Memórias Futuras
Olhar o futuro pelo espelho retrovisor da história. Qual história? Que futuro?
sábado, dezembro 06, 2014
Um homem caminhava pela praia de Cascais e tropeçou numa velha
lâmpada.
Pegou nela, esfregou-a e... um génio saltou lá de dentro, que
disse:
- OK. Libertaste-me da lâmpada, blá, blá, blá! Esquece aquela
história dos 3 desejos! Tens direito a um desejo apenas e ponto final!
O homem disse:
- Eu sempre qui s ir
aos Açores, mas tenho um medo enorme de voar... e no mar costumo ficar enjoado.
Podes construir uma ponte até aos Açores, para eu poder ir de carro?
O génio riu muito e disse:
- Impossível. Pensa na logística do assunto. Como é que os
pilares chegavam ao fundo do Oceano Atlântico? Pensa em quanto betão armado, em
quanto aço, em quanta mão-de-obra... Não, de maneira nenhuma! Pensa noutro
desejo.
O homem compreendeu e tentou pensar num desejo realmente
possível.
- Fui casado e divorciado 4 vezes. As minhas mulheres disseram
sempre que eu não me importava com elas e que era um insensível. Então, é meu
desejo compreender as mulheres; saber como se sentem por dentro e o que estão a
pensar quando não falam connosco; saber porque estão a chorar... saber
realmente o que querem quando não dizem nada... saber como fazê-las realmente
felizes!
O génio respondeu:
- Queres a porcaria da ponte com
duas, ou quatro faixas???!!!!
SANTARÉM
E porque a minha cidade é Santarém vamos contar em pormenor a partir de um relato de Alexandre Herculano - a aventura que foi a sua conquista por D. Afonso Henriques que ocorreu na madrugada de 15 de Março de
1147, sob o comando de próprio Afonso Henriques, não só numa estratégia de reconqui sta cristã rumo ao sul, encetada logo após a
criação do Condado Portucalense, mas também porque era uma cidade muito rica.
Um escritor árabe, Razi de seu nome, escreveu: "... os campos podem dar, querendo-se,duas sementeiras por ano, tão boa é a terra de sua natureza".
Antes de atacar e conquistar Santarém, Afonso Henriques enviou Men Ramires à cidade com o fim secreto de estudar o local e ver por onde seria mais fácil escalar os muros. E ele assim fez: disfarçou-se de homem de negócios e observou tudo tal como o rei lhe tinha mandado. Desempenhada a missão fez ao Rei o relato do que tinha visto e ofereceu-se para ser o primeiro cavaleiro a trepar os muros e a levar o estandarte real.
Com o plano bem estudado, o rei saiu de Coimbra numa 2ª feira dia 10 de Março de 1147 na companhia dos seus cavaleiros Fernando Peres, Gonçalo Gonçalves, Pero Pais e Gonçalo Sousa.
Com dois dias de marcha mandou seguir à frente Martim Mohab para anunciar aos mouros que as trevas ficavam suspensas por três dias e na madrugada de 6ª feira acampou em Pernes com a sua pequena hoste e falou assim aos seus cavaleiros:
- "Combatei por vossos filhos e descendentes que convosco eu próprio estarei e nada haverá, na vida e na morte, que de vós me fará apartar."
E de seguida explicou-lhes o plano mas quando eles perceberam que a intenção do Rei era acompanhá-los no ataque tentaram dissuadi-lo. Em vão, o Rei respondeu que preferia morrer a não tomar Santarém mas para os descansar lembrou-lhes que em Coimbra os monges de Santa Cruz rezavam pela vitória.
Mandou então escolher 120 homens e construir 10 escadas e entregou cada uma delas a uma dúzia de homens. Esperavam assim, com as escadas, que a escalada seria mais rápida e segura e ao anoitecer puseram-se em marcha rumo a Santarém.
Já junto à cidade ouviram as vozes de dois mouros que eram os que estavam de atalaia e por isso a hoste escondeu-se numa ceara à espera que os vigias adormecessem. Logo que tal aconteceu, o Mem Ramires utilizou a ponta de uma lança para prender uma escada ao topo do muro mas ela caiu com grande estrondo sobre o telhado de uma casa.
Reagindo rapidamente, Mem Martins ordenou a Moqueime, que era um moço alto que lhe trepasse para os ombros e amarrasse a escada nas ameias e logo que ela ficou presa subiram sem hesitar e um deles hasteou o pendão real.
