Memórias Futuras
Olhar o futuro pelo espelho retrovisor da história. Qual história? Que futuro?
sábado, junho 30, 2012
- Tendes fome? - Pergunta Deus.
Madre Teresa acena afirmativamente com a cabeça.
Deus prepara para cada um uma sanduíche de atum de conserva em pão de centeio.
Entretanto, a virtuosa mulher olha lá para baixo e vê os glutões no Inferno a
devorarem bifes, lagostas, amêijoas, doces e vinho.
No dia seguinte, Deus convida-a para outra refeição. Uma vez mais, o pão de centeio seco com atum da lata....
Uma vez mais, ela vê os do Inferno a regalarem-se com uma verdadeira orgia
gastronómica...
No dia a seguir, ao ser aberta a terceira lata de atum, Madre Teresa pergunta humildemente:
- Senhor, estou grata por me
encontrar aqui Convosco como
recompensa pela vida casta, regrada e devotada que levei.
Mas não compreendo: só comemos pão com atum, enquanto do outro lado comem como
reis...
- Ó Teresinha, sejamos
realistas - diz Deus com um suspiro - achas que vale mesmo a pena cozinhar só
para duas pessoas?
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 138
Prosseguia seu caminho, o negro Fagundes
elevava a foice, os olhos mansos e bons a acompanhar o coronel. Que podia
responder? Melk o arrancara das mãos da polícia quando ele, bêbedo, numa ida ao
povoado, pusera em polvorosa casa das prostitutas. Não era homem para ouvir
calado, mas ao coronel não podia responder.
Não o levara ele, não fazia muito tempo,
a Ilhéus para tocar fogo numas gazetas, coisa engraçada, não lhe recompensara
bem?
E não lhe dissera que o tempo dos
barulhos estava voltando, tempos bons para homem de coragem, de certeira
pontaria, assim como o negro Fagundes? Enquanto esperava, ia colhendo cacau,
dançando sobre os grãos a secar nas barcaças, suando na estufa, cobrindo de mel
os pés, nos cochos.
Estavam tardando esses anunciados
barulhos, aquela fogueira na cidade nem dera para esquentar. Ainda assim fora
bom, vira o movimento, andara de caminhão, sapecara uns tiros para cima só para
enganar, e pusera os olhos em Gabriela apenas chegara.
Ia passando na frente de um bar, ouvira
rir, só podia ser ela. Estava sendo conduzido para uma casa onde iam ficar até
à hora da ocupação. O moço que os levava, de apelido loirinho, respondera à sua
pergunta:
-
É cozinheira do árabe, um torrão de açúcar. O negro Fagundes diminuía o passo,
atrasava-se para espiá-la. Loirinho dava pressa zangado:
-
Vamos, moreno, não se mostre assim senão estraga o plano. Vamos embora.
Ao voltar à fazenda, na noite imensa de
estrelas, quando o som da harmónica chorava a solidão, contara a Clemente. A
luz vermelha do fifó criava imagens no negrume das roças, eles viam o rosto de
Gabriela, seu corpo de dança, as pernas altas, os pés caminheiros.
-
Tava bonita que só vendo…
-
Trabalha num bar?
- Cozinha pró bar. Trabalha para um turco, um gordo com cara de boi.
Tava nos trinques, metida em chinelos, lavada de fresco.
Mal enxergava Clemente à luz do fifó,
curvado a ouvir, calado a pensar.
-
Tava rindo quando eu passei. Rindo pra um tipo, um ricaço qualquer. Tu sabe,
Clemente? Tinha uma rosa na orelha, nunca vi coisa igual.
Rosa na orelha, Gabriela perdida na luz
do fifó. Clemente se fecha como um casco de tartaruga.
-
Me meteram nos fundos da casa do coronel. Vi a mulher dele, criatura doente,
parece uma imagem. Vi a filha também, esparrama beleza, mas orgulhosa, passava
pela gente sem reparar. Lindeza de moça, mas te digo Clemente, como Gabriela
não tem mesmo não. Que é que ela tem, Clemente? Me diga…
O que é que ela tem? Como ia saber? Não
adiantara dormir com ela, deitada em seu peito, nas noites do caminho, do
sertão, da caatinga, dos prados verdes depois.
Não aprendera, nunca soubera. Uma coisa
tinha, impossível esquecê-la.
