Memórias Futuras
Olhar o futuro pelo espelho retrovisor da história. Qual história? Que futuro?
sábado, novembro 07, 2015
My Way - Frank Sinatra
Quando lhe mostraram esta canção pela 1º vez limitou-se a dizer: -"essa é minha!". Todos a cantaram mas, para mim, a melhor interpretação é a dele.
JORGE AMADO
Nascido a 10 de Agosto de 1912, no sul do Estado da Bahia, Jorge Amado, nasceu, como dizia sua mãe, “com estrela”; um homem afortunado. Seu pai queria que o filho fosse doutor, e ser doutor naqueles tempos era formar-se em Medicina, Engenharia ou Direito.
Jorge Amado, que desde os catorze
anos participava em movimentos culturais e políticos, opt ou
por Direito. Fez a vontade ao pai, mas não foi buscar o diploma e nunca exerceu
advocacia. Em compensação, no ano da sua licenciatura, em 1935, já era um
escritor conhecido, autor de quatro livros que fizeram sucesso entre o público
e a crítica: “O País do Carnaval” com que se estreou aos dezoito anos, “Cacau”,
“Suor e Jubiabá”. Em 1937, devido ao seu intenso envolvimento político, viu
toda a edição do seu livro “Capitães da Areia” ser queimada em praça pública, o
que o levou, em 1941, ao exílio na Argentina e no Uruguai.
Em 1945, Jorge Amado uniu-se a Zélia
Gattai, companheira de toda a sua vida. Deputado Federal pelo Estado de São
Paulo, fez parte da Assembleia Constituinte votando leis importantes, como a
que ainda hoje garante a liberdade religiosa no país. Em 1947, o Partido
Comunista foi ilegalizado e Jorge Amado perdeu os seus direitos políticos.
Voltou para o exílio, desta vez em
França e na Checoslováqui a,
continuando a escrever e a trabalhar pela paz, agora na companhia de Pablo
Neruda, seu velho amigo, de Pablo Picasso, de Luís Aragon, de Nicolas Guillen,
só regressando ao Brasil em 1952. Em 1961 foi eleito para Academia Brasileira
de Letras, vindo também a pertencer à Academia de Letras da Baía, à Academia de
Ciências e Letras da República Democrática Alemã e à Academia de Ciências de
Lisboa sendo membro correspondente destas duas últimas.
O seu livro Gabriela , Cravo e
Canela, publicado em 1958, teve grande sucesso e os seus direitos
cinematográficos foram vendidos para a Metro, o que possibilitou ao escritor a
compra de uma casa em Salvador realizando, assim, o sonho de voltar a viver na
sua terra.
Em 1963 muda-se com a sua família
para a rua de Alagoinhas, onde continuou a escrever os seus livros.
Foi publicado em 95 idiomas, faleceu
a 6 de Agosto de 2001.
Jorge Amado acumulou um sem número de
Prémios Literários e foi-lhe atribuído o título de Doutor Honoris Causa pelas
principais Universidades de países como: França, Itália e Israel.
Para mim, simplesmente, ele foi o
melhor contador de histórias escritas e é de uma grande injustiça que não lhe tenha ainda sido atribuído o Prémio Nobel da Literatura.
Impregnadas de um humanismo autêntico, inserido
numa realidade social que ele tão bem conhecia, sinto-me orgulhoso que
elas tenham sido escritas por um compatriota porque, como dizia Fernando
Pessoa, a minha língua é o meu país.
Em homenagem a Jorge Amado e como
agradecimento pelos momentos de prazer que os seus livros me proporcionaram,
reproduzirei neste blog, diariamente, a partir de segunda-feira, o romance da Tieta do Agreste, uma das suas melhores histórias, que gira à volta de uma relação incestuosa entre uma tia, mulher sensual, e um jovem seminarista, filho da sua irmã, beata compulsiva.
Foi telenovela, lançada em 1989 e vista em Portugal mas sem a coragem de assumir a relação incestuosa na história que foi substituída por uma relação com outro personagem, o que retirou muito da sua intensidade. Mas nós vamos ler o original, em episódios para o saborearmos melhor.
Jorge Amado desce às profundezas da natureza humana e aos conflitos gerados entre essa natureza e os códigos morais prevalecentes na sociedade.
