sábado, setembro 06, 2008

Oswaldo Montenegro -- A Lista

Porque sou Ateu?

A Origem do Homem ( A verdadeira Eva) 3

A Origem do Homem ( A verdadeira Eva) 4

sexta-feira, setembro 05, 2008


As Origens da Pretensa Superioridade Biológica







Na história da Europa moderna assistimos a grandes expansões políticas e económicas: a Inglaterra e a França tiveram séculos de grandeza e glória que não estando completamente apagados estão, no entanto, drasticamente redimensionadas.

A Espanha teve também séculos de riqueza e de conquistas e noutras partes do mundo surgiram igualmente impérios que duraram períodos maiores ou menores.

No entanto, a mudança constante do poder, mostra como é difícil mantê-lo por muito tempo mas enquanto dura transmite às pessoas desses países uma sensação inebriante que facilmente a induz a considerar que a sua superioridade é objectiva e inata quando, afinal, ela não passa do resultado de uma política inteligente que beneficiou de um conjunto de circunstâncias que num determinado momento da história se conjugaram para levá-la ao sucesso.

Mas o poder e o sucesso são efémeros, como todos sabemos, e sendo assim constitui um grave erro basearmo-nos neles para reivindicar qualquer espécie de superioridade.

Não se pode pensar que nas poucas gerações necessárias para o naufrágio, mesmo das maiores civilizações, o património genético de um povo possa mudar e degradar-se por culpa de cruzamentos entre raças, como pensava Gobineau.

E isto resulta da confusão ou da ignorância relativamente a conceitos que embora coexistam no tempo são distintos uns dos outros: cultura e civilização por um lado e por outro património genético, sem que nenhum deles confira uma pretensa superioridade biológica que jamais alguém conseguiu demonstrar.

Os argumentos de Gobineau a favor da sua teoria racista são aviltantes porque sem nenhuma espécie de fundamentação pretendia demonstrar que a decadência de todas as civilizações ficou a dever-se à mistura entre as raças e que todos os progressos da humanidade foram o resultado da obra de uns quantos arianos.

Mas o que é estranho, ou talvez não seja, é que esta falsa tese racista convenceu não só a “intelligentsia” europeia como, ainda mais facilmente, os alemães que como directos beneficiários da teoria acreditaram nela com os funestos resultados que todos hoje conhecemos.

O racismo é apenas uma manifestação específica de um síndrome mais vasto que é a xenofobia: o medo ou o ódio aos estrangeiros ou, mais em geral, àqueles que são diferentes de nós.

O grupo social a que se pertence desempenha um papel muito importante na vida de um indivíduo pois é perfeitamente razoável que as pessoas, na sua maneira de agir e pensar, gostem de estar de acordo com o grupo para receber apoio dele e oferecê-lo caso seja necessário.

Isto conduz-nos a uma entidade a que chamamos “Nós”, que sou eu e o meu grupo e a um “Eles” que são os outros em oposição ao “Nós”.

Se aceitarmos esta hipótese vamos ter que reconhecer que este “Nós” tem várias dimensões a primeira das quais será a nossa família, eventualmente com a exclusão de algum membro que não mereça a nossa confiança.

Depois do “Nós” da família virá o “Nós”, companheiros do jogo, colegas da escola, colegas adeptos do mesmo clube, do mesmo trabalho, que habitam na mesma cidade, na mesma região ou no mesmo país.

Há, portanto, muitos “Nós” e alguns deles estão em oposição a outros “Nós” como é fácil de perceber da mesma forma que não atribuímos a mesma importância a todos eles.

Numa cidade onde existam dois clubes adversários é muito difícil não pertencer a um deles e participar activa e emotivamente na vida daquele que nos coube em sorte.

Este último “Nós” é vivido com tal intensidade e adquire tanta importância que bem justifica estudos no plano antropológico os quais, de resto, já foram feitos.

A autenticidade e veemência com que são vividos levam a pensar que existe uma tendência inata para “fabricarmos” estes “Nós” que, por sua vez, são uma extensão do nosso Eu e que nos ajudam formando uma espécie de cinto de protecção.

Mas esta explicação não é suficiente para perceber o racismo e existem outros elementos importantes que ajudam a determiná-lo como o preconceito que por vezes atinge níveis de verdadeira neurose.