(Click na imagem: abandonada sobre o leito com os seus belos cabelos negros)
(Click na imagem: abandonada sobre o leito com os seus belos cabelos negros)
À ENTREVISTA
Nº 54 SOBRE O TEMA:
“O ABORTO MASCULINO” (6º e último)
“O ABORTO MASCULINO” (6º e último)
O Aborto dos Homens
"Meu marido não quer mais filhos e ameaçou deixar-me se eu não o tirar”, "Este filho não é do meu marido e o pai não se sente responsável e implorou-me que abortasse." "Meu chefe é o pai e diz que se eu não abortar me despede”. "Eu abortei porque ele me pagou tudo e disse-me que continuaria a ajudar, mas ele que não quer ter filhos ou responsabilidades". "Meu filho era filho de um sacerdote que me levou a abortar” ". “Meu noivo me pediu uma prova de amor e quando soube que eu estava grávida deixou-me…" as histórias são frequentes, sucedem-se estão perto de nós e são dolorosas.
Sempre se fala sobre as mulheres que
abortam, das leis que as condenam e do pecado que cometem. É a hora de falar
sobre os homens de aborto. Na América Latina, uma em cada três famílias é chefiada
por uma mulher sozinha, abandonadas pelos homens irresponsáveis. Nos países da
América Latina faltam pais. Demonstra-o o número crescente de mães solteiras.
Na maioria dos países, uma em cada três mães é "solteira”.
Na América Latina, há cinco milhões de
abortos praticados em cada ano. A grande maioria são abortos masculinos
provocados pela irresponsabilidade dos homens, pela sua violência, sua
sexualidade com base no abuso de poder. As igrejas e os governos que perseguem
tanto o aborto das mulheres que os condenam e sancionam fariam bem que se esforçassem
para evitar e erradicar o aborto masculino, a principal causa de quase todos os
abortos.
sexta-feira, junho 29, 2012
HERMÍNIA SILVA - O FADO DA CIGANA
E, de repente, um salto ao passado. Hermínia e Vasco Santana. Não os podemos deixar morrer nas nossas lembranças.
VÍDEO
O que se andou desde 1897... Agora, até as portas desaparecem para debaixo do carro. Mesmo que seja apenas para um pequeno número de privilegiadas, donas de mansões.
GABRIELA
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 137
O trabalho começava com o raiar do dia,
terminava com o chegar da noite, um pedaço assado de charque com farinha, uma
jaca madura comidos às pressas na hora do sol a pino.
As vozes das mulheres se elevavam nos dolentes
cantos do trabalho:
Dura vida, amargo fel,
Sou negro trabalhador,
Me diga, seu coronel
Me diga, faça o favor:
Quando é que eu vou colher
As penas do meu amor
O coro dos homens respondia:
Vou colher cacau
No cacaueiro
O grito dos tropeiros apressava os
burros apenas a tropa de cacau mole atingia a estrada: «Eh!, mula danada!
Depressa, Diamante!» Montado em seu cavalo, seguido do capataz, o coronel Melk
Tavares atravessava as roças, fiscalizando o trabalho.
Desmontava, reclamava das mulheres e crianças:
-
Que moleza é essa? Mais depressa, sinhá dona, devagar se cata é piolho.
Mais rápidas as pancadas a partir em
duas a casca dos frutos de cacau colocados sobre a palma da mão, o toco afiado
de facão a ameaçar os dedos cada vez. Tornava-se mais rápido também o ritmo da
canção enchendo as roças, activando os colhedores:
No cacau tem tanto mel,
Ai na roça tanta flor.
Me diga faça o favor:
Quando é que eu vou dormir
Na cama do meu amor?
Por entre as árvores, nos caminhos das
cobras, pisando as folhas secas, crescia a voz dos homens colhendo mais
depressa:
Vou colher cacau
No cacaueiro
O coronel examinava as árvores, o
capataz gritava com os trabalhadores, prosseguia a dura faina diária. Melk
Tavares imobilizava-se de repente, perguntava:
-
Quem colheu aqui ?
O capataz repetia a pergunta,
trabalhadores voltavam-se para ver, o negro Fagundes respondia.
-
Fui eu.
-
Venha cá!
Apontava os cacaueiros , por entre as
folhas cerradas; nos galhos mais altos viam-se cocos esquecidos:
-
Você é protector dos macacos? Pensa que é para eles que eu planto cacau? Saco
de preguiça, só serve mesmo pra arruaça…
-
Inhô, sim. Não arreparei…
-
Não reparou porque não é roça sua, quem perde dinheiro não é você. Preste
atenção de agora em diante.
