A um ano de distância, Manuel Alegre, que não é homem para tabus, anunciou este fim de semana que está disponível para se candidatar novamente à presidência da república disputando o lugar ao actual presidente Cavaco Silva que, naturalmente, irá, como todos os anteriores, pretender fazer dois mandatos.
Qualquer outro que venha a aparecer só poderá ser uma figura simbólica do Partido Comunista para marcar presença e ganhar tempo de antena numa primeira volta.
Nas últimas eleições o eleitorado centro esquerda dividiu-se entre Mário Soares e Manuel Alegre ajudando, dessa forma, a eleger Cavaco Silva.
Desta vez, não se perfilando nenhum outro candidato na área do PS (Gama, Guterres, Sampaio), os eleitores vão ter mesmo que optar entre estas duas personalidades tão distintas como são Cavaco Silva e Manuel Alegre e, neste aspecto, a escolha ficará mais facilitada embora se perceba que, por razões de antipatia e recentes divergências política-partidárias por parte de alguns notáveis do PS relativamente a Alegre, alguns votos nesta área ir-se-ão perder na abstenção ou nos votos nulos.
Quanto ao resto, tudo claro como a água:
- De um lado, um poeta, homem de rupturas que desertou da guerra em discordância política com os seus mentores e escolheu o exílio para lutar contra eles. Regressado ao país a 2 de Maio de 1974, vindo da Argélia, manteve-se sempre em actividade política defendendo a liberdade e a democracia ao lado de Mário Soares, na Fonte Luminosa, em Lisboa, contra a extrema-esquerda.
- Do outro, uma personalidade cinzenta, que teve um rasgo político no Congresso do PSD na Figueira da Foz, em Maio de 1985, conquistando o poder de forma intempestiva com o apoio de Dias Loureiro com quem estabeleceu, desde então, uma firme relação de amizade.
Casado, pai de filhos, bom chefe de família, católico, disciplinado, de índole conservadora, deu-se a conhecer ao longo de dez anos, de 1985/95, período durante o qual chefiou o governo numa fase favorável correspondente à entrada no país de muitos milhões oriundos dos apoios comunitários. É ele o candidato natural de toda a direita portuguesa.
Será, Manuel Alegre, o candidato natural de toda a esquerda portuguesa da mesma forma e na mesma medida em que Cavaco o é da direita?
Se assim for, aquele dos dois que mais votos conseguir ganhar ao centro será, daqui a um ano, novo presidente.
O Partido Socialista deverá emendar a mão e apoiar desta vez com empenho e total determinação o seu candidato e Mário Soares, de oponente das últimas eleições, esperamos que agora esteja ao seu lado reeditando antigos combates.
Manuel Alegre está diferente, mais político, moderado e consensual e o país precisa, em tempos de dificuldade, de ouvir a sua palavra de encorajamento, de esperança, de acreditar, porque a vida e o futuro não se constroem sobre discursos e estatísticas ameaçadoras, deprimentes e catastróficas.
Os discursos martelados não empolgam ninguém, cansam, causam-nos fastio e agonia, não predispõem à esperança. O governo lá estará para governar e não vai ser fácil como já não o é hoje. Por isso, tratemos de arranjar um Presidente que nos estimule, empolgue, que nos fale daquilo que já fomos, do muito que já fizemos, do orgulho de sermos aquilo somos e nos diga isso, se for preciso, com uma voz que nos acorde e em verso que nos toque a alma… eu votarei Manuel Alegre.