As suas personagens são reais, autênticas, descritas até aos últimos pormenores e, por isso, elas marcam-nos. O romance termina mas elas ficam connosco.
(Domingos Amaral)
Episódio Nº 104
Assim, meu pai jamais se
passaria para o lado dos galegos, e o seu casamento tornava ainda mais forte a
pretensão de Dona Teresa de incluir essas terras nos seus domínios.
Nem os portucalenses mais
recalcitrantes negavam aquela argúcia.
Mal se atenuaram as
saudações aos nubentes, a rainha referiu que aquele não seria o único casamento
na família Moniz. Nesse momento Dona Teresa olhou para mim e declarou:
- A melhor espada do nosso Condado, Lourenço
Viegas, varão de Ribadouro, desposará Maria Gomes, filha de Gomes Nunes e de
Elvira Peres de Trava!
Mais aplausos se ouviram e
vi Chamoa levantar-se, emocionada, e correr a abraçar a coradíssima irmã.
Também meu amigo Afonso Henriques me abraçou, dizendo-me:
- Assim será, como era vosso desejo!
Todos naquela sala apoiavam
o meu casamento com Maria. Era uma união de um portucalense com uma Trava, mas
não ia contra os interesses do Condado.
O território de Toronho,
ambicionado por Dona Teresa, em teoria devia vassalagem a Afonso VII, mas na
realidade girava na órbita portucalense.
Embora na aparência formal
estes dois casamentos aumentassem o poder de Dona Teresa e do Trava, que
obviamente os patrocinara, a prazo mais longo eram também favoráveis às
pretensões futuras de Afonso Henriques.
A união com a Galiza era um
desejo antigo da família, que remontava pelo menos ao conde Henrique, e mesmo
tendo de aturar o Trava mais uns anos o Condado ficaria mais sólido e poderoso
se lhe adicionassem as terras de Celanova e Toronho, Límia, Astorga e Zamora.
Por isso, vi o príncipe
sorrir, e ele disse-me mais tarde que, por momentos, chegou a sentir admiração
pela mãe. Ela não só cumpria o prometido, como lhe desenhava um futuro deveras
agradável.
De repente, ouviu-se a voz
de Gonçalo que se levantara:
- Casam os meus amigos e eu
não?
A rainha sorriu-lhe. Sempre
gostara daquele amigo do filho, que considerava um brincalhão sem maldade, e
respondeu-lhe:
- Tendes a vosso lado duas mouras casadouras.
Se desejares desposar uma delas tendes de o dizer!
Os olhares dos presentes
caíram sobre as raparigas muçulmanas, Fátima e Zaida, que estavam sentadas
alguns lugares depois de Gonçalo e dividiam a mesma escudela.
Zulmira ficou aterrada ao
ouvir a sugestão da rainha, e ainda mais quando a sua filha mais velha, sem
hesitar, declarou:
- Antes me cortem o pescoço, jamais casarei
com um cristão!
O olhar brilhante e feroz de
Fátima percorreu a sala, orgulhosa, sabendo que muitos pensavam como ela.
Eles entenderam-se |
Já há
acordo
Quem o disse foi António Costa, ontem na televisão, e o derrotado
das eleições de 4 de Outubro passado, prepara-se agora para ser o novo 1º
Ministro mostrando ao país, que digam o que disserem, os votos dos portugueses
elegem deputados que representam partidos e não mais do que isso.
É este o regime político em que vivemos: o poder encontra-se na
Assembleia da República, pelos entendimentos que ali se formam entre os
partidos representados pelos deputados que são eleitos pelo povo em nome dos seus
partidos.
A Constituição, neste aspecto essencial, nunca mudou desde que nos
rege, mas aqui lo que verdadeiramente
ela é, só agora o foi..., e o espanto estampou-se na cara dos portugueses, que não
de António Costa, dos poucos a perceber que a vida muda com os tempos, as
pessoas evoluem, e quarenta anos são mais do que aqueles que muitos jovens políticos
com funções importantes nos seus partidos, possuem de idade.
A direita procura minar o acordo à esquerda mas, resignada, já vai
dizendo que Passos Coelho “está pronto para liderar a oposição na Assembleia”, e
Nuno Magalhães afirma que “Portas será uma mais-valia no Parlamento.