O ciúme e a inveja também são, frequentemente, causa do racismo da mesma forma que o é a excessiva valorização da própria pessoa e do seu grupo e o desprezo pelos outros.

O racismo não é apenas uma herança dos europeus ou americanos, está por todo o lado e vem de todos os tempos.

Na República Centro Africana uma Circular do Presidente da República, o famigerado Bokassa, antes de se ter tornado um megalómano e se ter proclamado imperador, dizia:

- É preciso respeitar cada homem como indivíduo e não basear-se no grupo a que ele pertence. E repetia na língua oficial: “zo we zo”, um homem é um homem.

Esta Circular vinha do 1º Presidente, Barthelemy Boganda, homem de grande valor que morreu demasiado cedo num desastre de avião.

Nesta fase, o país estava sob o controle político de uma pequena tribo, os “ngabaka” que tinham contactos muito estreitos com os pigmeus de quem aqui já falámos pelas suas grandes qualidades morais e éticas e a quem o conteúdo desta circular se ajusta perfeitamente.

Os actos de racismo que hoje se praticam um pouco por toda a Europa já não são actos isolados de um delinquente maluco mas crimes atrozes praticados por compactos bandos de jovens que passeiam excitados pelos bairros pobres à procura de vítimas.

E esses jovens racistas não são todos filhos de pais malvados incapazes de compreender os seus problemas, muitos são simplesmente desempregados ou infelizes por outros motivos, irritados por verem pessoas “diferentes” às quais não querem reconhecer o direito de viverem no seu país, encontrarem um trabalho e levarem um vida digna.

Poderá também haver pequenos grupos políticos de extrema-direita e outros, talvez, não tão pequenos, que se aproveitam desta situação e que deitam mais achas na fogueira do racismo.

O Racismo é uma doença social em que a profilaxia deve ser praticada de forma intensiva na família e na escola logo a partir dos primeiros anos de vida mas neste momento pede-se à Comunidade Europeia uma atenção muito especial à política de imigração com o mais rigoroso controle sobre a entrada de estrangeiros que não façam parte dos contingentes definidos pelos governos de cada país, como possíveis de integrar na sociedade em condições dignas.

Temos que reconhecer com humildade que a Europa não tem condições para receber todos aqueles que aqui desejam beneficiar de condições de vida que os seus países não têm condições para lhes oferecerem e não levar isso em linha de conta é criar situações de risco para os que entram e para os que cá estão.

Por outro lado, a Europa tem que ter a coragem e o bom senso de por termo à actual Política Agrícola Comum (PAC) que é insustentável e provavelmente o maior obstáculo a uma relação de trocas comerciais de produtos agrícolas mais favorável aos países africanos e que possa constituir os estímulos certos para criar trabalho e riqueza permitindo fixar esses contingentes migratórios nos seus próprios países.

Em vez disto parece haver mais propensão para a política das ajudas e dos subsídios que ao fim de tantos anos já provaram que são ineficazes.

Apenas uma excepção: que eles se destinem directamente a matar a fome àquelas crianças que vemos na televisão e constituem a vergonha de todos nós.

Abba 1979 -- Voulez Vous

Abba -- Chiquitita

quinta-feira, setembro 04, 2008

Lágrima de Preta -- António Gedeão


O RACISMO


O racismo é a convicção de que uma raça é biologicamente superior às outras e, por isso, a preocupação dos racistas em manterem a “pureza da raça” para que esta superioridade não acabe ou, simplesmente, não diminua.

Contudo, sabemos que nenhuma raça é pura e portanto, trata-se de uma preocupação absurda.

A circunstância de quase todos aqueles que nasceram em certas regiões escandinavas serem louros e de olhos azuis enquanto que, quase todos os árabes, são morenos e de olhos mais escuros não significa que, relativamente a outros caracteres, exista uma “pureza semelhante”.

Acontece, apenas, que foi uma questão climática que determinou uma selecção natural a favor daquelas características e apenas dessas porque relativamente aos outros genes os indivíduos louros são tão “impuros” como aqueles que pertencem a populações não escandinavas.

