Memórias Futuras
Olhar o futuro pelo espelho retrovisor da história. Qual história? Que futuro?
sábado, agosto 01, 2015
Demónios da Garoa - Trem das Onze
Este é o samba de que eu mais gosto. Pela música mas, especialmente, pela letra absolutamente deliciosa.
O padrinho também vai? |
TOCAIA
GRANDE
(Jorge Amado)
Episódio Nº
301
10
Mais tarde, na cama com Bernarda, o Capitão lhe disse:
- Um bocado de gente tá indo embora. Tu devia
fazer o mesmo. Aqui , o risco é
grande.
Olhava para o teto de madeira, a voz
neutra, sossegada: não ditava uma ordem, dava um conselho.
- Ir embora? Para onde?
- Tem um lugar em Taquaras onde tu pode
ficar.
- O padrinho também vai?
- Eu não posso sair daqui .
- E a Madrinha?
- Fica aqui ,
comigo. Ela e os meninos.
- Nem vosmicê, nem a madrinha, nem os
meninos. Por
que eu houvera de ir? Por que vosmicê quer
me ver longe?
Por que me manda embora? Não fiz por
merecer regalia nem desprezo.
Aqui ,
se tiver de morrer, tou perto de vosmicê e de Nadinho.
Descansou a cabeça no peito do padrinho
como o fazia desde criancinha, mas com os braços e pernas o prendeu contra o corpo
nu:
- Se cansou de mim?
- Não disse que tu fosse, só lembrei.
Cumpria sua parte, igual a Zilda na mesa
do almoço. O capitão Natário da Fonseca tocou com os dedos a face da afilhada, xodó
de tantos anos. Ao falar, já sabia da resposta.
11
Morte sentida foi a de Merência. Se
houvesse sido vitimada
por qualquer outra doença ou por picada de
cobra, também ela teria merecido velório de arromba, com mais razão do que a
lesa e o comprador de cacau. Tantos acontecidos a recordar, passagens
divertidas, momentos de exaltação.
Mulher casada, guardava distância das
raparigas mas nem por isso deixou de defendê-las quando os boiadeiros tentaram
impor a lei da prepotência. Com as calosas mãos de oleira, concorreu infatigável
para levantar paredes e colocar telhados na desolação de Tocaia Grande após a
enchente.
Nasceu
Portugal
(Domingos Amaral)
Episódio Nº 31
De um momento para o outro,
quando nada o fazia prever, aparecera um demónio branco que o degolara. Mem não
sabia o que fazer.
Estava nu, nem se lembrava
onde entrara no rio e deixara a roupa, e não queria deixar o seu pai ali, para
ser roído pelos bichos, a apodrecer ao sol.
Mas também não tinha forças
para o enterrar, nem nada com que fazer fogo para o cremar. Era apenas uma
criança de doze anos, não estava preparado para aquela provação, e limitou-se a
ficar ali, ajoelhado, as lágrimas escorredo-lhe pela cara.
A dada altura, o mundo
escureceu, e ele deduziu que era o que acontecia quando morria alguém de quem
gostávamos muito.
Aqui lo
era mesmo estranho, parecia que estava a anoitecer ao meio-dia.
Então Mem olhou em volta e
viu melhor: o que se passava não era dentro dele, mas sim fora dele.
Ergueu os olhos para o sol e
notou que ele desaparecera atrás de uma bola castanha, escurecendo o dia. E ao
lado, no céu, existiam estrelas.
Seria um milagre? Deus e Alá
tiraram a luz ao mundo? Mem estava perplexo. O pai nunca lhe falara em nada
assim.
De repente ouviu um barulho,
alguém a aproximar-se. Era uma mulher já envelhecida, com a cara cheia de rugas
e verrugas.
Feia, estava vestida de
preto, com um capuz da mesma cor a cobrir-lhe a cabeça. Contudo, não parecia
triste ou zangada, apenas curiosa.
Ao vê-lo acercou-se apoiada
no seu cajado. Reparou no corpo e na cabeça degolada e suspirou.
- Sois cristão ou árabe?
Mem não era uma coisa nem
outra, era as duas ao mesmo tempo, ou nenhuma delas.
O pai era muçulmano mas não
ligava a rezas, embora gostasse de falar da Bíblia, e a mãe, apesar de cristã,
morrera há tanto tempo que Mem já não se recordava do dia em que entrara numa
igreja pela última vez.
