Memórias Futuras
Olhar o futuro pelo espelho retrovisor da história. Qual história? Que futuro?
sábado, dezembro 04, 2010
VÍDEO
Fernando Pereira, uma voz com capacidades únicas... um artista português e, só por isso, relativamente desconhecido com a agravante de ter andado perdido na carreira...
ROBERTO CARLOS - QUANDO
Atendendo ao aspecto tão jovem de Roberto Carlos devíamos estar ainda nos anos sessenta, os deliciosos anos sessenta... e esta é, sem dúvida, uma das suas lindas canções num enquadramento pouco vulgar do cimo de um arranha-céus, julgo que do Rio de Janeiro ou será do terraço do edifício Itália em S. Paulo, ou o edifício COPAN, do arquitecto Oscar Niemeyer?
DONA
FLOR
E SEUS
DOIS
MARIDOS
Giovanni mantivera sua alegria fácil, seu riso espontâneo, suas mentiras, seus exageros. Na aparência era o mesmo, o boa prosa, aquele que sabia todos os detalhes da vida da cidade – políticos, financeiros, adulterinos, todos. Mas, só na aparência. Porque o boémio incorrigível, o noctívago, o jogador, esse tinha acabado para espanto de muitos.
Certa feita, a família, alarmada com as notícias que chegavam ao latifúndio de Urandi, mandou à Bahia um primo colector, com fama de carranca, para examinar a situação do filho pródigo. O colector hospedara-se com Giovanni no apartamento do celibatário, na Piedade, e, para bem cumprir a delicada missão, o acompanhou em seu roteiro durante uma semana inesquecível. Ao voltar, resumira o diagnóstico numa única palavra: “Irrecuperável”.
Assim parecia, ao menos: esbanjando os salários e a renda da herança nos antros do jogo e por aí além. Giovanni trocara o dia pela noite, aparecendo na repartição apenas para receber o ordenado. Crivado de dívidas, simpatizante de ideias suspeitas, de que lhe adiantavam o prestígio de jornalista, o brilho da inteligência, a simpatia irradiante a fazê-lo amigo de toda a gente?
Reintegrado em sua coletoria, na religião e na família, o parente considerava extremamente improvável a regeneração de Giovanni: só se ele fosse um imbecil chapado para abandonar aquelas delícias e sobretudo uma delas, gracioso ornamento da casa de Zazá, de nome Jucundina, mais conhecida por Coisinha Doce. Com água na boca, o coletor dizia à família em prantos:
- Percam as esperanças… É um detraquê… Nunca vai endireitar.
Pois endireitou. Quando já considerado caso perdido, um incorrigível, aconteceu-lhe o amor e em dois meses atingiu o casamento. Houve quem lamentasse a noiva: “coitada vai arrenegar o dia em que casou, esse Giovanni é um maluco”.
Assim diziam por não conhecer a moça, no engano de sua aparência tranquila, dos modos quase tímidos. Seis meses depois do casamento, o carranca do sertão, tendo voltado, tendo voltado à capital, balançou a cabeça: “Coitado de Giovanni!” e saiu às pressas para casa de Zazá, talvez Coisinha Doce ainda estivesse disponível e aceitasse ir conhecer o campo, a vida rural.
Giovanni era outro, ninguém mais o vira em mesa de jogo ou em farra de qualquer espécie. Uma vez em cada dois meses arriscava dez tostões no bicho e era tudo. Beleza de mulher só em tela de cinema. Fora disso, senhor da maior consideração, perfeito funcionário, pai de família como se de família como se deseja, de braço dado pela rua com a esposa, no outro braço a filha Ludmila, um trem de riso. Quadro comovente!
Surgiram-lhe um começo de calvície, ideias conservadoras, hábitos monarcos e a ambição de terras e bovinos: como se vê homem completamente recuperado para a sociedade, a família e o latifúndio.
Assim, dormia Giovanni há mais de duas horas, quando soou o telefone. Saindo da cama, tonto de sono, tomou do aparelho: quem seria?
- É o Giovanni? – perguntaram do outro lado.
- É, sim, Quem fala?
- É Vadinho quem fala, Giovanni. Venha correndo ao Palace e jogue no 17, jogue sem medo, eu lhe garanto. Mas venha depressa, venha correndo…
- Vou nesse instante.
FLOR
E SEUS
DOIS
MARIDOS
Episódio Nº 286
Giovanni mantivera sua alegria fácil, seu riso espontâneo, suas mentiras, seus exageros. Na aparência era o mesmo, o boa prosa, aquele que sabia todos os detalhes da vida da cidade – políticos, financeiros, adulterinos, todos. Mas, só na aparência. Porque o boémio incorrigível, o noctívago, o jogador, esse tinha acabado para espanto de muitos.
Certa feita, a família, alarmada com as notícias que chegavam ao latifúndio de Urandi, mandou à Bahia um primo colector, com fama de carranca, para examinar a situação do filho pródigo. O colector hospedara-se com Giovanni no apartamento do celibatário, na Piedade, e, para bem cumprir a delicada missão, o acompanhou em seu roteiro durante uma semana inesquecível. Ao voltar, resumira o diagnóstico numa única palavra: “Irrecuperável”.
Assim parecia, ao menos: esbanjando os salários e a renda da herança nos antros do jogo e por aí além. Giovanni trocara o dia pela noite, aparecendo na repartição apenas para receber o ordenado. Crivado de dívidas, simpatizante de ideias suspeitas, de que lhe adiantavam o prestígio de jornalista, o brilho da inteligência, a simpatia irradiante a fazê-lo amigo de toda a gente?
Reintegrado em sua coletoria, na religião e na família, o parente considerava extremamente improvável a regeneração de Giovanni: só se ele fosse um imbecil chapado para abandonar aquelas delícias e sobretudo uma delas, gracioso ornamento da casa de Zazá, de nome Jucundina, mais conhecida por Coisinha Doce. Com água na boca, o coletor dizia à família em prantos:
- Percam as esperanças… É um detraquê… Nunca vai endireitar.
Pois endireitou. Quando já considerado caso perdido, um incorrigível, aconteceu-lhe o amor e em dois meses atingiu o casamento. Houve quem lamentasse a noiva: “coitada vai arrenegar o dia em que casou, esse Giovanni é um maluco”.
Assim diziam por não conhecer a moça, no engano de sua aparência tranquila, dos modos quase tímidos. Seis meses depois do casamento, o carranca do sertão, tendo voltado, tendo voltado à capital, balançou a cabeça: “Coitado de Giovanni!” e saiu às pressas para casa de Zazá, talvez Coisinha Doce ainda estivesse disponível e aceitasse ir conhecer o campo, a vida rural.
Giovanni era outro, ninguém mais o vira em mesa de jogo ou em farra de qualquer espécie. Uma vez em cada dois meses arriscava dez tostões no bicho e era tudo. Beleza de mulher só em tela de cinema. Fora disso, senhor da maior consideração, perfeito funcionário, pai de família como se de família como se deseja, de braço dado pela rua com a esposa, no outro braço a filha Ludmila, um trem de riso. Quadro comovente!
Surgiram-lhe um começo de calvície, ideias conservadoras, hábitos monarcos e a ambição de terras e bovinos: como se vê homem completamente recuperado para a sociedade, a família e o latifúndio.
Assim, dormia Giovanni há mais de duas horas, quando soou o telefone. Saindo da cama, tonto de sono, tomou do aparelho: quem seria?
- É o Giovanni? – perguntaram do outro lado.
- É, sim, Quem fala?
- É Vadinho quem fala, Giovanni. Venha correndo ao Palace e jogue no 17, jogue sem medo, eu lhe garanto. Mas venha depressa, venha correndo…
- Vou nesse instante.
sexta-feira, dezembro 03, 2010
Antecipando os tempos que aí vêm:
os da medicina privada.
Estavam a operar um paciente.
De repente, entra um médico no bloco operatório e grita:
- Parem tudo!!! Parem o transplante!!! Há uma rejeição!...
- Uma rejeição...? Do rim, doutor? - pergunta um dos médicos da equipa.
- NÃO!!! Do cheque !!!. O cheque não tem cobertura!...
De repente, entra um médico no bloco operatório e grita:
- Parem tudo!!! Parem o transplante!!! Há uma rejeição!...
- Uma rejeição...? Do rim, doutor? - pergunta um dos médicos da equipa.
- NÃO!!! Do cheque !!!. O cheque não tem cobertura!...
