Memórias Futuras
Olhar o futuro pelo espelho retrovisor da história. Qual história? Que futuro?
sábado, fevereiro 19, 2011
Kseniya Simonova
Esta jovem é ucraniana e fez esta animação da invasão da Alemanha na 2ª G.G. tendo usado apenas os dedos e uma superfície com areia. Trouxe lágrimas ao público e aos juizes do Concurso. Foram oito minutos maravilhosos que demonstraram um talento especial e trouxeram através da arte a memória viva de uma guerra que marcou gerações. É mesmo de arrepiar...
NCOLI DI BARI - I GIORNI DELL' ARCOBALENO
Canção vencedora do Festival da Eurovisão de 1972. Legendado em português e com imagens lindas... um momento de poesia! (o som das guitarras até corta o coração...)
TEREZA
BATISTA
CANSADA
DE
GUERRA
Episódio Nº 35
Só quero ver a cara de Libório, dissera Lulu Santos a Tereza Batista, na memorável noite em casa da velha Adriana quando concertaram o plano de luta. Não só viu-lhe a cara desfazendo-se em suor frio, ouviu-lhe também a voz nasal num grito de agonia: sentiu-se Lulu pago de todo o trabalho tomado por ele próprio, por Tereza, por Joana das Folhas.
- Protesto! Protesto! Fui traído, é um complô contra mim, estão-me roubando – grita Libório perdido, em desespero.
O juiz não chegara a suspender a sessão. Ainda de pé, estende o dedo ameaçador:
- Uma palavra mais e mando autuá-lo e prendê-lo por desacato à justiça. Está suspensa a sessão.
Enfiou o calhorda língua e protesto no rabo; o bacharelo Silo Melo, cara de rato, ar de palerma, ainda sem entender nem metade do que se passara na audiência, arrasta seu cliente para fora da sala. Os presentes vão saindo, o escrivão sobraçando o grande livro negro onde a justiça fora inscrita. Por fim, a sós, o juiz a despir a toga e o rábula a ajeitar as muletas; amigos de longa data, o juiz em confiança, reduzindo a voz a um sussurro quase inaudível, inquiriu o rábula sobre o detalhe a preocupá-lo – todo o resto lhe parecendo de cristalina clareza:
- Seu Lulu, me diga, quem foi que ensinou a preta a assinar o nome?
Lulu Santos mediu o juiz com um olhar de repentina suspeita:
- Quem? Dona Carmelita Mendonça, ela o disse aqui, há pouco sob juramento. Mulher mais direita, respeitada em todo o estado de Sergipe, professora de nós todos, sua inclusivé, impoluta, palavra irrefutável.
- E quem está refutando? Se eu quisesse fazê-lo, tê-lo-ia feito durante a audiência. Minha professora, é verdade. Sua, também, você era o aluno predilecto por ser o mais inteligente e…
- …aleijado… - riu Lulu.
- Pois é. Ouça Lulu, agora que a sentença está lavrada: dona Carmelita nunca viu aquela negra antes de entrar nesta sala. Veio porque você lhe contou a verdade e a convenceu, e fez muito bem em vir: esse Libório é asqueroso e merece a lição, se bem não creio que se emende, é pau que nasceu torto. Mas seu Lulu, me diga quem foi o génio a conseguir que aquelas mãos – você reparou nas mãos da sua constituinte, Lulu? – escrevessem sem vacilação letras legíveis?
O rábula, sorrindo, voltou a fitar o juiz, os olhos livres de qualquer receio ou desconfiança:
- Se eu lhe disser que foi uma fada, não estarei longe da verdade. Não fosse você um respeitável juiz, eu lhe convidaria a ir comigo na sexta-feira próxima ao cabaré Paris Alegre, na zona e lá lhe apresentaria a rapariga…
- Rapariga? Mulher-dama?
- Se chama Tereza Batista, beleza peregrina, meu caro. Melhor ainda de briga do que de escrita.
Disse e abandonou a sala, deixando o juiz a cogitar sobre quão surpreendente é a vida, por vezes absurda: aquele processo, embora não passando de uma teia de embustes, desembocara na verdade e na justiça. Rápido, montado nas muletas, Lulu Santos vai ao encontro do bacharel Silo Melo, que o aguarda, derrotado e humilde, em busca de acordo. Fora da sala, o rábula desata numa gaitada festiva: ah! a cara de Libório desfeita em merda.
- Protesto! Protesto! Fui traído, é um complô contra mim, estão-me roubando – grita Libório perdido, em desespero.
O juiz não chegara a suspender a sessão. Ainda de pé, estende o dedo ameaçador:
- Uma palavra mais e mando autuá-lo e prendê-lo por desacato à justiça. Está suspensa a sessão.
Enfiou o calhorda língua e protesto no rabo; o bacharelo Silo Melo, cara de rato, ar de palerma, ainda sem entender nem metade do que se passara na audiência, arrasta seu cliente para fora da sala. Os presentes vão saindo, o escrivão sobraçando o grande livro negro onde a justiça fora inscrita. Por fim, a sós, o juiz a despir a toga e o rábula a ajeitar as muletas; amigos de longa data, o juiz em confiança, reduzindo a voz a um sussurro quase inaudível, inquiriu o rábula sobre o detalhe a preocupá-lo – todo o resto lhe parecendo de cristalina clareza:
- Seu Lulu, me diga, quem foi que ensinou a preta a assinar o nome?
Lulu Santos mediu o juiz com um olhar de repentina suspeita:
- Quem? Dona Carmelita Mendonça, ela o disse aqui, há pouco sob juramento. Mulher mais direita, respeitada em todo o estado de Sergipe, professora de nós todos, sua inclusivé, impoluta, palavra irrefutável.
- E quem está refutando? Se eu quisesse fazê-lo, tê-lo-ia feito durante a audiência. Minha professora, é verdade. Sua, também, você era o aluno predilecto por ser o mais inteligente e…
- …aleijado… - riu Lulu.
- Pois é. Ouça Lulu, agora que a sentença está lavrada: dona Carmelita nunca viu aquela negra antes de entrar nesta sala. Veio porque você lhe contou a verdade e a convenceu, e fez muito bem em vir: esse Libório é asqueroso e merece a lição, se bem não creio que se emende, é pau que nasceu torto. Mas seu Lulu, me diga quem foi o génio a conseguir que aquelas mãos – você reparou nas mãos da sua constituinte, Lulu? – escrevessem sem vacilação letras legíveis?
O rábula, sorrindo, voltou a fitar o juiz, os olhos livres de qualquer receio ou desconfiança:
- Se eu lhe disser que foi uma fada, não estarei longe da verdade. Não fosse você um respeitável juiz, eu lhe convidaria a ir comigo na sexta-feira próxima ao cabaré Paris Alegre, na zona e lá lhe apresentaria a rapariga…
- Rapariga? Mulher-dama?
- Se chama Tereza Batista, beleza peregrina, meu caro. Melhor ainda de briga do que de escrita.
Disse e abandonou a sala, deixando o juiz a cogitar sobre quão surpreendente é a vida, por vezes absurda: aquele processo, embora não passando de uma teia de embustes, desembocara na verdade e na justiça. Rápido, montado nas muletas, Lulu Santos vai ao encontro do bacharel Silo Melo, que o aguarda, derrotado e humilde, em busca de acordo. Fora da sala, o rábula desata numa gaitada festiva: ah! a cara de Libório desfeita em merda.
INFORMAÇÕES ADICIONAIS
À ENTREVISTA Nº 82 SOB O TEMA:
“JUDAS TRAIDOR” (5º e último)
"É Melhor Nunca Ter Nascido"
Judas foi a tal ponto apontado como o pior entre os ruins que certa tradição cristã afirma que se se pode dizer que alguém, com certeza, já está no inferno, esse alguém é ele.
Esta tradição é apoiada por uma citação de Jesus sobre Judas na Última Ceia: “Mais lhe valera não ter nascido” (Mateus 26, 24). Mas esta frase atribuída a Jesus por quem escreveu o evangelho, não foi dita por ele. É entendida como um alerta dramático de advertência às comunidades cristãs para não traírem os seus companheiros. Mateus e Marcos colocaram-na na boca de Jesus para lhe conferir mais autoridade e a relacionaram com Judas para lhe darem um contexto histórico.