(Clik na imagem da apanha do cacau)
À ENTREVISTA
Nº 54 SOBRE O TEMA:
“ABORTO MASCULINO” (5)
Argumentos que não se sustêm.
Alguns argumentam que, com uma legislação mais flexível sobre o aborto seria um "açougueiro". Por trás desse pensamento está a ideia de que as mulheres são seres irresponsáveis, e se interrompeu a gravidez é porque são más mães. A realidade diária contradiz esta ideia: a maioria são mulheres que criam os seus filhos e filhas, com enorme generosidade, esforço e responsabilidade, enquanto os pais dessas filhas e filhos "abortados" não os reconheceram abandonando-os totalmente ao seu destino.
Alguns argumentam que se o aborto fosse
descriminalizado, por estupro haveria mais violações sexuais E que se legalizassem
o pós-aborto por estupro. Por traz destes pensamentos encontra-se uma visão da
sexualidade humana forjada durante milénios de cultura patriarcal e machista.
Não sabemos, nem sequer imaginamos, como
é que viveriam os seres humanos a nossa sexualidade em sociedades com equi dade entre homens e mulheres. É a cultura
machista, expressa numa sexualidade vivida como um exercício de poder e
dominação, e não como um jogo onde o amor é compartilhado, a causa da gravidez
forçada muitos e, portanto, de muitos abortos. É a cultura machista que devemos
analisar e superar se qui sermos
evitar o aborto.
quinta-feira, junho 28, 2012
Ultrapassámos
as expectativas…
as expectativas…
O futebol, mais que os outros jogos, tem
uma componente bastante grande de aleatório: o ressalto da bola que bate no
adversário e ganha um desvio caprichoso, o julgamento do árbitro sempre falível,
a trajectória que leva a bola à barra, etc… Talvez, por isso, os jogadores sejam
tão crentes benzendo-se por tudo e por nada, beijando a relva, elevando aos céus
os braços em sinal de agradecimento ou de súplica.
Fomos afastados da final do Campeonato
Europeu de Futebol pela Espanha, actual campeã da Europa e do Mundo, num jogo
que acabou empatado no fim do prolongamento, no desempate por grandes
penalidades e por um chuto que foi à barra… e conseguimos, em grande parte, desmontar aquele irritante tike-tak, tike-tak dos jogadores espanhóis.
Eu, que sou patriota mas não faccioso, diria que se fez justiça no resultado final como já se tinha feito no Itália – Inglaterra, também no desempate por grandes penalidades.
Eu, que sou patriota mas não faccioso, diria que se fez justiça no resultado final como já se tinha feito no Itália – Inglaterra, também no desempate por grandes penalidades.
O Cristiano Ronaldo - considerado pela Organização em dois jogos o melhor jogador em campo - marcou três dos nossos golos no Campeonato e também ele, como
toda a equi pa, ultrapassou as
expectativas colocando Portugal entre as quatro melhores da Europa o que me parece lisonjeiro.
… E agora, voltemos à crise…
(Click na imagem do nosso penalti à barra...)
BALANCÊ - CARMEM MIRANDA
Mais um grade êxito popular de João de Barro - Braguinha - desta vez em colaboração com o nosso Alberto Ribeiro na voz da grande Carmem Miranda.
ALENTEJANO
Um
alentejano chega a um bordel e pergunta:
- Quanto
custa uma menina?
- Depende
do tempo.
- Bom...,
suponhamos que chove.
CONFISSÃO
Vai um
monge confessar-se e diz para o padre:
- Padre,
fiz amor com uma preta num quarto escuro... É pecado?
- Não, meu
filho. É muita pontaria!
NO DEPARTAMENTO DE IMIGRAÇÃO
- Sexo?
- Três
vezes por semana.
- Não...
eu quero dizer masculino ou feminino?
- Não
importa.
ALFÂNDEGA
Joaqui m
chega ao aeroporto todo carregado de malas.
Quando já
ia a embarcar, viu o seu amigo brasileiro, que era fiscal da alfândega. Este,
gritou-lhe de longe:
- E aí,
Joaquim? Tudo jóia?
- Tudo
não! Metade é cocaína.
A JOVEM
Um
camionista pára a sua viatura à beira da estrada e dá boleia a uma bela jovem.
Depois de conversarem um pouco, ambos decidiram parar para comer qualquer coisa
e acabam por ir para o quarto de um motel. Enquanto a escultural jovem se
despe, o homem pergunta-lhe:
- Diz-me
lá: que idade é que tens?
- Treze.
