sexta-feira, maio 12, 2006

A metáfora do Elefante - sobre S. Judas...



Sabem o que tem de peculiar o elefante, é que de tão grande e volumoso que é, seja qual for o ponto de onde o observemos só vemos uma parte, para o ver na totalidade é necessário rodeá-lo, andar à volta dele.

Esta metáfora, atribuída a Eleanora Roosevelt, foi por ela utilizada para convencer o marido a regressar à vida política na sequência da poliomielite de que foi atacado em vez de ficar a afundar as mágoas no wisky e expressa a complexidade e a dimensão dos problemas ou da realidade com que nos debatemos a exigir uma grande abertura de espírito e humildade intelectual para ouvir e ponderar as várias perspectivas em que cada um vê o “elefante” sem nos fixarmos apenas naquela que, logicamente, será a nossa.

Vem isto a propósito do comentário que fizeste ao texto de 8 de Maio no blog Câocompulgas que versava uma crítica do autor do respectivo blog a um artigo do Prof. João César das Neves no DN sobre as últimas edições do Anticristo sempre preocupado na defesa dos ataques que ele vê repetirem-se ao Cristo da Igreja de Roma seja pelo Código Da Vinci ou pelo S. Judas Iscariotes - “arrastando até a prestigiada National Geographic Society na tentação de fama e lucro fáceis.” É preciso ter alguma lata, para não dizer soberba...

Gostaríamos de saber, de caminho, a quem o articulista do DN lega os proventos dos seus direitos de autor - seja em versão de crónicas, seja em versão de enfardamento das mesmas depois republicadas em livro??? Fica uma questão para o sr. professor da Católica que por não ter blog jamais responderá. Também aqui, a arrogância se oculta sob a notoriedade pública e as sombras teleguiadas da catedral de Roma e do Vaticano, que é um Estado, um grande Estado - apesar de pequeno no seu perímetro.

São dois textos que se confrontam, dois olhares, de pontos diferentes, para o “elefante” e sobre eles tu dizes no teu Comments que “gostaste de ler” o do JCN e relativamente ao outro “apreciaste a interpretação” que ele faz do primeiro.

O teu Comments é demasiado sintético e eu ficaria na dúvida, caso não conhecesse já o teu pensamento, se partilhas do ponto de vista expresso no texto do JCN ou se apenas “gostaste de o ler” por ele estar bem escrito e isto porque é possível gostar-se da forma discordando do conteúdo, o que deve ser o caso pois ao “apreciares a interpretação” que sobre ele foi feita não é com certeza do ponto de vista meramente literário mas sim do seu conteúdo.

É que um olha de frente para o “elefante” e vê a tromba e o outro olha para ele por trás e vê o rabo com aqueles pêlos grossos, hirsutos mais pretos que castanhos com que os africanos fazem interessantes pulseiras…

Agora, sem ironia, 100% de acordo com o texto do Cãocompulgas, esclarecedor, descritivo, histórico, paciente mas sem deixar de se insurgir e reagir como tu também já reagiste e insurgiste, àquela atitude do JCN, mais uma vez arrogante, de inquisidor-mor, guardião do Templo, intransigente e fanático ele sim, verdadeira ameaça a uma Igreja que se pretende aberta, tolerante, compreensiva fazendo alarde da sua própria espiritualidade porque os homens são animais de fé mas insistindo sempre na mensagem de que as pessoas se devem amar e respeitar entre si, nas suas diferenças, nas suas sensibilidades, nas suas crenças, nas suas culturas e procurando viver em paz uns com os outros e se não forem capazes de fazer isto por si próprios, pois que o façam por amor a um Deus que os fez à sua imagem e semelhança e que os espera num outro mundo para os recompensar pelas boas acções praticadas.

Porque não hão-de poder os Católicos conhecer as raízes históricas da sua religião sem que tal constitua um atentado à própria religião?

