Memórias Futuras
Olhar o futuro pelo espelho retrovisor da história. Qual história? Que futuro?
sábado, agosto 05, 2017
A árvore da Vida
POBRES DOS NOSSOS RICOS
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A maior desgraça de uma nação pobre é que em vez de produzir riqueza, produz ricos.
Mas ricos sem riqueza.
Na realidade, melhor seria chamá-los não de ricos mas de endinheirados.
Rico é quem possui meios de produção.
Rico é quem gera dinheiro e dá emprego.
Endinheirado é quem simplesmente tem dinheiro. ou que pensa que tem.
Porque, na realidade, o dinheiro é que o tem a ele.
Na realidade, melhor seria chamá-los não de ricos mas de endinheirados.
Rico é quem possui meios de produção.
Rico é quem gera dinheiro e dá emprego.
Endinheirado é quem simplesmente tem dinheiro. ou que pensa que tem.
Porque, na realidade, o dinheiro é que o tem a ele.
A verdade é esta: são demasiado pobres os nossos "ricos".
Aquilo que têm, não detêm.
Pior: aquilo que exibem como seu, é propriedade de outros.
Aquilo que têm, não detêm.
Pior: aquilo que exibem como seu, é propriedade de outros.
É produto de roubo e de negociatas.
Não podem, porém, estes nossos endinheirados usufruir em tranquilidade de tudo quanto roubaram.
Vivem na obsessão de poderem ser roubados.
Necessitavam de forças policiais à altura.Mas forças policiais à altura acabariam por lançá-los a eles próprios na cadeia.
Necessitavam de uma ordem social em que houvesse poucas razões para a criminalidade.
Mas se eles enriqueceram foi graças a essa mesma desordem (...)
MIA COUTO
Não podem, porém, estes nossos endinheirados usufruir em tranquilidade de tudo quanto roubaram.
Vivem na obsessão de poderem ser roubados.
Necessitavam de forças policiais à altura.Mas forças policiais à altura acabariam por lançá-los a eles próprios na cadeia.
Necessitavam de uma ordem social em que houvesse poucas razões para a criminalidade.
Mas se eles enriqueceram foi graças a essa mesma desordem (...)
MIA COUTO
Anedota do diaUm galo descobre a infidelidade da sua galinha e fica furioso! Começa a partir o galinheiro todo incluindo os ovos! Só que lá no meio havia um ovo de barro...
O galo completamente fora de si grita para a galinha:- Aaaaahhhh minha grande puta! Nem o galo de Barcelos te escapou!
O galo completamente fora de si grita para a galinha:- Aaaaahhhh minha grande puta! Nem o galo de Barcelos te escapou!
Tantas vezes citado e transcrito neste blog faz todo o sentido que aqui também fique registado, um pouco mais em pormenor, quem é Richard Dawkins.
Nasceu em Nairobi, capital do Quénia, em 1941. Estudou Zoologia em Oxford, tendo-se doutorado sob a direção do biólogo Nicolaas Tinbergen, Prémio Nobel em 1973 pelos seus estudos em Etologia (disciplina que estuda o comportamento animal).
Foi professor de Zoologia na Universidade da Califórnia, em Berkeley. Presentemente é catedrático na Universidade de Oxford.
Para lá de cientista e académico, tornou-se conhecido como um dos intelectuais mais influentes da atualidade.
Defensor intransigente da evolução segundo a teoria de Darwin é um divulgador ágil da ciência e do pensamento científico.
Intelectual polémico, defende fervorosa e militantemente o “orgulho de ser ateu”.
As religiões, que tiveram a sua génese na evolução, por causa de alguma vantagem selectiva na moralidade, devem agora, com a explicação científica, serem metidas no caixote das velharias.
Sobre o seu livro, A Desilusão de Deus, disse J. Craig Venter decifrador do genoma humano:
“Esta é uma leitura excepcional – chega a ser divertida…Nem é preciso comprar toda a colecção de Dawkins para se orgulharem da sua coragem de expor o mal que as religiões podem fazer. Os zelosos fundamentalistas da Bíblia vão, sem dúvida, afirmar que encontraram Satanás encarnado”
Matt Ridley, Zoólogo, autor da obra “O Que nos faz Humanos”, ainda sobre o livro afirma o seguinte:
“Dawkins dá ás compaixões e emoções humanas o seu devido valor, que é uma das coisas que confere força às suas críticas à religião.
Hoje em dia, muitos líderes religiosos são homens que, o que é óbvio para qualquer pessoa except o para os seus perturbados seguidores, estão dispostos a sancionar a crueldade perversa ao serviço da sua fé.
