Memórias Futuras
Olhar o futuro pelo espelho retrovisor da história. Qual história? Que futuro?
sábado, outubro 24, 2009
UMA HISTÓRIA COMOVENTE
Eis uma história que nem todos conhecem… mas que nos leva a pensar se… precisamos mesmo de conviver com a rivalidade.
A história refere-se a dois de três tenores que cantaram
juntos: Plácido Domingo e José Carreras. Juntamente com Luciano Pavarotti encantaram o mundo cantando juntos.
Mesmo quem nunca visitou a Espanha sabe da rivalidade existente entre catalães e madrilenos dado que os primeiros lutam por uma autonomia, numa Espanha dominada por Madrid.
Pois bem… Plácido Domingo é madrileno e José Carreras, catalão (nascido em Barcelona em 1946).
Devido a questões políticas, em 1984, Carreras e Domingo tornaram-se inimigos.
Sempre muito solicitados em todo o mundo, ambos faziam questão de exigir nos seus contratos, que só actuariam em determinado espectáculo se o adversário não fosse convidado.
Em 1987, apareceu a Carreras um inimigo muito mais implacável que o seu rival Plácido Domingo:
- Foi surpreendido por um diagnóstico terrível: leucemia.
A sua luta contra o câncer foi muito difícil, tendo-se submetido a diversos tratamentos, a um transplante de medula óssea, além de uma mudança de sangue, que o obrigava a viajar mensalmente para os E.U.A.
Nestas circunstâncias, não podia trabalhar e apesar de ser dono de uma fortuna razoável os elevadíssimos custos das viagens e dos tratamentos delapidaram as suas finanças.
Quando não tinha mais condições financeiras, teve conhecimento de uma Fundação em Madrid, cuja finalidade era apoiar o tratamento de doentes com leucemia.
Graças ao apoio da Fundação “Formosa”, Carreras venceu a doença e voltou a cantar.
Recebeu, de novo, os altos cachês que merecia e resolveu associar-se à Fundação e foi ao ler os seus estatutos que descobriu que o seu fundador e maior colaborador era Plácido Domingo. Depressa soube que Domingo tinha criado a Fundação para ajudá-lo e que se mantinha no anonimato para que ele não se sentisse humilhado ao aceitar o auxílio do seu “inimigo”.
Mas… o mais comovente foi o encontro de ambos. Surpreendendo Plácido Domingo num dos seus concertos em Madrid, Carreras interrompeu a actuação deste e subindo ao palco ajoelhou-se humildemente aos seus pés e pediu-lhe desculpas publicamente.
Plácido ajudou-o a levantar-se e com um forte abraço selaram o início de uma grande e bela amizade.
Mais tarde, uma jornalista perguntou a Plácido Domingo por que criara a Fundação “Formosa” num gesto que além de ajudar um “inimigo” ajudava também o único artista que poderia fazer-lhe concorrência.
A resposta foi curta e definitiva:
- “Porque uma voz como aquela não poderia perder-se.”
A história refere-se a dois de três tenores que cantaram
juntos: Plácido Domingo e José Carreras. Juntamente com Luciano Pavarotti encantaram o mundo cantando juntos.
Mesmo quem nunca visitou a Espanha sabe da rivalidade existente entre catalães e madrilenos dado que os primeiros lutam por uma autonomia, numa Espanha dominada por Madrid.
Pois bem… Plácido Domingo é madrileno e José Carreras, catalão (nascido em Barcelona em 1946).
Devido a questões políticas, em 1984, Carreras e Domingo tornaram-se inimigos.
Sempre muito solicitados em todo o mundo, ambos faziam questão de exigir nos seus contratos, que só actuariam em determinado espectáculo se o adversário não fosse convidado.
Em 1987, apareceu a Carreras um inimigo muito mais implacável que o seu rival Plácido Domingo:
- Foi surpreendido por um diagnóstico terrível: leucemia.
A sua luta contra o câncer foi muito difícil, tendo-se submetido a diversos tratamentos, a um transplante de medula óssea, além de uma mudança de sangue, que o obrigava a viajar mensalmente para os E.U.A.
Nestas circunstâncias, não podia trabalhar e apesar de ser dono de uma fortuna razoável os elevadíssimos custos das viagens e dos tratamentos delapidaram as suas finanças.
Quando não tinha mais condições financeiras, teve conhecimento de uma Fundação em Madrid, cuja finalidade era apoiar o tratamento de doentes com leucemia.
Graças ao apoio da Fundação “Formosa”, Carreras venceu a doença e voltou a cantar.
Recebeu, de novo, os altos cachês que merecia e resolveu associar-se à Fundação e foi ao ler os seus estatutos que descobriu que o seu fundador e maior colaborador era Plácido Domingo. Depressa soube que Domingo tinha criado a Fundação para ajudá-lo e que se mantinha no anonimato para que ele não se sentisse humilhado ao aceitar o auxílio do seu “inimigo”.
Mas… o mais comovente foi o encontro de ambos. Surpreendendo Plácido Domingo num dos seus concertos em Madrid, Carreras interrompeu a actuação deste e subindo ao palco ajoelhou-se humildemente aos seus pés e pediu-lhe desculpas publicamente.
Plácido ajudou-o a levantar-se e com um forte abraço selaram o início de uma grande e bela amizade.
Mais tarde, uma jornalista perguntou a Plácido Domingo por que criara a Fundação “Formosa” num gesto que além de ajudar um “inimigo” ajudava também o único artista que poderia fazer-lhe concorrência.
A resposta foi curta e definitiva:
- “Porque uma voz como aquela não poderia perder-se.”
TIETA DO AGRESTE
EPISÓDIO Nº 267
DOS MELINDRES DE CONSCIÊNCIA (CONSTRANGEDORES E IMPROCEDENTES)
Ao ouvir mestre Colombo, apossa-se de Ascânio sensação idêntica à que sentira na Bahia, na semana anterior. Importuno constrangimento, como se não marchasse pelos próprios pés, fosse conduzido, colocado diante de factos consumados, sem opção, devendo executar decisões tomadas por outros, à sua revelia. Contudo, a vontade de opor-se, de exigir explicações, de não se deixar envolver, de tirar a limpo o porquê de cada coisa, não chega a se expressar. Sente-se desconfortável mas ouve e cala.
Constata mais uma vez o poderio da Brastânio, ao receber na Prefeitura de Agreste o egrégio professor Hélio Colombo, do qual não chegara a ser aluno, mas em cujo escritório, igual aos demais colegas, sonhara iniciar-se quando formado. Ali estava o mestre, em pessoa, refeito após o almoço e a sesta, expondo e solucionando o terrível problema do coqueiral que tanta preocupação causara a Ascânio. Portador de auspiciosa notícia, a decisão do Tribunal sobre a data do pleito, antes mesmo que o moço terminasse de lhe dizer quanto o admirava, o eminente advogado começou a colocar em pratos limpos a confusão causada por Fidélio, a ditar o procedimento de Ascânio.
Empunhando o tubo de metal e a pasta de couro, no bolso o anel de compromisso, o peito inflado de ambição e amor, Ascânio saltara vitorioso da marinete de Jairo. A decisão da Companhia Brasileira de Titânio, escolhendo Sant’Ana do Agreste para ali instalar suas fábricas, mudava a face do município e a vida do futuro prefeito. Com os argumentos do doutor Lucena e o feérico desenho de Rufo, contava conquistar a boa vontade da madrasta de Leonora. Sobrariam apenas os discursos do Comandante, as objurgatórias de dona Carmosina, os versos, na maioria inéditos de Barbozinha. Palavrório ruidoso e inconsequente.
A euforia durou pouco. Em Mangue Seco, a firme negativa de Tieta foi um rude golpe. Depois, os motivos de apreensão a aborrecimentos se sucederam: obstáculos e injustiças, incertezas e mágoas.
Na agência dos Correios, dona Carmosina atirara-lhe nas fuças a opção concedida por Fidélio ao Comandante, vingando-se do “conheceu, papuda?” com que ele se despedira ao embarcar no jip. Escarnecendo:
- Quero ver como seus amigos vão fazer para instalar a fábrica no coqueiral. Felizmente, ainda há gente direita neste mundo.
Ascânio não respondeu, deixou dona Carmosina falando sozinha, queria evitar as discussões, capazes de levar a um rompimento com a velha amiga cada vez mais exaltada. Mas a informação, logo confirmada, demonstrava que nem tudo era palavrório. Não conseguiu resposta para a pergunta da agente dos Correios: como iria a Brastânio adquirir as terras do coqueiral? Questões de propriedade de terra costumam arrastar-se, intermináveis, nos tribunais, duram anos e anos, essa apenas se inicia: o juiz de Esplanada nem sequer dera seguimento ao mandato de posse, requerido pelo doutor Marcolino, em nome de Jarde e Josafá Antunes.
Doutor Hélio Colombo remove o obstáculo e declara que para encontrar a boa solução não teria sido necessário empreender aquela pavorosa viagem, amenizada apenas pelo almoço com que o tabelião o homenageara – o mestre ainda lambe os beiços. Na sala Bonaparte ressona no torpor da tarde, arriado num banco. Ao lado, as certidões e uma lata de doce de araça, presente para o mestre. Doutor Colombo fita com simpatia o dorminhoco: soneca merecida, o jovem sacrificara a sesta para aprontar as certidões. Palerma, porém gentil. Ordena a Ascânio:
- Guarde reserva acerca desta nossa conversa. Mirko disse-me que posso confiar no senhor.
Solução simples, perfeita. Ascânio apenas eleito empossado, desapropriará toda a área do coqueiral, medida de utilidade pública. Onde arranjar dinheiro para pagar a desapropriação? Os terrenos desapropriados sertão vendidos à Brastânio. A Prefeitura terá dinheiro para pagar e ainda encaixará algum, obtendo lucro na transacção. Negócio limpo.
- E se os herdeiros não aceitarem?
- Como não vão aceitar? Ainda nem existem como herdeiros. A desapropriação, a preço razoável, é um verdadeiro presente para eles.
- Mas o Comandante, esse não aceitará, por nenhum preço.
- Ele não tem como impedir a desapropriação por motivo de utilidade pública. Pode ir à justiça, depois, perderá tempo e dinheiro. Não se preocupe com ele, vá em frente. Eu cuidarei de tudo. Por ocasião da sua posse, mandarei em mão por um colega, um dos meus auxiliares no escritório, o decreto de desapropriação redigido, com os considerandos, toda a fundamentação. Seu único trabalho será assinar.
Seu único trabalho: assinar. Sensação desagradável, incómoda. Mete a mão no bolso, toca a pequena caixa onde está o anel de compromisso. Quando o colocará no dedo de Leonora? O tempo urge. Que pode fazer senão ir em frente? Ademais, colaborando para a instalação da Brastânio em Mangue Seco está apenas servindo os interesses do município e do povo. Pensando bem, onde os motivos para melindres de consciência.
EPISÓDIO Nº 267
DOS MELINDRES DE CONSCIÊNCIA (CONSTRANGEDORES E IMPROCEDENTES)
Ao ouvir mestre Colombo, apossa-se de Ascânio sensação idêntica à que sentira na Bahia, na semana anterior. Importuno constrangimento, como se não marchasse pelos próprios pés, fosse conduzido, colocado diante de factos consumados, sem opção, devendo executar decisões tomadas por outros, à sua revelia. Contudo, a vontade de opor-se, de exigir explicações, de não se deixar envolver, de tirar a limpo o porquê de cada coisa, não chega a se expressar. Sente-se desconfortável mas ouve e cala.
Constata mais uma vez o poderio da Brastânio, ao receber na Prefeitura de Agreste o egrégio professor Hélio Colombo, do qual não chegara a ser aluno, mas em cujo escritório, igual aos demais colegas, sonhara iniciar-se quando formado. Ali estava o mestre, em pessoa, refeito após o almoço e a sesta, expondo e solucionando o terrível problema do coqueiral que tanta preocupação causara a Ascânio. Portador de auspiciosa notícia, a decisão do Tribunal sobre a data do pleito, antes mesmo que o moço terminasse de lhe dizer quanto o admirava, o eminente advogado começou a colocar em pratos limpos a confusão causada por Fidélio, a ditar o procedimento de Ascânio.
Empunhando o tubo de metal e a pasta de couro, no bolso o anel de compromisso, o peito inflado de ambição e amor, Ascânio saltara vitorioso da marinete de Jairo. A decisão da Companhia Brasileira de Titânio, escolhendo Sant’Ana do Agreste para ali instalar suas fábricas, mudava a face do município e a vida do futuro prefeito. Com os argumentos do doutor Lucena e o feérico desenho de Rufo, contava conquistar a boa vontade da madrasta de Leonora. Sobrariam apenas os discursos do Comandante, as objurgatórias de dona Carmosina, os versos, na maioria inéditos de Barbozinha. Palavrório ruidoso e inconsequente.
A euforia durou pouco. Em Mangue Seco, a firme negativa de Tieta foi um rude golpe. Depois, os motivos de apreensão a aborrecimentos se sucederam: obstáculos e injustiças, incertezas e mágoas.