Entretanto, com o barulho os mouros acordaram e perguntaram: "Manhu? Manhu? (Quem é? Quem está aí?) e quando perceberam que estavam a ser atacados gritaram: "Anaçara! Anaçara! (Nazarenos, Nazarenos!) e logo respondeu Mem Ramires: - "Santiago e Rei Afonso!"
Fora dos muros, ouvia-se a voz do Rei invocando Santiago e a Virgem Maria, dando ordens de matança. "Matai-os a todos! Que nenhum escape ao ferro!"
Os que já tinham subido as escadas tentaram arrombar as portas mas sem o conseguirem pelo que os que estavam do lado de fora atiraram-lhes um malho de ferro por cima dos muros com o qual, os que estavam do lado de dentro, partiram os ferrolhos e todos entraram correndo.
Logo que passou a porta o Rei ajoelhou-se por um instante, agradecendo a Deus aquela vitória.
Muitos mouros morreram nessa noite e outros foram feitos cativos. Quando se fez dia, na manhã de Sábado, 15 de Março, já o Rei D. Afonso Henriques era senhor de Santarém que não mais deixou de estar na posse dos portugueses não obstante uma tentativa de reconquista em 1171 e, 10 anos mais tarde, em 1881, os mouros, terem feito uma 2ª tentativa que foi rechaçada pelas tropas de D. Sancho que estavam acantonadas na cidade.
Assim, com a nova designação de Santa Herene, antes era Shantarîm, a povoação medieval e o seu castelo ficaram para sempre para os portugueses com o nome actual de Santarém e as vistas maravilhosas das Portas do Sol - conquistada por Mem Ramires com a ajuda da escada, não se esqueçam - sobre a planície ribatejana e que hoje é visita obrigatória com os seus lindos jardins.
Aqui pode ver-se bem a escada conforme descrição feita. |
E nunca aprendi a roubar, não sei porquê. |
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)
Episódio Nº 117
Para gáudio de uns, espanto de outros,
quem desatou o nó e resolveu o problema, quem enfrentou a responsabilidade e
assumiu a pesada carga foi - imagine-se! — a velha Jacinta Coroca.
Voltara de Taquaras com a tropa de Zé
Raimundo, escanchada na cangalha de Lua Cheia, repicando guizos, no dia
seguinte ao do saque, a tempo de constatar a depredação e medir o prejuízo.
Balançou a cabeça em silêncio, não foi
apoquentar Fadul com perguntas e palpites.
Ao sentir, certa noite, a aflição do
turco, tão grande a ponto de silenciá-lo durante a trajectória da fornicação
habitualmente ruidosa e festiva, Coroca se ofereceu enquanto o asseava com
delicadeza e zelo.
-
Se qui ser, seu Fadu, vá sua viagem
descansado que eu do tomo conta do negócio. Deixe comigo, faço suas vezes. Pode
ir sem cuidado.
De pé, enorme e nu, pingando água da
caceta desmarcada, o turco olhou estupefacto para Jacinta, que segurava um
pedaço de sabão curvada em frente à pequena bacia de flandre comprada a prazo
ao próprio Fadul.
Ele demorou-se a medi-la e a pesá-la
como se nunca a tivesse visto.
- Tu tá propondo que eu viaje deixando o
armazém aberto e tu respondendo por tudo, vendendo, recebendo, dando troco?
Depositando o peso de sabão junto à
bacia, Coroca tomou de um trapo limpo, enxugou com cuidado o imponente saco e a
notável estrovenga:
- E só me dar os preços por escrito, sei
de uma porção. Vou dormir em riba do balcão até vancê chegar.
Ergueu o busto: à luz do fifó o corpo
encarqui lhado e frágil se alteou, os
olhos cintilavam.
- Tu? - Fadul a encarava pasmo, boca
aberta.
Uma brincadeira de mau gosto do Senhor
Deus dos maronitas que mais uma vez o abandonava à sorte ingrata. Revoltado, fulo
de raiva, elevou o pensamento aos céus: nesta hora adversa em que, desesperado,
busco o auxílio de um homem macho competente e sério, o adjutório que me
ofertais, Senhor, é essa puta velha e descarnada?