MARIAH CAREY - WITHOUT YOU
A beleza simples e natural, neste vídeeo, de Mariah Carey, valoriza ainda mais, se possível, tão bela voz e tão linda canção.
DONA
FLOR
E SEUS
DOIS
MARIDOS
E SEUS
DOIS
MARIDOS
Episódio Nº 285
Mirandão e alguns convidados mais sensíveis, como a já citada Amesina – Ame de Américo seu pai, Sina de Rosina, sua mãe – haviam percebido no ambiente a presença de uma força irreprimível, a dirigir a festa.
Como explicar, senão assim, o número da gorda Carla na dança dos sete-véus, espectáculo sublime e monstruoso?
Também Máximo Sales, se bem céptico e realista, livre-pensador, teve a impressão de estar sendo observado, quando, naquela tarde, na sala de jogo (com a ajuda apenas de Domingos Propalato, irmão de leite de Pelancchi) executava, com perícia e consciência, com a perfeição de um artista, a difícil tarefa de empenar a roleta. Por vezes foi tão forte a estranha sensação, que teve de suspender o trabalho e percorrer a sala com os olhos, em busca da invisível testemunha.
Por volta da meia-noite, quando o jogo atingia a maior animação, no fundo do seu sono de pedra, pesado de cansaço e álcool, Mirandão ouviu a mesma voz da véspera. A começo imprecisa, logo clara e igual à de Vadinho, a voz lhe ordenava retornar à mesa da roleta, com urgência: para o Palace, depressa, vá jogar no dezassete. No dezassete e só no dezassete. Vamos!
Abrindo os olhos, Mirandão viu-se sozinho com as sombras da noite e aquela voz. Encolhido entre os lençóis, morto de medo, tapou os ouvidos com o travesseiro, não queria ouvir. Em plena festa, na véspera Anacreon lhe perguntara: “Tu ouviu também a voz de Vadinho cochichando em teu ouvido? Amigo como ele não tem dois. Mesmo depois de morto não esquece a gente”.
Mirandão não queria ouvir mas ouvia, distintamente ouvia: estava possuído, enfeitiçado, com um egun montado em seu cangaço. Precisava de ir quanto antes ao candomblé da mãe Senhora para rezar o corpo e oferecer um galo aos orixás, talvez um bode.
Por sobre o travesseiro, a voz prosseguia, quase intimativa, quase ameaçadora. Mirandão não viu outra saída, mais digna, menos humilhante, senão abrir a boca no mundo, clamando por socorro, pondo o castelo em polvorosa.
Pedindo desculpas ao meritíssimo desembargador, cliente ilustre e tardo, entregue à sua competência, a boa Carla foi atender o apavorado hóspede.
Quando o pegou nos braços e o escondeu nos seios, Mirandão lhe jurou, pela alma de sua mãe e a felicidade dos seus filhos, jamais voltar ao jogo, jamais em sua vida. Não haveria força humana (ou sobre-humana) capaz de fazê-lo tocar outra vez em fichas.
Quando o telefone chamou, Giovanni Guimarães dormia há mais de duas horas. Com o casamento habituara-se a deitar e a acordar cedo, hábitos, na opinião da esposa, extremamente saudáveis. Para uma boa saúde e carreira de sucesso nada tão útil e necessário, sobretudo a quem perdera antes tantas noites a levar vida extravagante e censurável.
Eis aí um homem – o conhecido jornalista Giovanni Guimarães – cuja vida se transformara por completo e em pouco tempo. De um dia para o outro, como se diz. Prova das excelências de matrimónio com mulher dedicada e enérgica, pouco disposta a concordar com abusos e descaramentos.
Como explicar, senão assim, o número da gorda Carla na dança dos sete-véus, espectáculo sublime e monstruoso?
Também Máximo Sales, se bem céptico e realista, livre-pensador, teve a impressão de estar sendo observado, quando, naquela tarde, na sala de jogo (com a ajuda apenas de Domingos Propalato, irmão de leite de Pelancchi) executava, com perícia e consciência, com a perfeição de um artista, a difícil tarefa de empenar a roleta. Por vezes foi tão forte a estranha sensação, que teve de suspender o trabalho e percorrer a sala com os olhos, em busca da invisível testemunha.
Por volta da meia-noite, quando o jogo atingia a maior animação, no fundo do seu sono de pedra, pesado de cansaço e álcool, Mirandão ouviu a mesma voz da véspera. A começo imprecisa, logo clara e igual à de Vadinho, a voz lhe ordenava retornar à mesa da roleta, com urgência: para o Palace, depressa, vá jogar no dezassete. No dezassete e só no dezassete. Vamos!
Abrindo os olhos, Mirandão viu-se sozinho com as sombras da noite e aquela voz. Encolhido entre os lençóis, morto de medo, tapou os ouvidos com o travesseiro, não queria ouvir. Em plena festa, na véspera Anacreon lhe perguntara: “Tu ouviu também a voz de Vadinho cochichando em teu ouvido? Amigo como ele não tem dois. Mesmo depois de morto não esquece a gente”.
Mirandão não queria ouvir mas ouvia, distintamente ouvia: estava possuído, enfeitiçado, com um egun montado em seu cangaço. Precisava de ir quanto antes ao candomblé da mãe Senhora para rezar o corpo e oferecer um galo aos orixás, talvez um bode.
Por sobre o travesseiro, a voz prosseguia, quase intimativa, quase ameaçadora. Mirandão não viu outra saída, mais digna, menos humilhante, senão abrir a boca no mundo, clamando por socorro, pondo o castelo em polvorosa.
Pedindo desculpas ao meritíssimo desembargador, cliente ilustre e tardo, entregue à sua competência, a boa Carla foi atender o apavorado hóspede.
Quando o pegou nos braços e o escondeu nos seios, Mirandão lhe jurou, pela alma de sua mãe e a felicidade dos seus filhos, jamais voltar ao jogo, jamais em sua vida. Não haveria força humana (ou sobre-humana) capaz de fazê-lo tocar outra vez em fichas.
Quando o telefone chamou, Giovanni Guimarães dormia há mais de duas horas. Com o casamento habituara-se a deitar e a acordar cedo, hábitos, na opinião da esposa, extremamente saudáveis. Para uma boa saúde e carreira de sucesso nada tão útil e necessário, sobretudo a quem perdera antes tantas noites a levar vida extravagante e censurável.
Eis aí um homem – o conhecido jornalista Giovanni Guimarães – cuja vida se transformara por completo e em pouco tempo. De um dia para o outro, como se diz. Prova das excelências de matrimónio com mulher dedicada e enérgica, pouco disposta a concordar com abusos e descaramentos.
quinta-feira, dezembro 02, 2010
Declaração de Guerra de Portugal à China…
Após uma consulta popular "sobre tanta loja chinesa", Portugal enviou uma mensagem à República Popular da China:
"Chinos de merda: declaramo-vos guerra: temos 85 tanques, 27 caças , 4 navios, 2 submarinos (ainda só temos um, mas vem outro a caminho) e 5.221 soldados".
- O Estado chinês respondeu-lhes:
"Aceitamos a declaração, temos 38.000 tanques, 16.000 aviões, 790 navios, 455 submarinos e 300 milhões de soldados. "
- Ao que Portugal respondeu:
"Retiramos a declaração de guerra... Não temos condições para alojar tantos prisioneiros".
Forever Friends… (amigos para sempre).
Após uma consulta popular "sobre tanta loja chinesa", Portugal enviou uma mensagem à República Popular da China:
"Chinos de merda: declaramo-vos guerra: temos 85 tanques, 27 caças , 4 navios, 2 submarinos (ainda só temos um, mas vem outro a caminho) e 5.221 soldados".
- O Estado chinês respondeu-lhes:
"Aceitamos a declaração, temos 38.000 tanques, 16.000 aviões, 790 navios, 455 submarinos e 300 milhões de soldados. "
- Ao que Portugal respondeu:
"Retiramos a declaração de guerra... Não temos condições para alojar tantos prisioneiros".
Forever Friends… (amigos para sempre).
INFORMAÇÕES ADICIONAIS
À ENTREVISTA Nº 72 SOB O TEMA:
“QUEM ERA CONSTANTINO" (3º e último)
Os Crimes dos “Galileus”/ Juliano o Imperador “Apóstata”
No Ano 528 o Imperador Justiniano ordenou a execução de todos aqueles que praticavam a “feitiçaria”, a “adivinhação”, a magia ou a “idolatria” e proibiu todo o ensino aos pagãos “daqueles que sofrem da blasfémia loucura dos helenos”.
