Memórias Futuras
Olhar o futuro pelo espelho retrovisor da história. Qual história? Que futuro?
sábado, março 22, 2014
OTIS REDDING - I'VE BEEN LOVING YOU TOO LONG
Esta é daquelas canções que nos faz arrrepios na coluna. É um "crime" que este homem, um gigante da música "soul", nascido em 1942, tenha morrido aos 26 anos de idade... Foi considerado pela revista Rolling Stone o 8º melhor cantor de todos os tempos.
Foi vítima de um desastre de aviação no Visconsin que teve apenas um sobrevivente, um jovem com 20 anos. Percy Sledge esteve no seu funeral. Redding era dos poucos cantores que compunha a maioria das suas canções, o que não era então vulgar. (Desculpem a qualidade do vídeo mas é dos poucos em que ele aparece e a sua interpretação faz esquecer o resto...)
Foi vítima de um desastre de aviação no Visconsin que teve apenas um sobrevivente, um jovem com 20 anos. Percy Sledge esteve no seu funeral. Redding era dos poucos cantores que compunha a maioria das suas canções, o que não era então vulgar. (Desculpem a qualidade do vídeo mas é dos poucos em que ele aparece e a sua interpretação faz esquecer o resto...)
Morte por Viagra.... |
Efeito Viagra
Ainda na cama, a mulher pergunta ao homem:
- Queres que te prepare o
pequeno-almoço e que o traga aqui ?
Responde o homem:
- Não, obrigado. O Viagra tirou-me o apetite !
Chega a hora do almoço e
a mulher volta a propor:
- Queres que te prepare um almoço com o teu prato favorito ?
Responde o homem:
- Não amor, obrigado. Aquele Viagra tirou-me o apetite !
Por alturas do jantar a mulher
insiste:
- Posso preparar-te uma refeição levezinha ?
Diz o homem:
- Não me apetece nada, querida. Aquele Viagra tirou-me o apetite!
E diz a mulher:
- Então importas-te de sair de cima de mim, que não como nada deste ontem...?
António Lobo Antunes |
MERCEDES
Desde que me reformei ando para aqui como um fantasma. Ligo a televisão, aborreço-me,
desligo a televisão, abro o jornal, aborreço-me, poiso o jornal, deito-me para
uma sesta, não durmo, levanto-me da cama, vou lá abaixo ao café, peço um café,
deixo-o esfriar sem dar por isso, volto para casa ou fico a olhar uma mesa de
viúvas, uma delas de cãozito ao colo, a dar-lhe bocaditos de biscoito,
conversando de netos e doenças, que é mais ou menos a mesma coisa.
Ignorava que houvesse tanta criança inteligente
e tanta angina em
Portugal. As viúvas de cabelo pintado de louro e o pó de
arroz a flutuar-lhe em torno, não pegado à cara, com mais perfume do que carne,
percebo que baixam a voz para falarem de mim.
-
Não é nada mal aquele...
Apesar de me faltar cabelo e da placa
dos dentes, aperfeiçoo a gravata para ficar menos mal ainda, dou um jeito ás
têmporas, uma, a mais gordinha, não me tira os olhos de cima, usa anéis
enormes, em quase todos os dedos e, de vez em quando, dá a impressão que me
sorri.
O dono do Café no meu ouvido.
-
A dona Mercedes parece que simpatiza com o senhor Pinto e, confidencial:
-
O marido deixou-a bem na vida... o que não me aquece nem arrefece, mentira,
aquece-me um bocado, faz sempre jeito, espreito a dona Mercedes com mais
interesse e encontro os olhos dela fixos nos meus e uma espécie de suspiro a
aumentar e a diminuir o peito considerável, uma segunda viúva para a dona
Mercedes.
-
O cavalheiro elegante simpatiza consigo.
A dona Mercedes baixa os olhos, aumenta
o pó de arroz das bochechas e fita-me de novo, uma terceira viúva.
-
Vai acabar em romance não tarda.
Volto para casa envergonhado, moro mesmo
em frente do Café, num prédio com salão de beleza Recupere a Mocidade no
primeiro andar e eu três assoalhadas por cima da mocidade recuperada, há qui nze dias, na minha caixa do correio, para além da
publicidade do costume e do aviso habitual das Finanças, que não tem mais nada
que fazer senão incomodar-me, um sobrescrito cor de rosa com o meu nome no lado
do destinatário, Mercedes Esteves, numa caligrafia caprichada, no lado do
remetente, no interior da página cor de rosa também, com um par de pombinhos
azuis a segurarem, cada qual, a sua ponte de um laçarote branco e a mesma
caligrafia caprichada:
Exmo Senhor o telefone da minha
residência é o Tal e Tal, aguardo com esperança uma comunicação sua.