- Por amor
de Deus! Veste-te imediatamente e vai-te embora daqui!
- Olha,
mais um supersticioso!
A OVELHA E O CARNEIRO
Diz a
ovelha para o carneiro:
- Tens tão
pouca lã...
E diz ele:
- Então,
mas viemos para aqui para dar uma queca, ou para fazer tricô?!
COMO UM
TOURO
Uma
mulher, toda boazona, vai ao médico:
-
Sr.Doutor: queria que fizesse algo pelo meu marido... Algo que o fizesse ficar
como um touro!
- Muito
bem senhora, dispa-se que vamos começar pela parte dos cornos!
AO TELEFONE
- Alô! A
minha sogra quer atirar-se pela janela!
-
Enganou-se no número... aqui é duma carpintaria!
- Sim, eu
sei,.. mas é que a janela não se abre!
GABRIELA
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 136
Gabriela levantava-se, não deixava de sorrir, quase a
agradecer.
- Que me diz de
minha proposta?
- Quero não, o
senhor me desculpa. Não é por nada, não leve a mal. Tou bem aqui , não me falta nada. Me dê licença seu coronel.
Sobre o muro baixo, no fundo do qui ntal,
aparecia a cabeça de Dª Arminda a chamar por Gabriela:
- Viu que
coincidência? Eu não tava lhe falando? Também quer botar casa para você…
- Gosto dele
não… Nem que tivesse morrendo de fome.
- É o que lhe
digo: é só você querer…
- Quero nada
não…
Estava contente com o que possuía, os vestidos de
chita, as chinelas, os brincos, o broche, uma pulseira; dos sapatos não
gostava, apertavam-lhe os pés. Contente com o qui ntal,
a cozinha, o seu fogão, o quartinho onde dormia, a alegria quotidiana do bar
com aqueles moços bonitos – o professor Josué, seu Tonico, seu Ari – e aqueles
homens delicados – seu Filipe, o Doutor, o Capitão – contente com o negrinho
Tuísca, seu amigo, com seu gato conqui stado
ao morro.
Contente com seu Nacib. Era bom dormir com ele, a
cabeça descansando em seu peito cabeludo, sentindo nas ancas o peso da perna do
homem gordo e grande, um moço bonito. Com o bigode fazia-lhe cócegas no
cangote. Gabriela sentiu um arrepio: era tão bom dormir com homem, mas não
homem velho por casa e comida, vestido e sapato.
Com homem moço, dormir por dormir, homem forte e
bonito como seu Nacib. Essa dona Arminda com tanto espiritismo, estava era
ficando maluca. Que ideia sem pés nem cabeça, aquela do casamento com seu
Nacib. Que era bom de pensar, ah! era bom… Dar o braço a ele, sair andando na
rua. Mesmo que fosse de sapato apertado. Entrar no cinema, sentar junto dele,
encostar a cabeça no ombro macio como um travesseiro. Ir a uma festa, dançar com
Nacib. Aliança no dedo…
Pensar, para quê? Valia a pena não… Seu Nacib era para
casar com moça distinta, toda nos “brinques”, calçando sapato, meia de seda,
usando perfume. Moça donzela, sem vício de homem. Gabriela servia para
cozinhar, a casa arrumar, a roupa lavar, com homem deitar. Não velho e feio,
não por dinheiro. Por gostar de deitar.
Clemente na estrada, Nhôzinho na roça, Zé do Carmo
também. Na cidade, Bebinho, moço estudante, casa tão rica! Vinha mansinho, na
ponta dos pés, com medo da mãe. Primeiro de todos, ele era menina, foi mesmo
seu tio. Ela era menina; de noite seu tio, velho e doente.
Da Luz do fifó
Sob o sol ardente, o dorso nu, as foices presas em
varas longas, os trabalhadores colhiam os cocos de cacau. Caíam num baque surdo
os frutos amarelos, mulheres e crianças os recolhiam e partiam com tocos de
facão.
Amontoavam-se os grãos de cacau mole, brancos de mel,
eram metidos nos caçuás, levados para os cochos no lombo dos burros.
(Click na imagem. De preto, nunca me comprometo...)
(Click na imagem. De preto, nunca me comprometo...)
À ENTREVISTA Nº
54 SOBRE
O TEMA: “ABORTO MASCULINO” (4)
Se as paredes pudessem falassem
Há vários filmes que lidam com a questão do aborto e promovem um debate sobre uma questão controversa e vital. Destacamos três. "Se as paredes pudessem falar" (If These Walls Could Talk), os diretores Sacova Cher e Nancy (EUA, 1996), que conta a história de três mulheres de diferentes origens sociais que se confrontam com a necessidade de abortar, nos EUA em 1952, 1974 e 1996.