Da mesma maneira, quando seleccionamos cães, cavalos ou qualquer outro tipo de animal para tornar homogénea uma determinada característica visível, como a cor do pelo ou a forma do corpo, ou de outras características como a excelência do faro, a velocidade da corrida, etc., a grande variabilidade individual das restantes características mantém-se inalterada.

E o criador que se exceder demasiado na homogeneização destas raças através de cruzamentos entre parentes chegados na esperança de as “purificar” corre ainda o risco de perder a raça devido à diminuição da fecundidade e, de uma forma geral, da vitalidade do animal.

Existe hoje uma plena e total convicção da impossibilidade de existirem raças puras e perfeitas, mas no passado um falso ideal de “pureza de raça” esteve na base de muitas teorias erradas mas que tiveram uma influência histórica muito importante e negativa.

Vale a pena recordar a teoria avançada por um francês do século XIX, de seu nome Joseph Artur de Gobineau e que era conde.

Este senhor conde começou a sua carreira como secretário de um famoso político e ensaísta francês, Alexis de Toqueville.

No seu “Ensaio sobre a desigualdade das raças humanas” (1853-55) expôs a ideia de que a raça superior era representada pelos alemães que considerava serem os descendentes mais puros de um povo mítico, os arianos.

Ao procurar uma causa para a decadência da civilização, considerou tê-la detectado nas misturas étnicas que teriam reduzido a vitalidade da raça aumentando a sua corrupção.

Em determinado sentido, Gabineau, foi o iniciador do mito no qual, mais tarde, se havia de inspirar Hitler para impor ao mundo o regime nazi, da superioridade da raça ariana e do movimento anti-semita.

Mas o racismo é mais velho do que estas ideologias, muito provavelmente ele é tão antigo como as primeiras comunidades humanas que desenvolveram, por questões de sobrevivência, características xenófobas contra os outros grupos, da mesma forma e pelas mesmas razões, que desenvolveram comportamentos de solidariedade para com os indivíduos do mesmo grupo.

Normalmente, cada qual acha que a raça melhor é a sua, se por raça se entender o próprio grupo social, independentemente do facto de que aquilo de que mais nos orgulhamos ser de natureza biológica (sentimo-nos os mais bonitos…) ou sócio-cultural (a vida é mais agradável no nosso cantinho do que em outro lugar), não se fazendo qualquer esforço para separar a parte que é da biologia da que é de natureza cultural.

Numa época mais remota, os gregos consideravam com desprezo quaisquer estrangeiros chamando-lhes de “bárbaros” por não saberem falar grego mas mais tarde “provaram” do mesmo tratamento quando, debaixo do domínio romano, também foram por estes considerados de “bárbaros”.

Mas o que aconteceu é que todos os grupos étnicos, ao longo da história, sempre desenvolveram o orgulho do grupo a que pertencem.

Os franceses do nordeste podem gabar-se, com razão ou sem ela, que para o caso pouco interessa, descenderem dos bárbaros germânicos que, após a queda do Império Romano invadiram o norte do país: os Francos.

Da mesma forma também os ingleses se podem gabar de uma relação com os germânicos em resultado das invasões anglo-saxónicas.

Um deles, Huston Stuart Chamberlain, que casou com a filha de Wagner, tornou-se um grande admirador dos alemães e propagandista do mito ariano.

Este mito, aliás, é uma invenção recente. O termo “arianos” surgiu na linguística do século passado como significado de línguas indianas.

A raiz indo-europeia “ari” significa “condottieri”, nobre e daí aristocrata e Hitler apaixonou-se por esta palavra mas se tivesse sabido a verdadeira origem dela talvez tivesse escolhido outra porque, na verdade, os indianos são mais diferentes dos louros nórdicos do que, por exemplo, os judeus que ele odiou mais que qualquer outro grupo.

Todos sabemos hoje quais foram as consequências do ódio racista que enformou o regime nazi de Hitler que se tornou dono absoluto da Alemanha e no entanto assistimos como é fácil esquecer o passado e repetir os mesmos erros.

Os 6 milhões de judeus mortos nos campos de concentração nazi não foram suficientes? Há mesmo quem tente afirmar que não existiram. Como é possível?

Será que temos que concluir que o racismo é uma doença social de cura impossível e que nos atormentará para sempre?


