sexta-feira, novembro 09, 2007

Orçamento para 2008


Orçamento para 2008
DISCUSSÃO NA GENERALIDADE

O ponto alto da democracia não é no dia em que os portugueses escolhem os seus governantes através do voto mas sim aquele em que no Parlamento discutem na Generalidade os Orçamentos para o ano seguinte.

O dia do voto, com a precisão com que hoje se fazem as previsões dos resultados eleitorais, deixa de conter qualquer factor surpresa para além da confirmação ao pormenor de qual a Agencia que nas décimas mais perto ficou do desfecho final o que, em si, não constitui grande aliciante.

De resto, são dias sensaborões, obrigatoriamente silenciosos para emprestar ao acto a dignidade que o falatório das campanhas lhe parece retirar.

Ao contrário, o Parlamento, é o palco por excelência em que a democracia se exerce através dos seus mais insignes representantes, líderes máximos das forças políticas em contenda.

É verdade que também não existe o factor surpresa o qual, tirando os desastres de viação e os grandes cataclismos, vai desaparecendo gradualmente face aos grandes avanços da ciência e tecnologia que vão permitindo, cada vez mais, prever o futuro.

Mas a discussão do Orçamento na Generalidade proporciona-nos um espectáculo em que os políticos nos revelam, fundamentalmente, as suas qualidades de artistas da palavra, da expressão e do gesto.

Esgrimem-se argumentos com a mesma contundência e habilidade com que, nos finais do século XVIII, se esgrimiam as espadas nos duelos pela honra ou pela dama.

“Senhor Presidente da Assembleia, pretendo usar da palavra para defesa da minha honra”.

Cá está a reminiscência do passado, as damas saíram de cena mas a honra, como valor perene, continua a justificar que se lute por ela.

Pessoalmente, acho que este é um momento muito especial da discussão parlamentar dado o seu carácter intimista o qual, como humanos que somos, tanto nos atrai e sensibiliza.

Cansados, por vezes, de tantos argumentos de natureza politica o nosso grau de atenção pode mesmo diminuir mas se algum deputado pedir a palavra para defender a honra, imediatamente apuramos os ouvidos porque, finalmente, as coisas vão poder aquecer e a política dar lugar à quezília pessoal, às insinuações, “aos golpes baixos” e isto seguido da réplica e até da tréplica.

É a democracia parlamentar de má memória neste país quando, aos Domingos e porque era Domingo, não havia uma revolução em Portugal.

Mas quem não gosta, um bocadinho que seja, da democracia feita espectáculo, quem pode negar o interesse que ela desperta perante a enchente das galerias da Assembleia e os níveis de audiência da televisão para assistir ao embate Sócrates/ Santana Lopes?

Não será isto, um pouco, um lenitivo para os sacrifícios e dificuldades do povo?

É certo que o espectáculo não resultou tendo havido mesmo quem falasse na devolução dos bilhetes mas temos que entender, também, que nem sempre os actores, mesmo os de primeira linha, como é o caso do Dr. Santana Lopes, têm que estar inspirados.

O Eng. Sócrates partiu forte, com a acutilância e a sobranceria do costume, fortemente moralizado pelos recentes sucessos obtidos perante todos os chefes de governo dos países europeus que constituem um público qualificado, exigente e muito entendido.

Em contrapartida, Santana Lopes, nitidamente destreinado por tão longa ausência, inferiorizado no plano político pelo Dr. Filipe Meneses, agora seu chefe, de quem recebe as ordens, acusou insegurança.

É certo que no dia seguinte subiu à tribuna, falou de improviso e do passado que o persegue, argumentou com números e taxas, muitas taxas, entusiasmou-se e falou alto e bom som como um tribuno que é, bateu com a mão na mesa para dar mais ênfase… mas logo veio alguém das hostes fiéis ao adversário afirmar que ele tinha berrado o que, sinceramente, não é bonito de se ouvir.