Na agência dos Correios, dona Carmosina atirara-lhe nas fuças a opção concedida por Fidélio ao Comandante, vingando-se do “conheceu, papuda?” com que ele se despedira ao embarcar no jip. Escarnecendo:
- Quero ver como seus amigos vão fazer para instalar a fábrica no coqueiral. Felizmente, ainda há gente direita neste mundo.
Ascânio não respondeu, deixou dona Carmosina falando sozinha, queria evitar as discussões, capazes de levar a um rompimento com a velha amiga cada vez mais exaltada. Mas a informação, logo confirmada, demonstrava que nem tudo era palavrório. Não conseguiu resposta para a pergunta da agente dos Correios: como iria a Brastânio adquirir as terras do coqueiral? Questões de propriedade de terra costumam arrastar-se, intermináveis, nos tribunais, duram anos e anos, essa apenas se inicia: o juiz de Esplanada nem sequer dera seguimento ao mandato de posse, requerido pelo doutor Marcolino, em nome de Jarde e Josafá Antunes.
Doutor Hélio Colombo remove o obstáculo e declara que para encontrar a boa solução não teria sido necessário empreender aquela pavorosa viagem, amenizada apenas pelo almoço com que o tabelião o homenageara – o mestre ainda lambe os beiços. Na sala Bonaparte ressona no torpor da tarde, arriado num banco. Ao lado, as certidões e uma lata de doce de araça, presente para o mestre. Doutor Colombo fita com simpatia o dorminhoco: soneca merecida, o jovem sacrificara a sesta para aprontar as certidões. Palerma, porém gentil. Ordena a Ascânio:
- Guarde reserva acerca desta nossa conversa. Mirko disse-me que posso confiar no senhor.
Solução simples, perfeita. Ascânio apenas eleito empossado, desapropriará toda a área do coqueiral, medida de utilidade pública. Onde arranjar dinheiro para pagar a desapropriação? Os terrenos desapropriados sertão vendidos à Brastânio. A Prefeitura terá dinheiro para pagar e ainda encaixará algum, obtendo lucro na transacção. Negócio limpo.
- E se os herdeiros não aceitarem?
- Como não vão aceitar? Ainda nem existem como herdeiros. A desapropriação, a preço razoável, é um verdadeiro presente para eles.
- Mas o Comandante, esse não aceitará, por nenhum preço.
- Ele não tem como impedir a desapropriação por motivo de utilidade pública. Pode ir à justiça, depois, perderá tempo e dinheiro. Não se preocupe com ele, vá em frente. Eu cuidarei de tudo. Por ocasião da sua posse, mandarei em mão por um colega, um dos meus auxiliares no escritório, o decreto de desapropriação redigido, com os considerandos, toda a fundamentação. Seu único trabalho será assinar.
Seu único trabalho: assinar. Sensação desagradável, incómoda. Mete a mão no bolso, toca a pequena caixa onde está o anel de compromisso. Quando o colocará no dedo de Leonora? O tempo urge. Que pode fazer senão ir em frente? Ademais, colaborando para a instalação da Brastânio em Mangue Seco está apenas servindo os interesses do município e do povo. Pensando bem, onde os motivos para melindres de consciência.
CONVERSA DE SURDOS
O padre e teólogo Carreira das Neves e José Saramago travaram na televisão uma conversa quase de surdos ou, no mínimo, um diálogo difícil.
Esta dificuldade traduziu-se numa impossibilidade de entendimento, espécie de caminho que não leva a lado nenhum e que sempre acontecerá quando um crente e um não crente se procuram explicar reciprocamente.
José Saramago fez acusações graves à Bíblia e a Deus, tendo mesmo reconhecido ter exagerado quando utilizou certas expressões, por exemplo: o tal “Manual de Maus Costumes”, mas desculpou-se com os seus direitos de autor.
O reconhecimento deste exagero parece-me ter sido feito mais por uma questão de amabilidade para com o interlocutor e as pessoas religiosas que o estavam a ouvir do que por não pensar exactamente o que disse.
Ele leu o que estava escrito no Antigo Testamento e a conclusão a que chegou foi de que aquilo não passava de um manual de maus costumes e por isso o disse e reafirmará todas as vezes que lhe vier a propósito e justificará apoiando-se em muitas passagens da Bíblia.
A grande questão que se levanta nestas apreciações tão graves sobre a Bíblia, é que este livro, para judeus e cristãos, é um texto sagrado porque eles acreditam no Deus daquela religião enquanto que, para José Saramago e para todos os ateus, é simplesmente um livro, não propriamente igual a qualquer outro, mas sem a componente do sagrado.
Por esta razão, a discussão que ambos travam, não é de carácter literário ou interpretativo, qualquer coisa de académico que acontece com todas os livros, mas antes algo que toca fundo na essência espiritual de cada pessoa que professa aquelas religiões e incomoda também os outros, os não crentes, porque, afinal, todos fomos criados neste “caldo” religioso e sabemos que a sociedade é constituída maioritariamente por pessoas religiosas ou que se consideram como tal, incluindo nela os nossos amigos e familiares.
As pessoas, não se sabe quem, que ao longo de mil anos foram escrevendo o que está escrito na Bíblia, (não vamos pensar que tenha sido Deus a fazê-lo directamente), tinham a noção de que o estavam a fazer para um livro sagrado e que essas palavras iriam ser lidas como se tivessem sido ditadas por Deus, muitas delas, mesmo, diálogos onde intervém o próprio Deus como personagem.
Isto significava que aquela mensagem escrita não iria apenas influenciar os leitores mas formar consciências, mentalidades, transmitir orientações com a força de ordens, criar unidade de um povo à volta de um Deus, essa entidade suprema, transcendente, que se escapa ao entendimento porque ultrapassava os homens em absoluto, no poder, deixando-lhes apenas a escapatória da obediência cega, sem discussão.
Terrível a responsabilidade desses homens que ao longo dos séculos foram escrevendo a Bíblia de tal forma que tiveram de a repartir com os teólogos, os que interpretam essa escrita.
Por aquilo que ouvimos ontem ao teólogo Carreira das Neves, o Antigo Testamento é, todo ele, escrito por metáforas e parábolas, de uma forma simbólica, o que significa uma solução de grande inteligência porque permite que os teólogos o actualizem e expliquem aos crentes de acordo com os tempos que se estão vivendo e com as orientações que em cada momento a Igreja ache mais conveniente.
Por esta razão, a Bíblia será cada vez mais um texto metafórico, para interpretar e não para ler porque o seu significado literal, com o avanço dos conhecimentos científicos e o triunfo da razão, será cada vez menos compreensivo.
Assim, a importância e o papel dos teólogos é cada vez mais importante para a Igreja porque ela pretende – é uma pretensão - complementar a fé dos seus seguidores com explicações plausíveis e racionais da mensagem do seu Deus.
Contra isto se insurge José Saramago para quem o livro não tem nada de sagrado e pergunta: “mas com que direito os senhores me vêm dizer o que está escrito na Bíblia?”
E aqui está a polémica que, ao fim e ao cabo, não é polémica nenhuma:
- O padre Carreira das Neves lê a Bíblia com os olhos de um crente, nem preciso acrescentar de padre e teólogo.
- José Saramago faz a mesma leitura com os olhos de um não crente mesmo que, como afirmou, se esforçasse para o ser.
O ponto de partida está na crença de um Deus que em seis dias, ou lá o tempo que fosse, fez o Universo, antes não fez nada e depois, daí para cá, nada voltou a fazer, versão da Bíblia que, para Saramago, não crente, é absurdo e inteligível.
Realmente, a razão e a fé são inconciliáveis. A razão é um instrumento de análise crítica e a fé um dogma ou um conjunto de dogmas que não se sujeitam a essa tal análise crítica e constitui “batotice” Carreira das Neves afirmar que, “se os crentes não conseguem provar que Deus existe, os ateus também não conseguem provar que ele não existe”.
Todos sabemos que o ónus da prova é de quem afirma. Não é legítimo pensar que recai sobre mim a obrigação de provar em tribunal que não sou criminoso.
Fiquemo-nos, portanto, pela questão da fé. No último texto em que me referi a este assunto afirmei que o processo de selecção natural que permitiu a sobrevivência da espécie humana “encarregou-se” de fazer chegar até nós os crentes.
Os que não acreditavam e não seguiam os conselhos dos progenitores foram ficando pelo caminho…e mesmo assim não foi fácil, momentos houve em que chegámos a números no limiar mínimo da sobrevivência da espécie.
Este “jeito” de acreditar ficou-nos gravado no cérebro, é verdade, mas não nos esqueçamos que se chegámos ao que somos hoje devemo-lo à capacidade de usar a nossa razão sem a qual também não teríamos sobrevivido.
Temos de conviver todos, crentes e não crentes, apelando cada vez mais à nossa inteligência, razão e senso comum… seja ele o lado em que estivermos.
O nosso futuro colectivo não está assegurado por mais ninguém para além de nós próprios. Não sejamos ingénuos, não confiemos essa matéria a Deus. O mesmo “mecanismo de acreditar” que pode ter sido o segredo da nossa sobrevivência em tempos recuados da nossa evolução, pode virar-se contra nós. Pensemos no que fazem, já fizeram e podem ainda fazer os fundamentalistas e radicais de todas as religiões… tempos perigosos os que vivemos.
Esta dificuldade traduziu-se numa impossibilidade de entendimento, espécie de caminho que não leva a lado nenhum e que sempre acontecerá quando um crente e um não crente se procuram explicar reciprocamente.
José Saramago fez acusações graves à Bíblia e a Deus, tendo mesmo reconhecido ter exagerado quando utilizou certas expressões, por exemplo: o tal “Manual de Maus Costumes”, mas desculpou-se com os seus direitos de autor.
O reconhecimento deste exagero parece-me ter sido feito mais por uma questão de amabilidade para com o interlocutor e as pessoas religiosas que o estavam a ouvir do que por não pensar exactamente o que disse.
Ele leu o que estava escrito no Antigo Testamento e a conclusão a que chegou foi de que aquilo não passava de um manual de maus costumes e por isso o disse e reafirmará todas as vezes que lhe vier a propósito e justificará apoiando-se em muitas passagens da Bíblia.
A grande questão que se levanta nestas apreciações tão graves sobre a Bíblia, é que este livro, para judeus e cristãos, é um texto sagrado porque eles acreditam no Deus daquela religião enquanto que, para José Saramago e para todos os ateus, é simplesmente um livro, não propriamente igual a qualquer outro, mas sem a componente do sagrado.
Por esta razão, a discussão que ambos travam, não é de carácter literário ou interpretativo, qualquer coisa de académico que acontece com todas os livros, mas antes algo que toca fundo na essência espiritual de cada pessoa que professa aquelas religiões e incomoda também os outros, os não crentes, porque, afinal, todos fomos criados neste “caldo” religioso e sabemos que a sociedade é constituída maioritariamente por pessoas religiosas ou que se consideram como tal, incluindo nela os nossos amigos e familiares.
As pessoas, não se sabe quem, que ao longo de mil anos foram escrevendo o que está escrito na Bíblia, (não vamos pensar que tenha sido Deus a fazê-lo directamente), tinham a noção de que o estavam a fazer para um livro sagrado e que essas palavras iriam ser lidas como se tivessem sido ditadas por Deus, muitas delas, mesmo, diálogos onde intervém o próprio Deus como personagem.
Isto significava que aquela mensagem escrita não iria apenas influenciar os leitores mas formar consciências, mentalidades, transmitir orientações com a força de ordens, criar unidade de um povo à volta de um Deus, essa entidade suprema, transcendente, que se escapa ao entendimento porque ultrapassava os homens em absoluto, no poder, deixando-lhes apenas a escapatória da obediência cega, sem discussão.
Terrível a responsabilidade desses homens que ao longo dos séculos foram escrevendo a Bíblia de tal forma que tiveram de a repartir com os teólogos, os que interpretam essa escrita.
Por aquilo que ouvimos ontem ao teólogo Carreira das Neves, o Antigo Testamento é, todo ele, escrito por metáforas e parábolas, de uma forma simbólica, o que significa uma solução de grande inteligência porque permite que os teólogos o actualizem e expliquem aos crentes de acordo com os tempos que se estão vivendo e com as orientações que em cada momento a Igreja ache mais conveniente.
Por esta razão, a Bíblia será cada vez mais um texto metafórico, para interpretar e não para ler porque o seu significado literal, com o avanço dos conhecimentos científicos e o triunfo da razão, será cada vez menos compreensivo.
Assim, a importância e o papel dos teólogos é cada vez mais importante para a Igreja porque ela pretende – é uma pretensão - complementar a fé dos seus seguidores com explicações plausíveis e racionais da mensagem do seu Deus.
Contra isto se insurge José Saramago para quem o livro não tem nada de sagrado e pergunta: “mas com que direito os senhores me vêm dizer o que está escrito na Bíblia?”
E aqui está a polémica que, ao fim e ao cabo, não é polémica nenhuma:
- O padre Carreira das Neves lê a Bíblia com os olhos de um crente, nem preciso acrescentar de padre e teólogo.
- José Saramago faz a mesma leitura com os olhos de um não crente mesmo que, como afirmou, se esforçasse para o ser.