Respeitosamente Mercedes do Carmo Guerreiro Esteves, com um arabesco na ponta,
que uma rosa terminava, e o baton de um beijo, ou não mencionando um cheiro tão
espesso, tão forte, tão vivo, que tive de me encostar à parede para não cair.
Deixei imediatamente de ser um reformado
fantasma, subi as escadas numa leveza de vinte anos. (tenho setenta e cinco).
Sem ligar à televisão nem ao jornal, não
me deitei para uma sesta, não dormi, marquei o número uma primeira vez,
respondeu uma voz solene:
-
Agência Céu é Seu, funerais, trasladações.
Percebi que tinha trocado um três por um
nove. Marquei de novo, com o coração irregular, uma criatura bem na vida,
prédios, terras, se calhar uma casa na praia, que são coisas que naturalmente
perturbam os ventrículos, um
-
Siiiiiiiiiiim? de veludo transtornou-me a orelha, respondi num gaguejo
-
Chegou-me uma carta...
Recebi uma pausa comovida em que se
embrulhou um
-
Estava com tanto medo que me tivesse esquecido consegui a custo
-
Como podia esquecê-la? que continha dúzias de anéis e um sorriso no topo, e
encontrámo-nos nessa tarde num Café diferente, longe das restantes viúvas, eu a
cabeleira loira e um vestido prateado que lhe acentuava os volumes, silenciosos
um diante do outro, tímidos, nervosíssimos, a partilharmos um chazinho de
tília, segurando a asa da chávena de mindinho em antena até os mindinhos se
tocarem, se entrelaçarem, se prenderem, explicar-lhe
-
Chamo-me José Pinto e sou reformado do Exército sem acrescentar que no posto de
Sargento, não cheguei a oficial por preguiça, escutei a palavra
-
Exército... num suspiro feliz, completado por um
-
Um homem viril... e talvez viril, de facto, embora trabalhasse de escriturário,
há escriturários marciais, capazes de se sacrificarem pela pátria, o mindinho
dela enrolou-se no pulso...
-
José... O meu mindinho enrolou-se no pulso
-
Mercedes... a sentir, palavra de honra, o beijo do papel na minha boca,
delicado, suave, um joelho contra o meu, um sapato a pisar-me com doçura...
-
Se sonhasse como me faz feliz, José... apesar de um dos anéis me trilhar um
bocadinho a pele, o apartamento dela tão feminino, naperons, rendas, bonecos de
louça, quadros com ninfas, uma sereia quase de mármore, novelos de tricot num
cestinho, um hamster a pedalar a sua roda, nós perto um do outro num sofazito
de verga onde o decote aumentava, o cãozito estendido numa almofada a olhar-nos
numa amizade compreensiva, e nisto um sujeito com o dobro do meu tamanho e
metade da minha idade a puxar-me a gravata
-
Quem é este moinante?... empurrando-me para o patamar...
- Pisga-te... fazendo-me tropeçar nos
degraus, desequi librar-me, equi librar-me, desequi librar-me
de novo, o sujeito a censurar à Mercedes
-
Nunca mais tens juízo, cretina? e a acrescentar:
-
É o qui nto este mês...
A Mercedes chorosa
-
Já não posso receber amigos?... seguido de:
-
Não me deixes Moisés... seguido de:
-
Juro que não volta a acontecer... e não me lembro de mais nada porque um vaso
de flores atirado pelo Moisés lá de cima, me acertou na cabeça.
Aliás, nem tenho tempo para continuar
porque é a hora de ir ao Centro de Enfermagem mudar a ligadura do penso.
António Lobo Antunes
Seu Vasco era o chefe da firma... |
OS VELHOS
MARINHEIROS
Episódio Nº 36
O primeiro empregado, aquele
espanhol Rafael Menendez, entrou como sócio forte e, em suas mãos, por
disposição testamentária do velho Moscoso, ficou a completa direcção dos
negócios e o futuro da casa. Vasco herdou as quotas do avô que lhe garantiam o
controle da firma, a maior parte dos lucros, uma fortuna considerável, e
nenhuma responsabilidade.
Viu-se assim livre de encargos, horários e obrigações e cheio de
dinheiro. Deixou a Menendez todas as decisões, por uma vez apenas dele
discordou e impôs sua vontade: quando o espanhol decidiu despedir o velho
Giovanni, um carregador que entrara para a firma quase na fundação.
