Memórias Futuras
Olhar o futuro pelo espelho retrovisor da história. Qual história? Que futuro?
sábado, maio 26, 2012
Os
bombeiros foram imediatamente chamados para extinguir as
chamas.
O fogo
estava cada vez mais forte, e os bombeiros não conseguiam dominar as
chamas.
A situação
já estava a ficar fora de controlo, quando alguém sugeriu que se chamasse o
grupo de voluntários da Vidigueira.
Apesar de
alguma dúvida quanto às capacidades e equipamento dos voluntários, sempre seria
mais uma forma de auxilio. Assim foi.
Os
voluntários chegaram num camião velho, desgastado pelos anos e operações de
combate.
Passaram
em grande velocidade e dirigiram-se em linha recta para o centro do incêndio!
Entraram
pelo fogo adentro e só pararam mesmo no meio das
chamas.
Estupefacta,
a população assistiu a tudo.
Os
voluntários saltaram todos do camião e começaram a pulverizar freneticamente em
todas as direcções. Como estavam mesmo no meio do fogo, as chamas dividiram-se,
e restaram duas porções facilmente
controláveis.
Impressionado
com o trabalho dos voluntários da Vidigueira , o latifundiário dono do monte
respirou de alívio quando viu a sua herdade ser poupada à devastação das chamas.
Na hora puxou da carteira e passou imediatamente um cheque de 5000 euros à
corporação voluntária.
Um
repórter do jornal local perguntou logo ao comandante dos
bombeiros:
- 5000
euros! Já pensou o que vai fazer ao
dinheiro?
- Penso que é óbvio,
né? - responde o comandante ainda a sacudir a cinza do capacete. - A primeira
coisa que vamos fazer é arranjar a porra dos travões do
camião!!!
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 108
Porque diferente, que queria dizer João Fulgêncio,
homem tão ilustrado com aquela coisa de “carácter”? A verdade é que ela
aparecera no velório, levando flores. O pai visitara Jesuíno, “levara-lhe o seu
abraço” como ele mesmo dissera a Nacib no “mercado de escravos”.
A filha, moça solteira e estudante, à espera de noivo,
que diabo fora fazer junto ao caixão de Sinhàzinha? Tudo dividido, o pai de um
lado, a filha do outro. Esse mundo é complicado, entenda-o quem qui ser, estava acima de suas forças, não passava de
dono de bar, porque pensar em tudo isso?
Tinha era de ganhar dinheiro para um dia comprar roça
de cacau. Se Deus ajudasse, haveria de comprar. Talvez então pudesse olhar o
rosto de Malvina, tentar decifrar o seu enigma. Ou pelo menos botar casa para
rapariga igual a Glória.
Estava com sede, foi beber água na moringa da cozinha.
Viu o pacote com o vestido e os chinelos, trazidos da loja do tio. Ficou
indeciso. O melhor era entregar no outro dia. Ou botar na porta do quartinho
dos fundos para a empregada encontrar quando acordasse. Como se fosse Natal…
Sorriu, tomou do embrulho. Na cozinha engoliu a água
em grandes goles, bebera muito naquele dia, durante o jantar, ajudando a
servir.
A Lua, no alto dos céus, iluminava o qui ntal de mamoeiros e goiabeiras. A porta do quarto
da empregada estava aberta. Talvez por causa do calor. No tempo de Filomena era
trancada à chave, a velha tinha medo de, ladrões, sua riqueza eram os quadros
dos santos.
O luar entrava quarto adentro. Nacib aproximou-se,
deixaria o pacote nos pés da cama, ela levaria um susto pela manhã. E talvez na
própria noite…
Os olhos perscrutaram a escuridão. A réstia de luar
subia pela cama, iluminava um pedaço de perna. Nacib firmou a vista, já excitado.
Esperara dormir essa noite nos braços de Risoleta, nessa certeza fora ao
cabaré, antegozando a sabedoria dela, de prostituta de cidade grande.
Ficara-lhe o desejo irritado. Agora via o corpo moreno de Gabriela, a perna
saindo da cama. Mais do que via, adivinhava sob a coberta remendada, mal
cobrindo a combinação rasgada, o ventre e os seios. Um seio saltava pela
metade, Nacib procurava enxergar. E aquele perfume de cravo de tontear.
Gabriela agitou-se no sono, o árabe transpusera a
porta. Estava com a mão estendida, sem coragem de tocar, o corpo dormido.
Porque apressar-se? Se ela gritasse, se fizesse um escândalo, fosse embora?
Ficaria sem cozinheira, outra igual a ela jamais encontraria. O melhor era
deixar o pacote na beira da cama. No outro dia demoraria mais em casa, ganhando
sua confiança pouco a pouco, terminaria por conqui stá-la.
Sua mão quase tremia pousando o embrulho. Gabriela
sobressaltou-se, abriu os olhos, ia falar, mas viu Nacib de pé, a fitá-la. Com
a mão instintivamente procurou o cobertor, mas tudo o que conseguiu – por
acanhamento ou por malícia? - foi fazê-la escorregar da cama. Levantou-se a
meio, ficou sentada, sorria tímida. Não buscava esconder o seio, agora visível
ao luar.
- Vim
trazer-lhe um presente – gaguejou Nacib – ia botar em sua cama. Cheguei
agorinha…
Ela sorria, era de medo ou era para encorajar? Tudo
podia ser, ela parecia uma criança, as coxas e os seios à mostra, como se não
visse mal naqui lo, como se nada
soubesse daquelas coisas, fosse toda ela inocência. Tirou o embrulho da mão
dele:
- Obrigado,
moço. Deus lhe pague.