Francisco Assis, auto-candidato a sucessor de Costa, chefe dos desalinhados
do partido socialista contra este acordo à esquerda, contou as espingardas mas
promete: “não vou alimentar guerrilhas no PS”.
Parece, assim, que está tudo pronto para começar o momento histórico
em Portugal: um governo socialista com apoio maioritário na Assembleia da República
do BE e do PCP.
Ficará a faltar a indigitação de António Costa para 1º Ministro
que compete ao Presidente da República, que está de saída do seu 2º e último
mandato e que seria a última esperança de Passos e Portas se tivesse alguma
alternativa... mas não tem e, sendo assim, o que falta serão pró-formas.
Sairá com uma mágoa no coração, ele, que é um homem de direita que nunca mereceu a carreira política que teve, vai sair depois de investir um governo de esquerda com o apoio dos comunistas...
A vida em Portugal vai ganhar aspectos diferentes, mais
interessantes e esperançosos, e é completamente falacioso perguntar “se foi
isto que o povo qui s”.
O povo expressou a sua vontade no momento em que, livremente, no
local da urna, em solidão, fez a cruzinha no Boletim de Voto.
Esta é a nossa
democracia e... ponto final.
sexta-feira, novembro 06, 2015
Viviane - Meu Coração Abandonado
Como gosto de ouvir a Viviane neste "Meu Coração Abandonado"... Talvez seja por aquela entrada do acordeão... ou pelo coração abandonado, ou por ambos.
(Domingos
Amaral)
Episódio Nº 103
Terminadas estas
proclamações, entraram na tenda jograis, trovadores e músicos. Uma imediata
tensão se apoderou de mim e dos meus irmãos quando vimos aparecer Ordonho e
Fruela.
Contudo os bobos galegos
eram gordos mas não estúpidos e não repetiram as afiadas chalaças da véspera,
brindando aquela nobre plateia com cantigas de amigo e trovas célebres da
Galiza.
A dado momento, relembraram
El Cid, o valente combatente que décadas antes tinha batido os árabes, e
declararam-se orgulhosos por estarem entre eles um homem capaz de semelhantes
feitos, uma óbvia e encomendada alusão a Fernão Peres de Trava, que sorria
satisfeito.
A um canto da sala Ramiro e
Raimunda, cúmplices desde o dia anterior, observavam o florir do encantamento
de Afonso Henriques por Chamoa.
No entanto, ambos repararam
que a rapariga galega parecia mais solta, talvez devido ao vinho, e sorria para
os homens, pois vários lhe haviam dito que era a mais bela da tenda.
Quando terminou a actuação
dos bobos, Dona Teresa voltou a levantar-se e proclamou.
- Anuncio-vos o casamento religioso de minha
filha Sanches Henriques com Fernão Mendes, senhor de Bragança!
Ouviu-se uma salva de palmas
e o Braganção que bebera demais, enrolou a fala quando ergueu a taça na
direcção da rainha.
Trôpego, ainda qui s saudar a futura esposa, mas Gonçalo de Sousa
colocou-lhe à frente mais um vaso de vinho, o que o acalmou imediatamente.
Então Dona Teresa prosseguiu:
- Anuncio igualmente outro augusto casamento
religioso, de um dos mais importantes nobres do nosso Condado!
Afonso Henriques sentiu o
nervosismo a crescer, pois pensou que a mãe se referia a Paio Soares. Na
véspera, numa secreta conversa que tinham tido ao final da tarde, Dona Teresa
mostrara-se irritada com o amuo do antigo alferes, julgando-o uma desconsideração,
e dissera ao filho que estava adiado qualquer plano de casamento que lhe
houvesse ocorrido para o seu novo Mordomo-Mor.
Mas Afonso Henriques temia
que a mãe tivesse mudado de ideias, um desagradável hábito que mantinha há
muitos anos e só se tranqui lizou
quando a ouviu dizer:
- O meu estimado Egas Moniz, que tão bem tem
educado o meu filho, irá casar-se com a bela Teresa Afonso de Celanova!
Houve novo aplauso geral e
eu e meus irmãos juntámo-nos ao coro de felicitações ao nosso progenitor, que
olhava para a noiva embevecido.