Durante mais de quarenta anos transportara na
cabeça fardos e fardos, do depósito para as carroças, infatigável, sem um dia
de descanso, sem uma queixa, servindo à noite como vigia do prédio, dormindo em
cima dos fardos no depósito, abrindo a porta para fregueses retardatários,
aqueles que ousavam infringir os horários do velho Moscoso.
Vasco era-lhe grato, pois o negro
Giovanni o protegera sempre, desde os dias iniciais e sofridos de sua vinda
para o prédio, com dez anos de idade. Contava-lhe histórias à noite, fora
embarcadiço na juventude, falava-lhe de mares e portos.
Nascido João e escravo, fugira para a
liberdade do mar, onde a tripulação italiana de um navio o transformou para
sempre em Giovanni. Era
o único a demonstrar simpatia pela criança prisioneira no sobradão escuro onde
o cheiro das especiarias tonteava.
Envelhecera na firma, chegara aos
setenta anos e as forças começavam a faltar-lhe, já não dava completa conta do
serviço. Menendez resolveu despedi-lo e tomar outro carregador.
Vasco, mesmo após a morte do avô
e sua nova situação de chefe, guardara certo temor ante Menendez. O espanhol
era um desses homens blandiciosos, a bajular os seus superiores, arrogante e
estúpido com os que dele dependiam ou lhe eram inferiores em cargo e
importância.
Assumira a direcção da firma com
mão de ferro, os negócios marchavam admiravelmente. Mas os empregados
queixavam-se, era pior ainda do que no tempo do velho Moscoso.
Vasco temia o olhar frio e crítico do
espanhol, seu jeito de falar, sem gritos, sem exaltação, mas com inflexível
decisão. Quando menino e rapaz, no escritório, Menendez não o repreendia como
aos demais.
Levava, porém, Vasco o sabia, ao conhecimento
do avô cada erro seu, cada violação do regulamento da casa. Inclusive suas
raras escapadas nocturnas, já homem de bigodes, protegidas pelo negro Giovanni.
Agora Menendez curvava-se ante ele,
demonstrando-lhe uma consideração e um respeito reservados antes para o velho
Moscoso. No entanto, tentou impor sua decisão qquando Vasco, aflito e indignado,
veio discutir o caso do negro despedido.
Giovanni fora procurá-lo na véspera à noite
para contar-lhe o sucedido. Menendez lhe pagara o salário mísero e, sem uma
explicação sequer, dispensara seus serviços.
Completara Giovanni os setenta
anos, suas pernas já não tinham a segurança de antes, seus braços perdiam o
vigor hercúleo. Encontrara Vasco num bar com os amigos, explicou-lhe a
situação, os olhos gastos piscando para não chorar, a voz trémula:
- A casa me comeu as carnes,
agora quer jogar os ossos fora . . .
- Isso não vai acontecer... - garantiu
Vasco. O negro velho lhe agradeceu com um conselho:
- Aquele gringo não presta, seu
Aragãozinho. Tome tento com ele senão ele ainda lhe faz uma falseta.
No outro dia Vasco amanheceu no
escritório, fato raro. Chamou Menendez para uma conversa, estava sério e
formalizado, os empregados começaram a cochichar. No gabinete do velho Moscoso,
reservado agora para Vasco, ouvia-se a voz alterada do chefe da firma.
A voz de Menendez ninguém a
escutava, jamais um grito ou uma palavra mais alta saíra de seus duros lábios
nem mesmo quando insultava nos termos mais agressivos um funcionário faltoso.
Não foi fácil impor sua vontade.
Alteava a voz, dizia ser uma desumanidade a despedida do velho Giovanni, não
havia direito a transformar em mendigo, no fim da vida, um homem cuja
existência inteira fora dedicada ao trabalho, à prosperidade da casa.
Menendez sorria seu sorriso frio,
balançava a cabeça concordando, mas mantinha-se em suas posições de princípio:
quando um empregado já não dá conta do seu trabalho só resta despedi-lo e botar
outro. Essa era a regra do jogo: ele a aplicava.
Se abrisse excepção para Giovanni, se
continuasse a pagar-lhe o ordenado, outros empregados iriam exigir tratamento
idêntico, “seu” Vasco (agora Menendez antepunha ao nome do novo chefe a
partícula respeitosa, depois de tê-lo tratado durante mais de vinte anos por
Aragãozinho) podia imaginar o desastre de tal política? Não, não podia agir de
outra maneira.
Vasco não queria saber de
princípios, de política a aplicar, apenas achava uma crueldade, uma verdadeira
miséria, a despedida de Giovanni. Menendez lavava as mãos: seu Vasco era o
chefe da firma, o que ele decidisse seria cumprido.