"O Segredo de Vera Drake", o Director
Mike Leigh (França, Grã-Bretanha 2006). Esta história tem lugar em Londres em 1950. A facilidade com que
Vera fez abortos ("Eu ajudo as meninas" e definiu-o ela) durante
vinte anos, quando em Inglaterra era proibido fazê-lo, e a solidariedade e
generosidade da vida desta mulher comum, pobre e feliz, permitiu construir um filme com uma dimensão cristã única.
"O Crime do Padre Amaro",
dirigido por Carlos Carrera (México, 2002), baseado no romance de Eça de
Queiroz, escritor português, mostra uma das formas mais escondidas do aborto
masculino: os sacerdotes que engravidam as raparigas e as mulheres e as forçam
a abortar para não assumirem a responsabilidade ou perderem seu status e a sua
fama.
quarta-feira, junho 27, 2012
JOÃO BRAGA OU BRAGUINHA
Carlos Albert Ferreira Braga, conhecido por Braguinha ou João de Barro, famoso compositor pelas suas marchas de carnaval. Faleceu em 2006, quase com 100 anos e deixou atrás de si uma obra que todos os brasileiros e portugueses desse tempo, cantaram. Chiquita Bacana, Pirata da Perna de Pau, Balancé e muitas outras que se imortalizaram e fazem parte da cultura brasileira. Recordá-las é um acto de justiça e um gesto de bom gosto.
EMILINHA BORBA - CHIQUITA BACANA
No infantário, a professora pergunta:
- Qual a parte do corpo que chega primeiro ao céu?
Uma menina levanta o braço:
-As mãos, professora !
-E porquê?
-Porque quando rezamos elevamos as mãos ao céu.
Nisto, o Tomé retrucou.
- Não, nada disso, são os pés!
- Ah sim, Tomé, e porquê? - Pergunta a professora…
- Bem, esta noite, fui ao quarto dos meus pais, a minha mãe tinha os pés no ar, e estava a gritar:
- Meu Deus, meu Deus, estou indo ao céu… estou indo ao céu...
E ainda bem que o meu pai estava em cima dela segurando-a, senão, lá ia ela.
- Qual a parte do corpo que chega primeiro ao céu?
Uma menina levanta o braço:
-As mãos, professora !
-E porquê?
-Porque quando rezamos elevamos as mãos ao céu.
Nisto, o Tomé retrucou.
- Não, nada disso, são os pés!
- Ah sim, Tomé, e porquê? - Pergunta a professora…
- Bem, esta noite, fui ao quarto dos meus pais, a minha mãe tinha os pés no ar, e estava a gritar:
- Meu Deus, meu Deus, estou indo ao céu… estou indo ao céu...
E ainda bem que o meu pai estava em cima dela segurando-a, senão, lá ia ela.
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 135
-
E você não tem vontade de ser uma senhora, mandar numa casa, sair de braço com
o seu marido, vestir do bom e do melhor, ter representação?
-
Era capaz de ter de calçar sapato todo o dia… gosto não… De calçar sapato. De
casar com seu Nacib, era até capaz de gostar. Ficar a vida toda cozinhando para
ele, ajudando ele… – Sorria, ronronava para o gato, tocava-lhe o nariz molhado
e frio. – Mas qual, seu Nacib tem mais que fazer. Não vai querer casar com uma
qualquer como eu, que ele já encontrou perdida… quero pensar nisso não, Dª
Arminda. Nem que ele fosse maluco.
Pois eu lhe digo minha filha. É só você
querer, saber levar as coisas com jeito, dando e negando, deixando ele com água
na boca. Ele já anda assustado. Meu Chico me contou que o juiz fala em botar
casa para você.
Ele ouviu seu Nhô-Galo dizer, seu Nacib
anda com o coração na mão.
-
Quero não… – Morria o sorriso em seus lábios.
-
Gosto dele não. Velho sem graça esse tal de juiz.
-
Lá está outro… – sussurrou Dª Arminda.
O coronel Manuel das Onças, com seu
andar de roceiro, subia a rua. Parava ante as mulheres, tirava o chapéu-panamá,
com um lenço de cor limpava o suor.
-
Boas tardes.
-
Boa tarde, coronel – respondia a viúva.
-
Essa é a casa de Nacib, não é? Conheci pela moça.