(carregue na imagem do "casal". Gabriela, "mulher criança". Nacib, "moço de sorte".)
SOBRE O TEMA: "COMO ERA SER CRIANÇA?"
Menores
No
tempo de Jesus, as crianças não tinham direitos, tinham muitas
responsabilidades e de muito pouco valiam. As
meninas, essas, ainda valiam menos. Das
meninas disseram que eram um "tesouro ilusório." Os filhos e filhas eram vistas como
uma bênção de Deus, mas sua importância só era verdadeira quando chegavam à
"maior idade”", que acontecia muito cedo, aos doze anos.
Do ponto de vista dos direitos da lei e obrigações
religiosas, o baixo valor das meninas era descrito por incluí-las nesta
fórmula, comum nos escritos da época: ". Surdo, mudo e jovem".Também eram citadas juntamente com os
idosos, doentes, escravos, mulheres, deficientes, homossexuais e deficientes
visuais
sexta-feira, maio 25, 2012
O Director Geral de um Banco, estava preocupado com um jovem e brilhante
director, que depois de ter trabalhado durante algum tempo com ele, sem parar
nem para almoçar, começou a ausentar-se ao meio-dia. Então o Director Geral
do Banco chamou um detective e disse-lhe:
- Siga o Dr. Mendes durante uma semana, durante a hora do almoço.
O detective, após cumprir o que lhe havia sido pedido, voltou e informou:
- O Dr. Mendes sai normalmente ao meio-dia, pega no seu carro, vai a sua casa
almoçar, faz amor com a sua mulher, fuma um dos seus excelentes cubanos e
regressa ao trabalho.
Responde
o Director Geral:
- Ah, bom, antes assim. Não há nada de mal nisso.
O detective pergunta-lhe:
- Desculpe. Posso tratá-lo por tu?
- 'Sim, claro' respondeu o Director surpreendido!
- Então vou repetir : o Dr. Mendes sai normalmente ao meio-dia, pega no teu
carro, vai a tua casa almoçar, faz amor com a tua mulher, fuma um dos teus
excelentes cubanos e regressa ao trabalho.
|
Os AUTORES MAIS IMPORTANTES
DO SÉCULO XX E O QUE APRENDEMOS
OU "DEVÍAMOS TER APRENDIDO" COM ELES
Texto de José Mário Silva
EMÍLIO SALGARI (1862-1911)
Ao criar Sandokan, o temível Tigre da Malásia, e outros personagens igualmente corajosos (como o Corsário Negro), iluminou milhões de infâncias num tempo em que ainda não havia televisão nem Play Station.
A fama de Salgari era tão grande que lhe atribuíram uma centena de livros apócrifos, para além dos 200 que escreveu realmente. A lista de figuras que o assumiram como leitura infantil vai de Umberto Eco a Sergio Leone, de Isabel Allende a Che Guevara, passando pelo português Mário de Carvalho.
O que nos ensinou:
- A tensão dos romances de aventuras que nos tiram o fôlego.
P.S. - As histórias de Sandokan foram as mais arrebatadoras da minha juventude. Nem uma matiné de um filme de acção conseguia recriar a emoção sentida pela leitura das aventuras do meu herói favorito e dos seus amigos (Kamamuri, Tremail Naik e o português Gastão.)
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 107
Noite de Gabriela
Entrou na sala, arrancou os sapatos.
Ficava grande parte do dia em pé, andando de mesa em mesa. Um prazer tirar os
sapatos, as meias, mexer os dedos dos pés, dar uns passos descalços, enfiar os
velhos chinelos “cara de gato”.
Sentimentos e imagens baralhavam-se em
sua cabeça. Anabela havia terminado seu número, estaria na mesa dom Ribeirinho
bebendo champanhe. Tonico Bastos não aparecera naquela noite.
E o Príncipe? Chamava-se Eduardo da
Silva, no seu cartão constava: “artista”. Um clínico, isso sim. Adulando o
fazendeiro, empurrando a mulher para seus braços, negociando com o corpo dela.
Nacib encolheu os ombros. Talvez fosse apenas um pobre diabo, talvez Anabela
não significasse grande coisa para ele, simples ligação acidental de trabalho.
Aquele era seu negócio, seu ganha-pão,
tinha cara de já haver passado muita fome. Sujo ganha-pão, sem dúvida, e qual o
limpo? Porque julgá-lo e condená-lo? Quem sabe se não seria ele mais decente do
que os amigos de Osmundo, seus companheiros de bar, de literatice, de bailes no
clube Progresso, de conversas sobre mulheres, todos eles cidadãos honrados mas
incapazes de levar o corpo do amigo ao cemitério?...
Homem direito era o Capitão. Pobre, sem
outro recurso além do emprego de colector federal, sem roças de cacau, mantinha
suas opiniões, enfrentava qualquer um. Não era íntimo de Osmundo, e lá estava
no enterro, segurando uma alça do caixão. E o discurso no jantar? Sapecara o
nome de Mundinho na cara de todos, na presença do coronel Ramiro Bastos.
Recordando o jantar Nacib estremeceu.
Até tiro podia ter saído, foi uma sorte ter terminado em paz. Aliás , era apenas
o começo, o próprio Capitão dissera. Mundinho tinha dinheiro, prestígio no rio,
amigos no Governo Federal, não era um “porcaria qualquer” como o Dr. Honorato,
médico idoso e alquebrado, chefe de oposição a dever favores a Ramiro, a
pedir-lhe emprego para os filhos.