A frase que foi junta pelos evangelistas não deve ser lida como uma declaração de condenação, de "inferno" para a pessoa de Judas, mas como um aviso para a comunidade:
“É melhor não ter nascido para a comunidade cristã se no fim vai trair os irmãos. Se é para causar danos é melhor não entrares.”
sexta-feira, fevereiro 18, 2011
DESEMPENHOS SEXUAIS
Um inglês, um alemão e um português comentavam os desempenhos sexuais das suas parceiras:
O inglês comentou:
- Quando fazemos sexo, a minha mulher grita tão alto que a minha sogra, que mora no andar de baixo, escuta !
E o alemão:
- Isso não é nada, a minha mulher grita tão alto, mas tão alto, que a minha sogra, que mora na casa ao lado, escuta !
O português, sem deixar por menos, dá uma gargalhada e diz:
- Ora pois, a minha mulher grita tão alto, tão alto, que ela está em casa e eu escuto lá na padaria!
E o alemão:
- Isso não é nada, a minha mulher grita tão alto, mas tão alto, que a minha sogra, que mora na casa ao lado, escuta !
O português, sem deixar por menos, dá uma gargalhada e diz:
- Ora pois, a minha mulher grita tão alto, tão alto, que ela está em casa e eu escuto lá na padaria!
Carta ao Psicólogo
Caro Dr. António Roberto
Espero que me possa ajudar. Saí de casa ontem à tarde no meu carro para ir trabalhar, e deixei o meu marido em casa, a ver televisão. Andei pouco mais de 1 km quando o motor parou e não voltou a arrancar. Voltei para casa, para pedir ajuda ao meu marido e quando cheguei, apanheio-o em flagrante na cama com a filha da minha vizinha!
Eu tenho 32 anos, o meu marido tem 34 e a desavergonhada, 19. Estamos casados há 10 anos e ele confessou que mantinha aquela relação há mais de 6 meses. Eu amo o meu marido e estou desesperada. Preciso urgentemente do seu conselho.
Antecipadamente grata.
Patrícia
Cara Patrícia,
Quando um carro pára, depois de ter percorrido uma pequena distância, isso pode ser devido a uma série de factores. Pode não haver combustível no depósito ou o filtro estar entupido, também pode ser da injecção electrónica ou da bomba de gasolina que, não fornecendo combustível ou pressão suficiente nos injectores impede que o motor funcione. Nesse caso, a pessoa a contactar deve ser um mecânico. Não volte a incomodar o seu marido.
Ele não é mecânico.
Espero ter ajudado.
António Roberto, psicólogo.
Espero que me possa ajudar. Saí de casa ontem à tarde no meu carro para ir trabalhar, e deixei o meu marido em casa, a ver televisão. Andei pouco mais de 1 km quando o motor parou e não voltou a arrancar. Voltei para casa, para pedir ajuda ao meu marido e quando cheguei, apanheio-o em flagrante na cama com a filha da minha vizinha!
Eu tenho 32 anos, o meu marido tem 34 e a desavergonhada, 19. Estamos casados há 10 anos e ele confessou que mantinha aquela relação há mais de 6 meses. Eu amo o meu marido e estou desesperada. Preciso urgentemente do seu conselho.
Antecipadamente grata.
Patrícia
Cara Patrícia,
Quando um carro pára, depois de ter percorrido uma pequena distância, isso pode ser devido a uma série de factores. Pode não haver combustível no depósito ou o filtro estar entupido, também pode ser da injecção electrónica ou da bomba de gasolina que, não fornecendo combustível ou pressão suficiente nos injectores impede que o motor funcione. Nesse caso, a pessoa a contactar deve ser um mecânico. Não volte a incomodar o seu marido.
Ele não é mecânico.
Espero ter ajudado.
António Roberto, psicólogo.
NICOLA DI BARI - GUITARRA SUENA MAS BAJO
Esta é uma das minhas canções favoritas cantada pelo grande Nicola di Bari, o único que lhe consegue transmitir o sentimento mais genuino. É das canções mais belas de todos os tempos em italiano.
TEREZA
BATISTA
CANSADA
DE
GUERRA
Episódio Nº 34
A um gesto do escrivão, todos se levantaram, era chegado o momento solene da sentença. Pondo-se de pé o juiz espiou pelo rabo do olho para Lulu Santos. A cara do rábula, contrita, ainda contrita de uns restos de repulsa à trapaça, à falsificação, à rapinagem, ao crime, não engana o meritíssimo doutor Benito Cardoso, magistrado de brilhante carreira – com estudos, artigos e sentenças publicadas na Revista dos Tribunais de São Paulo, merecera consagrador pronunciamento de um jurista ilustre, o professor Rui Antunes, da Universidade de Pernambuco, trazido a Sergipe por complicada acção penal: “O doutor Cardoso alia ao profundo conhecimento do direito um admirável conhecimento dos homens”.
No fundo dos olhos do aleijado, o juiz advinha uma réstia de malícia – toda a audiência não passara de uma comédia de enganos, mas, se o desmascaramento do ladrão exigira mentira e burla, benditas sejam a mentira e a burla! Finalmente Lulu Santos, hábil raposa do fórum, despido de preconceitos e leguleios, pegara pelo pé o mais asqueroso agiota da cidade, delinquente a cometer falcatruas nas barbas da justiça, utilizando-se da lei, eternamente impune. Quantas vezes já o absolvera o doutor Cardoso por falta de provas, embora sabendo-o culpado?
Quatro vezes ao que se recorda. Perfeitas, Lulu, as declarações e as testemunhas, nada mais se faz necessário para a boa sentença. Quando tudo terminar, por mera e vã curiosidade, o juiz deseja um esclarecimento, um só.
Ergue a vista para Libório das Neves, olhar severo, de reprovação e desgosto. Ao lado do usurário, o trêfego bacharel Silo Melo, advogado de porta de xadrez, sente a causa perdida na mirada do juiz – até a face dentuça do faminto patrono do demandante lembra ratos e roubos.
Tempera o meritíssimo a garganta jurídica, lê a sentença. Na voz grave e lenta, nos considerandos a preceder a decisão, vai-se desfazendo Libório das Neves, esvaziando-se como um saco afinal furado – os olhos de Lulu Santos acompanham cada detalhe do esperado desmoronamento: saco vazio, seco de merda. Solene a voz do meritíssimo doutor Benito Cardoso, a pronunciar cada sílaba, cada letra, mais enfática se possível na conclusão da peça:
“Por tais motivos, e pelo mais que dos autos consta, JULGO IMPROCEDENTE a presente acção executiva, promovida por Libório das Neves contra Joana França, tendo como inábil o documento de fls… em que se funda a inicial e em que veio arrimado o pedido. E, pelos fundamentos a que me levaram a tal conclusão (falsidade do documento) ordeno que, passando a presente em julgado, sem recurso da parte, ou, se houver, após o julgamento deste, se extraia cópia autêntica da presente decisão, encaminhando-a ao órgão do Ministério Público, para as devidas providências penais, promovendo, portanto, a apuração da responsabilidade de quem de direito, na forma da legislação penal vigente. Custas para o autor, em décuplo, por se tratar de lide de má-fé, condenando-o ainda nos honorários advocatícios, que arbitro em 20% sobre o valor da cobrança, P. R. I.”.
“Por tais motivos, e pelo mais que dos autos consta, JULGO IMPROCEDENTE a presente acção executiva, promovida por Libório das Neves contra Joana França, tendo como inábil o documento de fls… em que se funda a inicial e em que veio arrimado o pedido. E, pelos fundamentos a que me levaram a tal conclusão (falsidade do documento) ordeno que, passando a presente em julgado, sem recurso da parte, ou, se houver, após o julgamento deste, se extraia cópia autêntica da presente decisão, encaminhando-a ao órgão do Ministério Público, para as devidas providências penais, promovendo, portanto, a apuração da responsabilidade de quem de direito, na forma da legislação penal vigente. Custas para o autor, em décuplo, por se tratar de lide de má-fé, condenando-o ainda nos honorários advocatícios, que arbitro em 20% sobre o valor da cobrança, P. R. I.”.
INFORMAÇÕES ADICIONAIS
SOBRE A ENTREVISATA Nº 82 SOB O TEMA:
“JUDAS TRAIDOR?” (4)
Judas: o Grande Condenado
A doutrina tradicional sempre defendeu Pedro, que traiu Jesus negando-o e arrependendo-se depois, e condenou Judas por traí-lo e depois, em desespero, por ter posto fim à vida. Resgatando Pedro, claro, resgatava o primado do papa romano que se apresentou como o sucessor de Pedro.