A religião Católica/Romana, mesmo descontados os primeiros trezentos anos de indefinição em termos de estrutura hierárquica e de opções sobre os documentos que seriam o pilar da mensagem a difundir por uma Igreja que se queria universal, tem já 1700 anos e sobreviveu a todas as vicissitudes, apesar dos cismas que sofreu, das críticas de que merecidamente foi alvo como centro de poder, riqueza e de controlo de consciências que foi tendo chegado aos nossos dias com menos poder, menos influencia é certo, mas com uma voz, talvez por isso mesmo, menos controversa e mais orientada para a paz no mundo e o entendimento entre os povos e não passa pela cabeça de ninguém, com algumas excepções, entre elas o Prof. JCN, que tal possa ser afectado pelo Código de Da Vinci ou pelo S. Judas Iscariotes.

É que a força da Igreja de Cristo reside na mensagem de esperança em que desde o primeiro momento ela se converteu e que é sentida fundamentalmente pelos deserdados, injustiçados e sofredores deste mundo e que ficou bem expressa nos primeiros cristãos, ainda não havia Igreja Católica, quando se dirigiam para o sacrifício cantando loas ao Senhor.

Nos dias de hoje, uma Igreja que não ouça, não tente compreender, não tolere primeiro para encaminhar depois e em vez disto se entrincheira, baionetas erguidas a perseguir demónios quando o grande inimigo está na alienação de uma sociedade de pessoas que vivem para consumir, algumas até compulsivamente e de grande parte de uma juventude que sem perspectivas de futuro se afunda na confusão das discotecas com muitos “shots” e às vezes mais umas coisas à mistura, pode ter o futuro comprometido a não ser que sejam as próprias pessoas, elas próprias, que em desespero a procurem um dia para lhes resolver os problemas da alma.

Li o texto do Sr. Prof. JCN e não tenho dúvidas que está bem escrito mas não consegui gostar do que li, trata-se de olhar para o “elefante” de uma perspectiva que não é realmente a minha e que sei, também não é a tua no Macroscopio, mas o que havemos de fazer, nós somos tolerantes e ele é com certeza uma pessoa honesta e está sinceramente convencido que está certo e nós sabemos, e o Cãocompulgas também, que ele irá continuar “ad eternum” a olhar para o “elefante” exactamente sempre da mesma maneira.

quinta-feira, maio 11, 2006

O (meu) Open do Estoril e a tenda dos VIPs




Finalmente, por amável convite e à boleia do Miguel, que não gosta de ténis mas gosta de Vips e me levou, a mim, que não gosto de Vips mas gosto de Ténis, ao Open do Estoril.

Todos os jogos começam por ser formas de entretenimento adquirindo mais tarde a dignidade de quem com eles se entretém, e porque assim é alguns passam a ser procurados como forma de promoção social porque sempre fica bem brincarmos da mesma forma que as pessoas ricas e importantes brincam para nos parecermos e confundirmo-nos com elas.

O ténis, jogado inicialmente nos campos que os ricos mandavam construir por entre os jardins das suas casas apalaçadas estava destinado, por esta razão, a desporto de elite e quando havia torneios era coisa para “inglês” ver porque também ninguém percebia um desporto em que os pontos em vez de se contarem normalmente: um, dois, três e por aí fora…começam em quinze, trinta e quarenta, vantagens para aqui, vantagens para ali, jogo, set, partida, mesmo coisa que só podia ser inventada por ricos para confundir a cabeça dos pobres.

Nunca vi nenhum vaidoso da minha cidade entrar no café numa manhã de sábado sobraçando um saco de berlindes ou uma simples bola de futebol, mas já lá os vi a passearem a raquete de ténis debaixo do braço.

Foi assim que nasceu a história dos Vips associada ao ténis.