Então, uma luz brilhou no juízo de Fadul
Abdala e ele entendeu que bravura, sabedoria e decência não são privilégios dos
machos, dos ricos e dos fortes; são apanágio de qualquer mortal, mesmo em se
tratando de uma puta velha e descarnada.
Não era Coroca boa de cama e de conselho?
- Tu? - Repetiu com outro acento.
- Eu sim senhor. Maria Jacinta da
Imaculada Conceição, que vancês trata de Coroca. Sei ler, assinar o nome e
fazer conta e já cuidei de uma qui tanda
no Rio do Braço.
Medo, só senti uma vez quando gostei de um
homem, foi ele que me ensinou a ler.
Colocou o trapo ao lado do sabão e da
bacia. Sorrindo, concluiu:
-
E nunca aprendi a roubar, nem sei por quê.
sexta-feira, dezembro 05, 2014
Zorba
Música imortalizada no filme Zorba O Grego de 1964. Anthony Quinn que fazia de grego era mexicano mas ia sendo nomeado para um Óscar pela sua representação considerada, no entanto, demasiado curta. O autor da música, Mikis Theodorakis é um compositor e político mundialmente conhecido e a quem foi atribuído o Prémio Lenin da Paz. Nasceu em 1925. Uma música genial, ao ouvi-la somos todos gregos...
Diz um médico para
outro:
- Esse paciente deve ser operado
imediatamente!
- Ai sim...? Então o que tem?
- Dinheiro!!! Montes dele!!!
__
O
paciente está deitado na cama, no mesmo quarto estão o seu médico, advogado,
esposa e filhos.
Todos eles esperam pelo último suspiro,
quando de repente, o paciente senta-se, olha em volta e grita:
- Assassinos, ladrões, traidores,
canalhas!!!.
Volta a deitar-se na cama e então o
médico, confuso, diz:
Acho que o paciente apresenta
melhoras....
- Por que diz isso, doutor? - pergunta
a esposa.
- Porque ele reconheceu-nos a
todos...
-------
-------
O médico para o paciente
de um modo muito firme:
- Nos próximos meses, não pode fumar, não pode beber, não pode ter encontros com mulheres, nem comer em restaurantes caros e deve desistir de quaisquer viagens ou férias!...
- Isso até que me recupere, Senhor doutor...?
- Não. Até pagar o que me deve!
- Nos próximos meses, não pode fumar, não pode beber, não pode ter encontros com mulheres, nem comer em restaurantes caros e deve desistir de quaisquer viagens ou férias!...
- Isso até que me recupere, Senhor doutor...?
- Não. Até pagar o que me deve!
Voltara a ser o mesmo Fadu |
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)
Episódio Nº 116
Iluminaram-se os olhos do turco,
nasceu-lhe o riso na boca, sentiu ao mesmo tempo vontade de chorar, qui s contudo confirmar:
- Os três, Capitão?
- Os três, na mesma cova. Até mais ver,
compadre.
10
Retornaram o riso fácil, a gargalhada
estrepitosa, a zombaria, o madrigal, o gosto de narrar e o de discutir, a tesão
e o apetite, o desfrute da vida.
Novamente ouviu-se em Tocaia Grande o vozeirão
de Fadul Abdala em deboche e parolagem e quando, por fim, em troca de algumas
moedas de vintém, Pedro Cigano assumiu a harmónica, convocou as damas e armou o
fovoco, quem mais se exibiu nos ademãs da quadrilha foi o dono do cacete
armado.
Voltara a ser o mesmo seu Fadu de antes,
o coração liberto da sede de vingança.
Não se libertou, porém, da preocupação.
Obrigado a viajar periodicamente para refazer o sortimento, pagar aos credores,
assuntar as novidades do comércio e dedicar-se ao que se sabe, deixaria o
armazém fechado, na mira dos passantes, gente de toda a laia, à disposição de
salteadores e ladrões, de grupos de jagunços.
É bem verdade que a negra sorte dos três
clavinoteiros corria mundo: invencionices de monta, detalhes de arrepiar.
Circulavam ao menos cinco versões
totalmente diversas mas todas tétricas a respeito da morte dos cabras, e os
bisbilhoteiros garantiam ser o capitão Natário da Fonseca sócio do turco nos
lucros do armazém, nada mais nada menos.
Quando perguntado, seu Fadu não
desmentia: mais do que qualquer arma de fogo aquele sacrossanto zunzum defendia
as portas do negócio.