No ano seguinte, Justiniano encerrou a Academia de Filosofia de Atenas, onde se havia ensinado Platão.
Na sua magnífica novela, “Juliano ” de Gore Vidal (Edição Roco, 1986) e na obra de Dmitri Merejkowwski, “Juliano, O Apóstata” (Editora Globo, 1945) contam-se aspectos importantes da vida deste Imperador:
- Juliano, Imperador (361/363), homem de notável formação intelectual, viveu cercado de filósofos, magos, astrónomos e leu os grandes filósofos pagãos, principalmente Platão. O seu pequeno reinado de apenas 20 meses ficou marcado pela pretensão de harmonizar a cultura e a justiça com os valores da antiga religião pagã de Roma. O seu apelido de Apóstata deve-se, precisamente, ao facto de embora baptizado e educado no cristianismo, ter-se declarado pagão. Introduziu reformas, baixou os impostos e reafirmou a liberdade de culto.
Conta-se que em 362, empenhado na restauração do paganismo, enviou um emissário a Delfos para consultar a pitonisa e saber dos deuses se deveria restaurar o antigo templo de Apolo. A resposta, ouvida do fundo da gruta sagrada, entre os vapores de louro queimado, soou como um gemido de agonia:
- “Por terra ruiu a gloriosa moradia, e as fontes de água estão secas. Nada resta para o deus, nem telhado nem abrigo, e em sua mão os louros do profeta não vicejam mais. Volte e diga ao Imperador que os deuses não estão mais aqui.”
Foi a última vez que se ouviu em Delfos a voz dos deuses antigos. Um novo Deus já se instalara em Roma, com seus próprios profetas e sacerdotes, e doravante dominaria o império e o mundo Greco-Romano.
Este episódio pode ser considerado como o marco decisivo do fim do paganismo e da vitória definitiva do cristianismo, uma parábola sobre o triunfo da nova religião sobre a antiga.
No seu livro, o escritor norte-americano, Gore Vidal, reconstruiu literariamente o sentir daquela época no que se refere às perseguições e crimes dos cristãos, aos quais Juliano chamava sempre de “Galileus”, contra os pagãos e o ambiente que antecedeu o fim do Império Romano e fá-lo na perspectiva de Juliano, genro de Constantino, o último dessa dinastia e o último imperador que quis deter o cristianismo e restabelecer o helenismo.
Destruição da Biblioteca de Alexandria e o Assassinato da sábia Hipatia.
À ENTREVISTA Nº 72 SOB O TEMA:
“QUEM ERA CONSTANTINO" (3º e último)
Os Crimes dos “Galileus”/ Juliano o Imperador “Apóstata”
No Ano 528 o Imperador Justiniano ordenou a execução de todos aqueles que praticavam a “feitiçaria”, a “adivinhação”, a magia ou a “idolatria” e proibiu todo o ensino aos pagãos “daqueles que sofrem da blasfémia loucura dos helenos”.
No ano seguinte, Justiniano encerrou a Academia de Filosofia de Atenas, onde se havia ensinado Platão.
Na sua magnífica novela, “Juliano ” de Gore Vidal (Edição Roco, 1986) e na obra de Dmitri Merejkowwski, “Juliano, O Apóstata” (Editora Globo, 1945) contam-se aspectos importantes da vida deste Imperador:
- Juliano, Imperador (361/363), homem de notável formação intelectual, viveu cercado de filósofos, magos, astrónomos e leu os grandes filósofos pagãos, principalmente Platão. O seu pequeno reinado de apenas 20 meses ficou marcado pela pretensão de harmonizar a cultura e a justiça com os valores da antiga religião pagã de Roma. O seu apelido de Apóstata deve-se, precisamente, ao facto de embora baptizado e educado no cristianismo, ter-se declarado pagão. Introduziu reformas, baixou os impostos e reafirmou a liberdade de culto.
Conta-se que em 362, empenhado na restauração do paganismo, enviou um emissário a Delfos para consultar a pitonisa e saber dos deuses se deveria restaurar o antigo templo de Apolo. A resposta, ouvida do fundo da gruta sagrada, entre os vapores de louro queimado, soou como um gemido de agonia:
- “Por terra ruiu a gloriosa moradia, e as fontes de água estão secas. Nada resta para o deus, nem telhado nem abrigo, e em sua mão os louros do profeta não vicejam mais. Volte e diga ao Imperador que os deuses não estão mais aqui.”
Foi a última vez que se ouviu em Delfos a voz dos deuses antigos. Um novo Deus já se instalara em Roma, com seus próprios profetas e sacerdotes, e doravante dominaria o império e o mundo Greco-Romano.
Este episódio pode ser considerado como o marco decisivo do fim do paganismo e da vitória definitiva do cristianismo, uma parábola sobre o triunfo da nova religião sobre a antiga.
No seu livro, o escritor norte-americano, Gore Vidal, reconstruiu literariamente o sentir daquela época no que se refere às perseguições e crimes dos cristãos, aos quais Juliano chamava sempre de “Galileus”, contra os pagãos e o ambiente que antecedeu o fim do Império Romano e fá-lo na perspectiva de Juliano, genro de Constantino, o último dessa dinastia e o último imperador que quis deter o cristianismo e restabelecer o helenismo.
Destruição da Biblioteca de Alexandria e o Assassinato da sábia Hipatia.
No ano 391, os cristãos, encabeçados pelo patriarca Teófilo, queimaram a biblioteca de Alexandria, a mais famosa do mundo antigo, com meio milhão de volumes escritos à mão, textos originais que continham a ciência acumulada durante séculos e gerações.
Anos depois, em 415, o sucessor de Teófilo, o patriarca Cirilo, destruiu-a definitivamente e animou hordas de cristãos a assassinarem de forma cruel a sábia Hipatia, directora da Biblioteca, escritora, professora de matemática, álgebra, geometria, astronomia, lógica, filosofia e mecânica, inventora do astrolábio e do hidrómetro, e segundo alguns, a percursora das teorias astronómicas de Keppler, Copérnico e Galileu, sem dúvida a última grande cientista da antiguidade.
Estes cristãos fanatizados e com poder, consideravam todo o conhecimento grego, por não vir na Bíblia, como pagão. O desaparecimento da Biblioteca de Alexandria significou a perda de 80% da ciência e da civilização gregas, para além dos legados importantíssimos das culturas asiática e africana.
Alexandria era o centro intelectual da antiguidade e a destruição deste acervo do saber estancou o progresso científico durante mais de quatrocentos anos.
Anos depois, em 415, o sucessor de Teófilo, o patriarca Cirilo, destruiu-a definitivamente e animou hordas de cristãos a assassinarem de forma cruel a sábia Hipatia, directora da Biblioteca, escritora, professora de matemática, álgebra, geometria, astronomia, lógica, filosofia e mecânica, inventora do astrolábio e do hidrómetro, e segundo alguns, a percursora das teorias astronómicas de Keppler, Copérnico e Galileu, sem dúvida a última grande cientista da antiguidade.
Estes cristãos fanatizados e com poder, consideravam todo o conhecimento grego, por não vir na Bíblia, como pagão. O desaparecimento da Biblioteca de Alexandria significou a perda de 80% da ciência e da civilização gregas, para além dos legados importantíssimos das culturas asiática e africana.
Alexandria era o centro intelectual da antiguidade e a destruição deste acervo do saber estancou o progresso científico durante mais de quatrocentos anos.
DONA
FLOR
E SEUS
DOIS
MARIDOS
E SEUS
DOIS
MARIDOS
Episódio Nº 284
Máximo despira a batota da máscara de mistério e Pelancchi com seu braço longo e influente, alcançaria o responsável, fazendo-o pagar com juros o dinheiro alheio, a audácia, a insolência, e sobretudo as horas pusilânimes o medo exposto, o pânico a lhe corroer o coração.
Entre Zulmira e Domingos Propalato, novamente em paz com o mundo, Pelancchi sorri aos jogadores: não existe sorriso mais cordial e afável.
Enquanto isso, Mirandão, desertor e bêbado, dormia no castelo de Carla, no formoso e discreto boudoir em rosa. Na véspera, quando Pelancchi Moulas, em visível descontrole, ordenara a suspensão do jogo, Lourenço Mão-de-Vaca, o crupiê, e Domingos Propalato, ali presentes, não foram os únicos a se verem enfim libertos daquele indecifrável pesadelo. Em meio a um mar de fichas, não menos aliviado se sentiu compadre Mirandão, tão absurdo e apavorante era aquele assunto.