Mundinho ia arrastar muita gente,
dividir os fazendeiros donos de votos, fazer misérias. Se conseguisse, como
prometia, trazer engenheiros e dragas para desentulhar a barra… Podia tomar
conta de Ilhéus, botar os Bastos no ostracismo.
Também o velho estava no fim, Alfredo só
existia na Câmara por ser seu filho, bom médico de meninos e nada mais.
Quanto a Tonico… aquele não nascera para
a política, para mandar e desmandar, fazer e desfazer. A não ser quando se
tratava de mulheres. Nem aparecera no cabaré naquela noite. Certamente para não
enfrentar as discussões em torno do artigo, não era homem de brigas.
Nacib balançou a cabeça. Amigo de uns e
de outros, do Capitão e do Tonico, de Amâncio Leal e do Doutor, com eles bebia,
jogava, conversava, ia a casa de mulheres. Deles vinha-lhe o dinheiro que
ganhava. E agora se encontravam divididos, cada um para seu lado.
Só numa coisa estavam todos de acordo:
em matar mulher adúltera, nem mesmo Capitão defendia Sinhàzinha. Nem mesmo seu
primo, em cuja casa o corpo fora encomendado para o cemitério. Que diabo viera
ali fazer a filha do coronel Melk Tavares, aquela por quem Josué suspirava
apaixonado, uma de rosto famoso, calada, os olhos inqui etos
como se conduzisse um segredo, um mistério qualquer? Uma vez João Fulgêncio
dissera, ao vê-la, com outras colegas comprando chocolate no bar:
-
Essa moça é diferente das outras, tem carácter.
COM JESUS CRISTO SOBRE
O TEMA:
“COMO ERA SER CRIANÇA”
RACHEL - Estamos em Nazaré, onde Jesus
cresceu em sabedoria, idade e graça, e onde Emissoras Latinas o continuam a
entrevistar. O senhor foi criança aqui .
Conte-nos como era a vida das crianças no seu tempo.
JESUS - Que te fez direi, Raquel…?
Tínhamos de trabalhar desde muito jovem. Aqueles que não cuidavam de ovelhas ou
cabras pisavam uvas, aprendíamos a semear, a moer o grão…
RAQUEL - Hoje há convenções
internacionais que falam dos Direitos da Criança… no seu tempo?
JESUS - No meu tempo, nenhum direito, tudo torcido. As
crianças eram metidas no mesmo saco que os doentes, escravos e mulheres. Os
últimos da lista. O único valor dos pequenos era que... um dia seriam grandes.
RAQUEL - E as meninas?
JESUS - Pior que eles. As meninas cresceram e... c0ntinuavam sem ter
valor. Olha para aqueles dois ali correndo... Ei!, meninos, venham cá.
MENINA
- Vocês são turistas?
JESUS - Ela é uma
jornalista…
CRIANÇA
- Meu pai tem uma barba como o senhor…
JESUS
- Querem um
pêlo da minha barba? … Vamos ver qual de
vós mo tira!
RACHEL -
Olha parece um pai com os seus filhos ... O senhor nunca teve filhos?
Não qui s tê-los?
JESUS - Que árvore
não querem deixar sementes, Raquel?
Menina – O senhor, como se chama?
JESUS - Jesus.
MENINA - E ela?
JESUS -
Raquel. E tu como te chamas?
MENINA - Samira.
JESUS – E tu?
CRIANÇA - William.
JESUS -
Samira e William. Estes nomes não
existiam no meu tempo…
MENINA – O senhor sabe contar histórias?
JESUS – Eu sei milhares de histórias. Sei
também advinhas!
RAQUEL -
Desculpe, Jesus Cristo, mas gostava de retornar ao tema dos seus filhos…
MENINA – Ele não se chama Jesus Cristo, chama-se
Jesus.
MÃE -
Eih! meninos... Onde se meteram?... Samira, William não incomodem esses
senhores.
CRIANÇAS – Ele vai contar-nos uma
história!
JESUS - Vão, vão com
a vossa mãe… Depois voltarei para a história…
RACHEL – Dá-se bem com crianças, certo?
JESUS -
Sempre
gostei de falar com eles Uma vez ... uma garota como essa Samira disse-me
quando as cabras da montanha dão à luz , onde os gaviões fazem seus ninhos... é
que as crianças não só aprendem ... também ensinam… Temos uma chamada ... Olá? - Piron, sou Claude Piron, um psicólogo. Eu
tenho ouvido o seu programa e estou muito satisfeito com ele... Já se passaram
dois mil anos e vejo que Jesus Cristo continua o mesmo, um revolucionário.
RAQUEL -
Por que diz isso Monsieur Piron?
PIRON - Porque só recentemente é que as crianças são
cidadãos . Até ao Século XX víamo-los como animalitos que os adultos tinham que
domar. Que uma criança tivesse valor em si mesma não ocorria a ninguém mas, a
Jesus Cristo, sim, ocorreu-lhe.
RAQUEL - Obrigado amigo psicólogo por nos ter
ligado. Então, pelo que acabamos de ouvir, o senhor estava à frente de seu
tempo.
JESUS - Ou talvez
eles estivessem atrasados…
RAQUEL – Eles, quem?
JESUS - O grupo… Lembro-me que uma vez estávamos conversando em
Cafarnaum e aproximaram-se algumas crianças. Tiago, João e Pedro ficaram aborrecidos
e mandaram-nos embora dizendo que estávamos falando de coisas.
