Mugabelândia
MUGABELÂNDIA
À partida tudo o recomendava como o futuro chefe de Governo para o novo país da África Austral até então denominado Rodésia do Sul, quer na perspectiva do seu próprio povo, quer do ponto de vista da Inglaterra, ex potência colonizadora.
Filho de um fazendeiro local da etnia shona, foi educado numa escola de jesuítas e exerceu a profissão de professor primário no seu país, então Rodésia do Sul, na Zâmbia e no Gana durante 18 anos.
Possui diplomas de Inglês, História e Educação nas mais prestigiadas Universidades africanas e obteve a licenciatura (por correspondência) na Universidade de Londres.
Como líder político dos movimentos de independência é ele que, em 1963, funda a ZANU (União Nacional Africana do Zimbabué) sendo preso em 1964 e liberto 10 anos mais tarde.
Parte, então, para Moçambique onde lidera uma guerrilha que se opõe ao governo de minoria branca de Ian Smith e em 1979, após meses de negociações, assina em Londres o Acordo de Paz de Lancaster House que marca o início de uma transição pacífica para um governo democrático com direito a voto para todos os habitantes após o que regressa à ex Rodésia da qual ainda é 1º Ministro após vencer as eleições em 1980.
Em Abril desse ano é declarada a independência do território que passa a designar-se de Zimbabué liderado por Robert Mugabe numa Coligação de Unidade Nacional com Joshua Nkromo seu velho aliado e companheiro da ZANU.
Porém, em 1982, rompe com a coligação e passa a governar sozinho centralizando o poder e obtendo cada vez mais autoridade termina com o sistema parlamentar e instala um regime de carácter presidencialista.
Em 1984/90/96 e 2002 é eleito ou fez-se reeleger em eleições consideradas por muitos ilegais e fora de qualquer controle democrático de um Estado de direito.
Passados 27 anos de governação, Robert Mugabe que parecia um homem rendido aos valores do Ocidente, lidera hoje um país em colapso, esfomeado, silencioso, marcado pela mágoa de uma população desnorteada, impotente porque a solidariedade do seu vizinho do sul continua a ir para o tirano olhado ainda como o herói vitorioso das lutas contra os colonialistas brancos e que aos 83 anos já afirmou que quer recandidatar-se às eleições de 2oo8.
A corrupção, a fome, a sida, o desemprego, alimentam o desagrado de uma população privada cada vez mais de quaisquer direitos por um político que continua a ser, inexplicavelmente, aplaudido e venerado pelos seus pares nas reuniões da União Africana.
Como explicar esta atitude?
José Cutileiro, na última edição do Expresso, avança com uma explicação que assenta “ numa crença absurda de seita” e isto perante a “ falência do marxismo e a rejeição do racismo”.
Concordo que o racismo esteja rejeitado mas quem foi alvo dele não o esquece a menos que se chame Nelson Mandela.
Ele fica lá, como uma sombra, um fantasma, para alimentar ódios, para justificar as posições irredutíveis, para alimentar as lutas pelo poder, já não contra os brancos que há muito saíram de cena, mas contra os irmãos de raça mas de outra etnia e em última análise contra todos, sejam eles quais forem, que não apoiem o poder absoluto do tirano.
A vivência de uma situação de racismo, mesmo depois deste vencido e ultrapassado, transforma-se numa espécie de fonte de energia que alimenta os aspectos negativos da personalidade humana ao qual só escapam os homens superiores.
Robert Mugabe vai, provavelmente, morrer de morte natural sentado no trono da sua”Mugabelândia” odiado e temido dentro do seu país e admirado no seio dos líderes da União Africana.
Para o Governo de José Sócrates sobra a tentativa de conciliar o inconciliável: juntar na Cimeira União Europeia-África os Chefes dos Governos de Inglaterra e do Zimbabué mesmo que integrados nas respectivas Uniões, a Africana e a Europeia.
Miguel de Sousa Tavares diz que é para estas situações que existe a diplomacia mas se ela servir para dar cobertura internacional e ajudar a prolongar o regime do ditador Mugabe, por uma questão de respeito pela população do Zimbabué, é preferível que desta vez ela não funcione.
A Europa é, e tem de continuar a ser, o reduto da democracia e do respeito pelos direitos humanos no Zimbabué, na China ou onde quer que seja e por isso deixemo-nos de malabarismos diplomáticos.
Não é a Inglaterra, toda a Europa deve rejeitar a presença desse senhor na Cimeira da Europa com a União Africana e se esta se recusar a estar presente porque não o rejeita e morre de amores por ele, então os líderes desses países terão que continuar a fazer a sua aprendizagem para a democracia a bem dos povos que governam.
De resto, mais do que em qualquer outro continente, talvez como sequela derradeira das situações de escravatura e racismo ali vividas, a responsabilidade dos gravíssimos problemas de fome, doença e subdesenvolvimento de que continuam a sofrer aquelas populações é, em primeiro lugar, da responsabilidade, dos respectivos líderes políticos muitas vezes com a cumplicidade, por acção ou omissão, de governos de países europeus ou ocidentais.
Compreendo e concordo com o interesse desta Cimeira. Cada vez mais é necessário dialogar, aproximar pontos de vista, estabelecer compromissos a favor de um mundo melhor mas o preço para estes encontros não pode ser o de legitimar internacionalmente um político que reduziu à fome a população de um país que era próspero e à prisão todos os que democraticamente se lhe opõem. A paranóia do poder não pode ter luz verde dos países europeus.