Enquanto a roleta cantava o 17, Mirandão se manteve entre a euforia e o terror. Euforia devido à sorte desbragada e terror devido à ausência de qualquer limite a essa sua sorte diabólica. Naquela noite os diques da fortuna se romperam e a Mirandão pertenciam todas as fichas dos casinos. Mas, era mesmo dele, Mirandão, aquela sorte?
Tudo muito suspeito e estranho: a voz de Vadinho em seu ouvido, a partir da manhã de passarinhos, na hora do sarapatel e pela rua afora. A visita a dona Flor, as estranhas palavras, as frases obscuras, e ele a ouvir o insulto do finado, como se, além de Mirandão e da comadre, também Vadinho fosse parte na conversa. Depois daquela mágica das fichas: indo cair no 17 quando jogadas no 3 e no 32. No meio daquela noite quisera Mirandão, de teimosia e prova, de novo apostar em seus números predilectos e os carregou de fichas. Mas lá se foram as fichas, por conta própria e ninguém sabe como, aparecer no 17. Afinal, o que era Mirandão? Um jogador ou um joguete do destino?
Saindo do Palace, arrogante milionário e aflito coração dirigiu-se ao castelo de Carla, local propício a comemorações de feitos grandiosos como aquele e, nas horas de agonia, lar acolhedor. Confiou sua dinheirama à gorda italiana, senhora da integridade e do escrúpulo (autorizando-a, é claro, a despender na festa o necessário, sem mesquinhez). Temia o excesso de carinho das mulheres ou a súbita afeição dos múltiplos amigos quando rolasse bêbado. Porque, naquela noite, Mirandão se dispunha a tomar o porre de sua vida, nele afogando os termos daquele enigma, as parcelas daquele desvario.
A festa, regida pela gorda Carla, entrou pelo dia e os mais resistentes como os literatos Robato Filho e Áureo Contreiras (sempre com uma flor à lapela do casaco) e o jornalista João Batista, almoçaram no castelo, na manhã seguinte, uma feijoada genial e arrasadora, com cachaça e vinho verde.
Só após tal maratona, Mirandão tombou escornado e foi conduzido em padiola pelas meninas como um corpo morto. Gentis, elas o despiram e lhe deram um banho morno, de bacia; em perfume e talco o envolveram, estendendo-o por fim dormido em leito de colchão de barriguda, no boudoir reservado aos hóspedes de honra, todo em cetim e rosa.
Máximo despira a batota da máscara de mistério e Pelancchi com seu braço longo e influente, alcançaria o responsável, fazendo-o pagar com juros o dinheiro alheio, a audácia, a insolência, e sobretudo as horas pusilânimes o medo exposto, o pânico a lhe corroer o coração.
Entre Zulmira e Domingos Propalato, novamente em paz com o mundo, Pelancchi sorri aos jogadores: não existe sorriso mais cordial e afável.
Enquanto isso, Mirandão, desertor e bêbado, dormia no castelo de Carla, no formoso e discreto boudoir em rosa. Na véspera, quando Pelancchi Moulas, em visível descontrole, ordenara a suspensão do jogo, Lourenço Mão-de-Vaca, o crupiê, e Domingos Propalato, ali presentes, não foram os únicos a se verem enfim libertos daquele indecifrável pesadelo. Em meio a um mar de fichas, não menos aliviado se sentiu compadre Mirandão, tão absurdo e apavorante era aquele assunto.
Enquanto a roleta cantava o 17, Mirandão se manteve entre a euforia e o terror. Euforia devido à sorte desbragada e terror devido à ausência de qualquer limite a essa sua sorte diabólica. Naquela noite os diques da fortuna se romperam e a Mirandão pertenciam todas as fichas dos casinos. Mas, era mesmo dele, Mirandão, aquela sorte?
Tudo muito suspeito e estranho: a voz de Vadinho em seu ouvido, a partir da manhã de passarinhos, na hora do sarapatel e pela rua afora. A visita a dona Flor, as estranhas palavras, as frases obscuras, e ele a ouvir o insulto do finado, como se, além de Mirandão e da comadre, também Vadinho fosse parte na conversa. Depois daquela mágica das fichas: indo cair no 17 quando jogadas no 3 e no 32. No meio daquela noite quisera Mirandão, de teimosia e prova, de novo apostar em seus números predilectos e os carregou de fichas. Mas lá se foram as fichas, por conta própria e ninguém sabe como, aparecer no 17. Afinal, o que era Mirandão? Um jogador ou um joguete do destino?
Saindo do Palace, arrogante milionário e aflito coração dirigiu-se ao castelo de Carla, local propício a comemorações de feitos grandiosos como aquele e, nas horas de agonia, lar acolhedor. Confiou sua dinheirama à gorda italiana, senhora da integridade e do escrúpulo (autorizando-a, é claro, a despender na festa o necessário, sem mesquinhez). Temia o excesso de carinho das mulheres ou a súbita afeição dos múltiplos amigos quando rolasse bêbado. Porque, naquela noite, Mirandão se dispunha a tomar o porre de sua vida, nele afogando os termos daquele enigma, as parcelas daquele desvario.
A festa, regida pela gorda Carla, entrou pelo dia e os mais resistentes como os literatos Robato Filho e Áureo Contreiras (sempre com uma flor à lapela do casaco) e o jornalista João Batista, almoçaram no castelo, na manhã seguinte, uma feijoada genial e arrasadora, com cachaça e vinho verde.
Só após tal maratona, Mirandão tombou escornado e foi conduzido em padiola pelas meninas como um corpo morto. Gentis, elas o despiram e lhe deram um banho morno, de bacia; em perfume e talco o envolveram, estendendo-o por fim dormido em leito de colchão de barriguda, no boudoir reservado aos hóspedes de honra, todo em cetim e rosa.
quarta-feira, dezembro 01, 2010
Distracções...
Um papagaio engoliu um comprimido de Viagra distraidamente deixado ao seu alcance pelo dono. Este, preocupado com o efeito, mete o papagaio no congelador para o acalmar.
Um hora mais tarde o dono abre a porta e vê o papagaio todo suado.
- Eh pá, como é que podes estar todo suado no congelador ?
E o papagaio responde:
- Achas que é fácil abrir as pernas a uma galinha congelada ?
Um hora mais tarde o dono abre a porta e vê o papagaio todo suado.
- Eh pá, como é que podes estar todo suado no congelador ?
E o papagaio responde:
- Achas que é fácil abrir as pernas a uma galinha congelada ?
OTIS REDDING - I, VE GOT DREAMS TO REMEMBER
Mesmo para aqueles que não têm um ouvido muito apurado, que é o meu caso, esta voz não se confunde com nenhuma outra e essa é a grande diferença entre os cantores de vozes únicas e os outros... Não são muitos os cantores "soul" conhecidos, nem fazem parte do universo musical deste cantinho à beira mar plantado, de uma geração criada a ouvir fado e canções populares... daí a agradável surpresa, o choque, o impacto... que é extensível ao ritmo e ao estilo da música.
DONA
FLOR
E SEUS
DOIS
MARIDOS
E SEUS
DOIS
MARIDOS
Episódio Nº 283
Pela manhã, na aula de culinária, dona Flor, nervosa e desatenta, quase perde o ponto do arroz de haussá. No fundo da sala, a voz de Zulmira Simões Fagundes, a contar muito excitada.
- Meninas, é um sortilégio, ando com um medo… Vocês não se lembram que no outro dia aqui na aula senti uma coisa me alisando o seio? Pois não é que essa história continua…
As alunas se viram no maior assanhamento:
- O quê? Como? Conte…
- Ontem de noite eu estava no Palace…
- Você não perde soiré do Palace…
- Faz parte do meu trabalho…
- O que eu queria era um trabalho assim…
- Conte, Zulmira…
- Pois ontem de noite eu estava no Palace com meu patrão e teve uma coisa na roleta, só dava o 17…
Dona Flor ouvia pensativa.
- Na hora de maior complicação, senti o mesmo invisível tocando os meus seios e depois… baixou a voz - … me deu um beliscão nas nádegas…
- Beliscão de invisível? Não diga… - duvidava uma senhora pouco afeita a mistérios e de traseiro chocho.
- Não acredita? Pois ainda tenho a marca.