Judas é o réprobo, o condenado, um pecador sem esperança. Santo Agostinho fala dele assim:
- “Com a sua morte por enforcamento mais agravou que expiou a sua traição criminosa, porque, desesperando da misericórdia de Deus, fechou qualquer possibilidade de um arrependimento salutar”.
A preversidade que tem sido tradicionalmente atribuída a Judas também contribuiu para o anti-semitismo que tem dominado o cristianismo oficial. O nome Judas está ligado etimologicamente a "judeu" ("Yehudi ", "Ioudaios"), que resultou na identificação de Judas, por excelência, o judeu.
Agostinho argumentou que assim como Pedro representava a Igreja, Judas representava os judeus, que eram os inimigos da Igreja. Esta ideia foi explorada na literatura e arte apresentando sempre com Judas com feições exageradamente semíticas e enfatizando sua ganância, alimentando o estereótipo do judeu avarento e usurário.
A ópera rock "Jesus Christ Superstar", de Tim Rice e Andrew Lloyd Weber (1970), filmado (Norman Jewison, 1975), reclama do estereótipo tradicional de Judas, mostrando-o cheio de carinho por Jesus ( não sei como amor ... ) e, portanto, cheio de dúvidas sobre o que fazer. No entanto, a obra cai depois num estereótipo racista, apresentando Judas como o único negro em todos os personagens.
Recentemente, um filme de terceira categoria, "Judas", dirigido por Charles Robert Corner (2005) constrói uma biografia mais crível de Judas. O filme termina com a cena em que Pedro e os demais integrantes do movimento estão a enterrar Judas, sem o condenarem, com camaradagem, rezando por ele um Padre-Nosso com compaixão, como Jesus ensinou. Uma novidade.
Judas é o réprobo, o condenado, um pecador sem esperança. Santo Agostinho fala dele assim:
- “Com a sua morte por enforcamento mais agravou que expiou a sua traição criminosa, porque, desesperando da misericórdia de Deus, fechou qualquer possibilidade de um arrependimento salutar”.
A preversidade que tem sido tradicionalmente atribuída a Judas também contribuiu para o anti-semitismo que tem dominado o cristianismo oficial. O nome Judas está ligado etimologicamente a "judeu" ("Yehudi ", "Ioudaios"), que resultou na identificação de Judas, por excelência, o judeu.
Agostinho argumentou que assim como Pedro representava a Igreja, Judas representava os judeus, que eram os inimigos da Igreja. Esta ideia foi explorada na literatura e arte apresentando sempre com Judas com feições exageradamente semíticas e enfatizando sua ganância, alimentando o estereótipo do judeu avarento e usurário.
A ópera rock "Jesus Christ Superstar", de Tim Rice e Andrew Lloyd Weber (1970), filmado (Norman Jewison, 1975), reclama do estereótipo tradicional de Judas, mostrando-o cheio de carinho por Jesus ( não sei como amor ... ) e, portanto, cheio de dúvidas sobre o que fazer. No entanto, a obra cai depois num estereótipo racista, apresentando Judas como o único negro em todos os personagens.
Recentemente, um filme de terceira categoria, "Judas", dirigido por Charles Robert Corner (2005) constrói uma biografia mais crível de Judas. O filme termina com a cena em que Pedro e os demais integrantes do movimento estão a enterrar Judas, sem o condenarem, com camaradagem, rezando por ele um Padre-Nosso com compaixão, como Jesus ensinou. Uma novidade.
quinta-feira, fevereiro 17, 2011
ROBERTA MIRANDA - CHUVA DE VERÃO
Esta linda canção é uma composição Joel Marques e Ivone Ribeiro cantada por Roberta, que em 1988 inicia uma série de shows em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Mato Grosso, Góias, Paraná, Rondónia, Rio Grande do Sul, Pará. Faz 150 apresentações e torna-se num fenómeno nacional mas não só. Quando, em 1990, vai em digressão a Angola as mulheres decalararam greve de sexo aos seus parceiros se eles não comparecessem com os seus bilhetes para as acompanharem no Show de Roberta Miranda!
TEREZA
BATISTA
CANSADA
DE
GUERRA
Episódio Nº 33
Só me dirás na véspera, pediu-lhe Tereza, não quero saber antes o dia da tua partida. Agem como se fossem viver juntos toda a vida, sem prever separação próxima ou remota, fundeada para sempre a barcaça Ventania no porto de Aracaju. Nas areias da praia, na mata de coqueiros, nos esconderijos da ilha, no quarto de Tereza, na quilha da barcaça, vivem esses dias de festa num frenesi. Os ais de amor povoam Sergipe.
Januário participa de toda a vida de Tereza: no ensaio lhe ensina gingas de capoeira, jogos de corpo flexível, dando graça, elegância e atrevimento ao samba de Angola, mestre de saveiro e capoeira, dançador de afoxé.
Acompanha, tenso de interesse, os mínimos progressos de Joana das Folhas, rindo alegremente quando constata a mão finalmente domada, capaz de dirigir o lápis e a caneta, arranhando ainda o papel, não mais o rompendo, porém; ainda respingando tinta, mas sem transformar as letras em borrão ilegível.
Há sempre um momento, durante a aula vespertina, quando os três sorriem juntos, Tereza, Januário e Joana das Folhas.
Beijam-se na marinete, passeiam de mãos dadas pelo porto, sentam-se a conversar na Ponte do Imperador, na popa da barcaça Ventania. Uma noite, num bote, Januário a levou: abandonando os remos, no barco balouçante a teve nos braços, os dois vestidos numa confusão de salpicos de água e de risos, a leve embarcação à deriva, rio abaixo. Depois atracou na ilha dos Coqueiros, saíram a descobrir recantos. Na noite da Atalaia perseguiam a lua no céu; sozinhos na praia imensa, tirando a roupa, entravam mar a dentro, Tereza entregando-se no meio das águas, toda sal e espuma.
- Agora tu não é Iansã, tu só é Iansã na hora da briga. Agora tu é Janaína, rainha do mar – lhe disse Januário, familiar dos orixás.
Tereza tinha vontade de perguntar sobre o saveiro Flor das Águas, as travessias, o rio Paraguaçu, a ilha de Itaparica, os portos de atracação e como era a vida por lá, pela Bahia. Mas desde aquela primeira noite na Atalaia, quando ele lhe contara o mais importante, não voltaram a falar de tais assuntos, de saveiros, do rio Paraguaçu, de Maragogipe, Santo Amaro e Cachoeira, de ilhas e praias, da cidade da Bahia, das águas do mar de Todos-os-Santos. Conversam sobre temas de Aracajú: a audiência final no processo de Joana das Folhas com data marcada pelo juiz, o Paris Alegre, os ensaios dos números de dança, a estreia finalmente à vista, o dente de ouro chegando ao termo do cinzel – dentista ou escultor, Jamil Najar? Artista da prótese dentária, responde ele exibindo a hora prima. Sobre tais temas praticam como se jamais se fossem separar, a vida tendo parado em hora de amor.
No domingo com Lulu Santos e mestre Caetano Gunzá, compareceram ao almoço em casa do motorista Tião, conforme combinado. Feijoada completa, digna de superlativos e exclamações. Animadíssima, convidados numerosos: motoristas de praça, músicos amadores com violão e flauta, um tocador de cavaquinho de primeira, moças da vizinhança, amigas da mulher de Tião, assanhadas.
Cachaça e cerveja, gasosa para as mulheres. Comeram, beberam, cantaram, dançando por fim ao som de uma vitrola. Todos tratando Januário e Tereza de marido e mulher:
- Aquela bonita é mulher do grandão.
- Homem do mar, logo se vê.
- Que pedaço de mulher!
- É uma uva Cavalcanti, mas não se meta com ela, é casada com aquele zarro.
Mulher de marítimo, quem não sabe? em pouco tempo é viúva, por morte de marido no mar ou por ir-se ele embora. Amor de marujo tem a duração da maré. Nem por sabê-lo fugaz, momentânea alegria, dele fugiu Tereza Batista.
Pesado preço a pagar, a vida de luto; ainda assim valeu a pena a efémera madrugada de amor: pelo mais caro preço, ai, foi barato.
Só me dirás na véspera, pediu-lhe Tereza, não quero saber antes o dia da tua partida. Agem como se fossem viver juntos toda a vida, sem prever separação próxima ou remota, fundeada para sempre a barcaça Ventania no porto de Aracaju. Nas areias da praia, na mata de coqueiros, nos esconderijos da ilha, no quarto de Tereza, na quilha da barcaça, vivem esses dias de festa num frenesi. Os ais de amor povoam Sergipe.
