Memórias Futuras
Olhar o futuro pelo espelho retrovisor da história. Qual história? Que futuro?
sábado, janeiro 28, 2017
3º episódio
Todavia, ela tem razão. Minhas visitas são para lhe caçar um
descuido na existência, beliscar-lhe uma ternura. Só sonho sempre o mesmo. Me embrulhar
com ela, arrastado por essa grande onda que nos faz inexistir.
Ela resiste, mas eu volto sempre ao lugar dela.
- Dona Luarmina, o que é isso? Parece ficou mesmo freira. Um dia,
quando o amor lhe chegar, você nem o vai reconhecer...
- Deixe-me Zeca. Eu sou
velha, só preciso ter um ombro.
Confirmando esse atestado de inutensílio, ela esfrega os joelhos
como se fossem eles os culpados do seu cansaço. As pernas dela, da maneira como
incham, dificultam as vias do sangue. Lhe icebergam os pés, a gente toca e são
blocos de gelo. E ela sempre se queixa. Um dia aproveitei para me oferecer:
- Quer que lhe aqueça
os pés?
Arrepiando expectativa, ela até aceitou. Até eu fiquei assim, meio
desfisgado, o coração atropelando o peito.
- Me aquece, Zeca?
- Sim, aqueço mas...
pela parte de dentro.
Tentava um deslize na defesa dela. Mas levei tampa. Eu estava como
essoutro que foi lavar a mão e sujou o sabão. Ou aquele que queria acertar a
unha e cortou o dedo.
Com esta minha idade eu já devia conhecer os devidos
procedimentos, as delicadas tácticas de abordagem. Mas não. Meu falecido avô
sempre dizia:
- Em novos só nos ensinam o que não serve. Em
velhos só aprendemos o que não presta.
Mas é pena eu e a vizinha não nos simetricarmos. Porque ambos
somos semiviúvos: nunca tivemos companheiro, mas esse parceiro, mesmo assim,
desapareceu.
Sou mais novo que ela, mas já estamos ambos na encosta de lá em
que a vida só mexe quando é a descer.
Hoje sei como se mede a verdadeira idade: vamos ficando velhos
quando não fazemos novos amigos. Estamos morrendo a partir do momento em não
mais nos apaixonamos.
E até que Dona Luarmina, aliás Albertina da Conceição Melistopolous,
já foi bela de espantar a homenzarrada.
Sei isso porque testemunhei um flagrante dessa formosura dela. Foi
uma certa vez que não fiquei só na varanda. Entrei em sua casa, sentei na saka
grande com janela para o mar. Foi então que eu vi a fotografia. Era de uma moça
de espantável beleza, corpo de aguar as mais mornas bocas.
sexta-feira, janeiro 27, 2017
A vantagem da democracia é que da
A democracia permite a eleição de pessoas impreparadas para o
exercício da Presidência, como é, claramente, o caso de Trump mas, em
contrapartida, pagando o preço da asneira feita e sofrendo-lhe as consequências,
vão poder rectificar a decisão agora tomada, aprendendo com ela e tudo de uma
forma, digamos, pacífica.
Trump é um populista que chegou ao poder sem o ter tomado de
assalto, como muitos outros, e agora o que é preciso é que ele não elimine os mecanismos criados para o refrear e acabem por tornar uma anedota a própria democracia que
permitiu elegê-lo.
Até que ponto irão os ímpetos de poder de Trump Presidente é uma
incógnita porque o homem não é certo da cabeça mas as autoridades americanas,
as pessoas influentes e responsáveis que discordam dele e por boas razões,
deveriam reflectir sobre as razões que levaram à sua eleição.
A democracia é uma escola de aprendizagem e será muito bom que o
possa continuar a ser. Aprender à custa do próprio voto é uma maneira eficaz de
ganhar conhecimento. A memória das asneiras que fazemos, muitas vezes, perde-se
inutilmente sem que possamos recuperar delas mas, nestes casos, não é assim que
as coisas se passam.
É verdade, que as pessoas, na maioria dos casos, são crédulas e bem
intencionadas, mas nas escolhas políticas é preciso, principalmente, apelar
para um sentido de análise crítica onde entra mais a cabeça e menos o coração...
Temos que esfriar as emoções, o voto é, talvez, a decisão mais
importante que tomamos na nossa vida cívica, e se não reflectirmos bem podemos
fazer grossa asneira como agora aconteceu com a eleição de Trump,
pressentindo-se, desde já, as consequências de tal decisão e ainda a procissão
não saiu ao adro...