Ainda assim, à proporção que o volume de
mercadorias minguava no depósito, tornavam-se evidentes os sinais de intranqui lidade no rosto e nas maneiras de Fadul.
Ah, se
descobrisse cristão capaz, disposto e digno de fé a quem pudesse confiar o balcão,
a caixa e o revólver – partiria bem mais sossegado e satisfeito.
O
atendimento aos fregueses manter-se-ia ininterrupto, as vendas não sofreriam
paralisação e a presença de um tipo destemido à frente da bodega, dormindo na
casa, talvez bastasse para impedir outra tentativa de assalto; a presença do
topetudo e a sombra amiga do capitão Natário da Fonseca.
Infelizmente, não enxergava nos ermos de
Tocaia Grande cidadão portador de tantas e tão assinaladas qualidades.
As visitas de Sócrates |
As Visitas de Sócrates
O Supremo Tribunal validou os indícios e a decisão de prender José Sócrates preventivamente. Mais, os dados enviados pelo juiz Carlos Alexandre para aquele Tribunal no âmbito da apreciação do pedido de “Habeas Corpus” “afastam liminarmente todos os juízos e dúvidas que possam existir sobre esses indícios e os motivos que levaram à aplicação da prisão preventiva.
Enquanto isto, José Sócrates escreve uma carta aos
portugueses através do Jornal de Notícias na qual se revolta quanto à sua prisão
e de caminho ataca políticos cobardes, juízes, mestres de Direito e
jornalistas. Na sua qualidade de “animal político feroz” vai tudo raso.
Entretanto, é visitado por figuras proeminentes do seu
Partido e da história política do país como Mário Soares, António Guterres e
Almeida Santos, visitas que têm junto da opinião pública o valor de fichas a favor da
inocência de Sócrates nuns casos afirmadas abertamente como Mário
Soares e Almeida Santos.
Na sua coluna diária do DN o respeitado jornalista
Ferreira Fernandes mostra-se crítico porque, se por lado, concorda que José Sócrates
se defenda publicamente para contrabalançar as fugas de informação do seu
processo que o incriminam, já não acha bem que 0 ex- 1º ministro transforme a
cadeia de Évora onde está detido numa Tribuna política. Apenas factos contra
factos.
Finalmente, Ricardo Araújo Pereira, diz aqui lo que começa a parecer óbvio: “Se José Sócrates
for culpado do que o acusam é o maior génio do crime desde o professor Moriarty. Um mestre da dissimulação."
Inevitavelmente, esta questão de Sócrates com a justiça
está transformada num caso político mais do que judicial e como se vai arrastar
no tempo e as visitas à prisão de Évora de pessoas gradas do Partido irão
continuar, o PS, por muito que isso custe e desagrade a António Costa que
conseguiu calar o seu nome no Congresso que o elegeu esmagadoramente, vai
perturbar e muito esta fase que segue até às eleições legislativas.
Passos Coelho, embora a corrupção seja um fenómeno que
respeita a toda a classe política da direita, centro e centro-esquerda que
passou pelo poder, que não a todos os políticos, longe disso, de uma forma
sorrateira e manhosa vai metendo farpas como se ele e o PSD não fizessem parte
daquele mundo.
António Costa vai ter que se confrontar, não com uma
oposição a si próprio mas com permanentes ataques à “tralha socrática responsável
por ter levado o país em 2011
a uma situação de pré banca rota responsável pela
vinda da troyka”, que o atinge indirectamente porque ele foi número 2 de Sócrates
o que, com este na prisão a fazer política paralela ainda atrapalha mais.
Vamos, assim, passar o ano de 2015 até às eleições numa
campanha confusa e difamatória que nada vai ajudar os eleitores no momento do
voto e, como disse ontem Pacheco Pereira, depois delas tudo pode continuar na
mesma a exigir entendimentos políticos especiais.
quinta-feira, dezembro 04, 2014
MIRIAM MAKEBA - PATA PATA (1967)
Na mesma semana, o cantor teve duas alegrias: recebeu um prémio
internacional pela sua carreira e não recebeu os parabéns do Presidente da
República. Isto, para mim, é a definição de prestígio
Ricardo Araújo Pereira
|
A comoção que provocou o facto de Cavaco Silva não ter
endereçado votos de parabéns a Carlos do Carmo é injustificada. Que se lixe
Carlos do Carmo, esse sortudo. Na mesma semana, o cantor teve duas alegrias:
recebeu um prémio internacional pela sua carreira e não recebeu os parabéns do
Presidente da República.