Januário participa de toda a vida de Tereza: no ensaio lhe ensina gingas de capoeira, jogos de corpo flexível, dando graça, elegância e atrevimento ao samba de Angola, mestre de saveiro e capoeira, dançador de afoxé.
Acompanha, tenso de interesse, os mínimos progressos de Joana das Folhas, rindo alegremente quando constata a mão finalmente domada, capaz de dirigir o lápis e a caneta, arranhando ainda o papel, não mais o rompendo, porém; ainda respingando tinta, mas sem transformar as letras em borrão ilegível.
Há sempre um momento, durante a aula vespertina, quando os três sorriem juntos, Tereza, Januário e Joana das Folhas.
Beijam-se na marinete, passeiam de mãos dadas pelo porto, sentam-se a conversar na Ponte do Imperador, na popa da barcaça Ventania. Uma noite, num bote, Januário a levou: abandonando os remos, no barco balouçante a teve nos braços, os dois vestidos numa confusão de salpicos de água e de risos, a leve embarcação à deriva, rio abaixo. Depois atracou na ilha dos Coqueiros, saíram a descobrir recantos. Na noite da Atalaia perseguiam a lua no céu; sozinhos na praia imensa, tirando a roupa, entravam mar a dentro, Tereza entregando-se no meio das águas, toda sal e espuma.
- Agora tu não é Iansã, tu só é Iansã na hora da briga. Agora tu é Janaína, rainha do mar – lhe disse Januário, familiar dos orixás.
Tereza tinha vontade de perguntar sobre o saveiro Flor das Águas, as travessias, o rio Paraguaçu, a ilha de Itaparica, os portos de atracação e como era a vida por lá, pela Bahia. Mas desde aquela primeira noite na Atalaia, quando ele lhe contara o mais importante, não voltaram a falar de tais assuntos, de saveiros, do rio Paraguaçu, de Maragogipe, Santo Amaro e Cachoeira, de ilhas e praias, da cidade da Bahia, das águas do mar de Todos-os-Santos. Conversam sobre temas de Aracajú: a audiência final no processo de Joana das Folhas com data marcada pelo juiz, o Paris Alegre, os ensaios dos números de dança, a estreia finalmente à vista, o dente de ouro chegando ao termo do cinzel – dentista ou escultor, Jamil Najar? Artista da prótese dentária, responde ele exibindo a hora prima. Sobre tais temas praticam como se jamais se fossem separar, a vida tendo parado em hora de amor.
No domingo com Lulu Santos e mestre Caetano Gunzá, compareceram ao almoço em casa do motorista Tião, conforme combinado. Feijoada completa, digna de superlativos e exclamações. Animadíssima, convidados numerosos: motoristas de praça, músicos amadores com violão e flauta, um tocador de cavaquinho de primeira, moças da vizinhança, amigas da mulher de Tião, assanhadas.
Cachaça e cerveja, gasosa para as mulheres. Comeram, beberam, cantaram, dançando por fim ao som de uma vitrola. Todos tratando Januário e Tereza de marido e mulher:
- Aquela bonita é mulher do grandão.
- Homem do mar, logo se vê.
- Que pedaço de mulher!
- É uma uva Cavalcanti, mas não se meta com ela, é casada com aquele zarro.
Mulher de marítimo, quem não sabe? em pouco tempo é viúva, por morte de marido no mar ou por ir-se ele embora. Amor de marujo tem a duração da maré. Nem por sabê-lo fugaz, momentânea alegria, dele fugiu Tereza Batista.
Pesado preço a pagar, a vida de luto; ainda assim valeu a pena a efémera madrugada de amor: pelo mais caro preço, ai, foi barato.
INFORMAÇÕES ADICIONAIS
À ENTRVISTA Nº 82 SOBRE O TEMA:
“JUDAS TRAIDOR?” (3)
O Desprezo do Corpo
O Evangelho de Judas faz parte dos textos gnósticos que circulou durante séculos entre as primeiras comunidades cristãs, especialmente na igreja de Alexandria.
Alguns estudiosos dizem que essa experiência originou o núcleo da "gnose" - sentimentos de solidão e exílio existencial, “conhecimento” da origem do mal no mundo e a capacidade de o superar por caminhos espirituais - a que se juntou a decepção de algumas comunidades cristãs perante o atraso do fim do mundo, anunciado por Jesus, que muitos esperavam e a essa frustração sucedeu uma vontade e uma intenção de "resistir até o fim."
Todos estes sentimentos teriam incentivado o nascimento de certas expressões da vida monástica, em que o desprezo do corpo e a renúncia do amor conjugal encontraram espaço. O desprezo de Jesus pelo seu próprio corpo, como uma "prisão da alma", motiva a cumplicidade de Jesus com Judas neste evangelho gnóstico.
Alguns estudiosos dizem que essa experiência originou o núcleo da "gnose" - sentimentos de solidão e exílio existencial, “conhecimento” da origem do mal no mundo e a capacidade de o superar por caminhos espirituais - a que se juntou a decepção de algumas comunidades cristãs perante o atraso do fim do mundo, anunciado por Jesus, que muitos esperavam e a essa frustração sucedeu uma vontade e uma intenção de "resistir até o fim."
Todos estes sentimentos teriam incentivado o nascimento de certas expressões da vida monástica, em que o desprezo do corpo e a renúncia do amor conjugal encontraram espaço. O desprezo de Jesus pelo seu próprio corpo, como uma "prisão da alma", motiva a cumplicidade de Jesus com Judas neste evangelho gnóstico.
quarta-feira, fevereiro 16, 2011
ROBERTA MIRANDA - MEU DENGO
Em pouquíssimo tempo as canções "Meu Dengo", "Chuva de Amor" e "São Tantas Coisas" tornaram-se num imenso sucesso com mais de 800.000 cópias vendidas, Disco de Ouro e de Platina. Em 1987 o segundo "Roberta Miranda" com as canções "Vá com Deus", "Esperança" e "Reie dos Reis" vendem quase 1 milhão e a carismática Roberta Miranda conquista definitivamente o público e torna-se uma das compositoras mais requisitadas do Brasil.
TEREZA
BATISTA
CANSADA
DE
GUERRA
Episódio Nº 32
Essas raparigas de hoje são umas estouvadas, não têm juízo, não pensam no dia de amanhã, considera a velha Adriana, balançando a cabeça canosa, em conversa com Lulu Santos:
- Maluca é o que ela é, está jogando fora a sorte grande…
- A sorte grande era industrial e senador.
O rábula aparecera para visitar Tereza, a velha abre-lhe o coração:
- Tereza não pára em casa, sai logo depois do café, noite e dia atrás desse maldito canoeiro.
Moça com aquele porte e aquela figura poderia obter o bem que quisesse e entendesse na cidade de Aracajú, onde não falta homem direito, casado, de posição, com dinheiro para gastar, disposto a proteger, a assumir a responsabilidade de regalo da categoria de Tereza.
Ela, Adriana, não morre de amores por Veneranda, Lulu conhece as causas da antipatia, mas a verdade deve ser proclamada: dessa vez a enganjenta agira com a maior correcção. Mandara propor a Tereza discreto encontro no castelo, sabe Lulu com quem? Adivinhe se é capaz! Baixava a voz para revelar o nome do industrial e banqueiro, senador da República. Por uma tarde na cama com Tereza, uma tarde somente, oferecia pequena fortuna, parece tê-la de olho desde o tempo de Estância, paixão antiga, tesão cozinhada em fogo lento (desculpe Lulu a expressão, repetia frase de veneranda). A casteleira procurara Adriana de intermediária, prometendo-lhe razoável comissão.
Para Tereza, bolada maciça – mais importante ainda, porém, a possibilidade do generoso ricaço se agradar do manejo de ancas da rapariga (e certamente se agradaria), estabelecendo-a em casa forrada de um tudo. Tereza com a mão na massa e ela, Adriana, amiga do peito, catando as sobras, com as sobras se satisfaz.
Tereza desmiolada, onde tem a cabeça? Não contente de recusar, como Adriana insistisse – tinha de cumprir a palavra empenhada a Veneranda – ameaçara mudar-se. Absurdo sem sentido desprezar o homem mais rico de Sergipe por um reles marujo de água doce, onde se viu maluquice igual?
Ah! essas raparigas de hoje, cabeças de vento, só pensam em botar mas não com quem paga a pena e sim com xodós fubecas, enrabichadas por qualquer pobretão. Esquecem o primordial, o dinheiro, a mola do mundo; terminam todas num hospital de indigentes.