Lágrima de Preta

António Gedeão



Encontrei uma preta
Que estava a chorar
Pedi-lhe uma lágrima
Para analisar.


Recolhi a lágrima
Com todo o cuidado
Num tubo de ensaio
Bem esterilizado


Olhei-a de um lado
Do outro e de frente:
Tinha um ar de gota
Muito transparente.


Mandei vir os ácidos
As bases e os sais
As drogas usadas
Em casos que tais.


Ensaiei a frio,
Experimentei ao lume,
De todas as vezes
Deu o que é costume:


Nem sinais de negro,
Nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)
E cloreto de sódio

A Origem do Homem ( A verdadeira EVA ) 2

quarta-feira, setembro 03, 2008

A Origem do Homem ( A verdadeira EVA 1)

Demis Roussos -- Forever And Ever

Demis Roussos - Good Bye My Love Good Bye

Tom Jones DELILAH

segunda-feira, setembro 01, 2008





A Grande Revolução



O Homem do Neolítico


As grandes revoluções são silenciosas, não acontecem de um dia para o outro, os seus efeitos são irreversíveis e quanto mais tempo passa mais eles se fazem sentir até que uma sociedade diferente surge no lugar da anterior.

E acontecem porque um elemento novo, um facto concreto que se revela de especial relevância se introduz no dia a dia da vida das pessoas imposto pela força dos condicionalismos ou adoptada por se mostrar de uma evidente vantagem competitiva.

A técnica do domínio e controle do fogo pertence ao último caso. As suas vantagens eram de tal importância que a sua adopção não só revolucionou a vida dos homens como, ela própria, esteve na origem do próprio homem com outras capacidades e condições para se afirmar no processo competitivo que é o da vida.

No primeiro caso, depois de dezenas de milhar de anos do nosso antepassado, o Homem de Cro-Magnon, ter vivido da recolha de tudo aquilo que a natureza tinha para lhe oferecer para além do que caçava e pescava com técnicas cada vez mais aperfeiçoadas e eficazes, chegou a um momento em que as condições ambientais, coincidindo, há cerca de dez mil anos, com o fim da era glacial, sofreram tais alterações que aquele estilo de vida, progressivamente, deu lugar a um outro num processo longo e demorado e que teve como consequências o ressurgimento não só de uma nova sociedade mas também de uma nova humanidade.

Talvez não tenha sido uma transição desejada, talvez o homem do neolítico não fosse mais feliz que o anterior, o nosso “avô” Cro-Magnon, mas não sendo possível continuar por força dos condicionalismos com o mesmo estilo de vida, manda o instinto de sobrevivência que se procurem outras soluções e foi isso que aconteceu e, pouco a pouco, foi-se virando a página do livro da história da nossa vida e com que consequências…

Será que a magia praticada nas grutas que ele tão bem decorou produziu os seus efeitos?...

Seja como for, no início dos tempos pós glaciários, ele descobre que pode agir sobre a natureza e até, de certo modo, apropriar-se dela conduzindo àquilo que o pré-historiador australiano Gordon Childe chamou, em 1930, “Revolução Neolítica”.

Esta expressão é exagerada a menos que se olhe para ela com uma amplitude de vários milénios que começam há cerca de 14.000 anos, de uma forma tímida, e se desenvolve efectivamente no Neolítico entre 10 e 4.000 anos atrás.

Na realidade, o que tivemos foi um modo de vida de caçadores recolectores que se vai modificando pouco a pouco porque a vida de nómada atrás das grandes manadas de herbívoros já não se justifica porque elas começaram a escassear em consequência da diminuição dos grandes espaços por onde circulavam.

E assim, preferem fixar-se durante mais tempo em regiões cujos recursos conhecem bem, optando pela caça de animais de pequeno porte abundantes nas redondezas das suas casas e começam a interessar-se pelo ciclo das estações, pela influência destas sobre o comportamento dos animais e pelo desenvolvimento das plantas selvagens que aprendem a conhecer melhor e a utilizar mais amplamente.

Aos acampamentos ligeiros sucedem-se agora verdadeiras pequenas aldeias feitas de cabanas robustas que permanecem ocupadas, ao princípio, parte do ano e depois todo o ano pelos membros da tribo que não são indispensáveis ao êxito das expedições de caça mais longínqua.