RAQUEL - E o senhor?
JESUS - Eu
chamei-os e disse-lhes que ficassem junto de nós. E a Pedro e aos outros
advertiu-os: Quanto mais pequenos maiores serão no reino de Deus.
RAQUEL -
Bem, olha, aí vêm os dois novamente…
JESUS - Samira e
William ...
RAQUEL - Nós nos separamos e acabamos aqui o programa e o senhor vai-lhes contar as
história que prometeu ...
Da Nazaré, Raquel Perez. Emissoras
latinas.
quinta-feira, maio 24, 2012
Seria bom não esquecer a história…
«Quando, em maio de 1945, a Alemanha perdeu a
II Guerra Mundial, tinham morrido, ninguém sabe ao certo, uns 40 milhões de
pessoas. O país estava literalmente destruído e contava, por sua vez, cerca de
sete milhões de mortos. As potências vencedoras decidiram viabilizar
economicamente a nova Alemanha, apesar de a terem separado da Áustria e de a
terem dividido: a RFA sob a tutela da Grã-Bretanha, França e Estados Unidos; a
RDA sob a tutela da União Soviética. Mas esta solução foi bem melhor do que a
que Churchil, o primeiro--ministro inglês da guerra, chegou a planear:
transformar o país num enorme campo agrícola, sem indústrias, sem serviços, sem
nada.
De 1947 até1952 a
Alemanha Ocidental recebeu, do Plano Marshal, 3,3 mil milhões de dólares. Esta
dívida foi paga ao longo de 25 anos, até 1978: mil milhões pelo Governo, os
restantes 2,3 mil milhões por um Fundo que emprestou esse dinheiro a juros
baixos e a prazos longos, principalmente a pequenas e médias empresas.
A partir de março de 1960 - 15 anos depois do fim da guerra - a Alemanha Ocidental - graças a um dos maiores crescimentos económicos de sempre, de que o povo da RFA tem todo o mérito mas que só foi possível realizar por não ter faltado dinheiro para investir - começou finalmente a pagar indemnizações devidas a 11 Estados : a Grécia recebeu 115 milhões de marcos alemães, a França 400 milhões, a Polónia cem milhões, a Rússia sete milhões e meio, a então Jugoslávia oito milhões. Foram pagos três mil milhões de marcos a Israel e 450 milhões a organizações judaicas.
Depois da reunificação da Alemanha, com a queda do bloco soviético, a reconstrução da RDA custou, de1991
a 2009, 1,3 biliões de dólares, sendo que 120 mil
milhões vieram de ajudas externas.
Hoje a Alemanha é um dos países que mais contribuíram para ajudar o exterior. É uma das quatro ou cinco economias mais fortes do mundo. É um grande Estado.
Olho o que se passa na Grécia, onde a população, martirizada por cinco anos de austeridade, exige o fim do acordo com a troika e pede, simplesmente, mais tempo e melhores condições para pagar o que deve e para recompor a economia do país. A Alemanha olha-a com desdém, recusa o apelo, ameaça tirá-la do euro, culpa-a por irresponsabilidade e exige castigo por não cumprir os acordos da troika.
Olho esta suposta culpa dos gregos e comparo-a com a culpa dos alemães, há 67 anos. Se os vencedores da guerra de então tivessem sido tão insensatos como os dirigentes da actual guerra financeira, que restaria, agora, da grande Alemanha?»
De 1947 até
A partir de março de 1960 - 15 anos depois do fim da guerra - a Alemanha Ocidental - graças a um dos maiores crescimentos económicos de sempre, de que o povo da RFA tem todo o mérito mas que só foi possível realizar por não ter faltado dinheiro para investir - começou finalmente a pagar indemnizações devidas a 11 Estados : a Grécia recebeu 115 milhões de marcos alemães, a França 400 milhões, a Polónia cem milhões, a Rússia sete milhões e meio, a então Jugoslávia oito milhões. Foram pagos três mil milhões de marcos a Israel e 450 milhões a organizações judaicas.
Depois da reunificação da Alemanha, com a queda do bloco soviético, a reconstrução da RDA custou, de
Hoje a Alemanha é um dos países que mais contribuíram para ajudar o exterior. É uma das quatro ou cinco economias mais fortes do mundo. É um grande Estado.
Olho o que se passa na Grécia, onde a população, martirizada por cinco anos de austeridade, exige o fim do acordo com a troika e pede, simplesmente, mais tempo e melhores condições para pagar o que deve e para recompor a economia do país. A Alemanha olha-a com desdém, recusa o apelo, ameaça tirá-la do euro, culpa-a por irresponsabilidade e exige castigo por não cumprir os acordos da troika.
Olho esta suposta culpa dos gregos e comparo-a com a culpa dos alemães, há 67 anos. Se os vencedores da guerra de então tivessem sido tão insensatos como os dirigentes da actual guerra financeira, que restaria, agora, da grande Alemanha?»
Pedro Tadeu. ( Do Diário de Notícias)
PS - Vi esta semana um documentário que
mostrou o que foi o drama da ocupação da França pelos alemães e as sequelas que
ela deixou entre os franceses.
Durante esses anos, os franceses foram utilizados,
humilhados, mortos, escravizados, reduzidos a peças de um jogo por um exército
invasor constituída por gente soberba, insensível e desumana.