-
Apontava Gabriela. Ando procurando empregada, vou trazer a família para Ilhéus…
Não sabem de nenhuma?
-
Empregada pra quê, coronel?
-
Hum… pra cozinhar…
-
É difícil por aqui .
-
Quanto Nacib lhe paga?
Gabriela levantava os olhos cândidos.
-
Sessenta mil réis, sim senhor…
-
Paga bem, não há dúvida.
Fez-se um silêncio prolongado, o
fazendeiro olhava o corredor, Dª Arminda recolheu seus remendos, cumprimentou,
ficou ouvindo por detrás da porta de sua casa.
O coronel abriu-se num sorriso
satisfeito:
-
Pra lhe falar verdade, de cozinheira não preciso. Quando a família vier trago
uma da roça. Mas é pena um morenão como você metida na cozinha.
-
Porquê, seu coronel?
(Click na imagem. De uma beleza diferente da Gabriel mas não inferior)
À ENTREVISTA
Nº 54
SOB O TEMA: “ABORTO MASCULINO” (3)
Sem julgamento, com compaixão.
Assim como a Bíblia foi escrita
exclusivamente por homens, a doutrina das igrejas cristãs também foi projectada e desenvolvida sempre por homens. Este é um facto que nos permite
"suspeitar" dos critérios teológicos que consideram o aborto um crime
e culpar e condenar as mulheres que interrompem uma gravidez indesejada ou
perigosas para a sua vida ou à saúde.
Como nas igrejas cristãs sempre comandaram homens
determinados, padres e pastores, homens machistas sempre expressaram ideias
sobre todos os assuntos relacionados com a maternidade, sexualidade e
fertilidade.
Isto tem obscurecido os pontos de vista
das mulheres, que parecem estar a mais quando se avalia a opção por interromper
uma gravidez. Acompanhar a mulher a reflectir e a decidir. A melhor coisa é que
a reflexão e a decisão sejam acompanhadas pelo homem que gerou a nova vida e
que muitas vezes não o fazem. Acompanhá-las para reflectir e decidir isso é o
que Jesus faria. Não julguem e nunca condenem as decisões das mulheres.
terça-feira, junho 26, 2012
Imagem
O Alexandre e o Mar
O
meu colega e amigo Alexandre, vitima precoce de um cancro desengalgado
que o tomou de gancho e decidiu perder pouco tempo com ele porque, … vá lá
saber-se porquê… não simpatizou ou talvez apenas por ter muito que fazer. Levou-o
dolorosa e rapidamente. Sem paciência, nem tempo e muito menos disposição
porque as dores eram muitas, o Alexandre, nos últimos dias da sua vida, pedia à Bela, sua mulher de sempre, que o metesse no carro e o levasse a ver o mar.
Estendendo
a vista pelo horizonte sem fim das esverdeadas águas do Oceano Atlântico, ele
encontrava como que a continuação da vida que lhe fugia, aqui lo
que desejava e as paredes do seu quarto não lhe permitiam.
Agradeço-te,
Alexandre, não me teres chamado para o pé de ti como fazias quando eu te lia, nos bancos do Jardim do Príncipe Real, um livro do Pitigrilli.
Então, chorava a rir contigo e era muito agradável… Poupaste-me as lágrimas que em nada te teriam ajudado. Ficaram, no entanto, sem eu o saber, para serem derramadas sobre a carta em que a Bela me deu a noticia uns tempos depois.
Agora,
gosto de pensar que ficaste à beira-mar e neste momento, neste preciso momento,
lá continuas, sentado em uma qualquer rocha, num local à tua escolha, olhando o
horizonte sem que nada se possa intrometer entre a tua vista e o infinito.
Tomei a liberdade de escolher estas águas, de vários tons entre eles o
verde, o nosso verde... Repara que está livre, desocupado, nada impede a tua
vista de o percorrer sem limites...
VÍDEO
Ginástica para cães. O pequenito assiste refastelado na sua alcofa e aparece no fim para os aplausos, que é como quem diz: para a guloseima.
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 134
Quero não… quero não, Dª
Arminda. Pra quê, não é? É melhor não bulir com os mortos, deixar eles em paz. Gosto disso não… –
Coçava a barriga do gato, o ronronar crescia.
- Pois faz muito mal, minha filha. Assim seu
guia não pode lhe aconselhar, você não entende o que ele diz. Vai andando na
vida como uma cega. Vai mostrando o caminho pra gente, evitando os tropeços…
- Tenho não Dª Arminda. Que tropeço?