Ele devia, porém, pensar duas vezes antes de
pôr abaixo uma regra a reger toda a vida comercial: era a própria estrutura da
firma que ele ia colocar em
perigo. Sem contar não ser apenas de Vasco o prejuízo
acarretado, os outros sócios também seriam prejudicados. Não falava por ele,
Menendez, sua posição era de defesa de um princípio estabelecido e não de uns
magros mil-réis.
sexta-feira, março 21, 2014
Esta canção foi escrita por Hoyt Axton em 1954 e tornada famosa pelo conjunto Three Dog Night no princípio dos anos setenta. Ainda está nos ouvidos da malta da minha geração.
Fui à loja comprar veneno para ratos.
-Tem veneno para ratos?
-Sim! Vai levar?
-Não, vou trazer os ratos para comerem aqui!!!
Fui ao banco para trocar um cheque... O funcionário perguntou:
-Vai levar em dinheiro???-Sim! Vai levar?
-Não, vou trazer os ratos para comerem aqui!!!
Fui ao banco para trocar um cheque... O funcionário perguntou:
-Não!!!!! Dê-me antes em clips, borrachas, apara-lápis!!!
Estou abraçado a minha acompanhante e entramos num bar romântico.
-O empregado pergunta:Estou abraçado a minha acompanhante e entramos num bar romântico.
-Mesa para dois?
-Não, mesa para quatro, duas cadeiras são para apoiar os pés!
Depois, pego no talão de cheques e numa caneta. Então o empregado pergunta:
-Vai pagar com cheque?-Não, mesa para quatro, duas cadeiras são para apoiar os pés!
Depois, pego no talão de cheques e numa caneta. Então o empregado pergunta:
-Não, vou fazer um poema nesta folhinha.
Entro no elevador de um prédio, no momento em que pára no subsolo-garagem. Um senhor pergunta:
-Vai subir?Entro no elevador de um prédio, no momento em que pára no subsolo-garagem. Um senhor pergunta:
-Não, vou prós lados!!!!
Estou a fumar um cigarro. Um amigo pergunta:
-Ora, ora! Mas tu fumas?Estou a fumar um cigarro. Um amigo pergunta:
-Não, eu gosto de bronzear os pulmões.
Quando voltei da margem do rio com um balde cheio de peixes o meu amigo pergunta:
-Pescaste esses peixes todos?Quando voltei da margem do rio com um balde cheio de peixes o meu amigo pergunta:
-Não, estes são peixes suicidas que se afogaram no meu balde.
Estou no guichet do cinema. Uma senhora pergunta-me:
-Quer um bilhete?Estou no guichet do cinema. Uma senhora pergunta-me:
-Não, eu meti-me na fila só para ver onde isto ia dar...
Quando a gente leva um aparelho electrónico para a manutenção e o técnico pergunta:
- Tá com defeito ?Quando a gente leva um aparelho electrónico para a manutenção e o técnico pergunta:
- Não, é que ele estava cansado de ficar em casa e eu trouxe-o para passear.
Quando te acabas de levantar, aí vem um idiota (sempre) e pergunta:
- Acordaste?Quando te acabas de levantar, aí vem um idiota (sempre) e pergunta:
- Não. Sou sonâmbulo!
O teu amigo liga para a tua casa e pergunta:
- Onde estás ?O teu amigo liga para a tua casa e pergunta:
- No Pólo Norte! Um furacão levou a minha casa pra lá!
E a melhor de todas:
-Cortaste o cabelo?E a melhor de todas:
-Não, tirei pra lavar!!!
Manel
casou-se com Joana e, no
dia do casamento,
Joana levou para a sua
casa nova um grande baú, e
pediu para que Manel respeitasse a sua individualidade e nunca
o
abrisse.
Durante
50 anos de casamento, apesar da curiosidade, Manel nunca abriu o baú.
Na
comemoração dos 50 anos, Manel não aguentou e perguntou a Joana o que tinha
dentro daquele baú.
Ela então resolveu mostrar-lhe o
baú. Ao abrir, Manel viu €60.000 e quatro batatas.
Curioso,
perguntou por quê as
batatas, e ela então confessou:
-
“Cada
vez que te traí coloquei uma batata no baú”.
Manel,
no primeiro momento ficou chocado, mas, depois de meditar, disse para si
mesmo:
“Até
lhe posso perdoar… quatro batatas em cinquenta anos, significam uma traição por
cada 12,5 anos”.
