sábado, outubro 25, 2008


ATESTADO MÉDICO






Leiam este texto de um professor de Filosofia que escreve semanalmente para o Jornal “O Torrejano”.

O que ele diz é, tristemente, em grande parte, verdade: a mentira é uma constante das nossas vidas, pública e privada, com todas as consequências que daí resultam chegando mesmo ao ridículo das situações.


O Atestado Médico, por José Ricardo Costa:


Imagine o meu caro que é professor, que é dia de exame do 12º Ano e vai ter que fazer uma vigilância.

Continue a imaginar, o despertador avariou durante a noite, ou fica preso no elevador, ou o seu filho já à porta do infantário, vomitou o quente, fétido, pastoso e húmido pequeno-almoço em cima da sua imaculada camisa.

Teve, portanto, de faltar à vigilância. Tem falta.

Ora esta coisa de um professor ficar com faltas injustificadas é complicado, por isso, convém justificá-la.

A questão agora é: como justificá-la?

Passemos, então à parte divertida. A única justificação para se ficar preso no elevador, do despertador avariar, ou de não poder ir para uma sala de exame com uma camisa suja de vomitado, ababalhada e mal cheirosa, é um atestado médico.

Qualquer pessoa com um pouco de bom senso percebe que aqui quem precisa do atestado será o elevador ou o despertador, mas não, só uma doença poderá justificar a sua ausência da sala de exame.

Vai ao médico, e a partir desse momento a situação deixa de ser divertida para passar a hilariante.

Chega-se ao médico com o ar mais saudável deste mundo, enfim, com o sorriso do Jorge Gabriel misturado com o arrazoado do Gabriel Alves e a felicidade do padre Milícias.

A partir deste momento mágico, gera-se um fenómeno que só pode ser explicado através de noções básicas de psicopatologia da vida quotidiana.

Os mesmos que explicam uma hipnose colectiva em Felgueiras, o holocausto ou o sucesso da TVI.

O professor sabe que não está doente, o médico sabe que ele não está doente, o Presidente do Executivo sabe que ele não está doente, o Director Regional sabe que ele não está doente.

O Ministério sabe que ele não está doente, e o próprio legislador que manda um professor que fica preso num elevador apresentar um atestado médico, também sabe que o professor não está doente.

Ora, num país em que isto acontece, para além do despertador que não toca, do elevador parado e da camisa vomitada, é o próprio país que está doente.

Um país assim, onde a mentira é legislada, só pode mesmo ser um país doente.

Vamos lá ver, a mentira em si não é patológica. Até pode ser útil, racional e eficaz em certas ocasiões, o que já será patológico é o desejo que temos de sermos enganados ou a capacidade para fingirmos que a mentira é verdade.

Lá nesse aspecto somos um bom exemplo do que dizia Goebbels:

- Uma mentira tantas vezes repetida transforma-se numa verdade.

Já Aristóteles percebia uma coisa muito engraçada: quando vamos ao teatro vamos com uma predisposição para sermos enganados, mas isso é normal.

Sabemos bem, depois de termos chorado baba e ranho a ver o ET que este é um boneco e que devemos guardar a baba e o ranho para outras ocasiões.

O problema, é que em Portugal confunde-se a ficção com a realidade, ele próprio, Portugal, é uma produção fictícia talvez desde D. Afonso Henriques, que Deus me perdoe.

A começar pela política. Os nossos políticos são descaradamente mentirosos, só que ninguém leva a mal porque estamos habituados aliás, em Portugal, é-se penalizado por falar verdade, mesmo que seja por boas razões, o que significa que em Portugal não há boas razões para falar verdade.

Se eu, num ambiente formal, disser a uma pessoa que tem uma nódoa na camisa, ela irá levar a mal, fica ofendida mas se eu disser isso é para ajudar, para que possa disfarçar a nódoa e não fazer má figura, mas ela fica zangada só porque eu vi a nódoa e porque assumi, perante ela, que sei que ela tem a nódoa e que sei que ela sabe que eu sei.