Lulu Santos diverte-se com o desespero da velha e ainda por cima a amola a propósito da gorjeta prometida por Veneranda: então a velha Adriana, mulher de princípios e tradição, discreta, se transformava em alcaguete a serviço da mais famigerada caftina de Aracajú? Onde enfiara o orgulho profissional?
- Lulu, os tempos estão difíceis e o dinheiro não tem marca nem cheiro.
Adriana, minha boa Adriana, deixe a moça em paz. Tereza sabe o valor do dinheiro, não se engane; mas sabe ainda mais o valor da vida e do amor. Pensa que é somente o senador quem está atrás dela, de carteira na mão e tesão de mijo (desculpe a expressão, repito também Veneranda)? Existe um poeta coberto de versos, cada estrofe valendo de per si os milhões do industrial, morrendo por ela. Se não deu ao poeta, porque houvera de dar ao patrão dos tecidos?
- Maluca é o que ela é, está jogando fora a sorte grande…
- A sorte grande era industrial e senador.
O rábula aparecera para visitar Tereza, a velha abre-lhe o coração:
- Tereza não pára em casa, sai logo depois do café, noite e dia atrás desse maldito canoeiro.
Moça com aquele porte e aquela figura poderia obter o bem que quisesse e entendesse na cidade de Aracajú, onde não falta homem direito, casado, de posição, com dinheiro para gastar, disposto a proteger, a assumir a responsabilidade de regalo da categoria de Tereza.
Ela, Adriana, não morre de amores por Veneranda, Lulu conhece as causas da antipatia, mas a verdade deve ser proclamada: dessa vez a enganjenta agira com a maior correcção. Mandara propor a Tereza discreto encontro no castelo, sabe Lulu com quem? Adivinhe se é capaz! Baixava a voz para revelar o nome do industrial e banqueiro, senador da República. Por uma tarde na cama com Tereza, uma tarde somente, oferecia pequena fortuna, parece tê-la de olho desde o tempo de Estância, paixão antiga, tesão cozinhada em fogo lento (desculpe Lulu a expressão, repetia frase de veneranda). A casteleira procurara Adriana de intermediária, prometendo-lhe razoável comissão.
Para Tereza, bolada maciça – mais importante ainda, porém, a possibilidade do generoso ricaço se agradar do manejo de ancas da rapariga (e certamente se agradaria), estabelecendo-a em casa forrada de um tudo. Tereza com a mão na massa e ela, Adriana, amiga do peito, catando as sobras, com as sobras se satisfaz.
Tereza desmiolada, onde tem a cabeça? Não contente de recusar, como Adriana insistisse – tinha de cumprir a palavra empenhada a Veneranda – ameaçara mudar-se. Absurdo sem sentido desprezar o homem mais rico de Sergipe por um reles marujo de água doce, onde se viu maluquice igual?
Ah! essas raparigas de hoje, cabeças de vento, só pensam em botar mas não com quem paga a pena e sim com xodós fubecas, enrabichadas por qualquer pobretão. Esquecem o primordial, o dinheiro, a mola do mundo; terminam todas num hospital de indigentes.
Lulu Santos diverte-se com o desespero da velha e ainda por cima a amola a propósito da gorjeta prometida por Veneranda: então a velha Adriana, mulher de princípios e tradição, discreta, se transformava em alcaguete a serviço da mais famigerada caftina de Aracajú? Onde enfiara o orgulho profissional?
- Lulu, os tempos estão difíceis e o dinheiro não tem marca nem cheiro.
Adriana, minha boa Adriana, deixe a moça em paz. Tereza sabe o valor do dinheiro, não se engane; mas sabe ainda mais o valor da vida e do amor. Pensa que é somente o senador quem está atrás dela, de carteira na mão e tesão de mijo (desculpe a expressão, repito também Veneranda)? Existe um poeta coberto de versos, cada estrofe valendo de per si os milhões do industrial, morrendo por ela. Se não deu ao poeta, porque houvera de dar ao patrão dos tecidos?
Não quis sequer a mim Adriana, que sou o doce de coco das mulheres de Aracajú; só quis quem lhe falou ao coração. Deixe Tereza em paz no tempo breve do amor e alegria e se prepare para dela cuidar com carinho, dando-lhe o conforto da amizade quando, amanhã ou depois, daqui a contados dias, o marinheiro for embora e começar o tempo desmedido do amargo desespero, quando ela estiver a roer beira de penico (desculpe mais essa grosseria expressão de nossa finíssima Veneranda).
Prometer, Adriana prometeu – será irmã e mãe para Tereza enxugando-lhe as lágrimas (Tereza é de choro difícil, minha velha), se bem, cabeça-de-vento, fosse ela a única culpada; lhe oferecerá o ombro e o coração. Nos olhos de Adriana, fugaz clarão de esperança: de testa fria, livre da presença do grandalhão, quem sabe Tereza reconsidere e resolva aceitar a bolada do pai-da-pátria. Adriana se satisfaz com as sobras.
Prometer, Adriana prometeu – será irmã e mãe para Tereza enxugando-lhe as lágrimas (Tereza é de choro difícil, minha velha), se bem, cabeça-de-vento, fosse ela a única culpada; lhe oferecerá o ombro e o coração. Nos olhos de Adriana, fugaz clarão de esperança: de testa fria, livre da presença do grandalhão, quem sabe Tereza reconsidere e resolva aceitar a bolada do pai-da-pátria. Adriana se satisfaz com as sobras.
INFORMAÇÕES ADICIONAIS
À ENTREVISTA Nº 82 SOB O TEMA:
“JUDAS TRAIDOR?” (2)
Como Judas Aparece no "seu" Evangelho“JUDAS TRAIDOR?” (2)
Ao contrário da imagem negativa de Judas no geral, criada muito cedo na igreja primitiva, neste texto é avaliado positivamente. Judas aparece como o discípulo amado, a quem, por isso, Jesus confiara os seus planos e lhe teria pedido para ser ele a entregá-lo à morte.
Na introdução do texto indica-se que ele incorpora as revelações que Jesus terá feito a Judas, em conversa privada, três dias antes da Páscoa.
Escrito na terceira pessoa, o texto é um diálogo entre Jesus e seus discípulos, especialmente Judas, a quem Jesus havia profetizado:
- “Tu serás o décimo terceiro, e serás amaldiçoado por gerações, mas virás para governá-los". Jesus agradece a Judas e elogia-o: "Tu superas todos eles. Pois tu sacrificarás o homem que me cobre."
No final do relato, pouco depois de entrar numa nuvem luminosa, Judas recebeu "algum dinheiro". Jesus agradece-lhe o que ele fez, e já livre do corpo pode voltar ao grande e ilimitado reino cuja vastidão jamais foi vista por alguma geração de anjos.
Embora a imagem negativa de Judas mude neste texto, a visão fatalista da morte de Jesus não só não muda, como se reforça: Jesus quer morrer, quer livrar-se do seu corpo, do "homem que o cobre” e ele mesmo projectou esse plano com o seu amigo pedindo-lhe que o execute.
Na introdução do texto indica-se que ele incorpora as revelações que Jesus terá feito a Judas, em conversa privada, três dias antes da Páscoa.
Escrito na terceira pessoa, o texto é um diálogo entre Jesus e seus discípulos, especialmente Judas, a quem Jesus havia profetizado:
- “Tu serás o décimo terceiro, e serás amaldiçoado por gerações, mas virás para governá-los". Jesus agradece a Judas e elogia-o: "Tu superas todos eles. Pois tu sacrificarás o homem que me cobre."
No final do relato, pouco depois de entrar numa nuvem luminosa, Judas recebeu "algum dinheiro". Jesus agradece-lhe o que ele fez, e já livre do corpo pode voltar ao grande e ilimitado reino cuja vastidão jamais foi vista por alguma geração de anjos.
Embora a imagem negativa de Judas mude neste texto, a visão fatalista da morte de Jesus não só não muda, como se reforça: Jesus quer morrer, quer livrar-se do seu corpo, do "homem que o cobre” e ele mesmo projectou esse plano com o seu amigo pedindo-lhe que o execute.
terça-feira, fevereiro 15, 2011
Uma Boa Mentira...
Um tipo do norte comprou um Mercedes e estava a dar uma volta numa estrada nacional à noite. A capota estava recolhida, a brisa soprava levemente pelo seu cabelo e ele decidiu puxar um bocadinho pelo carro. Assim que a agulha chegou aos 130 km/h, ele de repente reparou numas luzes azuis por trás dele...