De
seguida, ele
perguntou o que significavam os 60 mil euros.
Foi
o
momento em
que
ela lhe
disse:
-
“Cada
vez que o baú se enchia de batatas, eu vendia-as”.
O da parábola era ingénuo... Este, é estúpido... |
No Tempo
Em Que
Falavam...
Não, não é uma parábola de
Começava assim, e cito de memória: “Eme
negateletele kolombolo dia sangi...” o que, traduzido para português
significava: “Eu costumava contar repetidas vezes a história de um galo
acasalado com uma galinha...”
Pois bem, nesse tempo em que os animais
falavam as raposas não atacavam os galos até ao dia em que...
Uma
raposa encontrou - se com um galo e meteram conversa. Palavra puxa palavra e a
raposa foi conduzindo o assunto ao seu jeito, conqui stando
a confiança e o à vontade do galo que, descontraído, estava já disposto a todas
as confidências deste mundo...
E a raposa “atacou”:
-
Diz-me lá, amigo galo, que arma é essa que vocês têm aí na cabeça?
(A raposa sempre tivera medo da crista dos
galos, vermelha, serrilhada, lá bem no alto da cabeça com todo o aspecto de
arma secreta para, nos momentos decisivos, aniqui lar
os inimigos. Por isso, as raposas nunca tinham atacado os galos).
O galo, ufano, envaidecido pela
curiosidade que a sua crista despertara na raposa, respondeu displicentemente:
-
Não é arma nenhuma. Isto são carnes somente... - xixitu ngó - ... e a raposa
comeu o galo.
Como se lembram, as parábolas escondiam
ensinamentos, por vezes preciosos, daqueles que podem salvar vidas e se o galo
conhecesse a moral desta parábola o que, evidentemente, era impossível senão a
parábola do galo e da raposa não teria existido, talvez se tivesse salvo.
Moral da parábola:
Nunca devemos contar aos amigos as
nossas fraquezas porque esses amigos poderão um dia ser nossos inimigos e aproveitar-se-ão
do conhecimento que lhes revelámos sobre as nossas fraquezas para nos atacarem.
Pela vida fora apercebi-me do valor
deste ensinamento que me chegou através da parábola do galo e da raposa:
- ”Eme ngateletele kolombolo dia sangi...”
Não resistiu a viúva ao golpe da perda do esposo adorado ... |
OS VELHOS
MARINHEIROS
Episódio Nº 35
Quando, na opinião do aliviado sogro, sete palmos de cova rasa já eram demasiada honra para o indesejado genro, conhecido entre os amigos como Aragão Farofa, tais e tantas ele contava.
Sujeito mais cínico e caradura
não acreditava o velho Moscoso houvesse existido sobre a face da Terra.
Insensível às indirectas e às insinuações, riu-lhe na cara honrada quando,
terminada a longa lua-de-mel, certo dia lhe propôs trabalhar no escritório da
firma.
Por quem o tomava o sogro? - perguntara entre divertido e ofendido. Por
um incapaz, um pobre-diabo útil apenas para a degradação de um escritório
comercial, às voltas com secos e molhados, com bacalhau e batatas?
Com quem pensara ter casado a filha? Parecia não saber do seu talento,
de sua capacidade, de suas relações, de seus planos. Não se preocupasse o
estimado sogro em arranjar-lhe emprego. Estava com o futuro garantido e, se
ainda não começara a trabalhar, devia-se exactamente à dificuldade da escolha
entre as cinco ou seis situações, cada qual mais invejável, postas à sua
disposição por seus amigos, homens do maior prestígio.
O próprio senhor Moscoso ainda muito se beneficiaria com as amizades do
genro: obteria para a firma contratos de fornecimentos para o Estado, para
diversas corporações, dinheiro fácil a ganhar.
Que diria o senhor Moscoso, por exemplo, de um fornecimento de
carne-seca e bacalhau à Polícia Militar durante todo o ano? Era só ele, Aragão,
sussurrar uma palavra ao ouvido do capitão-chefe da Intendência e estaria o
assunto resolvido.
Podia o senhor Moscoso contar com o contrato como coisa certa, dinheiro
em caixa. Dinheiro
integral, pois ele, genro e amigo, não aceitaria nenhuma comissão.
Durante os cinco anos de casado continuou na mesma indecisão, sem
decidir-se por nenhuma das cinco ou seis magníficas situações ou pelas novas
ofertas de seus amigos podres de prestígio.
Não obteve também nenhum contrato oficial para a firma, ia tratar do
assunto invariavelmente no dia seguinte. Firme, porém, manteve-se na recusa de
um lugar de empregado do sogro, considerando a repetida renovação da oferta
quase uma ofensa e uma provocação.