Este sedentarismo parcial, que tudo leva a crer é acompanhado de mudança nas relações sociais dos grupos humanos, modifica completamente a visão que o homem podia ter do seu meio ambiente e das suas relações com o meio natural.

De um predador nómada torna-se um”produtor” que se esforça por explorar de maneira mais intensiva um território limitado nas proximidades do local de residência.

Desenvolve novas técnicas, domestica animais, controla espécies vegetais, aperfeiçoa as aldeias e na sequência de tudo isto assiste-se a um crescimento demográfico.

Do avanço registado nas armas uma referência especial para o arco e flecha, fabricados com madeira, tendões e tripa, que se espalham um pouco por todo o mundo pelas vantagens que apresentavam por serem leves, de fácil transporte e mais eficazes do que as lanças e os dardos a uma distância de trinta metros e mais adequadas a um ambiente agora muito florestado.

Os arcos mais antigos foram encontrados na Europa, na Dinamarca, e estão datados de há 8.000 anos e pinturas talvez mais recentes debaixo de uma rocha no Levante espanhol mostram caçadores equipados com arcos e flechas e grupos de arqueiros que combatem uns com os outros.

A cerâmica é um dos grandes contributos do Neolítico embora desde há 25.000 que se tinha aprendido a cozer misturas argilosas e em algumas regiões utilizavam-se também recipientes de argila crua seca ao sol mas que eram muito frágeis e pouco práticos.

É natural que a técnica de entrançar ramos, juncos ou bambus tenha sido praticada largamente muitos anos antes, no Paleolítico, mas a fragilidade do material não permitiu deixar vestígios.

Depois vieram os primeiros têxteis tecidos com fibras de linho e pela mesma altura, 8.000 anos atrás, generaliza-se no Médio Oriente o trabalho em cobre e na Suméria, há 5.500 anos, inventou-se a roda.

O primeiro animal que compartilhou a vida com o homem foi o cão cujos vestígios em acampamentos humanos foram encontrados em jazidas datadas de há 14.000 anos tendo evoluído do lobo, coiote e chacal e eram utilizados para a caça, para dar o alarme, para a guarda de rebanhos e como companheiros.

O gato, a cabra e a ovelha aparecem no Médio e Próximo Oriente há 10.000 anos. Os primeiros bovinos, os auroques, foram “controlados" por caçadores que praticavam uma espécie de protocriação de gado antes de serem verdadeiramente domesticados para se transformarem nos bois actuais, primeiro na Grécia há 8.500 anos e depois no Próximo Oriente.

Outros bovídeos foram domesticados mais tardiamente na América, na África sariana e na Ásia e todos estes animais permitiram aos homens melhorarem consideravelmente beneficiando, de modo permanente, de leite fresco, queijo que pode ser conservado durante largo tempo, de sangue retirado do animal vivo e, claro, de carne.

Outra fonte de produção de carne foi o porco selvagem ou javali domesticado mais ou menos na mesma época, 8.500 anos, na Grécia e Próximo Oriente e alguns séculos mais tarde na Europa e China Setentrional.

Mas o interesse do homem do Neolítico estende-se por muitos outros animais que variam em função da região considerada.

O cavalo é domesticado na Ucrânia há 5.500 anos, no Peru faz-se a criação de alpacas e lamas que provêm de camelídeos selvagens dos altos planaltos andinos, de guanacos e vicunhas.

O burro, o camelo e o dromedário são domesticados entre 5.000 e 4.000 anos, respectivamente no Próximo Oriente, no Turquemenistão e na Arábia.

Mas a domesticação não se ficou apenas pelos grandes animais. As abelhas foram exploradas pelos habitantes do vale do Nilo há cerca de 5.000 anos e por essa mesma altura, o bicho-da-seda era criado na China o que revela a antiguidade das actividades de tecelagem na Ásia.

No próximo Oriente, desde o norte do Mar Vermelho até ao alto do Vale do Eufrates o aparecimento de um clima quente e húmido provocou uma considerável expansão de cereais selvagens e os povos do Mesolítico, que é um período entre o Paleolítico e o Neolítico que se iniciou há 10.000 anos, particularmente as mulheres sempre atentas a tudo quanto pudesse constituir alimento para a família, souberam imediatamente tirar proveito desse recurso colhendo a maior quantidade possível de espigas maduras de trigo, centeio ou de cevada.