Afonso Henriques sorriu,
também feliz. Depois de ter sofrido com a morte de Dórdia, que muito amava, o
seu precept or casava agora com uma
bela mulher.
O encantamento
justificava-se. Teres era jovem, inteligente, recatada, e ainda por cima
herdeira de territórios consideráveis.
Dona Teresa fora esperta,
dava a meu pai o que ele queria, mas dentro de um espaço onde ela também
aspirava a mandar, a margem norte do rio Minho.
Lugar mais bonito para viver |
Tocaia Grande
(Jorge Amado)
Episódio N 382 – Último
Ali ficaram, crivados de bala, a veneranda
e influída estanciana - velha broca, murmurou o Sargento - e o invencível
estandarte do reisado.
Os jagunços seguiram em frente e ocuparam
o barracão.
Com o que, o sargento Orígenes Brito, da
Polícia Militar do
Estado da Bahia, delegado comissionado de
Itabuna, deu por cumprida a missão de guerra e passou a organizar, com os
cabras indóceis, a guarda de honra para acolher com as vénias devidas as
autoridades do município, a egrégia e garrida comitiva ainda à espera na Baixa
dos Sapos.
Somente depois da cerimónia do triunfo, o
Sargento liberaria seus comandados para o saque e a esbórnia.
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No deslumbre da lua cheia cravada sobre a
terra violada, sobre o rio assassinado, sobre a morte desatada, na hora da
meia-noite, junto ao pé de mulungu, no alto do Outeiro do Capitão, Jacinta Coroca
e Natário da Fonseca, ela com a repetição, ele com o parabelo, na tocaia,
usufruíam a beleza da paisagem.
Lá em baixo, jazia Tocaia Grande ocupada pelos
jagunços e pelos cabras da Briosa.
- O melhor de tudo - disse Coroca - não tem nada que se compare, é aparar menino.
Ver aquele peso de carne saído de um bucho de mulher, mexer na mão da gente,
vivinho. Até dá vontade de chorar.
No primeiro que peguei, caí no choro.
O Capitão deixou transparecer nos lábios o
fio do sorriso:
- Tu pegou um bocado de menino. Tu virou
uma senhora dona.
- Nós mudou e cresceu com o lugar. Tu
também, Natário, não é o mesmo cabra ruim de dantes.
- Possa ser...
Houve um breve silêncio e, vinda do rio,
na noite estival, a viração os envolveu numa carícia morna e espalhou no ar o
perfume do jasmineiro.
Na voz serena de Coroca, o calor e a
brisa:
- Nunca vi ninguém gostar tanto de outra
pessoa, mulher gostar tanto de um homem, como Bernarda de vancê.
Ficou pensativa por um instante,
prosseguiu: - Acho que isso é o amor de que se fala. Sei como é, conheci mocinha
nova. Se chamava Olavo, me comeu os tampos, era fraco do peito, morreu botando sangue
pela boca.
Me lembro como se fosse hoje.
Chegou até eles o tropel da comitiva dos
notáveis Vinham da desolação da Baixa dos Sapos: nas choças abandonadas pelas raparigas,
os jagunços haviam-se entrincheirado, após liqui dar
Paulinha Marisca, única que ficara de guarda no puteiro.
Aprendera a atirar em Alagoas com os vários
pistoleiros da família. Na casa de madeira, nos barracos de adobe, o intendente
o Juiz o Promotor, o Mandatário e a álacre companhia, a corte alti-sonante, se
abrigaram, aguardando o momento da entrada triunfal.
Despontaram sob a claridade do luar, uma
cavalhada de se ver e bater palmas: gordos, fortes, garbosos, bem vestidos, bem
dispostos, traziam a lei para implantá-la. Jacinta Coroca apoiou a repetição no
galho da árvore.
O capitão Natário da Fonseca repetiu:
- Lugar mais bonito pra viver!
- Não há igual. - Concordou Coroca.
Montando um esplendor de égua, no centro do cortejo tendo de um lado o Intendente, do outro a divina Ludmila Gregorióvna, destacava-se o corpanzil do bacharel Boaventura Andrade Júnior, chefe político, mandachuva.
A cara aberta em riso.
Natário firmou a pontaria, visando a testa
de Venturinha.