Era um carácter, e tão íntegro,
que jamais pôs os pés no prédio de três andares, conhecendo-o somente de vista,
ao passar pela Ladeira da Montanha.
Ao morrer inesperadamente - ninguém o imaginou jamais enfermo do
coração - surgiram os agiotas com títulos vencidos, empréstimos diversos, vales
rabiscados a lápis, um dinheirão a pagar, do qual o velho José Moscoso, também
ele um carácter, se recusou terminantemente a tomar conhecimento.
Da morte de Aragão Farofa pode-se dizer ter sido chorada pela esposa,
pelos muitos amigos nos bares e pelos seus múltiplos credores horrorizados ante
a pétrea sensibilidade do sogro do falecido.
Não resistiu a viúva ao golpe da perda do esposo adorado, meses depois
era enterrada sob o mesmo mausoléu de mármore. Jamais duvidara ela um minuto
sequer do marido, de sua grandeza, de sua fidelidade, de seu devotado amor.
E, de certa maneira, era Aragão Farofa um óptimo esposo, dedicando
quase toda a tarde à mulher, acarinhando-a, gentilíssimo com ela, criando-a
como criança mimada, nuns dengues de namorado, fazendo-lhe o amor com
constância e sabedoria.
Mas, após o jantar, era um homem livre na noite da Baía, tinha sempre
sérios assuntos políticos e comerciais a resolver, como fazia questão de
explicar à esposa.
Voltava pela madrugada, cheirando a cachaça e a fêmea, o invariável
charuto, o invariável sorriso satisfeito. Nem mesmo o nascimento do filho, a
ligá-lo ainda mais à esposa, modificou a regularidade de seus hábitos
irregulares (na opinião do velho Moscoso).
Acordava ao meio-dia, comia e
bebia do bom e do melhor, reservava a tarde para a esposa e o filho, noite
livre nos bares e castelos, na prosa com os amigos a contar histórias.
Uma só virtude reconhecia-lhe o sogro: jamais fora visto bêbado, sua
resistência ao álcool era assombrosa.
Debruçado em sua mesa, o velho Moscoso fitava o neto e nele revia o
genro de execrada memória. De que adiantara tê-lo trazido menino de dez anos
para a firma, tê-lo encaminhado nos negócios?
Eram os mesmos olhos sonhadores
do pai, o mesmo sorriso contente com a vida, a mesma total indiferença ante os
problemas do escritório, um desastre. Tinha de tomar providências, e sérias, se
não qui sesse ver esfacelar-se, nas
mãos do neto, a firma poderosa e acreditada, obra de sua vida.
E, realmente, ao sentir a proximidade da morte, transformou a firma
individual em sociedade por quotas, limitada, fazendo sócios e interessados
alguns de seus mais antigos e capazes empregados.
quinta-feira, março 20, 2014
Felicidade... |
Talvez você já conheça
mas só faz bem repetir…
Campanha publicitária do Citibank espalhada pela cidade de São Paulo através de Outdoors:
- Crie filhos em vez de herdeiros.
- Dinheiro só chama dinheiro, não chama para um cineminha, nem para tomar um sorvete.
- Não deixe que o trabalho sobre sua mesa tampe a vista da janela.
- Não é justo fazer declarações anuais ao Fisco e nenhuma para quem você ama.
- Para cada almoço de negócios, faça um jantar à luz de velas.
- Por que as semanas demoram tanto e os anos passam tão rapidinho?
- Quantas reuniões foram mesmo esta semana? Reúna os amigos.
- Trabalhe, trabalhe, trabalhe… mas não se esqueça, vírgulas significam pausas... e quem sabe assim você seja promovido a melhor ( amigo / pai / mãe / filho / filha / namorada / namorado / marido / esposa / irmão / irmã.. etc.) do mundo!
- Você pode dar uma festa sem dinheiro. Mas não sem amigos.
E para terminar:
"Não eduque seu filho para ser rico, eduque-o para ser feliz.
Assim, ele saberá o valor das coisas e não o seu preço."