Dawkins atinge-os com todo o poder que a razão pode exercer, destruindo as suas absurdas tentativas de provar a existência de Deus ou as suas presunçosas reivindicações de que a religião é a única base da moralidade, ou que os seus livros sagrados são literalmente verdadeiros”.
No Prefácio do seu livro, Richard relata um episódio que se passou com a sua mulher quando ainda era criança.
Ela detestava tanto a escola que frequentava que queria deixá-la. Mais tarde, já com mais de 20 anos, revelou aos pais este triste facto, o que deixou a mãe horrorizada: “Mas, minha querida, por que não nos contaste?” ao que ela respondeu: “Mas eu não sabia que podia contar”.
“Eu não sabia que podia”
Há por aí muitas pessoas que foram educadas de acordo com uma determinada religião, que são infelizes nela, que não acreditam nela ou que se preocupam com os males cometidos em nome dela; são pessoas que sentem uma vaga ânsia de deixar a religião dos pais e gostariam de o fazer, mas que pura e simplesmente não compreendem que isso seja uma opção.
O livro “A Desilusão de Deus” tem como objectivo despertar consciências, dar a perceber a essas pessoas que, afinal, “elas podem”e que é possível ser-se ateu sem deixar de ser uma pessoa feliz, equi librada, com sentido moral, e intelectualmente realizada.
Nota
O seu livro, “A Desilusão de Deus”, durante muito tempo esteve à direita na minha secretária como apoio ao meu blog. Com ele não me fiz ateu porque há muito estava no mundo dos descrentes e não porque tenha deixado de ser crente, simplesmente porque nunca o fui.
Richard Dawkins reforçou a minha posição e como cientista de eleição que é explicou-me comportamentos que eu não tinha aprendido nem compreendido.
Richard Dawkins é daqueles professores de quem ficamos amigos para sempre porque nos enriquece com o seu saber e tudo de uma forma muito humana. A sua posição relativamente a Jesus da Nazaré diz tudo sobre o seu carácter e personalidade.
Eu daria um conselho aos razoavelmente crentes: não leiam este livro porque ficam atravessados de dúvidas que os vão perturbar mesmo que não o reconheçam.
Os crentes fervorosos não pensem sequer em lê-lo porque seria como chocarem contra uma parede o que era insuportável.
Todos os outros, que na nossa sociedade constituem a maioria, façam o favor de o ler: é como beber um copo de água fresca da fonte. Ficam interiormente refrescados.
sexta-feira, agosto 04, 2017
Um casal passa a lua de mel numa linda cidade.
Numa dos seus passeios passam perto de uma casa de espetáculos porno onde o letreiro anuncia:
- HOJE, O FABULOSO PAULINHO!
Entram e o show começa com PAULINHO, 44 anos, numa cama com uma louraça, uma morenaça e uma ruivaça, que ele traça uma a uma...... e depois repete.
As três mulheres, exaustas, deixam o palco, enquanto PAULINHO agradece ao público, que aplaude efusivamente, de pé.
PAULINHO quebra as 3 nozes com o pénis, com pancadas precisas.
O público vai à loucura e ele é ovacionado por vários minutos!
Passados 25 anos, para recordar os velhos tempos, o casal decide comemorar as bodas de prata na mesma cidade.
Passeiam pelos mesmos lugares e, diante da mesma casa vêem,surpresos, o cartaz:
HOJE, O FABULOSO PAULINHO!
Entram e, no palco, quem está lá?
O PAULINHO, agora com 69 anos, enrugadinho, cabelos brancos, traçando 3 mulheraças com o mesmo pique.
Não dá para acreditar!
Quando os tambores começam a rufar, é colocada no centro do palco a mesma mesinha, agora com 3 cocos, e ele os quebra com o pénis com a mesma precisão.
Boqui aberto, o casal vai ao camarim para cumprimentar pessoalmente o fabuloso PAULINHO e, curiosos, perguntam-lhe o motivo da mudança das nozes para cocos.
Meio sem graça, ele responde:
- A VELHICE É UMA MERDA! A VISTA ESTÁ FRACA E JÁ NÃO CONSIGO VER AS NOZES.
cabeça!!!!!....
O árabe vai à loja do judeu para comprar sutiãs pretos.
O judeu, pressentindo negócios, diz que são raros e poucos e vende por 40 euros cada um.
O árabe compra 6, e volta alguns dias depois querendo mais duas dúzias.
O judeu diz que as peças vão ficando cada vez mais raras e vende por 50 euros a unidade.
Um mês mais tarde, o árabe compra o que resta por 75 euros cada.