Mar me quer
(Mia Couto - 2º episódio)
A gorda mulata não quer amolecer conversa. E tem razão, sendo minha vizinha desde há tempo. Ela chegou ao bairro depois da morte de meus pais quando herdei a velha casa da família.
Nessas alturas eu ainda pescava em longas viagens, semanas de ausência nos bancos de Sfala. Nem notava a existência de Luarmina. Também ela, logo que desembarcou, se internou na Missão, em estágio par freira. Ficou enclausurada nessas penumbras onde se murmura conversa com Deus.
Só uns anos mais tarde ela saiu dessa reclusão. E se instalou na casa que os padres lhe destinaram, bem junto à minha morada.
Luarmina costureirava - era seu sustento. Nos primeiros tempos, ela continuava sem se dar às vistas. Só as mulheres que entravam em seus domínios é que lhe davam conta. No resto, apenas me chegavam os perfumes de sua sombra.
Um dia o padre Nunes me falou de Luarmina, seus brumosos passados. O pai era um grego, um desses pescadores que arrumou rede em costas de Moçambique, do lado de lá da Baía de São Vicente. Já se antigamentara há muito. A mãe morreu pouco tempo depois. Dizem que de desgosto. Não devido da viuvez, mas por causa da beleza da filha.
Ao que parece Luarmina endoidava os homens graúdos que abutreavam em redor da casa. A senhora mal dizia a perfeição de sua filha. Diz-se que, enlouquecida, certa noite, intentou golpear o rosto de Luarmina. Só para a esfeiar e, assim, afastar os candidatos.
Depois da morte da mãe, enviaram Luarmina para o lado de cá, para ela se amoldar na Missão, entrega a reza e crucifixo. Havia que arrumar a moça por fora, engomá-la por dentro. E foi assim que ela se dedicou a linhas, agulhas e dedais. Até se transferir para a sua actual moradia, nos arredores de minha existência.
Só bem depois de me retirar das pescarias é que dei por mim a encostar desejos na vizinha. Comecei por cartas, mensagens à distância. À custa de minhas insistências namoradeiras, Luarmina já aprendera as mil defesas. Ela sempre me desfazia os favores negando-se.
- Me deixa sossegada, Zeca. Não vê que eu já não desengomo lençol?
- Que ideia Dona vizinha? Quem lhe disse que eu tinha essa intenção?
quinta-feira, janeiro 26, 2017
(Mia
Couto)
Sou feliz só por preguiça. A infelicidade dá uma trabalheira pior
que doença: é preciso entrar e sair dela, afastar os que nos querem consolar,
aceitar pêsames por uma porção da alma que nem chegou a falecer.
Levanta, ó dono das
preguiças.
E o mando da minha vizinha, a mulata Dona Luarmina. Eu respondo:
- Preguiçoso? Eu ando é a
embranquecer as palmas das mãos.
- Conversa de malandro...
- Sabe uma coisa, Dona
Luarmina? O trabalho é que escureceu o pobre do preto. E, afora isso, eu só
presto é para viver...
Ela ri com aquele modo apagado dela. A gorda Luarmina sorri só
para dar rosto à tristeza.
- Você, Zeca perpétuo,
até parece mulher...
- Mulher, eu?
- Sim, mulher é que senta em esteira. Você é o único homem que eu vi sentar em
esteira.
- Que quer, vizinha?
Cadeira não dá jeito para dormir.
Ela se afasta, pesada como pelicano, abanando a cabeça. Minha
vizinha reclama não haver homem com miolo tão miúdo como eu. Diz que nunca viu
pescador deixar escapar tanta maré:
- Mas você, Zeca: é que
nem faz ideia da vida.
- A vida, Dona
Luarmina? A vida é tão simples que ninguém a entende. É como dizia meu avô
Celestiano sobre pensarmos Deus ou não Deus...
Além disso, pensar trás
muita pedra e pouco caminho. Por isso, eu, um reformado do mar o que me resta
fazer? Aprendi nos muitos anos de pescaria: o tempo anda por ondas. A gente tem
é que ficar levezinho e sempre apanha boleia numa dessas ondeações.
- Não é verdade, Dona
Luarmina? A senhora sabe essas línguas da nossa gente. Me diga, minha Dona. Qual
é a palavra para dizer futuro?
