A Ibéria de José Saramago
A IBÉRIA… de José Saramago
“Não sou profeta, mas Portugal acabará por se integrar na Espanha”
Esta, a polémica afirmação proferida por José Saramago no decurso de uma entrevista concedida na presente temporada na sua casa em Lisboa e que foi amplamente divulgada por toda a Imprensa portuguesa e espanhola e objecto dos mais variados comentários e reacções.
Para todos os portugueses da minha geração que receberam a herança de uma rivalidade histórica entre portugueses e espanhóis esta profecia de José Saramago tem o sabor a piada de mau gosto mas poderá ser, por outro lado, a provocação a uma certa elite política nacional a quem, veladamente, se pretende passar um atestado de incompetência ou, na melhor das hipóteses, apenas o resultado da sua prodigiosa imaginação que, depois da sua Jangada de Pedra, em que separou a Península Ibérica do continente Europeu ao qual só regressou no fim do romance depois de andar a navegar pelo Oceano Atlântico, não me parece grande coisa…
Ele afirma que já esqueceu a ofensa do Governo português na pessoa do Dr. Sousa Lara, Sub-Secretário de Estado da Cultura, que em 1992, baralhando convicções religiosas com literatura, não permitiu que o seu livro, O Evangelho Segundo Jesus Cristo, concorresse ao Prémio Literário Europeu “por ir contra a moral cristã dos portugueses” no episódio mais pobre e triste da actividade política portuguesa do pós 25 de Abril.
Claro que, a circunstância de posteriormente ter ganho o Prémio Nobel, ajuda a esquecer muita coisa mas eu tenho algumas dúvidas de que, lá no fundo, tudo esteja perfeitamente ultrapassado e, se assim for, faria algum sentido desacreditar os políticos portugueses e pressagiar a passagem para Madrid das rédeas da governação do país, reduzido, então, a mais uma Província de Espanha, a qual, para não ferir susceptibilidades, chamar-se-ia Ibéria.
Defende ele, que manteríamos a língua e a cultura sendo certo que, do ponto de vista económico, já estamos rendidos ao maior poder de compra dos espanhóis que por este país foram comprando tudo o que quiseram e valia a pena ser comprado a começar pelo Alentejo que está ali mesmo à mão de semear.
Entretanto, alguns milhares de compatriotas nossos que vivem mais perto da fronteira, a propósito da diferença considerável do preço da gasolina a que se junta a diferença do IVA, lá vão marchando regularmente até às cidades espanholas fronteiriças encher os depósitos dos carros e uma vez que já lá estão acabam por ir ao Corte Inglês fazer o resto das compras.
Há até portugueses que tendo deixado de vender do lado de cá passaram-se, com armas e bagagens, para o lado de lá para fazerem o negócio que cá já tinham deixado de fazer.
Não tenho dúvidas que José Saramago sabe isto tudo e que ao fazer a profecia que fez está ciente de estar a falar para milhares de portugueses que não só reconhecem como tiram partido das vantagens de se deslocarem a Espanha e se mais não são é apenas porque a população portuguesa, progressivamente, nas últimas décadas, se foi concentrando nas cidades da faixa litoral esvaziando a parte do país que se encosta à Espanha.
Mas José Saramago, ao longo de uma vida de 85 anos, conhece bem os seus compatriotas e sabe perfeitamente como eles, ao longo da sua história de 8 séculos, para sobreviverem sempre tiveram que deitar mão a toda a espécie de expedientes e ter que trabalhar, na sua terra, para um espanhol desde que ele pague ao fim do mês, ou passar a fronteira sem nenhum tipo de risco ou problema para fazer as mesmas compras por menos dinheiro, nem expediente chega a ser.
Comparado com o que tiveram que fazer no passado e bem recente, na década de 60, em que atravessavam a fronteira “a salto”com pouco mais do que a roupa que levavam vestida e sem saberem uma palavra de “estrangeiro” lá iam para a França como já tinham ido, noutros tempos, para África, Índia, Brasil e praticamente para todos os recantos deste mundo, a presente situação é uma brincadeira de crianças… \1. mas o seu país era sempre o destino final mesmo quando não chegavam a regressar.
Ser cidadão de um país, o mais velho de toda a Europa com as mesmas fronteiras, é qualquer coisa de qualitativamente diferente do que ser Galego, Basco ou Catalão.
Uma Nação que não se tenha tornado num Estado politicamente independente é como uma história à espera de um final, uma história inacabada e José Saramago que é um brilhante contador de histórias sabe isso perfeitamente.
Pior ainda é ter a história acabada e retirar-lhe, então, o último capítulo, diria mesmo que não é pior mas sim impossível a menos que seja à força.
Também é possível que a profecia de José Saramago tenha pretendido ser um gesto de simpatia para com a Espanha…ao fim e ao cabo são já 14 anos de uma hospitalidade, tentativa de cobrança de impostos à parte, plena de mordomias mas, se assim foi, também não foi bem recebido.
Com esta “tirada” o homem ficou aquém do artista o que é muito frequente na vida de quase todos os homens que em todos os tempos foram artistas.