Os grãos dessas espigas eram leves, muitas vezes guarnecidos de barbas e na maturidade separavam-se facilmente das espigas para que o vento pudesse facilmente proceder à sua disseminação no interesse da propagação da planta.

Ao procederem à apanha, as mulheres, fizeram contudo, uma selecção involuntária dessas sementes porque acabavam por levar consigo espigas mutantes cujos grãos eram mais pesados e estavam mais fortemente agarrados às espigas não se separando facilmente, enquanto os grãos normais, digamos assim, não mutantes, pelas suas características, dificilmente chegavam aos acampamentos.

Uma vez aqui, muitos deles caem para o chão, germinam e dão origem a campos em que a variedade mutante, que era mais útil ao homem, estava largamente representada.

Este processo repetido durante algumas dezenas de anos em locais onde as pequenas comunidades humanas voltam regularmente para instalar os seus acampamentos sazonais, deu início à “domesticação” de novas variedades de cereais mais proveitosas para o homem.

Mais tarde, com a fixação permanente num determinado local, estavam criadas as condições para o aperfeiçoamento de técnicas elaboradas de preparação do solo, colheita e sementeira.

A agricultura nasceu verdadeiramente há cerca de 10.000 anos numa região do “Crescente Fértil”, que se estende desde a Turquia até Oeste do Irão e foi na Turquia, numa zona minúscula de 20x20 Km, situada a 1000 metros de altitude, nas vertentes bem expostas dos montes vulcânicos do Karacadag, que Jack Harlan, da Universidade do Oklahoma, localizou em 1966, aquele que foi sem dúvida o primeiro campo de trigo cultivado.

Na aldeia de Jarno, a nordeste do Iraque, foi encontrada cevada doméstica com 9.000 anos mas não só cereais também várias leguminosas tais como o grão, as favas e as lentilhas e um pouco mais tarde, há 6.000 anos, a pistácia , a oliveira e a vinha.

Os métodos de cultura e as espécies vegetais domesticadas logo foram levadas, primeiro para o norte da Turquia, depois para os Balcãs, Danúbio e finalmente para a Europa ocidental, onde espécies não indígenas são aclimatadas a partir do VII milénio.

As abóboras, pimentos e feijão desenvolvem-se largamente no México entre 9 e 6.000 anos atrás, enquanto que o milho começa a ser cultivado pelo homem no vale de Tehuacan, a partir de há 7.000 anos e os progressos registados nesta cultura são medidos pelo aumento considerável e progressivo do tamanho das espigas.

Tubérculos como a batata e a mandioca foram alvo de uma exploração precoce que não deixou vestígios formais.

Na Ásia, dois tipos principais de cereais, o milho miúdo aos cachos e o arroz foram alvo de uma primeira domesticação precoce entre os 8.000 e 6.000 anos.

Uma leguminosa, a soja, foi domesticada na China Setentrional a partir de há 5.000 anos e vários núcleos humanos no Sudoeste da Ásia desenvolvem economias agrícolas baseadas no tubérculo inhame e em árvores de fruto como a árvore-do-pão, o coqueiro e a bananeira.

Em África, a agricultura desenvolve-se principalmente no Magrebe, bastante tardiamente, 6.000 anos, e numa orla costeira muito limitada.

No Sara os dados utilizáveis são pouco numerosos mas é possível que tenha havido grupos semi-nómadas que tenham explorado cereais, milho miúdo e palmeiras em locais de agrupamento sazonal há cerca de 7.000 anos.

O sedentarismo e a prática regular da agricultura acontece de uma forma gradual, progressiva e em épocas diferentes conforme as regiões.

Tudo começa por acampamentos mais ou menos permanentes com cabanas provisórias de forma arredondada que são feitas para durarem cada vez mais graças a um reforço das armações.

Depois, os grupos sedentarizados aprenderam a substituir os ramos entrançados e os painéis de couro dos grupos nómadas por muros de sustentação de pedra, de tijolos crus secos ao sol ou de adobe (terra misturada com palha) suportando um teto feito de colmo ou de pequenos ramos cobertos com uma espessa camada de argila.