Nós, portugueses, adoramos viver enganados, iludidos e achamos normal que assim seja.

Por exemplo, lemos revistas sociais e ficamos derretidos (não falo do cérebro mas no plano emocional) ao vermos casais felicíssimos com vidas de sonho.

Pronto, sabemos que aquilo é tudo mentira, que muitos deles divorciam-se ao fim de três meses e que outros vivem num alcoolismo disfarçado, mas adoramos fingir que aquilo é tudo verdade.

Somos pobres, mas vivemos como os alemães e os franceses, somos ignorantes e culturalmente miseráveis, mas somos doutores e engenheiros, fazemos malabarismos e contorcionismos financeiros, mas vamos passar férias a Fortaleza.

Fazemos estádios caríssimos para dois ou três jogos em 15 dias, temos auto-estradas modernas e europeias para ver passar ao seu lado eucaliptos, mato por limpar, florestas ardidas, barracões com chapas de zinco, casas horríveis, lixo e fábricas desactivadas.

Portugal mente compulsivamente, mente perante si próprio e mente perante o mundo.

Claro que não é um professor que falta a uma vigilância de um exame por ficar preso no elevador que precisa de um atestado médico.

É Portugal que precisa de um atestado médico, antes que vomite sobre si próprio.


Caetano Veloso -- Cucurrucucu Paloma

Tom Jobin -- Samba de uma Nota Só

Abba -- Waterloo


O Âmago da Crise







Aquilo que está acontecer, em termos de crise, mergulha no âmago do que é nossa própria natureza.

O antigo Presidente da Reserva Federal Americana, Alan Geenspan, que esteve durante 18 anos à frente daquele poderoso organismo e cuja voz era ouvida religiosamente por todos os que tinham de tomar decisões importantes no mundo das finanças, veio hoje, em declarações prestadas numa Audiência na Câmara dos Representantes, reconhecer que, afinal, sempre esteve enganado sobre a capacidade dos responsáveis das entidades bancárias de defenderem os interesses dos respectivos accionistas e da própria sobrevivência das instituições que superintendiam, admitindo que errou por ter confiado na auto regulação dos mercados.

O testemunho deste homem, profundamente envelhecido, até há pouco o todo poderoso do mundo da finança nos EUA, foi algo de patético e se esta crise tem um rosto era aquele, certamente.

Acreditou-se num “homem” que, na realidade, não existe nem nunca existiu e uma sociedade que se estrutura numa base irrealista está destinada a surpresas muito desagradáveis.

Foi assim nos regimes comunistas com os resultados conhecidos e está a ser agora quando se deixou “à rédea solta”
pessoas que foram praticamente livres para actuarem e decidirem num sector de actividade que era vital para todos nós.

O “homem” é intrinsecamente egoísta e desonesto, que é uma das formas de ser egoísta, e portanto não se espere dele aquilo que não está na sua natureza e por isso, em sociedade, o homem tem de se defender de si próprio.

Richard Dawkins, no seu livro “O Gene Egoísta” escreve a páginas 23:

“Este livro pretende, acima de tudo, ser interessante, mas se alguém quiser extrair dele uma moral, que seja lido como um aviso.

Saibam que, se desejarem, tal como eu, construir uma sociedade na qual os indivíduos cooperem generosa e desinteressadamente para o bem-estar comum, não poderão contar com a ajuda da natureza biológica.

Tentamos ensinar generosidade e altruísmo porque nascemos egoístas.

Compreendamos o que pretendem os nossos próprios genes egoístas, para que possamos ter a oportunidade de frustrar as suas intenções, uma coisa que nenhuma outra espécie alguma vez aspirou a fazer.