Não se dispondo a passar por mentirosa, Zulmira levantou a saia e exibiu a anca de fazer inveja mesmo às colegas mais bem servidas em matéria de quadris. Um tanto desbotada, lá estava a marca dos dedos de Vadinho. Em silêncio dona Flor saiu da sala.
Durante todo o dia dona Flor o esperou, apenas triste. Vadinho não veio. Nem na segunda noite. Toda aquela paixão era mentira, o delírio de amor era falsidade e hipocrisia. Dona Flor em vigília a esperá-lo, e o traste bem de seu no jogo ou por baixo das saias de Zulmira a lhe beliscar a bunda. Vadinho, cínico e irresponsável, fingido e desleal, sem coração. Dona Flor livre de toda a contradição, livre ao mesmo tempo da pudicícia e do desejo, apenas triste.
Na hora da vitória, o professor Máximo Sales não se enchia de empáfia; ao contrário: modesto, atribuía seu sucesso ao provérbio antigo, fórmula provada: “para escroque, escroque e meio”. Um erudito sem soberba, um verdadeiro humanista.
Não lhe viessem mais, porém, com almas do outro mundo e conversas de encantados e feitiços. Bastara empenar a roleta para toda a bruxaria se dissolver na evidência da trapaça, faltando agora tão-somente, descobrir o responsável, o chefe e cabeça da quadrilha e ajustar suas contas. Inocente do complô, Lourenço Mão-de-Vaca disparava a bolinha na bacia da roleta: na véspera só dera o 17, hoje nem uma só vez em toda a noite.
No rosto de Pelancchi Moulas, a tensão diminuíra. Só tinha medo do sobrenatural, de mais nada. Mas que força cabalística era essa, incapaz de se sobrepor ao truque da roleta?
Pela manhã, na aula de culinária, dona Flor, nervosa e desatenta, quase perde o ponto do arroz de haussá. No fundo da sala, a voz de Zulmira Simões Fagundes, a contar muito excitada.
- Meninas, é um sortilégio, ando com um medo… Vocês não se lembram que no outro dia aqui na aula senti uma coisa me alisando o seio? Pois não é que essa história continua…
As alunas se viram no maior assanhamento:
- O quê? Como? Conte…
- Ontem de noite eu estava no Palace…
- Você não perde soiré do Palace…
- Faz parte do meu trabalho…
- O que eu queria era um trabalho assim…
- Conte, Zulmira…
- Pois ontem de noite eu estava no Palace com meu patrão e teve uma coisa na roleta, só dava o 17…
Dona Flor ouvia pensativa.
- Na hora de maior complicação, senti o mesmo invisível tocando os meus seios e depois… baixou a voz - … me deu um beliscão nas nádegas…
- Beliscão de invisível? Não diga… - duvidava uma senhora pouco afeita a mistérios e de traseiro chocho.
- Não acredita? Pois ainda tenho a marca.
Não se dispondo a passar por mentirosa, Zulmira levantou a saia e exibiu a anca de fazer inveja mesmo às colegas mais bem servidas em matéria de quadris. Um tanto desbotada, lá estava a marca dos dedos de Vadinho. Em silêncio dona Flor saiu da sala.
Durante todo o dia dona Flor o esperou, apenas triste. Vadinho não veio. Nem na segunda noite. Toda aquela paixão era mentira, o delírio de amor era falsidade e hipocrisia. Dona Flor em vigília a esperá-lo, e o traste bem de seu no jogo ou por baixo das saias de Zulmira a lhe beliscar a bunda. Vadinho, cínico e irresponsável, fingido e desleal, sem coração. Dona Flor livre de toda a contradição, livre ao mesmo tempo da pudicícia e do desejo, apenas triste.
Na hora da vitória, o professor Máximo Sales não se enchia de empáfia; ao contrário: modesto, atribuía seu sucesso ao provérbio antigo, fórmula provada: “para escroque, escroque e meio”. Um erudito sem soberba, um verdadeiro humanista.
Não lhe viessem mais, porém, com almas do outro mundo e conversas de encantados e feitiços. Bastara empenar a roleta para toda a bruxaria se dissolver na evidência da trapaça, faltando agora tão-somente, descobrir o responsável, o chefe e cabeça da quadrilha e ajustar suas contas. Inocente do complô, Lourenço Mão-de-Vaca disparava a bolinha na bacia da roleta: na véspera só dera o 17, hoje nem uma só vez em toda a noite.
No rosto de Pelancchi Moulas, a tensão diminuíra. Só tinha medo do sobrenatural, de mais nada. Mas que força cabalística era essa, incapaz de se sobrepor ao truque da roleta?
terça-feira, novembro 30, 2010
Bons tempos...
Quando eu era chavalo, a minha mãe mandava-me à mercearia com 5 escudos e eu voltava com 3 kg de batatas, 1 pão de Mafra, 2 litros de leite, 1/2 kg de queijo, 1 caixa de chá, fruta variada e 1 dúzia de ovos.
Hoje em dia não dá mais para fazer isso...
O merceeiro encheu a loja de câmaras de filmar!...
Hoje em dia não dá mais para fazer isso...
O merceeiro encheu a loja de câmaras de filmar!...
OTIS REDDING - THE DOC OF THE BAY
Nasceu na Geórgia (celebrada na canção de Ray Charles) e teve uma vida curta. Faleceu com 26 anos, em 1967, num desatre de avião com a sua banda, The Bar-Keys. Um ano após a sua morte esta mesma canção torná-lo-ia famoso: "The Doc Of The Bay". A carreira que o esperaria é fácil de advinhar... que voz!
O MUNDO EM QUE VIVEMOS
Há dois tipos de sociedade ou de formas de viver a economia: a planeada e a de mercado.
A primeira, pressupõe a apropriação por parte do Estado de toda a propriedade. Dono e gestor de tudo o que produz riqueza, ele propõe-se, dessa forma, providenciar a satisfação de todas as necessidades dos cidadãos, do nascimento à morte. A estrutura política está reduzida a um partido único com uma cúpula encimada pelo chefe do partido, detentor do poder máximo, o ditador, que governa através de comités delegados por todo o país teleguiados por ordens rígidas. Essa cúpula elabora planos anuais, bianuais e quinquenais que estabelecem as necessitadas que devem ser satisfeitas e os planos de produção para as satisfazer.
Os cidadãos, todos, trabalham para o estado e recebem de acordo com a qualidade e importância da sua intervenção (aferida na maior parte dos casos pela fidelidade às estruturas do partido) ou então, na fase definitiva mais avançada, apenas de acordo com as necessidades de cada um, o comunismo puro e duro.
Numa sociedade deste tipo, a disciplina e o rigoroso cumprimento das ordens é a pedra basilar o que significa que a liberdade dos cidadãos não pode, simplesmente, existir.
Os países que levaram à prática este sistema político/económico foram os da União Soviética, China de Mao Tse Tung, Cuba e a actual Coreia do Norte.
Com a queda do muro de Berlim o sistema colapsou e deixou atrás de si um rasto de tristeza, pobreza material, intelectual e de vícios de comportamento no campo social.
O outro sistema, de economia de mercado/capitalista, tem como principais características: a propriedade privada, a livre iniciativa e um sistema político democrático que elege livremente os seus governantes.
A característica fundamental deste sistema é a existência de um mercado onde o preço se fixa automaticamente em função da oferta e da procura e a sua mola vital é o lucro que premeia as iniciativas de sucesso e o prejuízo que castiga os que falham.
O princípio do “máximo lucro” é o estímulo e objectivo supremo (que corresponde a um tipo diferente da antiga luta pela sobrevivência) com base na ambição própria da espécie humana e que leva os homens a explorar ao máximo as suas capacidades e delas tirar todas as vantagens pessoais e de grupo.
O primeiro sistema coarcta tudo isto, reduz e limita o homem, rouba-lhe a dignidade, procura transformá-lo numa simples peça de uma máquina gigantesca que é o todo da sociedade.
O segundo, contem dentro de si o gérmen da sua própria destruição. Todos os instintos desenvolvidos pela espécie humana que lhe permitiram sobreviver num passado remoto, cumplicidade dentro do grupo e destruição do outro grupo, têm aqui campo para se exercerem, não de forma livre porque as sociedades são de Direito, mas os ardis, a imaginação e a cumplicidade do Direito com o Poder, permitem uma grande margem de actuação que recentemente produziu os resultados dos quais estamos a sofrer as consequências.
O sistema capitalista senão for regulamentado de forma ética, séria e universal não colapsa como o outro, explode.