Sim, como se diz futuro? Não se diz, na língua deste lugar de África.
Sim, porque futuro é uma coisa que existindo nunca chega a haver. Então eu me
suficiento do actual presente. E basta.
- Só eu quero é ser um
homem bom, Dona.
- Você é um aldrabom.
quarta-feira, janeiro 25, 2017
Ter Medo...
O mundo é outro desde que Trump foi eleito Presidente dos EUA,
mais ameaçador, mais triste, como o dia de hoje em Portugal, frio, húmido e sombrio, convidativo
para estar em casa.
Infelizmente, em termos globais, só temos esta casa, houvesse outro planeta e esta
seria uma ópt ima oportunidade para
mudar.
Legitimado pela eleição, não pelo voto onde perdeu, Trump vinga-se agora
recambiando para os seus países de origem os imigrantes, como castigo por não terem votado nele e, sem perder tempo, tal como prometeu, lá vai com o muro
para a frente para isolar o país daqueles “chatos”e miseráveis dos mexicanos.
O seu ego, desmesurado e doentio, deve ter atingindo os limites do
impensável e o nosso futuro nas mãos de um homem, que tem algo de patético,
ligado por vínculos obscuros à víbora do Putin com quem, ao que parece, se entende muito bem, é
no mínimo ameaçador.
Com ele, começou o último dia do mundo conhecido, disse o meu jornalista
de eleição Ferreira Fernandes, no dia em que ele tomou posse... e eu tenho essa sensação.
Maria de Lurdes Rodrigues que foi nossa Ministra da Educação,
muito contestada pela CGTP, o que não vem ao caso, estabelece em três planos as
rupt uras radicais de que podemos ser
vítimas:
- A primeira, a das relações internacionais que passam pelas ameaças
ao Irão e à China, as posições sobre a NATO, ONU, e à União Europeia, do namoro
com a víbora do Putin com quem parece entender-se muito bem, à desvalorização
das questões do clima e do ambiente e a denúncia anunciada aos Acordos de Livre
Comércio, tudo num quadro de relações internacionais que estão em causa;
- Em segundo lugar, o uso
da sua conta pessoal de twiter para comunicar politicamente com os cidadãos,
ameaçando e insultando quantos se lhe opõem, o que é próprio dos populista
candidatos a ditadores senhores do mundo:
- Em terceiro lugar, “os
negócios” e a “coisa pública” que se misturaram pois ninguém, por mais ingénuo que seja, acredita
que tenha entregue aos herdeiros a gestão das suas 500 empresas espalhadas por dezasseis países do mundo num flagrante conflito de interesses.
Isto é inédito na história dos EUA: o “poder político” tomado pelo
“poder económico” numa ameaça clara ao legado democrático do país que assim
fica em risco.
Trump não gosta da imprensa que o critica e discorda dele, por isso as
ameaças com os dedos apontados...
Como referiu o jornal britânico Guardian, quando ele tomou posse, o
Presidente Roosevelt, em 1933, tinha desafiado o mundo a superar o medo. Trump,
em 2017, disse ao mundo para ter medo.
terça-feira, janeiro 24, 2017
Manif. anti - Trump |
Aí o temos...
Como se previa, o primeiro embate de popularidade contra o recém-eleito
Presidente dos EUA, foi esmagador. Quase 3 milhões de pessoas em 60 países,
desfilaram manifestando por ele uma antipatia que levanta a dúvida,
compreensível, de saber como é que ele, afinal, foi eleito.
As mulheres, que ele parece insistir em ver como objectos de
adorno e eternas candidatas a Missses, não podem com ele. Confeccionaram gorros
cor-de-rosa enchendo de tal forma avenidas que o desfile foi
impossível por não se poderem mexer.
Tudo pacífico, ordeiro, porque o protesto era simplesmente estarem
lá.
Resta agora saber como é que este mandato que começou com chuva, ou sem chuva, não se sabe bem... vai acabar, pois nunca na
vida da América aconteceu ser eleito um Presidente , à partida, tão “desamado” se é que esta
palavra existe, como este.
Aqueles que pensavam que o Trump candidato, com as suas ameaças,
era diferente do Trump Presidente, já perceberam que ele é exactamente o mesmo, antes e depois.