Os nossos genes podem programar-nos para sermos egoístas, mas não somos obrigados necessariamente a obedecer-lhes, simplesmente, ser-nos-á mais difícil aprender o altruísmo do que seria se estivéssemos geneticamente programados para sermos altruístas
.”



Pensem naquelas centenas ou milhares de pessoas que em todo o mundo tinham a liberdade de tomar decisões, legais ou de legalidade duvidosa, no desempenho dos seus cargos nas instituições bancárias onde trabalhavam;

Pensem nos muitos milhões de clientes de bancos que aceitam empréstimos porque lhos concedem mas admitindo, interiormente, que têm pouca probabilidade de os pagarem.

Pensem nos muitos outros milhões que vivem permanentemente endividados porque não aceitam um nível de vida com despesas dentro dos seus orçamentos apenas porque se julgam com direito a terem e a usufruírem daquilo que vêm no vizinho.

Em todos estes casos temos manifestações de egoísmo e não estamos, de certo, a pensar nos outros… apenas a obedecer à nossa natureza egoísta.

É preciso saber isto, a ciência da biologia e da genética ensina-nos sobre o homem, não apenas para vivermos mais tempo e com mais saúde, mas também para nos conhecermos melhor naquilo que é a nossa verdadeira natureza e o Aviso foi feito por Richar Dawkins.

Parece, no entanto, que nas coisas importantes da vida só conseguimos aprender à nossa custa, a nível individual, muitas vezes já tarde de mais, no que respeita à sociedade, parece que aprendemos no momento mas, normalmente, mais tarde voltamos ao erro.

Não está ao nosso alcance corrigir a nossa própria natureza que é o resultado de um processo evolutivo de muitos milhões de anos, mas somos dotados de inteligência e conhecimentos que nos permitem defender do risco que representamos para nós próprios.








“Provavelmente, Deus não Existe”





Cartazes com esta frase poderão circular por toda a cidade de Londres, em Janeiro, segundo a BBC.

A frase completa é:

“Provavelmente, Deus não existe. Agora pare de se preocupar e goze a vida.”

Esta campanha pelo ateísmo é promovida pela British Humanist Association e tem o apoio académico de Richard Dawkins, biólogo Darwinista, em quem tão profusamente nos temos baseado para alimentar este blog.

O objectivo da campanha é “promover o ateísmo na Grã-Bretanha, encorajar mais ateístas a assumirem publicamente a sua posição e elevar o moral das pessoas a caminho do trabalho”.

“Vemos tantas campanhas com cartazes que divulgam a salvação através de Jesus ou que ameaçam com condenação eterna…que tenho a certeza que esta será encarada como um sopro de ar fresco”, disse Hanne Stinson, presidente da BHA, “Se fizer as pessoas sorrirem, além de pensarem melhor”.

A BHA também estuda a possibilidade de estender esta campanha a outras cidades, incluindo Birmingham e Manchester em Inglaterra e Edimburgo, na Escócia.

A campanha está a ser um sucesso, mesmo antes de estar na rua o provocador slogan. Os organizadores conseguiram angariar cinco vezes os fundos de que necessitavam para porem em marcha a campanha.

O objectivo inicial era conseguir 7.000 euros para imprimirem os cartazes a serem colocados com o slogan em trinta autocarros durante um mês do distrito londrino de Westminster, porém, já foram obtidos mais de 35.000 em donativos particulares e de empresas.

Quem idealizou a campanha foi a jornalista Ariane Sherine que sugeriu, em Junho, num Blog do The Guardian “Fazer uma campanha em autocarros com uma mensagem tranquilizadora sobre o ateísmo”como “boa forma de contra atacar as mensagens de organizações religiosas que ameaçam o s cristãos com o inferno”.

“ A nossa mensagem é divertida, mas tem um fundo sério: nós, ateus queremos um país, uma escola e o governo laico. O importante apoio que a nossa campanha já recebeu mostra que muitas pessoas estão de acordo com estas ideias”.

