Eleições Americanas
ELEIÇÕES AMERICANAS
Confesso que aguardei com um misto de ansiedade e curiosidade os resultados da super terça-feira das eleições primárias nos Estados Unidos da América.
É certo, que por uma série de razões, o mundo em que vivemos é, para o bem e para o mal, cada vez mais uma aldeia global e por isso não é de estranhar que aquilo que se passa na casa dos outros nos interesse cada vez mais, e os jornais e televisões dão-se bem conta disso fornecendo-nos notícias, reportagens no local, comentários, debates, tudo o que possa contribuir para satisfazer essa curiosidade.
Reconheço, no entanto, que no que se refere aos EUA a curiosidade tem razões mais profundas e tem a ver com a história, a cultura e o papel determinante que a América têm tido no mundo durante toda a minha vida, muito em especial durante a 2ª G. G. Mundial em que intervieram com o sacrifício de milhares de vidas dos seus cidadãos para nos ajudarem a livrar do pesadelo nazi.
Os meus heróis do cinema eram americanos, os filmes que faziam as minhas delícias americanos eram, e as coboyadas que preenchiam as minhas brincadeiras de rapaz eram, também elas, “made in América”.
Depois, mais tarde, vieram o Presidente Kennedy que, tal como o seu irmão Robert Kennedy, Secretário de Estado da Justiça e Martin Luter King representavam aos meus olhos, nos inícios da já distante década de sessenta, os líderes das forças do Bem mortos “em combate” pelas forças do Mal.
Senti essas mortes como se fossem cidadãos do meu país, dos mais queridos e estimados porque mais que a pátria, a língua ou a religião são os valores da liberdade e do respeito pela pessoa humana que comungamos que fazem de nós, verdadeiramente, gente da mesma terra, da mesma língua e da mesma religião.
Percebi também, nessa altura, o extraordinário poder das forças do Mal naquele país que era capaz de eliminar as três personalidades mais prestigiadas não só da sua sociedade como também do mundo com inteira e total impunidade.
Nunca quis visitar os EUA porque dentro de mim, embora de forma não confessada, jamais consegui perdoar a essa facção da sociedade americana, soberba, poderosa, radical, obscurantista, manhosa e ignorante, os crimes cometidos sobre essas três pessoas.
E depois deles, o que é facto, é que ninguém mais me empolgou naquele país não obstante todos os homens da cultura e da ciência que produziu mas…empolgar é outra coisa, porque também tem a ver com as causas e a forma como por elas se luta e morre.
E agora, aparece o Barack Obama, jovem, enriquecido genética e culturalmente por ser filho de pai negro Queniano e mãe branca, americana do Kansas, com porte distinto, elegante, voz profunda, discurso bem estruturado, que não fala depressa nem devagar, que nos olha directamente, não com aquela persuasão agressiva de quem nos quer convencer a comprar qualquer coisa, mas com uma convicção que vem do fundo da sua alma e nos diz, tal como nos poderia ter dito Martin Luter King quarenta anos atrás: YES WE CAN !
E isto é uma mensagem de força e de esperança que de todas as mensagens é aquela que mais nos toca, aquela que mais precisamos de ouvir, aquela que mais agradecemos que nos digam.
Não nos prometam nada, estamos fartos de promessas, aqui, nos EUA, em todo o mundo, as promessas são, hoje em dia e cada vez mais, argumentos políticos descredibilizados por vezes mesmo ofensivos, atentatórios da nossa inteligência.
Digam-nos antes, com uma centelha no olhar, como faz Barak Obama, que a mudança é possível e que nós somos capazes de a operar, que os caminhos estão aí à nossa frente como sempre estiveram aguardando quem tenha a coragem, e o desprendimento para os percorrer.
Os EUA e o mundo têm sido, nos últimos anos, vítimas de um homem que à frente daquele país tem representado as “forças do Mal”, as mesmas que mataram os Kennedys e Martin Luther King e se alguma palavra faz mais sentido nesta campanha para as eleições americanas, é exactamente aquela que tem sido o “cavalo de batalha”do discurso político de Obama: Mudança!
Os americanos têm que acreditar que é possível mudar e se para tal mais do que um político precisarem de um guia Messiânico aí o têm na pessoa de Obama porque a dimensão política, neste momento, acredito que já não seja suficiente.
Milhões de pessoas na América não têm seguro de doença, muitos outros milhares não têm casa e vivem na rua numa pobreza confrangedora e isto num país que tem o maior exército e se dá ao luxo de fazer guerras para prestígio balofo do seu Presidente armado em Xerife do mundo.
Os jovens, que são a parte mais sã e menos corrompida da sociedade e que viviam alheios das questões políticas, perceberam a mensagem e não só se entusiasmaram como igualmente se estão a mobilizar para a difundirem.
Numa sociedade de interesses serão eles capazes de levar Obama à vitória?
E será Obama capaz de penetrar ainda nos eleitores latino/americanos que até à data têm constituído “o abono de família” da Srª Clinton?