Comparar esses crimes com as “trafulhices político/contabilísticas”
dos gregos merecedoras do castigo da Sra. Merkel, é a mesma coisa que confundir
as traqui nices do miúdo do 5º andar
com os assaltos violentos dos gangs suburbanos.
A Srª Merkel e os alemães não se esqueçam
que a fome e o desespero podem acordar memórias recentes e o projecto que foi
de paz pode degenerar e atraiçoar os seus objectivos.
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 106
E nada mais se passou. Apenas todos
compreenderam que Mundinho assumira, a partir daquele dia, a chefia da oposição
e começara a luta.
Não mais uma luta como a de antes, do
tempo da conqui sta da terra. Agora
as repetições e as tocaias, os cartórios queimados e as escrituras falsa não
eram decisivos. João Fulgêncio disse ao Juiz.
-
Em vez de tiros discursos… é melhor assim.
Mas o Juiz duvidava.
-
Isso acaba mesmo é em bala, você vai ver.
O coronel Ramiro Bastos retirou-se logo,
acompanhado de Tonico. Outros espalharam-se pelas mesas do bar, continuaram a
beber. Formou-se uma roda de pocker, no reservado, alguns dirigiam-se para os
cabarés. Nacib ia de grupo em grupo activando os empregados, a bebida corria.
No meio de toda aquela atrapalhação,
recebeu, trazido por um moleque, um bilhete de Risoleta. Ela queria vê-lo sem
falta naquela noite, ia esperá-lo ao Bataclan.
Assinava «sua bichinha Risoleta»; o
árabe sorriu satisfeito ; junto à caixa estava o pacote para Gabriela: um
vestido de chita, um par de sandálias.
Quando terminou a sessão de cinema o bar
encheu. Nacib não tinha mãos a medir. Agora as discussões em torno do artigo
dominavam as conversas. Ainda havia quem falasse no crime da véspera, as
famílias elogiavam o prestidigitador. Mas o assunto, em quase todas as mesas,
era o artigo do diário de Ihéus.
O movimento durou até tarde, era mais de
meia-noite quando Nacib fechou a caixa e dirigiu-se ao cabaré. Numa mesa com
Ribeirinho, Ezequi el e outros, Anabela
pediu opiniões para o seu Álbum. Nhô-Galo, romântico, escreveu. «Tu és, ó
dançarina, a encarnação da própria arte» O Dr. Ezequi el,
num pileque grandioso, acrescentara, a letra tremida. «Quem me dera ser gigolô
da arte».
O Príncipe Sandra fumava, sua longa
piteira, imitação de marfim. Ribeirinho, muito íntimo, batia-lhe nas costas,
narrava-lhe as grandezas da sua fazenda.
Risoleta esperava Nacib. Levou-o para um
canto da sala. Contou-lhe amarguras: amanhecera doente, voltara-lhe uma
complicação antiga que infernava os dias, tivera de chamar o médico. E estava
sem dinheiro nenhum, nem para os remédios. Não tinha a quem pedir, não conhecia
quase ninguém. Recorria a Nacib, ele fora tão gentil naquela noite…
O árabe passou-lhe uma cédula,
resmungando; ela acariciou-lhe os cabelos.
-
Fico boa logo, dois três dias, mando te chamar…
Partiu apressada. Estaria mesmo doente
ou seria uma comédia para tomar-lhe o dinheiro, ir gastar com um estudante ou
um caixeiro numa ceia regada a vinho?
Nacib sentia-se irritado, esperava ir
dormir com ela, nos seus braços esquecer o dia melancólico de enterros,
trabalhoso e inqui eto de banquete e
intrigas políticas. Dia de arrasar um homem. Terminando naquela decepção.
Segurava o pacote para Gabriela. As luzes se apagavam, a dançarina apareceu
vestida com suas penas. O coronel Ribeirinho chamava o garçon, comandava
Champanhe.
INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES
À ENTREVISTA
Nº 50 SOBRE O TEMA: “ATÈ QUE A MORTE OS SEPARE” (4)
Indissolúvel… Mas Anulável
A Igreja Católica considera o casamento
"indissolúvel" feito em qualquer rito católico, interpretando as
palavras de Jesus no Evangelho de Mateus como uma proibição e condenação de
divórcio. O Código dos Cânones
da Igreja Católica afirma que quem tenha casado pela igreja e divorciado pelo
civil não só não pode voltar a casar pela igreja como também não pode receber
a Comunhão na missa, e vive em pecado. Em
2002, o Papa João Paulo II sublinhou esta doutrina:
“Considerar
a indissolubilidade não como uma norma jurídica natural, mas como um simples ideal,
desvirtua o sentido da inequívoca declaração de Jesus Cristo que recusou em
absoluto o divórcio, porque "ao princípio não foi assim” (Mateus 19, 8).
No entanto, para o próprio Vaticano casamentos indissolúveis
são anuláveis. As sentenças de
anulação são concedida pelo Tribunal da Rota, um dos mais antigos do mundo, e
que assim é chamado pelo facto da sala onde historicamente se iniciaram os
trabalhos no Século XIV ser circular.
A anulação significa que legalmente o casamento "nunca
existiu". Aqueles que
pedem a anulação alegam vários motivos: que foi feita sob coação, medo, ou o
'temor dos pais; "o cônjuge era impotente e casamento" não se
consumou "; que um dos cônjuges era homossexual; haver uma disparidade
de cultos entre os cônjuges; o casamento ter-se realizador sem testemunhas ou
por um sacerdote não autorizado; que o
consentimento não foi suficientemente demonstrado; que um dos cônjuges escondeu
que não queria ter filhos; que o cônjuge ocultou que não era virgem quando o
outro só se teria casado nessa situação… Ultimamente, também as sogras
apareceram como motivo para o pedido de nulidade do casamento por imporem uma
excessiva dependência a um dos cônjuges.