O ponto de partida está na crença de um Deus que em seis dias, ou lá o tempo que fosse, fez o Universo, antes não fez nada e depois, daí para cá, nada voltou a fazer, versão da Bíblia que, para Saramago, não crente, é absurdo e inteligível.
Realmente, a razão e a fé são inconciliáveis. A razão é um instrumento de análise crítica e a fé um dogma ou um conjunto de dogmas que não se sujeitam a essa tal análise crítica e constitui “batotice” Carreira das Neves afirmar que, “se os crentes não conseguem provar que Deus existe, os ateus também não conseguem provar que ele não existe”.
Todos sabemos que o ónus da prova é de quem afirma. Não é legítimo pensar que recai sobre mim a obrigação de provar em tribunal que não sou criminoso.
Fiquemo-nos, portanto, pela questão da fé. No último texto em que me referi a este assunto afirmei que o processo de selecção natural que permitiu a sobrevivência da espécie humana “encarregou-se” de fazer chegar até nós os crentes.
Os que não acreditavam e não seguiam os conselhos dos progenitores foram ficando pelo caminho…e mesmo assim não foi fácil, momentos houve em que chegámos a números no limiar mínimo da sobrevivência da espécie.
Este “jeito” de acreditar ficou-nos gravado no cérebro, é verdade, mas não nos esqueçamos que se chegámos ao que somos hoje devemo-lo à capacidade de usar a nossa razão sem a qual também não teríamos sobrevivido.
Temos de conviver todos, crentes e não crentes, apelando cada vez mais à nossa inteligência, razão e senso comum… seja ele o lado em que estivermos.
O nosso futuro colectivo não está assegurado por mais ninguém para além de nós próprios. Não sejamos ingénuos, não confiemos essa matéria a Deus. O mesmo “mecanismo de acreditar” que pode ter sido o segredo da nossa sobrevivência em tempos recuados da nossa evolução, pode virar-se contra nós. Pensemos no que fazem, já fizeram e podem ainda fazer os fundamentalistas e radicais de todas as religiões… tempos perigosos os que vivemos.
SALVA DO SUICÍDIO POR UM MARINHEIRO…
Uma loira, belíssima, ia atirar-se da ponte 25 de Abril quando apareceu um marinheiro:
- Eh, pá, miúda, não faças isso!
- Sim! Vou atirar-me! A minha vida é uma desgraça!
- Não faças isso! Olha, o meu navio está de partida para o Brasil. Porque é que não vens comigo e pensas melhor durante a travessia?
Chegando lá, se ainda te quiseres matar, pelo menos ficaste a conhecer o Brasil.
A loira achou a proposta razoável e seguiu com ele para o porão do barco, onde viajaria clandestinamente.
Durante duas semanas o marinheiro visitava a loira à noite, levava-lhe comida e água e fazia amor com ela.
Todos os dias, comida, água e… pimba.
Um dia, o comandante fez uma inspecção ao porão do navio e descobriu a loira.
Ela não teve outra alternativa senão contar-lhe a verdade:
- Sabe, Sr. Comandante, eu estou aqui como clandestina a viajar para o Brasil porque um marinheiro salvou-me da morte. Todas as noites ele traz-me comida e água e, como agradecimento, eu deixo-o fazer amor comigo.
Fizemos este acordo até chegarmos ao Brasil. Ainda falta muito para lá chegar?
- Não sei, menina, mas enquanto eu for o comandante e este barco pertencer à Transtejo, só fazemos a travessia Cacilhas - Terreiro do Paço, Ida e Volta.
Uma loira, belíssima, ia atirar-se da ponte 25 de Abril quando apareceu um marinheiro:
- Eh, pá, miúda, não faças isso!
- Sim! Vou atirar-me! A minha vida é uma desgraça!
- Não faças isso! Olha, o meu navio está de partida para o Brasil. Porque é que não vens comigo e pensas melhor durante a travessia?
Chegando lá, se ainda te quiseres matar, pelo menos ficaste a conhecer o Brasil.
A loira achou a proposta razoável e seguiu com ele para o porão do barco, onde viajaria clandestinamente.
Durante duas semanas o marinheiro visitava a loira à noite, levava-lhe comida e água e fazia amor com ela.
Todos os dias, comida, água e… pimba.
Um dia, o comandante fez uma inspecção ao porão do navio e descobriu a loira.
Ela não teve outra alternativa senão contar-lhe a verdade:
- Sabe, Sr. Comandante, eu estou aqui como clandestina a viajar para o Brasil porque um marinheiro salvou-me da morte. Todas as noites ele traz-me comida e água e, como agradecimento, eu deixo-o fazer amor comigo.
Fizemos este acordo até chegarmos ao Brasil. Ainda falta muito para lá chegar?
- Não sei, menina, mas enquanto eu for o comandante e este barco pertencer à Transtejo, só fazemos a travessia Cacilhas - Terreiro do Paço, Ida e Volta.
sexta-feira, outubro 23, 2009
TIETA DO AGRESTE
EPISÓDIO nº 266
DA NOTORIEDADE DE AGRESTE
Dependurado em lugar de honra, na entrada de Prefeitura o vistoso desenho de Rufo, “a deslumbrante visão do futuro”, atai curiosos. Balançam a cabeça, unânimes na admiração às qualidades artísticas do decorador, divergentes quanto ao conteúdo. Formidável, apoiam alguns, com entusiasmo: Ascânio é um porreta, vai reerguer Agreste, transformar a região. Outros, mais prudentes, repetem argumentos do Comandante e de dona Carmosina: fosse essa indústria assim tão benéfica, por que se haveria de instalar em área pobre e distante desprovida de recursos? Dizem que apodrece a água, envenena o ar. Está nos jornais. Não a querem em lugar nenhum do mundo. Proibiram-na em São Paulo e no Rio. Tentaram situá-la entre Ilhéus e Itabuna, o povo se levantou. Ascânio ou está sendo enrolado ou…
Ou o quê? Ascânio é homem íntegro, sua vida um livro aberto, cidadão acima de qualquer suspeita, de qualquer insinuação…
Ninguém está insinuando nada, mas é do domínio público que ele está de olho na paulista rica, herdeira do Comendador, enteada de dona Antonieta. Postulante pobre, no caso paupérrimo, à mão de milionária, perde a cabeça com facilidade e nessas grandes empresas corre dinheiro a rodo. Para Ascânio, a instalação da fábrica no município vem a calhar, quem pode negar a evidência?
Azedam-se as discussões. Cresce o número de leitores dos jornais da capital, antes reduzido aos privilegiados assinantes de A Tarde. Por encomenda de Chalita, sempre disposto a aumentar as suas fontes de receita, chegam pela marinete de Jairo exemplares dos diversos quotidianos de Salvador. Se o dono do cinema tem juízo formado sobre o problema da indústria de titânio, não o alardeia, expõe à venda o pró e o contra, recolhe os níqueis do lucro escasso. A polémica em torno da Brastânio se alimenta de notícias e boatos, de maledicências, prossegue rua afora.
Leram e comentaram a entrevista de Ascânio, grandiloquente: “a Brastânio significa a redenção de Agreste, riqueza e progresso para o litoral norte do Estado. As moças admiraram-lhe o retrato em duas colunas, o dedo em riste, jovem líder político de grande futuro, candidato do povo à Prefeitura, no dizer do repórter. Causou igualmente sensação o ríspido suelto, com que, na sessão editorial, A Tarde comentou tais declarações. Sob o título de Candidato do povo ou da Brastânio? Classificava Ascânio de playboy matuto, hóspede da Brastânio em hotel de luxo. Quanto à riqueza e ao progresso anunciados pelo “leviano e faceto personagem” não passavam de poluição e miséria na opinião responsável de intelectuais sergipanos que assinaram memorial de apoio ao telegrama do prefeito de Estância, figuras de proa: pintor Jenner Augusto, escritor Mário Cabral, professor José Calasans, jornalista Junot Silveira.
Espanto e incredulidade causaram as confusas notícias de ameaças à vida dos componentes de uma equipe de técnicos da Brastânio, impedidos de desembarcar em Mangue Seco pela população indignada, unida em defesa do meio ambiente – aplaudia Giovanni Guimarães. Por agentes internacionais da subversão ao serviço do comunismo ateu, comandados por uma russa que outra não era senão a bolchevique Alexandra Kolontai, cuja presença no Brasil os serviços competentes haviam assinalado – denunciava a mesma gazeta onde saíra a entrevista de Ascânio.
Por fim, culminando o farto noticiário, o povo tomou conhecimento da data marcada para as eleições. Por que tão próximas? – perguntava o articulista de A Tarde. Porque a Brastânio tem pressa – respondia ele próprio.
Em que pese as divergências, resguardada a opinião de cada um sobre o problema da indústria de titânio, havia um ponto em torno do qual todos se punham vaidosamente de acordo: jamais Agreste merecera tanto destaque na imprensa. Não menos vaidoso sentia-se o Magnífico Doutor. Ângelo Bardi telefonara de São Paulo para cumprimentá-lo.
Dependurado em lugar de honra, na entrada de Prefeitura o vistoso desenho de Rufo, “a deslumbrante visão do futuro”, atai curiosos. Balançam a cabeça, unânimes na admiração às qualidades artísticas do decorador, divergentes quanto ao conteúdo. Formidável, apoiam alguns, com entusiasmo: Ascânio é um porreta, vai reerguer Agreste, transformar a região. Outros, mais prudentes, repetem argumentos do Comandante e de dona Carmosina: fosse essa indústria assim tão benéfica, por que se haveria de instalar em área pobre e distante desprovida de recursos? Dizem que apodrece a água, envenena o ar. Está nos jornais. Não a querem em lugar nenhum do mundo. Proibiram-na em São Paulo e no Rio. Tentaram situá-la entre Ilhéus e Itabuna, o povo se levantou. Ascânio ou está sendo enrolado ou…
Ou o quê? Ascânio é homem íntegro, sua vida um livro aberto, cidadão acima de qualquer suspeita, de qualquer insinuação…
Ninguém está insinuando nada, mas é do domínio público que ele está de olho na paulista rica, herdeira do Comendador, enteada de dona Antonieta. Postulante pobre, no caso paupérrimo, à mão de milionária, perde a cabeça com facilidade e nessas grandes empresas corre dinheiro a rodo. Para Ascânio, a instalação da fábrica no município vem a calhar, quem pode negar a evidência?
Azedam-se as discussões. Cresce o número de leitores dos jornais da capital, antes reduzido aos privilegiados assinantes de A Tarde. Por encomenda de Chalita, sempre disposto a aumentar as suas fontes de receita, chegam pela marinete de Jairo exemplares dos diversos quotidianos de Salvador. Se o dono do cinema tem juízo formado sobre o problema da indústria de titânio, não o alardeia, expõe à venda o pró e o contra, recolhe os níqueis do lucro escasso. A polémica em torno da Brastânio se alimenta de notícias e boatos, de maledicências, prossegue rua afora.
Leram e comentaram a entrevista de Ascânio, grandiloquente: “a Brastânio significa a redenção de Agreste, riqueza e progresso para o litoral norte do Estado. As moças admiraram-lhe o retrato em duas colunas, o dedo em riste, jovem líder político de grande futuro, candidato do povo à Prefeitura, no dizer do repórter. Causou igualmente sensação o ríspido suelto, com que, na sessão editorial, A Tarde comentou tais declarações. Sob o título de Candidato do povo ou da Brastânio? Classificava Ascânio de playboy matuto, hóspede da Brastânio em hotel de luxo. Quanto à riqueza e ao progresso anunciados pelo “leviano e faceto personagem” não passavam de poluição e miséria na opinião responsável de intelectuais sergipanos que assinaram memorial de apoio ao telegrama do prefeito de Estância, figuras de proa: pintor Jenner Augusto, escritor Mário Cabral, professor José Calasans, jornalista Junot Silveira.
Espanto e incredulidade causaram as confusas notícias de ameaças à vida dos componentes de uma equipe de técnicos da Brastânio, impedidos de desembarcar em Mangue Seco pela população indignada, unida em defesa do meio ambiente – aplaudia Giovanni Guimarães. Por agentes internacionais da subversão ao serviço do comunismo ateu, comandados por uma russa que outra não era senão a bolchevique Alexandra Kolontai, cuja presença no Brasil os serviços competentes haviam assinalado – denunciava a mesma gazeta onde saíra a entrevista de Ascânio.
Por fim, culminando o farto noticiário, o povo tomou conhecimento da data marcada para as eleições. Por que tão próximas? – perguntava o articulista de A Tarde. Porque a Brastânio tem pressa – respondia ele próprio.
Em que pese as divergências, resguardada a opinião de cada um sobre o problema da indústria de titânio, havia um ponto em torno do qual todos se punham vaidosamente de acordo: jamais Agreste merecera tanto destaque na imprensa. Não menos vaidoso sentia-se o Magnífico Doutor. Ângelo Bardi telefonara de São Paulo para cumprimentá-lo.
quinta-feira, outubro 22, 2009
VELHA?... EU?
Já aconteceu você, ao olhar pessoas da sua idade e pensar: Não posso estar assim tão velho (a)?!!!