"Há os que se queixam do vento. Os que esperam que ele mude... E os que procuram ajustar as velas."
|
Temos um Presidente que se presta a estas coisas.... (há uns tempos - Janeiro de 2012 - dizia que: "tudo somado, quase de certeza que não vai chegar para pagar as minhas despesas"...) Agora fala oralmente - e é por isto que têm de lhe escrever os textos... para não falar oralmente...)
|
Ao fundo o que resta do Vesúvio. Era uma montanha com mais de 3.000 metros...e as encostas cobertas de florestas. |
De Novo, Pompeia
- O drama de 24 de Agosto de há 2.025 anos -
(A importância dos graffitis das ruínas da cidade)
Há anos visitei as ruínas da cidade de Pompeia e sobre essa visita
escrevi um texto que coloquei aqui ,
no Memórias Futuras, e no qual registava a emoção que então senti, misto de tristeza e pavor pela morte horrível de todas aquelas pessoas que pareciam ter sido vítimas de
um cataclismo registado no dia anterior… e, ao mesmo tempo, a curiosidade «cuscuvilheira»
de quem espreita pelo buraco da fechadura, não da porta de uma casa mas de uma
cidade escancarada e misteriosamente desabitada.
De novo, volto a Pompeia para partilhar convosco o texto de Eliana da Cunha Lopes, - Possui graduação em Letras pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1975) e Mestrado em Letras (Letras Clássicas- Latim) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1993). Atualmente é Professor Auxiliar III da Faculdade Gama e Souza. Tem experiência na área de Letras, com ênfase em Língua e Literatura Latina, actuando principalmente nos seguintes temas: Ovídio,Literatura Latina, Língua Latina, século de Augusto - que dá um especial
relevo aos graffiti a que já me tinha referido e que ela aborda no texto que se
segue, em pormenor e com a importância que merece:
- «Baseando-se no corpus escrito nas paredes da cidade de Pompeia,
destruída pela erupção do vulcão Vesúvio, em 79 de nossa era, o presente
trabalho buscará mostrar que as mensagens grafadas a carvão, nos muros da
cidade arrasada, transformaram-se em preciosíssimo relicário para os pesqui sadores e estudiosos do latim vulgar.
Os graffiti, do latim graphium, ou inscrições
parietais encontrados nas ruínas de Pompeia contêm, em suas estruturas,
caracteres linguísticos que nos permitem, não só uma visão da sociedade romana
antiga mas também nos auxiliam, como fonte riquíssima, no estudo e
aprofundamento do latim vulgar.
São mensagens baseadas
em diversos temas como convites sedutores, conselhos, declarações de amor ou
ódio, inveja, erotismo, súplicas etc., que nos mostram a linguagem corrente das
classes incultas de Roma da época.
Nosso trabalho é uma
pesqui sa ainda em fase de
desenvolvimento. São apenas algumas citações baseadas, exclusivamente, no latim
vulgar. Sabemos que há entre os graffiti pompeianos textos do poeta latino
Públio Ovídio Nasão mas estes textos clássicos, para o presente trabalho, não
nos interessam.
Há exactamente 2025
anos, no dia 24 de Agosto de 79 de nossa era, data que deve ser relembrada por
pesqui sadores e estudiosos do latim
vulgar, uma chuva de cinzas e pedra- pomes e sucessivos tremores de terra
transformaram o dia, na cidade da Itália, às margens do Mar Tirreno, em noite e
destruíram tudo e todos que se opunham a sua passagem.
Pompeia, cidade
produtora de vinho e azeite, viveria, naquele 24 de Agosto, um dia festivo.
Seus habitantes assistiriam a um espectáculo teatral com atores vindo de Roma
que se apresentariam no Grande Teatro, a partir das 11h da manhã prolongando-se
o espectáculo, como era de costume, até a noite.
Passava das 10h da manhã. As
arqui bancadas quase repletas: os
vendedores ambulantes, com seus cestos de pão e doces, dirigiam-se para o
teatro.
Nos bares ao ar livre, as thermopolia as últimas taças de posca eram saboreadas. Os comerciantes
cerravam as últimas portas de seus estabelecimentos. O dia ensolarado e quente
convidava ao lazer.
No auge dos preparativos para a festa, ouve-se uma
explosão. Era apenas o
início. A população perplexa visualiza o topo do Vesúvio. O vulcão partira-se
em dois e, do seu interior, rompe-se uma tocha de fogo.
Inacreditável!!! Os
habitantes de Pompeia se entreolhavam e com uma pergunta/resposta sufocada na
garganta constataram: É uma erupção!
O Vesúvio que tinha adormecido, pelo menos
por 900 anos, estava ali, diante deles, dando sinal de vida e de opulência.
Na
manhã seguinte (25 de Agosto), quando a cidade já se encontrava sob os entulhos
vulcânicos, o Vesúvio despejou toda a sua fúria em forma de gases quentes
(vapores clorídricos).