Agora segue-se, no segredo dos grupos parlamentares, as discussões na especialidade e o Eng. Sócrates, por simples prazer sádico, vai fazer concessões ao Dr. Paulo Portas para o compensar da sua fraca representatividade política e, como não podia deixar de ser, para humilhar o Dr. Santana Lopes do PPD/PSD que ainda por cima tem que se defrontar com as afirmações que o seu Chefe, Dr. Filipe Meneses, escreveu recentemente num livro e que contrariam frontalmente as acusações ao governo feitas pelo seu líder parlamentar.

Sinceramente, esta “reentrê” não começou de feição ao Dr. S. Lopes mas ele é homem de muitas batalhas, não gosta de outra vida e como ele próprio diz: a democracia é perder e ganhar.

Infelizmente, Portugal é que não tem margem para perder e sem esquecer aquilo que os portugueses podem fazer pelo seu país, não restam dúvidas que são os políticos que tomam as decisões e por isso são eles os grandes responsáveis.






domingo, novembro 04, 2007

O golo !


O GOLO !

A sabedoria dos velhos é lendária, só eles acumulavam saberes de experiências vividas e quando chegavam a uma idade avançada eram repositórios de conhecimentos e por isso procurados e respeitados.

Mas isto era noutros tempos, não tão distantes como se possa julgar e se alguma coisa de verdadeiramente importante distingue a época de agora é exactamente pelo que representam os velhos na sociedade de hoje diferentemente do que representavam antes.


É que, entretanto, a forma de aquisição dos conhecimentos deixou de ser empírica, fruto do ensinamento de experiências testadas, acumuladas e transmitidas ao longo de gerações, para ser de natureza científica, fruto da observação, experimentação e das conclusões lógicas e fundamentadas estudadas nos laboratórios e aprendida nos livros das escolas e das universidades que, entretanto, deixaram de ser apanágio de alguns, para estarem à disposição de todos e os velhos, coitados, perderam importância e são hoje, muitas vezes, como que um “fardo” para as gerações que os antecederam.

Mas com a minha neta Filipa, dois anos acabados de fazer, aprendi que há outra sabedoria que se contrapõe à que foi a dos velhos e a que eu chamarei da sabedoria dos bebés.

Inspira-se na inocência que rapidamente se perde perante as realidades da vida e a necessidade de conviver com elas para sobrevivermos.

Para a Filipa, por exemplo, não existe futebol e muito menos Benfica ou Sporting, no lugar de tudo isso existe o Golo… o golo como momento de alegria eufórica, de aplausos, risos, saltos, palmas, em suma, de felicidade e não vale a pena argumentar com os golos do adversário já que esses, para a minha neta, não existem porque golo, para ela, é sinónimo de explosão incontida de uma enorme alegria da avó e do papá e eu, que sou do Sporting, lá tenho que me associar à festa para que a felicidade dela seja total.

E vêm depois os especialistas, os estudiosos, os entendidos, afirmarem que os golos são o sal e a pimenta do futebol quando a minha neta, ainda muito antes dos dois anos, já tinha percebido isso perfeitamente.

No decurso do jogo do Benfica com o Paços de Ferreira ela estava na sala a ver o jogo com a avó enquanto eu jantava e via o jogo na televisão da cozinha.

Um avançado do Benfica remata à malha lateral da baliza, grita-se golo e a Filipa vem a correr ter comigo e diz-me: avô, Golo!

-“Não foi, meu amor, a bola foi ao lado”… respondi eu, e ela, entre desiludida e perplexa, regressa à sala continuando a afirmar, num tom mais baixinho,é golo...
é golo.


Passados alguns minutos, não muitos, o Benfica mete mesmo golo e a Filipa vem de novo a correr à cozinha e diz-me:

-Avô, na sala, foi Golo!

Que a vida possa ser para ela um eterno GOLO!





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