A Santa Sé diz
que estes processos são gratuitos em 85% dos casos, quando se verifica
"miséria" dos requerentes. É
difícil acreditar que um homem indigente ou simplesmente pobre consiga chegar
ch a um tribunal superior.
O custo
médio estimado de um processo é de 2 000 euros e 500 € para o advogado mais 260
euros para o imposto, além de outras despesas. O processo dura cerca de dois anos. O principal objectivo daqueles que
buscam a anulação é para se poderem casar novamente numa cerimónia católica
que é um ritual sempre mais atraente e socialmente reconhecido. Em
|
quarta-feira, maio 23, 2012
A Crise é Má Conselheira
Nada fará mudar a natureza humana quando se trata de sobreviver.
São comportamentos ou reacções, talvez
mais estas, instintivas que obedecem a leis que se inscrevem em padrões de
sobrevivência muito anteriores à própria civilização.
Quando se trata de sobreviver parece que
o mundo é demasiado pequeno… os horizontes estreitam-se.
De certa forma, parece que foi isso que
os trabalhadores ingleses apoiados pelos respectivos sindicatos nos qui seram dizer aqui
há uns tempos, quando se manifestaram e fizeram greves de protestos contra a
contratação de portugueses e italianos para uma empreitada de uma empresa
francesa a operar no Reino Unido:
-… “Desculpem lá, isto não tem nada de
pessoal, mas estamos na nossa terra e temos que defender os nossos empregos…”
dizia o trabalhador inglês ao ser entrevistado para a televisão, a modos de
quem pede desculpa.
Os trabalhadores portugueses regressaram
a Portugal e ao falarem para a TV mostraram-se perfeitamente conformados,
pensando lá para com eles:
-
“…na nossa terra teríamos feito o mesmo.”
No fundo, é um procedimento de género
idêntico ao que resulta das palavras do Presidente Obama quando pede ou
estimula os seus concidadãos a comprarem americano e muitos outros países
europeus a lançaram campanhas à aquisição de bens e serviços nacionais.
É verdade que a Comissão Europeia já
assinalou que irá analisar a conformidade das novas regras americanas com os
compromissos assumidos no âmbito da Organização Mundial do Comércio.
E também é verdade que no plano interno
europeu irá ser prestada atenção às medidas que os Estados venham a tomar em
violação do princípio da não descriminação.
É natural, portanto, que todas estas
reacções proteccionistas com repercussões no mercado de trabalho venham a
ocupar nos próximos tempos, a agenda dos que têm que tomar decisões políticas.
O Dr. António Vitorino, face a estes
comportamentos, afirma, com toda a razão que lhe assiste, que não só estamos a
tornar mais difícil a saída da crise como, igualmente, estamos a atentar contra
valores civilizacionais.
Na verdade, uma medida proteccionista
favorece no curto prazo mas prejudica no médio e longo prazo. A crise é global
e tudo quanto possa contribuir para diminuir os fluxos comerciais
internacionais de produtos e serviços, prolongará e agravará a crise.
No plano civilizacional é, realmente, um
retrocesso, um voltar atrás, ao tempo do cada um por si mas, como resistir
nestes tempos de sobrevivência a estas atitudes?
Lembramo-nos todos quando, ainda não há
muitos meses, duas cidades no norte de Portugal disputaram duramente entre si,
a instalação de uma fábrica que iria criar postos de trabalho em qualquer um
dos concelhos em que viesse a instalar-se.
Estávamos no mesmo país, até na mesma
região, mas nenhum cidadão de qualquer um dos dois Concelhos teria levado a bem
que o seu Presidente não tivesse feito tudo para “ganhar a fábrica para si”,
É inevitável… a expressão do trabalhador
inglês ao justificar a sua luta pelos postos de trabalho que iriam ser criados,
ali, na sua terra, não demonstrava nenhuma animosidade contra os candidatos
portugueses ou italianos, apenas uma reivindicação que a ele lhe parecia
completamente justa.
O Dr. António Vitorino reconhece a
delicadeza do momento e escreve:
-
“A situação em causa espelha a angústia e insegurança dos trabalhadores
britânicos perante o espectro do desemprego e revela que há dinâmicas que, uma
vez desencadeadas não são facilmente reversíveis, além de abrirem as portas
para práticas retaliatórias que, no limite, ainda agravarão mais a situação de
crise em que vivemos”.
Por extensão, podemos dizer que uma
crise financeira origina outras crises de natureza moral que tem a ver com
princípios e até com a própria racionalidade.
Graves responsabilidades para as
Organizações Internacionais uma vez que as nacionais não têm força ou coragem
para as verdadeiras soluções que nunca serão fáceis.
A
Crise é Má Conselheira.
GABRIELA
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 105
-
Vai bem, coronel.
Demorou-se um pouco no grupo formado por
Mundinho, João Fulgêncio e o Capitão. Nacib sentiu-se cheio de admiração pelo
velho: ele devia estar se comendo por dentro, de raiva e nada deixava transparecer,
aqueles que se preparavam para lutar contra o seu poder para arrancar-lhe os
postos, como se fossem crianças sem juízo, não oferecessem perigo.
Sentaram-no à cabeceira da mesa, entre
os dois intendentes; Mundinho vinha logo depois entre os Juízes. A comida das
irmãs Dos Reis começou a ser servida.