"De maneira alguma conseguem acompanhar um Mercedes", pensou ele para consigo mesmo, e acelerou ainda mais.
A agulha bateu os 150, 170, 180 e, finalmente, os 200 km/h... e sempre com as luzes atrás dele.
Entretanto teve um momento de lucidez e pensou:
- "Mas que raio é que eu estou a fazer?!" e logo de seguida encostou.
O polícia chegou ao pé dele, pediu-lhe a carta de condução e sem dizer uma palavra nem examinar o carro, diz-lhe:
- "Mas que raio é que eu estou a fazer?!" e logo de seguida encostou.
O polícia chegou ao pé dele, pediu-lhe a carta de condução e sem dizer uma palavra nem examinar o carro, diz-lhe:
- Eu tive um turno bastante longo e esta é a minha última paragem. Não estou com vontade de tratar de mais papeladas, por isso, se me der uma desculpa pela forma como conduziu que eu ainda não tenha ouvido deixo-o ir embora!
Responde o transgressor:
- Na semana passada a minha mulher fugiu de casa com um polícia... E eu estava com medo que fosse ele e a quisesse devolver!...
Diz-lhe o polícia devolvendo os documentos:
- Tenha uma boa noite!...
ROBERTA MIRANDA - SÃO TANTAS COISAS (1986)
É a terceira cantora brasileira que mais discos vendeu, 14,2 milhões. Xuxa e Maria Betânia, respectivamente com 33 e 24 milhões, ocupam primeiro e segundo lugares. Roberta é uma lutadora que respondeu ao desafio das Gravadoras RCA e CBS que a um pedido seu para gravar disseram: "Já tem muita mulher cantando...passe bem e obrigado". Compunha em casa e no camarim criando um estilo inconfundível e procurando sempre qualidade em tudo o que fazia.
TEREZA
BATISTA
CANSADA
DE
GUERRA
Episódio Nº 31
Com a chegada de Januário, despedem-se o poeta e o pintor. O poeta não persegue senão uma quimera, frustrado idílio, sonho efémero, imorredouro nos poemas nascidos da moça de cobre, versos de paixão e morte. O pintor, silencioso, nos olhos fundos como se olhasse para fora e para dentro apoderando-se da imagem inesquecível, de cada expressão da carga do passado e da força vital: a bailarina, a mulher com ciclâmen, virgem sertaneja, a mulher do porto, a cigana, a rainha do samba, a filha do povo, em quantos quadros, sob quantos títulos colocou a face de Tereza?
Após o ensaio, por volta das seis, Tereza retorna ao sítio em companhia de Januário, a aula recomeça. Tempo cansado mas distraído, sem um minuto de folga. Naqueles dias intensos ficaram amigas, Joana e Tereza.
A negra lhe contou do marido, labrego vistoso e potente, de bom coração, triste somente com o filho a quem quisera vendo lavrar a terra, desenvolvendo a chácara, a horta, o pomar, a freguesia, transformando o sítio numa pequena fazenda. Não perdoara a fuga do rapaz. Bonito e fogoso gostava de enfiar os frondosos bigodes no cangote da mulher; jamais olhara para outra, tinha sua negra Joana.
Quando ele morrera, Joana completara quarenta e um anos, dos quais vinte e três na companhia de Manuel França. Desde a morte do marido não voltara a ter regras, morta ela também para tais coisas.
Lulu Santos, nas folgas do fórum ou do bar aparecia na chácara para constatar e medir os progressos da sitiante. De início desanimado: a mão de Joana das Folhas, mão de amanho e estrume, de pá e enxada, jamais poderia traçar as letras do nome de dona Joana França; o tempo curto, a audiência iminente, o advogado de Libório, mequetrefe de porta de xadrez, dando pressa ao juiz. Com o passar dos dias, foi-se o rábula animando, voltou-lhe o optimismo. Já a caneta não rasga o papel, diminuem os borrões; das mãos de Joana, no milagre de Tereza, começam a nascer as letras.
A mão de Joana marcha sozinha e quando Tereza se despede às oito da noite (na marinete cheia, num escândalo de beijos começa a noite de amor), a negra prossegue a riscar o papel, reescrevendo o alfabeto, palavras e mais palavras, o próprio nome vezes sem conta. O borrão inicial se faz escrita, garatujas cada vez mais limpas, mais firmes, menos ilegíveis. Joana das Folhas defendendo tudo quanto possui, pequeno sítio por Manuel e por ela transformado em chácara modelar de verdura e legumes, em pomar de frutas escolhidas, seu ganha pão, herança recebida do marido, terra de fértil sementeira de onde tira o necessário às parcas despesas da casa e o supérfluo para os desatinos do filho ingrato e bem-amado.
INFORMAÇÕES ADICIONAIS
À ENTREVISTA Nº 82 SOB O TEMA:
“JUDAS TRAIDOR?" (1)
Um Texto Perdido e Achado
Na sua obra "Adversus Haereses" (Contra as Heresias), escrito por volta do ano 180, Irineu de Lyon, padre, bispo e santo, menciona a existência do Evangelho de Judas, quando ao falar a um grupo de gnósticos, chamados cainitas, o utilizou como referência. Irineu rejeitava Judas porque ele, então, já era visto como um maldito e no texto era elogiado. Irineu diz:
" E eles dizem que Judas, o traidor, conhecia estas coisas e só por ter conhecido antes dos outros a verdade, consumou o mistério da traição. Por ele é dito também, que foram dissolvidas todas as coisas celestes e terrestres e apresenta uma ficção deste género, dando-lhe o nome de Evangelho de Judas.
Até meados dos anos 70 do século XX este evangelho gnóstico foi dado como desaparecido, até que foi descoberto casualmente numa caverna no Egipto. É mais um dos textos gnósticos do século II, à semelhança da maioria dos "evangelhos apócrifos" encontrado em Nag Hammadi, em 1945.
" E eles dizem que Judas, o traidor, conhecia estas coisas e só por ter conhecido antes dos outros a verdade, consumou o mistério da traição. Por ele é dito também, que foram dissolvidas todas as coisas celestes e terrestres e apresenta uma ficção deste género, dando-lhe o nome de Evangelho de Judas.
Até meados dos anos 70 do século XX este evangelho gnóstico foi dado como desaparecido, até que foi descoberto casualmente numa caverna no Egipto. É mais um dos textos gnósticos do século II, à semelhança da maioria dos "evangelhos apócrifos" encontrado em Nag Hammadi, em 1945.
O Evangelho de Judas apareceu num manuscrito em copta, supostamente traduzido de um original grego. Por vários métodos, incluindo Carbono14, foi possível datá-lo como um manuscrito de entre 220 e 340. Depois de passar de museu para museu e de mãos para mãos, foi parar à National Geographic Society que publicou o seu conteúdo, em 2006, depois de o restaurar e traduzir.
Textos Gnósticos ou Apócrifos - Considerados pela Igreja oficial de Roma meras fantasias, inventadas por cristãos ou judeus piedosos.
Textos Canónicos - Considerados pela Igreja oficial de Roma como sendo os verdadeiros, os inspirados.
segunda-feira, fevereiro 14, 2011
ROBERTA MIRANDA
É impossível lembrar os nossos bailes dos anos 50/60 sem o ritmo dos boleros e este até tem um "cheirinho" de Ravel. Roberta Miranda nasceu em 1956, em João Pessoa, curiosamente, a cidade brasileira onde tive oportunidade, em 2004, de passar uma semana de férias em casa e a convite do meu falecido sobrinho. Recordo os banhos na praia de águas quentinhas, praticamente à temperatura do corpo, e as ostras fresquinhas, saborosas, apanhadas na noita anterior, regadas com sumo de limão e que eram vendidas na praia, dentro de um balde, pelo próprio pescador. (Como se costuma dizer: "Do produtor directamente ao consumidor e o mais possível junto do local da apanha). Nos próximos dias falaremos de Roberta Miranda, a Rainha da Canção Sertaneja.
N
TEREZA
BATISTA
CANSADA
DE
GUERRA
Episódio Nº 30
Joana concordou, convencida. Nesse caso o dinheiro guardado para pagar a dívida servirá para os honorários de Lulu: se bem nunca consiga, doutor, lhe pagar a caridade de ter aceite o caso sem esperar qualquer recompensa. Nem isso, minha cara, as custas e os honorários serão por conta do gatuno se a sentença for justa, como deve ser.