O judeu, encucado, pergunta-lhe o que faz com tantos sutiãs pretos.
Diz o árabe: - Corto o sutiã em dois, faço dois chapeuzinhos ridículos e vendo para os judeus por 100 euros cada.
FOI AÍ QUE A GUERRA COMEÇOU...
quinta-feira, agosto 03, 2017
Entrevista com Richard Dawkins
Dawkins é ateu declarado, vice-presidente da Associação Humanista Britânica e defensor do movimento bright. Ele é bem conhecido por suas críticas ao criacionismo e ao design inteligente. Em seu livro O Relojoeiro Cego, de 1986, critica a analogia do relojoeiro, um argumento para a existência de um criador sobrenatural baseado na complexidade dos organismos vivos. Em vez disso, ele descreve os processos evolutivos como análogos a um "relojoeiro cego".
Ele já escreveu vários livros de divulgação científica e faz aparições regulares na televisão e no rádio, principalmente para discutir esses temas. Em seu livro The God Delusion (Deus, um Delírio no Brasil e A Desilusão de Deus em Portugal), de 2006, Dawkins afirma que um criador sobrenatural quase certamente não existe e que a fé religiosa é uma ilusão — "uma crença falsa e fixa". Até janeiro de 2010, a versão em inglês do livro havia vendido mais de dois milhões de cópias e havia sido traduzida para 31 idiomas.
Eu sou fã de Richard Dawkins e leitor, melhor dizendo, estudioso dos seus livros.
A braguilha do chefe...
A secretária percebe que a braguilha do chefe está aberta e, para não parecer mal-educada, avisa-o de forma subtil:
- Dr. Jorge, o senhor deixou a porta da sua garagem aberta!
Ele fechou-a rapidamente e, apreciando a criatividade da rapariga, perguntou cheio de malícia:
- Ana, por acaso a menina viu o meu Ferrari vermelho?
- Não, Senhor Doutor! Só vi um Smart cinzento, com os dois pneus trazeiros carecas e totalmente em baixo!
A secretária percebe que a braguilha do chefe está aberta e, para não parecer mal-educada, avisa-o de forma subtil:
- Dr. Jorge, o senhor deixou a porta da sua garagem aberta!
Ele fechou-a rapidamente e, apreciando a criatividade da rapariga, perguntou cheio de malícia:
- Ana, por acaso a menina viu o meu Ferrari vermelho?
- Não, Senhor Doutor! Só vi um Smart cinzento, com os dois pneus trazeiros carecas e totalmente em baixo!
TIETA DO
AGRESTE
ONDE TIETA ACENA UM ADEUS
Dia fraco, poucos passageiros. Tieta despede-se de dona Carmosina:
- Desculpe o mau jeito, Carmô.
A cabeça baixa, lenço na mão, molhado de lágrimas, Leonora se esconde no interior da marinete, arriada num banco. Vindo da Praça da Matriz, em correria, aparece Peto, traz o bordão do velho Zé Esteves, herança de Tieta:
- Esqueceu o cajado, tia – Baixa a voz, acrescenta: - Vou sentir saudades.
Vai perder a grata visão de seios e coxas. Sobe para falar com Leonora, provoca abafados soluços, Adeus prima.
Peto sai em disparada para casa, deixando a inesquecível lembrança da singela gentileza e o cheiro marcante da brilhantina de lata.
Empunhando o bordão, pastora de cabras, Titã senta-se ao lado de Leonora. Deixa-a chorar, ainda é cedo para puxar conversa. Jairo cobra o preço dos bilhetes, de passageiro em passageiro. Tieta paga três:
- Nós duas e aquela cabrita lá atrás.
Aponta Maria Imaculada, num banco dos fundos, segurando baú de flandres. Jairo toma assento ao volante, coloca a chave no motor, ainda faltam quatro minutos para o horário exacto. Tieta dá-lhe pressa:
- Mete o pé na tábua, Jairo, vamos ver se esta jeringonça é capaz de levar a gente até Esplanada.
Jairo consulta o relógio:
- Se quiser, podemos ir direito a São Paulo, para a Imperatriz dos Caminhos não existem distâncias. E ainda por cima ouvindo música…
Sintoniza o rádio russo. Tieta acena um adeus para dona Carmosina de pé na calçada. A marinete avança tão na maciota que mais parece uma aeronave. Liberta de pedras, tocos e buracos, eleva-se sobre o caminho de mulas, cruza o céu de Agreste.
E aqui termina a história da volta da filha pródiga à terra onde nasceu e dos sucessos ali ocorridos durante a sua curta estada.