Não fora o 25 de Abril e o poder Autárquico a construir campos de ténis por esse país fora e a tornar acessível a sua prática ao comum das pessoas, especialmente os jovens e ainda hoje os havíamos de ver a pavonearem-se com a raquete de ténis transformada em objecto de adorno as pessoas do costume armadas em “very important pearsons”.

De certa forma a democracia “estragou” o Ténis e agora pouco há fazer para além de terem que se refugiar no golfe ou no sky na Serra Nevada, na vizinha Espanha, para já não falar nos Alpes Suíços.

Salvou-se a Tenda dos Vips no Open de Ténis do Estoril, já sem as raquetes debaixo do braço mas com o mesmo ar de convencidos, puloveres de marca por cima dos ombros, displicentemente, taça de champanhe na mão, chegando-se “como quem não quer a coisa” para junto de algum “mediático” porque com tantos fotógrafos há sempre a hipótese de ficarem num “boneco”.

E eles lá estavam, os mediáticos: o incontornável, inefável e inevitável Scolari com o inseparável e pegajoso do Madaíl, mais os Vilarinhos e os Soares Francos e o Joaquim de Almeida, com o seu novo visual de barbas, enquanto decorria um desfile de moda da Massimo Dutti acompanhado por um grupo musical que abrilhantava ( vem de brilhantina) com música típica do sul de Itália com o nosso familiar e saudoso acordeão a fazer lembrar os bailes da minha aldeia nos anos cinquenta.

E os jovens, estilizados, ou eram marionetas, não reparei bem, lá iam desfilando como autómatos movidos a pilhas, antigamente teria sido a cordas, passavam a dois passos de mim, pensei eu que era ao vivo mas estavam tão mortos como quando os vejo na televisão, nos seus rostos não há expressão nem humanidade e eu pergunto a mim próprio se é preciso aquilo para vender umas camisolas ou umas calças.

À saída da Tenda (com letra maiúscula porque é dos Vips), num espaço reservado no lado direito, três senhores refastelados em três cadeirões tremiam tanto que mais pareciam acometidos de ataques epilépticos e logo uma jovem completamente industriada se aproximou para me elucidar das vantagens das massagens ao que lhe respondi que não estava interessado nos cadeirões apenas tinha parado porque me pareceu que as pessoas podiam estar a sentirem-se mal tal era a tremedeira…

No que respeita ao “desportivo” propriamente dito tive oportunidade de assistir à surpreendente vitória do nosso Gil que é o 200 e muitos do mundo com um russo, 2 metros de altura e serviços a velocidades entre os 200 e 220 de tal forma que o Gil tinha que o esperar mais de três metros atrás da linha da linha de fundo mas como os lugares do ranking não ganham jogos o “comprido” começou a enervar-se com o público, com o Gil que do outro lado se deslocava, entre os serviços, como se fosse uma lesma esgotando ao máximo os 20 segundos do regulamento e em vez de pontos começou a somar asneiras e o Gil aproveitou…mas o futuro dele ao mais alto nível vai ser apenas o de aproveitar…oxalá me engane.

A seguir tive oportunidade de ver o Carlos Moya com um argentino, bom jogador, que não conhecia, com uma esquerda muito bonita a uma mão mas que naturalmente não chegou para um Moya que já foi número um do mundo e que também ele surpreendeu, já lá vão uns anos, numa final do Open da Austrália batendo o então favoritíssimo Pete Sampras num jogo de que me recordo perfeitamente e por isso foi um prazer para mim vê-lo ao vivo depois de o ver na televisão durante tantas horas ao longo dos anos agora já em fim de carreira com 32 anos de idade e a quem os espanhóis apelidaram de “ el matador” mas que, apesar do título, teve sempre com um comportamento no corte perfeitamente irrepreensível.

Talvez para o ano vá lá outra vez se arranjar um GPS que de Santarém me leve lá direitinho. Dessa vez serás tu meu convidado não para o Pavilhão Vip mas para vermos em conjunto os jogos desse dia OK?

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