Os líderes religiosos britânicos responderam favoravelmente a esta iniciativa. A Igreja de Inglaterra declarou que defenderá o direito de qualquer grupo que represente uma posição religiosa ou filosófica a promover as suas ideias através dos canais apropriados, embora salientando que as crenças cristãs nada têm a ver com preocupações ou com o desfrutar a vida.

A Igreja Metodista Britânica considera, por seu lado, “positivo o contínuo interesse” que autores como Dawkins dedicam aos temas relacionados com Deus.

Richard Dawkins formulou o seguinte comentário:

“A religião está acostumada a usufruir de benefícios tributários, respeito não merecido, o direito de não ser ofendida e o direito de fazer lavagem cerebral às crianças”.

“Mesmo nos autocarros, ninguém pensa duas vezes quando vê um slogan religioso.

Esta campanha fará com que as pessoas pensem – e pensar é um anátema perante a religião” completou.

Eu pergunto a mim próprio se seria possível que autocarros com um slogan destes, muito bem concebido, de resto, poderiam circular nas ruas de Lisboa…

quinta-feira, outubro 23, 2008

Construção -- Chico Buarque

Maria Bethania --- Jeito estupido de te amar

Carlos do Carmo --- Canoa

quarta-feira, outubro 22, 2008

Sam Harris (Parte 1 de 3)

Sam Harris (Parte 2 de 3)

Sam Harris

terça-feira, outubro 21, 2008


Guerra dos Sexos


(continuação)



Na “nossa” Guerra dos Sexos, vimos no último texto, que as fêmeas, na tentativa de diminuírem a exploração de que são alvo por parte do machos, adoptaram, de acordo com a opinião de Richard Dawkins, duas estratégias, a do “Idílio Doméstico” e a do “Macho Viril”.

A primeira, de que já falamos, consistia em escolher entre os potenciais parceiros sexuais os que dessem garantias de maior fidelidade e domesticidade.

Na estratégia do “Macho Viril”, que iremos agora desenvolver resumidamente, o objectivo das fêmeas será escolher, não os que oferecem maior apoio na criação e desenvolvimento dos filhos, mas sim optando por aqueles que dão garantias de possuírem melhores genes e, mais uma vez, a arma utilizada continua a ser a recusa da cópula.

Efectivamente, alguns machos contêm um número maior de genes bons do que outros, genes que beneficiariam as perspectivas de sobrevivência dos filhos de ambos os sexos.

Por esta razão, e de acordo com esta estratégia, ela usará indicações bem visíveis dadas pelos machos e como todas elas têm a mesma indicação para se guiarem, a maioria concordará entre si sobre quais são os melhores que uma vez “eleitos” constituirão a “elite” de felizardos que realizarão a maior parte das cópulas.

As fêmeas apenas permitem a alguns machos porem em prática a estratégia ideal de exploração egoísta a que todos os machos aspiram mas elas certificam-se que esse luxo esteja apenas reservado aos melhores.

E quais são as evidências que as fêmeas procuram no machos?

-Uma delas será a habilidade para sobreviverem e se estão a cortejá-las é óbvio que provou a sua habilidade para sobreviver até à idade adulta, mas não provou necessariamente que sobreviva muito mais tempo.

Escolher machos velhos poderia ser uma boa política para a fêmea pois quaisquer que sejam as suas desvantagens, eles provaram, pelo menos, que podem sobreviver e ela poderá estar a associar os seus próprios genes com outros para a longevidade.

Mas viverem muito tempo sem garantias que lhes dêem muitos netos não adianta e por isso a virilidade constitui uma evidência mais importante que a longevidade.

- Outras evidências poderão ser músculos fortes, habilidade para caçar e obter alimentos, talvez pernas compridas como evidência da habilidade para fugir de predadores, etc.

Temos, assim, de imaginar as fêmeas a escolherem os machos com base em etiquetas ou indicadores perfeitamente genuínos, que tendem a ser evidentes da existência de bons genes.