Isto, para mim, é a definição de prestígio.
Desconfiamos que alguma coisa está mal na nossa vida quando Cavaco Silva nos
distingue. Recordo que Cavaco distinguiu Dias Loureiro com a sua amizade e
Oliveira e Costa com o lugar de secretário de Estado dos Assuntos Fiscais. A
recusa de fazer chegar um parabém a Carlos do Carmo acrescenta honra à semana
já honrosa do fadista.
Foi dos mais belos ultrajes que já vi, uma das mais
dignificantes desconsiderações que o Presidente já concedeu.
Há um poema de Bertolt Brecht (que também nunca foi
felicitado por Cavaco Silva) em que um escritor descobre, horrorizado, que as
suas obras não constam da lista de livros que os nazis pretendem queimar em
público, e escreve uma carta indignada ao governo a exigir que o queimem
também.
Suponho que haja, neste momento, várias pessoas condecoradas ou parabenteadas
por Cavaco a passar por uma indignação semelhante. Porque é que Carlos do Carmo
e José Saramago merecem o menosprezo do Presidente e elas não? Que mal fizeram
elas ao País para terem caído nas boas graças de Cavaco?
O que nos leva a uma reflexão mais profunda sobre o mérito
de Carlos do Carmo. Sim, é um excelente cantor e um nome cimeiro do fado. Mas
fez assim tanto para ser abominado por Cavaco? Cristiano Ronaldo e o ciclista
Rui Costa também parecem ser pessoas decentes, e no entanto foram felicitados
pelo Presidente, quando ganharam, respectivamente, uma Bola de Ouro e uma Volta
à Suíça. Há filhos e enteados, nisto dos desdéns que enobrecem?
Talvez Cavaco não tenha agraciado Carlos do Carmo com o
seu desprezo propositadamente. Há outros factores que podem ter levado o
Presidente a distinguir o fadista com esta ausência de congratulações.
Uma
chamada local custa 0,0861€ no primeiro minuto e 0,0391€ por minuto nos minutos
seguintes, já com o IVA incluído. A factura de um telefonema de felicitações a
Carlos do Carmo poderia ascender a cerca de um euro, porque todos sabemos como
são estes fadistas quando a gente os saúda pelo telefone: nunca mais se calam.
É isto, e aqui lo, e os tempos da
Severa, e quando damos por ela estamos ao telefone há mais de cinco minutos. Um
telegrama tem a vantagem de não fazer falar o fadista, mas custa à volta de
três euros. Ora, Cavaco já disse que o dinheiro não lhe chega para as despesas, - em conversa com jornalista no Porto em 2012 - e no fim do ano passado já felicitou o tenista João Sousa pela vitória no
torneio de Kuala Lumpur:
- "Não posso deixar de dirigir uma felicitação
muito, muito sincera e com um grande sublinhado porque projecta o nome de
Portugal para o 'top' daqueles que se destacam na prática do ténis".
Deve
ter sido uma felicitação dispendiosa, porque era muito, muito sincera e incluía
um grande sublinhado. Até 2015, não deve ter orçamento para mais parabéns.
Humor subtil e pedagógico... |
Uma história de Hodja
Roubaram o burro ao
Hodja. Os seus vizinhos vão ajudá-lo. Um deles pergunta:
- Hodja, porque não substituis esta
porta frágil por uma mais sólida?
Outro vizinho diz:
- Olha, tu esqueceste-te de fechar a
porta.
Diz outro:
- O ladrão entrou em tua casa,
roubou-te o burro e tu dormiste a noite toda?
- Hodja, como é que conseguiste
dormir a noite toda sem acordar?
Em suma, toda a gente critica o Hodja
e ele já não suporta mais.
- Então, meus vizinhos, diz ele.
Sejam justos. Devo ser criticado por tudo?
E
o ladrão não fez nada de errado?
Cavaco não o condecorou |
Cavaco
deu uma medalha
a Carlos do Carmo...
As melhores condecorações dadas pelo Cavaco são as suas recusas em felicitar ou
em condecorar, é como se os visados recebessem um atestado de integridade e uma
prova de que nunca estiveram envolvidos, não beneficiaram nem participaram
nessa desgraça nacional que é o chamado cavaqui smo.