À partida tudo o recomendava como o futuro chefe de Governo para o novo país da África Austral até então denominado Rodésia do Sul, quer na perspectiva do seu próprio povo, quer do ponto de vista da Inglaterra, ex potência colonizadora.
Filho de um fazendeiro local da etnia shona, foi educado numa escola de jesuítas e exerceu a profissão de professor primário no seu país, então Rodésia do Sul, na Zâmbia e no Gana durante 18 anos.
Possui diplomas de Inglês, História e Educação nas mais prestigiadas Universidades africanas e obteve a licenciatura (por correspondência) na Universidade de Londres.
Como líder político dos movimentos de independência é ele que, em 1963, funda a ZANU (União Nacional Africana do Zimbabué) sendo preso em 1964 e liberto 10 anos mais tarde.
Parte, então, para Moçambique onde lidera uma guerrilha que se opõe ao governo de minoria branca de Ian Smith e em 1979, após meses de negociações, assina em Londres o Acordo de Paz de Lancaster House que marca o início de uma transição pacífica para um governo democrático com direito a voto para todos os habitantes após o que regressa à ex Rodésia da qual ainda é 1º Ministro após vencer as eleições em 1980.
Em Abril desse ano é declarada a independência do território que passa a designar-se de Zimbabué liderado por Robert Mugabe numa Coligação de Unidade Nacional com Joshua Nkromo seu velho aliado e companheiro da ZANU.
Porém, em 1982, rompe com a coligação e passa a governar sozinho centralizando o poder e obtendo cada vez mais autoridade termina com o sistema parlamentar e instala um regime de carácter presidencialista.
Em 1984/90/96 e 2002 é eleito ou fez-se reeleger em eleições consideradas por muitos ilegais e fora de qualquer controle democrático de um Estado de direito.
Passados 27 anos de governação, Robert Mugabe que parecia um homem rendido aos valores do Ocidente, lidera hoje um país em colapso, esfomeado, silencioso, marcado pela mágoa de uma população desnorteada, impotente porque a solidariedade do seu vizinho do sul continua a ir para o tirano olhado ainda como o herói vitorioso das lutas contra os colonialistas brancos e que aos 83 anos já afirmou que quer recandidatar-se às eleições de 2oo8.
A corrupção, a fome, a sida, o desemprego, alimentam o desagrado de uma população privada cada vez mais de quaisquer direitos por um político que continua a ser, inexplicavelmente, aplaudido e venerado pelos seus pares nas reuniões da União Africana.
Como explicar esta atitude?
José Cutileiro, na última edição do Expresso, avança com uma explicação que assenta “ numa crença absurda de seita” e isto perante a “ falência do marxismo e a rejeição do racismo”.
Concordo que o racismo esteja rejeitado mas quem foi alvo dele não o esquece a menos que se chame Nelson Mandela.
Ele fica lá, como uma sombra, um fantasma, para alimentar ódios, para justificar as posições irredutíveis, para alimentar as lutas pelo poder, já não contra os brancos que há muito saíram de cena, mas contra os irmãos de raça mas de outra etnia e em última análise contra todos, sejam eles quais forem, que não apoiem o poder absoluto do tirano.
A vivência de uma situação de racismo, mesmo depois deste vencido e ultrapassado, transforma-se numa espécie de fonte de energia que alimenta os aspectos negativos da personalidade humana ao qual só escapam os homens superiores.
Robert Mugabe vai, provavelmente, morrer de morte natural sentado no trono da sua”Mugabelândia” odiado e temido dentro do seu país e admirado no seio dos líderes da União Africana.
Para o Governo de José Sócrates sobra a tentativa de conciliar o inconciliável: juntar na Cimeira União Europeia-África os Chefes dos Governos de Inglaterra e do Zimbabué mesmo que integrados nas respectivas Uniões, a Africana e a Europeia.
Miguel de Sousa Tavares diz que é para estas situações que existe a diplomacia mas se ela servir para dar cobertura internacional e ajudar a prolongar o regime do ditador Mugabe, por uma questão de respeito pela população do Zimbabué, é preferível que desta vez ela não funcione.
A Europa é, e tem de continuar a ser, o reduto da democracia e do respeito pelos direitos humanos no Zimbabué, na China ou onde quer que seja e por isso deixemo-nos de malabarismos diplomáticos.
Não é a Inglaterra, toda a Europa deve rejeitar a presença desse senhor na Cimeira da Europa com a União Africana e se esta se recusar a estar presente porque não o rejeita e morre de amores por ele, então os líderes desses países terão que continuar a fazer a sua aprendizagem para a democracia a bem dos povos que governam.
De resto, mais do que em qualquer outro continente, talvez como sequela derradeira das situações de escravatura e racismo ali vividas, a responsabilidade dos gravíssimos problemas de fome, doença e subdesenvolvimento de que continuam a sofrer aquelas populações é, em primeiro lugar, da responsabilidade, dos respectivos líderes políticos muitas vezes com a cumplicidade, por acção ou omissão, de governos de países europeus ou ocidentais.
Compreendo e concordo com o interesse desta Cimeira. Cada vez mais é necessário dialogar, aproximar pontos de vista, estabelecer compromissos a favor de um mundo melhor mas o preço para estes encontros não pode ser o de legitimar internacionalmente um político que reduziu à fome a população de um país que era próspero e à prisão todos os que democraticamente se lhe opõem. A paranóia do poder não pode ter luz verde dos países europeus.