No princípio a selecção seria feita com base em qualidades obviamente úteis, como os músculos fortes, por exemplo, mas depois dessas qualidades se terem tornado largamente aceites como atraentes entra as fêmeas de uma espécie, a selecção natural continuaria a favorecê-las simplesmente por serem atraentes.

Vejamos o exemplo do pavão:

- No começo, a cauda ligeiramente mais comprida que o normal poderá ter sido seleccionada pelas fêmeas talvez por indicar uma constituição apta e saudável quando, uma cauda curta poderia ter sido indicadora de alguma deficiência vitamínica o que significaria pouca habilidade para procurar alimento.

Tenha sido por esta razão ou por qualquer outra, estabeleceu-se que a cauda comprida era um factor atraente e de tal forma ele se generalizou que a regra para as fêmeas era simples:

- “Examine todos os machos e escolha aquele que tenha a cauda mais longa” e, desta forma, todas as fêmeas que se desviassem desta regra seriam penalizadas porque, se assim não o fizessem, os seus filhos teriam menos probabilidades por não serem considerados atraentes, mesmo quando o comprimento das caudas, por ser excessivo, não só atrapalhava como passava a constituir factor de risco acrescido para a sobrevivência.

Nas florestas indianas, onde vivem, os pavões são presas dos tigres e quando se refugiam, voando para os ramos das árvores, os que tiverem a cauda mais comprida estão mais sujeitos a serem caçados pelos enormes saltos que os tigres conseguem dar.

Por analogia, faz pensar nos automóveis americanos de uma certa época, anos 50 e 60, em que as longas traseiras eram um factor atraente e só quando se tornaram grotescas de tão longas que eram, as suas evidentes desvantagens superaram a vantagem da atracção sexual.

Mas, esta “história” das caudas compridas pode conter, para as fêmeas, uma mensagem escondida, subliminar, do género:

-“Repara em mim, que apesar desta cauda enorme que só me atrapalha, tenho força suficiente para competir com os outros e sobreviver”.

Pense numa mulher que observa dois homens numa corrida e ambos chegam à meta na mesma altura mas um deles, deliberadamente, carrega um saco às costas, naturalmente, ela concluirá que o homem com o saco às costas era o corredor mais rápido.

Esta teoria foi desenvolvida por Amotz Zahavi, eminente biólogo evolucionista, Prof. Emeritus de Zoologia da Universidade de Telavive, e relativamente a ela Richard Dawkins foi bastante céptico argumentando que a conclusão lógica desta tese deveria ser a evolução dos machos apenas com uma perna ou um olho…a isto contra argumentou Zahavi, que nasceu em Israel: “Alguns dos nossos melhores generais têm apenas um olho”.

Resumindo este capítulo, os diferentes tipos de sistemas de reprodução entre os animais – Monogamia, Promiscuidade, Haréns, etc. – podem ser compreendidos em termos de conflitos de interesses entre machos e fêmeas porque os indivíduos de cada um dos sexos “quer” maximizar a sua capacidade reprodutiva durante a sua vida.

Na base, a diferença fundamental entre o tamanho e número de espermatozóides e óvulos leva a que, os machos, em geral, sejam mais dados à promiscuidade e à ausência de investimento parental.

As fêmeas têm dois estratagemas defensivos disponíveis os quais, Richard Dawkins, denominou de “idílio doméstico” e “macho viril”, e são as circunstâncias ecológicas, ambientais, que vão determinar, espécie a espécie, que as fêmeas se inclinem mais para um ou para outro e quais as respostas dos machos.

Como um macho produz muitos milhões de espermatozóides por cada óvulo produzido por uma fêmea estes, em muito menor número, são mais valiosos pois têm muito maior probabilidade de entrar em fusão sexual do que qualquer um dos muitos milhões de espermatozóides.

Por isso, as fêmeas não têm necessidade de serem tão atraentes como os machos para garantirem que os seus óvulos sejam fertilizados.