A princípio ninguém estava completamente
à vontade. Comiam, bebiam, conversavam, riam, mas havia uma inqui etação na mesa, como se esperassem um
acontecimento.
O coronel Ramiro não tocava na comida,
apenas provara o vinho. Seus olhos miúdos passeavam de conviva a conviva.
Escureciam-se ao pousar em
Clóvis Costa , no Capitão, em Mundinho. De súbito qui s saber porque o Doutor não comparecera e
lamentou a sua ausência. Aos poucos, o ambiente foi-se fazendo mais alegre e
despejado. Contavam-se anedotas, descreviam-se as danças de Anabela, elogiavam
a comida das irmãs Dos Reis.
E finalmente chegou a hora dos
discursos. O russo Jacob e Moacir haviam pedido ao Dr. Ezequi el Prado que falasse em nome da Empresa, oferecendo
o jantar. O advogado levantou-se, bebera muito, tinha a língua pastosa, quanto
mais bebia melhor falava. Amâncio Leal
segredou qualquer coisa aos ouvidos do Dr. Maurício Caíres. Sem dúvida
prevenindo-o para estar atento.
Se Ezequi el,
cuja lealdade política ao coronel Ramiro encontrava-se vacilante desde as
últimas eleições, entrasse a fazer comentários sobre o caso da barra competiria
a ele, Maurício, responder na bucha.
Mas o Dr. Ezequi el,
em dia de muita inspiração, tomou como tema principal a amizade entre Ilhéus e
Itabuna, as cidades irmãs da zona do cacau, agora ligadas também pela nova
Empresa de Ónibus essa “monumental realização” de homens empreendedores, como
Jacob, “vindo das estepes geladas da Sibéria para impulsionar o progresso deste
rincão brasileiro”, frase que humedeceu os olhos de Jacob, em realidade nascido
num «ghetto» de Kiev e a Moacir, “o homem que se fez à custa do próprio
esforço, exemplo de trabalho honrado”.
Moacir baixava a cabeça, modesto,
enquanto em torno ressoavam apoiados. Por aí foi, gastando muita civilização e
muito progresso, prevendo o futuro da zona, destinada a “alcançar rapidamente
os píncaros mais elevados da cultura”.
O Intendente de Ilhéus, xaroposo e
interminável, saudou o povo de Itabuna, coronel Aristóteles Pires, agradeceu em
poucas palavras. Observava o ambiente, pensativo. Levantou-se o Dr. Maurício,
soltou o verbo, serviu-lhes a Bíblia como sobremesa. Para concluir, elevando um
brinde a “esse impoluto ilheense, a quem tanto deve a nossa região, varão de
insignes virtudes, administrador operoso, pai de família exemplar, chefe e
amigo, coronel Ramiro Bastos”.
Beberam todos, Mundinho brindou com o
coronel. Apenas Dr. Maurício se sentara e já o Capitão pusera-se de pé, uma
taça na mão. Também ele queria fazer um brinde, disse, aproveitando aquela
festa que marcava um passo a mais no progresso da zona do cacau. A um homem
chegado das grandes cidades do sul para empregar naquela região sua fortuna e
suas extraordinárias energias, sua visão de estadista, seu patriotismo.
A esse homem, a quem Ilhéus e Itabuna já
tanto deviam, cujo nome estava anonimamente ligado a essa empresa de Ónibus como
a tudo mais que nestes últimos anos empreendera o povo ilheense, a Raimundo
Mendes Falcão, ele levantava sua taça. Foi a vez do coronel brindar com o
exportador. Segundo contaram depois, durante todo o discurso do Capitão,
Amâncio Leal manteve a mão na coronha do revólver.
(Click na imagem e ajude a jovem a escolher o vestido)
À ENTREVISTA Nº
50 SOBRE O TEMA:
“ATÉ QUE A MORTE OS SEPARE” (3)
Não contra o divórcio, mas contra o
machismo
As palavras de Jesus: «O
que Deus uniu não o separe o homem »(Mateus
19,3-12) não contém um princípio abstracto da indissolubilidade do casamento. "O homem" deve ler-se
"o varão".
Jesus faz uma
queixa muito específica de arbitrariedade machista: que não separe "o
varão”" o que Deus uniu. A
família não deve estar dependente dos caprichos do varão, e as mulheres, por intransigência
do marido, ficarem desprotegidas. Confrontado
com o emaranhado de interpretações jurídicas que existiam em Israel sobre o
divórcio, e que sempre favoreceram o marido, Jesus voltou-se para as origens e lembrou
que no início Deus criou o homem e a mulher à sua imagem, iguais em dignidade e
direitos em oportunidades. Jesus
não falou contra o divórcio, falou contra o machismo.
terça-feira, maio 22, 2012
Um grupo de três antropólogos (um
inglês, um francês e um português) parte numa arriscada expedição científica
para estudar os hábitos de uma tribo tibetana de canibais, famosa pelos seus
poderes prodigiosos e por usar a pele humana para fabricar as melhores pirogas
do mundo.
Chegados à fronteira do território
desta tribo terrível, de onde ninguém regressara vivo, os guias sherpas
piraram-se, deixando os três intrépidos cientistas entregues à sua sorte.
Preparados para o pior, estranharam a recepção fidalga e hospitaleira
dispensada pelos canibais, que os estragaram com mimos de toda a espécie.
