inolvidável jornada para os olhos de Ludmila Gregorióvna
Cytkynbaum. A estrada margeava os cacauais: os cocos amarelos refulgiam na luz da manhã, plantação mais bela não existe, nem mesmo o trigal maduro nas estepes.

Paravam de fazenda em fazenda para desalterar, aceitando um gole d’água, um cafézinho, provando doce de banana em rodinhas ou de laranja-da-terra, deliciando-se com um copo de suco feito com o mel que cobre os grãos de cacau, invenção dos deuses.

Para conhecer a cantora russa que elas sabiam rapariga do doutor Venturinha, as senhoras dos coronéis abandonavam as cozinhas e os preconceitos e se apresentavam na estica, os vestidos domingueiros enfiados às pressas. Ludmila estendia a ponta dos dedos para o beijo dos fazendeiros, sorria formosa e modesta para as senhoras donas, dizia merci e vous êtes três gentille, Madame.

Um encanto de cantora russa.

Todo aquele trópico ardente e delirante, de coronéis milionários e de miseráveis alugados, de casas-grandes fartas e de casebres de barro, era o oposto e o igual das planuras da Rússia de nobres, de kulakes e de servos.

Ludmila Gregorióvna trocava língua com Piotr, seu irmão, expressando a esperança de receber, mais dia menos dia, das mãos dadivosas de paizinho Boaventura ou de outro tão rico quanto ele, a prenda de um campo e de uma aldeia com servos negros.

Vivia numa exaltação de descoberta, tudo lhe parecia amoroso e romanesco, com uma pitada de perigo: as serpentes e os bandidos.

A Santa Missão a encantou e foi ela quem estabeleceu a comparação histórica e erudita com o Santo Ofício, demonstrando mais uma vez a Venturinha caído dos quartos de tanta paixão não ser apenas uma fêmea deslumbrante e incontinente: incontinente na cama, tão-somente.

Acrescentava à beleza os dotes de inteligência e de cultura: podia dar lições aos bacharéis de Itabuna.

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