DAS PLACAS, LEMBRETE DO AUTOR
Aí está. Mal ou bem cheguei ao término, escrevo a palavra fim. Nos folhetins de sucesso, cobra-me Fúlvio D’Alembert, o autor costuma fornecer notícia dos diversos personagens, do que lhes sucedeu depois. Não penso fazê-lo. Deixo à imaginação e consciência dos leitores o destino posterior dos personagens e a moral da história.
Em todo o caso, para atender à crítica e na esperança de conquistar-lhes a boa vontade, acrescentarei que Agreste convalesce lentamente. Tendo despido a farda de candidato, o comandante Dário de Queluz aproveita cada minuto do verão em Mangue Seco para compensar os dias perdidos na poluição da política. Quanto a Ascânio Trindade, viram-no chorando no ombro de doa Carmosina.
A inauguração da luz proveniente da Usina de Paulo Afonso foi uma festança. Deram ao antigo Caminho da Lama, na entrada da cidade, o nome do então director-presidente da Hidrelétrica de São Francisco. As autoridades presentes descerraram esmaltada placa azul, feita a capricho apesar da pressa, em oficina da capital: RUA DEPUTADO… Como era mesmo o nome?
Durou pouco a placa azul, sumiu durante a noite. Em lugar dela pregaram uma de madeira, confeccionada por mão artesanal e anónima:
- RUA DA LUZ DE TIETA.
Mão artesanal e anónima. Mão do povo.
FIM
DOMINGO, DEZEMBRO 20, 2009
TIETA DO
AGRESTE
EPISÓDIO Nº 310
DA POLUÍDA VIA SACRA NA LONGA NOITE DE AGRESTE – SÉTIMA ESTAÇÂO: O CIRENEU BARBOZINHA SE OFERECE EM HOLOCAUSTO
Acaba Tieta de deitar-se quando, espavorido, o vate Barbozinha bate na porta da casa de dona Milú e anuncia:
- É de paz.
De paz e de amizade. Tieta vem do quarto de hóspedes onde Leonora adormecera à força de calmantes. Barbozinha prende-lhe a mão e a leva aos lábios. Está patético. A voz marcada pela embolia, mais engrolada que nunca:
- Soube que você pensa ir embora. É verdade?
- Amanhã para São Paulo.
- Por causa do que estão falando por aí? Vai, se quiser. Se quiser ficar e me dar a honra…
- Que honra, Barbozinha?
- De ser a Sr.ª Gregório Melchíades de Matos Barbosa…
- Está me oferecendo casamento? Para me tirar da lama?
- Sei que não sou mais o rapaz daquele tempo, a carcaça anda meio arruinada, mas tenho um nome honrado…
- …e ainda dança um tango como ninguém…
Tieta ri, um riso bom, alegre, de puro contentamento, um riso que lhe enche os olhos de água.
- Agora não dá, meu poeta. Eu te prezo muito e não quero te ver de chifrudo, não ias gostar. Quando eu estiver velhota, volto de vez e a gente casa. Até lá cuide da carcaça e escreva mais versos para mim.
Beija-o nas faces e deixa que as lágrimas finalmente corram.
DA NOTÍCIA E DA RESPIRAÇÃO
- Aparelho porreta! – gaba o árabe Chalita – Os anos passam e ele não nega fogo.
Refere-se ao rádio russo na manhã apenas despertada. Em frente ao cinema, com o auxílio de Sabino, Jairo ajusta o motor da marinete, enquanto aguarda os passageiros: o horário de saída é estrito. Ufano com os elogios, bota banca.:
Já me ofereceram troca por um novo, japonês. Recusei.
O locutor do Grande Jornal da Manhã de popular emissora da capital, pede atenção aos ouvintes para importante notícia que será divulgada após os comerciais. Transmissão límpida, sem estática, ratificando as alambanças de Chalita. Toalha ao ombro, doutor Franklin Lins junta-se ao grupo. Diariamente àquela hora, antes da partida da marinete, o tabelião vai ao banho ao rio.
A voz empostada do radialista reafirma o suspense: “Atenção para esta notícia! Na tarde de ontem foi oficialmente concedida autorização governamental à Companhia Brasileira de Titânio S.A. para estabelecer em Arembepe duas fábricas interligadas que produzirão dióxido de titânio. Objectivando o financiamento dentro do prazo mais breve possível do grande e discutido projecto industrial, as obras para a sua concretização serão iniciadas imediatamente, em vasta área adquirida com anterioridade pela companhia.”
Uma série de violentas descargas saúda a notícia. Levando em conta as origens do venerando aparelho, dir-se-ia tratar de um protesto.