Em mais de vinte anos, não errara um tiro.
Com sua licença,
Coronel.
25
E aqui
se interrompe em seus começos a história da cidade de Irisópolis quando ainda
era Tocaia Grande, a face obscura.
O que aconteceu depois - o progresso, a
emancipação, a mudança de nome, a comarca, o município, a igreja, os bangalôs,
os palacetes, os paralelipípedos ingleses, o intendente, o vigário, o promotor e
o juiz, o fórum e a cadeia, a loja maçónica, o clube social e o grémio
literário, a face luminosa - não paga a pena contar, não tem graça. Até mais
ver.
FIM
Marçal Grilo |
Facto Histórico
“Nesta
eventual coligação à esquerda existem muitos ingredientes para que não corra
bem. Mas, se correr bem será um facto histórico e mudará radicalmente a vida
política portuguesa. Radicalmente.”
Marçal
Grilo, Ex-Ministro, Ex -Administrador da Gulbenkian.
Esta
afirmação diz tudo o que há de mais importante desta fase da vida política que
o meu país está a atravessar.
Ao
lê-la, senti dentro de mim um impacto, como quando se é atingido em cheio por um
objecto certeiro e contundente.
Pois é...
pois é..., a direita devia estar feliz na eminência de tempos de completa glória
e total sucesso com a esquerda, toda ela, esfrangalhada e, no entanto, está em pânico.
- Por
quê? – Porque a iniciativa de António Costa pode correr bem e isso seria um “facto
histórico”, diz Marçal Grilo.
Não
sei se essa hipótese é remota mas que pode acontecer, pode, e eu tenho
confiança em António
Costa , um homem bem formado, com experiência e cultura política, e é altamente improvável que vá meter o país num impasse internacional.
Por
outro lado, sinceramente, já não me parece que os comunistas sejam capazes de “comer
criancinhas” ao pequeno-almoço, pôr termo à iniciativa privada, colectivizar a
propriedade e voltar aos planos qui nquenais
de produção do tempo dos sovietes...
No
entanto, estas ameaças continuam a ser servidas, mais ou menos veladamente, em
2015, como um dos grandes papões da direita para meter medo às pessoas.
Se
este mito cair por um bem sucedido governo de Costa com o apoio dos comunistas,
será um facto histórico, um grande contributo do PS para uma importante “libertação”
do país.
O
governo e os governantes continuam a viver, não de enormes ordenados, mas com ostentação e privilégios que custam muito dinheiro perfeitamente
escusado.
Recentemente,
a substituição da frota de automóveis do Estado, que tinha quatro anos, custou
cem milhões de euros e carros houve que custaram mais em extras do que o seu
preço base...
Não
quero ser demagógico, sei perfeitamente que não é por aqui
que “o gato vai às filhoses”, mas já não direi o mesmo dos BPN; BPP; BES, que
podem afundar um país frágil como o nosso e não vi, em nenhum desses casos que
aconteceram, uma única pessoa, uma que fosse, que tivesse qualquer ligação ao PCP ou ao BE.
Descobrir
outro tipo de cidadãos para a área do governo com escrúpulos e pudor
relativamente ao poder e aos dinheiros públicos, poderá ser apenas uma vã
esperança, um sonho como qualquer outro, que acaba de manhã com um simples
abrir de olhos, mas... quem não gosta de sonhar?
Há
cerca de um mês pensava, sinceramente, que o PAF de Passos e Portas, depois de
terem ganho as eleições iam ter, como “castigo”, continuar a governar o país
sob a rédea curta do PS.
Poder
vê-los, agora, na oposição, impotentes perante um governo de esquerda, liderado
por António Costa, não será, só por si mesmo, o princípio de um sonho?...
quinta-feira, novembro 05, 2015
IMAGEM
A pensão de reforma de Ricardo Salgado vai triplicar, passando já em Novembro de
29.000 para 90.000 euros por mês, segundo a TVI. "E nas mesmas circunstâncias de
Salgado estão mais uma dezena de ex-gestores do antigo Banco Espírito Santo",
sublinha o canal de Queluz.