A sua primeira conferência de imprensa foi um misto de ameaças e
comício com a sua gente a aplaudir quando ele mandava calar um repórter da CNN
ou mandava bocas à CNN.
Insultou, como já aqui
referi, os presidentes anteriores que só por decência e boa educação, que a ele
lhe falta, porque como é milionário não precisa de ser educado, deveriam ter abandonado logo a cerimónia, porque os acusou de se preocuparem
com o seu bem-estar e de nunca terem representado o povo!...
Porque ele – o multimilionário – a quem nunca se conheceu actividade
cívica, que nunca deu a cara por qualquer causa relacionada com a desigualdade,
que não permite acesso às suas Declarações de Rendimentos, que tem um historial
de maltratar empregados e que convidou outros milionários e outros
representantes de cúpula para o seu governo, assevera ser ele o primeiro
verdadeiro representante do povo a ocupar a Casa Branca. É preciso ter lata!...
É aqui que estamos: no
momento em que talvez tenhamos de depositar a nossa última esperança na idéia
de que um poder não democrático vai obviar à loucura do poder democraticamente
eleito.
Obama disse que seria uma vírgula na caminhada da história dos EU
e do mundo.
Esperemos que seja só uma vírgula e não um qualquer outro sinal
ortográfico ainda desconhecido...
segunda-feira, janeiro 23, 2017
Realeza, clero e povo |
Idade Medieval
O que interessa sobretudo reter deste período confuso da Idade Média na Península Ibérica é a ideia de que, se do lado muçulmano o poder político estava pulverizado por inúmeros estados minúsculos, da banda dos cristãos o panorama era idêntico, apenas com a diferença de que os condados dependiam nominalmente dos Reis que, em teoria, estavam acima deles e os englobavam. Mas só em teoria, porque a sua independência era quase total.
Dentro destas unidades políticas quem mandava verdadeiramente eram os senhores locais ou os municípios, inspirados estes nos antigos municípios do Império Romano, que eram administrados por plebeus, os tais vilões ou burgueses (que se especializaram na produção de artesanato ou na actividade comercial e deram origem à classe dos artesãos e mercadores passando estes a comercializar esses produtos ou eventuais excedentes agrícolas) tinham sido autorizados a fazê-lo por meio de uns documentos assinados pelo Rei chamados “cartas de foral” ou, simplesmente, “forais”.
Nós agora queixa-mo-nos, e com toda a razão, da Brisa que nos cobra as portagens nas auto-estradas e engordam à custa de dinheiros públicos e da exploração das estradas mais transitáveis mas, no que toca a portagens, na Idade Média não era muito diferente, senão bem pior:
- Para se viajar através do país era preciso ter a bolsa bem recheada. E então, no que toca a mercadorias, era de arrepiar, pois cada concelho, apoiado na sua “carta de foral”, tinha o direito de cobrar taxas de passagem.
Mas, se quanto aos concelhos ainda vá que não vá, pois eram uma espécie de mini-governos regionais, o pior é que não eram apenas estes que cobravam portagens, alcavalas, dízimos e outros impostos de passagem: os nobres também o faziam quando as suas terras eram atravessadas.
E o problema de mudar de terra não se ficava por aqui . É que cada região, cada cidade e às vezes cada aldeia, adoptava os seus pesos e medidas próprios. Aqui lo que hoje denominamos por Estado – que seria a Coroa, nessa altura – tinha uma reduzida interferência do dia-a-dia da vida das pessoas e não regulamentava coisas de “pequena importância” como estas em que os viajantes estavam sujeitos a toda a espécie de extorsões.
Para além de tudo isto, viajar era muito difícil porque…não havia estradas praticamente a não ser aquelas que ainda sobravam das antigas “vias romanas”.
Os rios eram, por isso, a alternativa, largamente utilizados como vias de comunicação e no nosso país os rios Tejo e Douro eram navegáveis por barcos relativamente grandes ao longo de todo o seu curso.
Recordo ainda as ruínas do que seriam armazéns nas areias do rio Tejo em cuja margem, em miúdo, ia tomar banho. Era o antigo porto da Concavada, concelho de Abrantes, comprovando a importância do rio no transporte de pessoas e mercadorias para Lisboa para contornar as dificuldades e perigos das viagens por terra. Parece que o célebre Zé do Telhado operava ali para os lados do Pinhal da Azambuja. Acabou preso e deportado para Angola onde morreu.