- Não são só os tropeços, são os conselhos que
ele dá. Outro dia tive um parto difícil, o de Dª Amparo. O menino atravessado.
Eu nem saber que fazer, seu Milton já com história de chamar o médico. Quem me
valeu? O finado meu marido que me acompanha, não me larga.
Lá em cima – apontava o céu
– eles sabem de um tudo, até de medicina. Ele foi-me dizendo no ouvido, eu fui
fazendo. Nasceu um bitelo de menino!...
- Deve ser bom ser parteira… Ajudar os
inocentinhos a nascer.
- Quem vai lhe aconselhar? Logo você que tanto
precisa…
- Preciso, Dª Arminda, porquê? Sabia não…
- Você, minha filha é uma tola, desculpe que
lhe diga. Tolona. Nem sabe aproveitar o que Deus lhe deu.
- Não diga, Dª Arminda, tou até sem entender.
Tudo o que tenho, eu aproveito. Mesmo o sapato que seu Nacib me deu. Vou com
ele pró bar. Mas, não gosto não, gosto mais de chinelos. Andar de sapatos, não
gosto não…
- Quem está falando de sapato, boba? Então
você não vê como seu Nacib está babado, caidinho, vive num pé e noutro…
Gabriela riu apertando o
gato contra o peito:
- Seu Nacib é moço bom, vou ter medo de quê?
Ele não pensa me mandar embora, só quero dar-lhe satisfação…
Dª Arminda picava o dedo com
a agulha ante tanta cegueira:
- Até me piquei… Você é mais tola do que eu
pensava. Sou Nacib podendo lhe dar um tudo… Tá rico, seu Nacib! Se pedir seda,
ele dá; se pedir moleca para ajudar no trabalho ele contrata logo duas; se
pedir dinheiro, é o dinheiro que qui ser,
ele dá.
- Preciso não… Pra quê?
Você pensa que vai ser
bonita a vida toda? Se não aproveitar agora, depois é tarde. Sou capaz de jurar
que você não pede nada a seu Nacib. Não é mesmo?
- Para ir ao cinema quando a senhora vai. Que
mais vou pedir?
Dª Arminda perdia a calma,
atirava a meia com o ovo de madeira, o gato assustava-se e punha-lhe uns olhos
malignos.
- Tudo! Tudo, menina, tudo que qui ser que ele dá – baixava a voz num sussurro – Se
você souber fazer ele pode até casar com você…
- Casar comigo? Porquê? Precisa
não, Dª Arminda, porquê vai casar? Seu Nacib é para casar com moça direita, de
família, de representação. Porque havia de casar comigo? Precisa não...
INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES
À ENTREVISTA Nº 54 SOBRE O TEMA:
“O ABORTO MASCULINO” (2)
Dois presentes: vida e liberdade para decidir sobre a vida
Confrontado com o dilema do aborto estão
sempre em jogo, a vida e liberdade e as ideias que temos sobre elas. E como,
muitas vezes, costumamos pensar que a vida é "um dom de Deus", ideias
providencialistas de Deus impedem-nos de pensar que Deus nos deu a liberdade de
decidir responsavelmente sobre as nossas vidas e sobre a vida.
Por tratar-se sempre em um dilema entre
a vida e a vida, por estar em jogo a vida e a liberdade, cada caso de gravidez
indesejada e de cada decisão sobre interromper ou não essa gravidez, está
sempre rodeada de questões vitais, e de respostas que não são fáceis. O mais
cristão é respeitar as respostas que cada mulher, consciente e responsável, dá ao
seu próprio caso. Nenhuma mulher, mesmo quando ela defende a interrupção da
gravidez, deve ser rotulada como pró-aborto , ou ser julgada ou condenada.
segunda-feira, junho 25, 2012
Concerto para máquina de Escrever
Lembram-se daquele filme dos anos 50 ou 60 em que aparecia esta música com a máquina de escrever? Então, o teclado batia mais forte e a sua intervenção na música era muito mais expressiva. Já não recordo o filme mas a música com a máquina com a máquina de escrever nunca a esqueci...
VÍDEO
Há muito que deixei de querer entender as novas tecnologias... digam-me que são apenas truques, ilusões de óptica...
Lá, verificou-se que teria que ser
urgentemente operado ao coração, o que foi feito com total êxito.