Da Srª Clinton, a preferida, à partida, do aparelho do Partido Democrata, mulher inteligente e muito sabida, como diz o nosso povo, não haverá grandes surpresas a esperar… a não ser a sua eventual derrota perante um veterano da guerra do Vietnam, uma vez que foi Obama e não ela que teve melhores resultados em Estados tradicionalmente dominados pelos Republicanos, para além de possuir uma margem de expansão no eleitorado que parece ser maior no candidato do Estado de Illinois.
E do Sr.Obama o que poderemos esperar, que expectativas estão a ser criadas por ele aos americanos e ao mundo que acredita nele?
- Acima de tudo uma profunda abertura da política do Chefe da Casa Branca aos valores humanistas e universais, uma não dependência dos grandes negócios e interesses e uma igual abertura ao diálogo com o mundo na base de valores de justiça, igualdade e respeito por todos os povos e que estão, preto no branco, na Carta das Nações Unidas.
Os EUA estão enfraquecidos, a política praticada nos últimos anos pelo Sr. Bush arruinou o país, a dívida Pública e o Défice Comercial são monstruosos mas a força do seu Exército é a mais poderosa, para além de deterem uma parte considerável da “inteligência” do mundo pelo que a sua capacidade de influenciarem os destinos da humanidade é ainda determinante.
Por tudo isto, e face ao contexto internacional herdado do Sr. Bush, não são apenas os EUA que precisam de Obama, é o mundo, todo ele.
Neste momento, pelo menos, as eleições já garantiram o afastamento da área do poder do núcleo duro conservador e evangelista da sociedade americana, resta agora saber, como pergunta António Vitorino, se Barak Obama “pela renovação do discurso e da lógica política de que é portador, se mostra capaz de ultrapassar as divisões das origens rácicas, penetrando nas elites do eleitorado branco sem dificuldades, e mesmo capaz de atingir eleitores moderados”.
Após a super terça-feira os candidatos democratas estão praticamente empatados: Hillary tem mais delegados, mas Obama tem mais probabilidades nas próximas primárias.
Este sistema de primárias permite aos eleitores avaliar os concorrentes sob stress mas, prolongando-se, divide o partido até muito próximo das eleições finais e se as coisas se mantiverem nesta indecisão poderá ter que ser mesmo a Convenção a fazer a opção final em função do candidato julgado em melhores condições para derrotar o adversário na votação para Presidente.
Historicamente, há más recordações de uma Convenção deste género: após o assassínio de Bob Kennedy, a Convenção do partido Democrático, em Chicago, acabou em tumultos na sala e na rua e foi Richard Nixon, do partido Republicano, que acabou por ser eleito.
Confesso que aguardei com um misto de ansiedade e curiosidade os resultados da super terça-feira das eleições primárias nos Estados Unidos da América.
É certo, que por uma série de razões, o mundo em que vivemos é, para o bem e para o mal, cada vez mais uma aldeia global e por isso não é de estranhar que aquilo que se passa na casa dos outros nos interesse cada vez mais, e os jornais e televisões dão-se bem conta disso fornecendo-nos notícias, reportagens no local, comentários, debates, tudo o que possa contribuir para satisfazer essa curiosidade.
Reconheço, no entanto, que no que se refere aos EUA a curiosidade tem razões mais profundas e tem a ver com a história, a cultura e o papel determinante que a América têm tido no mundo durante toda a minha vida, muito em especial durante a 2ª G. G. Mundial em que intervieram com o sacrifício de milhares de vidas dos seus cidadãos para nos ajudarem a livrar do pesadelo nazi.
Os meus heróis do cinema eram americanos, os filmes que faziam as minhas delícias americanos eram, e as coboyadas que preenchiam as minhas brincadeiras de rapaz eram, também elas, “made in América”.
Depois, mais tarde, vieram o Presidente Kennedy que, tal como o seu irmão Robert Kennedy, Secretário de Estado da Justiça e Martin Luter King representavam aos meus olhos, nos inícios da já distante década de sessenta, os líderes das forças do Bem mortos “em combate” pelas forças do Mal.
Senti essas mortes como se fossem cidadãos do meu país, dos mais queridos e estimados porque mais que a pátria, a língua ou a religião são os valores da liberdade e do respeito pela pessoa humana que comungamos que fazem de nós, verdadeiramente, gente da mesma terra, da mesma língua e da mesma religião.
Percebi também, nessa altura, o extraordinário poder das forças do Mal naquele país que era capaz de eliminar as três personalidades mais prestigiadas não só da sua sociedade como também do mundo com inteira e total impunidade.
Nunca quis visitar os EUA porque dentro de mim, embora de forma não confessada, jamais consegui perdoar a essa facção da sociedade americana, soberba, poderosa, radical, obscurantista, manhosa e ignorante, os crimes cometidos sobre essas três pessoas.
E depois deles, o que é facto, é que ninguém mais me empolgou naquele país não obstante todos os homens da cultura e da ciência que produziu mas…empolgar é outra coisa, porque também tem a ver com as causas e a forma como por elas se luta e morre.