- Vocês ouviram o que eu ouvi? – perguntou o doutor Franklin.
- É a tal fábrica que Ascânio queria trazer para Mangue Seco, não é? – acende-se o olho do árabe. Como se não bastassem os acontecidos na véspera, ainda por cima esta novidade. O dia pronuncia-se exaltante.
- Quer dizer que a tal fábrica não vai ser mais aqui? – Jairo suspende o exame do motor da marinete.
- Vai ser em Arembepe, juntinho da capital, não escutou? Era um dos lugares falados – explica o tabelião.
- Porra!
Doutor Franklin Lins toma fôlego, ajeita a toalha ao ombro:
- Agora podemos respirar de novo… - acende o cigarro de palha, encaminha-se para o rio, um ar de beatude.
DA POLUÍDA VIA SACRA NA LONGA NOITE DE AGRESTE – SÉTIMA ESTAÇÂO: O CIRENEU BARBOZINHA SE OFERECE EM HOLOCAUSTO
Acaba Tieta de deitar-se quando, espavorido, o vate Barbozinha bate na porta da casa de dona Milú e anuncia:
- É de paz.
De paz e de amizade. Tieta vem do quarto de hóspedes onde Leonora adormecera à força de calmantes. Barbozinha prende-lhe a mão e a leva aos lábios. Está patético. A voz marcada pela embolia, mais engrolada que nunca:
- Soube que você pensa ir embora. É verdade?
- Amanhã para São Paulo.
- Por causa do que estão falando por aí? Vai, se quiser. Se quiser ficar e me dar a honra…
- Que honra, Barbozinha?
- De ser a Sr.ª Gregório Melchíades de Matos Barbosa…
- Está me oferecendo casamento? Para me tirar da lama?
- Sei que não sou mais o rapaz daquele tempo, a carcaça anda meio arruinada, mas tenho um nome honrado…
- …e ainda dança um tango como ninguém…
Tieta ri, um riso bom, alegre, de puro contentamento, um riso que lhe enche os olhos de água.
- Agora não dá, meu poeta. Eu te prezo muito e não quero te ver de chifrudo, não ias gostar. Quando eu estiver velhota, volto de vez e a gente casa. Até lá cuide da carcaça e escreva mais versos para mim.
Beija-o nas faces e deixa que as lágrimas finalmente corram.
DA NOTÍCIA E DA RESPIRAÇÃO
- Aparelho porreta! – gaba o árabe Chalita – Os anos passam e ele não nega fogo.
Refere-se ao rádio russo na manhã apenas despertada. Em frente ao cinema, com o auxílio de Sabino, Jairo ajusta o motor da marinete, enquanto aguarda os passageiros: o horário de saída é estrito. Ufano com os elogios, bota banca.:
Já me ofereceram troca por um novo, japonês. Recusei.
O locutor do Grande Jornal da Manhã de popular emissora da capital, pede atenção aos ouvintes para importante notícia que será divulgada após os comerciais. Transmissão límpida, sem estática, ratificando as alambanças de Chalita. Toalha ao ombro, doutor Franklin Lins junta-se ao grupo. Diariamente àquela hora, antes da partida da marinete, o tabelião vai ao banho ao rio.
A voz empostada do radialista reafirma o suspense: “Atenção para esta notícia! Na tarde de ontem foi oficialmente concedida autorização governamental à Companhia Brasileira de Titânio S.A. para estabelecer em Arembepe duas fábricas interligadas que produzirão dióxido de titânio. Objectivando o financiamento dentro do prazo mais breve possível do grande e discutido projecto industrial, as obras para a sua concretização serão iniciadas imediatamente, em vasta área adquirida com anterioridade pela companhia.”
Uma série de violentas descargas saúda a notícia. Levando em conta as origens do venerando aparelho, dir-se-ia tratar de um protesto.
- Vocês ouviram o que eu ouvi? – perguntou o doutor Franklin.
- É a tal fábrica que Ascânio queria trazer para Mangue Seco, não é? – acende-se o olho do árabe. Como se não bastassem os acontecidos na véspera, ainda por cima esta novidade. O dia pronuncia-se exaltante.
- Quer dizer que a tal fábrica não vai ser mais aqui? – Jairo suspende o exame do motor da marinete.
- Vai ser em Arembepe, juntinho da capital, não escutou? Era um dos lugares falados – explica o tabelião.
- Porra!
Doutor Franklin Lins toma fôlego, ajeita a toalha ao ombro:
- Agora podemos respirar de novo… - acende o cigarro de palha, encaminha-se para o rio, um ar de beatude.