Quando acordou, a seu lado estava a
Freira responsável pela tesouraria do hospital e que lhe disse prontamente:
- Caro senhor, a sua operação foi bem
sucedida e o senhor está salvo. Entretanto, há um assunto que precisa da sua
urgente atenção:
Como o senhor pretende pagar a conta do
hospital?
E a cobrança começou...
- O senhor tem seguro-saúde?
- Não, Irmã.
- Tem cartão de crédito?
- Não, Irmã.
- Pode pagar em dinheiro?
- Não tenho dinheiro, Irmã.
E a freira começou a suar frio,
antevendo a tragédia de perder o recebimento da conta hospitalar ! Continuou
com o interrogatório:
- Em cheque então, o senhor pode pagar?
- Também não, Irmã.
Nessa altura, a freira já estava à beira
de um ataque. E continuou...
-
Bem, o senhor tem algum parente que possa pagar a conta?
- Ah.... Irmã, eu tenho somente uma irmã
solteirona, que é freira, mas não tem um tostão.
A Freira, corrigindo-o:
- Desculpe que lhe corrija, mas as
freiras não são solteironas, como o senhor disse.
Elas são casadas com Deus!!!
- Magnífico! Então, por favor, mande a
conta ao meu cunhado!
Assim nasceu a expressão: "Deus lhe
pague".
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 133
- Tocaram fogo na edição do Diário. Gente
dos Bastos. Por causa desse palerma de engenheiro que chegou hoje…
Glória olhou para a avenida da praia:
-
O moço que está conversando com sua namorada?
-
Minha namorada? Engano, simples conhecimento. Em Ilhéus só tem uma mulher que
me tira o sono…
-
E quem é, se pode saber?
-
Posso dizer?
-
Não se acanhe…
Na porta da Igreja, as solteironas
arregalavam os olhos; na avenida, Malvina nem se dera conta.
Gabriela na berlinda
Era um gato vadio do morro, quase
selvagem. O pelo sujo de barro com tufos arrancados, a orelha despedaçada,
corredor de gatas da vizinhança, lutador sem rival, visagem de aventureiro.
Roubava em todas as cozinhas da ladeira, odiado pelas donas de casa e
empregadas, ágil e desconfiado, jamais tinham conseguido pôr-lhe a mão.
Como fizera Gabriela para conqui stá-lo, obter que ele a acompanhasse miando,
viesse deitar-se no regaço da sua saia? Talvez porque não o enxotasse com
gritos e vassouras quando ele aparecia, audaz e prudente, em busca das sobras
da cozinha.
Atirava-lhe pedaços de pelanca, rabos de
peixe, tripas de galinha. Ele foi-se habituando, agora passava a maior parte do
dia no qui ntal, dormindo à sombra
das goiabeiras. Já não parecia tão magro e sujo, se bem conservasse a liberdade
das suas noites, correndo morro e telhados, devasso e prolífero.
Quando, de volta do bar, sentava-se
Gabriela para o almoço, vinha ele roçar-se em suas pernas, a ronronar.
Mastigava enfarado os bocados que ela lhe dava, miando agradecido quando
Gabriela lhe estendia a mão e lhe acariciava a cabeça ou a barriga.
Para Dª. Arminda aqui lo
era um verdadeiro milagre. Nunca pensara amansar-se animal tão arisco, fazê-lo
vir comer na mão, deixar-se tomar ao colo, adormecer nos braços de alguém.
Gabriela apertava o gato contra os seios, os olhos semicerrados, rascando-a
levemente com as unhas.
Para Dª. Arminda só havia uma
explicação. Gabriela era médio, de poderosos eflúvios, não desenvolvida nem
mesmo descoberta, diamante bruto a lapidar nas “sessões” para que fosse
perfeito aparelho às comunicações do além-túmulo. Que outra coisa senão seus
fluidos poderiam domar animal tão bravio?
Sentadas as duas no batente da porta, a
viúva a remendar meias, Gabriela a brincar com o gato, Dª. Arminda tratava de
convencê-la.
-
Menina, o que você tem a fazer é não perder sessão. Ainda outro dia, o compadre
Deodoro me perguntou por você. «Porque aquela irmã não voltou? Ela tem um
espírito-guia de primeira. Estava por detrás dela na cadeira.»
Foi isso que ele disse: palavra por
palavra. Uma coincidência, eu tinha pensado a mesma coisa. E olha que compadre
Deodoro é entendido no assunto. Não parece, tão moço que é. Mas aqui lo, minha filha é uma intimidade com os espíritos
que só vendo. Manda e desmanda neles. Você pode vir a ser até médico vidente…