“Não sou profeta, mas Portugal acabará por se integrar na Espanha”
Esta, a polémica afirmação proferida por José Saramago no decurso de uma entrevista concedida na presente temporada na sua casa em Lisboa e que foi amplamente divulgada por toda a Imprensa portuguesa e espanhola e objecto dos mais variados comentários e reacções.
Para todos os portugueses da minha geração que receberam a herança de uma rivalidade histórica entre portugueses e espanhóis esta profecia de José Saramago tem o sabor a piada de mau gosto mas poderá ser, por outro lado, a provocação a uma certa elite política nacional a quem, veladamente, se pretende passar um atestado de incompetência ou, na melhor das hipóteses, apenas o resultado da sua prodigiosa imaginação que, depois da sua Jangada de Pedra, em que separou a Península Ibérica do continente Europeu ao qual só regressou no fim do romance depois de andar a navegar pelo Oceano Atlântico, não me parece grande coisa…
Ele afirma que já esqueceu a ofensa do Governo português na pessoa do Dr. Sousa Lara, Sub-Secretário de Estado da Cultura, que em 1992, baralhando convicções religiosas com literatura, não permitiu que o seu livro, O Evangelho Segundo Jesus Cristo, concorresse ao Prémio Literário Europeu “por ir contra a moral cristã dos portugueses” no episódio mais pobre e triste da actividade política portuguesa do pós 25 de Abril.
Claro que, a circunstância de posteriormente ter ganho o Prémio Nobel, ajuda a esquecer muita coisa mas eu tenho algumas dúvidas de que, lá no fundo, tudo esteja perfeitamente ultrapassado e, se assim for, faria algum sentido desacreditar os políticos portugueses e pressagiar a passagem para Madrid das rédeas da governação do país, reduzido, então, a mais uma Província de Espanha, a qual, para não ferir susceptibilidades, chamar-se-ia Ibéria.
Defende ele, que manteríamos a língua e a cultura sendo certo que, do ponto de vista económico, já estamos rendidos ao maior poder de compra dos espanhóis que por este país foram comprando tudo o que quiseram e valia a pena ser comprado a começar pelo Alentejo que está ali mesmo à mão de semear.
Entretanto, alguns milhares de compatriotas nossos que vivem mais perto da fronteira, a propósito da diferença considerável do preço da gasolina a que se junta a diferença do IVA, lá vão marchando regularmente até às cidades espanholas fronteiriças encher os depósitos dos carros e uma vez que já lá estão acabam por ir ao Corte Inglês fazer o resto das compras.
Há até portugueses que tendo deixado de vender do lado de cá passaram-se, com armas e bagagens, para o lado de lá para fazerem o negócio que cá já tinham deixado de fazer.
Não tenho dúvidas que José Saramago sabe isto tudo e que ao fazer a profecia que fez está ciente de estar a falar para milhares de portugueses que não só reconhecem como tiram partido das vantagens de se deslocarem a Espanha e se mais não são é apenas porque a população portuguesa, progressivamente, nas últimas décadas, se foi concentrando nas cidades da faixa litoral esvaziando a parte do país que se encosta à Espanha.
Mas José Saramago, ao longo de uma vida de 85 anos, conhece bem os seus compatriotas e sabe perfeitamente como eles, ao longo da sua história de 8 séculos, para sobreviverem sempre tiveram que deitar mão a toda a espécie de expedientes e ter que trabalhar, na sua terra, para um espanhol desde que ele pague ao fim do mês, ou passar a fronteira sem nenhum tipo de risco ou problema para fazer as mesmas compras por menos dinheiro, nem expediente chega a ser.
Comparado com o que tiveram que fazer no passado e bem recente, na década de 60, em que atravessavam a fronteira “a salto”com pouco mais do que a roupa que levavam vestida e sem saberem uma palavra de “estrangeiro” lá iam para a França como já tinham ido, noutros tempos, para África, Índia, Brasil e praticamente para todos os recantos deste mundo, a presente situação é uma brincadeira de crianças… \1. mas o seu país era sempre o destino final mesmo quando não chegavam a regressar.
Ser cidadão de um país, o mais velho de toda a Europa com as mesmas fronteiras, é qualquer coisa de qualitativamente diferente do que ser Galego, Basco ou Catalão.
Uma Nação que não se tenha tornado num Estado politicamente independente é como uma história à espera de um final, uma história inacabada e José Saramago que é um brilhante contador de histórias sabe isso perfeitamente.
Pior ainda é ter a história acabada e retirar-lhe, então, o último capítulo, diria mesmo que não é pior mas sim impossível a menos que seja à força.
Também é possível que a profecia de José Saramago tenha pretendido ser um gesto de simpatia para com a Espanha…ao fim e ao cabo são já 14 anos de uma hospitalidade, tentativa de cobrança de impostos à parte, plena de mordomias mas, se assim foi, também não foi bem recebido.
Com esta “tirada” o homem ficou aquém do artista o que é muito frequente na vida de quase todos os homens que em todos os tempos foram artistas.