Veja o que aconteceu a uma amiga minha:
- Estava sentada na sala de espera para a minha primeira consulta com um novo dentista, quando observei que o seu diploma estava dependurado na parede. Estava escrito o seu nome e, de repente, recordei de um moreno alto, que tinha esse mesmo nome. Era da minha classe no colégio, uns 30 anos atrás, e eu perguntava-me:
- Poderia ser o mesmo rapaz por quem me tinha apaixonado à época?
Quando entrei na sala de atendimento imediatamente afastei esse pensamento do meu espírito.
Este homem grisalho, quase calvo, gordo, com um rosto marcado, profundamente enrugado, era demasiadamente velho pra ter sido o meu amor secreto.
Depois que ele examinou o meu dente, perguntei-lhe se ele estudou no Colégio Sacré Coeur.
- Sim, respondeu-me.
- Quando se formou? Perguntei.
- 1965. Por que pergunta?
Respondi::
- É que... bem... você era da minha classe, exclamei eu.
E então, aquele velho horrível, cretino, careca, barrigudo, flácido, filho de uma p_ _ _ , lazarento perguntou-me:
- A Sra. era professora de quê?
TIETA DO AGRESTE
EPISÓDIO Nº 265
DAS PRECIOSAS RARIDADES
Enquanto a esposa se desculpa por não servir almoço digno do convivo famoso, doutor Franklin semeia verde para colher maduro:
- Para o mestre, evidentemente, não existe problema difícil. Mas esse, do coqueiral, é uma embrulhada dos demónios, pois não? Se não fosse a intransigência de Fidélio, ou melhor dito, do Comandante… Já vislumbrou saída, mestre?
Doutor Hélio Colombo suspende a garfada:
- Minha cara senhora, se este banquete é o trivial da casa, como será um almoço de festa? Estou me regalando minha senhora.
De toda a viagem, aquela foi a boa lembrança conservada pelo advogado: a mesa de fartura e requinte. Os pitus, o peixe ensopado, a frigideira de guaiamus, o lombo de cabrito assado. Ao atingir a sobremesa o mau humor do grande homem se dissolvera; tornara-se amável e fitava o casal com simpatia (e o filho do casal, néscio e silencioso, cara de palerma porém respeitável parceiro). Sincero nos elogios ao almoço e nos agradecimentos à dona da casa, faz-se cauteloso na resposta ao indiscreto anfitrião:
- O problema, hum…Estou começando a formar opinião mas é cedo para qualquer afirmação. Quero reflectir sobre alguns detalhes, antes de formular parecer.
Doutor Franklin não se deixa enganar. O mestre pedira-lhe relato minucioso, crivara-o de perguntas, não deixara fio solto, estudara os livros antigos e examinara os documentos recentes. Balançando a cabeçorra, encomendara certidões a Bonaparte, queria levá-las consigo. Por fim sorrira, ladino, e doutor Franklin ficou certo de que o mestre havia encontrado a solução, pois existe uma solução capaz de resolver o impasse, beneficiando a Brastânio e se ele pobre tabelião do interior, a descobrira, como iria escapar à experiência do grande advogado? Não se surpreende com a reserva do conviva, por que haveria de por as cartas na mesa, revelar seus trunfos?
Doutor Colombo suspira ao provar a primeira colherada de ambrósia: incomparável! Ainda no prazer da degustação, passa a comandar as perguntas, em busca de informações sobre os próceres de Agreste:
- O candidato a Perfeito, que tal?
- Um moço honrado.
Fugaz sombra de dúvida transparece nos olhos do doutor Colombo, logo se apaga.
- Refiro-me ao rapaz que é o candidato da Brastânio, chamado… - retira um papel do bolso, lê a anotação, - … Ascânio Trindade. Esteve recentemente em Salvador.
Esse mesmo. Não sabia que fosse candidato da Brastânio. Maneira de falar. Assim me expressei porque esse moço, revelando-se administrador de visão, demonstrou publicamente ser favorável à instalação da Brastânio no município. É natural que a Brastânio veja a sua candidatura com simpatia. Nada além disso.
A explicação não convence doutor Franklin, cada vez mais apreensivo: nos últimos dias ouvira surpreendentes comentários a respeito de Ascânio. Diziam-no muito mudado, após a viagem à capital. Falando grosso, cheio de si, ditando regras. Doutor Marcolino Pitombo se referia a golpe de baú. Realmente, segundo doutor Marcolino apurara, Ascânio arrasta a asa à paulista rica, enteada de dona Antonieta Cantarelli. Que haverá de verdade em toda essa boataria?
Falar da vida alheia sempre fora a diversão principal da cidade mas, com o debate sobre a indústria de titânio, os mexericos impregnaram-se de maldade, deixando de ser risonhos ou apimentados para se tornarem cínicos e impiedosos. Talvez Ascânio continuasse o mesmo de antes, moço honesto e direito empolgado com a possibilidade de grandes progressos para o município resultantes da instalação da fábrica.
Tendo sido amigo do falecido Leovigildo, pai de Ascânio, o tabelião estimava o rapaz entusiasta e trabalhador. Quando o coronel Artur de Tapitanga propusera seu nome para Prefeito na vaga aberta com a morte do doutor Enoch, aplaudira a escolha. Não só ele, toda a população. De repente, Ascânio surge candidato da Brastânio e mestre Colombo parece ter razões para pôr em dúvidas a sua honestidade.
Repetindo farta porção de ambrósia, o eminente catedrático indaga:
- Segundo entendi, a eleição desse moço é coisa pacífica, concorre sozinho, não apareceram outros candidatos, não é mesmo?
- Até ao momento é o único. É verdade que candidatura propriamente dita não existe, pois a data da eleição ainda não foi marcada.
- Engana-se o caro amigo. A data da eleição acaba de ser marcada. Na reunião de ontem do Tribunal Eleitoral.
Um arrepio percorre a espinha do doutor Franklin. Lera num jornal da capital referência ao interesse da Brastânio pela eleição para a Prefeitura de Agreste. Pressionava o Tribunal para marcar a data. Antigamente ninguém se preocupava com as eleições no perdido município, feudo imemorial do coronel Artur de Tapitanga. Outra força política se levanta agora, tão poderosa a ponto de trazer a Agreste, a seu serviço, o próprio professor Hélio Colombo, invencível nos tribunais e ao que se vê, na mesa.
Bonaparte, derrotado, abandona a competição, cruza os talheres. O egrégio mestre é parada: impávido, ataca o doce de araça, guloseima hoje tão rara, tão difícil de encontrar-se quanto um homem honrado, meu caro tabelião.
EPISÓDIO Nº 265
DAS PRECIOSAS RARIDADES
Enquanto a esposa se desculpa por não servir almoço digno do convivo famoso, doutor Franklin semeia verde para colher maduro:
- Para o mestre, evidentemente, não existe problema difícil. Mas esse, do coqueiral, é uma embrulhada dos demónios, pois não? Se não fosse a intransigência de Fidélio, ou melhor dito, do Comandante… Já vislumbrou saída, mestre?
Doutor Hélio Colombo suspende a garfada:
- Minha cara senhora, se este banquete é o trivial da casa, como será um almoço de festa? Estou me regalando minha senhora.
De toda a viagem, aquela foi a boa lembrança conservada pelo advogado: a mesa de fartura e requinte. Os pitus, o peixe ensopado, a frigideira de guaiamus, o lombo de cabrito assado. Ao atingir a sobremesa o mau humor do grande homem se dissolvera; tornara-se amável e fitava o casal com simpatia (e o filho do casal, néscio e silencioso, cara de palerma porém respeitável parceiro). Sincero nos elogios ao almoço e nos agradecimentos à dona da casa, faz-se cauteloso na resposta ao indiscreto anfitrião:
- O problema, hum…Estou começando a formar opinião mas é cedo para qualquer afirmação. Quero reflectir sobre alguns detalhes, antes de formular parecer.
Doutor Franklin não se deixa enganar. O mestre pedira-lhe relato minucioso, crivara-o de perguntas, não deixara fio solto, estudara os livros antigos e examinara os documentos recentes. Balançando a cabeçorra, encomendara certidões a Bonaparte, queria levá-las consigo. Por fim sorrira, ladino, e doutor Franklin ficou certo de que o mestre havia encontrado a solução, pois existe uma solução capaz de resolver o impasse, beneficiando a Brastânio e se ele pobre tabelião do interior, a descobrira, como iria escapar à experiência do grande advogado? Não se surpreende com a reserva do conviva, por que haveria de por as cartas na mesa, revelar seus trunfos?
Doutor Colombo suspira ao provar a primeira colherada de ambrósia: incomparável! Ainda no prazer da degustação, passa a comandar as perguntas, em busca de informações sobre os próceres de Agreste:
- O candidato a Perfeito, que tal?
- Um moço honrado.
Fugaz sombra de dúvida transparece nos olhos do doutor Colombo, logo se apaga.
- Refiro-me ao rapaz que é o candidato da Brastânio, chamado… - retira um papel do bolso, lê a anotação, - … Ascânio Trindade. Esteve recentemente em Salvador.
Esse mesmo. Não sabia que fosse candidato da Brastânio. Maneira de falar. Assim me expressei porque esse moço, revelando-se administrador de visão, demonstrou publicamente ser favorável à instalação da Brastânio no município. É natural que a Brastânio veja a sua candidatura com simpatia. Nada além disso.
A explicação não convence doutor Franklin, cada vez mais apreensivo: nos últimos dias ouvira surpreendentes comentários a respeito de Ascânio. Diziam-no muito mudado, após a viagem à capital. Falando grosso, cheio de si, ditando regras. Doutor Marcolino Pitombo se referia a golpe de baú. Realmente, segundo doutor Marcolino apurara, Ascânio arrasta a asa à paulista rica, enteada de dona Antonieta Cantarelli. Que haverá de verdade em toda essa boataria?
Falar da vida alheia sempre fora a diversão principal da cidade mas, com o debate sobre a indústria de titânio, os mexericos impregnaram-se de maldade, deixando de ser risonhos ou apimentados para se tornarem cínicos e impiedosos. Talvez Ascânio continuasse o mesmo de antes, moço honesto e direito empolgado com a possibilidade de grandes progressos para o município resultantes da instalação da fábrica.
Tendo sido amigo do falecido Leovigildo, pai de Ascânio, o tabelião estimava o rapaz entusiasta e trabalhador. Quando o coronel Artur de Tapitanga propusera seu nome para Prefeito na vaga aberta com a morte do doutor Enoch, aplaudira a escolha. Não só ele, toda a população. De repente, Ascânio surge candidato da Brastânio e mestre Colombo parece ter razões para pôr em dúvidas a sua honestidade.
Repetindo farta porção de ambrósia, o eminente catedrático indaga:
- Segundo entendi, a eleição desse moço é coisa pacífica, concorre sozinho, não apareceram outros candidatos, não é mesmo?
- Até ao momento é o único. É verdade que candidatura propriamente dita não existe, pois a data da eleição ainda não foi marcada.
- Engana-se o caro amigo. A data da eleição acaba de ser marcada. Na reunião de ontem do Tribunal Eleitoral.
Um arrepio percorre a espinha do doutor Franklin. Lera num jornal da capital referência ao interesse da Brastânio pela eleição para a Prefeitura de Agreste. Pressionava o Tribunal para marcar a data. Antigamente ninguém se preocupava com as eleições no perdido município, feudo imemorial do coronel Artur de Tapitanga. Outra força política se levanta agora, tão poderosa a ponto de trazer a Agreste, a seu serviço, o próprio professor Hélio Colombo, invencível nos tribunais e ao que se vê, na mesa.
Bonaparte, derrotado, abandona a competição, cruza os talheres. O egrégio mestre é parada: impávido, ataca o doce de araça, guloseima hoje tão rara, tão difícil de encontrar-se quanto um homem honrado, meu caro tabelião.
JOSÈ SARAMAGO E O LIVRO DE CAIM
Acabei de ouvir a entrevista de Judite de Sousa, na RTP1, a José Saramago e li as notícias que apareceram nos jornais a propósito do livro sobre Caim e, sobretudo, das declarações que o autor produziu sobre a Bíblia, Antigo Testamento.
Disse Saramago:
- «A Bíblia é um manual de maus costumes, um catálogo de crueldade e do pior da natureza humana» e acrescentou:
- «Passou mil anos, dezenas de gerações a ser escrita, mas sempre sob a dominante de um Deus cruel, invejoso, insuportável. É uma loucura. O Corão que foi escrito só em trinta anos, é a mesma coisa. Imaginar que o Corão e a Bíblia são de inspiração divina? Francamente. Como? Que canal de comunicação tinham Maomé ou os redactores da Bíblia com Deus? É absurdo. Nós somos manipulados e enganados desde que nascemos.»
Desculpem-me, mas toda esta polémica na sequência destas afirmações, embora eu a compreenda e até a ache previsível, é inusitada, faz pouco sentido.
Eu sou leitor de José Saramago, por coincidência estava a lê-lo nas minhas férias em Espanha, quando o Prémio Nobel lhe foi atribuído.
Entre outros livros dele, li “ O Evangelho Segundo Jesus Cristo”, que eu “senti” como um texto de grande sensibilidade humana e, muito provavelmente, lerei igualmente o Caim.