E agora, aparece o Barack Obama, jovem, enriquecido genética e culturalmente por ser filho de pai negro Queniano e mãe branca, americana do Kansas, com porte distinto, elegante, voz profunda, discurso bem estruturado, que não fala depressa nem devagar, que nos olha directamente, não com aquela persuasão agressiva de quem nos quer convencer a comprar qualquer coisa, mas com uma convicção que vem do fundo da sua alma e nos diz, tal como nos poderia ter dito Martin Luter King quarenta anos atrás: YES WE CAN !
E isto é uma mensagem de força e de esperança que de todas as mensagens é aquela que mais nos toca, aquela que mais precisamos de ouvir, aquela que mais agradecemos que nos digam.
Não nos prometam nada, estamos fartos de promessas, aqui, nos EUA, em todo o mundo, as promessas são, hoje em dia e cada vez mais, argumentos políticos descredibilizados por vezes mesmo ofensivos, atentatórios da nossa inteligência.
Digam-nos antes, com uma centelha no olhar, como faz Barak Obama, que a mudança é possível e que nós somos capazes de a operar, que os caminhos estão aí à nossa frente como sempre estiveram aguardando quem tenha a coragem, e o desprendimento para os percorrer.
Os EUA e o mundo têm sido, nos últimos anos, vítimas de um homem que à frente daquele país tem representado as “forças do Mal”, as mesmas que mataram os Kennedys e Martin Luther King e se alguma palavra faz mais sentido nesta campanha para as eleições americanas, é exactamente aquela que tem sido o “cavalo de batalha”do discurso político de Obama: Mudança!
Os americanos têm que acreditar que é possível mudar e se para tal mais do que um político precisarem de um guia Messiânico aí o têm na pessoa de Obama porque a dimensão política, neste momento, acredito que já não seja suficiente.
Milhões de pessoas na América não têm seguro de doença, muitos outros milhares não têm casa e vivem na rua numa pobreza confrangedora e isto num país que tem o maior exército e se dá ao luxo de fazer guerras para prestígio balofo do seu Presidente armado em Xerife do mundo.
Os jovens, que são a parte mais sã e menos corrompida da sociedade e que viviam alheios das questões políticas, perceberam a mensagem e não só se entusiasmaram como igualmente se estão a mobilizar para a difundirem.
Numa sociedade de interesses serão eles capazes de levar Obama à vitória?
E será Obama capaz de penetrar ainda nos eleitores latino/americanos que até à data têm constituído “o abono de família” da Srª Clinton?
Da Srª Clinton, a preferida, à partida, do aparelho do Partido Democrata, mulher inteligente e muito sabida, como diz o nosso povo, não haverá grandes surpresas a esperar… a não ser a sua eventual derrota perante um veterano da guerra do Vietnam, uma vez que foi Obama e não ela que teve melhores resultados em Estados tradicionalmente dominados pelos Republicanos, para além de possuir uma margem de expansão no eleitorado que parece ser maior no candidato do Estado de Illinois.
E do Sr.Obama o que poderemos esperar, que expectativas estão a ser criadas por ele aos americanos e ao mundo que acredita nele?
- Acima de tudo uma profunda abertura da política do Chefe da Casa Branca aos valores humanistas e universais, uma não dependência dos grandes negócios e interesses e uma igual abertura ao diálogo com o mundo na base de valores de justiça, igualdade e respeito por todos os povos e que estão, preto no branco, na Carta das Nações Unidas.
Os EUA estão enfraquecidos, a política praticada nos últimos anos pelo Sr. Bush arruinou o país, a dívida Pública e o Défice Comercial são monstruosos mas a força do seu Exército é a mais poderosa, para além de deterem uma parte considerável da “inteligência” do mundo pelo que a sua capacidade de influenciarem os destinos da humanidade é ainda determinante.
Por tudo isto, e face ao contexto internacional herdado do Sr. Bush, não são apenas os EUA que precisam de Obama, é o mundo, todo ele.
Neste momento, pelo menos, as eleições já garantiram o afastamento da área do poder do núcleo duro conservador e evangelista da sociedade americana, resta agora saber, como pergunta António Vitorino, se Barak Obama “pela renovação do discurso e da lógica política de que é portador, se mostra capaz de ultrapassar as divisões das origens rácicas, penetrando nas elites do eleitorado branco sem dificuldades, e mesmo capaz de atingir eleitores moderados”.
Após a super terça-feira os candidatos democratas estão praticamente empatados: Hillary tem mais delegados, mas Obama tem mais probabilidades nas próximas primárias.
Este sistema de primárias permite aos eleitores avaliar os concorrentes sob stress mas, prolongando-se, divide o partido até muito próximo das eleições finais e se as coisas se mantiverem nesta indecisão poderá ter que ser mesmo a Convenção a fazer a opção final em função do candidato julgado em melhores condições para derrotar o adversário na votação para Presidente.
Historicamente, há más recordações de uma Convenção deste género: após o assassínio de Bob Kennedy, a Convenção do partido Democrático, em Chicago, acabou em tumultos na sala e na rua e foi Richard Nixon, do partido Republicano, que acabou por ser eleito.