Como ele não respondeu, a
velha concluiu:
- Sois moçárabe.
Olhando para o corpo morto
declarou:
- O vosso pai não pode ficar
assim. Como não temos com que enterrá-lo, teremos de queimá-lo.
Um inglês entra num café pela manhã para tomar o
pequeno-almoço e pergunta à empregada apontando para o balcão:
- Please, could you tell me what is the name of
that cake?
Responde a empregada:
- Off course, is a "queque".
Pergunta novamente o inglês:
- And one of those portuguese typical small and
strong coffees?
Responde novamente a empregada:
- We call it "bica".
Então vira-se frontalmente o inglês para a
empregada e pede:
- Mi querer um bico e uma quequa
Obs. Fantásticos, estes ingleses para falarem na língua dos outros. Coisa que nunca fazem, de resto.
A mistificação das palavras. |
A Mistificação
das
palavras
A política está completamente personificada. Não
de hoje, nem de ontem, mas cada vez mais.
O programa político do PSD? – Mas quem o lê? –
Quem se interessa?
Os próprios deputados parlamentares esboçam um
sorriso e vão dizendo que ainda não o leram...
O programa político da coligação é Passos
Coelho com o seu bom porte, voz bem colocada, ar sério e convincente e os seus “sound
bit”, ideias chave que hoje são umas e amanhã são outras como se ele tivesse o
dom de adivinhar aqui lo que os
eleitores gostam de ouvir em cada momento.
Constrói-se uma imagem e vive-se dessa imagem e
se ela estiver a resultar convém não alterar.
Ainda recordo, e os portugueses da minha
geração igualmente, a imagem de Salazar, o olhar acutilante, por cima dos óculos,
falando para os portugueses como se as suas palavras fossem as últimas do mundo.
Ele tinha a seus pés a população do país que
parecia ter sido feita para ele, ou ele para ela.
Tive muita pena que tivesse caído da cadeira
porque não merecia aquele fim tão estúpido.
Teria sido de toda a justiça assistir com os seus próprios olhos e mente saudável à derrocada do seu falso império
que ele tentou construir contra os ventos da história como ele próprio admitia.
Vamos dar de barato que ele tinha as “costas
quentes” pela Polícia Política e pela Censura mas, com esse conforto, era um
homem verdadeiro dizendo sempre a mesma coisa e teria morrido a afirmá-la se a
consciência não lhe tivesse faltado.
No lugar de Passos Coelho, Oliveira Salazar, na
campanha para as últimas eleições que Passos ganhou, teria dito, no seu ar
grave, sério e profundo:
- “Portugueses:
depois do Acordo que assinámos com a Troyka, não nos resta outro caminho que não
seja sangue, suor e lágrimas.
Não vos posso enganar relativamente a esses
sacrifícios que passarão pela subida de impostos e cortes nos salários e pensões”.
Teria Passos ganho as eleições se tivesse
falado verdade aos portugueses como Salazar ousaria fazer?
-
Provavelmente, não! - Passos deveu a vitória às suas palavras mentirosas...
A política é cada vez mais a arte da
mistificação e os políticos, actores que dominam a arte da mentira e da
representação.
Vamos entrar num período eleitoral e as máqui nas da comunicação aquecem os motores, estudando
as frases, afinando as vozes, ensaiando as respostas às perguntas esperadas,
estudando os discursos, concebendo os cartazes, porque a política, nestas fases
eleitorais, é, fundamentalmente: criação de expectativas.
Tal como o mercado, na economia, vive dessas
expectativas, a política vive das promessas que são feitas.
Quase como um exercício de futurologia:... sonhos,
planos, promessas que são, como todos nós sabemos, no fundo, o alimento da
vida...
sexta-feira, julho 31, 2015
Roberta Flack - Killing With Me Softly With His Song
A gravação em 1973 fez desta canção um sucesso. Mais uma, quando, nesse ano, cheguei triste a Moçambique e me embalou na nostalgia da sua linda melodia e na maravilha da voz da Roberta.
Pequenote como o meu pai que não tinha bigode, nem laço, nem óculos. O chapéu era igualzinho |
Fernando
Pessoa
Posso ter defeitos, viver ansioso e
ficar irritado algumas vezes,
mas não esqueço de que minha vida é a maior empresa do mundo.
mas não esqueço de que minha vida é a maior empresa do mundo.