A temperatura, segundo pesqui sadores,
atingiu a marca de 600 graus Celsius. Todos os habitantes de Pompeia e
Herculano foram soterrados na mais terrível erupção vulcânica.
Na época, Pompeia
possuía entre 15 e 20 mil habitantes. Acredita-se que, por serem constantes, os
terramotos nesta região, os habitantes não perceberam a gravidade de tal fenómeno.
Os habitantes de Pompeia, na tentativa de fuga pelas ruas, foram mortos por asfixia e
queimados, outros, no seu próprio leito.
Os que sobreviveram, foram tragados no
final da tarde do dia
25. Foi o golpe fatal, nada restando das cidades províncias.
As cidades de Pompeia
e Herculano, no sul da Itália, permaneceram, durante muito tempo, soterradas pela
erupção violenta do vulcão, sob metros e metros de cinzas e pedras.
Anos mais tarde, os
pesqui sadores efectuaram escavações
na área soterrada e descobriram um vasto material arqueológico e linguístico.
Em Pompeia, de entre
os «achados», permaneciam intactos os famosos graffiti, inscrições populares escritas, em sua
maioria, a carvão. Esta descoberta trouxe, para o latim vulgar, uma
contribuição riquíssima e ímpar.
A vantagem desta
descoberta deve-se ao fato de que as mensagens têm um carácter linguístico e
social, revelando duas faces de uma mesma moeda.
De um lado, forneceu-nos uma
visão da forma de vida da sociedade de uma cidade da provincial, de outro,
levou-nos ao estudo das alterações fonéticas, morfológicas e de sintaxe de uma
das fases da língua latina: o latim vulgar.
As inscrições de Pompeia
foram estudas por Väänänen, Le latin Vulgaire des Inscriptions Pompéiennes,
Helsinki,1937 (2ª ed.,1958) e reunidas no Corpus
Inscriptionum Latinarum, conhecido
pela sigla CIL, obra grandiosa editada pela Academia das Ciências de Berlim,
iniciada em 1863 e ainda incompleta.
Dos dezasseis volumes
que compõem esta obra, que reúne inscrições de diversas cidades e regiões, o
quarto volume é de grande relevância. Nele, encontram-se registadas as
inscrições parietais, gravadas com estiletes, e em menor escala a carvão, em
paredes, monumentos, muros, banheiros etc.
Dos graffiti encontrados
na região destruída pelo vulcão, os que nos interessam são as inscrições de
cunho popular, não literária e muitas das vezes fragmentária, mas que expressam,
com clareza, a linguagem quotidiana dos soldados, colonos civis e militares e
comerciantes da época, os falantes natos do latim vulgar.
Estas inscrições registam, também, o modo de
vida dos habitantes da província mostrando os resultados dos jogos de dado,
declarações de amor ou ódio, inveja, erotismo, conselhos, súplicas etc…
Os graffiti contribuíram para o estudo filológico
e linguístico na reconstituição do latim vulgar falado. A epigrafia, ciência
que se ocupa da leitura, interpretação e datação das inscrições antigas em
material resistente como pedras, metal, argila, cera etc., em muito contribuiu
para o estudo da reconstituição do latim vulgar.
O latim vulgar (vulgo
(latim) = povo) ou latim corrente, em oposição ao latim clássico, que é a norma
culta do latim, está documentado em textos epigráficos, em textos literários e
indirectamente nas línguas românicas.
Não conhecemos na totalidade o latim
vulgar. O que há, na verdade, são vestígios através dos quais os filólogos
tentam reconstituir o que teria sido o latim vulgar.
O latim vulgar era uma
língua falada em Roma e suas províncias, não havendo nenhum documento oficial escrito
só nessa variedade linguística. Concentra-se neste fato a maior dificuldade
encontrada para a reconstituição desta forma linguística.
A partir do corpus escrito nas paredes da cidade de
Pompeia, analisaremos algumas inscrições à luz da morfologia, sintaxe e
fonologia.
Há cerca de 15000
inscrições parietais recolhidas de Pompeia registadas no CIL. Os graffiti são bastante numerosos e
diversificados, pelo hábito dos seus habitantes de todas as faixas etárias de
rabiscarem as paredes com carvão.
O nível de língua das inscrições parietais
pompeianas varia bastante. Os habitantes locais zombavam do próprio hábito de
rabiscarem as paredes numa linguagem bastante literária, conforme atesta o
trecho abaixo:
Admiror,
paries, te non cecidisse ruinis, qui
tot scriptorum taedia sustineas.
(CIL,
IV, 1904)
«Admira-me, parede, não teres caído em ruínas, tu que
aguentas o tédio de tantos escritores»