No fundo, não desagradava a Joana a ideia de dar uma lição ao falsário: possuía a malícia da gente do campo, uma esperteza natural a lhe fazer relativamente fácil o aprendizado do alfabeto, das sílabas, da leitura.
As mãos, porém, não tinham a agilidade da cabeça, capaz de perceber subtilezas e ardis. As mãos de Joana eram dois calos, dois montes de terra seca, raízes de árvores os dedos, galhos disformes, mãos acostumadas ao manejo da pá, da picareta, da enxada, do facão, do machado – como manejar lápis, caneta e pena?
Rompeu mil pontas de lápis, esgarranchou quantidade de penas, estragou toneladas de papel, mas nessa maratona contra o tempo e as mãos inábeis, Tereza foi de exemplar paciência e Joana, convencida pelos argumentos de lulu Santos, decidira ganhar vontade de ferro. Começou Tereza por cobrir com a mão tratada a mão torpe de Joana para lhe transmitir leveza e encaminhá-la.
Na chácara até às três da tarde, labutando com as mãos de Joana, parando apenas para rápido almoço. Trabalho cansativo, labor apaixonante: constatar cada mínima evidência de progresso, conter o desânimo a todo o momento, reerguendo-se dos fracassos, vitoriosa sobre a estafa e a tentação de desistir.
E Joana? Tão imenso esforço! Por vezes gritava o nome de Manuel, pedindo socorro, por vezes mordia as mãos como para castigá-las, e os olhos se lhe encheram de lágrimas quando finalmente traçou um jota legível.
Na marinete das três Tereza ia para o dentista, logo depois para o ensaio no Paris Alegre, onde Januário a encontra no fim de uma jornada para ele também trabalhosa: ajudando na carga, na limpeza, na pintura, no velame, no preparo da barcaça Ventania para a partida. Fora colocado a par do enredo, da fraude e da contra fraude – não há coisa melhor do que se enganar um sabido, dissera – nenhum outro estava no segredo.
Nem sequer Flori, a dar pressa ao dentista, vendo na poeira do chão os projectos de cama e mesa com a estrela candente do samba: o barcaceiro tomara a praça de assalto, Tereza derretida, a rir pelos cantos. Mas, conforme já se explicou antes, Pachola, homem com experiência do mundo e das mulheres, não desanima facilmente – mais dia, menos dia, completada a carga dos sacos de açúcar, suspendidas as velas nos mastros, abertas ao vento, a âncora levantada, a barcaça Ventania, casco ligeiro e bom de mar, desatracando da ponte tomará o rumo da Bahia. No piano, marcando a cadência do samba, Flori olha sem mágoa o gigante no alto da escada: vá esquentando a cama para nela eu me deitar, não há cama de tanta fúria como a de mulher com dor de corno.
ENTREVISTA FICCIONADA
COM JESUS CRISTO Nº82 SOB O TEMA:
”JUDAS O TRAIDOR”
”JUDAS O TRAIDOR”
- Já temos ligação com a National Geographic? ... Mantenha-nos em linha ...
RAQUEL - Amigos, de volta a Jerusalém nesta Sexta-Feira Santa ...
Desculpe, Jesus Cristo, hoje vamos conversar com pessoas de uma Revista muito séria que fez uma descoberta surpreendente... vou passar a chamada?
JESUS - Sim, Raquel, de que se trata?
RAQUEL - Não, escute-os…
NACIONAL GEOGRAFIC - Talvez o senhor, Jesus, que esteve ausente quase dois mil anos, não esteja tão a par das recentes descobertas bíblicas. Referimo-nos ao Evangelho de Judas.
JESUS - Judas, o meu amigo Judas?
NACIONAL - Precisamente, no Evangelho de Judas ele aparece como um seu grande amigo.
JESUS - Na verdade, ele era meu amigo, sim, um grande companheiro.
RAQUEL - Seria seu amigo, mas traíu-o ...
JESUS - Eu prefiro pensar que Judas se confundiu e…
NATIONAL - O que sabemos agora é que Judas fez-lhe um grande favor.
JESUS - Um grande favor? Que favor? Eu não entendo.
NATIONAL - Segundo o Evangelho de Judas, o senhor pediu-lhe que o libertasse do corpo porque pensava que ele era a prisão da alma e, morrendo na cruz, a sua alma divina estava livre para ir para junto de Deus.
JESUS - Judas, o zelota, escreveu uma coisa assim?
RAQUEL - Ele, seguramente não, porque se suicidou na sexta-feira, mas antes de morrer, terá contado a alguém ...
JESUS – Mas, que disparate estão dizendo?
NATIONAL – Vamos por partes. O que pediu o senhor Jesus Cristo a Judas antes de morrer?
JESUS - Nada. O mesmo que a todos os outros do movimento, que fossemos unidos.
NATIONAL – Mas o senhor precisava que Judas o entregasse... Lembre-se... da última Ceia… do beijo no Jardim das Oliveiras... tudo bem planeado..
JESUS - Planeado por quem?
NACIONAL - Pelo senhor, é claro. Por Deus. E Judas predispôs-se a cumprir o plano de Deus. Isso é o que revela o texto que encontramos numa caverna no Egipto.
JESUS (ri-se) - Vocês não conheceram o meu amigo Judas e aquele que escreveu isso no documento que encontraram na caverna, também não.
NACIONAL - Quem foi Judas, então?
JESUS - Um revolucionário, um zelota. Os zelotas lutavam para expulsar os romanos do nosso país.
RAQUEL - Zelota ou não, ele vendeu-o por trinta moedas.
JESUS – Ouve, Raquel e o senhor da Revista também... os zelotas eram muito impacientes. Judas talvez tenha usado uma falsa medida pensando que se eu caísse prisioneiro, o povo se sublevaria e apressasse o dia da libertação da nossa terra…
RAQUEL - E esse dia não chegou…
JESUS - Chegaram os romanos. Houve protestos, sim, mas os romanos sufocaram-nos.
NACIONAL - Então, para o senhor Jesus Cristo, o Evangelho de Judas é falso?
JESUS - Sim, e a maior mentira é dizer que o corpo é uma prisão. O corpo é o templo de Deus.
RAQUEL - Obrigado, colegas da National Geographic. Em qualquer caso, Jesus Cristo, o senhor ficou desapontado com aquilo que Judas fez ...
JESUS - Judas foi o mais decepcionado. Quando viu que o seu plano estava a falhar, ficou desesperado e ...
RAQUEL - Enforcou-se e foi para o inferno ...
JESUS - Por que o mandas para o inferno, Raquel?
RAQUEL - Bem, não para aí, porque numa entrevista anterior o senhor disse que não há inferno, mas ...foi condenado, não sei onde, mas foi condenado.
JESUS - Por que dizes isso?
RAQUEL - Porque o suicídio, tal como fomos ensinados, é um dos piores pecados. E como é o último ato que praticam em consciência, morrem em pecado e são automaticamente condenados.
JESUS – Aqueles que ensinam isso não conhecem o coração de Deus e também não sabem nada do desespero. Quem pode julgar o que estava no coração do meu amigo Judas quando, naquela sexta-feira, ele se retirou da vida?
RAQUEL - Pelo que ouvimos, este o caso dá para muita coisa... Judas amigo, traidor, evangelista? Como havemos de lhe chamar?
JESUS – Chama-lhe Judas Iscariotes, a cidade onde ele cresceu. Judas, era seu nome. E garanto-te que o seu nome também está escrito no Livro da Vida.
RAQUEL - Uma pausa e regressaremos. Raquel Perez, de Jerusalém.
Desculpe, Jesus Cristo, hoje vamos conversar com pessoas de uma Revista muito séria que fez uma descoberta surpreendente... vou passar a chamada?
JESUS - Sim, Raquel, de que se trata?
RAQUEL - Não, escute-os…
NACIONAL GEOGRAFIC - Talvez o senhor, Jesus, que esteve ausente quase dois mil anos, não esteja tão a par das recentes descobertas bíblicas. Referimo-nos ao Evangelho de Judas.
JESUS - Judas, o meu amigo Judas?
NACIONAL - Precisamente, no Evangelho de Judas ele aparece como um seu grande amigo.
JESUS - Na verdade, ele era meu amigo, sim, um grande companheiro.
RAQUEL - Seria seu amigo, mas traíu-o ...
JESUS - Eu prefiro pensar que Judas se confundiu e…
NATIONAL - O que sabemos agora é que Judas fez-lhe um grande favor.
JESUS - Um grande favor? Que favor? Eu não entendo.