E que posso evitar que ela vá a
falência.
Ser feliz é reconhecer que vale a
pena viver apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise.
Ser feliz é deixar de ser vítima dos
problemas e
se tornar um autor da própria história.
se tornar um autor da própria história.
É atravessar desertos fora de si, mas
ser capaz de encontrar
um oásis no recôndito da sua alma.
um oásis no recôndito da sua alma.
É agradecer a Deus a cada manhã pelo
milagre da vida.
Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos.
Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos.
É saber falar de si mesmo.
É ter coragem para ouvir um 'não'.
É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta.
Pedras no caminho?
É ter coragem para ouvir um 'não'.
É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta.
Pedras no caminho?
Guardo todas, um dia vou construir um
castelo...
(Fernando Pessoa)
P.S.
- A profundidade do pensamento deste homem é desconcertante. Não é poesia, não
é prosa, está para lá de tudo isso.
Quando
fui a Lisboa, há tempos, para os almoços mensais com os meus colegas, sentei-me
numa mesa de café, no Martinho da Arcada que ele frequentava, exactamente por
baixo das arcadas do Terreiro do Paço, a caminho da Baixa, e gostei de pensar
que ali, naquele mesmo sítio, havia um génio, fraca figura de gente, que ali também
se sentava e produzia textos como aquele que acima reproduzo, quem sabe senão
mesmo aquele, que não são verso nem prosa que estão para além da prosa e da
poesia para se situarem no campo do pensamento e do sentimento puros.
Aquele
homem, ao que se sabe da sua vida, simples guarda-livros de profissão, com Ofélia,
eterna namorada, que não passou do 1º ano de um curso superior de Letras, empresário
falido de uma pequena tipografia, tinha algum motivo especial para ser feliz? -
Daqueles motivos que costumam fazer a felicidade das pessoas?...
E
no entanto carregava dentro de si um mundo inesgotável de riqueza que abarcava
toda a humanidade: um pensamento, uma intelectualidade que nos fazem sentir
pequeninos ao pé dele. Talvez por isso não podia sentir-se triste...
Será
que ele tinha verdadeira consciência do que era e de quem era, do seu valor, em
suma, vivendo num país que o escondia e ocultava deixando-o morrer numa mísera
cama de um hospital levando consigo Ricardo Reis, Álvaro Campos e Alberto
Caeiro, seus heterónimos, com uma chapa, um número e um diagnóstico apressado
de cirrose hepática que afinal não passaria de uma inflamação aguda do
pâncreas, aos 47 anos de vida?
O regime de Salazar, talvez suspeitando do seu
valor, preferiu despachá-lo como bêbado não lhe perdoando o facto de sendo ele,
de início, apoiante de uma ditadura que restabelecesse a paz na vida social
portuguesa que vivia numa latente guerra civil - ficou célebre a frase de que “hoje, por ser Domingo,
não houve revolução em Portugal” - em 1933 admitia já que o novo regime de
Salazar não era a solução para o país que ele desejara em 1926.
De
herança deixou para além da obra publicada, quatro livros, três deles em língua
inglesa, a sua primeira língua que dominou melhor que a portuguesa, um livro em português O Livro
do Desassossego, o seu melhor, e uma arca com 25.000 papéis lá dentro. Repousa,
desde 1988, no Mosteiro dos Jerónimos para inveja de quantos em vida o
ignoraram. a ele, que foi considerado o mais universal poeta, filósofo e escritor
português de todos os tempos o expoente máximo da nossa língua ainda que na
hora da morte, na cama do hospital tenha preferido a língua inglesa para nela
escrever as suas ultimas frases.
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
Fernando Pessoa
(Jorge Amado)
Episódio Nº 300
A semana tinha sido triste e dificultosa. Natário, sombrio, parecia um bicho-do-mato, acuado. Vinham procurá-lo, ansiosos, atormentados, como se o Capitão fosse médico ou curandeiro, esperando dele uma providência, uma solução, e ele não tinha nem providência nem solução a oferecer, nem sequer uma palavra alentadora: as palavras eram vagas e vazias, ressoavam falsas.
O povo não buscava consolo para o luto,
queria salvatério para os vivos. Zé Luiz sentara-se no banco, na varanda,
lavado em pranto: não existe nada mais importuno, mais insuportável do que um homem
chorando, perdidas a vergonha e a presunção, despido da condição de macho.