Quem tenha passado por este blog sabe que eu, embora tenha nascido no seio de uma família católica, religião que recebi como uma herança e na qual fui educado, frequentando, inclusivamente, colégio de jesuítas onde recebi todos os sacramentos, hoje não sou crente e embora reconheça como uma evidência a importância das religiões não deixo de as responsabilizar por terem sido ao longo da história e continuarem a ser, factores de separação, ódios, guerras e crueldades entre os homens.
Mas aprendi, e devo isso a Richard Dawkins, que a crença ou a fé, como lhe quiserem chamar, está inscrita num determinado espaço do nosso cérebro porque numa determinada fase da nossa evolução, o “acto” de acreditar foi muito importante, talvez mesmo decisivo para a nossa sobrevivência.
Aqui, como em tudo o resto, a selecção natural de Charles Darwin, encarregou-se do resto. Aqueles que na infância não acreditaram e não cumpriram disciplinadamente as recomendações dos progenitores e dos mais velhos do grupo não sobreviveram e foram ficando pelo caminho…sobreviveram os que acreditaram…: que não deviam abeirar-se do rio porque os crocodilos os esperavam escondidos, aproximarem-se dos precipícios porque podiam cair ou não comerem esta ou aquela planta que era venenosa… e por aqui fora.
Inevitavelmente, também acreditaram que se cortassem as goelas a uma cabra iria chover ou a caçada iria correr bem, etc… e, de acreditar em acreditar, muito mais tarde, chegámos às religiões pois o fenómeno da crença era um filão que fatalmente seria aproveitado, tanto mais que o "dispositivo" do acreditar fica-se por aí: não nos diz em quê. Ficámos à sua mercê, entregues à nossa responsabilidade. Em termos
Disse Saramago:
- «A Bíblia é um manual de maus costumes, um catálogo de crueldade e do pior da natureza humana» e acrescentou:
- «Passou mil anos, dezenas de gerações a ser escrita, mas sempre sob a dominante de um Deus cruel, invejoso, insuportável. É uma loucura. O Corão que foi escrito só em trinta anos, é a mesma coisa. Imaginar que o Corão e a Bíblia são de inspiração divina? Francamente. Como? Que canal de comunicação tinham Maomé ou os redactores da Bíblia com Deus? É absurdo. Nós somos manipulados e enganados desde que nascemos.»
Desculpem-me, mas toda esta polémica na sequência destas afirmações, embora eu a compreenda e até a ache previsível, é inusitada, faz pouco sentido.
Eu sou leitor de José Saramago, por coincidência estava a lê-lo nas minhas férias em Espanha, quando o Prémio Nobel lhe foi atribuído.
Entre outros livros dele, li “ O Evangelho Segundo Jesus Cristo”, que eu “senti” como um texto de grande sensibilidade humana e, muito provavelmente, lerei igualmente o Caim.
Quem tenha passado por este blog sabe que eu, embora tenha nascido no seio de uma família católica, religião que recebi como uma herança e na qual fui educado, frequentando, inclusivamente, colégio de jesuítas onde recebi todos os sacramentos, hoje não sou crente e embora reconheça como uma evidência a importância das religiões não deixo de as responsabilizar por terem sido ao longo da história e continuarem a ser, factores de separação, ódios, guerras e crueldades entre os homens.
Mas aprendi, e devo isso a Richard Dawkins, que a crença ou a fé, como lhe quiserem chamar, está inscrita num determinado espaço do nosso cérebro porque numa determinada fase da nossa evolução, o “acto” de acreditar foi muito importante, talvez mesmo decisivo para a nossa sobrevivência.
Aqui, como em tudo o resto, a selecção natural de Charles Darwin, encarregou-se do resto. Aqueles que na infância não acreditaram e não cumpriram disciplinadamente as recomendações dos progenitores e dos mais velhos do grupo não sobreviveram e foram ficando pelo caminho…sobreviveram os que acreditaram…: que não deviam abeirar-se do rio porque os crocodilos os esperavam escondidos, aproximarem-se dos precipícios porque podiam cair ou não comerem esta ou aquela planta que era venenosa… e por aqui fora.
Inevitavelmente, também acreditaram que se cortassem as goelas a uma cabra iria chover ou a caçada iria correr bem, etc… e, de acreditar em acreditar, muito mais tarde, chegámos às religiões pois o fenómeno da crença era um filão que fatalmente seria aproveitado, tanto mais que o "dispositivo" do acreditar fica-se por aí: não nos diz em quê. Ficámos à sua mercê, entregues à nossa responsabilidade. Em termos
da nova tecnologia, a "natureza" colocou-nos o Hardware tendo ficado por nossa conta o Software.
Mas voltemos ao Caim e ao José Saramago. Sendo a crença uma necessidade do nosso cérebro ela torna-se imprescindível para o nosso equilíbrio mental, sobrevivência mesmo, e tudo o que a ela estiver ligado ou fizer parte dessa crença, assume a qualidade de sagrado que é a melhor forma de defendermos o que é essencial para a nossa vida.
Sagrado, significa: inquestionável, indiscutível, intocável e é isto que é A Bíblia para os cristãos ou o Corão para os seguidores de Maomé.
É indiferente o que lá está escrito ou deixa de estar, a maioria esmagadora dos católicos nunca a leu nem lerá, nem isso é importante. A “letra” a que se refere Saramago, é indiferente.
Por isso, o que acontece entre Saramago e os seus abespinhados críticos, é “uma conversa de surdos e mudos”.
Saramago diz: «… mas o que lá está escrito é isto» e os homens da Igreja respondem: «nós é que sabemos o que lá está escrito porque aquele texto é a “palavra” de Deus e nós é que interpretamos essa “palavra”»
As religiões assentam na fé e a fé consiste em dogmas que estão fora ou para além da razão: acredita-se ou não se acredita: é assim que funciona. Toda a discussão é inútil, leva ao exacerbar das paixões e, neste caso concreto, também à venda de muitos mais livros.
As declarações de José Saramago sobre a Bíblia são conclusões estritas, óbvias, do que lá está relatado e eu que já li essas “passagens” posso confirmá-lo como qualquer outra pessoa que simplesmente saiba ler. No entanto, para mim, A Bíblia, não é coisa sagrada, não tenho que a defender para além do racional e da minha capacidade de entendimento.
As acusações de José Saramago sobre A Bíblia e de outras que não fez por pudor, não acrescentam nem alteram nada para além do que lá está escrito e por isso ele podia não as ter feito. Se estivéssemos no tempo da Inquisição ele não só não as teria dito como nem sequer teria escrito o livro. Ele próprio a firmou que a sua coragem não teria chegado para tanto mas esses riscos já lá vão, passaram à história: agora, o “risco” que corre será o de vender mais livros.
Mas voltemos ao Caim e ao José Saramago. Sendo a crença uma necessidade do nosso cérebro ela torna-se imprescindível para o nosso equilíbrio mental, sobrevivência mesmo, e tudo o que a ela estiver ligado ou fizer parte dessa crença, assume a qualidade de sagrado que é a melhor forma de defendermos o que é essencial para a nossa vida.
Sagrado, significa: inquestionável, indiscutível, intocável e é isto que é A Bíblia para os cristãos ou o Corão para os seguidores de Maomé.
É indiferente o que lá está escrito ou deixa de estar, a maioria esmagadora dos católicos nunca a leu nem lerá, nem isso é importante. A “letra” a que se refere Saramago, é indiferente.
Por isso, o que acontece entre Saramago e os seus abespinhados críticos, é “uma conversa de surdos e mudos”.
Saramago diz: «… mas o que lá está escrito é isto» e os homens da Igreja respondem: «nós é que sabemos o que lá está escrito porque aquele texto é a “palavra” de Deus e nós é que interpretamos essa “palavra”»
As religiões assentam na fé e a fé consiste em dogmas que estão fora ou para além da razão: acredita-se ou não se acredita: é assim que funciona. Toda a discussão é inútil, leva ao exacerbar das paixões e, neste caso concreto, também à venda de muitos mais livros.
As declarações de José Saramago sobre a Bíblia são conclusões estritas, óbvias, do que lá está relatado e eu que já li essas “passagens” posso confirmá-lo como qualquer outra pessoa que simplesmente saiba ler. No entanto, para mim, A Bíblia, não é coisa sagrada, não tenho que a defender para além do racional e da minha capacidade de entendimento.
As acusações de José Saramago sobre A Bíblia e de outras que não fez por pudor, não acrescentam nem alteram nada para além do que lá está escrito e por isso ele podia não as ter feito. Se estivéssemos no tempo da Inquisição ele não só não as teria dito como nem sequer teria escrito o livro. Ele próprio a firmou que a sua coragem não teria chegado para tanto mas esses riscos já lá vão, passaram à história: agora, o “risco” que corre será o de vender mais livros.
quarta-feira, outubro 21, 2009
TIETA DO AGRESTE
EPISÓDIO Nº 264
DA EGRÉGIA FIGURA
Logo após a passagem pelas ruas de Agreste da volumosa e suarenta imponência do doutor Hélio Colombo, os acontecimentos se precipitaram, adquirindo vertiginoso ritmo, envolvendo o pacato burgo em confusão e reboliço.
Foi das mais breves, todavia, a estada da egrégia figura. Demorou-se apenas algumas horas, contados cidadãos travaram conhecimento com o grande jurisconsulto e souberam quais os motivos a conduzi-lo àquelas desprovidas lonjuras. Nem por isso se pode diminuir a significação e negar as consequências da histórica viagem, pois no encontro do doutor Colombo com Ascânio Trindade na sala de despachos da Prefeitura reside a explicação de todo o atropelo posterior, da pressa, da violência, do desespero. Dias de tumulto e espanto. Em menos de duas semanas, o povo assistiu a eventos, tantos e tamanhos, que até pareceu ter chegado o fim do mundo, cumprindo-se, afinal, a profecia do beato Possidónio.
O ruído inusitado de um automóvel estancando em frente ao cartório trouxe o doutor Franklin à porta, a tempo de observar e reconhecer o glorioso mestre na rude tarefa de extrair do assento do carro o vasto corpanzil, com a ajuda do chofer. O tabelião arregalou os olhos: bendito coqueiral, valha-nos Deus! Dessa vez quem se aventura nas precárias estradas do sertão não é nenhum reles advogado de Esplanada ou Feira, nenhum velho caixeiro das terras do cacau. Diante do tabelião ergue-se, entre resmungos, a vasta humanidade do doutor Hélio Colombo, cento e tantos quilos de astúcia e saber. Doutor Franklin adianta-se, estende a mão, efusivo e bisbilhoteiro:
- Bem - vindo a Sant’Ana do Agreste, augusto mestre! Doutor Franklin Lins, tabelião, criado às ordens. A que devemos a honra de tão ilustre visita?
O catedrático emérito da Faculdade de Direito da Universidade Federal da Baía, chefe do maior escritório de advocacia do Estado, corresponde ao aperto de mão mas, decepcionando a curiosidade do amável concidadão, não formula declaração sensacional, digna de sua fama, nem esboça gesto capaz de caracterizar o rumo dos acontecimentos que irão abalar a cidade e o município. Bufa e geme:
- Obrigado, caro colega. Sinto que depois desta viagem jamais voltarei a ser o mesmo. Tenho a alma envolta em poeira. Para sempre.
Sacode o paletó, metros e metros da melhor casimira inglesa, limpa o rosto inundado de suor, olha em volta com tristeza: os canalhas da Brastânio pagarão caro. Não se trata de ameaça vâ. Tarefas desse tipo que não estão incluídas no acordo de consultadoria jurídica. Maldito Mirko, a exigir que ele viesse em pessoa examinar o problema e encontrar-lhe solução, prometendo atraente secretária para amenizar a viagem, elogiando a beleza do lugar. A atraente não apareceu na hora da partida, o lugar é uma tapera e a estrada, porra! Ah! esse último trecho do caminho… Cobrará cada metro, cada buraco, cada solavanco, a ausência da secretária, o suor, a poeira, a sede, o acerbo desconforto.
Depois do aperto de mão doutor Franklin arrisca:
- Se mal pergunto a presença do mestre deve-se à amenidade do clima ou veio a Agreste trazido por interesses profissionais? Mas entre, por favor.
- Antes me esclareça, caro colega: cerveja gelada, existe por aqui? – parecia duvidar – Se por milagre existe, indique-me onde. Estou morrendo de sede.
- No bar.
- Mostre-me o caminho.
- Entre e sente-se, mestre. Eu mando buscar a cerveja. Volta-se para gritar por Bonaparte, descobre o filho atrás da porta, de ouvido atento.
- Corra ao bar, traga umas garrafas de cerveja, bem geladas. Num abrir e fechar de olhos. Voando.
Lento por natureza, o rotundo Bonaparte, na aurora dos novos tempos, revela-se à altura da situação. Seguido pelo chofer, parte em passo acelerado, retorna botando os bofes pela boca. Assim age não apenas em obediência ao pai mas sobretudo para não perder detalhe da visita do ínclito advogado, merecedor de tantos rapapés. Que outro interesse profissional poderia trazer a Agreste o famigerado causídico, a não ser o coqueiral de tantos herdeiros, quem poderia ser constituinte de mestre Colombo senão a Brastânio? Bonaparte é amigo leal, devotado cúmplice: doutor Marcolino colabora com louvável generosidade para os parcos vícios do jovem escrivão – cigarros, batidas, raparigas. Bonaparte busca corresponder a tais provas de consideração
Logo após a passagem pelas ruas de Agreste da volumosa e suarenta imponência do doutor Hélio Colombo, os acontecimentos se precipitaram, adquirindo vertiginoso ritmo, envolvendo o pacato burgo em confusão e reboliço.