Para economizar espaço passa-se de instalações circulares disseminadas e distantes umas das outras para planos arquitecturais rectangulares, mais compactos.

Por fim, os grupos formados cada vez por mais indivíduos têm tendência para se associarem em locais favoráveis dando origem às primeiras aglomerações que reúnem algumas dezenas de habitações e abrigam trezentas ou quatrocentas pessoas.

No próximo Oriente, aldeias como estas cujos vestígios foram encontrados, desenvolveram-se há 9.000 anos nas actuais Jordânia, Turquia e Iraque.

As maiores são rodeadas por uma muralha acompanhada de um fosso evoluindo para cidades-mercado, situadas no centro de uma rede de várias dezenas de aglomerações de agricultores.

A presença de um templo relativamente imponente que serve também de entreposto e de local de reunião, o tamanho das habitações mais ou menos imponentes e bem arranjadas, assim como a natureza variada dos objectos encontrados, revelam nitidamente que está a desaparecer a tradição igualitária nestas cidades de 2 a 3.000 habitantes e que se está a instalar, pela primeira vez, um sistema social hierarquizado dominado por uma casta religiosa.

Mais tarde, ao lado desta casta religiosa e em cidades que se estendem agora já por várias dezenas de hectares abrigando cerca de 40.000 habitantes, aparece uma aristocracia militar e os negociantes passam a ter primazia relativamente aos artesãos e agricultores, isto na região da Suméria e com algum tempo de atraso fenómenos similares surgem em outras regiões do mundo especialmente no norte da China, no vale do rio Amarelo.

A população mundial, que não atingia os 10 milhões no início do Neolítico, há 10.000 anos, com uma taxa de crescimento da ordem dos 0,001%, 6.000 mais tarde éramos 100 milhões com uma taxa de crescimento de 0,1% ou seja, cem vezes mais.

É que durante o Neolítico os homens vivem de maneira diferente e sobretudo melhor do que jamais tinham vivido.

São relativamente bem alimentados, estão muito menos expostos a acidentes mortais, vivem durante mais tempo e mudam mesmo de aspecto físico uma vez que são mais pequenos que os seus antepassados do Paleolítico Superior e o dimorfismo sexual entre homens e mulheres voltou a diminuir, característica que poderia facilmente explicar as mudanças psíquicas e sociológicas que afectam as sociedades humanas.

Na base destas mudanças, há o sentimento de poder dominar a natureza e a descoberta da individualidade.

O Homem “antigo” o de Cro-Magnon, vivia num mundo de sensações e de intuições e identificava-se espontaneamente com a sua tribo.

O Homem do Neolítico descobre que é um indivíduo capaz de influenciar o curso dos acontecimentos e a mudança é vertiginosa e leva, com algum optimismo, o etnólogo Claude Levi-Strauss a afirmar que após mais de 2 milhões de anos muito difíceis, tendo chegado mesmo à beira da extinção, a humanidade encontrou finalmente os Jardins de Éden e a esse estado feliz, o cândido Rousseau, chamava “justo meio entre a indolência do estado primitivo e a petulante actividade do nosso amor próprio”.

Mas o género humano não era feito para viver “no justo meio” e essa “idade de ouro” que poderia ser representada pelo começo do Neolítico não durou muito tempo se é que esse período alguma vez mereceu essa denominação.

Nas grandes cidades-Estado e nas aldeias que elas governam organiza-se, manifestamente, a exploração do homem pelo homem e só de uma forma aparentemente paradoxal é que esta revolução social coincide com a descoberta da escrita cujo papel principal foi estabelecer inventários, recenseamentos e leis.

Acabou a pré-história, começou a história e o homem foi o único ser vivo capaz de acrescentar uma história à sua evolução biológica e é por isso que o podemos considerar verdadeiramente excepcional.

Mas é uma história de ambição, de desequilíbrios, de desigualdades…

O Homem, “homo” que se tinha, talvez, tornado sábio, “sapiens” quis, além disso, tornar-se sapiente, “sapiens sapiens”, por vezes para os bons momentos mas muito mais vezes para os maus.

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