Zilda repetiu, elevando a voz para ser
ouvida e obter resposta:
- Se alastrou.
O Capitão amassava com os dedos um bolo de
feijão com
farinha:
- Diz-que outro parente de sia Leocádia
está arriado. É homem ou mulher? Tu sabe? - Os estancianos
na sexta-feira haviam enterrado o moço Tancredo.
- Um menino, Mariozinho, de seus dez anos,
não tinha mais. Não saía daqui , era
carne e unha com Peba.
- Tu fala como se ele já tivesse morrido.
- Deus me perdoe! Não quero agourar
ninguém mas ocê já viu algum se salvar? Nunca soube de nenhum.
Baixou os olhos para o prato de flandre,
revolveu a comida com a colher:
- Ando agoniada por causa dos meninos. O
que é que ocê acha? Não era mais melhor pegar neles e ir pra roça? Até passar.
O Capitão correu a vista pela criançada
que, desatenta à conversa, comia com vontade, uns na mesa, outros sentados no chão.
Depois encarou a mulher:
- Tu já reparou quanta casa fechada,
quanta gente já foi embora? Se nós se retira, se tu for pra roça com os
meninos, no outro dia não fica mais ninguém em Tocaia Grande. Nós
não pode fazer isso.
Zilda largou a colher, ergueu os olhos
para ele:
- Tomei filhos de outras pra criar.
- Aqui
é a casa deles e daqui nós não vai
sair. Ninguém.
- Limpou as mãos sujas de comida, uma na
outra: - A não ser que seja pro cemitério.
Zilda balançou a cabeça, em concordância:
não estavam discutindo, apenas conversando. Conhecia o marido e sua maneira de
pensar: quem tem mando e autoridade, tem obrigações.
De nada adiantaria argumentar, menos ainda
se opor.
Cumprira sua parte, expusera seus temores:
a ele competia decidir, a ela obedecer.
Nasceu
Portugal
(Domingos Amaral)
Episódio Nº 30
Mem desatou a nadar, mas
agora fazia-o contra a corrente e por isso demorava mais. Ainda pensou em
gritar para chamar a atenção do pai, mas temia que o maldito de branco o
ouvisse e viesse direito a ele, por isso só nadou.
Quando chegou à margem,
encontrava-se mais longe do pai, vinte metros acima, e estava cansado do
esforço. Levantou-se e tentou correr, vendo que o matador de branco acabara de
degolar outro desgraçado, numa elevação apenas a cinco metros do arbusto onde o
pai estava.
O coração de Mem começou a
bater desordenadamente, o pai ia ser atacado! Decidiu arriscar.
Levou dois dedos à boca,
imitando o assobio usual do seu progenitor, quando chamava pelos jumentos. De
seguida escondeu-se atrás de um arbusto, pois o facínora ouvira-o e virara a
cara na sua direcção, limpando a espada de sangue.
Quando, instantes mais
tarde, Mem espreitou entre os ramos, o seu corpo paralisou, atingido pelo medo
mais profundo que alguma vez sentira.
O pai saía de trás de uma
pequena oliveira, a sorrir para Mem, pois ouvira o assobio, e ia dizer qualquer
coisa quando o carniceiro saltou para junto dela e elevou o alfange, puxando o
braço atrás.
Por mais anos que Mem
vivesse, nunca iria esquecer aquele momento. Os joelhos falharam-lhe, viu a
cabeça do pai voar, cortada pela violência do golpe dado pelo monstro.
Um jacto de sangue espirrou
e o corpo mole do pai, já sem vida, tombou para o lado, enquanto Mem sentia uma
dor violenta no peito, uma dor que ainda não o abandonara horas depois.
O medo de morrer impedira-o
de gritar. Ficara em silêncio, cerrando os dentes, pois, se fizesse algum
ruído, o carrasco vestido de branco, a poucos metros, teria ouvido.
Viu-o cirandar de um lado
para o outro, procurando mais doentes, e depois dar meia volta e desaparecer.
Ainda ouviu berros mais longe até que tudo caiu no mais sinistro silêncio.
Não se ouvia um gemido, um
lamento de um mo, moribundo. Aquele fantasma sanguinário matara todos os
doentes, mais de trinta, em pouco tempo, como se fosse uma praga letal que
ceifava vidas, idênticas às das históricas bíblicas que o pai lhe contava.