Foi das mais breves, todavia, a estada da egrégia figura. Demorou-se apenas algumas horas, contados cidadãos travaram conhecimento com o grande jurisconsulto e souberam quais os motivos a conduzi-lo àquelas desprovidas lonjuras. Nem por isso se pode diminuir a significação e negar as consequências da histórica viagem, pois no encontro do doutor Colombo com Ascânio Trindade na sala de despachos da Prefeitura reside a explicação de todo o atropelo posterior, da pressa, da violência, do desespero. Dias de tumulto e espanto. Em menos de duas semanas, o povo assistiu a eventos, tantos e tamanhos, que até pareceu ter chegado o fim do mundo, cumprindo-se, afinal, a profecia do beato Possidónio.
O ruído inusitado de um automóvel estancando em frente ao cartório trouxe o doutor Franklin à porta, a tempo de observar e reconhecer o glorioso mestre na rude tarefa de extrair do assento do carro o vasto corpanzil, com a ajuda do chofer. O tabelião arregalou os olhos: bendito coqueiral, valha-nos Deus! Dessa vez quem se aventura nas precárias estradas do sertão não é nenhum reles advogado de Esplanada ou Feira, nenhum velho caixeiro das terras do cacau. Diante do tabelião ergue-se, entre resmungos, a vasta humanidade do doutor Hélio Colombo, cento e tantos quilos de astúcia e saber. Doutor Franklin adianta-se, estende a mão, efusivo e bisbilhoteiro:
- Bem - vindo a Sant’Ana do Agreste, augusto mestre! Doutor Franklin Lins, tabelião, criado às ordens. A que devemos a honra de tão ilustre visita?
O catedrático emérito da Faculdade de Direito da Universidade Federal da Baía, chefe do maior escritório de advocacia do Estado, corresponde ao aperto de mão mas, decepcionando a curiosidade do amável concidadão, não formula declaração sensacional, digna de sua fama, nem esboça gesto capaz de caracterizar o rumo dos acontecimentos que irão abalar a cidade e o município. Bufa e geme:
- Obrigado, caro colega. Sinto que depois desta viagem jamais voltarei a ser o mesmo. Tenho a alma envolta em poeira. Para sempre.
Sacode o paletó, metros e metros da melhor casimira inglesa, limpa o rosto inundado de suor, olha em volta com tristeza: os canalhas da Brastânio pagarão caro. Não se trata de ameaça vâ. Tarefas desse tipo que não estão incluídas no acordo de consultadoria jurídica. Maldito Mirko, a exigir que ele viesse em pessoa examinar o problema e encontrar-lhe solução, prometendo atraente secretária para amenizar a viagem, elogiando a beleza do lugar. A atraente não apareceu na hora da partida, o lugar é uma tapera e a estrada, porra! Ah! esse último trecho do caminho… Cobrará cada metro, cada buraco, cada solavanco, a ausência da secretária, o suor, a poeira, a sede, o acerbo desconforto.
Depois do aperto de mão doutor Franklin arrisca:
- Se mal pergunto a presença do mestre deve-se à amenidade do clima ou veio a Agreste trazido por interesses profissionais? Mas entre, por favor.
- Antes me esclareça, caro colega: cerveja gelada, existe por aqui? – parecia duvidar – Se por milagre existe, indique-me onde. Estou morrendo de sede.
- No bar.
- Mostre-me o caminho.
- Entre e sente-se, mestre. Eu mando buscar a cerveja. Volta-se para gritar por Bonaparte, descobre o filho atrás da porta, de ouvido atento.
- Corra ao bar, traga umas garrafas de cerveja, bem geladas. Num abrir e fechar de olhos. Voando.
Lento por natureza, o rotundo Bonaparte, na aurora dos novos tempos, revela-se à altura da situação. Seguido pelo chofer, parte em passo acelerado, retorna botando os bofes pela boca. Assim age não apenas em obediência ao pai mas sobretudo para não perder detalhe da visita do ínclito advogado, merecedor de tantos rapapés. Que outro interesse profissional poderia trazer a Agreste o famigerado causídico, a não ser o coqueiral de tantos herdeiros, quem poderia ser constituinte de mestre Colombo senão a Brastânio? Bonaparte é amigo leal, devotado cúmplice: doutor Marcolino colabora com louvável generosidade para os parcos vícios do jovem escrivão – cigarros, batidas, raparigas. Bonaparte busca corresponder a tais provas de consideração
terça-feira, outubro 20, 2009
FELIZ ANIVERSÁRIO...
Era o meu 39º aniversário e o meu humor não estava grande coisa. Nessa manhã, ao levantar-me, dirigi-me à sala para beber o café na expectativa que o meu marido dissesse:
-“Feliz aniversário, querida!”… mas ele não disse nada.
- “Este é o homem que eu mereço!”… pensei eu.
...mas continuei a sonhar:
- “As crianças, certamente, lembrar-se-ão…” mas quando chegaram para beber o café também não disseram nada.
Saí bastante desalentada mas senti-me um pouco melhor quando ao entrar no meu local de trabalho o estagiário me disse:
- “Bom dia Drª… Feliz Aniversário!”
Finalmente, alguém se havia lembrado!
Trabalhei até ao meio-dia quando o estagiário entrou no meu gabinete e me disse:
- “Sabe, Drª Promotora…está um dia lindo lá fora e já que é o dia do seu aniversário poderíamos almoçar juntos, só a senhora e eu, que acha?
Achei a ideia excelente, e fomos a um lugar bastante reservado. Divertimo-nos bastante e no caminho de regresso ele sugeriu:
- “Drª…com este dia tão lindo, acho que não devíamos voltar ao trabalho… vamos até ao meu apartamento e tomaremos uma bebida.
Fomos, então, para o apartamento dele e enquanto saboreava um Martini, ele disse:
- “Se não se importa, eu vou até ao meu quarto vestir uma roupa mais confortável”.
- “Tudo bem”… respondi: “Fique à vontade…”
Decorridos mais ou menos uns cinco minutos ele saiu do quarto e entrou na sala com um enorme Bolo de Aniversário… seguido do meu marido, dos meus filhos, amigas e todo o pessoal de escritório…cantando os Parabéns a Você!!!.
E…lá estava eu…sem sutiã, sem calcinha, sentada no sofá da sala!...
É por isso que eu sempre digo:
- “Estagiário…só faz merda!”
Era o meu 39º aniversário e o meu humor não estava grande coisa. Nessa manhã, ao levantar-me, dirigi-me à sala para beber o café na expectativa que o meu marido dissesse:
-“Feliz aniversário, querida!”… mas ele não disse nada.
- “Este é o homem que eu mereço!”… pensei eu.
...mas continuei a sonhar:
- “As crianças, certamente, lembrar-se-ão…” mas quando chegaram para beber o café também não disseram nada.
Saí bastante desalentada mas senti-me um pouco melhor quando ao entrar no meu local de trabalho o estagiário me disse:
- “Bom dia Drª… Feliz Aniversário!”
Finalmente, alguém se havia lembrado!
Trabalhei até ao meio-dia quando o estagiário entrou no meu gabinete e me disse:
- “Sabe, Drª Promotora…está um dia lindo lá fora e já que é o dia do seu aniversário poderíamos almoçar juntos, só a senhora e eu, que acha?
Achei a ideia excelente, e fomos a um lugar bastante reservado. Divertimo-nos bastante e no caminho de regresso ele sugeriu:
- “Drª…com este dia tão lindo, acho que não devíamos voltar ao trabalho… vamos até ao meu apartamento e tomaremos uma bebida.
Fomos, então, para o apartamento dele e enquanto saboreava um Martini, ele disse:
- “Se não se importa, eu vou até ao meu quarto vestir uma roupa mais confortável”.
- “Tudo bem”… respondi: “Fique à vontade…”
Decorridos mais ou menos uns cinco minutos ele saiu do quarto e entrou na sala com um enorme Bolo de Aniversário… seguido do meu marido, dos meus filhos, amigas e todo o pessoal de escritório…cantando os Parabéns a Você!!!.
E…lá estava eu…sem sutiã, sem calcinha, sentada no sofá da sala!...
É por isso que eu sempre digo:
- “Estagiário…só faz merda!”
TIETA DO AGRESTE
EPÍLOGO
EPÍLOGO
DA POLUIÇÃO DO PARAÍSO TERRESTRE PELO DIÓXIDO DE TITÂNIO OU O BORDÂO DA PASTORA
CONTENDO MINUCIOSO, EMPOLGANTE E COMOVENTE RELATO DOS ÚLTIMOS DIAS DE ESTADA DAS PAULISTAS EM AGRESTE, QUANDO SE SABE DA AMBIÇÃO HUMANA, DA SEDE DE PODER E DE COMO O PODER CORROMPE, COM REFERÊNCIAS À CORRUPÇÃO REINANTE; ONDE OCORREM LÁGRIMAS E EXPLODEM RISOS, ALGUNS AMARGOS, PLANTAM-SE E COLHEM-SE CHIFRES, EM ABUNDANTE SAFRA, E SÃO PROCLAMADAS AS ALEGRIAS E AS TRISTEZAS DO AMOR, CHEGANDO-SE A DURAS PENAS AO FIM DA HISTÓRIA, COM DIREITO A FANTÁSTICA VIAGEM NA MARINETE DE JAIRO AO SOM DO RÁDIO RUSSO.
(Por outras palavras: Como em todas as histórias, a parte final que se segue é sempre a mais emocionante...)
segunda-feira, outubro 19, 2009
Lembranças da Guerra de Angola
Sejamos sinceros, abater o inimigo, os denominados terroristas, excluindo as populações que viviam fugidas no mato depois das matanças de Março de 1961, era um objectivo quase inalcançável para os nossos soldados.
A sua preparação em termos de treino militar para a guerra de guerrilha não existira, o seu recrutamento não satisfizera nenhum critério de selecção pois com excepção dos cegos e coxos toda a gente era apurada para ir para a guerra.
Os motoristas, por exemplo, chegavam a Angola praticamente sem saberem guiar e uma percentagem enorme de feridos e mortos ocorreram em consequência de desastres de viação o que era até referido, com um certo orgulho pelos nossos comandos político/militares, para afirmarem a ineficácia do inimigo.
Especialmente depois das mortes ocorridas na emboscada que vitimou os meus colegas da Companhia 389, duas ou três semanas logo após a nossa chegada, o objectivo não era matar mas apenas não morrer.
Éramos apenas um exército de presença, de ocupação, que pretendia assegurar a defesa das populações, manter abertas as vias de comunicação e permitir, lentamente, o retomar das actividades económicas.
Para se ganhar a guerra, se ela tivesse uma vitória possível que não tinha, seria preciso um outro tipo de militares, profissionais da guerra sob todos os aspectos, homens seleccionados entre voluntários vocacionados e preparados para perseguir e combater os guerrilheiros.
Os responsáveis pela condução da guerra perceberam isto e ainda em 1962 iniciou-se a constituição de uma tropa de elite, os denominados Comandos, a partir de militares que se destacavam pelas suas aptidões e que eram convidados ou se ofereciam para receber um treino especial dado por um antigo sargento da Legião Estrangeira, um italiano de seu nome Dante Vachi, especialista em guerra subversiva com experiência nas guerras da Argélia e Indochina e que foi comandada, até à sua extinção, pelo então Capitão, mais tarde Coronel e hoje General, Jaime Neves.
Que não se pedisse mais aos nossos soldados, provenientes na sua maioria esmagadora, do meio rural sem nenhuma experiência de vida fora das suas aldeias, com as mãos mais habituadas ao cabo das enxadas do que à delicadeza do gatilho das espingardas metralhadoras, num meio hostil e completamente desconhecido.
Recordo um soldado meu, que quando juntamente com outros, mandei apear da viatura e fazer umas rajadas para a esquerda e direita de uma curva da estrada que mais à frente me pareceu suspeita, se pôs a rezar, ajoelhado, em vez de fazer os tiros como lhe tinha mandado. Até ao fim da comissão ficou com a alcunha do “Pai-Nosso”.
Outro, depois de chegar ao aquartelamento, no fim de uma escolta, confessava aos camaradas: …“tive tanto medo que não me cabia no cu a cabeça de um alfinete”. Também este ficou com a alcunha do “Cabeça de Alfinete”.
Consolava-nos a ideia de que o tempo jogava a nosso favor e que cada dia que passava era menos um que faltava para o regresso e, como costumávamos dizer para nos animarmos: o que era preciso “era acordar todos os dias com os dedos dos pés a mexer e a ramela ao canto do olho”.
Tivemos sorte, na zona do Úcua onde fomos colocados, em finais de 1962, não havia minas anti-carro nas picadas, nem anti-pessoais, o que aliviava enormemente a pressão psicológica do risco da morte e de ferimentos graves em consequência de um engenho destruidor que escondido nos trilhos das picadas era impossível de detectar.