Recentemente, a Banca de Investimento norte-americana começou a vender produtos virtuais, ilusões, puras ilusões e o mundo, ávido e ganancioso, embarcou…
De um momento para o outro, pum!… parece que veio tudo a baixo e, no entanto, com excepção de um senhor que funcionava como a dona Branca lá do sítio, que está preso, julgo para o resto da vida, todos os outros continuam... ontem com Bush, hoje com Obama. Como cá, com os senhores do BPP e do BPN.
Nunca como agora se percebeu tanto que o nosso destino colectivo se escreve no dia-a-dia. Estamos todos a acordar para a realidade de um futuro incerto com a sensação de mau estar que isso provoca.
Seremos capazes de aprender com os erros do passado?
- Pela insistência com que os repetimos parece que não…
A primeira, pressupõe a apropriação por parte do Estado de toda a propriedade. Dono e gestor de tudo o que produz riqueza, ele propõe-se, dessa forma, providenciar a satisfação de todas as necessidades dos cidadãos, do nascimento à morte. A estrutura política está reduzida a um partido único com uma cúpula encimada pelo chefe do partido, detentor do poder máximo, o ditador, que governa através de comités delegados por todo o país teleguiados por ordens rígidas. Essa cúpula elabora planos anuais, bianuais e quinquenais que estabelecem as necessitadas que devem ser satisfeitas e os planos de produção para as satisfazer.
Os cidadãos, todos, trabalham para o estado e recebem de acordo com a qualidade e importância da sua intervenção (aferida na maior parte dos casos pela fidelidade às estruturas do partido) ou então, na fase definitiva mais avançada, apenas de acordo com as necessidades de cada um, o comunismo puro e duro.
Numa sociedade deste tipo, a disciplina e o rigoroso cumprimento das ordens é a pedra basilar o que significa que a liberdade dos cidadãos não pode, simplesmente, existir.
Os países que levaram à prática este sistema político/económico foram os da União Soviética, China de Mao Tse Tung, Cuba e a actual Coreia do Norte.
Com a queda do muro de Berlim o sistema colapsou e deixou atrás de si um rasto de tristeza, pobreza material, intelectual e de vícios de comportamento no campo social.
O outro sistema, de economia de mercado/capitalista, tem como principais características: a propriedade privada, a livre iniciativa e um sistema político democrático que elege livremente os seus governantes.
A característica fundamental deste sistema é a existência de um mercado onde o preço se fixa automaticamente em função da oferta e da procura e a sua mola vital é o lucro que premeia as iniciativas de sucesso e o prejuízo que castiga os que falham.
O princípio do “máximo lucro” é o estímulo e objectivo supremo (que corresponde a um tipo diferente da antiga luta pela sobrevivência) com base na ambição própria da espécie humana e que leva os homens a explorar ao máximo as suas capacidades e delas tirar todas as vantagens pessoais e de grupo.
O primeiro sistema coarcta tudo isto, reduz e limita o homem, rouba-lhe a dignidade, procura transformá-lo numa simples peça de uma máquina gigantesca que é o todo da sociedade.
O segundo, contem dentro de si o gérmen da sua própria destruição. Todos os instintos desenvolvidos pela espécie humana que lhe permitiram sobreviver num passado remoto, cumplicidade dentro do grupo e destruição do outro grupo, têm aqui campo para se exercerem, não de forma livre porque as sociedades são de Direito, mas os ardis, a imaginação e a cumplicidade do Direito com o Poder, permitem uma grande margem de actuação que recentemente produziu os resultados dos quais estamos a sofrer as consequências.
O sistema capitalista senão for regulamentado de forma ética, séria e universal não colapsa como o outro, explode.
Recentemente, a Banca de Investimento norte-americana começou a vender produtos virtuais, ilusões, puras ilusões e o mundo, ávido e ganancioso, embarcou…
De um momento para o outro, pum!… parece que veio tudo a baixo e, no entanto, com excepção de um senhor que funcionava como a dona Branca lá do sítio, que está preso, julgo para o resto da vida, todos os outros continuam... ontem com Bush, hoje com Obama. Como cá, com os senhores do BPP e do BPN.
Nunca como agora se percebeu tanto que o nosso destino colectivo se escreve no dia-a-dia. Estamos todos a acordar para a realidade de um futuro incerto com a sensação de mau estar que isso provoca.
Seremos capazes de aprender com os erros do passado?
- Pela insistência com que os repetimos parece que não…
INFORMAÇÔES ADICIONAIS
À ENTREVISTA Nº 72 SOB O TEMA:
“QUEM ERA CONSTANTINO” (2)
Construtor de Templos
Pouco depois da batalha da Ponte Mílvio, ocorrida em 312, o imperador entregou ao Papa Silvestre I um palácio Romano que havia pertencido ao imperador Diocliciano para que aí construísse um templo Cristão. Assim fez o Papa. Esse templo é hoje a Basílica de São João de Letrão.
No ano de 324, quando finalmente Constantino reunificou os dois impérios, o do Oriente e o do Ocidente e se converteu no único imperador, fez construir em Roma outro templo cristão, na colina do Vaticano, no lugar, onde segundo a tradição, foi martirizado Pedro.
Como único imperador, Constantino reconstruiu a cidade de Bizâncio e deu-lhe o nome de Nova Roma, levantando nela templos cristãos e pondo a cidade sob a protecção de relíquias cristãs: fragmentos da suposta “vera cruz” de Jesus e ainda mais supostamente a vara de Moisés, relíquias que sua mãe Elena havia trazido das suas peregrinações a terras da palestina. Depois da morte de Constantino, a Nova Roma passou a chamar-se Constantinopla, “Cidade de Constantino”.
De Perseguidos a Perseguidores
A proclamação do cristianismo como religião única do império transformou os cristãos de perseguidos em perseguidores. Perseguiram criminosamente os sacerdotes e crentes pagãos das religiões que até então haviam convivido nos territórios do império romano. No mesmo ano de 324, quando o imperador Constantino permitiu o culto cristão em todo o império, em Dydima, na Ásia Menor, os cristãos saquearam o oráculo do deus Apolo, torturaram os sacerdotes desse culto e destruíram os templos do monte Athos.
No ano 354, um édito imperial permitiu a destruição de todos os templos pagãos e a execução de todos os idólatras. Cinco anos depois, em Skythopolis, na Síria, os cristãos instalaram uma espécie de “campo de concentração” onde recolhiam, torturavam e executavam os pagãos que arrastavam de qualquer lugar do império.
O imperador Teodósio, sucessor de Constantino, converteu o cristianismo na religião exclusiva do império Romano exigindo que “todas as nações que estão sujeitas à nossa clemência e moderação, devem continuar a praticar a religião que foi entregue aos romanos pelo divino apóstolo Pedro”.
A partir de então, os não cristão foram caracterizados oficialmente como “repugnantes, hereges, estúpidos e cegos”.
Por um dos seus decretos imperiais, Teodósio proibiu discrepância com qualquer dos dogmas da igreja que começavam já a tomar forma e a serem disseminados pela Europa.
Pouco depois da batalha da Ponte Mílvio, ocorrida em 312, o imperador entregou ao Papa Silvestre I um palácio Romano que havia pertencido ao imperador Diocliciano para que aí construísse um templo Cristão. Assim fez o Papa. Esse templo é hoje a Basílica de São João de Letrão.
No ano de 324, quando finalmente Constantino reunificou os dois impérios, o do Oriente e o do Ocidente e se converteu no único imperador, fez construir em Roma outro templo cristão, na colina do Vaticano, no lugar, onde segundo a tradição, foi martirizado Pedro.
Como único imperador, Constantino reconstruiu a cidade de Bizâncio e deu-lhe o nome de Nova Roma, levantando nela templos cristãos e pondo a cidade sob a protecção de relíquias cristãs: fragmentos da suposta “vera cruz” de Jesus e ainda mais supostamente a vara de Moisés, relíquias que sua mãe Elena havia trazido das suas peregrinações a terras da palestina. Depois da morte de Constantino, a Nova Roma passou a chamar-se Constantinopla, “Cidade de Constantino”.
De Perseguidos a Perseguidores
A proclamação do cristianismo como religião única do império transformou os cristãos de perseguidos em perseguidores. Perseguiram criminosamente os sacerdotes e crentes pagãos das religiões que até então haviam convivido nos territórios do império romano. No mesmo ano de 324, quando o imperador Constantino permitiu o culto cristão em todo o império, em Dydima, na Ásia Menor, os cristãos saquearam o oráculo do deus Apolo, torturaram os sacerdotes desse culto e destruíram os templos do monte Athos.