Outra diferença é que as fêmeas são mais exigentes do que os machos quanto ao parceiro sexual.

Richard Dawkins, ao longo deste capítulo, não falou explicitamente sobre o homem mas é difícil não pensarmos nele quando abordamos o tema deste capítulo.

A recordação dos longos namoros, mais comuns há uns anos atrás, sugere que as mulheres, na nossa sociedade, jogam na estratégia do “Idílio Doméstico” e, na maioria dos casos, as sociedades humanas são monogâmicas e o investimento parental dos pais é grande e equilibrado.

Existem, no entanto, algumas sociedades que são promíscuas e outras têm por base haréns, e esta surpreendente variedade sugere que no nosso caso, as soluções são determinadas mais pela cultura do que pelos genes, mas é possível descortinar uma tendência para a promiscuidade nos homens e para a monogamia nas mulheres como seria de prever do ponto de vista evolutivo.

Uma característica anómala na nossa sociedade é a questão da propaganda sexual uma vez que, do ponto de vista evolutivo, deviam ser os homens a ostentarem-se e as fêmeas a serem pouco atraentes.

Na realidade, e abstraindo as excepções que já foram em menor número, são as mulheres que se vestem de forma a chamar as atenções, que pintam o rosto, põem pestanas postiças, etc., num comportamento equivalente, por exemplo, ao do pavão e ao das aves-do-paraíso macho.

Quando uma mulher é descrita numa conversa, é bastante provável que a sua atracção sexual, ou a ausência dela, seja salientada e isto quer por mulheres quer por homens mas, se forem estes a serem descritos, os adjectivos usados, provavelmente, nada terão a ver com o sexo.

Um biólogo, observando esta realidade, diria que estava na presença de uma sociedade em que são as fêmeas que competem pelos machos e não o contrário.

O que aconteceu ao homem ocidental moderno?

Será que o macho se tornou realmente o sexo procurado, aquele que está em demanda, o sexo que se pode permitir ser exigente?

Se assim for, qual o motivo?

Neil Diamond I am I said

segunda-feira, outubro 20, 2008

Charles Aznavour -- La Mamma

Neil Diamond I am I said

domingo, outubro 19, 2008

Elvis Presley -- I Need you so

Roberto Carlos --- O Calhambeque

Roberto Carlos -- As Baleias


Guerra dos Sexos

(Continuação)





Pelo menos entre os mamíferos, os filhos repartem-se igualmente por ambos os sexos e essa parece ter sido a Estratégia Evolutiva Estável (EEE), uma vez que, qualquer gene que provoque um desvio, para um ou para outro lado, só perderá com isso, como vimos a propósito da população de leões marinhos no texto anterior.

Na sua longa viagem através das gerações, um gene gastará aproximadamente metade do seu tempo em corpos de machos e a outra metade em corpos de fêmeas.

Alguns efeitos dos genes só se evidenciam nos corpos de um dos sexos, constituindo os chamados efeitos genéticos ligados ao sexo.

Um gene que controla o tamanho do pénis só se exprime em corpos masculinos mas também é transportado em corpos femininos, onde poderá ter um efeito bastante diferente mas não há nenhum motivo para supor que um homem não possa herdar da mãe a tendência para desenvolver um pénis longo.

Seja qual for o tipo de corpo em que o gene se encontre é de esperar que ele aproveite o melhor possível as oportunidades que esse corpo lhe oferece e que podem muito bem ser diferentes consoante o corpo seja masculino ou feminino.

Uma coisa é certa, cada corpo individual é uma máquina egoísta tentando fazer o melhor pelos seus genes porque são eles que a programam nesse sentido.

Voltando à população de leões-marinhos, já vimos que tanto machos como fêmeas, na qualidade de máquinas egoístas, “querem” filhos e filhas em igual número.