Durante horas, Mem
permaneceu totalmente paralisado de choque e de pavor, e foi só quando o sol já
ia bem alto que se aproximou do cadáver do pai.
Contraindo-se em espasmos,
viu a cabeça afastada do corpo, o sangue escuro espalhado na terra e não
conseguiu avançar.
Desatou a chorar. A única
pessoa de quem gostava estava morta.
Organizada
A mentira na política actual, quando se
disputa o poder, adqui riu uma importância
e significado que a transformaram numa arma, ou se qui serem,
um instrumento que pode decidir a vitória ou derrota nas eleições.
Isto já foi verificado e denunciado em
1967, num artigo da Revista New Yorker, pela filósofa política alemã Hannah
Arendt, quando alertou para o papel crescente da “mentira organizada” no espaço
público moderno.
Ontem, no Memórias Futuras, fiz referência
à maneira séria e convicta com que Passos Coelho mente transformando uma
mentira na “verdade” que vai ao encontro do seu projecto de poder.
Quando em 2011 assinamos o Acordo da
Troyka, pareceu evidente a todos os portugueses que iríamos ter que fazer
sacrifícios, impostos, de resto, pelos representantes dos credores que nos iam
emprestar o dinheiro.
O PS que chamou a Troyka, foi
considerado responsável pela situação a que se tinha chegado e, naturalmente, perdeu as eleições.
Passos assumiu o poder numa coligação com o CDS que esteve quase a abortar no Verão de 2013, como se lembram, e nos custou uns milhões de euros nos mercados financeiros.
Passos assumiu o poder numa coligação com o CDS que esteve quase a abortar no Verão de 2013, como se lembram, e nos custou uns milhões de euros nos mercados financeiros.
Era uma situação esperada que pretende
agora ser desmentida através da mentira organizada ou das frases de duplo
sentido como aquela de que as “pessoas estão piores mas o país está melhor”.
(Viva o país da estatística, morra o país das pessoas!)
(Viva o país da estatística, morra o país das pessoas!)
Mas Passos, no fundo, tem razão se
pensarmos que o seu grande objectivo é uma mudança profunda da sociedade
portuguesa saída do 25 de Abril e que só terminará com a revisão, a sério, da
Constituição Portuguesa.
Os sacrifícios só teriam cabimento se
fossem para a defesa de uma situação anterior, deteriorada pela crise económica
e financeira, que iria ser reposta com esses mesmos sacrifícios. Assim, são meios para atingir outro fim.
Para
Passos esses sacrifícios fazem parte de uma alteração qualitativa da nossa
sociedade logo anunciada quando ele afirmou que "iria além da troyka".
A condução da política europeia está-se
nas tintas para o "estado social" e Passos, idem, idem, aspas, aspas.
Os cidadãos “não podem ser piegas”,
lembram-se?
- A sociedade é feita por vencedores e
não por perdedores. A solidariedade custa muito dinheiro que os vencedores não estão dispostos a dar.
Os números do desemprego que o governo
apresenta fazem parte da mentira
organizada mas ditos e repetidos acabam em confusão no ouvido das pessoas e o
que fica é o “sound bit”.
A Fernanda Câncio, jornalista do DN, no
seu artigo de hoje desmonta a mentira dos números do desemprego afirmados pelo
governo num artigo cujo título é “Milagre
PAF faz puf”. (PAF, sigla da coligação que está no poder: Portugal P'ra Frente.)
Mas para quê números e mais números que as pessoas têm
dificuldade em digerir?
Olha-se para a economia do país, para a evolução do PIB, para o
investimento, público e privado - o que efectivamente cria emprego- para as notícias diárias dos jornais, e
pergunta-se como é que o panorama poderia ser diferente na questão do emprego?
- O que sentirá aquele português, homem ou
mulher, ainda no força da idade, que se sente definitivamente afastado do
mercado de trabalho, reduzido aos biscates e ao empreendedorismo?
- E os jovens que vão a todas. desesperados por baterem com o nariz na porta?
Em nome de todos eles fale-se do
emprego com outra seriedade e com esperança!
Perceberam o que está em causa nestas eleições?
- Uma sociedade liberal, prosseguida por Passos Coelho, não é uma sociedade para todos, é dos vencedores, o estado social será diminuto e a solidariedade figura de retórica.