Não sei se irão mesmo passar a receber estas pensões astronómicas mas a expressão dele é feliz. Naturalmente, vai receber mesmo... Depois de tudo o que fez, do burburinho que provocou, das falências que causou, dos dramas terríveis vividos por centenas de pessoas que lhe confiaram as poupanças de uma vida e ficaram sem nada, e de um país que ajudou a arruinar... não dá para entendê, como dizem os meus amigos brasileiros!
Gianni Morandi - Non Son Degno de Te
Ainda consegue ser um pouco mais novo que eu mas a sua voz e as suas canções do princípio dos anos sessenta ficaram-me gravadas na memória. Para que não se apaguem completamente ouça-mo-la de novo.
No ano em que embarquei no Vera Cruz para a guerra de Angola ele lançou-se no estrelado da música pop italiana e de tão bem sucedido veio a vender 30 milhões de discos. Corria, então, o ano de 1962.
-
A prudência do Sargento era-lhe ditada... |
Tocaia
Grande
(Jorge Amado)
Episódio Nº
381
22
Quanto aos referidos jornais da Capital,
travaram ruidosa polêmica, incruenta porém furibunda: ficou nos anais da
imprensa baiana devido aos fulgurantes talentos que dela participaram, plêiade
de águias!
No único jornal da oposição, vibrantes
plumitivos botaram a boca no mundo, em artigos, sueltos e a pedidos, que
respingavam, todos eles, indignação, vergonha e sangue, falando na volta dos tempos
ignominiosos quando o sul do Estado era terra de criminosos desnaturados,
monstros desalmados, bandidos sem lei.
Os três diários governistas, não menos veementes,
retrucaram afirmando que, muito ao contrário, o que se dera fora a imposição da
ordem e da lei em remanescente valha couto de bandidos, réus confessos e
condenados, trânsfugas fugidos da polícia.
Simples, rotineira operação de limpeza que
viera pôr termo aos últimos resíduos de uma era de infâmia e barbárie.
23
Apesar da insistência das autoridades
superiores, apressadas
e levianas, o sargento Orígenes esperou,
para ditar as ordens, uma boa meia hora após terem cessado os tiros esparsos
vindos do cruzeiro e do barracão, sinal que, feridos ou mortos, os obstinados estavam
fora de combate.
A prudência do Sargento era-lhe ditada
pelas perdas sofridas.
Não previra tantas baixas nas fileiras dos
jagunços e dos soldados.
Dos oito praças efetivos, restavam-lhe
apenas três, cinco haviam tombado, além do cabo Chico Roncolho. Uns qui nze cabras - não contara mas o cálculo devia ser bastante
exato - tinham entregue a alma a Deus ou ao Diabo.
Os tipos de Tocaia Grande, alguns deles
tomando das armas pela primeira vez, comportaram - se como profissionais,
venderam caro a vida.
Por que demónios o fizeram, o Sargento não
sabia, mas, sendo do ramo, antigo jagunço, valorizava a façanha. A sorte tinha
sido a morte do capitão Natário da Fonseca. Sem ele, o resto ficara fácil.
Prolongando-se a calmaria, marcada a meia
hora no cebolão, Orígenes ordenou ao contingente ainda numeroso, apesar das
duras perdas, avançar sobre o barracão, com cuidado, devagar, de armas
embaladas.
Nunca é demais estar prevenido contra um
louco, em todas as partes eles existem e se exibem.
Tivesse apostado, teria ganho. Estavam se
aproximando do cruzeiro quando dos esconsos da noite surgiu uma figura
estranha, empunhando e agitando uma espécie de bandeira enquanto, com a mão
livre, disparava uma garrucha carcomida: tiros ao léu, por isso mesmo
perigosos.
Incontinenti, o Sargento comandou fogo e
foi obedecido. A descarga derrubou o solitário atirador; a bandeira revolteou
sozinha e veio cair aos pés da cruz.
Servira de bandeira mas não passava do
estandarte de reisado, encarnado e azul. Quem o conduzira e manejara a garrucha
fora sia Leocádia que, em lugar de seguir os parentes na retirada, à espera de
ver como seria depois, preferira ficar em Tocaia Grande ,
arriscando a vida.
Idosa de oitenta anos, envergara os trajes
da Senhorita Dona Deusa, usados no Dia dos Reis Magos pela neta Aracati,
empunhara o estandarte e a garrucha e viera desfilar no descampado.