Carlos do Carmo está de parabéns pode dizer orgulhosamente "o Cavaco não
me felicitou nem condecorou!".
Uma Crença Muito
Antiga
- A palavra “angel” vem do grego e significa mensageiro. Em
muitas religiões antigas existem estes seres que estabelecem a ligação com um
Deus distante dos humanos através de mensagens. Nos livros da Bíblia abundam os
anjos. No mundo da Bíblia abundam os reis com as suas cortes cheias de
cortesãos e servidores indispensáveis para o governo do rei funcionar.
Nas religiões com anjos eles são
sempre os intermediários entre deuses e humanos. Entre os persas, um anjo
revelou “a verdade” a Zoroastro. Entre os judeus, um anjo deteve Abraão para
que entendesse que Deus não queria que ele matasse o próprio filho, Isaac. No
cristianismo, o anjo Gabriel anunciou a Maria que teria um filho maravilhoso.
No islamismo, esse mesmo anjo Gabriel chama Maomé para lhe ditar o Corão,
revelação de Deus.
Como os israelitas estiveram cativos
na Babilónia seiscentos anos antes de Jesus, provavelmente por influência
Mesopotâmica começaram a representar os anjos com asas, tal como os babilónicos
representavam os seres divinos. Com asas os deuses podiam mover-se com
facilidade entre o “céu de cima” onde reina Deus e a terra habitada pelos
humanos. Tal como Deus, os anjos são sempre varões: a corte de um Deus
masculino formou-se, naturalmente, com servidores masculinos.
Três cabras ruins, compadre Fadul |
TOCAIA
GRANDE
(Jorge Amado)
Episódio
Nº 115
9
Pouco mais de uma semana havia
transcorrido desde a volta de Fadul Abdala, já andava ele farto de
ouvir pilhérias e lamúrias, reintegrado à faina habitual; um dia, ao fim da
manhã, o capitão Natário da Fonseca desmontou da mula e a prendeu à estaca, no oitão
do armazém.
Fadul veio apressado dos fundos da casa para saudar
e servir o amigo, preparando-se para conversa animada e longa sobre os lances
do episódio.
Ao contrário do esperado, o Capitão não
trouxe à baila aquele infausto assunto. Saboreou a medida de cachaça em
pequenos tragos, falou disso e daqui lo.
Deu notícias do coronel Boaventura, sempre
forte, com saúde graças a Deus, mas um tanto triste porque o doutor Venturinha
se mandara para o Rio de Janeiro, depois das festas de formatura, e parecia não
ter pressa de voltar; comentou sobre as roças que ele, Natário, começara a
plantar na Boa Vista, ia ver como prosperavam.
Surpreso e desapontado diante de tamanha
indiferença, Fadul se conteve a duras penas para não deixar transparecer a
decepção, o desgosto que lhe causava tal atitude do Capitão de cuja amizade se
gabava.
Natário sempre demonstrara estima pelo
turco. Fadul ainda mascateava quando ele, certa feita, ofertara-lhe um revólver
e passara a tratá-lo de compadre.
As relações cresceram e se estreitaram depois
que o comerciante se estabelecera em Tocaia Grande.
No entanto, o Capitão não fez qualquer
referência ao fato recente e palpitante, não se colocou sequer às ordens,
conforme manda a boa educação, não tugiu nem mugiu.
Tendo preparado o cigarro de fumo
picado, Natário aceitou o fogo oferecido por Fadul, recusou nova dose de cana,
dispôs-se a seguir viagem.
Desencostando-se do balcão endireitou o corpo,
meteu a mão no bolso do paletó de brim cáqui ,
puxou de dentro o canivete que o turco esquecera em cima da cama ao sair para Taquaras:
— Isso não é pertence seu, compadre
Fadul?
Colocou o objecto na tábua do balcão,
Fadul Abdala sentiu um baque no peito:
-
É meu, sim, Capitão. Se mal lhe pergunto, como chegou às suas mãos?
-
E como houvera de ser, compadre?
Andou para o oitão da casa, voltou com a
mula, meteu o pé
no estribo, leu a interrogação ansiosa
nos olhos de Fadul, montou e respondeu:
- Andei sabendo do caso, dei
logo com eles. Três cabras ruins, compadre Fadul.