Os nossos colegas, que mais a norte tinham de conviver com essa terrível realidade, punham sacos de areia no chão das viaturas, por baixo dos seus pés, para amortecer o impacto das explosões.
Sobraram para nós as emboscadas que felizmente, durante os nove meses que ainda ali estivemos, não se repetiram.
Inevitavelmente, quarenta e seis anos depois tudo se vai desvanecendo na memória: ficaram flashes que resistem teimosamente e uns senhores velhotes, muitos carecas e barrigudos, com os quais todos os anos almoço para lembrar que continuamos vivos.
“Para Angola, Depressa e em Força”: - Tinha sido esta a ordem de Salazar que no contexto de então, depois da mortandade cruel e generalizada de populações indefesas no norte de Angola, da responsabilidade da UPA (União dos Povos de Angola), se compreendia.
A continuação dessa guerra durante todos os anos que se seguiram até ao 25 de Abril é que demonstra uma teimosia política da responsabilidade de pessoas, ou de uma pequena e cada vez mais reduzida elite que dessa forma pensavam defender melhor os seus interesses.
Na realidade, a obstinação na guerra, traduziu-se em consequências trágicas para toda uma geração de portugueses e angolanos que foram os grandes sacrificados deste período histórico que, a partir de agora, começa finalmente a ser enterrado.
Sejamos sinceros, abater o inimigo, os denominados terroristas, excluindo as populações que viviam fugidas no mato depois das matanças de Março de 1961, era um objectivo quase inalcançável para os nossos soldados.
A sua preparação em termos de treino militar para a guerra de guerrilha não existira, o seu recrutamento não satisfizera nenhum critério de selecção pois com excepção dos cegos e coxos toda a gente era apurada para ir para a guerra.
Os motoristas, por exemplo, chegavam a Angola praticamente sem saberem guiar e uma percentagem enorme de feridos e mortos ocorreram em consequência de desastres de viação o que era até referido, com um certo orgulho pelos nossos comandos político/militares, para afirmarem a ineficácia do inimigo.
Especialmente depois das mortes ocorridas na emboscada que vitimou os meus colegas da Companhia 389, duas ou três semanas logo após a nossa chegada, o objectivo não era matar mas apenas não morrer.
Éramos apenas um exército de presença, de ocupação, que pretendia assegurar a defesa das populações, manter abertas as vias de comunicação e permitir, lentamente, o retomar das actividades económicas.
Para se ganhar a guerra, se ela tivesse uma vitória possível que não tinha, seria preciso um outro tipo de militares, profissionais da guerra sob todos os aspectos, homens seleccionados entre voluntários vocacionados e preparados para perseguir e combater os guerrilheiros.
Os responsáveis pela condução da guerra perceberam isto e ainda em 1962 iniciou-se a constituição de uma tropa de elite, os denominados Comandos, a partir de militares que se destacavam pelas suas aptidões e que eram convidados ou se ofereciam para receber um treino especial dado por um antigo sargento da Legião Estrangeira, um italiano de seu nome Dante Vachi, especialista em guerra subversiva com experiência nas guerras da Argélia e Indochina e que foi comandada, até à sua extinção, pelo então Capitão, mais tarde Coronel e hoje General, Jaime Neves.
Que não se pedisse mais aos nossos soldados, provenientes na sua maioria esmagadora, do meio rural sem nenhuma experiência de vida fora das suas aldeias, com as mãos mais habituadas ao cabo das enxadas do que à delicadeza do gatilho das espingardas metralhadoras, num meio hostil e completamente desconhecido.
Recordo um soldado meu, que quando juntamente com outros, mandei apear da viatura e fazer umas rajadas para a esquerda e direita de uma curva da estrada que mais à frente me pareceu suspeita, se pôs a rezar, ajoelhado, em vez de fazer os tiros como lhe tinha mandado. Até ao fim da comissão ficou com a alcunha do “Pai-Nosso”.
Outro, depois de chegar ao aquartelamento, no fim de uma escolta, confessava aos camaradas: …“tive tanto medo que não me cabia no cu a cabeça de um alfinete”. Também este ficou com a alcunha do “Cabeça de Alfinete”.
Consolava-nos a ideia de que o tempo jogava a nosso favor e que cada dia que passava era menos um que faltava para o regresso e, como costumávamos dizer para nos animarmos: o que era preciso “era acordar todos os dias com os dedos dos pés a mexer e a ramela ao canto do olho”.
Tivemos sorte, na zona do Úcua onde fomos colocados, em finais de 1962, não havia minas anti-carro nas picadas, nem anti-pessoais, o que aliviava enormemente a pressão psicológica do risco da morte e de ferimentos graves em consequência de um engenho destruidor que escondido nos trilhos das picadas era impossível de detectar.
Os nossos colegas, que mais a norte tinham de conviver com essa terrível realidade, punham sacos de areia no chão das viaturas, por baixo dos seus pés, para amortecer o impacto das explosões.
Sobraram para nós as emboscadas que felizmente, durante os nove meses que ainda ali estivemos, não se repetiram.
Inevitavelmente, quarenta e seis anos depois tudo se vai desvanecendo na memória: ficaram flashes que resistem teimosamente e uns senhores velhotes, muitos carecas e barrigudos, com os quais todos os anos almoço para lembrar que continuamos vivos.
“Para Angola, Depressa e em Força”: - Tinha sido esta a ordem de Salazar que no contexto de então, depois da mortandade cruel e generalizada de populações indefesas no norte de Angola, da responsabilidade da UPA (União dos Povos de Angola), se compreendia.
A continuação dessa guerra durante todos os anos que se seguiram até ao 25 de Abril é que demonstra uma teimosia política da responsabilidade de pessoas, ou de uma pequena e cada vez mais reduzida elite que dessa forma pensavam defender melhor os seus interesses.
Na realidade, a obstinação na guerra, traduziu-se em consequências trágicas para toda uma geração de portugueses e angolanos que foram os grandes sacrificados deste período histórico que, a partir de agora, começa finalmente a ser enterrado.
TIETA DO AGRESTE
EPISÓDIO Nº 263
A RIVAL DE DEUS
A ausência de Ricardo doía-lhe no corpo inteiro, da ponta dos pés à ponta dos encaracolados cabelos, em cada músculo, por dentro e por fora. Vazia e necessitada, sem jeito.
Pensara que jamais voltaria a sentir ânsia tamanha, desejo a roer as carnes, aflição a esmagar o peito. Sucedera uma vez, muitos anos antes, quando Lucas partira, fugindo de Agreste, sem deixar aviso ou endereço. Ao chegar, esfusiante, para a festa no leito de dona Eufrosina e do finado doutor Fulgêncio, na cálida maciez do colchão de lã de barriguda, deparara com a janela do quarto fechada sobre o beco e a paixão de adolescente deslumbrada e ávida.
Derrotada, perdida, demorara a espiar por entre as frestas da veneziana, buscando a sombra de um vulto, o ouvido encostado às tábuas, tentando perceber uma respiração. Quantas horas permanecera ali parada na noite morna, junto à janela, antes de arrastar-se enferma para a primeira solidão? Roída de desejo, querendo tê-lo e não podendo. Não voltara a suceder. Dali em diante fora sempre ela a não comparecer, a faltar ao encontro, a ausentar-se, a trancar janelas e porta. As portas do corpo e do coração.
Branco lençol de cambraia, colchão de barriguda encomendado em Estância, largo estrado propício aos embates extremos, cheiro de tinta fresca, tudo novo em folha para e festa da inauguração. Tieta velou, insone, na noite longa de não acabar, ouvindo a ventania sobre os cômoros e a arrebentação das vagas, outra vez sozinha e sem jeito, querendo ter e não podendo. No gozo de orações, cerimónias, afazeres de sacristia, Ricardo a esquece e abandona. Amante de tempo dividido, de coração dividido entre ela e Deus.
Não imaginou Ricardo dormindo com outra mulher, nada sabia de Maria Imaculada, acreditara piamente na desculpa rabiscada no bilhete entregue por dona Carmosina, no inventário dos bens da paróquia. As mulheres rondavam o seminarista, é certo, ela se dera conta. Despudorada, dona Edna não se preocupa sequer em esconder o jogo, ninfomaníaca, puta reles! Em se tratando de cama, porém, Tieta sente-se segura.
Homem algum, por mais inconstante ou mulherengo, a deixara por outra. Lucas fora o único a tomar a iniciativa de romper. Aos demais, sem excepção, ela abandonara apenas aos primeiros sintomas de cansaço, evitando o cortejo de brigas, rogos, acusações, mentiras e tristezas dos fins de romance. Ia-se embora abruptamente, apenas comprovava a sensação de fastio, Para conservar íntegra a recordação da aventura, para ter saudades, quanto mais melhor. Paixões, rabichos, chamegos, xodós, rápidos ou prolongados, românticos ou lascivos, não passam, todos eles, de perecíveis aventuras, o que não os impede de ser cada um deles, em certo momento, o amor exclusivo, único, definitivo e imortal.
Ricardo é o amor único e exclusivo, definitivo e imortal, nunca teve outro, nem terá. Precisa dele ali, naquele instante, imediatamente e sem falta. O desejo roendo as carnes, o orgulho machucado. Nem por considerar fora de cogitação, por impossível, qualquer enredo de cama, nem por isso Tieta se sente menos ofendida e abandonada. Vazia e necessitada, atravessou a noite mais longa da sua vida, aquela que deveria ter sido a mais alegre e plena.
Quando, por fim, adormeceu, teve um pesadelo atroz. Sob o céu negro, no mar podre, cemitério de peixes e caranguejos, boiavam destroços do Curral do Bode Inácio e das choupanas dos pescadores. Na extinta linha do horizonte, vislumbrou Ricardo, glorioso arcanjo, e lhe estendeu os braços, tentando escapar da morte. Indiferente, ele se afastou na esteira de Deus, deixando-a debater-se, condenada. Onde existira antes o esplendor paradisíaco da praia de Mangue Seco, crescera uma paisagem paulista de fábricas, cortiços de concreto, ferro e aço, fumaça e morte.
EPISÓDIO Nº 263
A RIVAL DE DEUS
A ausência de Ricardo doía-lhe no corpo inteiro, da ponta dos pés à ponta dos encaracolados cabelos, em cada músculo, por dentro e por fora. Vazia e necessitada, sem jeito.
Pensara que jamais voltaria a sentir ânsia tamanha, desejo a roer as carnes, aflição a esmagar o peito. Sucedera uma vez, muitos anos antes, quando Lucas partira, fugindo de Agreste, sem deixar aviso ou endereço. Ao chegar, esfusiante, para a festa no leito de dona Eufrosina e do finado doutor Fulgêncio, na cálida maciez do colchão de lã de barriguda, deparara com a janela do quarto fechada sobre o beco e a paixão de adolescente deslumbrada e ávida.
Derrotada, perdida, demorara a espiar por entre as frestas da veneziana, buscando a sombra de um vulto, o ouvido encostado às tábuas, tentando perceber uma respiração. Quantas horas permanecera ali parada na noite morna, junto à janela, antes de arrastar-se enferma para a primeira solidão? Roída de desejo, querendo tê-lo e não podendo. Não voltara a suceder. Dali em diante fora sempre ela a não comparecer, a faltar ao encontro, a ausentar-se, a trancar janelas e porta. As portas do corpo e do coração.
Branco lençol de cambraia, colchão de barriguda encomendado em Estância, largo estrado propício aos embates extremos, cheiro de tinta fresca, tudo novo em folha para e festa da inauguração. Tieta velou, insone, na noite longa de não acabar, ouvindo a ventania sobre os cômoros e a arrebentação das vagas, outra vez sozinha e sem jeito, querendo ter e não podendo. No gozo de orações, cerimónias, afazeres de sacristia, Ricardo a esquece e abandona. Amante de tempo dividido, de coração dividido entre ela e Deus.
Não imaginou Ricardo dormindo com outra mulher, nada sabia de Maria Imaculada, acreditara piamente na desculpa rabiscada no bilhete entregue por dona Carmosina, no inventário dos bens da paróquia. As mulheres rondavam o seminarista, é certo, ela se dera conta. Despudorada, dona Edna não se preocupa sequer em esconder o jogo, ninfomaníaca, puta reles! Em se tratando de cama, porém, Tieta sente-se segura.
Homem algum, por mais inconstante ou mulherengo, a deixara por outra. Lucas fora o único a tomar a iniciativa de romper. Aos demais, sem excepção, ela abandonara apenas aos primeiros sintomas de cansaço, evitando o cortejo de brigas, rogos, acusações, mentiras e tristezas dos fins de romance. Ia-se embora abruptamente, apenas comprovava a sensação de fastio, Para conservar íntegra a recordação da aventura, para ter saudades, quanto mais melhor. Paixões, rabichos, chamegos, xodós, rápidos ou prolongados, românticos ou lascivos, não passam, todos eles, de perecíveis aventuras, o que não os impede de ser cada um deles, em certo momento, o amor exclusivo, único, definitivo e imortal.