No século XIII, quando Portugal atingiu as suas fronteiras definitivas, Leiria, Mértola, Odemira e Silves possuíam portos de mar.
Viajar por mar ou rio era sempre preferível do que fazê-lo por terra. Por exemplo, para ir de Lisboa a Barcelona ou a Valência, ninguém pensava em atravessar a península – era preferível contorná-la.
Na segunda metade do século XV, na sua viagem à corte de Luís XI de França, o nosso rei D. Afonso V, navegou pelo estreito de Gibraltar e mar Mediterrâneo até um porto vizinho de Marselha e daí seguiu numa longa viagem por terra até Blois e Paris.
Mas, de uma forma geral, pura e simplesmente, não se viajava. Apenas os nobres e os guerreiros que os acompanhavam se deslocavam por razões militares ou diplomáticas.
A gente do povo nascia e morria no mesmo sítio ou num raio de poucos qui lómetros em redor, para irem à feira. No nosso Portugal, do tempo de Salazar, por todo o interior do país era ainda precisamente assim. Foi a guerra do Ultramar e a “fuga” para o Brasil e depois a França - para sobreviverem à fome nas suas aldeias - tudo já em tempos recentes, que puseram as pessoas, finalmente, a viajar. Antes, alguns tinham estado envolvidos nas viagens marítimas a darem “novos mundos ao mundo”.
Mas a mim, o que mais me incomoda nesta Idade Média eram os costumes bárbaros, a morte corriqueira pelos motivos mais fúteis, o desprezo pela vida e a impunidade para os cruéis:
- Um tal Fernando Mendes, alcunhado do Bravo, que era filho do alferes-mor de D. Afonso Henriques que mandou cozer a própria mãe dentro de uma pele de urso e deu-a a comer aos cães porque a senhora se sentia incomodada por uma certa mulher por quem o filho se tinha tomado de amores:
- Ou de um outro, um tal D. Gonçalo Henriques, antepassado de D. Nuno Álvares Pereira que informado de que a mulher, que ficara no castelo de Lanhoso enquanto ele combatia nas expedições contra os mouros, o atraiçoava com um frade, possivelmente seu confessor, regressou ao castelo, fechou-lhe as portas, pegou-lhe fogo, matando a mulher, o frade e todos os que lá estavam dentro, criados, cães, gatos e aves de capoeira. Ele justificou-se, mais tarde, que eram todos cúmplices da mulher uma vez que não o avisaram…
Um Quociente apaixonou-se
Doidamente
Por uma Incógnita.
Olhou-a com seu olhar inumerável
E viu-a, do Ápice à Base...
Uma Figura Ímpar;
Olhos rombóides, boca trapezóide,
Corpo ortogonal, seios esferóides.
Fez da sua
Uma vida
Paralela à dela.
Até que se encontraram
No Infinito.
"Quem és tu?" indagou ele
Com ânsia radical.
"Sou a soma do quadrado dos catetos.
Mas pode chamar-me Hipotenusa."
E de falarem descobriram que eram
O que, em aritmética, corresponde
A alma irmãs
Primos-entre-si.
E assim se amaram
Ao quadrado da velocidade da luz.
Numa sexta potenciação
Traçando
Ao sabor do momento
E da paixão
Rectas, curvas, círculos e linhas sinusoidais.
Escandalizaram os ortodoxos
das fórmulas euclidianas
E os exegetas do Universo Finito.
Romperam convenções newtonianas
e pitagóricas.
E, enfim, resolveram casar-se.
Constituir um lar.
Mais que um lar.
Uma Perpendicular.
Convidaram para padrinhos
O Poliedro e a Bissetriz.
E fizeram planos, equações e
diagramas para o futuro
Sonhando com uma felicidade
Integral
E diferencial.
E casaram-se e tiveram
uma secante e três cones
Muito engraçadinhos.
E foram felizes
Até àquele dia
Em que tudo, afinal,
se torna monotonia.
Foi então que surgiu
O Máximo Divisor Comum...
Frequentador de Círculos Concêntricos.
Viciosos.
Ofereceu-lhe, a ela,
Uma Grandeza Absoluta,
E reduziu-a a um Denominador Comum.
Ele, Quociente, percebeu
Que com ela não formava mais Um Todo.
Uma Unidade.
Era o Triângulo,
chamado amoroso.
E desse problema ela era a fracção
Mais ordinária.
Mas foi então que Einstein descobriu a
Relatividade.