No ano 354, um édito imperial permitiu a destruição de todos os templos pagãos e a execução de todos os idólatras. Cinco anos depois, em Skythopolis, na Síria, os cristãos instalaram uma espécie de “campo de concentração” onde recolhiam, torturavam e executavam os pagãos que arrastavam de qualquer lugar do império.
O imperador Teodósio, sucessor de Constantino, converteu o cristianismo na religião exclusiva do império Romano exigindo que “todas as nações que estão sujeitas à nossa clemência e moderação, devem continuar a praticar a religião que foi entregue aos romanos pelo divino apóstolo Pedro”.
A partir de então, os não cristão foram caracterizados oficialmente como “repugnantes, hereges, estúpidos e cegos”.
Por um dos seus decretos imperiais, Teodósio proibiu discrepância com qualquer dos dogmas da igreja que começavam já a tomar forma e a serem disseminados pela Europa.
DONA
FLOR
E SEUS
DOIS
MARIDOS
Episódio Nº 282
Zulmira tão pouco tinha dúvidas: era coisa-feita, o demónio solto. Ela não lhe contara antes para não lhe aumentar as preocupações, já tendo Pequito tantos motivos de aborrecimento: no Pálace, na véspera, na hora da suspensão do jogo, como já anteriormente sucedera, um invisível lhe tocara nos peitos e lhe fizera cócegas. Não contente – que horror, meu Deus! – por suas saias se meteu e lhe beliscou a bunda:
- Veja, Pequito… Espie…
Suspendeu a bata. Por baixo reluzia a pele cor de cobre, onde ele pôde ver, a marca dos dedos de Vadinho, definitiva prova do ignoto:
- Acidente! – disse o calabrês e, fazendo das fraquezas forças, naquele obscuro mistério mergulhou.
Insensato, insolente! Vadinho sempre fora assim e não mudara nos anos de ausência:
- De noite venho lhe tirar da cama. Me espere…
Como se dona Flor fosse a última das marafonas, tão dissoluta a ponto de se entregar ao deboche diante do esposo adormecido. No leito de ferro, doutor Teodoro dorme o famoso sono dos justos, a nobre figura em plácido repouso, a respiração uniforme, com se roncasse ao ritmo do fagote.
Dona Flor contempla a face honrada do marido e uma onda de ternura a domina: homem melhor não existe, esposo tão perfeito. Ânimo forte, carácter impoluto, também dito adamantino, dona Flor decide romper de uma vez para sempre aquele enredo dúbio e insustentável, indigno de sua condição e honestidade.
Melhor esperar na sala, transferir para lá sua vigília, também mais seguro, não correria o risco de ver-se nos braços de Vadinho no mesmo quarto onde dorme o outro esposo (o bom e probo). Porque, escrava dos sentidos, corpo devasso, vil matéria, teme dona Flor entregar-se de repente. Já não lhe obedece sua vontade, somem suas forças apenas Vadinho surge, e se ele se aproxima, uma vertigem a toma e sua atitude fica à mercê do sedutor. Não era mais dona de seu corpo, a matéria indócil não mais obedecia ao seu espírito, e, sim, ao desejo de Vadinho.
Ainda não se dera, era bem verdade, mas talvez porque nos últimos dias Vadinho quase não se deixara ver, outra vez entregue à jogatina, à vida airada, sumido.
Assim naquela noite, fora tão incisivo, tão categórico: “me espere, sem falta me espere, venho lhe buscar na cama”. Não lhe tinha sequer consideração, prometia vir e se deixava ficar no jogo. Se não estivesse em casa de mulheres. Dona Flor anda pela sala, abre a janela, espia a rua, conta os minutos.
Tantas juras de amor, proclamada paixão, palavras mentirosas. Dona Flor ali sozinha, a esperá-lo e ele incapaz de lhe sacrificar uma só jogada. Talvez ainda venha, após a derradeira bola.
O jogo, porém, já terminou. Dona Flor conhece os horários, todos os detalhes dos casinos lhe são familiares, essa espera de Vadinho se iniciara há muitos anos. Onde andará ele, qual a festa a prendê-lo, por quem trocou a promessa feita a dona Flor? Vadinho, por que assim abusas dos meus sentimentos, por que não vens, se prometeste vir e eu te espero no desprezo de meu próprio ser? Que me importam honra, decência, lar feliz, nobre marido? Só me importa tua presença, por que a anunciaste a meu desejo?
FLOR
E SEUS
DOIS
MARIDOS
Episódio Nº 282
Zulmira tão pouco tinha dúvidas: era coisa-feita, o demónio solto. Ela não lhe contara antes para não lhe aumentar as preocupações, já tendo Pequito tantos motivos de aborrecimento: no Pálace, na véspera, na hora da suspensão do jogo, como já anteriormente sucedera, um invisível lhe tocara nos peitos e lhe fizera cócegas. Não contente – que horror, meu Deus! – por suas saias se meteu e lhe beliscou a bunda:
- Veja, Pequito… Espie…
Suspendeu a bata. Por baixo reluzia a pele cor de cobre, onde ele pôde ver, a marca dos dedos de Vadinho, definitiva prova do ignoto:
- Acidente! – disse o calabrês e, fazendo das fraquezas forças, naquele obscuro mistério mergulhou.
Insensato, insolente! Vadinho sempre fora assim e não mudara nos anos de ausência:
- De noite venho lhe tirar da cama. Me espere…
Como se dona Flor fosse a última das marafonas, tão dissoluta a ponto de se entregar ao deboche diante do esposo adormecido. No leito de ferro, doutor Teodoro dorme o famoso sono dos justos, a nobre figura em plácido repouso, a respiração uniforme, com se roncasse ao ritmo do fagote.
Dona Flor contempla a face honrada do marido e uma onda de ternura a domina: homem melhor não existe, esposo tão perfeito. Ânimo forte, carácter impoluto, também dito adamantino, dona Flor decide romper de uma vez para sempre aquele enredo dúbio e insustentável, indigno de sua condição e honestidade.
Melhor esperar na sala, transferir para lá sua vigília, também mais seguro, não correria o risco de ver-se nos braços de Vadinho no mesmo quarto onde dorme o outro esposo (o bom e probo). Porque, escrava dos sentidos, corpo devasso, vil matéria, teme dona Flor entregar-se de repente. Já não lhe obedece sua vontade, somem suas forças apenas Vadinho surge, e se ele se aproxima, uma vertigem a toma e sua atitude fica à mercê do sedutor. Não era mais dona de seu corpo, a matéria indócil não mais obedecia ao seu espírito, e, sim, ao desejo de Vadinho.
Ainda não se dera, era bem verdade, mas talvez porque nos últimos dias Vadinho quase não se deixara ver, outra vez entregue à jogatina, à vida airada, sumido.
Assim naquela noite, fora tão incisivo, tão categórico: “me espere, sem falta me espere, venho lhe buscar na cama”. Não lhe tinha sequer consideração, prometia vir e se deixava ficar no jogo. Se não estivesse em casa de mulheres. Dona Flor anda pela sala, abre a janela, espia a rua, conta os minutos.
Tantas juras de amor, proclamada paixão, palavras mentirosas. Dona Flor ali sozinha, a esperá-lo e ele incapaz de lhe sacrificar uma só jogada. Talvez ainda venha, após a derradeira bola.
O jogo, porém, já terminou. Dona Flor conhece os horários, todos os detalhes dos casinos lhe são familiares, essa espera de Vadinho se iniciara há muitos anos. Onde andará ele, qual a festa a prendê-lo, por quem trocou a promessa feita a dona Flor? Vadinho, por que assim abusas dos meus sentimentos, por que não vens, se prometeste vir e eu te espero no desprezo de meu próprio ser? Que me importam honra, decência, lar feliz, nobre marido? Só me importa tua presença, por que a anunciaste a meu desejo?
segunda-feira, novembro 29, 2010
OTIS REDDING - I' VE BEEN LOVING YOU
Com a sua voz única de cantor "soul" (para mim a melhor) ele transporta-nos para "outro mundo"... o das coisas doces, quentes e apaixonadas onde se desejaria ficar para sempre. Mergulha-nos num sonho e para deixar de o ouvir temos de acordar primeiro porque ele acaba e nós continuamos lá...(voltaremos a ele)
DONA FLOR
E SEUS DOIS
MARIDOS
Episódio Nº 281
Ali ouvia os seus auxiliares: relambórios, baboseiras. Não se dando por vencido, Máximo Sales expunha um plano audaz e simples: por que não aproveitar a roleta desmanchada e pôr tudo aquilo em pratos limpos? Como? Ora, como…empenando a bacia da roleta, de tal forma a fazer impedir a bolinha cair no sector do 17. Truque velho como o próprio jogo da roleta. Sem dúvida perigoso, desonesto certamente, mas não sendo assim, como obter a prova derradeira?