Só repararam que tinham estado no
período da engorda quando o chefe da tribo lhes comunicou, com uma solene
amabilidade, que eles iam ser submetidos a uma prova.
Cada cientista tinha o direito a um pedido - o mais extravagante que a sua imaginação concebesse. Seria devolvido à civilização, se eles conseguissem satisfazer esse o pedido. Caso contrário entraria imediatamente no circuito alimentar da tribo e a sua pele seria usada no fabrico de uma piroga.
"Quero um cognac Cornet Vintage
de 1811, servido pela miúda do anúncio da Martini, trazida no Rolls Royce dos
Beatles", pediu, bastante seguro de si, o cientista inglês.
Uma onda de agitação percorreu os canibais, que se afadigaram numa lufa-lufa de faxes e telefonemas. Duas horas volvidas, a menina da Martini, saída do célebre Rolls, patinava com a bandeja na mão em direcção ao inglês, que fleumaticamente saboreou o cognac pré-filoxera antes de ser atirado para o fundo da panela.
"Quero ver aqui, a desfilarem à
minha frente, nuas e montadas em camelos albinos, as dez últimas Miss
Mundo", exigiu o francês. A seguir à azafama habitual dos indígenas, o
desejo foi satisfeito, o segundo cientista chacinado e os seus restos mortais
transformados em salsichas e pirogas.
Chegada a sua vez, o português
surpreendeu tudo e todos ao pedir um garfo. "Um garfo?!? Um garfo de ouro?
O garfo cravejado de diamantes do imperador Bokassa?", interrogou atencioso
o chefe dos canibais.
"Não, um garfo qualquer",
precisou o português que, após ver o pedido atendido, desatou a furar
furiosamente a sua pele, espetando-se com o garfo enquanto gritava
repetidamente: "Ide fazer pirogas pró caralho !!!"
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 104
Também ele tinha lido o artigo no jornal
e também ele temia pelo sucesso da festa. Gente esquentada, essa de Ilhéus… Seu
sócio, Moacir Estrela, esperava, na garagem pessoas, incluindo o Intendente e o
Juiz de Direito.
E agora esse malfadado artigo a lançar a
cizânia, a desconfiança e a divisão entre os seus convidados.
-
Isso ainda vai dar muito que falar.
O Capitão, tendo aparecido antes para a
costumeira partida de gamão, confidenciara a Nacib ser o artigo apenas um
começo. O primeiro de uma série, e não irão ficar em artigos, Ilhéus viveria
grandes dias. O Doutor, os dedos sujos de tinta, os olhos brilhantes de
vaidade, lá estivera rapidamente, declarando-se ocupadíssimo. Quanto a Tonico
Bastos, não voltara ao bar, constava ter sido chamado com urgência ao coronel
Ramiro.
Os primeiros convidados a chegar foram
os de Itabuna, louvando a viagem em marinete, o percurso feito em hora e meia,
apesar da estrada não estar ainda completamente seca.
Olhavam com condescendente curiosidade
as ruas, as casas, a Igreja, o bar Vesúvio, o stock de bebidas, o cine teatro
Ilhéus, achando que em Itabuna tudo era melhor, não havia igrejas como as de lá, cinema melhor do que o deles,
casas que se igualassem às novas moradias itabunenses, bares mais ricos em
bebidas, cabarés tão frequentados.
Naquele tempo a rivalidade entre as duas
cidades da zona do cacau começava a tomar corpo. Os itabunenses falavam do
progresso sem medidas, do crescimento espantoso da sua terra, ainda a alguns
anos simples distritos de Ilhéus, uma aldeia conhecida por Tabocas. Discutiam
com o Capitão, falavam do caso da barra.
Famílias dirigiam-se ao cinema para
assistirem à estreia do mágico Sandra, olhavam o movimento do bar, as figuras
importantes ali reunidas, a grande mesa em forma de T.
Jacob e Moacir recebiam os convidados.
Mundinho Falcão chegou com Clóvis Costa, houve um movimento de curiosidade. O
exportador foi abraçar os itabunenses, havia entre eles fregueses seus.
O coronel Amâncio em companhia de Manuel
das Onças, contava ter Jesuíno partido, devidamente autorizado pelo Juiz, para
sua fazenda onde aguardaria o andamento do processo. O coronel Ribeirinho não
tirava os olhos da porta do cinema, na esperança de ver Anabela chegar.
A conversa generalizava-se, falava-se
dos enterros, do crime da véspera, de negócios, do fim das chuvas, das
perspectivas da safra, do Príncipe Sandra e de Anabela, evitava-se
cuidadosamente qualquer referência ao caso da barra, ao artigo do Diário de
Ilhéus. Como se todos temessem iniciar as hostilidades, ninguém qui sesse assumir tal responsabilidade.
Quando, por volta das oito horas, já iam
sentar-se à mesa, da porta do bar alguém anunciou:
-
Lá vem coronel Ramiro com Tonico.
Amâncio Leal dirigiu-se ao seu encontro.
Nacib sobressaltou-se: a atmosfera ficara mais tensa, os risos soavam falsos,
ele percebia os revólveres sob os paletós. Mundinho Falcão conversava com João
Fulgêncio, o Capitão se aproximou deles. Podia-se ver, do outro lado da Praça,
o professor Josué no portão de Malvina.
O coronel Ramiro Bastos, o cansado passo
apoiado na bengala, penetrou no bar, adiantou-se cumprimentando um a um. Parou
diante de Clóvis, apertou-lhe a mão:
-
Como vai o jornal, Clóvis? Prosperando?
(Click na imagem)