E tudo que era espúrio passou a ser
Moralidade
Como aliás, em qualquer
Sociedade.
Por uma Incógnita.
Olhou-a com seu olhar inumerável
E viu-a, do Ápice à Base...
Uma Figura Ímpar;
Olhos rombóides, boca trapezóide,
Corpo ortogonal, seios esferóides.
Fez da sua
Uma vida
Paralela à dela.
Até que se encontraram
No Infinito.
"Quem és tu?" indagou ele
Com ânsia radical.
"Sou a soma do quadrado dos catetos.
Mas pode chamar-me Hipotenusa."
E de falarem descobriram que eram
O que, em aritmética, corresponde
A alma irmãs
Primos-entre-si.
E assim se amaram
Ao quadrado da velocidade da luz.
Numa sexta potenciação
Traçando
Ao sabor do momento
E da paixão
Rectas, curvas, círculos e linhas sinusoidais.
Escandalizaram os ortodoxos
das fórmulas euclidianas
E os exegetas do Universo Finito.
Romperam convenções newtonianas
e pitagóricas.
E, enfim, resolveram casar-se.
Constituir um lar.
Mais que um lar.
Uma Perpendicular.
Convidaram para padrinhos
O Poliedro e a Bissetriz.
E fizeram planos, equações e
diagramas para o futuro
Sonhando com uma felicidade
Integral
E diferencial.
E casaram-se e tiveram
uma secante e três cones
Muito engraçadinhos.
E foram felizes
Até àquele dia
Em que tudo, afinal,
se torna monotonia.
Foi então que surgiu
O Máximo Divisor Comum...
Frequentador de Círculos Concêntricos.
Viciosos.
Ofereceu-lhe, a ela,
Uma Grandeza Absoluta,
E reduziu-a a um Denominador Comum.
Ele, Quociente, percebeu
Que com ela não formava mais Um Todo.
Uma Unidade.
Era o Triângulo,
chamado amoroso.
E desse problema ela era a fracção
Mais ordinária.
Mas foi então que Einstein descobriu a
Relatividade.
E tudo que era espúrio passou a ser
Moralidade
Como aliás, em qualquer
Sociedade.
domingo, janeiro 22, 2017
O contexto é o refúgio dos políticos. Eles só dizem o que dizem dentro do Contexto, fora dele nada da
Os “malditos” dos jornalistas inventam cada coisa…
Do género:
1º Ex.
“… - Mas V.Exª afirmou que se ia demitir por cansaço…
- … - Não, não, o senhor não pode retirar as minhas palavras do Contexto em que elas foram ditas: eu tinha acabado de subir as escadarias do Ministério e estava, de facto, muito cansado e daí a minha afirmação perfeitamente compreensível e justificada.
2º Ex:
… - Mas o Sr. Presidente disse textualmente: “Corram com eles à pedrada”.
“… - Não, não vá por aí, não retire essa afirmação do contexto, eu estava a presidir a uma Assembleia das Juntas de Freguesia…”
Ficamos, neste caso, a saber que numa reunião da Assembleia de Juntas de Freguesia a expressão:” Corram-nos à Pedrada” significa: “Convidem-nos delicadamente a irem-se embora.”
3º Ex:
Mas VªExª afirmou que: “A Crise Acabou”.
… - Não, não, o senhor está a retirar as palavras do Contexto em que foram ditas e esse Contexto é de esperança e de optimismo para o futuro no qual a crise irá acabar e esta é que é a interpretação correcta das minhas palavras, foi o que, rigorosamente, eu disse.
4ºEx:
Mas V.Exª afirmou que a energia eléctrica iria sofrer no próximo ano um agravamento de 17,8%...
… - Não, não, o senhor está a citar as minhas palavras fora do Contexto de anos e anos em que os consumidores andaram a pagar a electricidade abaixo do seu custo real e por isso a minha vontade era que no próximo ano sofressem esse aumento de 17,8% mas atendendo a que se trata de um bem de 1ª necessidade ao qual as camadas mais débeis da população não se podem furtar o Governo, sensível que é às questões de natureza social, irá ponderar essa situação e decidir um aumento que se ficará apenas pelos 6%.
Sinceramente, não há pachorra... ou será alguma nova forma de dislexia em que as dificuldades de ler e escrever são substituídas por problemas de expressar oralmente o nosso, deles, pensamento?