Ricardo é o amor único e exclusivo, definitivo e imortal, nunca teve outro, nem terá. Precisa dele ali, naquele instante, imediatamente e sem falta. O desejo roendo as carnes, o orgulho machucado. Nem por considerar fora de cogitação, por impossível, qualquer enredo de cama, nem por isso Tieta se sente menos ofendida e abandonada. Vazia e necessitada, atravessou a noite mais longa da sua vida, aquela que deveria ter sido a mais alegre e plena.
Quando, por fim, adormeceu, teve um pesadelo atroz. Sob o céu negro, no mar podre, cemitério de peixes e caranguejos, boiavam destroços do Curral do Bode Inácio e das choupanas dos pescadores. Na extinta linha do horizonte, vislumbrou Ricardo, glorioso arcanjo, e lhe estendeu os braços, tentando escapar da morte. Indiferente, ele se afastou na esteira de Deus, deixando-a debater-se, condenada. Onde existira antes o esplendor paradisíaco da praia de Mangue Seco, crescera uma paisagem paulista de fábricas, cortiços de concreto, ferro e aço, fumaça e morte.
domingo, outubro 18, 2009
CRIACIONISMO, NÃO,
EVOLUCIONISMO, SIM.
Sejamos sinceros, não estou mentalmente preparado para aceitar que algo de tão verdadeiramente complexo como o Universo, a Terra, os Seres Vivos e Nós Próprios, tenhamos surgido de repente, de um momento para o outro, de forma súbita.
Não é por uma questão de má vontade, tão pouco um problema de fé ou falta dela, é uma questão de honestidade intelectual e é esta honestidade que não me permite que eu seja Criacionista.
Olho para uma casa e sei que ela não apareceu ali porque “alguém”, por força de uma qualquer varinha ou palavra mágica, ali a tivesse feito aparecer. Para mim, isso não faz sentido mas já tem cabimento no meu esquema de entendimento das coisas que essa mesma casa tenha resultado de um processo de acumulação de simples tijolos: hoje um, amanhã outro, e assim progressivamente, de algo que ao princípio era muito simples e se foi transformando numa “coisa” complexa que agora se chama casa, depois arranha-céus e por aí fora.
O muito simples transforma-se gradualmente em complexidade e o processo através do qual isso acontece chama-se selecção natural e isso está ao alcance da minha compreensão, faz sentido: átomos perfeitamente desordenados poderem agrupar-se em estruturas cada vez mais complexas até acabarem por formar pessoas.
Darwin forneceu-nos a solução, a única, entre todas as sugeridas, aplicável à questão profunda da nossa existência.
A explicação para todo esse processo é-nos dada pelo Zoólogo e Etólogo evolucionista, Rinchará Dawkins, eleito em 2005 pela Revista Prospect como o maior intelectual britânico, começando ainda pelo momento anterior ao início da própria evolução.
Diz ele que a «Sobrevivência do mais Apto» de Darwin é, na realidade, um caso especial de uma lei geral, a «Sobrevivência do Estável».
O Universo está povoado de coisas estáveis que não passam de aglomerações de átomos suficientemente vulgares ou permanentes para merecerem um nome.
As coisas que vemos à nossa volta e que pensamos necessitarem de uma explicação, como rochas, galáxias, ondas domar, são todas arranjos mais ou menos estáveis de átomos, as próprias bolhas de sabão tendem a ser esféricas porque esta é uma configuração estável para películas finas cheias de gás.
Numa nave espacial, fora da acção da gravidade, a água é estável sob a forma de corpúsculos mas uma vez sujeita à gravidade a estabilidade da água em repouso é plana e horizontal.
No sol, os átomos mais simples de todos, os de hidrogénio, fundem-se para formar átomos de hélio porque nas condições que ali existem, a configuração do hélio é mais estável.
Outros átomos, mais complexos, formam-se em estrelas espalhadas por todo o Universo em resultado do Big-Bang que é a teoria prevalecente para a origem do Universo.
Algumas vezes, quando os átomos se encontram, ligam-se uns aos outros através de reacções químicas e formam moléculas que podem ser mais ou menos estáveis atingindo, por vezes, grandes dimensões como o diamante que pode ser considerado uma única molécula, grande mas muito simples porque a sua estrutura atómica interna é repetida indefinidamente.
A hemoglobina do nosso sangue é uma molécula proteica típica. É formada por cadeias de moléculas mais pequenas, os aminoácidos contendo, cada um deles, algumas dúzias de átomos arrumados numa estrutura precisa.
A hemoglobina é uma molécula recente, usada para ilustrar o princípio de que os átomos adquirem conformações estáveis porque nela existem duas cadeias constituídas pela mesma sequência de aminoácidos que tenderão, como duas molas, a adquirirem exactamente a mesma configuração tridimensional, ficando enroladas sobre si mesmas.
As moléculas de hemoglobina saltam para a sua «posição preferida» no nosso corpo a um ritmo de cerca de 4.000 biliões por segundo, enquanto outras tantas são destruídas à mesma velocidade.
Este exemplo da hemoglobina pretende demonstrar o princípio de que os átomos adquirem conformações estáveis e portanto, antes do aparecimento da vida na Terra, uma forma rudimentar de formação de moléculas poderá ter ocorrido por processos físicos e químicos vulgares sem haver necessidade de pensar em desígnios ou propósitos.
Se um grupo de átomos, na presença de energia se organizar numa configuração estável, tenderá a manter-se nesse estado e a forma mais precoce de selecção natural foi simplesmente a selecção das formas estáveis e a rejeição das instáveis.
Não há qualquer mistério nisto.
Por definição tinha de acontecer assim.
É claro que daqui não se pode concluir que seja possível explicar a existência de entidades tão complexas como o homem aplicando, apenas e exactamente, os mesmos princípios. Não serve de nada pegar no número exacto de átomos, misturá-los todos e aplicar alguma energia externa até tomarem a conformação certa, surgindo o Adão.
Dessa maneira, poder-se-á formar uma molécula constituída por algumas dúzias de átomos mas o Adão tinha 1.000 biliões de biliões de átomos e para o conseguir fazer seria necessário um batedor bioquímico durante um período de tempo tão longo que a idade inteira do universo se assemelharia a um simples piscar de olho…e mesmo assim não iríamos conseguir.
É aqui que a teoria de Darwin, na sua formulação mais geral, vem em nosso socorro pegando no processo evolutivo no ponto onde a história da formação lenta das moléculas termina.
Sejamos sinceros, não estou mentalmente preparado para aceitar que algo de tão verdadeiramente complexo como o Universo, a Terra, os Seres Vivos e Nós Próprios, tenhamos surgido de repente, de um momento para o outro, de forma súbita.
Não é por uma questão de má vontade, tão pouco um problema de fé ou falta dela, é uma questão de honestidade intelectual e é esta honestidade que não me permite que eu seja Criacionista.
Olho para uma casa e sei que ela não apareceu ali porque “alguém”, por força de uma qualquer varinha ou palavra mágica, ali a tivesse feito aparecer. Para mim, isso não faz sentido mas já tem cabimento no meu esquema de entendimento das coisas que essa mesma casa tenha resultado de um processo de acumulação de simples tijolos: hoje um, amanhã outro, e assim progressivamente, de algo que ao princípio era muito simples e se foi transformando numa “coisa” complexa que agora se chama casa, depois arranha-céus e por aí fora.
O muito simples transforma-se gradualmente em complexidade e o processo através do qual isso acontece chama-se selecção natural e isso está ao alcance da minha compreensão, faz sentido: átomos perfeitamente desordenados poderem agrupar-se em estruturas cada vez mais complexas até acabarem por formar pessoas.
Darwin forneceu-nos a solução, a única, entre todas as sugeridas, aplicável à questão profunda da nossa existência.
A explicação para todo esse processo é-nos dada pelo Zoólogo e Etólogo evolucionista, Rinchará Dawkins, eleito em 2005 pela Revista Prospect como o maior intelectual britânico, começando ainda pelo momento anterior ao início da própria evolução.
Diz ele que a «Sobrevivência do mais Apto» de Darwin é, na realidade, um caso especial de uma lei geral, a «Sobrevivência do Estável».
O Universo está povoado de coisas estáveis que não passam de aglomerações de átomos suficientemente vulgares ou permanentes para merecerem um nome.
As coisas que vemos à nossa volta e que pensamos necessitarem de uma explicação, como rochas, galáxias, ondas domar, são todas arranjos mais ou menos estáveis de átomos, as próprias bolhas de sabão tendem a ser esféricas porque esta é uma configuração estável para películas finas cheias de gás.
Numa nave espacial, fora da acção da gravidade, a água é estável sob a forma de corpúsculos mas uma vez sujeita à gravidade a estabilidade da água em repouso é plana e horizontal.
No sol, os átomos mais simples de todos, os de hidrogénio, fundem-se para formar átomos de hélio porque nas condições que ali existem, a configuração do hélio é mais estável.
Outros átomos, mais complexos, formam-se em estrelas espalhadas por todo o Universo em resultado do Big-Bang que é a teoria prevalecente para a origem do Universo.
Algumas vezes, quando os átomos se encontram, ligam-se uns aos outros através de reacções químicas e formam moléculas que podem ser mais ou menos estáveis atingindo, por vezes, grandes dimensões como o diamante que pode ser considerado uma única molécula, grande mas muito simples porque a sua estrutura atómica interna é repetida indefinidamente.
A hemoglobina do nosso sangue é uma molécula proteica típica. É formada por cadeias de moléculas mais pequenas, os aminoácidos contendo, cada um deles, algumas dúzias de átomos arrumados numa estrutura precisa.
A hemoglobina é uma molécula recente, usada para ilustrar o princípio de que os átomos adquirem conformações estáveis porque nela existem duas cadeias constituídas pela mesma sequência de aminoácidos que tenderão, como duas molas, a adquirirem exactamente a mesma configuração tridimensional, ficando enroladas sobre si mesmas.
As moléculas de hemoglobina saltam para a sua «posição preferida» no nosso corpo a um ritmo de cerca de 4.000 biliões por segundo, enquanto outras tantas são destruídas à mesma velocidade.
Este exemplo da hemoglobina pretende demonstrar o princípio de que os átomos adquirem conformações estáveis e portanto, antes do aparecimento da vida na Terra, uma forma rudimentar de formação de moléculas poderá ter ocorrido por processos físicos e químicos vulgares sem haver necessidade de pensar em desígnios ou propósitos.
Se um grupo de átomos, na presença de energia se organizar numa configuração estável, tenderá a manter-se nesse estado e a forma mais precoce de selecção natural foi simplesmente a selecção das formas estáveis e a rejeição das instáveis.
Não há qualquer mistério nisto.
Por definição tinha de acontecer assim.
É claro que daqui não se pode concluir que seja possível explicar a existência de entidades tão complexas como o homem aplicando, apenas e exactamente, os mesmos princípios. Não serve de nada pegar no número exacto de átomos, misturá-los todos e aplicar alguma energia externa até tomarem a conformação certa, surgindo o Adão.
Dessa maneira, poder-se-á formar uma molécula constituída por algumas dúzias de átomos mas o Adão tinha 1.000 biliões de biliões de átomos e para o conseguir fazer seria necessário um batedor bioquímico durante um período de tempo tão longo que a idade inteira do universo se assemelharia a um simples piscar de olho…e mesmo assim não iríamos conseguir.
É aqui que a teoria de Darwin, na sua formulação mais geral, vem em nosso socorro pegando no processo evolutivo no ponto onde a história da formação lenta das moléculas termina.
CURIOSIDADES SOBRE SEXO...
- No Líbano, os homens podem , legalmente, ter relações sexuais com animais, sempre que estes sejam do sexo femenino. Ter relações sexuais com machos será castigado com a morte.
- No Bahrein, um médico pode, legalmente, examinar, tocando, os genitais femeninos, mas está impossibilitado de os observar directamente durante o exame. Só através de um espelho.
- Os muçulmanos não podem ver os genitais de um cadáver. Isto também se aplica aos empregados das funerárias. Os orgãos sexuais dos defuntos devem estar sempre cobertos por um pedaço de madeira.
- Na Indonésia, a pena para a masturbação é a decapitação.
- Em Guan, na China, existem homens cujo único emprego é viajar pelo território para desflorar virgens que lhes pagam pelo privilégio de terem sexo pela primeira vez. A razão é simples: não podem casar enquanto virgens.
- Em Hong Kong, uma mulher enganada pelo marido pode, legalmente, matá-lo mas tem que o fazer apenas com recurso às mãos. Em contrapartida, a mulher adúltera pode ser morta pelo marido de qualquer maneira.
- Em Liverpool, Inglaterra, a lei autoriza as vendedoras a fazer topless mas somente no negócio de peças de roupa tropicais.
- Em Cali, Colômbia, a mulher só pode ter relações com o seu marido mas, na primeira vez em que isso ocorre, a sua mãe deve estar no quarto para testemunhar o acto.
- Em Santa Cruz, Bolívia, é ilegal um homem ter relações com uma mulher e a sua filha ao mesmo tempo.
- Em Maryland, E.U.A., os preservativos só podem ser vendidos em máquinas colocadas em lugares onde se vendam bebidas alcoólicas para consumo local.