Neste aspecto estão de acordo; onde discordam é sobre qual deles irá recair o pesado fardo de criar cada uma desses filhotes, porque cada um deles quererá ter o maior número de filhos que for possível e a melhor maneira para o conseguir é induzir o respectivo parceiro a investir mais que a sua parte devida deixando-o a ele livre para ter filhos com outros parceiros.

Esta é uma estratégia desejada por ambos os sexos mas de muito mais difícil concretização por parte da fêmea pois elas ficam mais “comprometidas” com os filhos do que o pai.

Se ela experimentasse a táctica de deixar o filho ao pai para fugir com outro macho era relativamente fácil a este retaliar abandonando também a criança.

Portanto, pelo menos nas primeiras etapas do desenvolvimento do filho, é mais provável que seja o pai a abandonar a mãe do que o contrário.

Da mesma forma, pode-se esperar que as fêmeas invistam mais nos filhos do que os machos, não só no início mas também durante todo o seu desenvolvimento.

Assim, por exemplo, no caso dos mamíferos, é a fêmea que incuba o feto no interior do seu próprio corpo, que produz o leite para o amamentar quando ele nasce e que carrega grande parte do fardo de o criar e proteger.

O sexo feminino é explorado e a base evolucionária essencial para essa exploração reside no facto de os óvulos serem muito maiores que os espermatozóides.

Claro que há exemplos de pais que trabalham árdua e fielmente para tomarem conta dos filhos mas, de qualquer forma, existe uma pressão evolucionária sobre os machos para que eles invistam um pouco menos em cada criança e para que tentem ter mais filhos de outras fêmeas.

É como se houvesse uma tendência para os genes dizerem:

-“Corpo, se fores masculino, abandona a tua parceira sexual um bocadinho mais cedo do que o meu alelo rival te levaria a fazer e procura outra fêmea para serem bem sucedidos na pool genética".

Até que ponto esta pressão evolucionária prevalece na prática vária muito de espécie para espécie, mas a estratégia de o pai abandonar mais cedo a mãe e o seu filho só será compensadora se ela tiver uma forte probabilidade de criar o filho sozinha.

Mas haverá alguma coisa que a fêmea possa fazer para reduzir a exploração que o seu parceiro exerce sobre ela?

Ela tem um grande trunfo nas suas mãos: pode recusar-se a copular e num mercado de vendedores, é dela que há maior procura e isto porque transporta consigo o dote de um óvulo grande e nutritivo e um macho que tenha sucesso em copular ganha uma reserva valiosa de alimentos para a sua prole.

A fêmea, potencialmente, está em condições de regatear antes de copular, mas haverá alguma forma realista pela qual, qualquer coisa equivalente a regatear, possa evoluir por selecção natural?

Richard Dawkins considera duas Estratégias:

- A Idílio Doméstico e

- A do Macho Viril;

A estratégia mais simples é a do Idílio Doméstico e consiste no seguinte:

- A fêmea examina todos os machos e tenta detectar sinais de fidelidade e de domesticidade, admitindo que na população de machos haja variações na predisposição para ser um parceiro fiel.

Se as fêmeas puderem reconhecer essas qualidades de antemão, poderão beneficiar-se a si próprias fazendo as escolhas certas.

E qual será o comportamento adequado da fêmea para conseguir detectar quais os machos com maior predisposição para serem fiéis?

- Serem recatadas, “tornarem-se difíceis” durante muito tempo pois qualquer macho que não seja suficientemente paciente para esperar até ao momento em que a fêmea consinta em copular não será, provavelmente, um marido fiel.

- Insistindo num noivado prolongado, a fêmea excluirá os pretendentes casuais a favor daqueles que provaram as suas qualidades de perseverança e fidelidade sendo certo que os machos também beneficiam do noivado prolongado quando existe o perigo de serem ludibriados e cuidarem do filho de outro macho.

No próximo texto abordaremos a estratégia do “Macho Viril”.

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