Máximo mantinha sua posição inicial: todos aqueles supostos absurdos, onde Pelancchi via a mão negra do destino atroz, não passavam de batota monstruosa, obra de uma quadrilha – estrangeira – mancomunada com fiscais e crupiês, com Arigof e Anacreon, com Mirandão.
“Que quadrilha, que estrangeiros, sono fregato, sono fututo!” – Para Pelancchi Moulas todo aquele converse de Máximo Sales era perda de tempo, nada mais. Nem quadrilha nem batota. Muito pior, seus inimigos para arruiná-lo, deitaram mão de forças sobrenaturais, incontroláveis, extraterrenas.
Em seu caminho nem sempre fácil, Pelancchi semeara ódios profundos, mortais inimizades. Quando preciso, sua mão fora pesada e dura, deixando à sua passagem um rastro de pragas e de juras de vingança. Agora via-se acuado, em meio ao feitiço e à bruxaria.
Pelancchi não temia os homens nem a luta, um rude adversário. Mas aquele gangster moderno, aquele filho do século das luzes e da técnica, refugiava-se sob os cobertores ao primeiro ronco do trovão, no medo da fulgurante luz dos raios, apenas um menino da Calábria, pequeno camponês filho da superstição e da miséria.
- “Maledetto, sono stregato!”
- Pois muito bem – disse Máximo Sales que só temia os homens e não acreditava em almas do outro mundo, livre-pensador e céptico, buscando para cada fenómeno explicação racional e lógica – pois muito bem, tiremos isso a limpo, vamos empenar a roleta e já veremos. É proibido e desonesto, eu sei, e ao senhor não agrada tal recurso, nem a mim. Trata-se, porém, de recurso extremo, e mais desonesto é o que estão fazendo com o senhor, não lhe parece? Se com a roleta empenada ainda der o 17 – e o senhor bem sabe que é impossível dar – eu concordarei consigo: é mesmo coisa do diabo e entregaremos a solução aos macumbeiros.
Pelancchi Moulas encolheu os ombros: se era para tirara a prova e só para isso, fizesse Máximo o que melhor lhe parecesse, viciasse a roleta mas com todo o cuidado e descrição.
Eu mesmo me encarrego do trabalho, fique descansado.
- E por uma só noite…
- De acordo, só a noite de hoje.
Esfregando as mãos, Máximo partiu a executar a tarefa delicada.
A Pelancchi Moulas tudo aquilo parecia inútil. Chegara o tempo de pôr sua fortuna e seu destino em mãos mais competentes que as de Máximo e as da polícia. Se havia alguém capaz de descobrir a explicação daquele enigma, esse alguém era Cardoso e Sª, o carismático filósofo cuja mente sublime se projectava no além, nos páramos do infinito, um clarão no espaço cósmico, desvendando o passado e o futuro, pois ele vivia ao mesmo tempo no ontem, no hoje e no amanhã, nos luminosos cumes, nos abismos negros.
Informações Adicionais
à Entrevista Nº 72 sob o Tema:
“Quem era Constantino”
Um Criminoso
A “conversão” ao Cristianismo do imperador romano Constantino pode interpretar-se, de entre muitas outras hipóteses, como um hábil caminho para encobrir os seus crimes. Assim o entende o teólogo e filósofo alemão Karlheinz Descher, no primeiro tomo da sua História Criminal do Cristianismo (Editorial Marting Roca) obra de referência obrigatória para se conhecer a verdadeira “cara” que a história oficial oculta:
“...esse monstro Constantino, esse verdugo hipócrita e frio, que degolou o seu filho, matou a sua mulher, assassinou o seu pai e seu irmão político e manteve na sua corte uma caterva de sacerdotes, sanguinários e servis, dos quais um só seria suficiente para pôr metade da humanidade contra a outra e levá-las a ambas ao suicídio.”
A “conversão” ao Cristianismo do imperador romano Constantino pode interpretar-se, de entre muitas outras hipóteses, como um hábil caminho para encobrir os seus crimes. Assim o entende o teólogo e filósofo alemão Karlheinz Descher, no primeiro tomo da sua História Criminal do Cristianismo (Editorial Marting Roca) obra de referência obrigatória para se conhecer a verdadeira “cara” que a história oficial oculta:
“...esse monstro Constantino, esse verdugo hipócrita e frio, que degolou o seu filho, matou a sua mulher, assassinou o seu pai e seu irmão político e manteve na sua corte uma caterva de sacerdotes, sanguinários e servis, dos quais um só seria suficiente para pôr metade da humanidade contra a outra e levá-las a ambas ao suicídio.”
Um “Santo”
Apesar da sua trajectória criminosa, o imperador Constantino foi venerado como um santo pela igreja cristã como agradecimento por ter convertido o cristianismo na religião oficial do império romano. O culto a este novo “santo” estendeu-se rapidamente, sobre tudo à custa das igrejas das igrejas do Oriente e, no Ocidente, pelas regiões da Itália actual onde era maior a influência bizantina.
Actualmente, as igrejas ortodoxas Orientais veneram a São Constantino e incluem ícones com a sua imagem de santo ao lado de sua mãe, venerada como santa Elena. Os ortodoxos celebram a festa da mãe e do filho a 21 de Maio. Na igreja católica venera-se só a santa Elena a 18 de Agosto.
A Elena, mãe de Constantino, a tradição atribui-lhe a descoberta do lugar onde teria estado o calvário e o lugar onde Jesus teria sido enterrado, “o santo sepulcro”. Também se atribui a ela a descoberta, no ano 326, da verdadeira cruz, o madeiro no qual Jesus teria sido sacrificado o que, é claro, não passam de piedosas lendas. No ano anterior, 325, encarregou o bispo Macário que procurasse esses “santos lugares”.
Sem dúvida, a localização que Macário e Elena fizeram então, e que vigora actualmente, é muito discutível. Apenas um século depois da sua morte, a Jerusalém que Jesus conheceu estava totalmente alterada, depois da destruição do Templo no ano 70 e da liquidação do reino da Judeia como entidade política depois da última sublevação dos zelotas nos anos 132-135.
Apesar da sua trajectória criminosa, o imperador Constantino foi venerado como um santo pela igreja cristã como agradecimento por ter convertido o cristianismo na religião oficial do império romano. O culto a este novo “santo” estendeu-se rapidamente, sobre tudo à custa das igrejas das igrejas do Oriente e, no Ocidente, pelas regiões da Itália actual onde era maior a influência bizantina.
Actualmente, as igrejas ortodoxas Orientais veneram a São Constantino e incluem ícones com a sua imagem de santo ao lado de sua mãe, venerada como santa Elena. Os ortodoxos celebram a festa da mãe e do filho a 21 de Maio. Na igreja católica venera-se só a santa Elena a 18 de Agosto.
A Elena, mãe de Constantino, a tradição atribui-lhe a descoberta do lugar onde teria estado o calvário e o lugar onde Jesus teria sido enterrado, “o santo sepulcro”. Também se atribui a ela a descoberta, no ano 326, da verdadeira cruz, o madeiro no qual Jesus teria sido sacrificado o que, é claro, não passam de piedosas lendas. No ano anterior, 325, encarregou o bispo Macário que procurasse esses “santos lugares”.
Sem dúvida, a localização que Macário e Elena fizeram então, e que vigora actualmente, é muito discutível. Apenas um século depois da sua morte, a Jerusalém que Jesus conheceu estava totalmente alterada, depois da destruição do Templo no ano 70 e da liquidação do reino da Judeia como entidade política depois da última sublevação dos zelotas nos anos 132-135.
domingo, novembro 28, 2010
HOJE É DOMINGO
Na minha cidade de Santarém faz sol. Como diz o povo: ...não há sábado sem sol, Domingo sem missa e Segunda-Feira sem preguiça... Hoje, que temos sol e missas não devem faltar por esse país fora, o povo acertou duplamente, temos as duas coisas....
Tenham um bom dia e deixo-vos, mais uma vez, com a velhinha mas imortal Malaguena na voz sublime de Nana Mouskuri.