Progressivamente, o ensino, a saúde, a segurança social, tudo passará a ser um negócio. A energia, as águas, os correios, as estradas, as leis do trabalho, esse empecilho, transportes públicos, tudo tem que ser entregue ao privado.
O aparelho do Estado não é para melhorar é para acabar.
Passos Coelho, com mais tempo e perseverança encarregar-se-à de o fazer.
Os homens de negócio, os vencedores, os que não são piegas, aguardam.
A CGTP - Intersindical, cada vez com menos associados, no futuro, para convocar uma greve, vai ter que vender rifas...
Perceberam o que está em causa nestas eleições?
- Uma sociedade liberal, prosseguida por Passos Coelho, não é uma sociedade para todos, é dos vencedores, o estado social será diminuto e a solidariedade figura de retórica.
Progressivamente, o ensino, a saúde, a segurança social, tudo passará a ser um negócio. A energia, as águas, os correios, as estradas, as leis do trabalho, esse empecilho, transportes públicos, tudo tem que ser entregue ao privado.
O aparelho do Estado não é para melhorar é para acabar.
Passos Coelho, com mais tempo e perseverança encarregar-se-à de o fazer.
Os homens de negócio, os vencedores, os que não são piegas, aguardam.
A CGTP - Intersindical, cada vez com menos associados, no futuro, para convocar uma greve, vai ter que vender rifas...
quinta-feira, julho 30, 2015
Tony Orlando - Tie a Yellow Ribbon (1973)
Cheguei a Moçambique ao som desta linda canção. Nessa chegada, a única coisa que foi linda foram as canções de que me fiz acompanhar, em fins de 72/73... Esta e outras que vou recordando no Memórias Futuras. A história desta é muito curiosa e parece-me que tem fundos de verdade. Está contada na legenda para quem não souber inglês. É deliciosa... a árvore ficou coberta de fitas amarelas...
Se alastrou |
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)
Episódio Nº 299
Com exagero duplicado devido às fúnebres
circunstâncias, circulavam notícias de arrepiar, contavam-se episódios
apavorantes, nas fazendas, nas povoações, nos pontos de pernoite, nos caminhos.
Estava para suceder com Tocaia Grande o
mesmo horror que se abatera sobre um anónimo arruado nas bandas de Água Preta:
todos os moradores haviam desencarnado.
Nas bandas de Água Preta, de Sequeiro de
Espinho ou do Rio do Braço, variava a geografia conforme o narrador, crescia o
tamanho do lugar, o número de mortos aumentava mas um detalhe permanecia igual:
não ficara ninguém para contar a história.
Quanto a Tocaia Grande, até o capitão
Natário foi dado como vítima da febre, batera as botas, devia estar no inferno
pagando suas culpas.
Houve quem, às escondidas, bebesse um
trago para comemorar.
As putas, já de si andejas, arribaram.
Tendo iniciado a colheita nos roçados dos sergipanos, a febre atravessou o
pontilhão e varejou as choças da Baixa dos Sapos: em dois dias morreram três
mulheres.
A debandada foi quase geral: aproveitando
o passo das tropas ou escoteiras, a trouxa na mão ou na cabeça, as raparigas se
mandaram.
Uma delas, Glória Maria, partiu já atacada
de vómitos e tonturas, a febre na cacunda. Fez a viagem se borrando pelos
matos, morreu ao chegar a Taquaras e lá se enterrou, evitando assim que
somassem dez as covas abertas no cemitério de Tocaia Grande.
Alguns tropeiros desviaram a rota dos
comboios, durante algum tempo evitaram o atalho, o movimento no barracão
diminuiu.
Na segunda semana o êxodo cresceu, a idéia
de fuga dominou o arraial. Depois de tentar obter, sem conseguir, a companhia
de Zé dos Santos e de sia Clara - com quem a gente vai deixar as roças e os
bichos? - Bastião da Rosa arrebanhou mulher e filha e foi buscar abrigo e segurança
em Taquaras.
Ao vê-lo passar a tranca na porta da casa,
os indecisos liqui daram as dúvidas e
se decidiram.
9
Contados
sete dias e cinco mortos a partir do domingo em que Zilda referira seus
temores ao Capitão, na mesma hora do almoço, na mesa silenciosa, sem convivas,
ela retomou o assunto no ponto em que o deixara:
- Se alastrou.