NATIONAL - Segundo o Evangelho de Judas, o senhor pediu-lhe que o libertasse do corpo porque pensava que ele era a prisão da alma e, morrendo na cruz, a sua alma divina estava livre para ir para junto de Deus.
JESUS - Judas, o zelota, escreveu uma coisa assim?
RAQUEL - Ele, seguramente não, porque se suicidou na sexta-feira, mas antes de morrer, terá contado a alguém ...
JESUS – Mas, que disparate estão dizendo?
NATIONAL – Vamos por partes. O que pediu o senhor Jesus Cristo a Judas antes de morrer?
JESUS - Nada. O mesmo que a todos os outros do movimento, que fossemos unidos.
NATIONAL – Mas o senhor precisava que Judas o entregasse... Lembre-se... da última Ceia… do beijo no Jardim das Oliveiras... tudo bem planeado..
JESUS - Planeado por quem?
NACIONAL - Pelo senhor, é claro. Por Deus. E Judas predispôs-se a cumprir o plano de Deus. Isso é o que revela o texto que encontramos numa caverna no Egipto.
JESUS (ri-se) - Vocês não conheceram o meu amigo Judas e aquele que escreveu isso no documento que encontraram na caverna, também não.
NACIONAL - Quem foi Judas, então?
JESUS - Um revolucionário, um zelota. Os zelotas lutavam para expulsar os romanos do nosso país.
RAQUEL - Zelota ou não, ele vendeu-o por trinta moedas.
JESUS – Ouve, Raquel e o senhor da Revista também... os zelotas eram muito impacientes. Judas talvez tenha usado uma falsa medida pensando que se eu caísse prisioneiro, o povo se sublevaria e apressasse o dia da libertação da nossa terra…
RAQUEL - E esse dia não chegou…
JESUS - Chegaram os romanos. Houve protestos, sim, mas os romanos sufocaram-nos.
NACIONAL - Então, para o senhor Jesus Cristo, o Evangelho de Judas é falso?
JESUS - Sim, e a maior mentira é dizer que o corpo é uma prisão. O corpo é o templo de Deus.
RAQUEL - Obrigado, colegas da National Geographic. Em qualquer caso, Jesus Cristo, o senhor ficou desapontado com aquilo que Judas fez ...
JESUS - Judas foi o mais decepcionado. Quando viu que o seu plano estava a falhar, ficou desesperado e ...
RAQUEL - Enforcou-se e foi para o inferno ...
JESUS - Por que o mandas para o inferno, Raquel?
RAQUEL - Bem, não para aí, porque numa entrevista anterior o senhor disse que não há inferno, mas ...foi condenado, não sei onde, mas foi condenado.
JESUS - Por que dizes isso?
RAQUEL - Porque o suicídio, tal como fomos ensinados, é um dos piores pecados. E como é o último ato que praticam em consciência, morrem em pecado e são automaticamente condenados.
JESUS – Aqueles que ensinam isso não conhecem o coração de Deus e também não sabem nada do desespero. Quem pode julgar o que estava no coração do meu amigo Judas quando, naquela sexta-feira, ele se retirou da vida?
RAQUEL - Pelo que ouvimos, este o caso dá para muita coisa... Judas amigo, traidor, evangelista? Como havemos de lhe chamar?
JESUS – Chama-lhe Judas Iscariotes, a cidade onde ele cresceu. Judas, era seu nome. E garanto-te que o seu nome também está escrito no Livro da Vida.
RAQUEL - Uma pausa e regressaremos. Raquel Perez, de Jerusalém.
domingo, fevereiro 13, 2011
HOJE É DOMINGO
As manhãs de Domingo, nesta minha velhinha cidade de Santarém, são calmas e relaxantes. Mesmo hoje que é dia de feira (Domingo sim, Domingo não) essa sensação de um certo abandono está presente nas pessoas que vagueiam por entre os produtos expostos nas bancas na mira de comprarem por melhor preço ou de qualidade mais genuína, fora dos padrões impostos pelos grandes espaços comerciais.
O meu Café, ao Domingo, tem clientela acrescida, vêm os filhos e os netos, há mais barulho, menos sossego mas eu não tenho dificuldade em concentrar-me na leitura dos jornais desligando-me do meio ambiente.
Está na ordem do dia o Egipto. Depois de ter caído o Muro de Berlim, foi agora a vez do Muro do Nilo. Toda a Europa democrata que conviveu e apadrinhou o líder ditador ao longo de trinta anos regozija-se agora com a sua queda.
Convinha-nos aquela paz podre e musculada que impunha e permitia a tranquilidade nos circuitos turísticos: máquinas de fotografar e de filmar a recolherem imagens de uma realidade que só nos interessava exactamente para isso, para a fotografia. Mais uma viagem que, com o tempo, se mistura na nossa memória com outras que fizemos… porque é tudo muito rápido, tudo a fugir, tudo de passagem.
E agora? Como vai evoluir a situação do povo das pirâmides? Lembram-se dos tempos conturbados no nosso país depois da revolução dos Cravos?
É-nos reconfortante ver tudo acabar (?) em bem com as pessoas, não só os jovens, a varrerem as ruas e a removerem o lixo em sacos de plástico chamando-lhes os “restos da ditadura” dando uma nova imagem daquela a que agora chamam a Praça da Libertação e que durante 18 dias foi palco de cenas de desordem e pancadaria com mortos, hoje heróis, feridos e muitas cabeças partidas com o espectáculo do sangue por todo o lado.
A nossa simpatia vai toda para essa juventude, para toda essa gente que “tratou” do seu futuro sem queimar bandeiras nem palavras de ódio.
O meu Café, ao Domingo, tem clientela acrescida, vêm os filhos e os netos, há mais barulho, menos sossego mas eu não tenho dificuldade em concentrar-me na leitura dos jornais desligando-me do meio ambiente.
Está na ordem do dia o Egipto. Depois de ter caído o Muro de Berlim, foi agora a vez do Muro do Nilo. Toda a Europa democrata que conviveu e apadrinhou o líder ditador ao longo de trinta anos regozija-se agora com a sua queda.
Convinha-nos aquela paz podre e musculada que impunha e permitia a tranquilidade nos circuitos turísticos: máquinas de fotografar e de filmar a recolherem imagens de uma realidade que só nos interessava exactamente para isso, para a fotografia. Mais uma viagem que, com o tempo, se mistura na nossa memória com outras que fizemos… porque é tudo muito rápido, tudo a fugir, tudo de passagem.
E agora? Como vai evoluir a situação do povo das pirâmides? Lembram-se dos tempos conturbados no nosso país depois da revolução dos Cravos?
É-nos reconfortante ver tudo acabar (?) em bem com as pessoas, não só os jovens, a varrerem as ruas e a removerem o lixo em sacos de plástico chamando-lhes os “restos da ditadura” dando uma nova imagem daquela a que agora chamam a Praça da Libertação e que durante 18 dias foi palco de cenas de desordem e pancadaria com mortos, hoje heróis, feridos e muitas cabeças partidas com o espectáculo do sangue por todo o lado.
A nossa simpatia vai toda para essa juventude, para toda essa gente que “tratou” do seu futuro sem queimar bandeiras nem palavras de ódio.
Muitos milhares de pessoas naquele país e na cidade do Cairo dependem dos permanentes fluxos turísticos para a sobrevivência diária e, para já, a melhor maneira de os ajudar seria inscrevermo-nos na próxima excursão para recolhermos imagens, agora, não só das pirâmides e da esfinge mas também de um povo que finalmente, ao fim de décadas de ditadura, vive agora a experiência nova da liberdade… da aventura arriscada da liberdade.
Por cá, as manobras do costume da “baixa política”, da política ineficaz, do espectáculo dos senhores deputados “ralhando” uns com os outros e com os senhores do governo enquanto a taxa de juro dos empréstimo continua a subir sem podermos fazer nada e sem que ninguém nos defenda.
Parece que lá para Março vamos ter uma moção de censura – instrumento político concebido para derrubar governos e provocar, em antecipação, novas eleições – mas esta, que foi anunciada pelo Bloco de Esquerda, parece ter sido para atingir outros desígnios sobre os quais ainda não existe consenso mas todos os comentadores e políticos falam dela e, naturalmente, foi para isso que a anunciaram: para falarmos dela.
Mas hoje é Domingo e já nos basta a chuva que cai e o algum frio que faz para, ainda por cima, gastarmos tempo com inutilidades políticas.
Bom Domingo para todos.